sábado, abril 27, 2024

Quer servir ou aparecer?

      “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.João 15.12-15

      Muitos veem pessoas em cargos de liderança e as invejam, pensam, “como seria bom ser líder, ser visto e respeitado por muitos”. Esses não entendem que liderança legítima se conquista, aos poucos, e ninguém começa como general, primeiro se é cabo, depois sargento e segue. Ser general nos coloca como subordinados outros oficiais, e esses estão mais preparados para obedecer, porque também lideram. Mas ser sargento nos dá como liderados cabos e soldados, posições iniciais na hierarquia, onde ainda não se aprendeu muita coisa, principalmente obedecer. Contudo, sem ser sargento não se chega a general, dessa forma quem inveja líder entenda que muito trabalho foi feito por esse para estar onde está. 
      Liderar intelectuais parece melhor e até mais fácil, mas não é, liderar trabalhadores braçais pode parecer pior e mais bruto, ainda que também não seja. Toda liderança é serviço, não é um privilégio para ser servido, mas para orientar outros a serem servos melhores, o líder é o que mais serve, pois está num nível hierárquico superior e possui mais liderados sob ele. Quem lidera dez só tem responsabilidade sobre dez, mas quem lidera dez líderes de dez tem responsabilidade sobre cem, espiritualmente isso também funciona assim. O mundo espiritual é todo administrado por hierarquias, potestades e principados citados na Bíblia, e o líder mais elevado é justamente o que foi mais humilde e que mais serviu, Jesus Cristo.
      A pergunta a nos fazer quando queremos ser “mestres” é: quero liderar para servir ou para subjugar, impor e aparecer? Líder de verdade não precisa ter profundidade e experiência técnica de liderado, mas precisa ter conhecimento humano que sabe motivar, levantar, amadurecer, para que técnicos sejam produtivos e satisfeitos por serem técnicos. Líder genuíno é amigo, não dono, e ainda que no mundo profissional secular, de um líder seja exigido cumprimento de metas, não pode exercer liderança friamente, se já foi assim, hoje já se entendeu que isso não funciona. Quem anda com Deus não vê inferiores ou escravos nos liderados, mas amigos, e por eles dá a própria vida, como deu o Mestre Jesus.

sexta-feira, abril 26, 2024

Que cor tem o além para você?

      “E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.Gênesis 1.3-4

     Por favor, não tomem o uso dos termos claro e escuro como qualquer espécie de preconceito racial, a intenção aqui foi refletir sobre luz e trevas espirituais, presença e ausência de virtudes morais, perdoem-me se não usei palavras mais adequadas. 

     Penso que todos nós já nos imaginamos morrer e ver o que há depois do plano material. Alguns se sentem claustrofóbicos com isso, visualizam uma escuridão sem começo e sem fim, onde nada se vê e se cai num abismo infinito, sem chão, sem referências, sem luz. Sabe o que você verá quando morrer? Exatamente o que gerou em você quando estava vivo no plano material. Muitos, informados e saudáveis, bons cidadãos e trabalhadores honestos, escondem dentro de si trevas, medos, vaidades, mágoas, ódios, ainda que guardem isso a sete chaves. Bem, depois da morte todas as salas fechadas da alma serão abertas, e se elas forem maiores que a luz que guardamos em nós provaremos escuridão. 
      Algo precisa ficar claro, todos nós, todos mesmo, somos seres em constantes conflitos internos, lutam dentro de nós carne e espírito, luz e trevas, egoísmo e amor, vaidade e humildade, o que nos define não é ausência de conflitos. O que nos define é quem é vitorioso na maior parte do tempo nessas lutas, trevas ou luz. Deixa tua luz brilhar, em primeiro lugar dentro de você, fora é só consequência simples e natural disso. Mas lute, com todas as tuas forças contra os desejos descontrolados e inadequados do corpo, contra a inveja e o rancor, contra o passado errado e o futuro incerto, viva agora na presença de Deus, perdoado, amado, iluminado, satisfeito e pronto para fazer as coisas melhores e certas, com fé, em paz. 
      Em Deus sempre há luz, nunca há trevas, assim trevas só existem para o que fecha os olhos, esse nada vê e fica a mercê dos próprios medos e devaneios. É assim aqui, será assim lá, creia nisso. Você também já deve ter tido aquela experiência de oração onde parece que uma luz alta e muito clara emana sobre você, quando você ouve aquela palavra que parecia impossível, mas que Deus te dá, de consolo, de vida, não de morte, de esperança e de muita clareza. É essa experiência que você tem que perseverar em ter, ela não é ilusão religiosa ou coisa da tua cabeça, é a luz do Espírito Santo se manifestando a você como é possível que se manifeste neste mundo. Se há luz em você aqui, haverá muito mais lá.

quinta-feira, abril 25, 2024

A boa, agradável e perfeita vontade

      “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.Romanos 12.2

      A vontade de Deus é fruto doce e satisfatório, ainda que especial e singular, fazê-la é mais que mera opção de vida, é a própria vida, a melhor e eterna vida, contudo, só temos acesso a esse fruto quando nos damos ao trabalho de subir uma árvore e apanha-lo. Se não fizermos esse esforço ainda teremos fome, mas nos acomodaremos ao fruto velho e colhido por outros homens. Se o fruto não for novo e tirado do galho por quem vai comê-lo perde seu valor, e cada um deve colher e provar um fruto exclusivo que Deus tem para ele. A vontade de Deus para sua vida só você e Deus sabe, homens podem até ajudá-lo a descobrir e a fazer essa vontade, mas tua conexão é com Deus, não com homens, teu Senhor é Deus e somente ele. 
      Quem diz que a vontade do Senhor para si é difícil e insatisfatória, ou não conhece a vontade de Deus ou é rebelde, amante de próprias vontades e dos prazeres do mundo. Ninguém nasce pronto para fazer a vontade do Senhor, ainda que alguns a pratiquem antes, mas em algum momento de nossas vidas neste mundo temos que aceitar que só temos vida cumprindo o que Deus tem para nós. Para isso um trabalho deve ser feito, a árvore deve ser conhecida e escalada, não a árvore dos outros, não cobiçando o plano de Deus para os outros, mas descobrindo e subindo a própria árvore. Muitos escalam árvores altas achando que a vontade de Deus é só trabalhar muito, outros optam por árvores baixas querendo trabalhar menos.
      Só uma busca sincera e humilde a Deus no Espírito Santo pode nos mostrar exatamente em que árvore devemos subir, que crença precisamos ter, mesmo saber que igreja dentro de uma denominação podemos frequentar. Mas isso é só o início da escalada, no final a busca é solitária e assim deve ser, para nos livrarmos de todos os filtros e ilusões do homem e olharmos para o Altíssimo. Contudo, quando alcançamos o fruto e o comemos entendemos que valeu a pena o trabalho, a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita, nos fortalece e nos faz ser úteis. Deus não quer sacrifícios, não precisa deles, só quer liberdade para viver em nós em amor e santidade, só isso pode trazer-nos paz e nos dar vitória no mundo. 

quarta-feira, abril 24, 2024

Seus mandamentos não são pesados

      “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e todo aquele que ama o Pai ama também ao que dele foi gerado. Assim sabemos que amamos os filhos de Deus: amando a Deus e obedecendo aos seus mandamentos. Porque nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados. O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus.I João 5.1-5

      Após quase dois milênios de cristianismo e de quase dezessete séculos de catolicismo e protestantismo, não temos dificuldades para crer que aquele homem, filho de carpinteiro, nascido na Judeia e crucificado aos trintas e três anos, era mais que um religioso israelita de qualidade moral diferenciada que operava milagres, ele foi um filho especial que Deus enviou para salvar a humanidade. Mas não era assim no momento em que João escrevia o texto bíblico acima, por isso ele, Paulo e outros escritores do novo testamento, precisaram enfatizar tanto a posição espiritual exclusiva de Jesus como o Cristo de Deus. Mas além dessa lição de contexto histórico, temos a atemporal, essa fala sobre o amor, novo nascimento e fé. 
      Primeiro João exorta que o mesmo amor que o judeu dedicava a Deus devia dedicar a Jesus, mas ele se aprofunda no amor, exorta que quem ama obedece, assim não basta crer, tem que praticar. Contudo, o que me chamou a atenção foi a afirmação “seus mandamentos não são pesados”, até que ponto entendemos e aceitamos isso? Ou até achamos que a vontade do Senhor é boa, deve ser buscada, mas está tão distante que nos acostumamos a nunca obedecê-la totalmente? Muitos não obedecem a Deus porque confundem o que Deus pede deles com aquilo que homens religiosos dizem que Deus pede. Religião, mesmo a cristã, e Deus são coisas diferentes. Por não entenderem isso muitos se revoltam com Deus por algo que ele não disse. 
      O texto inicial enfatiza outra coisa, a necessidade de um novo nascimento espiritual para que sejamos conectados a Deus, esse nascimento só ocorre pela fé em Jesus. O propósito principal de Deus com o evangelho foi disponibilizar uma porta direta à sua posição mais elevada por meio de Jesus, até podemos ter acesso ao mundo espiritual, mas usando “outras portas” não nos ligaremos a Deus. A primeira vez que essa conexão é feita é chamada de novo nascimento e só o novo nascido vence o mundo. Somo seres frágeis e inconstantes, o mundo é habitado por seres humanos em estágios morais diferentes, portanto não há amor, paz e justiça aqui. Só nossa fé em Deus por Jesus vence a maldade do mundo e a nossa fraqueza. 

terça-feira, abril 23, 2024

Livre-se de pendências

      “Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procura livrar-te dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão. Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil.Lucas 12.58-59

      O texto acima revela um mistério, entendendo-o nos livramos de inferno ainda aqui, e aqui é mais fácil de nos livrarmos que lá. Neste mundo podemos caminhar com opositores, na eternidade essa oposição nos será cobrada, Jesus orienta a nos acertarmos com adversários ainda aqui, não esperar chegar lá. Se estivermos certos podemos até esperar o juiz, mas se existe adversário, pode existir problema não resolvido, consequentemente haverá a necessidade de juiz para que justiça seja feita. Quem de fato anda corretamente não comparecerá diante de juiz, não no tribunal de Deus, se alguém tem algo contra nós e não sabemos, ou se já fizemos tudo que podíamos para resolver a questão, o problema é do outro, não nosso. 
      Dois pontos sobre esse ensino, às vezes alguém tem algo contra nós e nem temos noção disso, pode ser porque somos insensíveis ou displicentes, mas pode ser porque de fato nada fizemos de errado. Se o outro for um cristão educado, deverá tomar a iniciativa para se acertar conosco, ainda que se sinta o lesado na situação. Isso é muito difícil de ser feito, quando nos sentimos vítimas sempre achamos que a obrigação de se acertar conosco é do que achamos ser o agressor. Mas se nos conhecemos e sabemos que temos a tendência de nos ferir com qualquer coisa, melhor é perdoarmos o outro e pararmos de inventar motivos para nos vitimizar. Amadurecer é preciso, em algum momento, aceitemos isso ou continuemos infantis.
      Por outro lado, e esse é o ensino do texto inicial, não deixemos pendências na vida, tentemos acertar, com tudo que nos é possível, indisposições deixadas pelo caminho. Quando temos que fazer isso o Espírito Santo nos incomoda para tal, o obediente não esconde sujeira debaixo do tapete, se sabe que existe algum desconforto com alguém, ora sobre o assunto. Deus é sábio e nos conduz de maneira sábia, assim não precisamos sair forçando aproximações com pessoas que talvez não nos queiram tão perto. Mas na hora que o Espírito Santo orientar podemos parar e bater um papo, dar um telefonema, sem cobrar ou se sentir cobrado, em paz e com respeito. O bem puro sempre dá bons frutos, o tempo e a eternidade mostrarão isso. 

segunda-feira, abril 22, 2024

Menos açúcar

      “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.II Timóteo 1.7

      Quem tem cuidado, ou quem é obrigado a ter cuidado com a saúde depois que constatou que está com nível alto de glicose no sangue, evita açúcar, seja o direto, ou aquele que é transformado a partir de carboidratos, gorduras e outros. O ponto é, podemos passar tanto tempo adicionando açúcar aos alimentos, ao café, ao leite, aos sucos, que na verdade não estamos usufruindo o sabor real dos alimentos, mas só açúcar. Quando paramos ou diminuímos o uso do açúcar descobrimos que certas coisas têm um gosto que não sabíamos que tinham. A princípio pode parecer estranho, difícil para se acostumar, mas com algum esforço conseguimos, então, além de melhorarmos nossa saúde, começamos a provar sabores novos.
      A experiência acima pode ser metáfora para nossas vidas morais e espirituais. Podemos passar muito tempo de nossas vidas viciados em certos prazeres, que se tornam fugas e consolos para dores não resolvidas, ou não aceitas, já que nem toda dor tem solução, precisamos só aceitar e viver bem apesar delas. Vício é mercadoria de escambo, troca-se uma dor por algo que só a princípio é bom, mas que depois torna-se dor pior se não for saciada, assim, ao invés de nos preocuparmos com a dor inicial, que nos levou ao vício, convivemos com a dor da abstinência do vício. Troca-se uma dor por outra, não querendo o alimento puro, adicionamos açúcar e acabamos com problema maior que a não aceitação do alimento natural.
      Crescimento espiritual e limpeza moral têm a ver com abrirmos mão dos “açúcares” afetivos, exageros que não são a realidade, mas que a adocicam para que consigamos conviver com ela. É difícil para quem passou a vida viciado em açúcar livrar-se dele, mas é preciso, senão a “diabetes emocional” pode nos levar a amputações, cegueira, perda de órgãos etc, que em termos morais e espirituais é ter uma existência em parte, infeliz, doente. Açúcar não é ruim, se fosse não o usaríamos, muitas coisas na vida são prazerosas deste o início, por isso nos acostumamos a elas e achamos que não podemos viver sem elas. Contudo, não são “normais”, são excessos, não trazem vida, trazem morte. Que “açúcar” tem feito mal a você? 

domingo, abril 21, 2024

O que é errado no sexo?

      “Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.I Pedro 1.14-16

     Se quisermos resumir o que é errado em sexualidade, podemos dizer isso em duas palavras: violência e poligamia. (Não entrarei no tema homoafetividade, mas está subentendida minha opinião a respeito). Ainda que a intimidade da relação sexual entre adultos tenha lá suas peculiaridades, qualquer agressão, física ou verbal, não é certa e não é necessária, o amor verdadeiro é profundamente respeitoso. Mas o ponto desta vez é poligamia, sabemos que ela era praticada mesmo por personagens importantes do antigo testamento, contudo, não querendo justificar, mas explicar, era um tipo diferente da poligamia daquela que muitos praticam hoje. A prática atual é que não é certa, já que relacionamento monogâmico nos desafia, através do corpo, a exercer virtudes morais.
      Atualmente mídia e ideologias defendem o direito de todos a tudo, essa liberalidade é confundida por muitos cristãos com libertinagem contra a santidade de Deus, assim para negar um extremo caem em outro. Como em outros assuntos, extremando as coisas, as pessoas perdem a lucidez para exercerem escolha que seleciona entre o que é certo e o que não é, é mais fácil usar uma lei. Se a lei antiga proibia tudo, a lei nova libera tudo, em muitos casos, contudo, o correto está no equilíbrio. A poligamia atual já teve outros nomes, casamento aberto, troca de casais, “ficantes”, até o mais novo, poliamor. São nomes diferentes para deixar livre o prazer do corpo para não viver o propósito principal do ser humano no mundo, evoluir moralmente. 
      Mas o nome para toda essa liberalidade irresponsável é um só e antigo, prostituição, ainda que sexo promíscuo com qualquer um não receba dinheiro em troca. O ser humano tem direito a prazer físico? Tem. Mas por que o prazer do corpo deve ser dominado, não liberado? Porque o espírito não tem prazer físico para experimentar, pelo menos não o prazer que o leve a seu objetivo principal na existência, aproximar-se de um Deus espiritual, eterno e santíssimo. Um grande passo de maturidade é não fazer algo, não porque seja errado socialmente ou porque seja-se obrigado a não fazer, mas porque se quer. Escolhe-se fazer porque entendeu-se intelectual e moralmente que é melhor, e o melhor só é conhecido sob a luz de Deus.

sábado, abril 20, 2024

Enquanto isso a vida acontece

      “Na verdade, todo homem anda numa vã aparência; na verdade, em vão se inquietam; amontoam riquezas, e não sabem quem as levará. Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti. Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio dos loucos.” Salmos 39.6-8

      A vida acontece enquanto esperamos pelo Senhor. Para que esperamos? Podemos achar, pelo menos no início, que é para a vida acontecer, mas não é, é para evoluirmos espiritualmente para a outra vida. O que é a vida? Comprar e pagar coisas materiais? Parece tolo, vão, mas na prática a vida da grande maioria das pessoas é isso. Somos seduzidos pelos desejos da carne que veem o que o mundo oferece e querem, muitas vezes nem para usufruirmos, mas só para mostrarmos aos outros que temos. Por isso alimentamos religiosidades e frequentamos cultos tantas vezes, por motivos materialistas, exercemos fé, dizimamos, nos consagramos, decoramos louvores e Bíblia, fazemos caridade, mas para termos coisas aqui. 
      Não podemos generalizar, alguns não são assim, não usam religião para materialismo, alguns entendem a prioridade do espírito sobre a matéria, o propósito maior da passagem neste mundo. Mas muitos, no afã de usufruirem e terem, não percebem que suas vidas passam e que suas jornadas acabam sendo isso, é só quando a relevância espiritual da existência é entendida que começam a esperar em Deus por valores melhores. Para receberem coisas materiais? Não, para serem seres humanos mais limpos e pacientes, assim começam a construir o céu dentro deles no mundo. Enquanto isso a vida acontece, área profissional, estudo, amizades, casamento e trabalho têm importância, mas como cenário de fundo.
      Se o que acontece é secundário, o primário, a realização da espera melhor, só acontecerá após a morte, assim não se espera para ter algo aqui, mas para ter algo para levar para lá. A espera é constante porque o alvo é distante, conhecer a Deus e receber sua iluminação para servir os outros em amor. No início até achamos que a espera vai acabar, dessa forma pode nos frustrar vermos que após a subida de um degrau, um próximo degrau se apresenta, mas é nisso que reside a aventura de existir, caminhar rumo ao alto. Nesse processo Deus nos dá forças e dádivas, para que sejamos motivados a seguirmos perseverantes, mas não nos enganemos, coisas materiais são só o que acontece enquanto esperamos em Deus. 

sexta-feira, abril 19, 2024

Deus cumpre o que promete

      “E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir.Deuteronômio 28.13
      “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” Números 23.19

      Com mais de sessenta anos de vida e com mais de quarenta e cinco convivendo de perto com tribos diferentes de protestantes e evangélicos, tomo certo cuidado com triunfalismo e prosperidade na vida cristã. Sim, creio que Deus nos conduz em paz e dignidade à medida que seguimos perto dele, mas já entendi que viver neste mundo é morrer, para si mesmo, para vaidades e egoísmos. Assim, o melhor de Deus para nós segue o exemplo da vida do Cristo homem, sermos incompreendidos por homens, mesmo (ou principalmente) pelos religiosos, termos que perder muito para ganharmos o principal, que poderemos levar para a vida além. Por isso entender ao pé da letra que seremos neste mundo cabeça, não cauda, é engano. 
      Mas não serei duro demais dessa vez, quem já não recebeu o texto de Deuteronômio 28.13 como palavra de consolo de Deus em momento de angústia? Eu recebi, por isso o estou citando aqui, contudo, creio que o cumprimento real e pleno da promessa desse versículo só ocorrerá na eternidade. Estarás em cima, não debaixo, entendo isso como posição moral e espiritual de luz, não como ser mais rico ou superior de alguma forma a outros seres humanos física e financeiramente neste mundo. Nesse entendimento espiritual precisa ficar claro que quem sobe é para servir a mais pessoas, que precisam mais de auxílio que quem sobe, portanto Deus coloca em cima os maduros, humildes, santos e amorosos para servirem melhor e mais.
      Números 23.19 completa Deuteronômio 28.13, Deus promete vitória a quem o obedece e é para crermos nisso, até o fim. Por mais que pareça durar uma prova, se agradarmos ao Senhor ele nos recompensará, mesmo aqui e com bens materiais justos. Muitas vezes até obedecemos, pudera, já não resta-nos forças nem para pecarmos, portanto obedecemos como única opção, contudo, nesse final de processo podemos estar tão debilitados que não nos lembramos mais das promessas de Deus. Mas Deus não se esquece, é pai de amor, contempla nossas débeis estruturas, vê que somos pó, sabe até onde pode nos provar, não para que morramos, mas para que morra o mal em nós, para então nos honrar e nos fazer cabeça, não cauda. 

quinta-feira, abril 18, 2024

Transbordante

      “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.Lucas 6.38

      Se Deus nos respondesse com exatamente aquilo que pedimos, já seria bom, aliás, se é resposta de Deus, pode ser qualquer coisa, se tivermos humildade entenderemos que qualquer coisa de Deus é tudo que precisamos. Contudo, a bênção de Deus não é exata, ela é transbordante, mas isso, digo novamente, para os humildes e que temem o nome do Senhor. Quem pagou o preço para esperar em Deus, e não saiu apressado tentando resolver a coisa do seu jeito, ainda que não tenha parado de perseverar em amor e santidade, e de fazer a sua parte no trabalho, quando Deus faz a parte dele sente que não precisava de tanto, que Deus poderia ter dado menos que já seria suficiente. Bens materiais têm limites, graça e amor de Deus não têm. 
      Quem confia que Deus dá o que é necessário, quem se fia no que Deus é, não no que dá, sempre receberá mais, mede Deus com generosidade, será medido igualmente por ele, usando o texto bíblico inicial. Quem pede o tempo todo e nunca recebe o suficiente, quem pede errado ou usa errado o que recebe, corre um sério risco. Ainda que busque a deus para receber (e não Deus), ainda que com “fé” (fé equivocada), ainda que mude de igreja procurando pastor que pregue a palavra de prosperidade material que gosta de ouvir, um dia poderá desanimar e desistir (Tiago 4.3). Não é Deus que não o atendeu, mas ele que confiava num deus errado, contudo, se for humilde achará o Deus que dá de forma transbordante e será grato, não rebelde.

quarta-feira, abril 17, 2024

Gratidão!

      “Eu te louvarei, Senhor, com todo o meu coração; contarei todas as tuas maravilhas. Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo.Salmos 9.1-2

      Quando te faltar forças, até fé, louve a Deus. Não precisa dizer alto, cantar ou orar, basta sentir, com sinceridade e convicção. Ninguém é o mesmo o tempo todo, a vida é sequência de fases distintas, como estações do ano. Numa fase o tempo está aberto, a chuva cai na medida, podemos plantar, colher, mas em outra o céu se fecha, faz frio, falta chuva, o homem do campo sabe bem, se a natureza não coopera, nada se pode fazer. Nosso emocional é semelhantemente variável, Deus sabe disso, e quando é tempo de esperar e fazer menos, é sábio guardarmos as forças que temos para nos mantermos limpos moralmente e pacientes. Deus nunca nos deixa sem forças para sermos santos e termos paz, se obedecemos suas palavras de vida.
      Mas podemos ser gratos a Deus, adorarmos seu nome no Espírito Santo, essa é a adoração mais pura, não é racionalização mental nem êxtase passional, ainda que sintamos e entendamos intelectualmente. O fato é que não é mero esforço humano que nos deixa vazios e cansados, mas é conexão espiritual com Deus, e ligados com o Altíssimo há uma via de duas mãos, o buscamos e o Senhor nos alimenta. Alimentados por Deus temos forças para fazer o que ele nos pede, e quando estamos fracos basta que o adoremos, gratos por tudo que ele é e faz. Que nos falte tudo, menos gratidão, gratos somos humildes e humildes passamos pelos outonos e invernos da vida em santidade e paz, certos que Deus está no controle. 

terça-feira, abril 16, 2024

Por fora como por dentro

       “O infiel de coração sofre as consequências dos seus próprios caminhos, mas quem é de bem é recompensado pelo seu próprio proceder.Provérbios 14.14

     O que buscamos fora de nós está diretamente relacionado com aquilo que somos dentro de nós, ainda que nossas palavras digam outra coisa. Por que algumas pessoas estão em religiões com acesso mais próximo a anjos e demônios, digamos assim, não porque sejam más, mas porque interagem com conceitos espirituais profundos e desconhecidos, e ainda assim são gente de bem, fazendo o bem e experimentando uma paz inabalável? Por que outras pessoas, num cristianismo tradicional mais seguro, ainda que mais elementar, até dizem que são crentes e cristãs, mas têm na prática filhos mal criados, casamentos em frangalhos, vidas profissionais sempre na corda bamba? Pode inverter os exemplos também, não trará empecilho para o raciocínio, o fato, é, achamos o que somos. 
      Acha demônio quem carrega demônio em si, ainda que pareça fazer tudo certo, que jure que faz tudo certo, há mentira em sua vida e mentira sempre atrai trevas. Isso explica porque alguns fazem questão de nos passar um marketing pessoal de uma coisa, mas na prática vemos outra coisa em suas vidas. Dentro de nós só nós mesmos e o Espírito de Deus têm acesso, a esposa não tem, o marido não tem, os pais não têm, o pastor não tem, o padre não tem, o psicólogo não tem. Só expurgando do nosso interior toda a treva é que achamos e ficamos na luz. Por isso, mesmo em religião cercada em grande parte mais por demônios que por anjos, muitos estão protegidos, enquanto outros, na “casa de Deus”, têm o mal em si e são infelizes.

segunda-feira, abril 15, 2024

Misericórdia com sonhos alheios

      “Permaneça o amor fraternal. Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos. Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo.Hebreus 13.1-3

      Que Deus tenha misericórdia de nós, que temos tão pouca misericórdia com os outros. Cada ser humano neste planeta, em toda parte do mundo, do mais afortunado e bem suprido com recursos, bens, educação, saúde, alimentação e moradia, ao mais esquecido por outros, sobrevivendo em lugares sujos, expostos às intempéries, a doenças, à exploração, cada ser possui um sonho. Seres humanos querem ser felizes, ainda que seja para terem uma refeição diária e um lugar para repousar o corpo depois de se esforçarem tanto para terem tão pouco. Nós respeitamos o sonho dos outros, os auxiliamos para realizarem seus objetivos de felicidade, ou só julgamos e condenamos, tentando isentar-nos de responsabilidades? 
      Muitas vezes o que para nós parece pouco, mesmo desnecessário, e nisso não está quem faz algo inexpressivo (para nós), mas mesmo em quem faz muito e é até honrado na sociedade por gente importante em alguma área, enfim, como olhamos com displicência disfarçando inveja, para o esforço de tantos tentando realizar seus sonhos. E ainda que não admitamos, não invejamos só por alguém fazer algo importante diante dos homens, mas podemos invejar só por haver boa sinceridade, uma simplicidade e uma humildade que nos faltam e que leva muitos a serem felizes, às vezes com o que aos nossos arrogantes olhos é pouco. Só experimentamos misericórdia quando a damos, tenhamos respeito com sonhos alheios. 

domingo, abril 14, 2024

Por quais motivos viver? (7/7)

      “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras. Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.Eclesiastes 9.7-8

      Um dia desses me peguei feliz, eu, que tenho tendência melancólica, que se não vigiada vira depressão, senti-me eufórico. Contudo, quando a verdade mais alta do Espírito Santo bateu em mim, tão rápida como uma sensação, mas que prestando atenção entendi ser uma palavra de exortação, me senti envergonhado. Calma, não leve ao extremo essas palavras, estou bem, foi uma experiência boa, mas que me fez pensar nos motivos que nos levam a querermos viver e morrer. Cansados dos homens, ainda que não sejamos melhores que eles, e muitas vezes até piores, desanimamos, vemos tanta falsidade, tanta injustiça, tanto jeito torto de viver, dia a dia, que queremos até partir daqui para o além, achando que lá será diferente.
      Pensamos, “a vida seria mais fácil se as pessoas fossem retas, falassem com clareza e buscassem soluções olhando para os nossos olhos, ao invés de falarem por trás, mentindo para manterem aparência e seguirem com problema não resolvido”. Enfim, o mundo é lindo, o que estraga é o homo sapiens, que muitas vezes tem pouco de humano e muito menos de sábio. Contudo, basta comprarmos um celular novo, ou no meu caso que sou músico, um instrumento ou um software musical novo, para acharmos motivos para viver. Foi o que fez que eu me sentisse envergonhado, entender que por motivos realmente importantes, como amar as pessoas, quero fugir, mas para “curtir” um brinquedo novo quero viver para sempre.
      Não leia essas palavras como um peso, Deus é pai de amor, na verdade no momento que escrevo este texto estou cansado e no fim de um período. Deus, mais que eu mesmo, que muitas vezes exijo de mim mais que posso, sabe de meus limites, e o que me deixou feliz, apesar de material, foi bom e necessário. Por mais que queiramos ser cristãos corretos, aceitemos que vivemos em corpos físicos num mundo material, precisamos de certas alegrias e de certos prazeres, não é pecado, o próprio Deus dá-nos com alegria. Mas entendamos que tudo isso é só o que fazemos enquanto aprimoramos nosso espírito com virtudes morais, são essas, não os “brinquedos”, que levaremos para a vida além para serem avaliadas.

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022 

sábado, abril 13, 2024

Do cinza ao multicolorido (6/7)

      “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco.João 20.19

      Se preferir, entenda este texto só como uma ficção cristã, ainda que contenha uma esperança sincera, pessoal e percebida no Espírito Santo sobre como será o céu, mas você não precisa considera-lo informação teológica técnica de acordo com que o cristianismo entende como será a eternidade. 

      Morrer, acordar para eternamente viver, o que há antes da morte é ilusão, só uma sombra. Existir no mundo, sonhar que se é sombra, limitar-se ao cinza da luz filtrada pela matéria, que há atrás do ser real, que dorme enquanto está encarnado e recebe a luz do Altíssimo. Essa luz nunca para de ser emanada, mas se a sentíssemos no corpo quando estamos na matéria não resistiríamos, ser sombra protege enquanto se é provado. O ser real é multicolorido, de um jeito que enquanto somos sombra não fazemos ideia. Antes da morte aqui somos impedidos de ver a luz pelo nosso próprio ser espiritual, nossa consciência adormecida que não olha para a luz que está à frente, mas para a sombra atrás, achando que a realidade é a sombra. 
      Toda beleza e prazer que experimentamos na matéria, o nascer do Sol, a alternância das estações, o abrir perfumado das pétalas das flores, o doce sabor das frutas, a comida simples, quente e gostosa da mãe, o vinho bom, a suave briza marinha que toca nossos rostos enquanto afundamos os pés na areia molhada da praia, a água salgada das ondas que bate em nossas pernas, o entardecer dourado, o aparecimento das estrelas e da lua, o mistério da noite, o sorriso silencioso do ser amado, a luz pura dos olhos das filhas, o sonho dos jovens, a calma dos velhos com as almas limpas de toda culpa, a canção mais tocante, a ficção mais arrebatadora, tudo isso é só uma sombra cinza comparado à realidade que nos espera após a morte.
      Após a morte os sentidos captam sons, imagens, texturas, cheiros, sensações e entendimentos todos de uma só vez, na matéria isso parece complexo, mas no espírito isso é simples. Não há necessidade de palavras ou textos, basta olhar e querer para ser, e não precisaremos ter para estar, pois estamos em Deus e isso basta. Após a morte o amor nos abraça sem limites, não é aperto de braços ao redor de corpos, mas interação de espíritos unindo-se num único ser. Fora da sombra entendemos de fato o que é o amor, somos o amor, nele nos movemos e podemos atrair outros para ele, existindo como emanação da luz do Altíssimo. Morrer é acordar, sair da sombra cinza e se reconhecer eterno e multicolorido, não temamos a morte. 

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022

sexta-feira, abril 12, 2024

E se for tudo mentira? (5/7)

      “Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará. E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia.Salmos 37.3-6

      E se no instante que meu espírito ver meu corpo físico sem vida e o plano espiritual sem véu, eu entender que tudo que o cristianismo me levou a acreditar era mentira, que tudo que entendi sobre Deus e a Bíblia era invenção da minha cabeça? Pois digo com certeza, ainda assim terá valido a pena, eu viveria tudo igual novamente. Por quê? Como poderia negar uma visão de vida que me conduz por um caminho tão lindo, tão libertador, tão correto? Quando estive só, achei um Deus amigo, quando estive errado, achei um Deus perdoador, quando estive enfermo, perdendo a lucidez, não achei extremismo, mas tranquilidade, quando precisei de respostas, Deus me deu todas, iluminou-me mais que aos que me condenam às trevas.
      Quando o rancor tentou enlaçar meus pés, a misericórdia de Deus me libertou, me alcançou e me fez entender que também devia alcançar as outras pessoas, mesmo aquela que se colocava como minha maior opositora. Minha fé não é minha mente imaginando raciocínios para me livrar de responsabilidades, não, mas por um vivo Espírito da verdade, Deus me faz enfrentar minhas verdades, mesmo as sujas e doídas lançadas em meu rosto sem amor pela acusadora que não queria me curar, mas me destruir. Deus usou, mesmo a voz invejosa, que achava que teria sua chama mais acesa se apagasse a minha, assim a agressão, a vingança, tornou-se justiça divina pois Deus me deu humildade para assumir as consequências de meus erros. 
      Por outro lado, os céticos e materialistas, que dizem que Deus é criação do homem, e não o contrário, tenho visto seus caminhos, o início e o fim deles. Começam na arrogância e terminam na desilusão, ainda que enriqueçam nesse mundo não acham paz e amor, são velas apagadas e frias, sem esperança, tentando achar nas causas deste mundo propósito maior para viver. Não desejo o mal a eles, Deus sabe, me entristeço quando os vejo pagando preços caros e desnecessários porque escolhem seguir sozinhos e vazios, devo amá-los, com paciência, a vida só acaba na morte e até lá muita coisa acontece. Quanto a mim, tenho certeza, e já há muito tempo, Deus é real, me ama e me ajuda, a eternidade só tornará isso melhor.

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022

quinta-feira, abril 11, 2024

Mais que reis e castelos (4/7)

      “E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu. E tinha a glória de Deus; e a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente.” “E a construção do seu muro era de jaspe, e a cidade de ouro puro, semelhante a vidro puro. E os fundamentos do muro da cidade estavam adornados de toda a pedra preciosa.” “E as doze portas eram doze pérolas; cada uma das portas era uma pérola; e a praça da cidade de ouro puro, como vidro transparente.Apocalipse 21.10-11, 18-19a, 21

      Romantizamos demais o plano espiritual e o além, baseados em ensinos de homens e em tradicionais misticismos e superstições, não em conhecimento adquirido em diálogo franco, perseverante e bem intencionado com Deus. Franco porque se perguntarmos Deus responde, e se perseverarmos em consagração ele aprofunda a resposta, mas se nossa intenção for a mais pura, se desejarmos saber para sermos servos melhores, assim, para amar as pessoas, Deus retira o véu e sabemos além do exoterismo de muita religião. Na verdade o plano espiritual é bem mais simples que nossas mentes acomodadas à religião pensam ser, por isso mesmo foi mais difícil para um ser humano do passado entendê-lo e aceitá-lo. 
      Éramos muito mais ligados à pompa e circunstância no passado, monarquia, por exemplo, era sistema de governo que sociedades antigas apreciavam. Ainda que um tipo de democracia seja antigo, aceitar que um rei e sua família possuem sangue azul diferenciado, como escolhidos pelos deuses, para estarem em posição superior, temendo-os e também adorando-os, estabelece ordem, mas baseada em ficção, não na verdade sobre os seres humanos. A verdade é que todos os seres humanos têm sangue vermelho, todos são iguais, e podem ser escolhidos para funções pela maioria e por mérito, e em se tratando de política, para administrar algo que é de todos, não deles. Reis eram donos de terras e seres humanos em seus reinos.
      Esse conceito absolutista, onde o rei é servido de luxos e privilégios, foi transferido para a religião, assim para os antigos um céu era um castelo luxuoso onde plebeus teriam direito de ser monarcas. Ficam fora os inimigos, e na monarquia nunca há um só monarca, mas vários, e esses, inimigos entre si. Na ideia romântica da eternidade um ”feudo” prevalece sobre outro de forma pública, assim uns são honrados e outros são envergonhados. Mas se vermos seres humanos como iguais, todos com acesso ao amor de Deus, exaltação e humilhação são privadas, e o exaltado não tem direito de subjugar o humilhado, mas de amá-lo. Isso foi o que Jesus ensinou, isso é o que temos que viver aqui, por que não é o que será vivido lá? 

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022

quarta-feira, abril 10, 2024

Não sejamos demônios (3/7)

      “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.Hebreus 9.27-28
      “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjosMateus 25.41

      Morre-se e imediatamente se é avaliado e se recebe uma pena? Morre-se e se permanece “adormecido”, para num momento que se chama “final dos tempos” ser avaliado e receber a pena junto com todos os seres humanos que viveram no planeta Terra? E quem for ao inferno, se é lugar preparado para diabo e demônios, significa que os seres humanos que para lá forem se tornarão também espíritos malignos? Se isso ocorre logo após a morte significa que muitos que morreram recentemente podem ser hoje demônios, engrossando as hordas malignas para tentarem e prejudicarem os seres humanos ainda vivos no mundo? Espero que tenha entendido a linha de raciocínio, mas resumindo, quem não se corrige pode virar demônio?  
      Mas muitas vezes já não fazemos papel de demônio ainda vivos no mundo, em corpos físicos, quando invejamos, odiamos, julgamos mal, não perdoamos e nos achamos melhores que os outros, nos portando arrogantemente e humilhando as pessoas? Fica mais fácil ver o mal no outro, principalmente em seres espirituais, conforme o cristianismo, condenados pelo próprio Deus a serem maus infinitamente, e isso significa sem fim, não sem início. Dessa forma entendemos, pela teologia tradicional cristã que em algum momento cósmico, diabo e demônios eram bons e escolheram ser maus, e que esses, diferentemente dos seres humanos no mundo, não tiveram direito ao livre arbítrio a partir disso, para serem bons novamente. 
      Podemos ser demônios ainda no mundo, fazendo o mal e sendo ferramentas de espíritos malignos que através de nossa autorização seguem conosco e prejudicam os próximos a nós. A pergunta é: para que você tem se preparado nesta vida, para ser anjo ou para ser demônio? Cada vez que faltamos com justiça em amor com as pessoas somos demônios, e anexamos aos nossos homens interiores, não virtudes morais, mas quesitos que nos capacitam mais para sermos demônios no plano espiritual. Não ache que demônio é conceito distante de nós, que ainda que sejamos errados não somos tão maus quanto eles. Muitos, achando-se “anjos” neste mundo, estão, dia a dia, fazendo cursos rápidos para serem demônios no outro mundo. 

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022

terça-feira, abril 09, 2024

O melhor aqui, é o melhor lá? (2/7)

      “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.Isaías 55.8-9

      Não tem jeito, nossas referências de felicidade e de sofrimento são deste mundo, assim não podemos deixar de imaginar céu e inferno como entendemos ser situações de felicidades e sofrimentos máximos que experimentamos aqui. Ainda que isso não seja totalmente adequado, serve para começarmos a entender as coisas. Para muitos a felicidade maior é dinheiro no banco, mesa farta e cercada de amigos, para outros é um culto abençoado, com uma palavra de desafio da fé, com louvor bem tocado e bem cantado, numa igreja cheia e confortável. Para outros ainda, felicidade é viajar para longe, mesmo sozinhos, com tempo para pensar só em si, sem qualquer interferência ou distração de outras pessoas. 
      Assim céu pode ser uma situação eterna com experiências semelhantes às boas experiências que muitos experimentam no mundo, e o inferno, eternização de situações opostas a essas, portanto de desconfortos. Esse raciocínio não é novo, o ser humano faz uso dele há milhares de anos, por isso todas as ideias de paraíso e danação da existência no além criadas e mantidas pelas religiões. Entendamos e aceitemos uma coisa, Deus não desceu do céu e explicou detalhadamente como será o além, mesmo porque seres humanos antigos não teriam condições morais e intelectuais para entenderem isso. Assim Deus passa conhecimento por “impressões” espirituais que cada ser humano interpreta como consegue. 
      João o evangelista viu, interpretou e registrou como pôde, não leia Apocalipse, e outras passagens sobre eternidade e juízo, como textos rigorosamente técnicos. Comunicação espiritual se faz com a mente, e ainda que o Espírito de Deus seja um e verdadeiro sempre, nossas mentes foram, ainda são e serão por muito tempo inviáveis para compreenderem coisas espirituais como realmente são. Muitos poderão se surpreender se descobrirem que a eternidade não se parece com festas em finais de semana, em lares, bares, clubes ou templos, mas com os outros cinco dias da semana, de trabalho em empresas, com líderes, metas e muito esforço, só que isso com o espírito livre e fortalecido pela luz do Altíssimo. 

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022

segunda-feira, abril 08, 2024

Quem liga para o além? (1/7)

      “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.I Coríntios 15.19-20

      A verdade é que uma grande maioria das pessoas não pensa na vida além, e uma grande maioria de evangélicos também não pensa. Não sejamos injustos, muitos, principalmente no Brasil, estão ocupados em pagar a comida e o aluguel, assim levam aos cultos de suas igrejas essas preocupações. O que interessa, ao que não tem emprego ou não sabe se terá no próximo mês, como será o céu e o inferno? É mais fácil crer no que a tradição cristã ensina e tentar achar fé para pedir que Deus abençoe a vida material aqui. Contudo, se muitos fossem ensinados a se preocuparem mais com a vida além, poderiam ter vidas presentes melhores sob muitos aspectos, moral, espiritual e material. Mas será que esse ensino interessa a muitos líderes? 
      O papa, o bispo, o pastor ou o missionário, mal intencionado, não estou generalizando, nada ganha no céu, só ganha na Terra. Mas igrejas e religiões não deveriam ocupar-se das coisas do outro mundo? Isso não significa religião alienada e extremista, que considera que a aquisição de bens espirituais, que serão avaliados no além, deva ser feita anulando necessidades e instintos físicos, numa situação de isolamento e passividade. O desafio de ser espiritual é ser comum, mente no alto, pés no chão, Jesus deu esse exemplo, e sem fazer crítica a outras religiões, visto que todas são usadas por Deus, exemplo diferente dos dados por outras crenças e espiritualidades. Cresce-se moralmente expondo-se à dura sobrevivência neste mundo.
      Uma palavra define vida neste mundo, morte. Evolução moral e portanto espiritual adquire-se deixando morrer ego, vaidades e egoísmos, essa morte é interior, não física. Morte física é coisa que Deus e só ele decide quando e como será, ainda que nós, com responsabilidade com saúde física, possamos cooperar para que Deus tenha o máximo de tempo possível para nos provar e aprovar no mundo. Ainda assim, ninguém escapa de surpresas, e o universo é especialista em surpreender os arrogantes, que ainda que cuidem bem de seus corpos, do planeta e sejam produtivos e honestos na profissão, desprezam o além e a avaliação que nele haverá para todos os seres humanos. Se ainda não estamos ligando, liguemos mais para a vida além. 

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022

domingo, abril 07, 2024

Aproxime-se mais de Deus (7/7)

      “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.Hebreus 10.19-23

      Quer aproximar-se de Deus? Se afaste de religião. Não estou dizendo saia de igreja, ou pare de frequentar um grupo social num templo, um local físico onde você se socializa com pessoas com crença em comum à tua, e em se tratando de igreja cristã, onde aprende sobre Bíblia e Jesus, alimentos espirituais sempre elevados de Deus para os seres humanos. Estou dizendo para sair de um lugar mental onde interpretações de homens é a verdade de Deus, considerando outras religiões ou falta delas como mentiras do diabo. Isso não é fácil, temos tendência polarizada e extremista, se estamos com um grupo social cremos que ele é mais certo que outros grupos, ainda que não tenhamos disposição explicitamente violenta.
      Não é fácil, mas quem se liberta de homens, sejam eles líderes políticos de esquerda, de direita, de religiões, sejam elas quais forem, católica, evangélica, protestante, kardecista, budista, muçulmana ou outra, quem chega a esse esclarecimento, achará a Deus e conseguirá manter uma relação saudável com sua religião e com todas as outras. Repito, fique numa igreja, seja útil nela, trabalhe, sirva, mas não aceite pecado permanecente, nem líder materialista, contudo, ache Deus, ele tem muito mais para você que a religião tem. Na religião podemos até crescer, mas só até um ponto, depois só uma comunhão íntima com o Espírito Santo para prática de vida santa e em amor e conhecimentos espirituais mais aprofundados. 

“Bíblia, mitologia e verdade”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 20/06/2022

sábado, abril 06, 2024

Fé e ciência, uma verdade (6/7)

      “E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.Colossenses 3.14

      Ocorre algo interessante com ateus e céticos, eles criticam cristãos porque esses, interpretando por exemplo o livro bíblico de Gênesis ao pé da letra, opõem-se à ciência e seguem ignorantes. Contudo, os mesmos defensores da ciência, ao invés de tentarem ver no mesmo livro de Gênesis algo além da interpretação ao pé da letra, o que mostraria que são mais lúcidos e científicos que os cristãos, desconsideram totalmente tal texto, crendo eles que esse texto só contém o entendimento da interpretação ao pé da letra. Ambos creem numa mesma interpretação, um para saber a verdade superficial, é o outro para desconsiderar a verdade profunda, um por um encanto ingênuo, o outro por um ódio cegante.
      Um conhecimento que me deu um upgrade espiritual diferenciado foi o que adquiri no estudo da antropologia, no tema evolução das espécies, e pasmem, crentes e descrentes equivocados, não foi para desconsiderar de vez Gênesis, e muito menos para me tornar adorador extremista da ciência. Pude entender que Gênesis contém mistérios muito mais profundos, que aquele que uma interpretação ao pé da letra dele entrega, mistérios que não negam a ciência, concordam com ela, assim como confirmam a fé genuína. Não se chega e se permanece em lugar melhor e mais alto por ódio, nem pela ciência e nem pela fé, crentes e ateus precisam de amor, esse confere inteligência ao coração e à mente, e conduz todos a Deus. 

“Bíblia, mitologia e verdade”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 20/06/2022

sexta-feira, abril 05, 2024

A verdade é uma cebola (5/7)

      “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração.Salmos 15.1-2

      O que é a verdade? A verdade é uma cebola, camada por camada vai sendo retirada, a cada camada, lágrimas. Os judeus construíram sua mitologia, Moisés registrou muito dela, e é importante entendermos que Moisés foi criado debaixo de cultura e espiritualidade egípcias. O catolicismo também gerou uma mitologia cristã, selecionando textos para o cânone bíblico, discutindo teologia, dogmatizando doutrinas, legalizando o que era oficial sobre vida e ensinos do Cristo. Quando dizemos mitologia dizemos que nem tudo que veio até nós é fato histórico, portanto verdade, mas informações originais as quais foram sendo adicionadas novas informações assim como subtraídas outras, até chegarmos ao entendimento atual. 
      Quem não quiser envolver-se emocional, moral e espiritualmente com a jornada em busca da verdade, que fique com a fria ciência, essa é conveniente para os que não querem assumir-se como eternos espíritos feridos necessitando de cura, mas só como intelectos auto-suficientes. Verdade se acha primeiramente dentro de si, e por ser verdade nem sempre é boa ou agradável, então constata-se a necessidade de melhoria e acha-se a verdade de Deus para tal. Só depois de muitas lágrimas, da verdade pessoal ser assumida e aperfeiçoada, é que Deus nos mostra outras verdades espirituais, e isso nada tem a ver com verdades científicas. Já descascou tua cebola, ou parou nas primeiras lágrimas da primeira camada da religião? 

“Bíblia, mitologia e verdade”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 20/06/2022

quinta-feira, abril 04, 2024

Preparado para a verdade? (4/7)

      “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. E nisto conhecemos que somos da verdade, e diante dele asseguraremos nossos corações; sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas. I João 3.18-20

      Se está preparado para a verdade busque-a e a achará, se não está, não tem problema, Deus te ama do mesmo jeito, só assuma que você se liga ao Senhor por uma ferramenta limitada. Falta humildade, não para ser fiel a uma religião e ser cuidado por Deus através dela, mas para assumir que religiões são construções humanas, que textos sagrados não são verdades históricas, e que a ciência, ainda que ateia e muitas vezes rancorosa com a fé, diz verdades sobre religião e textos sagrados que muitos crentes e religiosos não querem aceitar por orgulho. Caminhos limitados têm fim, e quando esse chega não se encontra mais respostas, contudo, muitos cristãos ao invés de assumirem isso começam a inventar respostas.
      Só aprende mais quem não sabe tudo, mas como muitos aprenderão se acham que já sabem tudo? Sabem porque suas religiosidades ensinam tudo? Não. Religiões deveriam ser os primeiros passos, que o próprio Deus usa para iniciar seres humanos na fé, no mundo espiritual e na aquisição de virtudes morais. Muitos, contudo, por comodismo e medo, estacionam nelas, ainda que saibam que a fé e o conhecimento do mundo espiritual que adquiriram por elas, não lhes permitem praticar mais virtudes morais. O objetivo principal da religião e de seus textos não é saciar curiosidade espiritual, mas fazer as pessoas moralmente melhores, santas e amorosas, esse é o fruto a ser verificado para saber se estamos na verdade. 

“Bíblia, mitologia e verdade”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 20/06/2022

quarta-feira, abril 03, 2024

Mitologia israelita (3/7)

      “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.I Coríntios 13.9-10 

      Evangélicos, quando ouvem o termo “mitologia grega”, ligam-no à mentira e maldade. Mentira porque muitos desses acham que mitologia é uma invenção, um exagero, que depois é idolatrado. Maldade porque se é idolatrado é colocado no lugar do verdadeiro Deus, assim mitos são falsos deuses e falsos deuses estão ligados com o diabo, pensam muitos evangélicos. Contudo, não entendem assim muitos registros do antigo testamento, mas também muitos eventos relatados no novo testamento sobre a vida de Jesus homem e mesmo dos ministérios dos apóstolos. Muitos cristãos não aceitam, mas muito que há na Bíblia também é mitologia, mitologia judaica e católica, ainda que não seja por isso que Deus não use a Bíblia. 
      Mito é uma representação de fatos e/ou personagens históricos, amplificados através do imaginário coletivo e de longas tradições literárias orais ou escritas. Pode ter sido iniciado com um fato real, mas com o tempo foi ganhando ou perdendo informações até se tornar um mito. Assim devemos ver os primeiros capítulos de Gênesis, a saída de Israel do Egito, a “história” de Jó, bem como muitos feitos extraordinários do Cristo, negar isso é negar a verdade. Mas entenda, evangélico que acha que isso nega de alguma forma tua fé e teu Deus, não nega! Deus nunca precisou e nunca precisará de acuidade científica e histórica para ensinar o homem e abençoá-lo, contudo, já é tempo da cristandade aceitar certas verdades. 

“Bíblia, mitologia e verdade”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 20/06/2022

terça-feira, abril 02, 2024

O pai de amor acompanha (2/7)

      “Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com CristoEfésios 2.3-5a

      De alguma forma, no século IV d.C., um grupo de homens venceu e tomou o poder na religião cristã, seja por motivos militares, políticos ou econômicos, e se é no mundo é por esses motivos, não por morais ou espirituais. Essa é a coisa básica para entendermos porque, como e para quê a religião católica foi oficializada. Nos enganamos quando achamos que o homem foi melhor em algum tempo, fatos mostram que deveria ser pior, visto que tinha menos conhecimento científico e mais preconceitos, principalmente sexismo e racismo. O ser humano do quarto século não foi melhor para construir um cristianismo baseado nos verdadeiros princípios evangélicos, ainda que historicamente mais próximo da vida do Cristo homem.  
      Como hoje há líderes cristãos mal intencionados, havia no quarto século. Argumenta-se, “a criação do cristianismo e do cânone bíblico, Deus acompanhou, para entregar à humanidade meios adequados para conhecê-lo”. Sim e não, nada ocorre sem autorização de Deus, mas Deus não interfere no livre arbítrio, assim como não revela verdade a ser despreparado. Como pai de amor que acompanha o filho de longe, pois longe se coloca o filho dele, esperando pacientemente para se aproximar e ensinar coisas melhores, assim é Deus. Quem discorda da imperfeição das religiões cristãs que avalie os frutos dessas pelos séculos, ou foram, a maioria, frutos dignos de religião e Bíblia sem qualquer manipulação humana? Penso que não. 

“Bíblia, mitologia e verdade”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 20/06/2022

segunda-feira, abril 01, 2024

Não é um livro histórico (1/7)

      “Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor Deus me enviou a mim, e o seu Espírito. Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar.” Isaías 48.16-17

      Quando Cristãos mais se equivocam sobre Deus é quando leem a Bíblia como se fosse um livro de história, um jornal, ainda que antigo, de fatos reais ocorridos. Dessa forma tudo que leem é interpretado como verdade absoluta, principalmente por serem ensinados que o autor do texto é Deus. Como ir contra fatos registrados pelo próprio criador e Senhor do universo? O resto, desconsideração de contextos, preconceitos antigos, visão ultrapassada de mundo e do ser humano, não é levado em consideração, todas as dúvidas são relevadas quando uma verdade divina é imposta. A simples dúvida disso é considerada pecado, punível com o mesmos castigos dados ao diabo e seus demônios no inferno. 
      Mas mesmo quem estuda história secular de forma científica, aprende, numa das primeiras lições, que registros históricos não são necessariamente fatos reais, são a visão de homens, geralmente dos vencedores em disputa militar, política ou econômica. Assim o que é escrito em livros e celebrado em monumentos é leitura conveniente a alguns, não a verdade, e muitas vezes o que nos revela a verdade sobre muitos é a mentira que eles dizem, porque, como e onde dizem. Como descobrimos a verdade? Em termos humanos, estudando vários pontos de vista, não só dos vencedores de um momento, mas também dos perdedores, depois conciliando isso. Em termos espirituais achamos a verdade dialogando com Deus. 

“Bíblia, mitologia e verdade”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 20/06/2022

domingo, março 31, 2024

Só a luz resiste ao tempo

      “Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti; porque eis que as trevas cobriram a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a sua glória se verá sobre ti.” “E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado. O menor virá a ser mil, e o mínimo uma nação forte; eu, o Senhor, ao seu tempo o farei prontamente.Isaías  60.1-2, 21-22

      Levantamos muitas avaliações e críticas aqui, ainda que embasadas em fatos, muitos podem achar que é só fala revoltada contra igrejas cristãs, portanto, injustas e mentirosas. Não creio que uma pessoa possa convencer outra pessoa, uma pessoa só pode ser convencida por si mesma, contudo, podemos lançar informações. Se entendermos que isso faz parte de um processo a longo prazo, em que somos simples colaboradores do tempo e do Senhor, entenderemos que o mais sábio é jogarmos essas informações com amor, com calma, com paciência, nunca querendo colher algum fruto imediatamente. Com o passar do tempo, trevas se dissipam, só a luz permanece, porque ela vem de Deus e esse é sobre tudo e todos. 
      Prossigamos, pela fé, não pela vista, em paz e humildes, abrindo mão da vaidade de querer dar a última palavra e de ter o melhor argumento, afinal, a obra é nossa ou de Deus? Se Deus criou e atrai todos os seres humanos em amor para sua luz mais alta, usando toda a eternidade para aperfeiçoar cada ser, quem somos nós para nos acharmos donos de alguma coisa ou com direito à alguma glória? Sim, cada ser tem e terá sua glória, mas como espelho limpo e cristalino que reflete luz que não origina de si, mas do alto. Assim, ainda que as trevas estejam ao nosso redor, e que muitos a amem mais que a luz, autorizando que luzes estranhas brilhem sobre si, tentando construir um falso reino de Deus no mundo, só a luz do Altíssimo é eterna. 

sábado, março 30, 2024

Ser em trevas é diabo (10/10)

      “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos. Desde os dias de vossos pais vos desviastes dos meus estatutos, e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar?Malaquias 3.6-7

      Se Deus é luz, o diabo é trevas. O que há na luz? Tudo, nela vemos onde estamos, de onde viemos, para onde podemos ir, sem batermos em paredes, cairmos em buracos, esbarrarmos em outros seres, ou invadirmos lugar que não é nosso. Nas trevas também há tudo, só que quem está nelas não enxerga, assim a escuridão não está no universo físico ou no espiritual, mas dentro dos seres. O que adianta estarmos em lugar iluminado se estamos cegos? Há luz em tudo porque nada escapa da luz de Deus, ele está em todos os lugares. Não há um lugar de trevas, trevas e inferno estão dentro dos seres que não querem estar perto de Deus. A essa escolha Deus respeita, o único espaço que a luz de Deus não entra é o coração que não quer Deus.
      Todo ser que carrega trevas dentro de si é um “diabo”, é assim neste mundo e será no outro, agora se essa situação é infinita é uma questão que fica para cada um responder, a teologia tradicional protestante diz que sim. Mas novamente repito aqui, cânone bíblico e doutrina cristã são construções de homens, Deus não desceu e os registrou em pedras, pergaminhos ou papel, Jesus nunca escreveu uma linha, não que chegasse até nós. Construções religiosas são convenientes a homens em seus tempos e espaços, só o Espírito Santo é vivo e representante oficial de Jesus no mundo. Quer saber a verdade sobre o diabo? Pergunte ao Espírito Santo, mas faça isso com perseverança e consagração, sem medo de saber a verdade. 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

sexta-feira, março 29, 2024

Antítese de Deus (9/10)

      “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” “Não conhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz. Por isso o juízo está longe de nós, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão.Isaías 59.1-2, 8-9

      O estudo do diabo pode revelar muito sobre o ser humano em seu atual estágio de evolução moral, e levando em conta principalmente as mentiras sobre o diabo. Que diabo realmente existe? A ideia mais tradicional do diabo não crê num ser que contém maldades, mas na maldade contendo um ser, assim o diabo não é maligno, ele é o mal, com identidade, inteligência, sentidos e membros, ainda que não físicos. Sendo assim, a coisa mais importante que temos que fazer para saber o que de fato é o diabo é desconectar o mal do ser, ver o mal como escolha, não como quem escolhe. Ver o mal como um ser é confortável para seres humanos que não querem assumir seu mal, mas jogar o mal no outro, em alguém fora dele. 
      Mas o que de fato é o diabo? Antítese de Deus, mas só entendemos o que é o diabo de verdade se entendemos quem é o Deus verdadeiro. Se nos equivocarmos com relação a Deus, nos equivocaremos na mesma proporção em relação ao diabo. Um Deus infinitamente punidor pede um diabo que merece ser punido infinitamente, assim à medida que se constrói um Deus limitado para amar, se constrói um diabo limitado para receber amor. Se o diabo está condenado irremediavelmente, Deus não pode amá-lo, como amaria alguém que está condenando a um inferno sem fim? Se amasse o salvaria, lhe daria chance para se arrepender, ainda que demorasse milhões de anos. Mil anos para Deus não são como um dia? (II Pedro 3.8

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

quinta-feira, março 28, 2024

Se cremos, existe? (8/10)

      “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?João 11.40

      Se analisarmos a história da humanidade veremos que a trajetória da concepção que o ser humano faz do diabo moveu-se do distante e genérico para o próximo e específico. Um mal que causava catástrofes sobre a Terra, tornou-se o deus estranho de uma nação inimiga, depois o diabo que trazia pestes e fomes para a sociedade, e finalmente um demônio pessoal que atua sobre o indivíduo. Seja como for, algo há para que o mal seja aliado a um ser espiritual, fé, essa está intrinsecamente ligada a duas coisas, imaginação e evocação. São conceitos espirituais que cristãos usam, ainda que não saibam, mas que ocultistas e esótericos manipulam mais objetivamente, ainda que de forma perigosa e nem sempre bem intencionada. 
      O que tem o diabo com isso? Não usamos fé só para nos ligarmos a Deus e pedir-lhe coisas, e quando fazemos isso imaginamos o que queremos receber, e que ainda não existe, e evocamos a existência disso com palavras pela oração. Mas mesmo inconscientemente geramos um mal e um diabo dentro de nós, que pode mais prejudicar que beneficiar. Também fazemos isso deixando a imaginação correr solta e verbalizando essa fantasia, assim o formato do diabo é ensinado e passado de geração para geração. Nada mais confortável que um mal legitimado por instituição religiosa para receber todo o medo e toda a responsabilidade pelo mal que há em nós. O diabo que há é o diabo que cremos. Em que diabo você crê? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

quarta-feira, março 27, 2024

Qual o tamanho do diabo? (7/10)

      “Ora, pois, fala agora aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Eis que estou forjando mal contra vós; e projeto um plano contra vós; convertei-vos, pois, agora cada um do seu mau caminho, e melhorai os vossos caminhos e as vossas ações. Mas eles dizem: Não há esperança, porque andaremos segundo as nossas imaginações; e cada um fará segundo o propósito do seu mau coração.Jeremias 18.11-12 

Desculpe-me os versículos um tanto negativos,
a ênfase da reflexão é o termo “imaginações”,
todos somos enganados por nossas imaginações
de vez em quando, nelas pode não haver esperança,
em Deus sempre há, se há conversão em nós.

      Histórias (ou estórias) de fantasmas, de monstros, em livros e filmes de terror, sobre o sobrenatural, sobre pactos com o diabo e sobre conjurações demoníacas, quantas coisas medonhas lemos, vemos e ouvimos nisso tudo. Se estudarmos a história da humanidade veremos que a ideia que o ser humano faz do diabo muda, a imagem mais popular que temos hoje de satanás (recomendo leitura do texto desse link, bem esclarecedor) foi construída pelo catolicismo da idade média. Mas essa ideia mudou conforme o medo do ser humano de um tempo, nos tempos mais antigos o medo era dos fenômenos da natureza, do raio, das tempestades, do vento, de desastres naturais e mesmo dos oceanos não mapeados e de meteoros e astros.
      Na antiguidade o medo era de exércitos inimigos de nações distantes, na idade média o medo da peste negra assolou a Europa, mas aproximando-se o século XX o medo tornou-se mais subjetivo, moral, psicológico, espiritual. A ciência colaborou curando muitas coisas e explicando outras, assim como descobrindo mecanismos, que ainda que invisíveis a olhos nus, existem dentro do ser humano e o influenciam, como vírus, elementos atômicos, e mesmo conceitos psicológicos como subconsciente e traumas. Ainda assim muitos insistem numa ideia antiga do diabo como sendo a verdadeira, não aceitam que o diabo tem o formato do mal que fantasiam dentro de suas mentes. Qual o tamanho do teu diabo? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

terça-feira, março 26, 2024

“Sinto algo estranho” (6/10)

      “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.” Jeremias 17.9-10 

      Você já deve ter dito, ou ouvido alguém dizer, “sinto algo estranho, não me passa boas impressões”, aliando algo, alguém ou alguma coisa, palavra ou atitude, a algo mau, diabólico. Até que ponto podemos confiar em nossos sentimentos e percepções? Na verdade podemos confiar, se uma percepção existe é porque fomos impressionados de alguma forma por algo diferente, o que não podemos é confiar em qualquer interpretação desse sentimento. Muitos fazem com que nos sintamos mal, não por serem maus para Deus, mas por nos deixarem desconfortáveis, e ficamos assim porque nos baseamos em nós, não em Deus. Quando baseados em Deus, percepção ruim pode de fato ser efeito de ação real de mal verdadeiro.
      Mas quem está pronto para esse discernimento? Mesmo quem busca esse discernimento em verdade e com esforço prova-o de forma gradativa, Deus sempre responde, mas de formas adequadas às limitações do que pergunta. Uns perguntam onde está o mal e Deus diz que está num país, outros fazem a mesma pergunta e Deus responde que está numa região do país, a outros responde que está numa cidade, finalmente a outros Deus diz que está num ser específico. Verdades genéricas também são verdades, mas protegem despreparados para verdades específicas. Para que verdades estamos prontos, já amadurecemos o suficiente para minúcias, ou Deus tem que nos tratar como crianças dando-nos só informações genéricas?

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

segunda-feira, março 25, 2024

Com o diabo na cabeça (5/10)

      “E vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.Efésios 4.23-24

      Há um medo intrínseco dentro de todo ser humano, isso desde que o primeiro homo sapiens recebeu um espírito, pôde ter comunhão com o mundo espiritual e interagir com o mundo físico diferentemente de como animais irracionais interagem. De que é esse medo? A mente pode ligar os pontos e aliar medo a coisas diferentes, a homens, à natureza, a espíritos, coisas visíveis e invisíveis, que existiram, existem ou existirão. Que nomes e formas são dados aos medos na mente dos seres humanos? Depende, da formação emocional, intelectual e religiosa da pessoa, da sociedade e da cultura onde vive, do momento histórico em que vive, do grau de desenvolvimento científico de seu meio e do acesso que tem a esse desenvolvimento. 
      Isso nos faz pensar até que ponto o que muitos dizem, pensam e escrevem, incluindo em textos religiosos, sobre o diabo, é sobre um ser real, ou é só criação de mentes humanas, isso ainda que de fato existam seres espirituais malignos e que escolhem ficar assim por muito tempo. Conexão espiritual se faz pela mente, seres espirituais malignos reais se aproveitam de mentes doentes, assim confirmam mentiras que essas criam sobre eles, se falassem a verdade não seriam maus, mentira vangloria o mentiroso. O diabo não pode ser um só para todos, examinemos mitologias de tempos e sociedades diferentes e constataremos isso. O mal é um, o diabo tem muitas caras, será então que podemos limitar o diabo ao conceito cristão? 


“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

domingo, março 24, 2024

E se o diabo não existisse? (4/10)

      “Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” Mateus 15.17-19

      Alguns dizem que uma das melhores táticas do diabo é convencer as pessoas que ele não existe, concordo com isso. O diabo existe! É real o suficiente para fazer muito estrago nas cabeças e nas vidas das pessoas. Entretanto, a questão é: que estética formal ele tem e que armas ele usa? Isso é muito variável e subjetivo. Por incrível que pareça uma figura que algumas pessoas chamam de Deus dentro delas, pode na prática estar fazendo mais papel do diabo em suas vidas. Quando se crê num “Deus” prepotente, cobrador e punidor, se crê mais na dor que um ser poderoso causa se for desobedecido que propriamente no ser e em seu amor. Muitos respondem, “você está fazendo apologia a um “Deus” que por amor aceita o pecado”. 
      Não estou! Quem quer viver em pecado não busca a Deus, se busca, não acha, e se acha não consegue continuar perto dele. Deus não faz sofrer quem lhe desobedece, é o desobediente que não quer assumir seu erro e deixá-lo que se afasta de Deus. Longe de Deus há inferno, simples assim, e há a companhia de seres, físicos ou espirituais, que também querem ficar longe de Deus, seres que podemos chamar de demônios, também simples assim. Deus nunca deixa de ser santo, assim como nunca deixa de amar e atrair o ser humano, mas só fica perto de Deus, num “céu”, quem se santifica e ama, novamente digo, simples assim! Que papel tem um ser que permanece por muito tempo mau, um “diabo”, nisso? Prejudica só a si mesmo.

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

sábado, março 23, 2024

Deus precisa do diabo? (3/10)

      “Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.6-7

      A premissa da teologia da tradição judáica-cristã, mais católica que judáica ou cristã, é a de uma eterna rivalidade entre dois polos. Dessa forma Deus é mostrado muito mais como Senhor dos exércitos, que sempre vence guerras aniquilando inimigos, que como Pai de amor, que redime a todos. Apesar do catolicismo ter alinhavado uma doutrina que tenta mixar o Cristo do evangelho de amor com o Senhor dos exércitos da velha aliança, se pararmos para pensar com cuidado isso é inviável, ou Deus é uma coisa ou é outra. Contudo, protestantes e evangélicos aceitam essa doutrina esquizofrênica como verdade, porque ela é razoável? Não, porque eles têm medo de pensar e pôr alguma dúvida nela, dúvida é do diabo, creem muitos.
      O Pai de amor não precisa do diabo, o Senhor dos exércitos, sim, não se pode ser vencedor glorioso em batalha sem ter oponente à altura. Luke Skywalker precisa de Darth Vader, ainda que esse seja seu pai, que ironia nessa ficção, mas com um mistério real. Se um deus precisa manter um mal eterno para ser deus, ele depende do mal, não é cem por cento poderoso e bom. Ou é fraco por não poder aniquilar o inimigo, ou é sádico que mantém criatura sua em infinito tormento. Um Deus cem por cento bom não precisa do diabo, seu amor é suficientemente poderoso para transformar todo mal em bem, ainda que demore uma eternidade, dando a todos sempre livre arbítrio. Se o diabo não existisse, será que muitos cristãos seriam cristãos? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

sexta-feira, março 22, 2024

Confortável maniqueísmo (2/10)

      “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.Apocalipse 20.10

      O versículo acima é a última citação bíblica sobre o diabo, pela teologia cristã tradicional revela um dos eventos terminais da história da humanidade. Creio que ele tem um ensino importante de Deus para o ser humano, mas não penso que seja o ensino da velha e confortável interpretação maniqueísta da Bíblia. Essa entende que o mal do universo está centrado num único ser espiritual, que se não nasceu mau escolheu sê-lo e isso não mudará mais. Ainda que o ser humano tenha livre arbítrio para escolher em que lado quer ficar, se do lado do bem ou do mal, assim, se do lado de Deus ou do diabo, e se escolher o lado do diabo terá o mesmo e eterno fim que ele, o diabo e seus demônios não têm direito a livre arbítrio, não mais. 
      Esse entendimento cria, mantém e empodera o mal quase que com potências iguais a Deus, quase, já que no final ele perde. Católicos e evangélicos aceitam isso como dogma, e questionar isso, mesmo na menor instância, é se colocar do lado do diabo. Esse dogma mantém-se vivo pelo medo do diabo, já que mesmo quem não tem aquela comunhão mais profunda e gratificante com Deus, permanecerá vendo as coisas desse jeito com medo de sofrer as penas reservadas por esse Deus ao diabo. Assim caminha a cristandade, com pouca fé em Deus, mas com muito medo do diabo. Você já se questionou até que ponto se diz cristão e crê na Bíblia, não porque tem paz e vitória com isso, mas porque tem medo de duvidar disso? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

quinta-feira, março 21, 2024

Por que há diabo na Bíblia? (1/10)

      “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.Gênesis 3.1-5

      O texto inicial contém aquilo que a tradição judaica-cristã considera a primeira citação bíblica do diabo, ainda que nenhum de seus nomes conhecidos seja usado. No antigo testamento o termo diabo não é citado, o termo satanás é citado 14 vezes, só no livro de Jó, e outras 5 vezes em outros livros, já o termo lúcifer é citado uma vez (“estrela da alva” em Isaías 14.12), belial, outro termo atribuído ao diabo, aparece 12 vezes. Nessa estatística usei uma versão tradicional da Bíblia, mas o número pode variar de versão para versão, mas nessa diabo aparece só 32 vezes em todo o antigo testamento. Outras citações no antigo testamento ficam por conta dos nomes dos deuses das nações não israelitas, baal, baalim, astarote, quemós, milcom. 
      No novo testamento, menor no texto e no tempo que descreve, consta pelo menos o dobro de citações de termos usados para diabo. Por que existe um diabo na Bíblia? Porque existia um diabo na cabeça das pessoas que registraram a Bíblia, e pelo que parece mais na cabeça das pessoas do novo testamento que do antigo. O monoteísmo não unificou Deus, mas os seres espirituais do mal, assim foi criado o maniqueísmo, a luta de um único Deus contra um único diabo. Mas “autorizando” santos como intermediários entre seres humanos e Deus, o catolicismo dividiu Deus como os judeus do antigo testamento não faziam. O mal se tornou um, o bem, muitos, será que dessa forma o catolicismo não distanciou Deus e aproximou o diabo? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

quarta-feira, março 20, 2024

Politeísmos e monoteísmo (3/3)

       “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.Efésios 4.4-7

     A grande contribuição que a religião dos israelitas dos tempos do antigo testamento entregou ao cristianismo e à humanidade, principalmente à ocidental, foi o monoteísmo. Mas seriam os santos católicos um retrocesso, uma volta ao politeísmo? Não, ainda que para muitos possa ser. Repetindo, o ponto não é a forma do objeto usado para focar fé e espiritualidade, mas a intenção dentro do coração do que foca. Na verdade sempre houve e sempre haverá politeísmo, assim como sempre houve e sempre haverá um Deus superior às potestades e aos principados espirituais, todos os seres que existem no plano espiritual, anjos, demônios, desencarnados, entidades, seja lá o nome que se dê, dentro ou fora da tradição judáica-cristã. 
      Quem muda é o ser humano, que com o upgrade da ciência denomina seres espirituais com nomes diferentes. Panteão greco-romano, santos católicos, almas de mortos, anjos e demônios, não seriam a mesma coisa? A lição a aprender é que a evolução científica e emocional do ser humano cria imagens mentais diferentes de seres espirituais reais. Não pense que eu não queira concluir esta reflexão, mas não devo, faltaria com respeito com muitos e escandalizaria outros, o que posso é dar meu testemunho. Conecto-me com o Deus Altíssimo por Jesus, experimento essa conexão, falando e ouvindo, pelo Espírito Santo. Se esses nomes estiverem na relação manteremos contato seguro com o bem e a verdade maiores.