Iscas de amor (2/3)

      “Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento.” Oseias 11.4

      Muitos mordem a isca de Deus, se alimentam dela, mas depois se desprendem do anzol, não aceitam que o anzol de Deus conduz à vida, não à morte. Assim alguns chegam à maturidade física, não espiritual, bem sucedidos, aprovados pelos pares, com armazéns repletos de iscas, mas sem conhecer o verdadeiro significado das iscas. As necessidades físicas de moradia, roupa, comida, bebida, de relacionamento afetivo e sexual, de bens e grana, mesmo de estudos e diplomas, são só iscas, não as levaremos para o além. Felizes os que descobrem o que está além das iscas, que se deixam ser presos e serem conduzidos ao melhor significado da existência eterna, mas mais felizes os que não precisam mais de iscas para estarem com Deus. 

Deus usa iscas (1/3)

      “Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.” Jeremias 31.3

      Para atrair um peixe, o pescador fixa uma minhoca no anzol, Deus também usa iscas para nos atrair, mas enquanto o homem atrai para a morte, Deus atrai para a vida. Caso contrário, não nos aproximamos de sua melhor vontade, antes nos acomodamos aos caminhos da morte. Isso ensina-nos que naturalmente não queremos a vida eterna, e com isso me refiro não só a viver eternamente no espírito, mas a praticar as virtudes morais mais altas. Outra coisa que iscas nos ensinam é que Deus precisa nos privar de satisfações físicas para que sentindo dor e sofrimento o busquemos para ter prazer e paz. A temporária existência no plano material é uma grande isca para nos atrair para a existência eterna, ela não é o fim, mas só um meio. 

Comprometidos com Deus

      “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo. Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo mal.” I Pedro 3.15-17

      Pode ser só uma questão de estar comprometido com a coisa certa, usando tempo e energia para ser útil a Deus, não a si ou mesmo à intenção mais relevante deste mundo. Quem está ocupado com o bem não tem espaço na alma para inveja, insegurança, ódio ou qualquer espécie de escapismo dos prazeres do corpo e da vaidade. Focado em Deus queremos e conseguimos ser santos e mansos, nisso estamos na luz e a luz confunde as trevas. Confusos, os que estão nas trevas não têm capacitação espiritual para se oporem, não a nós, mas ao propósito maior de Deus que se efetua naqueles que andam na luz. Comprometidos com Deus, mesmos sofrendo injustiça, nos sentimos satisfeitos, porque sabemos que agradamos a Deus. 

Humildade e paz: proteção maior

      “E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem? Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis” I Pedro 3.13-14

      Muitos acham que fortalecer-se para batalha é estar fisicamente preparado, ter músculos exercitados, acostumados a pesos e esforços. Outros acham que só força física não basta, é preciso armas, revólver, pistola, rifle. Outros ainda, achando-se superiores aos fisicamente truculentos, acham que a melhor arma para conflitos é o uso da inteligência, que escapa dos brutos e tem argumento para dar a última palavra em um embate ideológico. Muitas armas e artifícios podem até proteger o corpo físico, mas esse sempre morre. As melhores armas protegem o espírito, aproximam de Deus, permitem vida eterna, essas armas são a paz e a humildade. Em paz e humilde se vence todo mal porque tem os exércitos de luz do Altíssimo ao lado. 

Se afastou-se, volte

      “Porque quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.” I Pedro 3.10-12

      Muitas vezes lemos um trecho bíblico que entrega castigos à nação de Israel e achamos que é para nós. Por estarmos sem paz e em algum tipo de pecado, mesmo que seja só desconexão com Deus, pensamos que seremos mandados para o inferno e que pragas egípcias cairão sobre nós. Calma, pecado é tudo que nos separa de Deus, e mesmo algo pequeno basta aos sensíveis, o efeito é falta de paz. Pecado não precisa ser vida de degeneração e vício, cometer crime de morte, e necessariamente não significa que se será punido severamente, pode ser só descuido de quem não vigiou e se desligou de Deus. A solução é simples, orar e se acertar com Deus, basta para se ter paz e seguir humilde, trabalhando pela vida eterna. 

Buscar, achar e ficar

      “Com todo o meu coração te busquei; não me deixes desviar dos teus mandamentos. Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.” Salmos 119.10-11

      Se buscamos a Deus, o achamos e ficamos nele, temos paz. Mas se não o buscarmos, não o acharemos, e se não permanecermos o encontro não será de muita validade. Muitas vezes queremos Deus, pensamos em Deus, lemos sobre Deus na Bíblia, ouvimos sobre ele e até entoamos hinos a ele nos templos, mas será que de fato estamos buscando-o? Busca envolve trabalho de fé, descanso de pensamentos e sentimentos e foco espiritual pelo Santo Espírito para estabelecer um diálogo com Deus. Contudo, não basta falar e ouvir, temos que achar uma resposta específica para um momento determinado de nossas vidas, que de fato nos deixa em paz. Após isso devemos vigiar em santidade e amor, para segurar a palavra de vida adquirida. 

Não faça-se de morto, viva

      “Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidades; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.” Romanos 6.11-13

      Neste mundo temos duas vidas, existir aqui é experimentar o conflito entre a vida temporária da matéria e a vida eterna do espírito. Essa experiência é idealmente inviável, carne milita contra espírito e espírito contra carne, mas é tentando administrar esse conflito que anexamos ao nosso espírito, que sobreviverá ao corpo, virtudes eternas. Aprouve à providência divina encarnar-nos por um espaço de tempo para que nos aperfeiçoemos, e fazendo uso do livre arbítrio escolhermos seguir para a luz do Altíssimo. Se por um lado temos que morrer no corpo para viver no espírito, não podemos nos fazer de mortos para a santidade, o amor e a humildade, e vivermos as vaidades materiais, ainda que nessa ilusão nos achemos vivos e ativos.