sábado, setembro 30, 2023

Jesus usou de violência? (7/7)

      “E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões; e foram ter com ele no templo cegos e coxos, e curou-os” Mateus 21.12-14 

      Jesus usou de violência? Sob certo aspecto, sim, mas Cristo fez isso porque ele podia fazer isso. Ninguém ouse ter a mesma autoridade do Cristo, ela era lastreada em vida de consagração, amor ao próximo e intimidade com Deus. Essa provocação do Cristo está no mesmo tom de outras, o Deus que está acima de família, também é superior às religiões, incluindo a poderosa com sede no Vaticano. Talvez aí esteja um dos enganos que fez parte da humanidade obedecer cegamente a um cristianismo deturpado, que parece ter existido desde o século quatro, pelo menos. Muitos acreditaram, e ainda acreditam, que as religiões cristãs que foram construídas sobre o evangelho são diferentes, melhores, legítimas, assim não podem ser confrontadas, questionadas, mas isso nega o espírito revolucionário do Cristo progressista.
      O motivo da revolta de Jesus foi ver um local com finalidade espiritual ser usado para fins materiais, e venda de material religioso, mesmo de Bíblia, onde o lucro é injusto e não é usado em benefício de pobres e necessitados, merece repúdio. Pergunto se fosse tirado o objetivo de lucros financeiros, o que restaria do catolicismo, do protestantismo, do pentecostalismo? Seria suficiente para manter homens e mulheres incentivados a pregarem o evangelho e manterem ministérios? E ainda que muitos sirvam em igrejas com boas intenções, o fazem de maneira equivocada, debaixo de líderes com intenções diferentes, isso não acontece em toda igreja cristã, mas em muitas. Precisamos reagir a isso, não com violência, mas com ausência, libertando-nos das zonas de conforto das igrejas e buscando a Deus em Espírito e verdade.
      Jesus entrando num lugar religioso e derrubando mesas e cadeiras sempre nos parecerá uma cena estranha, que não combina com o Cristo do amor, mas o registro do acontecimento está na Bíblia, não caiu fora sob qualquer filtro, seja dos escritores originais, das igrejas do século um, ou do catolicismo e da reforma protestante. Deus só age de certas maneiras, que aos nossos olhos parecem excepcionais, em situações igualmente excepcionais, e sujar um lugar santo com ganância material é algo que desagrada muito a Deus. Penso em nossas vidas pessoais, que não cheguemos ao ponto de termos que ser tratados de forma rápida e dura por Deus, virando nossas vidas de cabeça para baixo, como as mesas e cadeiras dos comerciantes de pombas da passagem, para acordarmos para a vontade maior do Senhor para nós. 

sexta-feira, setembro 29, 2023

Milagres não mudam o interior (6/7)

      “tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje; e eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti” Mateus 11.23-24

      Jesus sabia que milagres não mudam o interior das pessoas. Eis uma verdade que pode escandalizar cristãos que hoje acham que suas crenças são a verdade maior de Deus porque por elas podem experimentar milagres físicos. Jesus fez milagres? Sim. Era essa sua missão principal? Não. Por que ele fez milagres? Por amor, via o sofrimento humano e queria ajudar, esse é sempre o primeiro motivo de Deus, que toma a iniciativa e atrai o ser humano à sua luz. Mas havia um segundo motivo, era importante que o ser humano do século um entendesse que aquele Jesus de Nazaré, filho de José o carpinteiro, em seu espírito era Deus, e no corpo o melhor exemplo de ser humano vivendo a vontade de Deus. Para provar a um homem antigo, que via poder na superação de dificuldades materiais, realizar curas físicas era se mostrar poderoso.
      “Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas, pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mateus 12.39-40). Interessante esse texto, será que o único milagre que Jesus de fato deveria ter feito era ressuscitar depois de morto por três dias? Sob o ponto de vista de sua missão principal no mundo, sim. A missão era vencer a morte espiritual através de sua morte física, não só propiciando à humanidade perdão de Deus e respectiva paz, mas mostrando como praticar obras dignas de um perdoado, que mudam não o corpo, mas o espírito e para sempre. Essa provocação o Espírito Santo nos faz hoje, entendermos que o principal está no espírito e na eternidade, não na carne e neste mundo. 
      Mas mesmo a ressurreição do Cristo precisa ser entendida corretamente, não foi só uma prova que Deus tem poder para ressuscitar mortos, Jesus não reviveu para viver fisicamente no mundo, mas para existir espiritualmente iluminado no céu, e usei o termo iluminado para diferenciar sua existência das de todos os outros seres humanos que morrem no mundo. Jesus era um ser especial, não existiu nenhum outro como ele que tenha encarnado na Terra, assim sua passagem para o outro plano também foi única. Mas novamente precisamos entender que mesmo sua ressurreição foi um evento necessário para convencer o religioso judeu do século um, que tinha poucos conceitos espirituais em sua religião, apesar de fortes conceitos morais. Cristo ensina que o reino de Deus nos céus é superior a um reino da Terra protegido por Deus.
      Ainda sobre ressurreição, o termo no novo testamento, usado por Jesus e muito por Paulo, é importante para trazer principalmente ao povo judeu um conceito ao qual ele não estava muito familiarizado. A religião de Israel era para lhe dar prosperidade na Terra e vitória sobre nações físicas, não havia relevância no que ocorreria após a morte. Mas o novo testamento deixa claro que o túmulo não é o fim, que reviveremos após a morte do corpo, ressurreição (e não ressuscitamento) refere-se a isso, uma existência no plano espiritual onde seremos avaliados por nossas virtudes morais, não por riqueza no mundo, que definirá céu e inferno. Ressureição era um conceito novo ao judeu, e nunca nos esqueçamos, o novo testamento fala em primeiro lugar para ele. Não adianta ser ressuscitado no corpo e não ter ressurreição espiritual para a vida eterna, livrar-nos da morte eterna é o maior milagre que o Cristo faz. 

quinta-feira, setembro 28, 2023

Seres independentes (5/7)

      “E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: quem é minha mãe? e quem são meus irmãos? e, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe” Mateus 12.47-50 

      Cristo priorizou a ligação do homem com Deus. Se isso hoje é uma revolução nas relações sociais, mais ainda no século um, numa sociedade baseada no patriarcado, no trabalho braçal, na manutenção de heranças, onde se priorizava filhos homens, para que o negócio da família fosse mantido. Jesus fez essa revolução estabelecendo uma nova espiritualidade, onde se constrói um novo tipo de relação entre Deus e o ser humano, um Deus não mais só o todo-poderoso distante e exigente, Senhor dos exércitos, destruidor dos inimigos, mesmo criador do universo, mas simplesmente amigo. Entendamos certo, Jesus não desprezou sua família, mas se houve alguém que deixou pai e mãe e se tornou um ser humano independente, foi ele, contudo, mais que autonomia social e financeira, Jesus tinha consciência de sua missão espiritual. 
      Normalmente, a quem somos mais achegados, a quem amamos mais, quem mais nos conhece e mais conhecemos? A família. Infelizmente isso não é regra, a vida não é filme e muitos de nós convivem com famílias machucadas, mal formadas, que nos deixaram marcas profundas de dor e solidão. Mas Jesus se refere à família ideal, que aprouve a Deus, por algum mistério, dar a ele como homem, eu creio nisso. Pois bem, Jesus disse que aquele que fizer a vontade de Deus, seu pai maior, pai de todos os espíritos, esse tem conexão mais íntima e importante com Deus que com seu pai no mundo, ou com outro membro de sua família. Diz-se que família não se escolhe, amigos, sim, nossa amizade com Deus não é imposta, é escolha que ele permite-nos fazer. Feliz aquele que é amigo de Deus e que faz sua vontade.
      Um ser humano relativizado, que era alguém por ser filho, neto, bisneto de alguém, conceito que fica claro nas incansáveis árvores genealógicas que lemos mesmo no novo testamento, legitimando a descendência davídica de Jesus (Mateus 1), cede lugar a um espírito independente. Algo significativo na vida do Cristo homem é o fato dele ter sido solteiro, não foi casado ou teve filhos, isso reforça ainda mais o novo conceito de espiritualidade que ele entregou, onde o ser é importante em si mesmo, não por fazer parte de um coletivo, seja de um povo ou de uma religião. Ainda assim a Igreja Católica, desde sempre, e as igrejas evangélicas, especialmente hoje por seu grande número, querem viver uma espiritualidade ultrapassada, fora do Cristo verdadeiro, onde são salvos só os que fazem parte de suas fileiras de adeptos. 
      Independência pede pela liberdade e a conquista. Somos seres livres? O evangelho ensina-nos só uma conexão, a do amor, se somos presos a alguém é por amor. Amor, contudo, verdadeiro e puro, conhece-se e a quem ama, não deixa-se ser oprimido e não oprime, amor não sente-se cobrado e não cobra, amor não teme. Liberdade com amor leva-nos a nos respeitar sem sermos egoístas e manipuladores, sermos felizes e não deixarmos outros infelizes por causa disso. Só somos de fato independentes com liberdade em amor. Quando acordarmos livres do corpo físico na eternidade, a avaliação a qual seremos submetidos, nos olhará como seres independentes, não como filhos de quem quer que seja, membros de igreja, de ordem secreta, de grupo religioso. Só viemos e sozinhos voltaremos, sejamos independentes, mas livres em amor. 

quarta-feira, setembro 27, 2023

Jesus andava com pecadores (4/7)

      “Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio; veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores; mas a sabedoria é justificada por seus filhos” Mateus 11.18-19 

      Comparado ao ministério de João Batista, Jesus estabelece dois tipos de espiritualidade, aparentemente opostos, mas ambos úteis aos propósitos divinos. João é o arquétipo da negação de prazeres e vaidades da matéria, usando o isolamento para se manter forte, ele não devia ser alguém agradável, mas também não era subjetivo. João representava o típico profeta do velho testamento, aliás, ainda que sua vida tenha sido registrada em textos do novo testamento, foi o último profeta de Israel. Seu ministério tinha urgência, avisava que o velho estava acabando e que o novo começaria, mas em sua estética bruta, que deixava claro que o reino de Deus na Terra tinha sido abrangido para os céus, foi visto como endemoniado. Isso não devia fazer diferença para ele, sabia a vontade de Deus e a fazia, ainda que fazendo inimigos.
      Jesus apresentava uma nova espiritualidade, não mais para viver em riqueza no mundo, mas para gerar valores para o outro mundo, enquanto se vive aqui com serenidade discreta, ainda que no meio dos homens. É impossível esconder a luz mais alta num mundo em trevas, e ainda que soubesse calar para amar, os homens o identificaram e o mataram. Jesus homem não tinha vaidades, nem se fiava nas referências dos religiosos para viver uma espiritualidade que os agradasse e que os convencesse nas regras de seus jogos, ele tinha amigos no mundo, não na liderança religiosa. Onde fazemos mais amizades que em mesas de bar? Não estou dizendo que Jesus era alcoólatra e fútil, mas não era um falso moralista, fazia aquilo que os que se consideravam espirituais achavam mundano e isso deixava genuínos falsos moralistas confusos. 
      João Batista é bíblico, sua história está na Bíblia e podemos aprender muito com ela, contudo, ele não é o exemplo mais alto de espiritualidade para nós hoje, Jesus é. Há muitos evangélicos achando que santidade e consagração é viver nos moldes de profetas do antigo testamento, ir às praças pregar o fim do mundo e arrependimento para escapar do inferno, sim, Jesus fazia isso, mas de um jeito novo, o jeito que ele veio entregar à humanidade. Espiritualidade hoje não é se abrigar no templo e lutar por um reino de Deus na Terra, como os judeus faziam, mas é ser o templo do Espírito Santo e se preparar para o reino de Deus na eternidade, para isso temos que ser luz no mundo, singulares por dentro, mas plurais por fora.
      Será que entendemos a provocação do Cristo de andar com pecadores? Não é frequentar bares com amigos não cristãos, também não é ser assíduo em templos. Jesus andava com pecadores por amor, não por fuga ou prazer material, aliás, o que movia o Cristo em tudo era o mais alto e puro amor de Deus. Há uma certa esquizofrenia hoje em dia, e perdoem-me o termo que deve ser respeitado, muitos evangélicos conseguem ser uma coisa nas igrejas e outra em outros ambientes. Falam coisas diferentes, se portam diferentemente, têm dificuldades para serem íntegros, quando são os mesmos, são sem amor. Cristianismo do Cristo não é algo fácil de se viver, é preciso coragem, a que João e Jesus tiveram, ainda que sujeitando-se a fins terríveis. 

terça-feira, setembro 26, 2023

Cristo não veio trazer paz (3/7)

      “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra” Mateus 10.34-35 

      Seguindo na série de reflexões “Provocações do Cristo”, mais um texto bíblico que precisa ser entendido certo. Jesus não veio unir, veio separar. Esse ensino completa o ensino de Mateus 8.21-22, e de uma forma mais abrangente, aqui o Cristo revela que a diferença entre os seres humanos que o seguem em relação a outros, não só mudaria as prioridades do homem, pondo em segundo lugar mesmo pais e família, mas colocaria o homem em situação de confronto. Citando espada, Jesus fala de guerra física, obviamente esse é mais um daqueles textos bíblicos que temos que reinterpretar as palavras que foram usadas originalmente para falar ao homem do passado. Nesse caso é preciso fazer isso com muita ênfase, já que o ser humano, naturalmente propenso a embates violentos, pode se achar ainda com direitos mais legítimos a isso se acreditar que está lutando numa guerra santa em nome de Deus. 
      A Igreja Católica fez isso por séculos, perseguiu e matou em nome da religião, o pior pecado dessa religião, que ao meu ver inviabiliza qualquer possibilidade de vê-la como representante oficial e exclusiva do Cristo na Terra. Como sempre digo aqui, ainda que Deus tenha usado e use o catolicismo para entregar Jesus à humanidade, violência, de qualquer espécie, e evangelho, não se casam. Mas, então, por que Jesus usou palavras tão extremas no texto acima? Porque a diferença entre trevas e luz é extrema, para ser treva basta um por cento de escuridão, já a luz é sempre cem por cento clara. Novamente o ensino de Jesus é: conhecer a fazer a vontade de Deus é prioridade para qualquer ser na Terra, acima de qualquer outra aliança, ainda que a prática disso seja em amor, humildade, santidade e paz. 
      Se o texto bíblico inicial não nos autoriza de forma alguma a exercer qualquer espécie de violência em nome do Cristo, ele nos alerta que não existe forma de vivermos na prática o evangelho sem termos desafetos, e muitas vezes dentro de nossos círculos familiares mais próximos. O cristão não é inimigo de ninguém, ama a todos, ora por todos, abençoa a todos, mas os outros podem, ainda que às vezes de maneiras bem sutis, se colocarem na posição de inimigos dele. Desanimarmos, querermos desistir da fé, acharmos que é injustiça de Deus, é entendermos a coisa erradamente, provar certas injustiças e reagirmos a elas com espiritualidade é prova que estamos no caminho certo em direção a Deus. Preocupados devem ficar os que têm no mundo só amigos e quem aprove seu estilo de vida plenamente.
      Ser diferente sem ser alienado, eis o desafio. Ser conhecedor de mistérios sem ser arrogante, eis a vocação dos amigos de Deus. Ter entendimento para ser mestre, maturidade para ser ouvido, experiência para curar, mas ainda assim ser sempre aluno, ouvinte e submeter-se humildemente à cura, como irmão de todos, não como patrão ou juiz, eis a experiência que Jesus viveu e nos chama a viver. O mais importante é entendermos que luz e trevas, reino de Deus e reino do mundo, glória do céu e glória do homem, são incompatíveis. Isso pode legitimar ataques de imaturos, alimentar guerras religiosas e moralistas, incentivar agenda de costumes na política, mas fortalecerá no espiritual o foco em Deus. Cristão de verdade não entra em conflitos e dá ao ser humano direito ao livre arbítrio, como Deus dá, respeitando diferenças em paz. A guerra existe, mas está fora, não dentro do amigo de Deus. 

segunda-feira, setembro 25, 2023

Que os mortos enterrem os mortos (2/7)

      “E outro de seus discípulos lhe disse: Senhor, permite-me que primeiramente vá sepultar meu pai; Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortosMateus 8.21-22

      Deixem que os mortos enterrem seus mortos, se formos entender e aceitar o que de fato Jesus disse com essas palavras, aplicando-as a nossas vidas ou nas vidas de muitas pessoas que dão valor e respeito enormes a pais, avós e outros familiares próximos, acharemos a orientação do Cristo dura, mesmo, insensível. Não existe até um mandamento de Moisés que orienta honrar os progenitores? (Êxodo 20.12) Pois bem, a chamada espiritual que cada um de nós tem, dada por Deus, pode ter mais relevância mesmo sobre algo tão sério como enterrar um pai. O ensino, contudo, tem um mistério que pode passar desapercebido, deixa os mortos sepultar os mortos. Estamos mortos ou vivos? Quais nossas prioridades, Deus ou os homens? Amamos nossos pais, mas temos Deus à frente deles, ou somos escravos de tradições humanas? 
      Jesus não manda que desrespeitemos ou desprezemos os pais, mas ele diz que aqueles que ainda não nasceram de novo, que não possuem uma conexão espiritual com o Deus vivo, sabendo e fazendo sua vontade, esses estão mortos. Como tais, não possuem outras prioridades neste mundo senão a morte, e tudo que é feito neste mundo sem ligação íntima com Deus, segue para um único destino, a morte do corpo. Essa poderá revelar também a situação do espírito, que já havia no plano físico, a morte espiritual ou segunda morte, que só será manifestada no plano espiritual entregando o ser humano a um inferno. O que busca em primeiro lugar o reino de Deus tem sabedoria, conhece as prioridades de Deus, sabe o que fazer e o que não fazer, e terá coragem para obedecer a Deus, ainda que homens não entendam, condenem e o persigam. 
      Qual a sua prioridade na vida, está seguindo para a vida eterna ou ainda está enterrando mortos? Todos temos a obrigação em amor de cuidar dos nossos idosos, assim como esperamos em Deus que sejamos cuidados quando envelhecermos, mas que não façamos disso nossa missão principal. Muitos passam a vida em velórios, celebrando cadáveres, não necessariamente de pessoas, mas de memórias, esses valorizam a morte, mas não como passagem, como fim. É importante nos prepararmos para a morte, mas focando no que vem depois, na avaliação que a luz de Deus nos fará, na qualidade do céu que teremos, a morte é só um parto, por mais dolorida que seja é só um evento antes da vida melhor. Um feto está vivo dentro da mãe, mas de maneira limitada, só com a morte do corpo físico é que teremos a melhor liberdade, a espiritual. 
      Celebrar a morte é prender-se ao passado, tanto para o bem quanto para o mal. Manter velórios na mente é não ter esperança num futuro melhor, mas amarrar-se a coisas boas do pretérito. Mas isso pode ser mais fantasia que realidade, construções mentais podem ser mentira, ainda que baseadas em fatos passados. O passado na verdade nem foi tão bom quanto achamos hoje, não era quando o vivemos. Deus leva-nos a trabalhar para construirmos presentes melhores, com futuros gloriosos que priorizam virtudes morais, não prazeres vãos deste mundo. Contudo, a morte pior que armazenamos na cabeça é mágoa dos outros e culpas nossas, vivendo no presente baseados no pior nosso e dos outros, que hoje pode nem mais ser realidade. Nós podemos mudar assim como os outros, assim tenhamos vida no Espírito de Deus e esqueçamos de vez os mortos. 

domingo, setembro 24, 2023

Provocações do Cristo (1/7)

      “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve.Mateus 11.25-26

      Se alguém hoje em dia acha que Jesus foi um religioso conservador, engana-se, Jesus homem era progressista e Cristo Deus continua sendo, hoje e para sempre. Jesus confrontou a religião oficial de seu povo, por isso ganhou antipatia e ódio de líderes religiosos judeus que acabaram levando-o à morte. Quem matou o Cristo não foi o mundo, mas a igreja de sua época e de seu povo, justamente porque ele disse não à tradição de Moisés, opôs-se à religião que se dizia dona da verdade só por ser conservadora de tradições. Ainda que o evangelho que ofereceu cumpra a velha aliança e de forma plena, Cristo entregou à humanidade uma novidade, que ainda que catolicismo e protestantismo teimem em engessar para poderem ter controle e mandar no mundo pela religião, segue atual e progressista. 
      A luz de Deus é sempre a mesma, mas o ser humano aperfeiçoa sua capacidade de ser exposto a ela e conhecer os mistérios do Altíssimo, dessa forma é impossível enclausurar o Espírito Santo, conservar numa cela o que é vivo, invisível, intocável e espiritual, que por isso está além de qualquer estagnação, assim como é impossível impedir a humanidade de evoluir. A igreja católica tentou fazer isso, muitos evangélicos que se denominam conservadores tentam fazer isso, ainda que se dizendo liberais na economia, e mesmo que não entendam que o ser conservador deles não é ser fiel a um Deus imutável, mas é prender-se a óticas passadas e humanas desse Deus, chamadas tradição. Nem o progressismo passado conservado se torna melhor por isso, o progressismo genuíno não pode ser conservado. 
      Por favor, entendam certo este texto, quando me coloco como progressista não estou dizendo que concordo com todas as causas de muitos que se dizem progressistas hoje no Brasil. Não sou, por exemplo, a favor do aborto, considero isso assassinato, baseado na mesma justificativa que muitas mulheres usam para apoiar o aborto, “meu corpo, minhas regras”. Um feto não é um corpo, ainda que dentro de outro corpo? Alguém pede autorização para ele quando realiza o aborto? E nem pode pedir, porque ainda que seja uma vida, corpo com espírito, não está desenvolvida o suficiente para responder por si, assim, deve ser protegida pelos outros. Matar o feto na barriga da mãe é o mesmo que matar um bebê recém-nascido, ou uma criança ainda imatura intelectualmente. Sim, há excessões, mas a regra é não matar. 
      Não sei para quem exatamente escrevo aqui, mas sei, pelas informações que o Blogspot me dá, que muita gente lê, tenho paz que é assim que tem que ser, sei de minha chamada e a cumpro com alegria, indiferente de aprovação pública de homens. Mas sei outra coisa, quem Deus traz para ler os textos da página “Como o ar que respiro” acha nela palavras que o abençoam, assim como sei que para quem não escrevo não há argumento que o faça mudar de ideia. A esse respeito, e de forma alguma me acho maior que ele, nem menor, na eternidade entenderemos os modos que Deus usou para aperfeiçoar as pessoas. Não tenho a pretensão de convencer cristão que se identifica como conservador, não há utilidade nisso, mas os que veem Jesus além da tradição de homens serão abençoados aqui. 
      Nas próximas seis postagens seguem reflexões sobre passagens bíblicas que mostram o Cristo progressista, em cada uma delas pode conter, numa leitura rápida e numa interpretação rasa, incoerências, pelo menos entre o Jesus real e aquele que nos foi ensinado nas igrejas. Como já disse outras vezes aqui, a religião que professamos, católica ou protestante, doutrinas, cânones bíblicos, liturgias, dogmas, sacramentos, são construções humanas. Jesus não escreveu nada, nem existe dele uma ordem dizendo que surgiria uma religião, uma denominação, uma Bíblia, que seriam representantes oficiais de seu ministério. Ainda que Deus tenha permitido e ainda use catolicismo e protestantismo, podemos questionar tudo isso, quem quiser verá que muita coisa não é assim como os homens dizem que é.

sábado, setembro 23, 2023

Perfeito com os perfeitos

      “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.Mateus 5.48

      Deus é perfeito com os perfeitos! Mas quem é perfeito, ou melhor, quem é perfeito segundo a vontade de Deus? O que de fato é perfeição? O que Deus espera de nós como perfeição? Interessante que muitas pessoas procuram obstinadamente justamente o contrário em nós, imperfeição, mas é uma tendência de todos, não sejamos hipócritas, buscar defeitos nos outros para justificar mantermos em nós defeitos não resolvidos. O olhar de amor do Senhor sempre vê o copo meio cheio, acha e exalta nossas qualidades, revela nossos acertos, nos vê mais próximos deles, não mais distantes. O perfeito olha imperfeitos como merecedores de sua atenção, de suas virtudes, o perfeito é humilde e generoso.
      Isso já lança ao chão a noção equivocada que temos de superioridade, de perfeição, o perfeito abraça, não distancia, trabalha e serve, não usufrui de privilégios à distância. Quem é perfeito? Só Deus. Quem é perfeito segundo a vontade de Deus? Sob uma ótica eterna, ninguém, mas sob a visão do presente, daquilo que Deus pede de nós agora e aqui, por mais incrível que pareça, todos nós podemos ser. Muitos sofrem com sinceridade porque se sentem culpados e frustrados, porque não se acham perfeitos, e isso não ocorre só com religiosos e cristãos. Materialistas e ateus também cobram de si mesmos mais que o necessário, porque querem aparentar para os homens virtudes que não conseguem viver. 
      Que referências usamos para definir perfeição, a Bíblia, o próprio Deus, Jesus homem? A melhor resposta é Jesus, através de sua encarnação Deus ensinou ao homem como ele pode ser perfeito neste mundo de forma objetiva e simples. Mas Jesus tinha seu nível de espiritualidade, assim como sua missão, ainda que ele seja nosso objetivo, nós não somos ele e nem precisamos ser, não hoje, talvez na eternidade. Deus pede pouco de cada um de nós para que possamos nos sentir felizes por agradarmos a ele plenamente, descobrirmos e vivermos isso é segredo de felicidade. A religião pede muito, homens cobram demais, nos estabelecemos objetivos a alcançar desnecessários, que só nos desviam do alvo. 
      O que é perfeição? Ela é relativa e nascemos com ela dentro de nós, viver é nos lembrarmos do que sempre fomos, mas que tínhamos medo de assumir, então, perseverar nisso para que não seja ideias em nossas cabeças, utopias, mas verdades de nossos espíritos. O ser humano que envelhece bem e amadurece corretamente poderá chegar a um momento de sua vida que se sinta bem resolvido, consigo, com o mundo, com Deus. Isso não é se deitar nos louros antes do tempo, desistir ou se achar perfeito, mas é sentir-se em paz. Teremos que segurar isso até o final de nossas vidas no mundo, isso é certo, ainda com trabalho no Espírito Santo, mas já estaremos iluminados o suficiente para sabermos quem somos e o que Deus pede de nós. 
      Coisa boa é ver a perfeição de Deus em nossas vidas, como as coisas, mesmo as difíceis, ocorreram do jeito certo, isso não é só o homem buscando sentido em sua existência, é harmonia do ser com Deus numa íntima amizade. Quem está no centro da vontade do Senhor verá a perfeição do Altíssimo até o final, numa velhice satisfeita e numa morte tranquila, colherá frutos bons e duradouros de sementes que foram plantadas no tempo certo, quando se fez tudo que se podia e nada se deixou para depois. Deus é perfeito com os perfeitos, se alguém não acredita nisso o problema não está em Deus, na vida, nem nas outras pessoas, mas em si. O humilde, contudo, sempre achará a perfeição a tempo. 
      A verdade é que o humilde está sempre numa posição perfeita, pois descansa em Deus. Não pensa de si mais que é, nada exige dos outros, não tem felicidade dependente do temporário e do ilusório, põe Deus na origem e no destino de tudo que acontece e faz em sua vida. Ao humilde não falta e nem excede, tem na medida, assim interpreta perfeição no que tem, gosta do que é e é o que gosta. O humilde não se culpa pelo passado, nem sofre pelo futuro, vive um presente eterno, o tempo dos espirituais, o tempo de Deus. Por isso é leve, puro e santo, assim eleva-se a cada dia para mais perto do Altíssimo, vivendo virtudes morais e segurando-as em paz. A perfeição está na humildade, na humildade somos perfeitos. 

sexta-feira, setembro 22, 2023

Não temos que ser invencíveis

      “O Egito se tornará o mais humilde dos reinos e nunca mais se exaltará sobre as nações. Eu os diminuirei, para que não dominem sobre as nações.Ezequiel 29.15

      Para vencermos algumas fraquezas temos que aceitar que outras fraquezas são invencíveis. Vencedor não é quem vence tudo, mas quem vence o que importa, contudo, o único que pode nos mostrar o que importa vencermos é Deus. Posso testemunhar que só tive vitórias importantes em minha vida, de questões que passei muitos anos tentando vencer e não vencia, quando parei de lutar certas batalhas, dei por perdido certos assuntos, entendi o que Deus queria de mim e lutei as batalhas que ele me orientou lutar. Nas batalhas que Deus nos manda lutar sempre somos vencedores. Se você não está tendo vitória é porque está querendo vencer todas as batalhas, isso glorifica você, mas não faz a vontade de Deus nem o honra. 
      Algumas pessoas querem e bastante serem limpas moralmente, serem fiéis às suas alianças afetivas, serem santas, mas não abrem mão de humildade em outras áreas, por exemplo, na área profissional. Assim trabalham e trabalham, mas nem ganham o suficiente para satisfazerem suas vaidades e nem conseguem ser fiéis a seus cônjuges, desperdiçam energia nas lutas erradas e perdem a batalha principal. Não podemos vencer todas, algumas temos que perder para vencer outras, muitos até são vistos como vitoriosos financeiramente, mas têm vidas afetivas derrotadas, são escravos de ciúmes e de vícios secretos. O ponto não é sermos vitoriosos individualmente, mas sermos vencedores conectados ao Deus Altíssimo.
      Pecado é termo usado demais no cristianismo, tanto que muitos que se opõe ao cristianismo zombam do termo, acham-no coisa de gente insegura e cheia de culpas. Mas na verdade só existe um pecado, sendo as obras da carne e os vícios do corpo e da alma consequências desse, o pecado é: estar desligado de Deus. Veja que não precisamos ser ateus, promíscuos, criminosos, sem religião, não naquilo que aparentamos na sociedade, para estarmos desconectados de Deus. Mas até aquele que aparentemente não tem religião ou não acredita em Deus, pode estar conectado interiormente a Deus. Quem de fato anda com Deus é conhecido de Deus, sabe perder certas batalhas para vencer as que de fato importam, esse é humilde.
      Estar ligado a Deus não é só ser bom cidadão, trabalhador honesto, religioso atuante e fiel a doutrinas, estar ligado a Deus é pô-lo como início e fim da vida, assim fazer o que Deus orienta e ser vitorioso nisso para a glória de Deus. Desconectado de Deus, ainda que virtuoso, ou pelo menos aparentemente assim, em seu âmago busca honra para si, não achou e não vive a humildade que precisa perder para ganhar, morrer para viver, abrir mão diante do homem para ter o reino de Deus. Eu disse aparentemente porque o desligado de Deus não pode ser virtuoso. Não basta Deus ser parte da narrativa, mesmo o protagonista dela, deve ser origem e destino dela. Contudo, insisto, precisamos entender o que é estar ligado a Deus do jeito certo. 
      “Deus é Espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4.24). Por mais sinceros que vivamos, por mais fé que tenhamos, por mais religiosos e bem intencionados que sejamos, só tem um jeito de estarmos ligados a um Deus espiritual, pelo Espírito Santo, simples assim. Sim, Deus ouve a todos e sempre, mas o próprio Deus fica limitado em sua ação quando nossa relação com ele é só racional, e mesmo que seja emocional, encharcada de lágrimas, se não houver ligação pelo Espírito Santo não retornará do Altíssimo trazendo a melhor bênção. Se isso não acontecer continuaremos querendo vencer sempre, mas desperdiçando tempo e energia em lutas erradas, porque estamos lutando sozinhos. 
      Não temos que ser invencíveis, mas podemos ter a paz que excede todo o entendimento (Filipenses 4.7). Por isso vemos na Bíblia histórias como a do Egito, relatada no texto bíblico inicial, nações terem que ser humilhadas, espalhadas, diminuídas, para que, só então, não se exaltem sobre outras nações e sejam humildes. Infelizmente como vemos pessoas assim, se esforçando tanto, mas nas lutas erradas, porque querem ser exaltadas, como profissionais, diante da sociedade, da igreja, dos amigos, no meio familiar ser o filho, o cunhado mais próspero. Na exaltação não há felicidade, nem vitória sobre vícios e carências, vitória sempre está na humildade, que sabe perder para ganhar o que importa em Deus. 

quinta-feira, setembro 21, 2023

A vontade de Deus sempre é feita

      “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.Jó 42.2

      A vontade de Deus sempre é feita, quando acertamos, mas também muito quando erramos. Quando acertamos o que alcançamos ou somos de correto é confirmado, mas nisso pode haver uma obviedade que acaba honrando mais o homem que a Deus, ofuscando todo um trabalho onde pacientemente Deus atraiu o homem e o conduziu à luz. Entretanto, quando erramos, algo que somos de errado é confrontado, isso leva-nos a corrigir o percurso e aprender a fazer escolhas melhores. Um erro que muitos cristãos cometem é achar que Deus está só nos coisas certas que os homens fazem, e que o diabo está nas erradas, assim, se o homem erra pensam que esse se desviou de Deus e Deus não cuidará mais do homem. 
      Se tivermos coragem para assumirmos nossa fraqueza, Deus pode contar com nosso erro, com nossa culpa, com nossa humilhação, para nos acordar e nos pôr mais perto dele. Se alguém, ainda jovem, se converteu numa igreja e depois se desviou, não acabou o trabalho de Deus, o desviado não encerrou sua jornada, não se condenou a um distanciamento perpétuo de Deus. Quem se desvia é porque ainda não está pronto, apesar de exibir aparência de pronto a homens. Deus não usa só a igreja, a convivência mais próxima de irmãos e o ensino bíblico direto para ensinar e curar as pessoas, igreja cristã é só uma forma de Deus tratar nossas vidas no mundo, ainda que seja aquela em que temos um foco mais direto em Jesus.
      Ah, se muitos soubessem, se muitos aceitassem, se muitos entendessem, que nascemos neste mundo porque somos errados, assim a probabilidade é que a maioria erre e outros finjam que não erram. Não, não estou incentivando e celebrando o erro, mas a oportunidade de assumi-lo e deixá-lo, então, seguirmos para a luz mais alta de Deus em Jesus e pelo Espírito Santo. Jesus chama pecadores, não justos, cura doentes, não sãos, habita com o humilde que se assume pecador que precisa e deseja mudar de vida, não com perfeitinhos céticos a materialistas, que dizem que culpa é coisa de inseguros que não se amam, que alegam que pecado é fraqueza de ignorante supersticioso, que se acham certos sempre. 
      Mas mesmo esses que não admitem Deus, religião, fé ou mundo espiritual, podem não aceitar, mas também estão fazendo a vontade de Deus, se entenderem isso no mundo, será melhor para eles, senão entenderão na eternidade, de um jeito ou de outro. Em cada dia, em cada hora, em cada segundo, em cada pensamento que passa por nossas cabeças, em cada sonho e empreendimento, em cada trabalho, em cada reação que temos com as pessoas, em cada ação que exercemos no mundo, em tudo isso a vontade de Deus está sendo feita e estamos tendo oportunidades de sermos seres humanos melhores. Ser melhor é ser santo interiormente, dar amor puro, exercer humildade prática, pôr Deus sempre à frente. 

quarta-feira, setembro 20, 2023

Reverta mal em bem

      “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.Romanos 8.28

      Se houver humildade em nosso coração, mesmo o ataque mais sujo e injusto do mal, pode nos fazer crescer. Aprendermos a receber todas as críticas de forma correta, mesmo aquela que vem com finalidade única de nos destruir, sem nenhuma intenção de nos abençoar, é trabalho que só conseguimos exercer com humildade. Se somos atacados há propósito, em primeiro lugar para que mudemos em alguma instância de atitude, depois para que aprendamos a nos manter em paz mesmo diante de oposição. Jesus foi alguém que recebeu ataques sem que fossem propósitos de Deus para que ele mudasse, assim foram injustos, se houve outros seres humanos assim na Terra não podemos afirmar, por isso Jesus veio para ser e foi o Cristo. 
      Contudo, aceitar qualquer crítica como propósito de Deus não é algo que fazemos com facilidade, principalmente se estamos andando uma vida significativamente correta. Mais fácil é nos colocarmos no lugar de vítimas e pormos o crítico no lugar de inimigo, assim acharmos legítimo pedirmos que Deus nos defenda e destrua quem nos criticou, mas como dissemos acima, só o humilde aprende o melhor de Deus com todas as críticas. Não nos esqueçamos que a vida só é dura com os duros, muitos endurecem no pecado das obras da carne, nos vícios e prazeres fáceis, mas outros endurecem numa posição moral, espiritual e material de estabilidade e prosperidade, achando-se assim no justo direito de não serem criticados.
      Se estamos errados, aceitarmos com humildade a culpa e a crítica é nossa obrigação (aceitarmos e mudarmos de vida), mas se achamos que estamos certos, aceitarmos oposições pode exigir de nós uma espiritualidade mais alta. Contudo, pode ser exatamente esse o propósito de Deus na crítica injusta, nos levar a subir mais um degrau em sua direção. Ninguém foi injustamente mais criticado que o Cristo e foi a reação espiritual dele diante de opositores tão cruéis que purificou o sacrifício que iria entregar a Deus por toda a humanidade, sua própria vida neste mundo. Se perdão nos santifica, aceitar injustiça com humildade nos purifica muito mais, e dos realmente espirituais Deus pede isso, humildade diante de crítica injusta. 
      Vivemos muito tempo como cristãos, ouvimos pregações sobre o texto bíblico inicial, mas ainda assim demoramos para entender a profundidade de seu ensino. Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito! Todas são todas mesmo, mas só quando amamos a Deus e vivemos seu melhor propósito. Costumo citar o adjetivo “melhor” com alguns substantivos, como eternidade e propósito, Deus sempre cumpre seu propósito, todos seremos avaliados na eternidade, mas feliz o que vive o melhor propósito de Deus, esse terá a melhor eternidade. Entende isso quem assimila a injustiça do melhor jeito, não vendo opositores, mas oportunidades para ser melhor.

terça-feira, setembro 19, 2023

Alimente-se e fortaleça-se

      “E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis.Apocalipse 10.8-11

      O que mais precisamos, para sermos fortalecidos e vencermos tentações e sermos aprovados em provas, Deus sempre nos dá como alimento. Ocorre que muitas vezes ainda não entendemos o que é esse alimento que nos fortalece, e outras vezes, ainda que já tenhamos entendido, teimamos em não tomar esse alimento e comê-lo. Você sabe o que exatamente você precisa fazer para ser forte e fazer a melhor vontade de Deus para tua vida? Ou já se acostumou tanto a perder para a fraqueza que desistiu, até tem vitórias nas áreas material e afetiva, mas aceita que moralmente não pode ser melhor que o que conseguiu ser até agora? Quem não se alimenta direito no espírito, adoece e pode falecer, ainda que esteja bonito e forte no corpo.
      Reconheço que demorei muito tempo em minha vida para entender qual era o alimento que Deus tinha para me dar e me fortalecer, assim, ainda que desejasse de todo o coração ser santo, manso e produtivo, vivi muitos anos preso a vícios, ansioso e vendo projetos profissionais e afetivos fracassarem. Mas ninguém julgue a ninguém neste mundo pelo tempo, o que importa se alcançamos nosso melhor aos vinte, aos quarenta ou aos sessenta anos? Importa alcançarmos, Deus nunca desiste de nós. Cada um de nós sabe se é vitorioso, e não confundamos isso com profissões seculares, ministérios em igrejas e casamentos honrados pelos homens, podemos ter tudo isso e ainda assim sermos perdedores, rebeldes ao plano de Deus. 
      Se Deus quer que você voe, só vai achar o melhor alimento e o abrigo mais adequado no pico dos montes mais altos. Se Deus quer que você nade terá gosto pela água e por peixes, não se sentirá bem em terra firme. Metáforas à parte, não podemos deixar mundo, homens e mesmo religião dizerem para nós o que é melhor, só Deus, que administra todos os destinos, sabe o que podemos e como podemos ser, estando no lugar certo, fazendo a coisa certa e comendo o alimento espiritual e emocional que só ele pode nos dar. Eu já entendi que dependo de vida de oração, de estudo da Bíblia, mas também de conhecer profundamente espiritualidade, lendo textos não só cristãos, mas de outras óticas espirituais, é o saber que me alimenta. 
      O livrinho que João descreve na passagem inicial de Apocalipse tem características interessantes, ele é doce na boca, mas amargo no ventre. Somos seres inconstantes e frágeis, o pai permite emoções singulares em nossos corpos mortais para que ao menos comecemos a fazer sua vontade, assim, o conhecimento de Deus e seus mistérios são agradáveis no primeiro contato, se não fosse assim não os buscaríamos. Contudo, ainda que experiências profundas com Deus nos alimente, têm um propósito que vai além de nós, com o tempo geram em nós responsabilidade com as outras pessoas e isso não é tão agradável. Mas importa que profetizes outra vez a muitos povos, nações, línguas e reis, assim cumpramos nossas missões até o fim.

segunda-feira, setembro 18, 2023

Quebre o loop interno do mal

      “Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai os vossos caminhos. Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, porém não vos fartais; bebeis, porém não vos saciais; vesti-vos, porém ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o num saco furado.Ageu 1.5-6

      Mal jogado pelos outros em nós pode gerar em nós um mal que jogamos em outros, isso é um loop externo do mal a ser quebrado (leia também “Finalize o loop”, “Quebre o loop, siga em frente”, “Quebre o loop do não amar). Mas existe um loop interno do mal, que não tem origem e fim fora, mas que começa e encerra-se em nós. Permanecermos vazios pode nos levar a buscar prazer no pecado que depois faz com que nos sintamos mais vazios, assim levar-nos de novo a buscar prazer no pecado. Uma das armas do mal é manter-se existindo alimentando a si mesmo, assim, ainda que seja ruim e dessa forma algo que deveria ser descartado na primeira vez que é provado, consegue que o façamos de novo. Quebrar os loops do mal depende de mudarmos o lugar para onde olhamos. 
      O mal sempre tenta prender nossos olhos embaixo, para nossas próprias fraquezas, para a injustiça dos outros, para a opressão que espíritos malignos geram e com a qual tentam nos cegar. O mal é egoísta, sabe que se tirarmos nossos olhos dele por um instante veremos a luz, que é muito maior que ele, assim seu trabalho, tentando nos convencer que não há saída, que a dor é maior e que o máximo que podemos é nos aliviar temporariamente com mais pecado, é constante, ninguém se engane. Uma maneira que o mal usa para nos prender às coisas inferiores, é mentir sobre o que é Deus e sua melhor vontade para nós, assim ele nos fala que seguir a Deus exige uma humilhação diante do mundo, sermos menores diante de homens. 
      Muitos não querem ser humildes pois acham que isso os envergonharia diante dos homens, assim, ou não creem no evangelho ou criam um evangelho falso, que diz que Deus é poderoso para fazer os que creem nele cabeça, não cauda, prósperos, não pobres, exaltados, não humilhados. Na mentira não há Deus, assim não há força, mas fraqueza que leva de novo ao vazio, ao prazer do pecado, ao loop interno do mal. Enquanto não levantarmos a cabeça e não olharmos para o Altíssimo, o mal terá vitória e continuaremos a alimentar loops do mal. Basta um olhar humilde para Deus e esse emana sua luz sobre nós, que nos preenche com a presença do Espírito Santo, quem não está vazio não busca o prazer ilusório do pecado. 
      O texto bíblico inicial é duro, mas é verdadeiro quando temos como objetivo na vida só interesses egoístas, ainda que disfarçados de intenções altruístas, e como há religioso sendo condenador de irmão e juiz do mundo, mas achando-se homem de bem e protegido de Deus. Para esses o trabalho nunca é suficiente, o deus desses é exigente e manipulador, não quer e não pode dar o melhor para eles, e o melhor é liberdade em santidade e amor. Quem vive para si é escravo de tudo e de todos, e ainda que seja rico em bens materiais não tem paz, desviou-se do caminho da humildade há tempos. Deus pede pouco de nós, mas isso é suficiente para sermos fortes contra o pecado e satisfeitos no mundo, preparados para a eternidade. 

      “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai os vossos caminhos. Subi ao monte, e trazei madeira, e edificai a casa; e dela me agradarei, e serei glorificado, diz o Senhor. Esperastes o muito, mas eis que veio a ser pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu dissipei com um sopro. Por que causa? disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da minha casa, que está deserta, enquanto cada um de vós corre à sua própria casa. Por isso retém os céus sobre vós o orvalho, e a terra detém os seus frutos.Ageu 1.7-10

domingo, setembro 17, 2023

Deus é sempre o mesmo

      “Por que você se gloria na maldade, ó homem poderoso? Pois a bondade de Deus dura para sempre.” “Você ama o mal mais do que o bem; prefere mentir a falar a verdade.” “Também Deus o destruirá para sempre; ele o pegará e arrancará da tenda em que você habita e o extirpará da terra dos viventes.” ““Eis o homem que não fazia de Deus a sua fortaleza, mas confiava na abundância dos seus próprios bens e se fortalecia na sua perversidade." Quanto a mim, porém, sou como a oliveira verde na Casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para todo o sempre.Salmos 52.1, 3, 5, 7-8

      Somos seres emocionalmente inconstantes, é assim com todos, ainda que alguns verbalizem isso menos que outros. Mas uma das primeiras coisas que aprendemos no evangelho é não andar por vista, mas por fé, assim, não basearmos nossa paz, nossa segurança no que sentimos ou pensamos, mas em posicionamentos tomados diante de Deus e na resposta que o Senhor nos dá. Quando pedimos perdão, Deus nos perdoa, quando entregamos algo nas mãos do Senhor, ele recebe, cuida e faz o melhor, depois disso temos direito à estabilidade emocional. Conseguimos isso facilmente? Não. Por isso viver no mundo é convencer nosso homem interior que Deus existe e dá o bem para os que nele confiam.
      Mas se todos são inconstantes e alguns mais reservados sobre isso, outros são dramáticos, se cometem um pequeno deslize põem tudo a perder, pelo menos dentro deles, por retrocederem um metro acham que voltaram atrás quilômetros, e pior, que não poderão prosseguir e que perderão tudo o que tinham conquistado até então. Quem tem essa tendência se coloca numa posição muito frágil, fácil de ser usada pelo mal, que nem precisa vencer a pessoa em grandes coisas, basta uma coisinha para que a própria pessoa se perca sozinha. Isso, contudo, também é deficiência que Deus trata, confrontando a pessoa com ela até que aprenda que o justo vive por fé e que o Senhor não muda. 
      Não é porque você sente que é verdade, não é porque você pensa que vai acontecer, se Deus dependesse de nossas emoções e pensamentos ele não seria Deus. Antropomorfizarmos Deus, apesar de ser uma tendência mesmo de escritores bíblicos do passado, pode nos jogar em armadilhas. Deus é sempre luz, sempre paz, sempre amor, sem bem, é nossa distância dele que cria sensações de felicidade ou de angústia dentro de nós, que depois poderão influenciar as pessoas ao nosso redor, assim como sintonizar-nos com seres espirituais. Como sempre dizemos aqui, a existência é mental, assim ainda que o que pensamos não represente o que Deus é e faz, pode nos colocar em posições espirituais. 
      Ainda que para Deus você esteja vivendo corretamente e o esteja agradando, portanto tendo direito a bênçãos, se você instalar uma disposição mental negativa dentro de você, você se harmonizará com espíritos malignos, assim poderá se colocar em regiões baixas onde só há agonia, ódio e vícios da carne. Nossa mente é nosso território de batalha, e se vencemos nela, vencemos no mundo espiritual e podemos vencer no mundo físico. Na mente se vence por fé nas palavras de Deus, já na matéria vencemos por obras, trabalhando e pondo em prática o que cremos. O importante é sabermos que Deus é sempre o mesmo, se você descansar nele poderá prosseguir sua jornada com todos os teus direitos. 
      Isso não significa que Deus não permita reviravoltas extremas, tanto em nossas existências individuais, quanto na existência coletiva, quando uma situação de estabilidade dá lugar a uma desconstrução geral, parecendo aos nossos olhos que tudo se tornou caos. Momentos de destruição podem ser necessários, para que melhores coisas sejam construídas, e isso também já foi feito por Deus quando estabeleceu as leis eternas do universo no início dos tempos. O que muitos chamam de juízo, de final dos tempos, de fim do mundo, são momentos assim, e nesses um Deus de paz poderá ser interpretado, por mentes humanas limitadas e carnais, como um Deus irado e destruidor de mundos e reinos. 
      Como nos ensina o salmista no texto bíblico inicial, destruição e julgamentos vêm sobre o homem que confia em si e em suas riquezas, não em Deus. Ainda que muitos sejam trabalhadores honestos, se não colocarem Deus à frente e não glorificarem o Senhor por tudo, também serão considerados homens maus. Mas ao mau Deus trata para que seja bom, ninguém é condenado para sempre, quanto ao bom, não precisa temer o caos em dias que juízos coletivos vêm sobre a Terra, ainda que céus e Terra passem, Deus não muda, sempre protegerá e abençoará quem anda certo. Quanto a mim, sou como a oliveira verde na Casa de Deus, confio na misericórdia de Deus sempre, que sejam essas nossas palavras. 

sábado, setembro 16, 2023

Diga não à hipocrisia!

      “E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe. Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!Mateus 18.5-7

      Às vezes não pecamos por desagradarmos diretamente a Deus em algo, mas por sermos incoerentes com alianças que fazemos com homens. Muitas vezes Deus nem se importa com coisas que homens dizem que são erradas, não tanto como os homens se importam, mas Deus se importa se nos comprometemos em viver essas coisas de acordo com regras de homens e não vivemos. Estou me referindo a vivência com igrejas, e cada uma delas tem suas doutrinas e leis. Quem se torna membro oficial de igreja, e principalmente, desempenha cargos e ministérios em uma, deve obedecer as regras dessa igreja, independente de serem regras com as quais Deus se importa ou não.
      O nome disso é coerência, mas se assumimos publicamente que somos alguém, mas escondidos somos outra pessoa, ou se dizemos diante de líderes e de igreja que aceitamos e obedecemos certas regras de conduta, mas fora do templo não pomos isso em prática, isso é incoerência. Incoerência é hipocrisia e hipocrisia pode escandalizar, principalmente aqueles que chamamos de “pequeninos”. Já usei esse termo aqui, e se alguém pensa que não existem inocentes neste mundo saiba que existem, ainda que alguns só temporariamente. Crianças e novos convertidos são inocentes, pequeninos com os quais devemos tomar cuidado, assim como são inocentes certos deficientes intelectuais. 
      As pessoas não podem ser pequeninas para sempre, nem devem ser, todos temos que amadurecer e aprender a conviver com nossas responsabilidades assim como com os erros dos outros. Contudo, no início da caminhada com Cristo em igrejas, o pastor é alguém para o qual as pessoas olham, procuram imitar. Se um líder aceitou e se colocou nessa posição deve se comportar de maneira a guiar as pessoas para Deus, alimentando, principalmente os pequeninos, com o alimento espiritual puro tirado de suas próprias e verdadeiras experiências com Deus. Da mesma forma pregadores, professores de Bíblia, ministros de louvor, instrumentistas e todos que se colocam no lugar chamado altar. 
      Serei direto, se alguém acha que pode ter intimidade sexual com alguém, antes de estar oficialmente casado, em primeiro lugar esse é assunto entre a pessoa, o companheiro e Deus, e esse assunto pode ter interpretações de certo e errado bem subjetivas, não sejamos ingênuos nem falsos com relação a relações afetivas nos dias de hoje. Contudo, se alguém vive essa intimidade e é ministro de louvor, sendo visto no altar como exemplo, em uma igreja que oficialmente tem como regra não haver intimidade sexual antes de casamento oficial, então, essa pessoa estará pecando: uma vez, por hipocrisia, duas vezes, escandalizando pequeninos, e três vezes, se de fato estiver desobedecendo a Deus. 
      Mas se alguém tem convicção diante de Deus que ter intimidade sexual antes de casamento oficial não é pecado, se faz isso com responsabilidade com alguém que ama e com o qual quer passar o resto da vida, e se ainda não oficializou isso por motivos principalmente financeiros, não digo que isso seja o mais correto. Casamento tem a ver com amor verdadeiro e depois com independência econômica, onde se pode sair da casa dos pais e estar pronto para assumir financeiramente não só uma vida a dois, como também filhos que poderão vir. Muitos hoje querem só o lado bom do casamento, a intimidade sexual, mas não querem sair da casa dos pais e assumirem contas, responsabilidades e consequências. 
      Contudo, se ainda assim alguém que anda com Deus quer fazer coisas que uma igreja diz que não devem ser feitas, essa pessoa pode até frequentar uma igreja e ser alimentada por ela, mas para haver coerência não deve nem se tornar membro oficial da igreja, e para não ser hipócrita e escândalo muito menos ter cargos ou pisar o “altar” como líder ou ministro. Isso é “sim, sim”, “não, não” (Mateus 5.37), isso é luz, e creiam Deus dá muito mais valor a essa lucidez que a certas coisas que falsos moralistas consideram pecado, como na sexualidade. Aos sessenta e alguns anos tive várias fases na vida, na primeira fase, após mais de dez anos em igreja protestante, sai para ter coerência na vida.
      Até hoje tenho muita dificuldade para aceitar hipocrisia, bato de frente com ela em igrejas, por isso alguns não se simpatizam muito comigo. E repito, o problema não são certos “pecados”, mas fingir que eles não existem, só para agradar a homens, à religião, a hipócritas, e ter status em templos. Infelizmente ocorre em muitas igrejas uma hipocrisia oficializada, assim se prega no púlpito uma coisa, sabe-se que nem líderes vivem essa coisa, mas ainda assim esses líderes seguem em seus cargos e não são confrontados. Parece que aceitaram que certas coisas não podem ser praticadas, mas também não podem ser negadas pela moralidade conservadora, assim a incoerência torna-se saída política adequada. 
      Que preços pagamos para continuarmos em igrejas, para termos grupos sociais, sermos aprovados por eles, para termos cargos, sermos honrados por eles, só porque confiamos mais em homens que em Deus? Na eternidade não seremos avaliados por líderes e regras de igrejas, mas pela luz mais alta de Deus, que procurará em nós santidade filtrada pela coerência. Às vezes pode ser melhor nos comprometermos menos com homens, para sermos uma pessoa só, com uma cara só, havendo coerência entre o que somos dentro de templos e fora deles, dentro de nós e na aparência. Para não sermos hipócritas a área sexual é assunto que tem grande peso, assim tenhamos coragem para assumi-la na paz de Deus. 

sexta-feira, setembro 15, 2023

Diante da provocação, busque a Deus

      “Porque assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me, e vivei. Amós 5.4  

      Uma das coisas mais difíceis na vida é não reagir a provocações maldosas, pelo menos não reagir do jeito errado. O jeito certo é sempre o jeito humilde. Somos mais irritáveis que os outros são irritadores, a irritação está em nós, não nos outros, o humilde assume responsabilidade pessoal para ser melhor e não joga culpa nos outros por seus problemas. Contudo, ainda assim, é certo que algumas pessoas têm habilidade especial para nos provocar. Dessas pessoas o melhor é ficarmos longe, mas quando não for possível, só um coração humilde pode reagir às provações do jeito certo. Se alguém tenta tirar de você tua pior versão, ore a Deus assim: quero ser exemplo para essa pessoa de como ela deve ser e não ser como ela.
      O que a provocação do mal tenta é nos colocar no mesmo nível do mal, e toda pessoa que é instrumento para nos fazer algum tipo de mal harmoniza-se com espíritos malignos, que querem de alguma forma nos desestabilizar. Somos provocados para reagir à altura, a altura do mal é baixa, com a intenção de nos fazer perder o controle, a paz, as referências que lutamos e demoramos tanto para construir em Deus. “O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a destruir” (João 10.10a). A provação do mal tenta roubar nossa paz, matar nossa reputação e destruir nossa esperança. Ela será eficiente se nos colocarmos na mesma altura que ela está, se a recebermos, a represarmos e a usarmos como energia para reagirmos na mesma proporção. 
      Às vezes parece que estamos caindo num buraco fundo e escuro, falta-nos ar, falta-nos chão, nada vemos, nada ouvimos, só nos sentimos confusos. Nem é porque nos achamos culpados por termos cometido algum erro muito sério, pode ser simplesmente porque fomos surpreendidos por uma provocação. Fantasmas do passado nos surpreendem, acidentes, doenças, acusações descabidas, a injustiça de muitos que não reconhecem que mudamos, o cinismo de outros que duvidam de nossa sinceridade em Deus, de nossa cura, de nossa qualidade moral. Quando faltar luz, não lute com espectros das trevas, eles são mentiras, são ilusões, pare um momento, cale a alma, busque a Deus com o âmago do teu ser e viva. 
      Se com certas coisas devemos lutar, nos opor veementemente, reagir de forma clara e firme, ainda que em paz, com outras devemos simplesmente dar as costas, quietos, humildes, e buscarmos a Deus. São disparates tão grandes que não merecem um instante de nosso tempo e uma porção de nossa energia. Às vezes a melhor reação é nenhuma, aquela que aceita a provocação, não agrega nada a ela, deixa-a assentar, sem que ela toque e pegue qualquer coisa de valor que temos, então, vermos ela sumir, como o escuro desaparece quando a luz é lançada sobre ele. Recebemos a luz mais alta olhando para cima, para Deus, crendo nele com todo o nosso coração e prosseguindo, confiantes que Deus se agrada do humilde. 
      “Clama a mim e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes” (Jeremias 33.3). Ah, quantas coisas maravilhosas, que enchem nossos corações de paz e que nos entregam vida em abundância, podemos achar quando clamamos a Deus. Ah, se muitos soubessem disso, ou se nos lembrássemos disso, porque ainda que provemos o alimento do Senhor facilmente nos esquecemos dele, quando perdemos o rumo diante da provocação do mal. Se a afronta é grande, Deus é maior, se a calúnia é injusta, temos um Deus que se agrada de nós, que acredita em nós, cuja palavra dura para sempre e é palavra de honra, não de destruição. Se o mal é óbvio, o consolo de Deus é mistério reservado ao humilde. 

quinta-feira, setembro 14, 2023

Humildes até o fim

      “A soberba do homem o abaterá, mas a honra sustentará o humilde de espírito.” Provérbios 29.23

      Você já pensou que assim como uma pessoa te machuca, como usa palavras como facas que parecem acertar teu ponto mais frágil, te provocando e te desestabilizando, você também pode estar fazendo o mesmo com outras pessoas, às vezes com a mesma pessoa que tanto te provoca? Somos rápidos para nos pormos no lugar de oprimidos, mas lentos para assumirmos que somos opressores, de algum modo, dos outros. Temer a Deus é nos preocuparmos com a causa do outro como nos ocupamos com a nossa, ser humilde é amar o outro como a si, e isso ainda que o outro não tenha a elegância de nos respeitar, mas ferindo-nos quando pode. Quem serve o outro terá iluminados servos do Altíssimo servindo-lhe. 
      Já disse isso aqui, muitas vezes não nos damos ao trabalho de sermos pacientes e humildes com alguns porque achamos que esses simplesmente não merecem. Os vemos como pecadores reincidentes, como sujos, ociosos, perdedores, assim pensamos que não precisamos perder tempo usando palavras respeitosas e sendo humildes com eles, se os machucamos, pensamos, “eles merecem”. Mas a verdade é que ninguém sabe o quanto as pessoas lutam para serem melhores, o quando se humilham diante de Deus para mudarem, para vencerem tendências e vícios, ainda, que olhando-as do lado de fora, achemos que anos se passaram e elas em nada mudaram. Precisamos ser humildes com todos, ninguém merece nossa arrogância. 
      A razão de julgarmos errado, principalmente os errados, é usarmos como referência para julgá-los e condená-los nós mesmos, nossa reputação, nossa estabilidade, pensamos que se nós conseguimos, os outros também têm a obrigação de conseguir. Mas a existência não funciona assim, as capacidades que cada um recebe são diferentes, as lutas que cada um passa não são iguais, os desafios interiores que cada um guarda não são os mesmos, a vocação e a missão de cada ser humano são específicas e só Deus sabe e pode avaliar. Sejamos humildes com todos e até o fim de nossas jornadas no mundo, caminhemos nosso caminho e respeitemos a caminhada alheia, a eternidade dirá quem é o quê e onde pôde chegar com o que recebeu.  
      Tenho aprendido a repetir no Espírito algo para mim, principalmente quando saio de casa e preciso me relacionar com outros: seja humilde. Humildade não é assento, é Sol, que por mais que caminhemos em sua direção parece estar sempre longe. Se simplesmente aceitarmos que nunca o alcançaremos ficará ainda mais distante, mas se perseverarmos em nos aproximarmos dele o teremos dentro de nósFacilmente reagimos à vida com arrogância, assim, caminharmos em direção à humildade é trabalho que temos que insistir até o fim, convencendo não os outros, nem a Deus, mas a nós mesmos, que a cura para todos os males, que o consolo para todas as dores, assim como caminho para o Altíssimo, é a mais pura humildade. 
      O soberbo trabalha e trabalha e nunca tem, se esforça e nunca está satisfeito, cobra de si, do mundo, da vida, de Deus, da família, dos amigos, e nunca tem paz. Ele usa-se como referência, assim estabelece-se como seu deus, e o deus-ego é cruel, injusto, mesquinho, ganancioso, pede muito, nunca dando o suficiente, assim abate o soberbo a si mesmo. O humilde de espírito acha a honra e por ela é sustentado pois olha para o Altíssimo e faz dele seu Deus e sua referência. Deus é misericordioso, e quem recebe misericórdia também a dá, gratuita e generosamente, Deus é amor, e quem recebe amor o dá, graciosa e pacientemente. Felizes os humildes porque deles é o reino dos céus, e os mansos, porque herdarão a terra (Mateus 5.3, 5).

quarta-feira, setembro 13, 2023

A honra de perdoar

      “Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido. Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas dos ímpios. Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão. Senhor dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em ti põe a sua confiança.” Salmos 84.9-12

      Quem precisou de um perdão, às vezes esperado por décadas, quando se teve certeza que errou, que machucou pessoas, mas que ainda que tenha mudado com o tempo, que seja alguém melhor no presente, não pode modificar o passado, nem a mágoa legítima que muitos podem ter por ele, esse sabe do valor que há em ser perdoado. No momento em que rescrevo este texto, há minutos atrás, acabei de ter essa experiência, e preciso registrar aqui. Eu já havia pedido esse perdão, assim como já mudei há muito tempo, não sou mais aquele que errou, mas só hoje recebi o perdão maduro de um dos que feri. Meus queridos e minhas queridas, que me acompanham aqui, que peso quem me perdoou tirou de mim.
      A conversa que tive me fez acreditar um pouco mais no ser humano, Deus me mostrou que ainda há gente humilde no mundo, e pode ser preciso mais humildade para perdoar que para pedir perdão. O que recebeu o dano pode se esconder no lugar de vítima e não se rebaixar diante do que causou o dano, mas se o que foi prejudicado pode escolher perdoar e ser humilde, o que prejudicou tem a obrigação de ser humilde e de solicitar perdão. Só tenho sobre o que louvar a Deus, quão maravilhoso é, bem algum nega ao que o busca, e no meu caso não peço nada a ele, a não ser, cuidado para minha mulher e filhas e perdão pelo que errei no passado, ainda que mesmo assim o Senhor esteja dando a mim muito mais. 
      Você que errou, admita, para si, para Deus e depois aos homens, peça perdão, sem justificativas, com humildade, e depois aguarde em Deus. Não, o perdão dos homens muitas vezes não é imediato, às vezes demora anos, e nisso também há propósito divino. A demora do perdão nos faz levar a sério nossos erros, não cometê-los mais, mas principalmente experimentar uma paz que depende da aprovação de Deus, de mais ninguém. Não posso negar a realidade, há perdões que os homens não darão neste mundo, e neste caso mais ainda temos que confiar em Deus. Mas o que espera humilde poderá ser perdoado pelo homem ainda aqui, como providência divina nos entregando consolo que precisamos muito.  
      Entretanto, entendamos algo, perdoa quem foi perdoado, é perdoado quem errou, mas só erra quem vive e não se esconde, muitas vezes assumindo falsa moralidade que só disfarça covardia e orgulho. Portanto, não nos iludamos com certas pessoas, essas dificilmente nos perdoarão, pois elas mesmas não pedem perdão e nem se consideram necessitadas dele. Quanto a você que aprendeu o valor do perdão, perdoe, se possível tome a iniciativa para isso, não espere o que errou pedir perdão, esse pode estar humilhado demais, mas que ao ver tua atitude iluminada, tua palavra de amor, a dádiva graciosa de teu perdão, será consolado e fortificado. Há honra de Deus em pedir perdão, mas muito mais em dar perdão. 

José Osório de Souza, 25/03/2022

terça-feira, setembro 12, 2023

Quem enxerga melhor?

      “Pois tu, Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra; tu estás muito acima de todos os deuses.Salmos 97.9

      Quem enxerga melhor o horizonte: quem o vê de dentro de uma casa, por uma janela, ou quem está sob um alto monte olhando tudo sem impedimentos? Ambos veem a mesma coisa, olham verdadeiramente o horizonte, não há mentira em nenhuma das visões, contudo, o que está dentro da casa enxerga só uma pequena parte do horizonte. Esse, se alguém mostrar-lhe uma fotografia com uma parte diferente da que ele enxerga, poderá dizer que a imagem não é do horizonte. Por outro lado, o que olha tudo sob o monte poderá não dar valor a uma parte específica do horizonte, que pode ser justamente a parte principal, e justamente a única parte que enxerga o que está na casa com a visão delimitada pela janela. 
      A casa é o cristianismo, a janela é o que as religiões cristãs permitem que se veja de Deus, Deus é o horizonte, o que se vê pela janela é Jesus. Há mais a se ver além de Jesus? Há. Verá quem sair da casa, mas para o que sai, um cuidado, não se perca com o todo e não se afaste do principal. Por outro lado, o que fica na casa está protegido e acompanhado, mas atenção, apesar de ver o principal, não vê tudo, assim seja humilde e não arrogue saber tudo. Há outras casas, essas também possuem janelas, que permitem ver outras partes do mesmo horizonte, e ainda que não seja o principal, também está em Deus e é verdade. Não arrogue, quem está nessas casas, ter visão mais privilegiada que o que está nas outras casas. 
      Deus é criador e Senhor do horizonte, das casas e das janelas, dos que olham o horizonte e mesmo dos que estão fora das casas e só olham o chão. Esses são céticos e materialistas que não creem em Deus nem no mundo espiritual, que por não estarem presos em casas arrogam ser livres, com visões mais amplas e não limitadas por janelas, mas eles estão presos à terra e não olham para o alto. Obviamente que o que está fora de uma casa e olhando o chão conhece mais o chão que os que estão nas casas, por isso o descrente pode usar melhor a ciência que o crente. Mas o que ambos podem não saber é que a ciência da terra também é obra do Deus do céu, assim não deve ser ídolo para o incrédulo, nem diabo para o crédulo. 
      Deus nos chama para entrar nas casas, termos comunhão com aqueles que focam suas visões nas janelas, mas depois nos convida a sair desses locais e olharmos tudo, chão e principalmente o horizonte. Deus nos chama para sermos sábios na ciência da terra e profundos conhecedores dos mistérios do céu. Deus nos chama para vasculhar o universo interior, conhecendo-nos e transformando-nos, à medida que conhecemos o mundo material e o plano espiritual. Deus nos chama para a liberdade maior, de matéria e espírito, de corpo e alma, na terra e no céu, dominando os elementos, mas antes dominando a nós mesmos, dando prioridade para as virtudes morais que levaremos à eternidade espiritual. 

segunda-feira, setembro 11, 2023

Será que é só isso?

      “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. I Coríntios 2.9-10

      Não tome esta reflexão como um ataque a tua fé, aliás, não permita que nada abale tua fé em Deus, que te trouxe até aqui em paz e em vitória. Contudo, todos temos o direito de questionar nossa religião, de pensarmos mais sobre o que cremos, de não aceitarmos doutrinas religiosas como dogmas irrefutáveis. Não é porque a religião fala, que Deus fala. Não é pecado duvidarmos, se fizermos isso num diálogo sincero e humilde com Deus, confiante na palavra final de Deus, não do homem. Muitos ouvem em silêncio o que é dito em igrejas, mas têm medo de admitir que em seus corações duvidam. Deus respeita isso, mas está pronto para esclarecer as dúvidas daqueles que têm coragem de dialogar com ele até a última instância. 
      Será que as certezas que temos sobre Deus e o mundo espiritual, baseadas na religião que escolhemos ter, de fato conhecem as verdades mais altas de Deus? Será que o cânone sagrado de nossa religião, Bíblia e outros textos, está absolutamente certo, é cem por cento palavra pura do Altíssimo? Será que nos alimentarmos daquilo que cremos ser os bons frutos do cristianismo do mundo, sim, porque nosso cristianismo não é o puro de Deus, é construção humana deste mundo, será que isso compensa fecharmos os olhos para os frutos ruins que esse mesmo cristianismo deu e ainda dá, frutos que tanto mal causaram e ainda causam à humanidade? Frutos ruins como a inquisição, perseguição à ciência, frutos que geraram opressão por séculos? 
      O dogma principal do cristianismo do mundo, e sempre identifico assim, do mundo, diferenciando do verdadeiro cristianismo, do Cristo que viveu como homem, que hoje existe com Deus e que nos enviou o Espírito Santo para nos orientar, enfim, a doutrina fundamental desse cristianismo é: há coisas que são de Deus, e as que não são de Deus são do diabo. Essa dicotomia simplifica tudo em dois lados, não havendo variações entre eles, só dois polos extremos. No catolicismo, para surpresa dos desinformados, depois de séculos de encíclicas, concílios e discussões teológicas, até pode haver nuanças, mas a reforma protestante, que desejou restabelecer o cristianismo radical, na verdade fundou uma seita cristã mais extremista. 
      Um exemplo dessas variações é o conceito católico do purgatório, lugar intermediário na eternidade, entre o inferno e o céu, onde espíritos de mortos ficam, sem sofrerem danação eterna, do qual podem sair para os gozos do céu após um tempo de preparação e com auxílio da intercessão dos vivos. O protestantismo não contempla essa possibilidade intermediária, mas só os extremos absolutos. Outro exemplo é a intermediação entre homens e Deus que pode ser feita por espíritos de mortos santificados e beatificados pela Igreja Católica na Terra, no protestantismo a intermediação é exclusiva do Cristo. Sob esse aspecto Igreja Católica está mais próxima ao espiritismo kardecista que está o protestantismo. 
      Baseados em “se não é de Deus é do diabo”, muitas coisas são simplesmente desconsideradas, nem se dão ao trabalho de pensarem mais a respeito, afinal, muitos não querem ir contra Deus, pois ficariam ao lado do diabo, muitos querem a certeza do céu, pois de outra forma estariam condenados ao inferno. Com relação a dons espirituais e intimidade com o Espírito Santo, muitos, principalmente da linha protestante tradicional, presbiterianos, metodistas, batistas, por exemplo, logicamente, não “avivados”, nem isso querem, não se arriscam com a subjetividade de palavras reveladas, preferem o conforto sólido e confiável, conforme ela acham que é, da palavra registrada e aprovada pela tradição e pelos séculos na Bíblia. 
      Até que ponto anjos, seres espirituais, na forma pura ou humana, experiências relatadas na Bíblia em textos como Genesis 18.1-3, Genesis 32.24-30, Ezequiel 1.4-8, Daniel 8.15-16, 10.5-13, Lucas 1.11-19, dentre outros, são de fato seres de extrema e eterna espiritualidade, moralidade e luz, ou são espíritos de mortos iluminados que se tornaram servos do Altíssimo após morte no mundo? Não estou defendendo aqui certas mediunidades exercidas por kardecistas, afro-espíritas e outros religiosos, não acho isso seguro e mesmo útil. Minha fé me permite aceitar só o Espírito Santo enviado por Jesus para termos intimidade espiritual maior com Deus. A verdade é que precisamos buscar mais, ao invés de taxarmos as coisas como “de Deus” ou “do diabo”. 
      Essa crença dicotômica cerceia pelo medo, isso foi e ainda é útil para afastar de coisas preciosas quem não está preparado para elas. Mas será que é só isso? Até que ponto há conhecimentos guardados por papas, hierarquias eclesiásticas e teólogos, que esses sabem que são verdadeiros, mas que não liberam para as massas por acharem perigosos demais? Tais conhecimentos poderiam levar muitos a se afastarem da Igreja Romana, pondo em risco o poder que líderes católicos possuem sobre grande parte da humanidade. Não duvido disso, a liderança católica é bem versada em muitos assuntos, não são pastores ignorantes confiantes só no próprio carisma, tem séculos de know-how trancafiado em salas secretas do Vaticano.

domingo, setembro 10, 2023

Simão, o mago (2/2)

      “Havia naquela cidade um homem chamado Simão, que praticava artes mágicas e deixava o povo de Samaria admirado. Dizia ser alguém muito importante” “O próprio Simão abraçou a fé e, tendo sido batizado, acompanhava Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados.” Atos 8.9, 13 (leia no final a passagem bíblica sobre Simão o mago na íntegra)
 
      Magia, no sentido de algo acontecer ou ser provocado por nada, não existe, tudo tem uma causa, ainda que seja de origem invisível, inaudível e intocável por órgãos e membros humanos físicos e por ferramentas e aparelhos. Dizer “isso acontece como mágica”, no sentido que aparece no ar, não procede, sempre há alguma manifestação científica ou truque físico envolvidos. Mas se considerarmos o plano espiritual e nossos espíritos meios e seres que existem, ainda que a ciência hoje não comprove, entenderemos que esses podem provocar muita coisa no plano material. Interessante que até há alguns séculos não se acreditava em vírus e bactérias porque não podiam ser vistos a olhos nus, ainda que provocassem doenças constatáveis.
      Você que não crê em magia ou que crê que ela não é permitida por Deus, o que acha que ocorre quando se ora ou se reza a Deus, com o coração cheio de convicção emocional e com a mente visualizando o que se deseja receber, seja em nome do Cristo, de Maria ou de algum santo? Fé é gerada e movimentada. Foi essa fé que permitiu a Jesus homem e aos apóstolos realizarem milagres e maravilhas no primeiro século. Quem pode dizer que fé não seja algum tipo de energia, que interagindo com Deus de alguma forma atua no mundo material, curando enfermos, influenciando pessoas, manifestando no plano físico a dádiva que o crente pediu a Deus? Há poder na fé, há magia nela, há mistério que atua na matéria e no espírito.
      Magia pode ser feita, vimos isso na postagem anterior, mas o que faz um mago vir ao evangelho, como foi o caso de Simão no livro de Atos? A resposta é uma só, ainda que interação com o plano espiritual seja possível, abra muitas possibilidades e não represente só mentiras de demônios, só Jesus abre caminho direto para o perdão do Deus Altíssimo, que entrega paz e cura o homem, para que esse possa praticar obras de vida eterna. Muitos conhecem espíritos, mas se esquecem do Santo Espírito, outros acham conhecimento sobre mistérios por guias, mas se afastam do mestre Jesus. Nos conectarmos a Deus diretamente pelo Cristo, sem outros intermediários, é experiência exclusiva, completa e transformadora. 
      Interessante que Simão parece ter se convertido a princípio, mas pelo que ele mostra depois, parece que só estava encantado pelo mesmo assunto que o conduziu à magia, fenômenos sobrenaturais. Parece que ele não teve uma experiência pura com o Altíssimo, só achou ter achado uma ferramenta mais eficiente para suas intenções místicas. Se ele experimentava magia, talvez em espíritos, reconheceu que o Espírito sobre Filipe, Pedro e João fazia magia maior, por isso ficou com os cristãos, ele não queria servir, queria ser servido. Penso que Simão se convenceu racional e equivocadamente, mas sem ainda ter recebido o Espírito Santo continuou cego espiritualmente. Sua ganância, contudo, o delatou quando quis comprar os dons.
      “Quando Simão viu que, pelo fato de os apóstolos imporem as mãos, era concedido o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: — Deem também a mim este poder, para que a pessoa sobre a qual eu impuser as mãos receba o Espírito Santo. Mas Pedro respondeu: — Que o seu dinheiro seja destruído junto com você, pois você pensou que com ele poderia adquirir o dom de Deus!” (Atos 8.18-20) Muitos podem ler isso e achar que é uma exortação só para bruxos e médiuns, não é, também exorta muitos que se apresentam como pastores e tentam vender o evangelho, usando dons para manipular as pessoas. A espiritualidade mais alta não se vende e não se compra, é dada graciosamente ao que quer glorificar a Deus.
      Penso que havia verdade em Simão, um homem que conhecia magia pôde reconhecer nos líderes cristãos uma espiritualidade mais alta, ele só demorou um pouco para entender a si mesmo, que sua necessidade maior não era ter acesso ao “espírito” mais poderoso para ter “o Grande Poder”. Simão precisava de virtudes morais, essas são os dons mais preciosos que Deus quer dar ao homem, mais que conhecimento do mundo espiritual e possível uso desse para experimentar maravilhas. Muitos conhecem mistérios espirituais, mais que católicos, protestantes e evangélicos conhecem, mas deveriam ser menos conduzidos pela curiosidade corajosa, e mais por um amor puro a Deus, que quer servi-lo, não tentar usá-lo.
      “Peço que vocês orem ao Senhor por mim, para que não me sobrevenha nada do que vocês disseram” (Atos 8.24b), parece que no final Simão reconheceu que precisava de ajuda, que não estava entendendo direito as coisas. Pelo texto bíblico compreendemos que ele não se atreveu nem a orar por si, pediu que os líderes cristãos intercedessem por ele. Simão acreditava, na verdade sempre acreditou, mesmo antes de conhecer o evangelho. Enquanto algumas pessoas são céticas por natureza, outras parece que nascem crentes, não têm qualquer dificuldade para contemplarem o mundo espiritual. Mas ter informações espirituais não significa ter moralidade prática, era isso que Simão precisava entender, no final parece que entendeu.
      Não penso que judaísmo, catolicismo e protestantismo proíbam certas coisas porque não podem ser feitas, mas porque não são convenientes. Podem ser perigosas e não mostram às pessoas comuns o plano mais alto de Deus de forma direta, salvação por Jesus. Mas dons do Espírito Santo não são intimidades espirituais que todos experimentam, ainda que sejam orientados na Bíblia a todos os cristãos. Por outro lado, generalizar como diabólico todo evento espiritual fora do que o cristianismo conservador legitima como aprovado por Deus, não é o mais adequado. A verdade é que há mistérios que grande parte dos cristãos não sabe, assim, tenhamos cuidado para considerá-los, com temor a Deus, mas com mente aberta.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

—————#—————

      “Havia naquela cidade um homem chamado Simão, que praticava artes mágicas e deixava o povo de Samaria admirado. Dizia ser alguém muito importante, e todos lhe davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: — Este homem é o poder de Deus, chamado "o Grande Poder". Davam atenção a ele porque durante muito tempo os havia impressionado com as suas artes mágicas. Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, tanto homens como mulheres. O próprio Simão abraçou a fé e, tendo sido batizado, acompanhava Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados. Quando os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ouviram que o povo de Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Chegando ali, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo, pois o Espírito ainda não havia descido sobre nenhum deles. Tinham apenas sido batizados em nome do Senhor Jesus. 
      Então lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo. Quando Simão viu que, pelo fato de os apóstolos imporem as mãos, era concedido o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: — Deem também a mim este poder, para que a pessoa sobre a qual eu impuser as mãos receba o Espírito Santo. Mas Pedro respondeu: — Que o seu dinheiro seja destruído junto com você, pois você pensou que com ele poderia adquirir o dom de Deus! Não existe porção nem parte para você neste ministério, porque o seu coração não é reto diante de Deus. Portanto, arrependa-se desse mal e ore ao Senhor. Talvez ele o perdoe por esse intento do seu coração. Pois vejo que você está cheio de inveja e preso em sua maldade. Simão disse aos apóstolos: — Peço que vocês orem ao Senhor por mim, para que não me sobrevenha nada do que vocês disseram.
Atos 8.9-24

sábado, setembro 09, 2023

Mágica e magia (1/2)

      “Então os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: — Por que o senhor fala com eles por meio de parábolas? Ao que Jesus respondeu: — Porque a vocês é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles isso não é concedido.Mateus 13.10-11

      A palavra “mágica”, sinônimo de ilusionismo ou prestidigitação, significa criação de ilusão por meio de truques e artifícios. Já “magia” significa “arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas”. Mágica são truques realizados pelo “mágico” no mundo material com finalidade de entretenimento. Magia são fenômenos produzidos pelo plano espiritual no plano fisico, ou nos planos físico e espiritual interagindo o “mago” no plano físico com seres espirituais. 
      Alguns creem na existência de poderes da mente, acreditam que um ser humano usando uma habilidade natural, através de concentração e outros meios, pode, por exemplo, se comunicar com a mente de outros seres, influencia-los, mover objetos, produzir sons ou provocar outros efeitos físicos. Outros acreditam, e eu sou um com essa opinião, que não existem poderes mentais puros, penso que se fenômenos paranormais podem ser feitos, sejam entre seres humanos, ou entre seres humanos e objetos ou espíritos, é por interação do ser no plano físico com seres espirituais, há uma ação híbrida de forças. Sem essa interação só podem ser feitos fenômenos físicos naturais, que podem ser explicados pela ciência atual e não são magia.
      Identificar o puramente físico de espiritual e físico integrados, é entender o que é ciência, o que é mágica, que nada mais é que ciência usada para entreter, e o que é magia. Muitos fenômenos científicos, que crianças fazem hoje, eram considerados magia feita pela alquimia séculos atrás. Por outro lado, fenômenos de magia, que deixaram de ser ocultos a partir do século dezenove, talvez sejam considerados ciência no futuro. Já ciência é usada até hoje como truques por mágicos. Importante entendermos que o homem do passado via ciência, filosofia e espiritualidade como coisas integradas, assim, experiências físicas eram acompanhadas de rituais de magia, e crendo que a moralidade do alquimista interferia nelas. 
      Magia pode ser feita, isso não e superstição, e através de óticas espiritualistas diferentes, fenômenos físicos com interferência espiritual podem ocorrer pelo ocultismo, pelo esoterismo, pelo espiritismo, pela bruxaria, pela feitiçaria, pelo xamanismo. Que fique claro que é injusto e raso colocar todas essas óticas num mesmo nível. Também é sábio não demonizarmos o que não conhecemos, ainda que o cristianismo conservador tradicional tenha colocado muitas dessas óticas na caixinha do capeta. Mas quem estuda com seriedade, ainda que não saiba como ocorrem, sabe que muitos fenômenos ocorrem, não são truques de mágicos, delírios e alucinações de loucos, mas fatos reais realizados por magos, médiuns e outros.
      Ateus, céticos e materialistas, que não creem em coisas espirituais, só em físicas, assim como cristãos que creem que o que vai além de suas crenças é só mentira ou ato do diabo, acreditem, magia pode ser feita, não como poder da mente, mas por interação entre homens e seres espirituais. Dizer que é tudo demônio é desacreditar no próprio Espírito Santo, ao qual o cristianismo tradicional alia a espiritualidade legítima e autorizada por Deus. Muita coisa que cristãos provam é ação também de anjos, arcanjos e outros seres espirituais de luz, experiências registradas bastante na Bíblia. E o que cristãos chamam de milagres, não seriam “magia de Deus”, experimentadas, não através de palavras mágicas, mas pela fé no Cristo? 
      O kardecismo, que não crê em demônios e anjos eternos, mas em seres humanos existindo no outro plano desencarnados, com livre arbítrio e com os quais podemos nos comunicar, tem um entendimento. Para se fazer magia física deve-se entrar em contato com espíritos inferiores, contudo, como tais, são influências morais negativas para o médium. Já quem deseja orientações morais elevadas deve buscar espíritos superiores, que não se prestam a fenômenos físicos, e que podem ser denominados coletivamente de “Espírito Santo”. Usei o termo magia, que nesse texto generalizo para práticas semelhantes, mas com nomes diferentes em crenças diferentes, no lugar de mediunidade, termo mais adequado ao espiritismo.  
      A verdade é que muito que lemos em livros e assistimos em filmes, feiticeiras e bruxos adolescentes movendo objetos e manipulando os elementos, pode ser feito, mas depois de uma interação profunda entre seres humanos e seres espirituais (que pode envolver até terríveis rituais de sangue). Mas se entendermos que os espíritos ligados à matéria, e portanto disponíveis para fazerem magia no plano físico, são os inferiores ou os demônios, concluiremos que a magia possível vem do mal. Espírito Santo e seres espirituais de luz, anjos e outros, estão capacitados com virtudes morais, assim com a missão de orientar seres humanos a serem virtuosos e alcançarem o céu, não dar espetáculos sobrenaturais no mundo material.
      Por que são necessários rituais complicados, evocações determinadas, horários específicos, ambiente preparado, para que o mago faça contato com o mundo espiritual? Ainda que no evangelho original baste orar a Deus no nome de Jesus, a Igreja Católica desenvolveu liturgias e sacramentos para o cristão se relacionar com Deus: não seriam esses protocolos espécies de rituais mágicos? Algo que Deus tem me levado a entender é que a relação com ele pode ser o mais simples possível na forma, contanto que o conteúdo seja santo. Demônios são vaidosos e tradicionais, têm prazer em coisas complicadas e antigas, Deus por sua vez releva aparências e abençoa pela intenção simples do coração, independente da forma. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão