terça-feira, novembro 30, 2021

Amar é ir além da decepção

      “No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.I João 4.18

      Quem já não pensou, “eu até que gostava daquela pessoa, mas ela me decepcionou, agora não gosto mais”, usamos a decepção como desculpa legítima para não termos que amar alguém, pelo menos não mais. Quando pensamos dessa maneira, na verdade ainda não entendemos o que é o amor, ainda que tenhamos passado muito tempo de nossas vidas achando que amamos as pessoas. Decepção é conhecimento de uma verdade que não gostamos sobre alguém, que se conhecêssemos antes não nos causaria decepção. Decepciona-se quem ama uma mentira, uma ilusão muitas vezes criada, não pelo que é “amado”, mas por alguém que quer pensar que pode amar, ou pelo menos para fingir para si mesmo que pode. 
      Infelizmente, querendo se proteger de decepções é que muitos dizem a si mesmos que não amarão mais, e nem me refiro a amor de namoro e casamento, me refiro a amor com amigos e parentes. O medo de ser machucado cria casca dura no coração, medo muitas vezes originado de decepção ocorrida na infância e na adolescência, no seio familiar, dos próprios pais e irmãos. Por isso tantos passando vidas experimentando paixão e atração física, até se casando e mantendo relacionamentos por anos por isso, mas sem de fato amarem e consequentemente serem amados. Com essa atitude teremos dificuldade para provar o amor de Deus, e em algum momento poderemos até injustamente alegar que Deus nos decepcionou.
      O verdadeiro amor só acontece quando amamos alguém em sua totalidade, com suas qualidades e defeitos, amar é ter consciência da realidade e querer o melhor dentro dela, por isso temos que diferenciar amor de paixão ou atração física. Essas são passageiras, quem as prova já sabe que não durarão muito tempo, enquanto que o verdadeiro amor é virtude eterna, a essência do Deus altíssimo que atrai todos à sua luz através de Jesus. Quem se decepciona e para de “amar” na verdade nunca amou, nunca soube o que é amar, contudo, se amadurecer pode achar na decepção não o fim, mas o início, na verdade só amamos alguém depois que esse nos decepciona, depois que conhecemos e aceitamos alguém como é.

segunda-feira, novembro 29, 2021

A prova de cada um é a prova de cada um

      “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.
  I Pedro 4.12-13
      “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
  Tiago 1.13-14
      “Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus.” 
Atos 14:22

      Como numa escola, na vida espiritual crescemos com provas e consequentes aprovações nelas. Nem toda a oração que fizermos e a melhor vigilância que exercemos nos impedirá, assim como àqueles pelos quais oramos, de passar por provas. Provas não são tentações, dessas somos livrados com vigilância e oração, tentações não são exercidas diretamente por Deus, mas por nós mesmos e pelos outros, homens e demônios, tentações mantêm-se as mesmas dia a dia. Provas são a providência de Deus criando situações específicas para que passemos, onde é provado nosso livre arbítrio para fazer boas escolhas morais. Nosso caráter, o homem espiritual que levaremos à eternidade, no qual é construído céu e inferno ainda aqui, é amadurecido pelas provas, e não simplesmente por vitórias sobre tentações. 
      É importante discernirmos provas de tentações assim como quais provas são nossas e quais não são, para não trazermos para nós problemas que não são nossos, e que muito menos são nossas responsabilidades suas soluções. Ainda que uma pessoa ou uma situação estejam bem próximas a nós, podem estar experimentando uma provação que não nos diz respeito, contudo, muitas vezes, em situações assim, nossa prova pode ser justamente não se envolver em provas alheias. Não sofrer com problemas que não podemos resolver, sejam nossos ou dos outros, retermos a paz e mantermos a fé diante deles, também é prova, não para vencermos em questões externas, mas para vencermos a nós mesmos, numa vitória interior. Todos somos igualmente tentados, mas a prova de cada um é a prova de cada um. 
      Podemos ter uma terceira ótica de nossas lutas, além de tentações e provações, lutas como tribulações. Muitas vezes queremos ter uma vida espiritual de qualidade para não termos mais tentações e para não sermos mais provados, mas só entramos no reino de Deus, segundo a Bíblia, vivenciando tribulações, assim podemos ser espirituais e termos fé não para não termos tribulações, mas para termos paz apesar delas. Seja nas tentações ou nas provações, a vida é luta sempre, e para os lúcidos é mais ainda, os maduros entenderão como viver com tribulações, aprenderem com elas, serem humildes aceitando que só Deus tem controle de tudo, mas tendo uma visão espiritual, não material, da vida neste mundo. Não viemos ao mundo a passeio, mas para crescermos, só crescemos confrontados com a dor e superando-a. 

domingo, novembro 28, 2021

Imprevisibilidade da vida

      “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir os seus passos.Jeremias 10.23

      Às vezes estamos caminhando bem, andando certo, afinal, chegamos num ponto de nossas vidas onde já aprendemos o principal, já sofremos o suficiente com nossos egoísmos, sabemos da paz que existe no calar, no esperar, no dar a outra face. Contudo, sem que estivéssemos esperando, de um lugar que não sabemos nem onde é, uma seta do mal nos é lançada, então, desmoronamos, desanimamos, ainda que estejamos amadurecidos o suficiente para não entregarmos os pontos. A dor é grande, a esperança apequena-se, a fé desequilibra-se, parecemos afundar e perder o chão, mas nosso coração quer agradar a Deus, ainda que soframos, ainda que não entendamos e nem saibamos como acabará a experiência. 
      Em momentos assim não conseguimos orar, e na verdade não é para fazermos o que já fizemos, apenas aguardarmos, mesmo doendo, mesmo que as luzes pareçam se apagar e nossos olhos nada vejam, numa situação assim o justo permanece com os olhos em Deus. Quando os sentimentos faltam, os pensamentos falham, os ouvidos espirituais perdem a acuidade, creiamos, sem exigir justificação, apenas passemos pelo momento como por um luto, onde nada se pode fazer se não aceitar e esperar. Como amadurecemos quando passamos por experiências assim sem pecar, sem apelar para o consolo de um prazer físico passageiro, nem reclamar ou duvidar, não do Deus que nos trouxe até onde chegamos sempre fiel e misericordioso. 
      Podemos passar muito tempo de nossas vidas achando que já temos uma experiência profunda com Deus, quando na verdade só fomos, até então, crianças fazendo trocas, quando doía mudávamos algo em nossas condutas para agradar o pai e ter dele de novo aprovação. Mas o adulto experimenta dor sem ter feito nada diretamente para merecê-la, sabendo que nada pode dar em troca para que ela suma. Jesus experimentou isso no Getsêmani, até pediu, mas Deus não impediu que ele passasse pela sua maior prova. Quando estaremos prontos para isso? Para sofrer não como crianças, mas como adultos, não por mesquinharias, por bobagens, mas por algo maior, algo que só Deus sabe o que é e que importância tem? 
      Experiências assim nos colocam em nossos devidos lugares no universo, nos mostram que nada somos, que não temos controle das coisas, muito menos de nossas vidas, que não somos maiores nem mais importantes que outros, e que só Deus sabe de tudo e tudo controla. Por isso, devemos confiar nele, não em nós, não naquilo que conquistamos, não em nossos bens, não em nossas reputações, não nas alianças sociais que fizemos, tudo isso vai por terra se Deus em sua onipotência estala os dedos. Experiências assim nos ensinam a sermos humildes, a amarmos mais as pessoas, a nos prepararmos melhor para a eternidade, da qual viemos sem nada e para a qual retornaremos também sem nada, só com nossa fé no Senhor.

sábado, novembro 27, 2021

Sei que preciso amar mais…

      “Pois, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, por todos os dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol?” “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo? Bom é que retenhas isto, e também daquilo não retires a tua mão; porque quem teme a Deus escapa de tudo isso.” 
Eclesiastes 6.12, 7.16-18

      O que preocupa não é ver jovens achando que sabem tudo, mas velhos com a certeza que já aprenderam tudo. Os jovens ainda não tiveram tempo de confrontar teoria com prática e a si mesmos com tudo o mais, são egocêntricos e com direito temporário a isso. Mas os velhos, que já viram invernos se transformarem em primaveras por inúmeras vezes, que já testemunharam altos caírem e baixos serem elevados, que já viram famosos tornarem-se anônimos e desconhecidos apareceram como novas celebridades, os velhos têm a obrigação de saberem que nada sabem. 
      A vida, sob o ponto de vista espiritual, tem um significado oposto ao que o senso comum diz, quando esse entende a existência só pelo que se passa no mundo, só sob o ponto de vista físico, desconsiderando espírito e eternidade. Nascemos velhos e temos a oportunidade de rejuvenescer à medida que o tempo passa, por outro lado é na infância que estamos mais próximos da eternidade, não na velhice, e nos afastamos dela à medida que envelhecemos. Entretanto, ainda assim, temos a missão de nos prepararmos para a morte, nosso nascimento no plano espiritual. 
      Se escolhemos conhecer a Deus e persistimos em agradá-lo, praticando obras de amor e justiça, crescemos, a evolução do espírito o torna mais vivo porque o afasta da morte. Morte é um lugar de trevas dentro dos seres humanos onde não existe Deus. Se há Deus, há luz, se há luz, há vida, se há vida somos rejuvenescidos no espírito, ainda que o invólucro exterior de carne envelheça, se corrompa, como diz Paulo (II Coríntios 4.16). O que sabe uma criança? Intelectualmente ainda não está formada e moralmente não foi provada, ainda que próxima da eternidade. 
      Um jovem já tem faculdades físicas, intelectuais e boa parte das emocionais formadas, e dessas últimas ao menos as bases já que só o tempo lhe mostrará o que realmente importa. O jovem deverá usar seu livre arbítrio para escolher o caminho da vida e não o da morte. O que se aprende no caminho da vida? Que nada somos, que o caminho é infinito, que a existência não acaba na morte física, que Deus é o início, o processo e o fim, assim como o veículo para nos movermos nesse caminho, mas principalmente, que nos aproximarmos de Deus é aceitarmos seu amor e amarmos. 
      É justamente o confronto com a urgência de amar que nos faz humildes, que nos leva a assumirmos nossa dívida de amor e de serviço, que tudo que sabemos e adquirimos nesse mundo nada vale se não amarmos. Aqueles que se dão importância demais, que se consideram superiores aos outros, mesmo com sinceridade, mesmo baseados em formação intelectual e experiência profissional, que determinam suas vidas pela fria lucidez científica, carregam, ainda que escondido dentro deles, o desejo de serem servidos e não de darem amor sem pedirem nada em troca. 
      Eclesiastes 6.12 é a conclusão do escritor de que nada sabemos, seja desta vida, seja da próxima, mas Eclesiastes 7.16-18 orientam-nos a conduzirmos nossas vidas aqui com sabedoria. Esses versículos falam sobre equilíbrio, que sabedoria não está em saber tudo, nem em ignorar tudo, não está em provar tudo, nem em se privar de tudo, mas eles ensinam mais. Neste mundo o melhor caminho não está na matéria, naquilo que homem pode comprovar e comprar, mas também não está só no espírito, pelo qual só se pode crer, assim não está nem na ciência, nem na religião.
      O que sabe mais é justamente o que se libertou dos extremos, que temeu a Deus e achou o equilíbrio, harmonizando as coisas, e, portanto, não sendo inimigo de ninguém nem desejando ser superior a ninguém. Afinal o que se esmera na ciência o faz pela vaidade, tanto quanto o que se aprofunda na religião, o que acumula bens é tão vaidoso quanto o que acumula experiências de fé. Jesus homem viveu como quem não tinha que provar nada a ninguém, mas focado em sua missão, não se sentindo melhor que ninguém, ainda que soubesse que salvaria toda a humanidade. 

sexta-feira, novembro 26, 2021

A beleza é reta

      Dois pontos de vista sobre estética, um alia beleza ao reto, outro ao curvo, um moral, outro poético, um sobre o Espírito, outro sobre a matéria, um sobre Deus, outro sobre homens. Qual o correto? Depende, mas leia o texto até o final para um entendimento adequado da reflexão. 

      “Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores. Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho.” Salmos 25.8-9
      “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.” Oscar Niemeyer

      Poeticamente diz-se que a beleza da vida é como a beleza da natureza, não existem nela retas, só curvas e irregularidades, e que quando as coisas ficam muito retas perdem a graça porque sabe-se onde vão dar, ficam previsíveis. Há também outra frase que diz “Deus não escreve com linhas retas”, novamente porque a natureza é desenhada em curvas e irregularidades, já construções dos homens, em centros urbanos, prédios e ruas, há retas. A ciência é reta, explica diretamente as coisas, sem ambiguidades, ainda que humana. 
      Um arquiteto brasileiro, famoso em todo o mundo, Oscar Niemeyer, tinha como marca em seus projetos as linhas curvas, lembrando as ondas do mar, a natureza do Rio de Janeiro, o Corcovado, assim ele e Lúcio Costa projetaram Brasília, e nas construções no Eixo Monumental vemos isso, muitas curvas, os pilares do Palácio  da Alvorada são famosos. Os caminhos curvos respeitam os contornos da geografia física, não violenta-os, mas em termos espirituais, será que é isso, no reto não há beleza? Deus é curvo ou reto? 
      Na espiritualidade ocorre justamente o contrário, é no caminho reto onde há os maiores mistérios, as maiores belezas da existência, esse caminho nos conduz ao Altíssimo Deus. Contudo, se você diz que está caminhando em direção a Deus, mas o caminho ficou previsível, sem graça, sem desafios, talvez seja porque você na verdade está caminhando num caminho de homem, de religião, e não no caminho que realmente conduz a Deus. Novamente é o reto do homem que é tedioso e sem graça, não o de Deus. 
      O caminho de Deus é revelado por ele e é ele, não religiões, quem nos fortalece para nos movermos em seu caminho, reto e renovado a cada dia, seguro, mas sempre prazeroso, claro, mas experimentado de forma gradativa e empolgante. Assim podemos provar nesse reto caminho as belezas mais esplêndidas da existência, um conhecimento espiritual que nos dá esperança e vigor, e nos faz ver além das referências materiais da vida neste mundo, da injustiça do homem e de nossos próprios limites como encarnados. 
      O homem gosta das linhas curvas porque elas iludem, como a fumaça que se desprende de um cigarro e sobe, desaparecendo aos poucos. Uma curva não leva diretamente a um lugar, e neste mundo o último lugar que chegaremos nós sabemos bem qual é, é a morte. Assim, na embriaguês de uma bebida alcoólica, numa relação sexual, num prazer do corpo físico entortamos as coisas, numa tentativa de fazer as coisas durarem mais, e isso para que não enfrentemos o fim, não depressa, e neste mundo tudo passa rapidamente. 
      A natureza é curva porque é expressão artística de Deus que usa matéria como substância de criação. Deus criou o mundo para seres encarnados, para que num curto período de tempo, vivendo numa ilusão, eles possam evoluir espiritualmente, conhecerem a Jesus. Contudo, mesmo que estejamos no mundo, podemos conhecer a Deus como ele realmente é, em sua natureza espiritual, e nessa experiência sentimos que o caminho que leva a ele, o Espírito Santo, é reto, nisso não há fim, não há morte, só vida e eterna.
       Vida espiritual é o contrário da morte, se morte é fim, vida é sem fim, se morte dói, vida dá prazer, se morte ilude, vida ilumina, se morte precisa de artimanhas para ser driblada e aceita, vida pode ser encarada em verdade, não como obrigação, mas como escolha, e só escolhe vida quem já se libertou das ilusões curvas da morte. Estando no mundo podemos usufruir das belas e poéticas curvas, mas com equilíbrio, harmonizando-as com a retidão de uma vida espiritual que conheceremos sem véu só na eternidade. 

quinta-feira, novembro 25, 2021

Contar ou guardar?

      “O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos proclama a estultícia.A.R.A.
      “O homem prudente não alardeia o seu conhecimento, mas o coração dos tolos derrama insensatez.N.V.I.
Provérbios 12.23

      Eis um texto bíblico, principalmente a primeira frase, cujas versões mais antigas de tradução do original, deixam seu entendimento meio difícil, e até oposto ao ensino que ele de fato pode nos dar. Compartilhei acima duas traduções, a primeira (Almeida Revista e Atualizada) é semelhante às mais antigas, e por ela podemos até entender que é melhor não compartilhar coisas boas, que a sabedoria deve ser escondida. Mas como assim, não foi o próprio Cristo que disse que a lâmpada não deve ser escondida debaixo da cama, mas exibida para que todos a vejam? Entendemos isso em Lucas 8.16, e ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama, mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz”.
      Já a segunda tradução, de uma versão (Nova Versão Internacional) que não é uma das que pessoalmente mais gosto, oferece, contudo, um texto mais adequado ao melhor ensino que o autor bíblico possa ter desejado nos passar. A diferença ocorre na troca da palavra “oculta” pelos termos “não alardeia”, assim entendemos que a lição principal não tem a ver com dizer ou não algo, mas com vencer a vaidade guardando algumas coisas, ao invés de sair contando para todo mundo, mesmo que seja algo benigno e elevado. O texto de Provérbios 17.28, até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio, e o que cerra os seus lábios é tido por entendido”, explica de outra maneira o mesmo ensino, a importância de sermos discretos mesmo na sabedoria. 
      Seja como for, a segunda frase do texto não deixa dúvidas sobre o ensino, usando uma ferramenta comum na literatura do livro de Provérbios, entre outros livros bíblicos, que é colocar duas afirmações opondo uma a outra, dando orientações opostas para atitudes opostas. Se numa o sábio é exaltado, na outra o tolo é repreendido, e se tem uma característica marcante nos tolos é a vaidade, eles não resistem a ela, eles têm sempre línguas soltas. Mesmo que tenhamos adquirido sabedoria, verdadeira e baseada em prática de vida não só em teorias, se nós a usarmos como moeda de vaidade, em jogo de poder para nos sobressairmos sobre os outros, colocaremos tudo a perder, seremos tão tolos quanto aqueles que não entendem os caminhos da luz.
      Todos somos tentados pela vaidade, principalmente para contarmos algo que sabemos e que outros não sabem, estamos mais frágeis a ela quando somos apresentados pela primeira vez a conhecimentos mais profundos, e podemos abrir a boca na hora errada só pelo encantamento ingênuo. Contudo, se persistirmos não será mais por inocência, assim só nos livraremos da vaidade quando entendermos a última lição da verdadeira sabedoria: quem a acha a guarda, não conta, mas vive, silenciosamente. Engana-se quem pensa que o conhecimento mais profundo de Deus tem a ver com informações espirituais privilegiadas que a poucos são reveladas, não, tem a ver com amor exercido com humildade, para servir, e principalmente aos mais vulneráveis. 

quarta-feira, novembro 24, 2021

Não encerre a obra antes do tempo

      “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus CristoFilipenses 1.6

      Um dos grandes erros que todos nós cometemos é acharmos que estamos prontos antes que seja o tempo certo, assim encerramos a obra prematuramente. Nosso crescimento espiritual só acaba quando nosso corpo físico parar de funcionar e nosso espírito acordar na eternidade, até esse momento, men at work, homens seguem trabalhando em si mesmos. Por que fazemos isso? Porque é mais fácil, se nos esforçamos no trabalho material, se temos responsabilidade para sabermos que temos que produzir dia a dia para ganharmos o pão, nossa evolução moral relegamos para segundo plano. Isso não significa vivermos em pecado e presos a vícios, mas é nos acomodarmos com um nível e acharmos que isso é suficiente, afinal de contas, podemos pensar, “ninguém é melhor que isso”. 
      Por isso as pessoas têm tanta dificuldade para mudar de opinião, e o motivo principal disso nem é não sentirem que isso é necessário, não reavaliarem um posicionamento e verificarem que a primeira avaliação estava incorreta. O motivo principal é o orgulho, não queremos que os outros saibam que mudamos de opinião, achamos que isso pode mostrar para eles que nos enganamos, que somos fracos de alguma forma. Que equívoco há nisso, inteligência não é acertar na primeira vez, saber tudo de prima, mas seguir aprendendo, analisando, escolhendo, aperfeiçoando-se, afinal de contas somos homens, não deuses. Mudar de opinião, sim, é prova de inteligência, não permanecer igual a vida toda. Só Deus é sempre o mesmo e mesmo assim perfeito, inequívoco e inteligente. 
      Se nos equivocamos com relação a nós, fazemos o mesmo com relação aos outros. Se achamos que seguirmos melhorando não é preciso, e para melhorar é preciso reconhecermos erros e defeitos, que antes não víamos e que agora vemos e podemos resolver, se pensamos que quem é bom acerta de cara e que quem não é vai morrer assim, também condenamos os outros a serem iguais por toda a vida, principalmente em seus erros e defeitos e não em suas qualidades. Quantas vezes nos vem à memória alguém, que conhecemos há anos atrás, alguém que teve algum tropeço na vida, principalmente nas áreas matrimonial e financeira, e mantemos a certeza que a pessoa ainda é igual, ainda está errada, sem ao menos nos darmos ao trabalho de sabermos como ela é e está hoje? 
      A pessoa pode ter se acertado, pode até estar melhor que nós. Erramos ainda mais sendo cristãos e pensando isso de cristãos, como cristãos temos mais que ninguém a obrigação de saber que Deus trabalha nas vidas das pessoas, dá-lhes segundas, terceiras, quartas chances. Quando potencializamos o homem diminuímos Deus, quando como cristãos achamos que Deus faz uma obra de transformação num instante e que quem erra depois está traindo a Deus, às igrejas, aos cristãos, estamos só criando um álibi para dar ao homem mais poder e autoridade que a Deus. Precisamos de muito tempo para melhorar, e quem não entende isso não entende a Deus, não entende a vida, não entende os outros, não entende a si mesmo, mas acima de tudo, nunca entendeu o verdadeiro amor. 

terça-feira, novembro 23, 2021

Tentativas, erros e acertos

      “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.Mateus 24.13

      Só acerta bastante quem tenta bastante, mas quem tenta bastante também erra muito, assim o que pouco erra, pouco acerta porque pouco tentou. No caminho em direção a Deus é diferente? É um caminho certo e direto para o alto? Se dependesse só de Deus atraindo todos à sua luz pelo seu amor isso seria possível, mas depende também de nosso livre arbítrio, que só aprende a fazer as melhores escolhas fazendo escolhas erradas e colhendo delas seus amargos frutos. Deus permite provações, tentações, mesmo armadilhas em nossas vidas, que vão burilando nosso senso de escolha.
      Nossa capacidade de escolher corretamente evolui à medida que paramos de avaliar as coisas pela aparência, pelo que dá menos trabalho e ocupa menos tempo, para avaliarmos pelo interior, quem exige não só trabalho, mas persistência, pois não é necessariamente quantidade de trabalho, mas esforço focado e contínuo. Não nascemos sabendo e ainda que aprendamos nos esquecemos com facilidade, dessa forma para retermos a sabedoria que sabe fazer as melhores escolhas, ela deve ser anexada ao nosso espírito, mais que aos nossos pensamentos e aos nossos sentimentos. 
      Aprendemos de verdade na insistência, na perseverança de dizer não aos prazeres passageiros do corpo físico, às vaidades, ao egoísmo, aos frutos que nascem depressa, mas que só geram em nós paz temporária, mesmo falsa, crescemos no tempo. Mas não é para isso que Deus, o pai de todas as almas, coloca no mundo material seres espirituais imortais presos a corpos com começo, meio e fim? O espírito é aperfeiçoado no corpo, e no corpo o aprendizado espiritual é difícil, quase que um paradoxo que temos que aprender a administrar e driblar na perseverança das virtudes morais. 
      Portanto, não caíamos no engano de acharmos, que uma vez que aprendamos certas coisas, poderemos usar isso daí em diante e não teremos mais problemas. Não tentemos formular receitas para a paz, para a vitória, para experimentarmos a presença e os favores de Deus. Deus usa um algoritmo que está sempre criando variáveis para as nossas vidas, e ele faz isso como um pai de amor que deseja que aproveitemos o máximo possível nosso curto tempo nesse mundo para crescermos. Quem encara isso com fé e humildade descobre a verdadeira e melhor aventura que existe na vida. 

segunda-feira, novembro 22, 2021

Coração e olhos

      “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos.Provérbios 23:26

      Coração e olhos, todos devem estar retos, não só o coração, nem só os olhos. O coração nos lembra de nossa existência interior, de nosso sentimento, de uma experiência e uma convicção espiritual com Deus, Deus não pede nosso corpo, nem nossos pensamentos, mas nosso coração. Isso no sentido de que o mais importante é aquilo que temos no mais profundo do nosso ser, pode ser o centro de nossas emoções, mas pode ser nosso espírito. Se ele está nas mãos de Deus, em sintonia com o Altíssimo, todo o resto entra em sincronia com o Senhor, há conhecimento, há entendimento desse conhecimento, há objetivo, há um sentido de vida que conduz à vitória, na luz que revela mesmo o escondido. 
      Os olhos nos falam de nossa vivência exterior, nossa interação com o que está fora de nós, material e também espiritual, coração no céu, mas olhos na Terra. Neste mundo nossos olhos administram de forma mais direta a realidade material, suas diretrizes, assim como os seres humanos nos vários círculos sociais que nos rodeiam, do mais íntimo, o familiar, aos mais distantes, colegas de serviço, de escola, mesmo de igreja, que conhecemos, mas que não convivemos com mais proximidade. Não é porque nosso coração está nas mãos de Deus que podemos conduzir de qualquer maneira o que está fora de nós. Mas tanto olhos físicos quanto os espirituais devem estar atentos, armadilhas dentro e fora de nós existem.
      No mundo existe maldade num nível que muitos de nós não têm consciência do quanto é, gente que não gosta de nós, gente que quer nos lesar de alguma maneira, gente sem referências morais e espirituais. Precisamos prestar atenção por onde vamos, e nestes tempos modernos não só nos caminhos físicos, mas também nos virtuais, na internet, nas redes sociais, nas lojas eletrônicas, devemos ter cuidado com dados e privacidade. Vigiemos, o mundo está estranho, complexo, o mal sofistica-se, ainda que o bem foi, é e sempre será simples, simples e poderoso. O que tem o coração em Deus e os olhos abertos ainda que lhe armem armadilhas não cairá nelas, Deus o avisará antes e ele será livrado. 

domingo, novembro 21, 2021

A melhor maneira de se apagar o fogo

      “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” Salmos 51:17  

      Só existe uma maneira de se apagar o fogo, retirando o oxigênio próximo a ele. Na prática isso não é tão fácil, é mais fácil jogar água sobre ele, contudo, se entendermos como o fogo funciona, veremos que ele se alimenta de oxigênio, quando jogamos água no fogo limitamos o oxigênio ao seu redor. Não é a diferença de temperatura que o apaga, mas a ausência de oxigênio, que uma quantidade suficiente de água exerce sobre a região em que ele está. Nesse processo gastamos água, mas um pouco mais perigoso, e que surte o mesmo efeito, é jogarmos um pano sobre a chama, se for rápido e em toda a superfície que está queimando, apagaremos o fogo e não queimaremos o tecido. Como com a água, não foi o pano que apagou a chama, mas a diminuição de oxigênio ao redor dela, sendo assim podemos usar qualquer material sólido. 
      Podemos usar isso como metáfora para entendermos lutas morais e espirituais que enfrentamos contra o pecado. Todos sabemos que nossas vidas é um apagar de incêndios, quando conseguimos dar conta de um, outro surge, e assim vamos. Incêndios são lutas, são imprevistos, tanto nos conflitos necessários que temos para sobreviver no mundo, quanto nas batalhas pessoais de espírito contra a carne, onde o inimigo é o pecado. Frisando: nosso inimigo é o pecado gerado dentro de nós, não é o diabo, espíritos maus ou homens. Somos responsáveis pela criação desse mal interior, assim como temos livre arbítrio para decidirmos se o mal morrerá ali, no campo das ideias dentro de nossas consciências, e não se transformará em palavra ou ação no mundo físico exterior, envolvendo ou não outras pessoas e mesmo seres espirituais do mal. 
      Você já sentiu algumas vezes, que por mais água que jogasse, por mais panos que usasse, o fogo seguia forte? Em certos casos água e panos não resolvem, temos que ir direto à origem, tirar o oxigênio, anularmos não o efeito, mas a causa, não o mal, mas aquilo que o mantém vivo. Quando você estiver perdendo muito tempo, e ainda assim não conseguir vencer uma luta, a solução não é lutar mais, mas usar melhor o tempo. Talvez o inimigo esteja te vencendo porque ele está achando tempo disponível para isso, tempo que você mesmo está dando a ele. Tempo livre ou gasto com algo errado, pode ser o oxigênio que o mal está usando para te vencer, então, pare e reavalie como usa teu tempo. Podemos perder batalhas não por sermos fracos, mas por estarmos engajados nelas, em batalhas erradas, quando devíamos estar fazendo coisa melhor.

sábado, novembro 20, 2021

Necessidade ou merecimento?

      “O qual recompensará cada um segundo as suas obrasRomanos 2.6a

      Alguns necessitam mas não merecem, outros não merecem mas necessitam, outros ainda merecem e não necessitam, em que grupo estamos? Alguns, por carência afetiva, por insegurança, desejam ansiosamente serem reconhecidos, contudo, não merecem esse reconhecimento, isso por um de dois motivos. Um motivo é não terem feito por merecer, não trabalharam para isso, não construíram uma obra íntegra e sincera, que resistisse ao tempo e que fosse de fato algo bom, que contribuísse de forma positiva para sua vida e para as outras vidas. Assim, seguem iludidos pela vaidade, vulneráveis a feridas não curadas, achando que a solução está fora deles, no que os outros pensam, e não dentro deles e em Deus.  
      O segundo motivo de alguns desejarem reconhecimento, mas não o merecerem, é que ainda que tenham trabalhado para construírem algo íntegro e sincero permaneceram inseguros, vaidosos, até fizeram algo certo, mas por motivos equivocados, dessa forma o reconhecimento poderia lhes fazer mais mal que bem. Eles não estão prontos para administrar mesmo o merecimento, não neste mundo, pois construíram para os outros, se preocuparam com o mundo e esqueceram-se de suas almas, assim, é o próprio Deus protegendo-os deles mesmos que não permite que certas honras se realizem. Esses terão que sofrer um pouco mais de injustiça, de anonimato, para que aprendam a trabalhar com o coração certo e para o Senhor certo.
      Mas existem outros, que ainda que não tenham feito tudo aos olhos dos homens, fizeram tudo que podiam aos olhos de Deus, o Senhor os conhece, sabe que a honra que não lhes foi dada foi usurpada por homens, esses sim, injustos e egoístas, que julgam pela aparência e pelo passado. O Senhor sabe que esses esquecidos não necessitam de reconhecimento para satisfazerem inseguranças e vaidades, mas porque já estão cansados, e mesmo assim permanecendo fiéis ao Senhor, não baseando suas persistências no que os outros pensam, mas no que Deus pensa deles. Para esses a injustiça tem limite, na hora certa Deus os honrará, não para que dependam de homens, mas para que sejam fortalecidos e louvem a Deus. 
      Existe, contudo, um terceiro grupo, os que merecem reconhecimento, mas não necessitam dele, não de reconhecimento humano. Deus, o pai, desejaria que todos os seus filhos estivessem nesse grupo, nele estão os que trabalham, e muito, e que ainda que não sejam valorizados pelos homens, não ligam para isso. Esses já aprenderam a satisfazerem-se com a intimidade do Senhor como sua maior recompensa, esses veem em fazer o bem um fim em si mesmo, sem necessidade, pelo menos neste mundo, de recompensa. Esses podem até ser importantes no mundo e diante de homens, mas têm como prioridade o aperfeiçoamento espiritual, o amor que serve, a santidade sem fingimento que agrada a Deus, esses amadureceram certo. 

sexta-feira, novembro 19, 2021

Precisamos dos outros

      “Então veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente. Então ele se levantou, e foi a Sarepta; e, chegando à porta da cidade, eis que estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; e ele a chamou, e lhe disse: Trazê-me, peço-te, num vaso um pouco de água que beba. E, indo ela a trazê-la, ele a chamou e lhe disse: Trazê-me agora também um bocado de pão na tua mão.I Reis 17.8-11

      Algumas pessoas fazem de tudo para não dependerem dos outros, é preciso entender que isso a princípio não é ruim, é um instinto básico de sobrevivência física do ser humano prevalecendo. No mundo material, com tanto egoísmo, com tanta maldade, com tanta injustiça, de fato é importante que entendamos o quanto antes que precisamos ser independentes, ensinar isso a filhos é sábio. Mas a questão é que não somos só corpos físicos, somos também espíritos eternos, esses crescem não só com independência, onde se é senhor responsável de si, mas também sendo servo humilde.
      Crescemos espiritualmente servindo, não sendo servidos, dando, não recebendo, entender isso nos dá o dever de ajudarmos os outros, mas também o direito de sermos ajudados pelos outros, ambas as coisas não são danos, mas privilégios, no equilíbrio e na harmonia que o universo controlado por um Deus sábio experimenta o tempo todo. O orgulho, contudo, é muito forte em nós, e em alguns de nós mais forte ainda, assim para não dependermos dos outros, devermos algo a alguém, podemos fazer muitas coisas, inclusive sermos trabalhadores esforçados e religiosos fiéis, crentes em Deus. 
      Alguns, para não passarem por aquilo que consideram ser vergonhoso, algo que para eles seria a diminuição de seus valores diante dos homens, visto que só se consideram algo diante de homens se mostrarem-se sempre fortes, independentes, se tornam ótimos cristãos e profissionais prósperos, dependerem de Deus para eles tudo bem, mas de homens, jamais. Sim, o certo é dependermos só de Deus, mas Deus sabe até que ponto uma disposição nossa nesse sentido é sincera e humilde, ou é só desculpa para mantermos uma arrogância que nos exiba como melhores diante de pares. 
      Se agirmos assim, por um orgulho teimoso, o Senhor poderá dirigir nossas vidas a uma situação onde tenhamos que precisar da ajuda dos outros, e muitas vezes justamente daquela pessoa que mais não queríamos depender. Deus não humilha ninguém, muito menos desnecessariamente, mas tenhamos cuidado, não persistamos no orgulho, ajudar é bom, mas permitirmos sermos ajudados é melhor, no sentido que revela, não só a providência do Senhor levantando alguém para nos auxiliar num momento difícil, mas também dando oportunidade para alguém servir e para nós sermos servidos.
      O exemplo de Elias é marcante para mim, já refletimos alguns vezes a respeito aqui. Ele tinha segurança em Deus de sua missão, sabia que precisava da ajuda dos outros, não porque era vagabundo, mas porque dedicava o tempo de sua vida a algo importante, servir a Deus. Por isso se Deus levantasse alguém para servi-lo, ainda que fosse uma viúva pobre, ele humildemente aceitaria. Quem lê superficialmente I Reis 17 pode achar Elias um insensível, folgado, mas ele sabia que Deus podia sustentá-lo tanto quanto honrar quem fosse usado para isso, que isso não seria um sacrifício, mas uma honra. 

quinta-feira, novembro 18, 2021

Como um passarinho

      “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?João 11.40

      Se nos sentarmos na grama de um jardim e permanecermos lá quietos e calados por algum tempo, pode ser, que em algum instante, um passarinho pouse bem perto de nós, e numa situação ainda mais difícil, pode ser até que pouse sobre uma de nossas mãos, aberta e relaxada sobre a grama. Contudo, pelo menor gesto, ao mais baixo som, mesmo por uma respiração mais profunda, ele será espantado, voará para longe. A nós só restará olhá-lo de longe, voando livre no céu.
      Assim é com uma experiência mais profunda com o Espírito Santo, requer de nós muita paz, muito silêncio, muita consagração, muita fé, muita perseverança. Mas ao mesmo tempo que é trabalho espiritual, é abrir mão de esforço físico, emocional, do ego, de fazer qualquer tipo de troca com Deus, de achar que temos algum direito por termos algum crédito, algum merecimento. Podemos ver a “glória” de Deus? Sim, é possível, mas é algo tão poderoso quanto delicado. 
      Por que é assim? Porque assim como pássaros foram criados para voarem livremente, e por serem frágeis têm o instinto de ficarem longe de homens ou de quem possa lhes fazer algum mal, nós seres humanos, vivendo encarnados no mundo, não podemos entender e conviver com total plenitude com o mundo espiritual e com o Espírito Santo de Deus. Ainda assim podemos ter profundas experiências com Deus, se nos dermos ao trabalho de “não trabalharmos”. 
      O texto desta reflexão parece vago, impreciso? Pois ele é, experiências mais profundas com Deus não podem ser padronizadas, o caminho para elas não pode ser detalhado, como um mapa para se chegar a um lugar. No máximo podemos dar a direção geral, como com uma bússola, dizer que um local está ao norte, mas detalhes só descobre o que se põe a caminho e por si mesmo experimenta como as coisas funcionam para aquilo que Deus pode mostrar especificamente a ele. 
      Uma coisa eu sei, “um passarinho pode pousar em nossas mãos”, e quando isso acontece é maravilhoso, diferente de tudo, faz toda a nossa vida ter sentido, entendemos coisas que por muitos anos carregamos dentro de nós como mistérios. Quando “vemos a glória de Deus” queremos experimentar isso de novo, mas é só a partir da segunda vez que começamos a entender como as coisas funcionam, a trabalhar para “não trabalharmos”, e que isso é só o início de uma jornada. 

quarta-feira, novembro 17, 2021

Perdão muda tudo

      “Se tu, Senhor, observares as iniquidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.Salmos 130.3-4

      Nossa relação com as pessoas só muda quando experimentamos perdão de Deus. O perdão muda tudo, primeiro nos muda quando entendemos que necessitamos dele, depois muda nossa relação com Deus quando cremos que Deus existe, nos ama, nos perdoa, e que isso é suficiente para que tenhamos paz. Mas quando mudamos, para nós e para Deus, mudamos no universo, a imagem que temos de nós muda. Não nos sentimos mais deuses com direito de exigirmos dos outros devoção por sermos melhores, nem inferiores sem deveres, com direito de sermos vítimas, e como tais, com necessidade de sermos servidos pelos outros, não de servirmos.
      A experiência do perdão, que todos em alguma instância deveriam provar, já que não existe um justo no mundo, todos carecem da graça de Deus, põe nossos pés no chão, para podermos olhar todos como semelhantes, mas nossos corações no céu, para entendermos que todos dependemos de Deus e de seu amor. Isso nos faz iguais, não superiores nem inferiores, como iguais podemos amar com justiça, sabendo que também precisamos das pessoas tanto quanto elas precisam de nós. Isso ocorre numa relação de serviço em humildade, de generosidade, que não nega perdão aos outros, já que também se provou perdão e por ele se obteve paz.
      O texto bíblico inicial revela um daqueles mistérios que a Bíblia maravilhosamente contém. Podemos pensar, equivocadamente, que temos poder sobre alguém por sabermos de seu pecado, assim, como acusadores, acharmos ter uma posição superior, na qual podemos agredir e controlar alguém. Mas o Salmo 130 diz o contrário, Deus é temido, é superior, justamente por perdoar. A mesma coisa deve ser conosco, só perdoando é que temos, não o medo das pessoas, para dominarmos sobre elas, mas o respeito, para que elas sejam nossas amigas sinceras, numa relação de amor. Queremos ser melhores? Humildemente amemos e perdoemos. 

terça-feira, novembro 16, 2021

Seguremos a paz

      “O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.Salmos 29.11

      Nos sentirmos culpados por algo que não fizemos ou por algo que já fomos perdoados, é porta para fazermos algo que realmente possa nos deixar culpados. A culpa, seja legítima ou não, sempre nos enfraquece, mas quando acolhida sem motivo é arma mentirosa do “diabo”, que pode vencer mesmo o que não fez nada de errado. Por isso é importante orarmos constantemente, vigiarmos espiritualmente, alcançarmos a paz de Deus e a retermos.
      Paz de Deus é segurança de estarmos com as vidas acertadas com ele, perdoados e não acusados, por nada, se Deus se agrada de nós nenhuma culpa pode nos atormentar, assim como estamos fortalecidos contra qualquer ataque de mentira do “diabo”. Quem é o diabo? Pode ser tanto um ser espiritual das trevas, a nossa própria insegurança, como a insegurança de homens, que não se humilham diante de Deus, e que só crescem diminuindo os outros. 
      Nós somos seres variáveis, volúveis, emocionalmente não confiáveis, assim podemos viver fases onde parece que retemos paz por mais tempo, mesmo não tendo uma vida de oração como deveríamos ter. Em outros momentos, porém, podemos experimentar uma grande dificuldade em reter a paz, mesmo que estejamos orando bastante e tendo uma vida agradável a Deus. O segredo é persistirmos buscando a Deus e não confiarmos em nós mesmos.

segunda-feira, novembro 15, 2021

Aceitar ou repreender?

      “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.João 10.10

      Quando algo que não é o melhor de Deus para nossas vidas vai acontecer, pelo menos algo que não seja até o momento o melhor, pode ser por dois diferentes motivos. Ou é Deus mudando alguma variável para que cresçamos, ainda que seja a diminuição ou a perda de algum usufruto material, ou é o mal querendo nos roubar algo, e nesse caso devemos orar para saber como repreendê-lo. As duas coisas serão a vontade de Deus sendo feita e por isso serão boas para nós, mas no segundo caso Deus quer nos fazer participantes da vitória exercendo luta espiritual em oração. 
      Tendo vida de oração recebemos de Deus discernimento para sabermos que algo pode mudar, essa vigilância é necessária para não sermos pegos despreparados por mudanças, achando que a existência é zona de conforto onde podemos nos acomodar. Neste mundo existir é lutar até nosso último instante de vida, assim o próprio Deus mexe nas variáveis para que sejamos motivados a crescer. Crescemos nos adaptando a mudanças autorizadas por Deus, assim como lutando contra aquelas mudanças indevidas, que o mal tenta fazer em nossas trajetórias.  
      O importante é estarmos vigilantes para sabermos o que fazer na hora certa, seja suportando uma mudança ou lutando contra uma. Jesus disse que nos concede vida abundante, assim se a mudança for sua vontade, ainda que limitando-nos de algum jeito, será para termos uma vida espiritual melhor. Por outro lado Jesus disse que o “ladrão” vem para roubar, perder para ele não é o melhor de Deus, “ladrão” deve ser confrontado e de maneira alguma aceito passivamente. De um jeito ou de outro temos que entender e fazer a vontade de Deus, nisso há vitória e paz.

domingo, novembro 14, 2021

Não temamos o homem

      “O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem. O Senhor está comigo entre aqueles que me ajudam; por isso verei cumprido o meu desejo sobre os que me odeiam. É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem. É melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes.Salmos 118.6-9

      Crescermos espiritualmente é equilibrarmos vida com Deus com uma relação com o mundo material, é conhecermos o Senhor, mas trabalharmos com os homens para conquistarmos vidas dignas, usando bem nossas oportunidades para testemunharmos o amor de Deus aos outros. O melhor não está num extremo, mas no equilíbrio, não sofrendo pela falta, mas administrando com responsabilidade os ganhos, lutando para ter, mas não nos desesperando caso não tenhamos ou percamos. O importante é crescermos no amor de Deus e na prática em paz desse amor com os seres humanos. 
      Contudo, em certas situações o lado espiritual deve prevalecer, se houver um conflito de interesses, a voz de Deus precisa falar mais alto que as vozes dos homens, e é preciso temor a Deus e fé para saber quando isso deve ser feito e como. Se solicitamos um direito nosso ao homem e esse não nos concedeu, se a conquista de algo implica em perdermos a paz, em participar de confrontamento deselegante, então, é melhor nos retirarmos e falarmos com o Senhor. O dono de tudo não é o homem, nosso patrão maior não é o ser humano, por maior que esse seja não devemos temê-lo. 
      Ao homem malicioso reajamos com silêncio, com distanciamento, entreguemos nossas causas a Deus e aguardemos dele a resposta, aliás, tudo o que leva a perda de paz é Deus alertando, “afaste-se e permita que eu aja”. Entendamos, contudo, que existe uma armadilha em certas situações, algumas pessoas manipulam suas armas sujas de um jeito que acabam nos convencendo que mandam em nós, que dependemos delas, que têm algum poder sobre nossas vidas, tal o terror que nos causam. Isso é uma mentira na qual podemos acreditar se não estivermos atentos e firmes no Senhor. 
      Se tua necessidade for justa, confie em Deus, se teu direito for legítimo, confie em Deus, se você estiver certo, confie em Deus, e mesmo se estiver errado, acerte-se com Deus e nele confie, mas nada, absolutamente nada é motivo para temermos o homem ou entrarmos em embates que coloquem nossa paz em risco. Dependemos só de Deus, ainda que respeitando principalmente os que estão de alguma forma em posições hierárquicas superiores a nós, mas se esses agirem com algum tipo de maldade, não os temamos, o Senhor trabalha pelos sinceros que confiam suas causas a ele. 

sábado, novembro 13, 2021

O que me achar, achará a vida

      “Bem-aventurado o homem que me dá ouvidos, velando às minhas portas cada dia, esperando às ombreiras da minha entrada. Porque o que me achar, achará a vida, e alcançará o favor do Senhor. Mas o que pecar contra mim violentará a sua própria alma; todos os que me odeiam amam a morte.Provérbios 8.34-36

      Entre março de 2020 e novembro de 2021, momento em que escrevo este texto, muita gente tem morrido. Assistir testemunhos dos próximos aos mortos não pode deixar de nos emocionar, mas choca-nos ainda mais e em especial, amigos e colegas de artistas e jornalistas que partem, lágrimas derramadas ao vivo por quem acompanhamos diariamente como imagens e áudios vivos e ativos da divulgação da realidade. Neste exato momento estou assistindo os colegas falarem de Cristiana Lôbo da GloboNews, pioneira do jornalismo político ao vivo e atual, que faleceu agora pouco de pneumonia, mas já num quadro de tratamento de um tipo sério de câncer. 
      Mais morte? Sempre houve morte no mundo e muito, ocorre que antes não sabíamos de tudo tão depressa. O mundo sempre esteve em guerra, e antes em guerras constantes e sangrentas, muita gente morria de uma só vez, ainda que a população mundial fosse menor. Hoje existe muita gente e a movimentação dessa gente é barata, rápida e fácil, alguém viaja do Japão ao Brasil de avião em pouco mais de vinte e quatro horas. Isso também transporta doenças transmissíveis com facilidade, a pandemia da Covid 19 está ainda aí para confirmar isso. Ninguém está protegido de ninguém, tanto de um ato terrorista, como de uma enfermidade, como de uma má notícia.
      Tenho me sentido assim nos últimos tempos, sofrendo overdose de morte, isso tem me entristecido bastante. Se temos tantas certezas do que ocorre depois daqui, que a vida no plano espiritual pode ser muito melhor que a vida no plano físico, por que tanta tristeza com os que partem? É um instinto natural e sadio, está carimbado em nosso d.n.a., não só físico, mas espiritual, que temos que viver e seguir vivendo, a morte não pode ser solução para nada. Quando alguém morre na Terra, uma luz manifestada materialmente se apaga, isso dói, tem que doer, quem está vivo ama a vida e ama os vivos, todos eles, e muito mais os que vivem próximos a ele, que também o amam. 
      Mas o que é vida? É saúde física, bens para usufruir prazeres do corpo, honra dos pares, amor da família? Sim, é tudo isso e muito mais, como nos diz o texto bíblico inicial. “que me achar, achará a vida”. Linda essa frase, e quantos, querendo achar tantas coisas, nunca acham a vida melhor, a vida eterna, a presença viva de Deus dentro deles. Por isso o oposto também é verdadeiro, Deus não é opção, é vida, quem de alguma maneira peca contra Deus, peca contra si mesmo, ama a morte, não a vida, e comete uma espécie de suicídio. Porque só Deus vivo em nós nos faz entender as prioridades das várias áreas da vida, de modo que possamos vivenciar plenamente tudo.
      A mídia e outros meios pregam o tempo todo “amo viver, quero viver, não tenho medo de viver”, e muitos jovens repetem isso como um mantra. Contudo, muitos só fazem isso de boca para fora, porque é moda, dentro deles algo lhes diz que aquilo que a mídia e outros meios vendem como vida não é vida e consequentemente não satisfaz suas almas. Vida é namorar, comer, beber, dançar, ouvir música, viajar, ter um bom carro, estar bonito nas imagens compartilhadas nas redes sociais, isso é o que o mundo diz. Mas nosso espírito sabe que isso não basta, ainda que teime em fugir de Deus traz na essência uma fome de Deus, fome de vida eterna, negação da morte.
      É verdade que muitos fogem daquilo que acham que é Deus baseados naquilo que dizem ser Deus os canais que deveriam compartilhar Deus, igrejas cristãs, por exemplo, mas isso não é desculpa. Quem quer Deus e tem coragem para admitir isso, acha. A morte sempre nos fará sofrer, mas que a dor dos que ficam seja só saudade de alguém que conseguiu terminar sua trajetória com o maior número possível de questões bem resolvidas. Mas que a morte nos conduza para a melhor eternidade de Deus, o céu, onde, sem medo de subir para a luz mais alta em Cristo, descubramos com alegres surpresas todas as maravilhas que Deus tem preparado para aqueles que o amam. 

José Osório de Souza, 11/11/2021

sexta-feira, novembro 12, 2021

Como a sombra que passa

      “Senhor, que é o homem, para que o conheças, e o filho do homem, para que o estimes? O homem é semelhante à vaidade; os seus dias são como a sombra que passa.Salmos 144.3-4

      No dia 5/11/2021, em Caratinga/MG, num acidente de avião, morreu Marília Mendonça, aos vinte e seis anos, no auge da carreira, conhecida como a rainha da “sofrência”. A partida prematura comoveu o Brasil, vencedora do Grammy, compositora e cantora de voz forte, carismática, milhares de seguidores nas redes sociais. Apesar de jovem, artisticamente tinha postura de mulher madura, deu voz, em suas canções, a “causas” femininas, num tom que antagonizava ao tom mais masculino presente principalmente na música sertaneja. 
      A internet hoje faz isso com a gente, você não precisa ser fã de um artista ou de um estilo musical para conhecer alguém, saber de sua relevância. Mas mais que uma artista, se vai um ser humano, ainda tão cheio de energia, alguém que não veremos nunca mais, cujo brilho fica mais evidenciado com tantas imagens e vídeos disponíveis nas redes sociais. Como sexagenário sei que a vida passa depressa, mas quando vemos a passagem para o outro plano de uma luz artística jovem e tão forte, percebo que a vida pode ser curta demais.
      Quem tem filhos sabe disso, hoje estão nos dando trabalho para dormir, trocar fraudas e tomar o leitinho, e amanhã já estão fazendo vestibular, arrumando estágio, tendo responsabilidades como profissionais. Não criei minhas filhas para se casarem depressa, se acontecer, tudo bem, mas sempre lembro-as de darem prioridade a estudos e profissão, para fazerem diferença no mundo de maneira mais abrangente. Mas um dia estarão elas com compromissos afetivos sérios, e depois, quiçá, me dando a alegria de ser avô.
      Nós, que ficamos, podemos interpretar partidas, principalmente de jovens, como adiantadas, mas Deus sabe o que faz e sempre faz as coisas no tempo certo. Muitas coisas entendemos, outras fingimos que concordamos, mas algumas não aceitaremos nunca, contudo, viver é isso, administrar dor e é só na dor que crescemos. Na eternidade entenderemos tudo, de um jeito ou de outro, o véu será tirado, o mundo espiritual será desnudado diante de nós, veremos muitos que partiram antes de nós, haverá choro, mas também alegria. 
      “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios” (Salmos 90.12), quantos dias teremos para contar? Só Deus sabe, mas quem vive e anda no Espírito é orientado sempre, sabe o que fazer, onde e como, não é pego de surpresa nem pela morte, eu creio assim. Perto de Deus não deixamos pendências nem dívidas, não perdemos tempo com vaidades ou culpas, amamos quem realmente nos ama e respeitamos os outros com temor, enquanto Deus nos cura, nos ensina, nos sustenta e nos protege. 

José Osório de Souza, 5/11/2021

quinta-feira, novembro 11, 2021

Oremos pelos outros

      “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.Tiago 5:16 

      Dois conselhos nos dá Tiago no texto inicial, em primeiro lugar sobre confessar pecados, entretanto, ele não diz que devemos fazer isso só diante de Deus, em segredo, mas que é bom que façamos isso diante dos homens ou com eles. Podemos entender isso de duas maneiras, uma delas é que se erramos com alguém ou se alguém errou conosco, devemos acertar a situação com a pessoa, procurá-la e orar com ela, isso na verdade é mais que uma opção. A outra maneira é que mesmo que alguém não tenha nada a ver com um problema, podemos abrir nosso coração com esse alguém e com ele orar.
      Essa segunda maneira é um benefício que podemos ter com amigos próximos nos quais confiamos e que estão preparados para essa intimidade. Compartilhar com outros nossas fraquezas é um ato de humildade, que muitos por orgulho não têm coragem de fazer, mas também é um ato de humanidade que pode nos abençoar quando nos tira da solidão de termos que enfrentar certas fraquezas sozinhos, assim como abençoa os amigos, que sabendo das nossas lutas não se sentem sozinhos em suas lutas. Saber que não se é a única pessoa no mundo com um problema é muito consolador. 
      Compartilhar fraquezas é bênção? É se for na situação certa e com as pessoas certas, nem tudo podemos compartilhar, muitas coisas devem ficar só entre nós e Deus, mas que isso seja por sabedoria, não por orgulho. A segunda coisa que Tiago ensina é sobre o poder da oração, tanto a que fazemos sozinhos, quanto a que fazemos pelos outros. O importante é não nos acostumarmos com certos erros e por isso deixarmos de orar por cura, e se oração privada tem eficácia, a que fazemos pelos outros e com os outros também tem. Lembre-se, os outros podem estar precisando e muito de nossa oração. 
      O Espírito Santo sempre nos orienta a como e quando orar, basta que estejamos limpos e com os ouvidos espirituais abertos para ele. Oração eficaz não está na quantidade, não necessariamente, mas na qualidade e qualidade existe na obediência realizada com uma intenção crédula e amorosa. Se o nome ou a imagem de alguém te vier à mente, e se você estiver em uma comunhão adequada com Deus, pode ser o Espírito Santo orientando você a clamar por esse alguém. Se for isso essa pessoa pode estar necessitando urgentemente de uma oração, nesse caso obedeça, com todo o coração. 

quarta-feira, novembro 10, 2021

É tempo de orar

      “Estando em angústia, invoquei ao Senhor, e a meu Deus clamei; do seu templo ouviu ele a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.II Samuel 22.7

      Orar é dialogar com Deus, num diálogo se fala, mas também se ouve, se pede, mas também se agradece pelo que se recebe. Orar é buscar o criador de nossas almas, é confiar naquele que é o primeiro que pode nos ajudar, porque nos ama e porque é o Senhor, tanto do universo físico que vemos, quanto do plano espiritual que não percebemos com os sentidos físicos, ainda que esses sejam impressionados o tempo todo pelo contato que nosso espírito faz principalmente com Deus, o pai dos espíritos. Orar é adorar a Deus de maneira direta, com música, com palavras, com convicção e emoção, não só pelo que Deus faz, mas pelo que Deus é, e nós só existimos, só achamos paz, porque esse Deus nos atrai em amor para o buscarmos. 
      Orar é conhecer a Deus, isso fazemos não quando falamos, mas quando ouvimos. Temos ouvido a Deus? Ou só sentimos a paz de sua aprovação inicial, quando pedimos perdão e entregamos nossas vidas a ele pela fé, e então encerramos nosso período de oração? Orar nos leva a adorar e quem adora dá, sem pedir nada em troca. Essa atitude prepara nosso espírito para ouvir de Deus os mistérios, que ele só compartilha com os que se dão ao trabalho de irem além da oração que pede e agradece pelo que recebeu. Quem se esquece do tempo e adora a Deus é agraciado pelo Senhor com seus dons espirituais, e esses são as ferramentas na escola espiritual do Altíssimo, que nos permitem conhecer mais a Deus e o plano espiritual. 
      Orar é interceder pelos outros, e isso só faz quem de fato conhece o amor de Deus, quem entendeu que os outros necessitam de auxílio tanto quanto ele mesmo necessita. Quem conhece o amor de Deus recebeu dele as ferramentas espirituais para, mais que clamar por si mesmo, colocar-se como instrumento do Senhor para iluminar outras pessoas. Sempre foi, é e será necessária oração de intercessão pelos homens, mas atualmente vivemos um momento sério em todo o mundo, quando mais do que nunca clamar pelo próximo se faz necessário. Deus tem levantado um exército secreto de intercessores, não duvide disso, que sente o momento do planeta, a dor da humanidade, e clama para que Deus ilumine com seu amor os que sofrem. 

terça-feira, novembro 09, 2021

Deus fala

      “Porque a palavra do Senhor é reta, e todas as suas obras são fiéis. Ele ama a justiça e o juízo; a terra está cheia da bondade do Senhor. Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca. Ele ajunta as águas do mar como num montão; põe os abismos em depósitos. Tema toda a terra ao Senhor; temam-no todos os moradores do mundo. Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu.Salmos 33.4-9

      Deus fala e quando fala sentimos uma paz diferenciada, não, ele não fala como falam outras vozes em nossas mentes, quando Deus fala é diferente de tudo. Outras vozes, sejam de nossas imaginações ou de seres espirituais mal intencionados, nos confundem, pois repetem as mesmas coisas, na maior parte das vezes são incitações, que se a princípio não forem coisas ruins no final com certeza causarão coisas ruins. Mas mesmo que sejam coisas positivas, não deixam paz em nós, só nos deixam mais angustiados, vozes estranhas são sempre obsessivas. 
      A voz de Deus tem certas características únicas, ela é a primeira que ouvimos quando fazemos a Deus uma pergunta direta, contudo, como muitas vezes não estamos perfeitamente “ligados” a Deus, seja por inexperiência ou por outro motivo, Deus pode, sim, repetir sua orientação. A orientação de Deus é sempre simples, curta, mas objetiva e extremamente profunda, quem estuda a Bíblia verifica isso principalmente nos livros de Salmos e Provérbios e nos ensinos diretos de Jesus nos evangelhos. A verdadeira sabedoria é sempre assim, expressa com poucas palavras.
      Mas o principal é que a palavra de Deus dita pelo Espírito Santo diretamente às nossas mentes é mais que fonemas e ortografia, que conhecimento intelectual sobre algo, é mais que uma ordem ou uma revelação, ela é a própria vida, e a vida espiritual eterna. Quando Deus fala não são só nossas curiosidades que são respondidas, somos verdadeiramente alimentados. Uma alegria singular toma conta de nosso interior e somos consolados, animados, renovados, o impossível se torna possível, a morte se desfaz e a vida renasce como o alvorecer sob o Sol. 
      Deus fala, meus queridos e minhas queridas, e quando isso acontece tudo o mais se cala, podemos ouvir essa voz se calarmos o nosso interior, Deus é educado sempre, não fala se alguém estiver falando. Assim, acalmem-se, silenciem todas as outras vozes, respirem fundo e com toda a humildade abram os ouvidos espirituais e prestem atenção, ouvirão claramente o Senhor dizendo, “fique em paz, eu estou aqui contigo, cuidando de você, nada falta ao que entrega sua vida para mim, obedece-me e confia”. Deus é vivo e fala com os homens, glória ao Senhor por isso! 

segunda-feira, novembro 08, 2021

Um passo de cada vez

      “Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.Mateus 6.34

      Uma orientação que se dá a viciados, em drogas, em álcool, em alguma coisa que se torne obsessão e pela qual alguém possa achar que não pode viver sem, é que andem um passo de cada vez. Assim, se foi conseguido passar um dia sem recorrer ao vício, deve-se sentir-se feliz e deixar que o dia seguinte cuide de si. Qual o segredo por trás desse princípio? O segredo é que vencer a ansiedade, a expectativa de algo acontecer, já é uma vitória, e quando não se vence isso tem-se dois problemas. 
      Um é o problema real, vencer um dia de vida, o outro é o medo de não se conseguir vencer no dia seguinte, por isso, deve-se focar num passo por vez, num dia por vez. Isso mantém em nossas mentes uma expectativa menor, uma tarefa menor e consequentemente mais fácil de ser superada. Mas isso também nos entrega uma alegria mais rápida e simples, limitada, sim, mas humana, possível, humilde, de ter-se dado ao menos um passo corretamente, de ter-se vivido um dia em paz, em vitória. 
      “Basta a cada dia o seu mal”, sempre acho essa frase, registrada como citação de Jesus, pessimista, parece que não casa com a boca e o coração daquele que ensinou e viveu tanto amor. Mas Jesus sempre é realista, ele nunca nos ilude, essa frase não é uma maldição para o futuro. Ela é uma exortação para que não nos fiemos no tempo, em nós mesmos ou na força que teremos amanhã, mas só em Deus, para o qual o tempo não existe, o amor é sem início e sem fim e a fidelidade, constante. 
      Um passo de cada vez, com paciência e vencendo a ansiedade dia a dia, para mim é a prova de vida mais difícil e importante, sei que existir assim é ser vitorioso em muitas áreas. Isso é viver corretamente o presente, o aqui e o agora, é ser humano e divino ao mesmo tempo. Humano porque admitimos nossa limitação para saber o que vai acontecer amanhã, divino porque para Deus não há passado e futuro, é sempre presente. Viver assim é ter a espiritualidade da eternidade neste mundo.

domingo, novembro 07, 2021

Astutas ciladas da mentira

      “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.” Efésios 6.11

      Não é sensato ver o diabo o tempo todo e em tudo, em primeiro lugar porque na maior parte das vezes é o nosso direito ao livre arbítrio mal usado que faz com que sejamos presas do erro. Em segundo lugar porque estratégias do “diabo” podem ser coisas mais elaboradas e com objetivos maiores que só nos fazer tropeçar em coisas do dia a dia. Contudo, existem situações que são sim, astutas ciladas, elas ocorrem de modo a nos pegar de surpresa, atingindo um ponto nosso que sabemos que é ponto fraco, mas que na roda viva da vida acabamos nos esquecendo e não vigiando. 
      Esse tipo de embuste é algo que nos soa como diabólico, como um golpe sujo, como traição, por ser algo baixo, mas é justamente por ser pequeno que consegue penetrar em uma brecha de nosso muro de defesa, se fosse grande não nos invadiria com facilidade, seria mais fácil de vermos e estaríamos mais preparados para rebater. Contudo, por ser menor nos surpreende, entrando em nós faz um estrago considerável, o mal causado parece que gruda em nós, temos dificuldades para nos desfazermos dele, nos tortura de tal maneira que nos desestabiliza por completos. 
      A solução é parecida com a maneira como o problema entrou em nós, se foi pequeno para entrar e nos enfraquecer devemos nos livrar dele com a mesma facilidade, assumindo que não tem poder sobre nós e que é só uma mentira do diabo, aliás, eis aí a seta do mal que mais nos atinge, a mentira. Por não ser verdade, nos sentimos injustiçados, então, não nos sentimos desconfortáveis por sermos algo, mas por achar que os outros acham que somos, por acreditarmos que os outros creem na mentira do mal. Mas se é mentira, que importa o que os outros pensam? 
      Não temos que sair tentando nos justificar, temos apenas que confiar em Deus que nos conhece e sabe que não somos aquilo, que aquilo é uma mentira e pronto. Essas setas de mentira não tentam uma área objetiva de nossas vidas, é algo mais subjetivo. Se a mentira for, por exemplo, dizerem que somos adúlteros, quando não somos, não seremos provados para vencermos o adultério, não é isso. Isso precisa ficar claro em nós, porque senão a mentira pode convencer a nós mesmos de algo que não somos ou que já vencemos. Temos que ser os primeiros a não crer na mentira
      Essas setas provam o nosso orgulho, nossa carência de aparentar perfeição diante dos homens e de termos aprovação deles. A vitória está em seguirmos em paz ainda que os homens acreditem em mentiras sobre nós, não temos que sair por aí tentando fazer justiça com as própria mãos, provando o que somos ou deixamos de ser, mesmo porque não temos controle sobre muitas coisas. Deus tem todo o controle, temos que humildemente confiar nele, tranquilos porque ele nos conhece e nos defende, indiferente do nosso passado e da mentira, seja do diabo ou de homens. 

sábado, novembro 06, 2021

Às vezes é melhor nos afastarmos

      “E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia; e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.João 2.23-25

      Às vezes, a dificuldade que temos com uma pessoa, não é aceitar sua escolha, mas conviver com o fato da pessoa não assumir essa escolha e as consequências dessa, assim ao problema desrespeito se adiciona falsidade. Custo-benefício, eis um termo que usamos muito em tecnologia e negócios, escolher um equipamento com um preço que não seja tão caro, ainda que não seja o mais barato, mas que renda mais que os baratos e quase tanto quanto os caros. Em nossas relações afetivas funciona de forma semelhante, muitas vezes não estamos preparados para suportar certas relações, elas podem nos fazer mais mal que bem, tirar de nós o nosso pior, por isso precisamos nos afastar e assumir as consequências disso.
      Obviamente, fazer isso é assumir um distanciamento de uma pessoa, perder alguma aprovação ou alguma espécie de influência que essa pessoa possa ter sob o grupo social que temos em comum com ela. Como efeito de nosso distanciamento poderemos sofrer críticas injustas de alguém que não quer se afastar de nós, ainda que não goste de nós. Se longe temos o benefício de não sermos desrespeitados e consequentemente não sermos tentados a expor uma reação errada, temos o custo de aceitar que o afastado possa não entender nosso afastamento e ainda nos caluniar. Ninguém, contudo, consegue estar bem com todos e ainda ser o seu melhor, temos que ter sabedoria para assumir e administrar nossos limites em paz. 
      Numa relação assim há duas pessoas sofrendo sem necessidade, uma sendo desrespeitada e outra sendo desrespeitosa, ou o que desrespeita muda de atitude, ou esse se afasta, ou se afasta o desrespeitado. Se a pessoa que nos desrespeita não se afasta, se quer continuar perto, nos agredindo e não quer assumir isso diante dela e dos outros, e se for questionada poder até dizer que somos nós que estamos errados, não ela, nós devemos tomar a iniciativa e assumirmos por ela. Coloquemos um ponto final e nos afastemos em prol de nossa sanidade, já que gente assim, que não gosta da gente mas quer continuar perto da gente, pode nos levar à “loucura”, temos que ter coragem e seguirmos em paz, a despeito do que a pessoa pensar. 
      Jesus nos dá exemplos de situações assim em seu relacionamento com os maus líderes religiosos de sua época, esses não gostavam dele, tinham inveja dele, viam que ele conseguia fazer algo que eles não conseguiam, ser coerente. Jesus vivia o que falava, sem hipocrisia, isso era luz e luz sempre incomoda os que estão em trevas, mas seus inimigos ao invés de se afastarem dele estavam sempre perto, vigiando-o, querendo achar uma brecha em sua coerência para acusá-lo. Algumas pessoas só crescem rebaixando os outros, por isso ficam perto de nós, vigiando-nos, no fundo somos referências para elas, por mais que elas não queiram admitir. Jesus, contudo, tinha intimidade com Deus, nisso discernia as intenções dos homens.
      É melhor nos afastarmos daquelas pessoas que não querem construir algo bom conosco, nos invejam por não admitirem para si mesmas que as incomodamos com a nossa luz, procuram minuciosamente erros em nossas vidas, elas só crescem se nós formos diminuídos, e se não de fato, pelo menos em suas mentes doentias. Tenhamos a coragem de assumir o que algumas pessoas não assumem, nos afastemos, discretamente, sem mágoa, sem agressividade, e se por algum motivo tivermos que nos relacionar com elas, conversar com elas, sejamos cautelosos. Tenhamos educação e amor, digamos só o necessário e sigamos em paz, sem tomar para nós lixo que elas possam vir a jogar sobre nós, que é delas e que não nos pertence. 

sexta-feira, novembro 05, 2021

Não feche a porta para quem te ama

      “Filho meu, não rejeites a correção do Senhor, nem te enojes da sua repreensão. Porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem.Provérbios 3.11-12

      Quando fechamos uma porta para não nos relacionarmos com um amigo que nos ama, perdemos a oportunidade de sermos confrontados de forma amorosa com verdades, que precisamos ouvir e que nos farão crescer se acatarmos. A vida ainda assim nos ensinará, ela sempre ensina, mas por lábios cruéis, de forma fria e egoísta, enfim só colheremos o que plantamos, como agimos com aquele para o qual fechamos a porta de amor, outros agirão conosco. Quem não sabe ouvir as pessoas certas se exporá a pessoas erradas, que podem querer só usá-lo, não amá-lo. 
      Quem nos ama de verdade e só quer nosso bem pode estar bem perto da gente e a gente nem se dar conta. Ocorre que uma vida dura pode ter criado em nós grossas camadas, que usamos para nos proteger, não dos outros, mas a nossa verdade de nós mesmos. Muitos são essencialmente seres mais delicados, que deveriam estar em posições mais simples e assim seriam naturalmente protegidos, mas ao invés disso querem subir demais, assim se poêm em posições perigosas, onde não deveriam estar, posições que sofrem mais ataques do mundo e do mal.
      Mas sempre há saída para o humilde, ainda que tardia, se ele souber ouvir conselhos poderá se reorientar. Que tenhamos humildade suficiente para vencermos o orgulho, que teima em nos exibir como algo que não somos, e que também tenhamos coragem para vencer o medo, que nos impede de mostrar nossos defeitos, que permitamos que quem nos ama de verdade esteja perto e nos avise. Que isso seja a tempo de mudarmos para sermos seres melhores, antes que a eternidade nos chame, e nos dias atuais a eternidade tem chamado bastante. 
      Se você conhece alguém nessa situação, se já tentou conversar e teve porta fechada na cara, não desanime e nem tome a questão como pessoal. Algumas pessoas são duras, até meio mal educadas, mas não necessariamente más, a nos cabe amá-las e amar não é fazer a coisa do nosso jeito, mas do jeito que Deus quer fazer com os outros. Deus usa o tempo, e nós, enquanto isso, exercemos a oração, assim, ore pelo duro, com amor, ilumine sua vida pedindo que Deus o abençoe nas áreas afetiva, profissional, espiritual, aguardando sua recuperação. 

quinta-feira, novembro 04, 2021

Livre-se de ídolos mentais

      “Odeio os pensamentos vãos, mas amo a tua lei.Salmos 119.113

      Sabe uma coisa que gruda em tua mente e te mantém pensando nela, pode ser dolorosa ou prazerosa, tanto faz, mas que te controla de um jeito, que por mais que você queira pensar em outra coisas insiste em te obsidiar, de maneira que se não conseguir se livrar dela como pensamento poderá ser levado a pô-la em prática? Essa coisa se tornou um ídolo pra você. Só Deus, através de uma experiência espiritual legítima, pode nos habitar sempre e sem danos, mas tem que ser Deus de verdade, não uma ideia religiosa criada e mantida racional e emocionalmente. 
      Deus atua pelo seu vivo Santo Espírito em nosso espírito, que depois deixa virtudes morais em nossas mentes e em nossos sentimentos, outra coisa, mesmo que demos o nome de Deus, é ídolo. Ídolos são vazios, são morte, são mentiras, eles não entregam paz, ainda que possam parecer a princípio prazerosos, só sugam nossa energia vital. Os ídolos mais comuns são os vícios, que por darem prazer fácil podemos mantê-los para nos consolarem da dor da solidão, das culpas e do medo. Assim, trocamos um ídolo que dói por outro que depois vai doer também.
      Se alguém diz ou faz algo e isso gruda obsessivamente em nossas cabeças, incomodando-nos como um vício, é porque a presença dessa pessoa em nossas mentes se tornou um ídolo, e como tal passamos a temê-lo, pode parecer-nos maior até que Deus. Se ainda depois de colocarmos nossas vidas de oração em ordem, pedirmos perdão a Deus, nos perdoarmos, a presença mental persistir, temos que tomar uma decisão racional de parar de adorar, às avessas, esse ídolo. Crítica não adequadamente digerida, de toda espécie, são portas para ídolos mentais obsessores. 
      Adorar a Deus e colocá-lo tranquilamente no trono de nossos corações, é remédio para afugentar ídolo ladrão de paz e carente de devoção que não merece. Se estamos mentalmente cansados, também podemos nos tornar presas mais fáceis de ídolos mentais, assim, após fazermos uma oração simples e de fé, aprumando nossa relação com Deus, termos um período de descanso ou de sono pode ajudar. “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face.” (Salmos 42.5)

quarta-feira, novembro 03, 2021

Devedores de amor

      “Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.Romanos 13.7-8 

      Quando passar pela tua cabeça que você não tem nada pendente para orar, que não tem um motivo para buscar a Deus, que não tem algo que te preocupe ou que esteja faltando a você para pedir ao Senhor, além do que normalmente já pede, pergunte-se se tem amado o suficiente. Amar mais é sempre um desafio para vidas que querem conhecer mais a Deus. Sempre seremos devedores de amor a alguém, e isso sempre será mais que um bom motivo para nos humilharmos diante do Senhor.
      Isso não significa nos submetermos a qualquer espécie de violência, esse afeto estranho, que muitos acham que é amor, pode ser só carência mal resolvida e falta de auto-estima, doenças emocionais a serem tratadas. Por outro lado para amar pode bastar exercemos paciência, pararmos com o que estamos fazendo um pouco e ouvirmos alguém, deixando que a pessoa desabafe. Às vezes isso é tudo que alguém precisa para ser curado, para achar uma solução, para se sentir vivo, se ouvir.
      Pense bem, não tem nada nesta vida que desperte tua atenção, mostrando a necessidade de mais amor? Pessoalmente me entristeço profundamente ao ver muitos que se denominam cristãos manterem preconceito contra homoafetivos, usando equivocadamente o texto de Gênesis 1.27. Precisamos orar por cristãos assim, para que tenham as mentes iluminadas para entenderem o que Deus realmente pensa sobre sexualidade, e o que de fato é pecado que desagrada ao Senhor. 
      Quando temos um encontro real com Deus conhecemos o amor, só quando isso ocorre conseguimos amar. No amor não existe condenação, ódio de espécie alguma, nem pelo ódio. Isso não significa que não haja santidade, mas ela é exercida com humildade, numa prática de vida que constrói pontes, não muros. Só ama quem foi amado, mas precisamos autorizar para sermos amados, senão seguiremos mal amados e odiando, ainda que nos achando “guardiões” da palavra divina. 
      Enquanto houver uma pessoa neste mundo com falta de amor teremos motivos para amar mais, ainda que seja só através de uma oração. Enquanto houver conflitos políticos, ideológicos, que façam inocentes sofrerem, que oprimam minorias, que incentivem preconceitos, e pior ainda, que usem em vão o nome de Deus, o cristianismo, a Bíblia, para apoiar falta de amor, teremos motivos para amar mais e orar para que a humanidade entenda e viva de fato o amor genuíno de Jesus. 

terça-feira, novembro 02, 2021

Sigo para o alto

      “Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles.Salmos 68.18

      Quantos mistérios um único versículo inspirado pelo Espírito Santo pode revelar, me pergunto se o escritor bíblico tinha noção disso quando o registrou, talvez não tivesse, não de toda a profundidade e atemporalidade das palavras. Talvez só tivesse um entendimento relacionado à situação que vivia em seu tempo, mas eu, pessoalmente, penso que homens do quilate espiritual de Davi, de Moisés, de Daniel, de Paulo, de João, sabiam muito mais que escreveram, por isso a Bíblia é um texto sacro tão singular. 
      “Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro”, mais que um simples e bom homem, mas Jesus, o filho de Deus, um espírito pra lá de superior, nele temos libertação pois nele recebemos o perdão divino que nos dá a força inicial para sermos transformados. Em Cristo nos colocamos espiritualmente nas regiões celestes mais elevadas, acima de toda potestade e principado, de todos o seres espirituais, de trevas e de luz. Só quem está no alto pode puxar os que estão embaixo, Jesus é o braço de amor de Deus nos resgatando.  
      “Recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes”, dádivas, presentes, coisas que não tínhamos e nem podíamos comprar, mas que nos foram dadas gratuitamente por Deus em Cristo. Que coisas são essas? O privilégio de todos nós, justos e injustos, podermos nos relacionar diretamente com Deus, sem véus pelo caminho reto do Espírito Santo, num diálogo onde falamos e ouvimos, entregamos e recebemos, desabafamos e aprendemos, somos perdoados e somos iluminados, para seguirmos rumo ao Altíssimo.
      “Para que o Senhor Deus habitasse entre eles”, o Deus vivo está entre nós! O salmista refere-se profeticamente a Jesus, que veio, cumpriu sua missão e subiu, para que através de sua obra pudéssemos ter uma experiência íntima com Deus ainda no mundo. Do que mais precisamos? A vida é difícil? É para todos, e nos últimos tempos quase impossível, mas sigamos, humildes e confiantes, sabendo que há um propósito de Deus para tudo e que a existência aqui é passageira, nossa recompensa está na eternidade. 

segunda-feira, novembro 01, 2021

Creio em Deus

      “E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.Atos 16.31

      Sou um crente, sempre fui, e entenda o termo como alguém que acredita em algo sem ver, mas mais que isso, creio em finais felizes. A existência no universo é uma história com um final feliz, ela termina com o ser espiritual criado chegando (ou retornando) ao Deus criador, e a esse final todos os seres chegarão, ainda que em tempos diferentes. Jesus é o caminho mais rápido, e para os cristãos é o único, eu creio em Jesus, meu guia para o Altíssimo e meu modelo de homem perfeito, e minha fé em Jesus só se aperfeiçoa. 
      Contudo, à medida que creio mais em Deus menos creio nas religiões, ainda que possa ser abençoado em cultos evangélicos, com os devidos filtros acionados, também creio na boa sinceridade de muitos que frequentam não só templos pentecostais e protestantes, mas também católicos. Mas também sei que outros homens, de outras regiões ou mesmo sem elas, também chegam a Deus, ainda que sob meu ponto de vista usem um caminho mais longo, mas repito isso é só meu ponto de vista, até onde posso crer com paz. 
      Minha fé já foi mais ingênua, beirando à ilusão, confesso, mas à medida que Deus me libertou de vícios e me curou emocionalmente as coisas ficaram mais claras, a verdade me foi sendo apresentada, Deus sempre se mostra ao que o busca no Espírito e em verdade. Enquanto vi muitos, que iniciaram comigo o caminho do evangelho, se perderem, por não se quebrantarem o suficiente para serem transformados, e muitos se perderam dentro de igrejas e permanecendo nelas, eu sigo conhecendo mais o Senhor. 
      Muitos se desviam de Deus e fogem, alguns para o mundo e outros para igrejas, por mais paradoxal que pareça, eu me desviei das igrejas para achar a Deus. Ainda frequento igrejas, me sinto bem nos cultos, tenho amigos dentro delas, mas aprendi a dar a elas o valor que elas realmente têm, grupos de seres humanos imperfeitos buscando a Deus, e não representantes oficiais de Deus no mundo. O único representante oficial de Deus no mundo é o Espírito Santo, nele creio e cada vez com mais intimidade. 
      Não existe antagonismo entre crer mais em Deus e se afastar de igrejas, o que conhecemos do Deus verdadeiro no atual nível de espiritualidade da humanidade, ainda que sendo fiéis às religiões, incluindo a cristã, é muito pouco. Ainda assim isso não significa que não devamos frequentar templos, mas repito, significa dar às religiões as relevâncias corretas, principalmente como grupos sociais salutares para convivermos com nossas famílias, criarmos filhos, o mais proximamente possível da nossa fé pessoal. 
      Eu creio em Deus e penso que isso é primordial para sermos felizes em sua vontade, pode parecer simples, mas muitos, ainda que gostem dos ensinos de amor e justiça do evangelho, que aceitem a existência de Deus e mesmo a obra de redenção que ele realizou em Cristo, não creem em Deus, e muitos, que já se chamaram de cristãos, não mais. Em suas mentes Deus se tornou um conceito tão distante que na prática não tem mais comunhão com eles, eles na verdade não creem mais em Deus, só o olham de longe. 
      Busco o Senhor todos os dias e se não receber uma palavra nova, fresca, certeira para minhas angústias, não dormirei feliz, se não fosse assim não teria unção do Espírito para poder compartilhar diariamente uma palavra aqui no “Como o ar que respiro”. Crer em Deus não é fácil, apesar de ser simples e tão necessário como respirar, é confrontar nossas vaidades e egoísmo o tempo todo, assim é ter uma paz que se evapora facilmente, levando-nos a estar sempre na presença do Senhor para renovar nossa aliança de fé. 
      Mas eu creio em Deus, isso não me livrou de cometer muitos erros na vida, alguns bem sérios, pelos quais pago preços até hoje incluindo a condenação de muitos cristãos que não creem em segundas chances do amor de Deus. Esses acham que atingimos a perfeição quando começamos a frequentar uma igreja, não veem o tempo como mão poderosa do Senhor para aperfeiçoar os homens. Eu creio e isso me trouxe a um bom lugar onde tenho uma família, esposa e filhas, guardadas pelo Senhor, por isso não temo o futuro.