quarta-feira, agosto 31, 2022

Crer sem saber (31/92)

      “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” João 11.40

      Qual o interesse de Deus para a humanidade hoje, com relação às coisas espirituais: que ela explique cientificamente essas coisas ou que aprenda a confiar nele? É que ela aprenda a confiar nele, porque só ele pode levar os seres humanos a conhecerem e praticarem as virtudes morais mais elevadas. Usar a fé não é fraqueza, é fortaleza porque nos leva a ter comunhão com o único que pode nos tornar realmente fortes, não só na matéria, mas no espírito. Quem tem dúvida, crê, mas quem crê não terá mais dúvidas, ainda que seja aberto para fazer novos questionamentos, eis o paradoxo da fé. Isso não significa que você tenha que duvidar de Deus, mas que deva ter uma fé inteligente que confia, prova, questiona e acha a verdade. 
      Vou dar um exemplo. Quem sabe que existe céu e inferno não precisa crer, já racionalizou isso e aceitou sem questionar, mas quem crê no amor maior de Deus está aberto para que exista mais que penas eternas. O conhecimento de Deus é gradativo, cremos e temos paz, se não há paz, nem questione, ande sempre conforme a porção de fé que recebeu e que te conduz em paz. Mas quem anda de perto com Deus sempre será confrontado a saber mais, assim precisará de mais fé, já que novos questionamentos são feitos e novas respostas poderão ser conhecidas. Fé é viva, não é morta e estagnada, não porque tenha firmeza para receber coisas materiais maiores, mas porque tem a extensão para saber mais sobre o mundo espiritual. 
      Deus pode usar mais a dúvida que a certeza, na dúvida somos humildes e cremos, não nos achamos bons o suficiente para entendermos as coisas de Deus. Já na certeza nos achamos donos da verdade e assim pensamos que podemos seguir só por sabermos, sem termos que confiar em Deus. A religião e o mundo espiritual podem ser explicados cientificamente? Talvez um dia, contudo, acho impossível e desnecessário nos atuais níveis moral e intelectual do homem, como tentam fazer, por exemplo, os espíritas kardecistas, quando denominam suas óticas espirituais como ciência. Ainda não é momento para isso, convém ao ser humano que precise crer para ser humilde, ainda que o desenvolvimento científico tenha mudado isso. 
      Antes de termos as ciências médica e farmacêutica desenvolvidas o ser humano acreditava mais sem saber, ainda que muito em superstições e curandeirismos, mas no meio disso havia mais religiosidade. Por que não vemos hoje em igrejas evangélicas tanta expulsão de demônios como víamos há trinta anos atrás, ou na época de Jesus? Porque a psicologia e a psiquiatria têm tratado as pessoas, e não estou dizendo que não existam reais casos de possessão demoníaca, nem que tudo seja transtorno mental. Contudo, saber levou o ser humano a crer menos, e a ciência está aí para isso, para que saibamos, e ninguém a despreze, é dom de Deus tanto quanto os dons espirituais, ainda que se ocupando atualmente mais da matéria. 
      Enganam-se e bastante muitos cristãos que pensam que ciência é, de alguma forma, instrumento do diabo, para levar as pessoas a não crerem em Deus, isso é matar o cão para se livrar das pulgas, e me perdoem a metáfora. As pessoas precisam aceitar que usar um remédio para matar as pulgas não faz do veterinário o cuidador do cão, aquele que levou o cão ao especialista é o cuidador, mas que teve a humildade para reconhecer que não sabia tudo e que podia usar a ajuda de outros para ajudá-lo no cuidado de seu amado animal. Muitos, contudo, por orgulho têm preferido matar o cão só para não admitirem que seu afeto pelo animal não substitui a medicação dada por outro. Ciência é sofisticada ferramenta de Deus. 
      Mas nada impede tolos de serem tolos, nem as verdades espirituais únicas e profundas de Jesus Cristo e muito menos os conhecimentos sérios das ciências impedem, mas que se culpe o ferramenteiro, não a ferramenta, principalmente se ela é dom de Deus. Mas assim como nas coisas espirituais cremos porque não sabemos e assim devemos estar sempre abertos a novos questionamentos, ainda que confiando em Deus sejamos abençoados e ensinados pelos conhecimentos espirituais mais elevados, os cientistas e materialistas, talvez até mais que os crentes religiosos, deveriam estar abertos para todas as possibilidades, incluindo a existência do mundo espiritual, de um Deus espiritual e de uma eternidade espiritual. 
      Crer é confiar sem saber e sabendo que se saberá ainda menos depois que o que se crê se realizar, mas essa é a mais maravilhosa aventura que somos chamados a vivenciar no universo. Existe um véu entre o mundo material e o espiritual, por isso nossos olhos físicos não podem ver, nossos ouvidos físicos não podem ouvir, nosso corpo não pode sentir o mundo espiritual, quem retira esse véu é a fé. Ela não é só uma chave que libera nossa imaginação, que nos permite criar imagens, sons, sensações, que chamamos de experiências espirituais, não, caros ateus, não é isso. Fé é um voto de confiança no mistério, que só precisa disso para que experimentemos o mundo espiritual, e creiam, quem acredita enxerga a glória de Deus. 
      Engana-se o que acha que essa fé pode ser objeto de exaltação humana, que deva ser escancarada nos púlpitos a fim de convencer incrédulos que é fácil obter coisas materiais sem o esforço apropriado. A fé mais profunda é delicada, qual pequeno pássaro que pousa à nossa frente, no gramado de uma praça, se respirarmos um pouco mais alto ele voa e vai embora, quem a alcança cala e guarda. Infelizmente é o oposto disso que vemos principalmente em púlpitos pentecostais, pregadores esbravejando suas pretensas capacidades espirituais, como se fé fosse mérito do crente. Quem crê, vê a glória de Deus para a glória de Deus, não para si, a glória de Deus é espiritual, fé cresce à medida que vislumbramos além da matéria.

Leia na postagem de ontem e nas
próximas as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 8/10/2021

terça-feira, agosto 30, 2022

O mistério da fé (30/92)

      “Guardando o mistério da fé numa consciência pura.” I Timóteo 3.9

      Nós gostamos de ter controle sobre as coisas, assim queremos ter certezas, se não temos, sofremos. Pessoas de nível financeiro e intelectual menor, ocupadas em trabalhar para comprar a próxima refeição, querem no máximo controle sobre comida e moradia, contudo, aqueles com mais grana e estudo querem controlar o planeta. Essa intenção não é em si errada, tratar melhor a natureza e os animais, de modo a se ter mais e melhor qualidade de vida, não só para hoje, mas para o futuro, é algo correto e necessário. Lutar por direitos iguais para uma sociedade sem preconceitos que respeita as diversidades. também é justo e o único jeito de nos desenvolvermos como civilização. 
      A questão, contudo, é querer exercer esses controles sem Jesus e seus ideais morais, sem interagir com o mundo espiritual e confiar em Deus, sem preparar-se para uma eternidade espiritual. Aqueles que se consideram melhores no mundo, endeusam a ciência, a colocam no lugar de Deus, justamente porque através dela podem se achar no controle, com certezas materiais e racionais sobre o universo. Assim o ser humano acha ter encontrado o caminho para a evolução, não entende que isso é apenas uma fase, ainda que de muitas clarezas, uma fase de negação da iluminação maior de Deus. No fim de toda etapa há o desvio maior da verdade, mas só há vida depois da morte e o homem morre várias vezes. 
      As coisas espirituais são intraduzíveis pela matéria, ainda que tenhamos muita sensibilidade espiritual, adquirida com santidade e temor a Deus, e conheçamos a linguagem da matéria profundamente, não podemos de fato explicar conhecimentos espirituais. Por isso toda religião é parte mentira e parte verdade, todas elas, parte se sabe e parte se crê. Se por um idioma do mundo temos dificuldade para traduzir um outro idioma, muito mais difícil é um idioma desse mundo tentar traduzir o idioma do outro mundo. No mundo isso acontece porque as pessoas são diferentes, de culturas, histórias e principalmente de óticas religiosas diferentes, assim as construções emocional e social dos seres humanos mudam. 
      Por mais que certos valores e sentimentos nos pareçam semelhantes, uma pessoa do mundo árabe dá ao amor um significado diferente que dá uma pessoa latina, por exemplo. Em lugares diferentes virtudes têm preços diferentes, um passado histórico que marcou a mente coletiva com elementos diferentes. Muito mais é o mundo espiritual, livre de matéria, espaço e tempo, o amor que Deus sente e compartilha é muito mais pleno, perfeito, abrangente que o amor que os seres humanos experimentam no mundo. Deus expressa-se com pureza, sem filtros, sem atemporalidades, e de forma única para todos, o que varia é nossa percepção e capacidade de compreender e interpretar suas virtudes e conhecimentos. 
      O mundo espiritual não precisa de palavras, de idiomas, ele simplesmente é praticado, a partir de um simples olhar, eis o mistério. O que nos traz consolo quando oramos, é recebermos uma emanação de luz do Altíssimo, nisso nossas mentes podem traduzir, em simples frases se tiverem a inteligência da síntese, uma sabedoria profunda. Por que a Bíblia é livro sagrado superior a outros livros sagrados? Porque ela tem registros disso, de olhares de luz de Deus, onde versículos traduzem palavras vivas. Davi e Salomão têm textos assim, que alimentarão as almas humanas por muito tempo, mas ninguém foi melhor que Jesus para expressar essa síntese, a lista das bem-aventuranças em Mateus 5 é exemplo disso. 
      As verdades mais altas não podem ser formuladas, definidas, vendidas como receitas, isso seria prendê-las e limita-las, quem entende isso nunca terá plena certeza das coisas, por isso precisará crer, e eis o motivo pelo qual fé é tão enfatizada no ensino de Jesus. Uma verdade de fato de Deus não fecha, abre, não muito, mas deixa aberta outras muitas possibilidades, faz com que o ser humano se sinta satisfeito, revigorado, mas vivo e vivo queremos seguir aprendendo mais. A palavra de Deus que acessamos pela fé sempre nos deixa com vontade de querer mais, assim levantamos novas perguntas, crer é admitir não saber, e isso de forma gradativa, quanto mais se crê, mas se sabe e mais se sabe que não se sabe.
      Uma diferença entre a religião de Israel, a velha aliança, e o evangelho, a nova aliança, é que uma se acessa por obras e a outra por fé, Paulo dedicou grande parte de suas cartas a explicar essa questão, a diferenciar o ensino de Moisés do ensino de Cristo. Pela realização de obras se faz algo e se tem direito a receber algo, é tudo material e paupável, mas receber pela fé mostra que o homem não pode entender como Deus trabalha, não pode pagar o que Deus dá, mas aceita só por confiar em Deus. Na nova aliança obras acontecem depois, como consequência da fé, não como moeda de negócio, são efeitos, não causas. Quem recebe favores religiosos por obra não é desafiado a saber mais, mas acha que já sabe tudo pelas leis.
      Mesmo no cristianismo, muitos vivem por obras, não por fé, acham que podem receber favores de Deus por serem assíduos em cultos, obedientes a dogmas e fiéis nos dízimos. Nisso é preciso alguma fé, se envolve Deus e o mundo espiritual sempre é preciso, mas não aquela fé maior que conduz o ser humano a conhecer mais profundamente a Deus, a fé necessária nesse caso é só para conhecer e praticar uma religião. Para que ter dúvidas e crer quando tudo que se precisa saber é ditado por sacerdotes, pastores e livros? Não se crê porque se sabe, quem sabe não carece acreditar, na fé não se tem certeza, nem se precisa ter, mas se aprende a confiar em Deus, ainda que se tenha racionalmente muitas dúvidas. Só crê quem não sabe. 

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as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 8/10/2021

segunda-feira, agosto 29, 2022

Fé e foco (29/92)

      “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.Filipenses 3.14

      Seriedade mental, que podemos chamar também de foco, é entender que precisamos fazer uma coisa e mantermos nossos pensamentos direcionados para isso. É não se desviar, nem para a esquerda, nem para a direita e muito menos parar ou retroceder, mas seguir em frente. Não precisamos correr, podem bastar passos lentos, mas firmes e constantes, não se prendendo ao tempo do mundo e dos homens, mas de Deus. 
      Na vida existem momentos de relaxamento e alegria, e muitos, se andamos com Deus ele nos concederá esses momentos. Não somos robôs ou perfeitos, nossos corpos e nossas almas necessitam de tempo para descansar, mesmo para parar, respirar fundo, para que abracemos quem nos ama e amamos. Jantar em família, férias, um passeio, momentos para usufruirmos com dignidade e sabedoria, da graça de Deus.
      Mas não viemos ao mundo de férias, temos uma missão, temos trabalho a fazer, e mais que o material para manter nossos corpos, o espiritual para aperfeiçoar nossos espíritos. Esse trabalho é constante, contudo, em determinados momentos Deus nos chama para um posicionamento mais sério, quando temos que manter nossos pensamentos e sentimentos determinados, exercendo fé de maneira especial e guardada. 
      Muitos cristãos não fazem uso de seus mais poderosos instrumentos para obedecerem a Deus, por isso têm vidas insatisfatórias. Quem é chamado para fazer algo só terá paz quando fizer isso, mas como fazer se não está capacitado? É o Espírito Santo que nos chama, nos mostra o que fazer e nos fortalece para isso. Você já sentiu o Espírito Santo te chamar, te mandando orar porque tem algo importante a dizer? 
      A questão não é nem se obedecemos ou não ao chamado de Deus, a questão é se conseguimos discernir essa chamada, muitos estão sendo chamados por Deus e nem se dão conta disso, porque estão atentos a muitas vozes, menos a de Deus. Não significa que eles não ouçam a voz da religião, da moralidade, mas essas podem ser só leis mortas, não a viva palavra do Espírito Santo, só a voz viva traz vida e eterna. 
      É sempre difícil tentar explicar coisas espirituais, principalmente para uma grande parte de cristãos que é experiente só em frequentar cultos, em cantar louvores e em obedecer protocolos de fé inventados por pastores hereges para conseguir milagres físicos. Por outro lado temos uma outra parcela de protestantes que se limita à palavra escrita da Bíblia e demoniza qualquer experiência com dons espirituais.
      No todo há muitos cristãos inexperientes com o Espírito Santo, protestantes e evangélicos seguem como católicos desviados, ainda que não creiam em santos, em dogmas fora da Bíblia e não obedeçam o papa. Conhecemos alguém mantendo uma amizade com esse alguém, intimidade não se adquire de uma vez, é aos poucos, com tempo é que sabemos quem é nosso amigo, do que ele gosta e como ele se manifesta. 
      Com o Espírito Santo é semelhante, quer conhecê-lo mais? Comece uma relação de amizade com ele, fale e ouça, mas não tenha-o como alguém distante e desconhecido, mas aberto ao diálogo e mais, com capacidade para te ajudar a fazer a vontade de Deus. No dia a dia o Espírito é próximo, carinhoso, ainda que direto, sempre nos orienta para que tenhamos paz e convivamos com os homens em amor e santidade.
      Contudo, em momentos especiais, ouviremos o Espírito Santo nos falando com uma voz poderosa, parecendo até estar mais longe, mas é porque está nos dando uma orientação diferenciada, que exigirá de nós uma seriedade mental para obedecer. Talvez você esteja andando certo com Deus, mas não está parando para ouvir uma ordem maior, que fará com que tudo em tua vida faça um sentido maravilhoso. 
      Em alguns momentos teremos que nos centrar na fé e só ir, sem nos abalarmos, crermos sem ver, os que entendem esses momentos receberão uma glória singular, não de homens ou externa, não necessariamente, mas interior e no espírito. Se no dia a dia com Deus crescemos, em momentos assim cresceremos muito mais, se vigiarmos, deixarmos para lá as infantilidades e fugas da carne e só focarmos em nosso Deus. 

domingo, agosto 28, 2022

Superação pela fé (28/92)

      “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.Hebreus 11.1

      Ainda que não sinta, creia. Ainda que não veja ou ouça, tenha fé. Ainda que a realidade mostre outra coisa, acredite. Se tua vida estiver de acordo com a vontade de Deus, e se o que você busca for aprovado pelo Senhor, mesmo que pareça improvável, você receberá o que precisa. Fé agrada a Deus porque coloca o homem, ainda habitando o mundo material, no reino do céu, mostra que o ser entendeu seu principal motivo de existir, caminhar rumo à melhor eternidade espiritual, desligando-se da ilusão da vã matéria. 
      Fé implica em esperar, satisfeito com o que se espera sem que ainda se tenha recebido, isso é sentir-se cheio ainda que vazio. Deus é bom, conhece nossos limites, mas será que conseguimos, ao menos um pouco, vivermos só pela fé, sem termos qualquer espécie de prazer que nos ajude enquanto esperamos? A vida faz sentido conforme somos recompensados com paz e alegria por agirmos corretamente, mas pode ser necessário sermos esvaziados, para sermos libertos de ilusões, que nos impedem de sermos felizes pela fé.
      Jesus homem foi levado a limites que nenhum ser humano, não sem merecer, foi. Você acha que Cristo sentia algum prazer que o fortalecia em seus últimos momentos de vida, quando era humilhado, torturado, crucificado e morto? Mas ainda assim ele resistiu, pela fé. Como ele conseguiu isso? Preparando-se. Nos preparamos para o pior, não evitando-o e tendo medo dele, muito menos indo irresponsavelmente em direção a ele como insanos. Jesus sempre viveu pela fé, mantinha os olhos em Deus, não no mundo físico. 
      Passamos vidas inteiras fazendo coisas erradas, não significa que passamos todo o tempo cometendo pecados sérios, envolvendo-nos com drogas pesadas, num estilo de vida adúltero, muitos de nós não chegam a extremos. Mas ainda assim nos viciamos em prazer, ainda que só comendo alguns brigadeiros ou bebendo uma taça de vinho para relaxar. Não somos criados e não conduzimos nossas existências de forma espiritual, mesmo nas igrejas cristãs somos materialistas, trabalhamos para termos mais direito ao conforto. 
      Fé conduz a um prazer, uma satisfação espiritual, e se formos em direção ao Deus Altíssimo será uma unção santa e eterna, o regozijo do céu, não o vazio do inferno. Contudo, trocar o prazer da matéria pelo do Espírito pode não ser algo fácil, por isso momentos onde nos sentimos vazios, sem nenhuma recompensa emocional, só tendo que crer e esperar, podem ser necessários, resistindo a síndromes de abstinência como quem é libertado de drogas. Mas valem a pena, a recompensa é uma iluminação espiritual única e perene. 
      Contudo, muitas vezes nos falta alegria da salvação, não porque estamos sendo provados, mas porque pecamos. Ainda que em Jesus tenhamos perdão imediato de Deus e paz, nosso corpo físico, nossa mente, nossos sentimentos, não se recuperam assim tão depressa. Dessa forma, o humilde se arrependerá e aguardará pacientemente o Santo Espírito achar de novo “conforto” em seu espírito, devida limpeza no templo, para que lhe dê novamente o prazer da presença de Deus. O plano espiritual é vivo e pede respeito. 
      Vitória não está em vencer o prazer do corpo, mas a dor do espírito. A perseverança dos santos não se apressa em buscar prazeres diante da dor, crescimento espiritual só se realiza com superação da dor. Não estamos neste mundo por outro motivo que vencer a matéria, construímos o céu em nós morrendo para a matéria ainda vivos. Contudo, aos que não abrem mão de prazeres do corpo, que não conseguem controlar, não só apetites carnais, mas a vaidade de prevalecerem sobre os outros, só manterão dentro de si o inferno. 

sábado, agosto 27, 2022

Milagre: o que é? (27/92)

      “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém.Efésios 3.20-21

      Se teu ponto de vista for outro, eu respeito, afinal, milagre é algo muito pessoal, mas quando digo que milagre pode não ser o que é dado, mas quando e como é dado, digo que Deus não age desobedecendo regras que ele mesmo criou. Se, por exemplo, entendemos pela ciência que Deus trabalha na natureza usando milhões de anos, por que acharmos que seja diferente em outras áreas? Não estamos dizendo que a ciência saiba tudo, e mesmo sabendo o que sabe não pode arrogantemente afirmar que o mundo espiritual não existe. Por outro lado, os que creem em Deus, não podem achar que Deus, mesmo sendo todo-poderoso, faça coisas extraordinárias. Pode fazer, mas só aos nossos sentidos humanos limitados. 
      Há outras áreas, mas em duas delas muitos dizem provar milagres que consideram impossibilidades que Deus realiza: áreas financeira e de saúde. Na financeira, se examinarmos com cuidado, entenderemos que o que aconteceu e consideramos milagre não foi algo impossível, já tinha alguma maneira viável de ocorrer e ocorreria de um jeito ou de outro. Já na área da saúde a coisa pode ser um pouco mais complexa, milagres nessa área também podem ter explicação se estudarmos o ocorrido com cuidado, ainda que seja só a atuação positiva de uma atitude de fé na força de vontade para o doente se restabelecer. Contudo, como ainda desconhecemos todo o poder da oração, podemos achar que houve algo impossível. 
      Na experiência pessoal que relatei na primeira parte desta reflexão (postagem de ontem), a diretora não poderia ter recorrido a uma lista de profissionais capacitados para a função e então escolhido alguém? Sim. Poderia ter usado critério de pontos que profissionais da área de ensino público acumulam por tempo e outras capacitações? Sim. Seria milagre se a escolha fosse feita dessas maneiras? Não. Seria bênção de Deus? Com certeza, e Deus seria louvado por isso. Contudo, na experiência que relatei havia duas opções, uma mais demorada e outra mais rápida e com outras vantagens, a opção melhor ter acontecido e antes foi fruto, não de esforço humano e material, não só disso, mas de oração aprovada por Deus. 
      Hoje, com o que a ciência sabe sobre espiritualidade, efeitos da oração podem ser considerados milagres, sejam eles quais forem. Se alguém estiver necessitando de auxílio financeiro, uma pessoa orar e uma terceira pessoa, que não conhece nem o necessitado nem o que orou, entender, porque lhe veio à mente ou porque sonhou, de ir até determinado lugar e ajudar o necessitado, isso poderá ser milagre. Por outro lado se alguém estiver desenganado pelos médicos, alguém orar e a pessoa for curada, isso também será considerado milagre. Mas vejam que em ambos os casos alguém orou, uma conexão com Deus foi feita, um poder espiritual saiu de Deus e tocou alguém, seja com uma orientação ou com cura física. 
      Podemos dizer que milagre é algo que acontece e que não se tem explicação científica de porque aconteceu. O correto é não sairmos dizendo que houve milagre sem analisarmos o ocorrido com cuidado. Muitos dizem provarem milagres mais para exaltarem a fé do homem que o poder de Deus, e muito disso é feito para que pastores sejam famosos, aumentem o número de ovelhas em suas igrejas e recebam mais dízimos. Mas mesmo que seja só a satisfação pessoal de se ter recebido uma graça, pode não ser algo saudável, não precisamos de milagres para provarmos comunhão, proteção, suprimento e cura em Deus. Deus tem interesse que sejamos crentes e espirituais, tanto quanto racionais e inteligentes. 
      Quem anda com Deus está sempre sincronizado com a bênção, mas quem quer amadurecer em todas as áreas, valorizará ciência, estudos, trabalho, tanto quanto saúde mental e afetiva, assim como virtudes morais e profunda intimidade espiritual com Deus. Quem anda de forma madura com o Senhor sabe que precisa fazer sua parte e fará, mas também sabe quando precisa orar de maneira diferenciada pedindo que Deus atue espiritualmente, e creiam, Deus age. Se os céticos e materialistas soubessem o poder que tem a oração não desacreditariam de milagres, mas se evangélicos desinformados e outros mal intencionados soubessem o que Deus faz pelos que o obedecem não promoveriam falsos milagres. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 6/11/2021

sexta-feira, agosto 26, 2022

Testemunho de milagre (26/92)

      “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.Mateus 6.6-8

      Milagre pode não ser o que se recebe, mas o quando e o como se recebe. Minha família teve recentemente uma experiência abençoada, uma renda que eu tinha estava diminuindo, assim, uma solução viável seria aumentar a renda de minha esposa, para que pudéssemos manter nossa vida financeira em ordem. Minha esposa, que trabalha na área do ensino público do estado de São Paulo, recebeu um convite para um cargo novo que melhoria seus ganhos, mas isso só se realizaria no próximo ano, estávamos ainda em outubro. Eu já estava orando a Deus há algum tempo para que minha esposa tivesse uma evolução profissional, mas naquele mês eu aumentei meu clamor, eu estava bem aflito. 
      Na madrugada de uma segunda-feira para a terça-feira, enquanto eu orava ao Senhor, senti uma conexão forte com Deus, especial, e entendi do Espírito Santo a seguinte palavra: “o que você pede já está sendo feito neste momento”. Pela fé fiquei em paz, confiante que no próximo ano minha esposa teria uma promoção que resolveria nossa dificuldade financeira. Contudo, na terça-feira, ainda pela manhã, minha esposa telefonou me dando a notícia. Uma diretora de uma escola estadual, que estava se tornando escola integral (p.e.i.), tinha ligado para ela naquela manhã, convidando-a para ser vice-diretora e que poderia começar já em novembro, o salário seria maior que o que ela teria no cargo do outro convite.
      Entretanto, algo que a diretora falou nos deixou estarrecidos, ela disse que naquela noite tinha sonhado com minha esposa, vendo-a como a nova vice-diretora da escola. A mulher conhecia minha esposa superficialmente, não eram próximas, nem sabíamos qual sua religião, mas o entendimento que tive foi que no momento em que eu orava, na madrugada, Deus enviou um anjo à casa da diretora influenciando seu sonho. Acredite, meu relato é verdadeiro e fiel, além de minha esposa receber uma promoção profissional, foi melhor que o que esperávamos pelo outro convite e antes do tempo. Era algo impossível? Não, minha esposa tinha as qualificações profissionais adequadas, o milagre não foi o cargo em si.   
      Penso que se nossas vidas não estivessem em comunhão com Deus, se não houvesse em nós um temor para buscar o Senhor com todo o coração e crer que ele poderia atender o pedido, a resposta poderia nem ter sido dada. Não ocorre assim tantas vezes com os seres humanos? Algo parece justo, possível, mas não acontece? Por outro lado, como seres humanos que andam perto de Deus, se nossa oração tivesse sido só burocrática, feita, mas com certa frieza, talvez só tivesse sido respondida no próximo ano. Contudo, a resposta veio antes e melhor, parece que Deus solucionou um problema material, mas também recompensou um amadurecimento espiritual, o milagre foi o quando e o como.
      Tempos depois minha esposa soube que o outro cargo, que tinha sido prometido a ela por uma amiga que a conhecia bem, nem era tudo que achávamos que era. Se tivéssemos nos acomodado com o que pensávamos que era o justo e o possível, talvez tivéssemos ficado sem nada. O viável pode acontecer neste mundo? Pode. É controlado por Deus? É, tudo é. Mas o justo e o possível, por si sós, nos amadurecem espiritualmente? Não. Por isso temo pelos que, ainda que cidadãos honestos e esforçados, só confiam em si mesmos e nos sistemas deste mundo. Viver é mais que administrar o que se vê, o que se pode, o que se constrói com as próprias mãos. Vida eterna é se relacionar com Deus e crescer pela fé. 
      Certas coisas nos pegam de jeito nesta vida, parece que perderemos tudo, que não haverá saída, mas acredite, em Deus sempre há! Grandes provas trazem enormes crescimentos, e faltas significativas são só boas oportunidades de libertação, Deus tira porque não nos faz bem e tem algo muito melhor para nos dar. Não podemos é nos perder, antes, focarmos na oração, ultrapassarmos limites de fé, superarmos a nós mesmos e sem medo avançarmos para o desconhecido. Se Deus manda, Deus capacita, e os maiores desafios o são porque nos colocam diante do que não sabemos, assim, mais confiança em Deus é necessária. Contudo, se formos aprovados, sairemos mais fortes, mais livres, mais felizes. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 6/11/2021

quinta-feira, agosto 25, 2022

O justo vive pela fé (25/92)

      “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.” Romanos 1.17

      O versículo inicial fala do justo, alguém que antagoniza com o soberbo, citado em Habacuque 2.4. Enquanto o soberbo é materialista, o justo tem uma característica essencialmente espiritual, fé. Viver pela fé não é fácil, é escolha que Deus nos dá num determinado momento de nossas vidas de forma clara, assim todos seremos questionados pelo Senhor se queremos seguir pela fé nele ou sozinhos. Como vimos antes, sozinho ninguém segue, se não se quer Deus, adota-se ídolos. Alguns, dentro de boas igrejas, que iniciaram suas jornadas com sinceridade, num determinado momento são confrontados por Deus com a pergunta: “de agora em diante realmente terá que viver pela fé, você quer?”. Infelizmente muitos respondem não quero.
      Entenda que viver pela fé não se refere necessariamente a dependência de Deus na área material, principalmente para aqueles com chamadas ministeriais. Ocorre também que muitos dizem não, mas não assumem isso, nem para eles mesmos, continuarão em igrejas, se dizendo cristãos, falando e se vestindo como tais, defendendo Bíblia e o cristianismo, mesmo sendo pastores, pregadores, professores, teólogos. Esses são os que constróem “ídolos ideológicos” com cara de Deus, com boca de Deus, com corpo de Deus, mas só ídolos mortos e vazios, sem o Espírito de Deus. Para se viver pela fé tem que ser provado em provas em que não se terá outra saída que não seja crer em Deus, mesmo sem ver, sem ouvir e sem saber.
      O justo viverá pela fé! Por que a virtude justiça está aliada à fé? Podemos dizer, então, que injusto é o que não crê, ainda que tenha outras virtudes. Justiça é respeitar direitos, dar o bem a quem faz o bem e punição a quem não faz, mas mais que isso, o justo faz o bem a todos, e entrega o mau nas mãos de Deus para que faça justiça, não ele. Esse é o conceito de justiça do novo testamento, mas nesse caso alie-se o conceito de justificado por Cristo, assim ainda que não se tenha feito algo certo, se houver fé em Jesus pode-se ser livrado da justiça de Deus. Isso não implica em não colher em alguma instância efeito material ruim de uma causa ruim, ainda que o Senhor em sua misericórdia atenue a disciplina sobre o crente. 
      Mas o mistério por trás de “o justo viverá pela sua fé” de Habacuque 2.4 está em revelar a um povo do antigo testamento a importância da fé sobre as obras. Em outras palavras Habacuque diz, “o justo não é justificado por sua religião, pelos sacrifícios que faz no templo, por obedecer protocolos da Lei de Moisés”, não só por essas obras, mas principalmente por sua fé em Deus. Essa palavra é profética, Habacuque prenuncia o evangelho que oferece salvação pela fé em Jesus, o escritor da carta aos Romanos (Paulo?) estuda minuciosamente essa doutrina, inclusive citando Habacuque. Fé é o início, depois vêm as obras como efeitos dela, ela justifica para que pratiquemos obras, não obras religiosas, mas de virtudes morais. 
      Mesmo muitos cristãos sinceros e crentes, que já provaram ações (aparentemente) extraordinárias de Deus porque creram, não entendem o principal objetivo do Senhor em nos levar a viver pela fé. Deus não pede fé para que tenhamos coisas materiais que não podemos ter, mas para que conheçamos o mundo espiritual mesmo que encarnados no plano físico. O objetivo da fé é vida no Espírito e vai muito além de recebermos um benefício financeiro ou uma cura do corpo, ainda que essas coisas sejam relevantes para nós, e que o Senhor conceda-nos com amor. Quem se “inicia” no caminho da fé experimentará mistérios e terá acesso a conhecimentos especiais, reservados para os que aprendem a usar olhos e ouvidos espirituais. 
      O que nos leva a subir os degraus é a fé, para que atingindo uma posição trabalhemos para anexarmos aos nossos espíritos virtudes morais. Mas depois, novamente, seremos impulsionados por Deus para subirmos para um degrau mais alto, e novamente nos apropriarmos de novos valores morais, assim nos leva o evangelho, de fé em fé. Enquanto o soberbo se acomoda com as riquezas materiais que conquistou no mundo, com as próprias forças e para sua glória, o justo sabe que o caminho é infinito para quem quer espiritualidade eterna. Se a vaidade do mundo amarra, entedia e nunca satisfaz, a aventura espiritual é cada vez mais instigante, o objetivo da fé é cada vez mais elevado e iluminado, o que é bom sempre fica melhor. 

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quarta-feira, agosto 24, 2022

O soberbo vive por si (24/92)

      “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.Habacuque 2.4

      O versículo inicial é um que citamos com certa constância aqui, segue mais uma reflexão sobre ele. Para um entendimento melhor, recomendo leitura dos dois primeiros capítulos do livro de Habacuque. No primeiro capítulo o profeta apresenta a Deus sua indignação diante de um povo, seu povo, que vive em desobediência à vontade do Senhor, e ainda assim, aos seus olhos, parece que nada acontece, que nenhuma ação ocorre para que o povo seja disciplinado e mude de atitude. Assim, o texto fala sobre gente vivendo errado, construindo uma prosperidade falsa, baseada em injustiças, mas não sofrendo nada por isso. No capítulo dois está a resposta de Deus para a indignação do profeta revelada no primeiro capítulo. 
      Habacuque 2.4 apresenta dois tipos de pessoas, o soberbo e o justo. O soberbo, ou orgulhoso, é o que confia em si mesmo e em ídolos. Atualmente ídolo pode ser coisas bem diversas, não é só a estátua ou a imagem de um santo, como os evangélicos gostam de dizer. Uso constantemente aqui o termo “ídolo ideológico” para definir um ídolo, não feito de gesso, pedra, madeira, ou desenhado num papel ou em outro material, relacionado a uma pessoa morta que teve alguma relevância numa religião. Ídolo atualmente também não é só estátua ou desenho de entidades espirituais, como os deuses do afroespiritismo, não necessariamente isso, que podem nem ser falsos deuses, podem não ser Deus, mas não são falsos. 
      “Ídolo ideológico” é um ser criado por ideias, nem sempre verdadeiras, muitas vezes só mistificações e superstições, que não tem forma física, mas que é bem definido nas cabeças e nos corações humanos. Esses ídolos podem ser construídos mesmo com ensinos bíblicos, com conceitos aliados até ao Cristo, mas que não são o Jesus espiritual verdadeiro que habita as regiões celestiais mais elevadas e que envia seu Santo Espírito à Terra para ensinar, consolar e guiar os que o buscam. Não que muitos que comecem buscando ídolos não achem o Jesus verdadeiro, Deus é misericordioso, ouve a todos, busca a todos e responde mesmo linhas não tão retas de comunicação. Mas algo é certo, o arrogante quer ídolos, não Deus.
      A obsessão por ter ídolos revela um lado bom do ser humano, sua necessidade de Deus, contudo, se torna algo ruim quando se busca um substituto falso para o verdadeiro Deus, que ao menos aplaque essa necessidade legítima. A sede existe, se não puder ser saciada com água pura e fresca será com qualquer líquido que se achar, mesmo água suja e quente. O arrogante não quer Deus porque sabe que esse lhe mostra verdades que ele não quer assumir, mas ele precisa adorar alguma coisa, todo mundo precisa, por isso que não existe ateu genuíno, só existem idólatras, ainda que sejam da ciência. Coisas físicas resolvem problemas físicos, como a ciência, mas coisas físicas não solucionam questões espirituais ou morais. 
      Sem Deus, ainda que alguém comece moralmente correto, um dia agirá incorretamente, não verá problemas maiores em ser egoísta ou imoral, mesmo que se ache civilizado. Quando não subimos para Deus caímos longe dele, quem acha que não quer Deus porque não quer estar preso a algo que não pode provar materialmente, acaba ficando solto para cair no caos onde não existem referências morais ou espirituais, nem luz mostrando o caminho, só trevas. Dessa forma o soberbo errará e não se dará conta que está errando, verá o coração cauterizar, o espírito gelar, a mente tomada por falsos deuses. Quem idolatra político ou artista se afastou de Deus um dia, assim um ídolo só ocupa um espaço que está vazio.
      O soberbo não vive por fé, mas isso não significa que ele seja desonesto ou vagabundo, ao contrário, ele pode ser mais esforçado e exigente até que o justo. A diferença é que ele vive pelas próprias forças e pelos próprios méritos, assim, ainda que diga crer em Deus, seus frutos serão para sua honra, e ele, soberbo, orgulha-se disso. O soberbo tem dificuldade para amar, para respeitar, ele não tem paciência, mas exige dos outros o que exige de si mesmo. Contudo, o soberbo poderá ser levado a uma queda fatal, que o deixará dependente dos outros e pobre materialmente, para aprender o caminho da humildade, o caminho do amor, o caminho da fé que confia em Deus, glorifica a Deus e se prepara para viver com Deus na eternidade. 

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terça-feira, agosto 23, 2022

Jesus diz a verdade (23/92)

      “E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna? Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade. E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me. Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico.” Lucas 18.18-23

      Por várias vezes tenho me surpreendido com discursos de maus políticos, por mais que saibamos que são fatos seu crimes, envolvendo corrupção e no governo atual desprezo à ciência, falando em palanques tentam dar argumentos convincentes e emocionados que não erraram. Pegam a exceção e tornam regra, e mesmo que tenham acertado só depois de terem sido muito cobrados, dizem que faziam isso desde o início. É mau caracter ou insanidade? Ambos, falam tanta mentira que acabam acreditando que é verdade.
      Algo que nos protege de egocêntricos gananciosos é não cairmos na armadilha do carisma e da oratória. Não só políticos usam esses dons, advogados e líderes religiosos também podem usar. Essa armadilha foca na forma e não no conteúdo, em como é dito e não no que é feito, na sedução de mostrar e falar o que queremos ver e ouvir, e não aquilo que quem mostra e fala realmente faz. Carisma e oratória em si nada têm de errado, o problema é usa-los para vender mentiras, que beneficiam quem fala, não quem ouve. 
      No texto bíblico inicial, o homem que se apresenta a Jesus é claramente alguém que queria viver religião para se exibir aos homens, não por amar a Deus. Sua intenção errada, assim como uma possível idolatria por Jesus, são delatadas quando ele bajula o mestre, que prontamente discerne isso e o repreende, não se deixando envaidecer pelo elogio do príncipe. Bom, só Deus! Se Cristo não aceitou bajulação, mais ainda nós e mortais que idolatramos podem aceitar. Amemos mais a Deus e deixemos para lá os fakes
      Jesus não foi deselegante com quem parecia querer honra-lo, mas ele conhecia o coração do homem, e naquele momento a verdade precisava ser dita porque ela era importante para resolver o principal problema do homem. A clareza de Jesus é certeira, ele foi no ponto e sem perder tempo, o Espírito Santo age assim conosco hoje. Quem tiver ouvidos espirituais, após perguntar a Deus ouvirá uma palavra, ela será imediata e atingirá o alvo, responderá, não necessariamente o que queremos ouvir, mas o que precisamos.
      Não foi Jesus quem procurou o homem, foi o homem quem tomou a iniciativa, mas penso que ele não queria uma orientação, ele queria um reforço para seu comportamento, uma aprovação para seu modo de vida, no fundo ele achava que fazia o suficiente para ser bom. Mas quem quer agradar o homem faz tudo, menos o principal, ele obedecia a lei porque isso os religiosos aprovavam, mas ele tinha um ponto fraco, suas riquezas. O Senhor é especialista em trazer à tona o que escondemos no fundo de nossos corações. 
      Sou a favor de elogio pelas boas ações, penso que ele incentiva as pessoas a seguirem fazendo as coisas certas, ainda que muitos digam que elogio envaidece e pode ser arma do mal. Mas creio que é melhor administrarmos a vaidade, que um elogio legítimo pode trazer, que carência e insegurança, que a ausência do elogio deixa, principalmente em crianças e jovens. Mas na passagem bíblica, o elogio do homem a Jesus revelava algo que não era simplesmente dar honra a quem merece, era algo que não era verdadeiro. 
      Quem elogia inadequadamente quer elogio ilegítimo, o príncipe elogiou Jesus porque queria “confete”. Mas como aprovar modo errado de vida? Jesus não fez isso, ele sempre age com verdade com quem o busca, ainda que isso doa. Jesus não aceitou ser chamado de bom pois quem o disse queria ser chamado assim sem merecer, eis a intenção atrás do elogio do príncipe. Jesus não creu na aparência, nas palavras, nem no elogio, não havia verdade nisso, só na verdade existe o bem e Jesus só queria o bem do homem.

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segunda-feira, agosto 22, 2022

Não acredite em tudo (22/92)

      “E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol. Então passei a contemplar a sabedoria, e a loucura e a estultícia. Pois que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram. Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia, quanto a luz é mais excelente do que as trevas.Eclesiastes 2.11-13

      Reputações são construídas e destruídas, conforme a conveniência de alguns, assim, não acredite nem em santos, nem em fascínoras, poucos de fato são tão bons como dizem ou tão maus como afirmam. Os seres humanos têm a tendência de acreditarem em extremos, isso tem a ver com a necessidade legítima que eles possuem de ter comunhão com Deus, o único ser de fato absoluto. Contudo, mal resolvida essa necessidade, saímos pelo mundo à caça de quem possa ocupar lugares extremos dentro de nós. 
      Quem muito idolatra, muito odeia, e quem idolatra e odeia demais é porque não ama corretamente a Deus. Amar a Deus é remédio para muitos males. Isso não deveria ser opcional, ainda que o próprio Deus dê livre arbítrio aos homens para isso, mas deveria ser imprescindível, cura para não se amar ou se odiar extremamente quem não merece nem uma coisa, nem outra. Idolatrar e odiar não são só consequências de falta de amor a Deus, é ser manipulado por quem inventa mentiras para que acreditemos e lucre com isso. 
      Contudo, amamos e odiamos equivocadamente não só porque cremos em mentiras, mas também porque muitas vezes julgamos só pela aparência. Você já deve ter tido a experiência de ver uma pessoa pela primeira vez e não se simpatizar com ela, mas depois, conhecendo-a melhor, perceber que ela é, na verdade, profunda e confiável. Por outro lado, muitos que amamos à primeira vista, depois vemos que são pessoas superficiais, pouco confiáveis. Precisamos de tempo para não julgar alguém equivocadamente.
      No mundo atual temos que tomar muito, mas muito cuidado com a internet, no afã de quererem divulgar novidade, novidade vende mais, muita mentira é inventada. Saber de fato o que é verdade é difícil no mundo virtual, e isso muda de um dia para o outro. A humanidade sempre foi assim, no Egito antigo, quando um novo faraó tomava o poder, ele destruía o legado do anterior, caso fosse seu inimigo, novos deuses eram eleitos, novos monumentos eram erguidos, uma nova memória era construída.
      Quem frequentou os ensinos fundamental e médio na década de 1970, lembra-se da matéria “Educação, Moral e Cívica”, onde aprendíamos sobre símbolos e heróis nacionais. Eram os heróis eleitos pelo governo federal vigente, militar e de direita, muitos nomes que ficaram em nossas memórias hoje sabemos que não eram tão heróis assim. Os heróis de hoje são os vilões de amanhã e vice-versa, a história não é uma ciência exata e é sempre contada pelos vencedores, ou os que detêm principalmente o poder econômico. 
      O autor de Eclesiastes está certo quando diz que tudo é vaidade, passageiro, não confiável. Verdades maiores não têm prazos de validade, uma molécula de água, por exemplo, é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, isso não vai mudar. E as pessoas, o que elas são? Aí é mais complicado, nem elas sabem o que são, passamos a vida tentando descobrir quem somos, e muitas vezes enganamo-nos e aos outros com muita habilidade. Por isso não se pode santificar uns e demonizar outros, em tudo há exageros. 
      Não acredite em tudo que você vê, ouve, lê ou assiste, creia em Deus, mas ainda assim saiba, a verdade maior de Deus se conhece aos poucos e com perseverança. A insistência faz com que nos preparemos, que mudemos por dentro, para que sejamos moralmente confiáveis para que Deus possa nos revelar mistérios. Contudo, algo é certo, conhecer a Deus é amá-lo cada vez mais, quem ama confia, obedece e não trai, quem conhece a verdade maior do Senhor não perderá tempo idolatrando ou odiando quem quer que seja.

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domingo, agosto 21, 2022

Dimensões de Deus (21/92)

      “Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei.” Salmos 16.8
      “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.” Salmos 121.1-2

      Deus tem dimensões? Comprimento, largura, altura, podemos ver Deus assim? Na verdade Deus não pode ser medido, ele é infinito em todos os sentidos, mas podemos interagir com Deus olhando-o assim. O comprimento é a dimensão que mais usamos, ele é horizontal assim o experimentamos principalmente quando buscamos de Deus coisas materiais, para nossos corpos neste mundo. Para isso cremos que Deus é todo-poderoso para nos dar algo, que é dono de tudo e que por isso não precisamos temer homem, mesmo que seja proprietário de muitas coisas e que se considere grande e rico. 
      É mais fácil para nós enxergarmos o comprimento da atuação de Deus, porque é uma dimensão que para nós se manifesta no plano físico, ainda que seja expulsando seres espirituais do mal (o diabo e os demônios) de regiões espirituais. Enxergarmos uma largura na atuação de Deus também não é algo difícil para a maioria dos seres humanos, ainda que seja menos experimentado por muitos. Se no comprimento há coisas materiais no presente, a largura envolve o futuro, assim, não só matéria, mas tempo, contudo, ainda assim a maioria crê num Deus largo e Senhor do tempo para ter coisas materiais. 
      Vermos a largura de Deus é entender que ele não faz e não dá-nos coisas aqui e agora, mas que pode fazer isso mais à frente, no futuro, e isso com uma finalidade melhor para nós. Temos mais dificuldades para esperar, para administrar tempo, somos ansiosos, imediatistas, míopes para ver um pouco adiante de nossos olhos físicos, isso nos impede de crescer numa das virtudes que mais nos amadurecem, a fé. Acreditar num Deus que pode tudo e nos dá agora não exige tanta fé, mas ter que aguardar, confiar que Deus nos dará algo depois e que enquanto isso temos que esperar em paz requer mais fé. 
      Para ver o comprimento basta olharmos à direita e à esquerda, para vermos a largura olhamos para frente (ou para trás), mas uma experiência com a terceira dimensão requer olhar para o alto. Altura é a dimensão mais espiritual, nela não só fé é pré-requisito, mas também maturidade espiritual, que abre mão da matéria e deseja uma experiência moral com Deus. Na velha aliança, Israel tinha mais experiências com o comprimento e a largura da atuação de Deu neste mundo, mas na nova aliança do evangelho de Jesus, a Igreja é chamada para conhecer a altura espiritual e eterna de Deus. 

      Assim chegamos ao ponto desta reflexão, uma pergunta: qual a altura do teu Deus? Se ela for baixa, ainda que entendamos e queiramos um Deus espiritual, nossa vida estará presa aos valores deste mundo, e em termos espirituais práticos poderemos estar mais susceptíveis a relações com seres espirituais inferiores, do mal. Fica difícil o Esprito Santo atuar em templos humanos que não elevam seus olhos para o alto, que até creem em Deus, mas vivem focando seus espíritos em coisas, valores, regozijos baixos, deste plano. Somos levados para onde nossa fé olha, limitados por ela, não por Deus.
      Quando somos vencidos por tentações inferiores, aquelas que todos em todos os lugares sofrem, nosso olhar espiritual está colocado num ponto baixo do gradiente espiritual, assim os desejos físicos mais baixos e instintivos nos dominam com facilidade. Esses desejos não são errados em si mesmos, mas devem ser dominados, para sabermos quando, como e com quem, se for o caso, devem ser saciados. Isso se refere aos apetites do corpo de maneira geral, como fome, sede e sexo, mas também outros elementos que se consumidos nos dão alguma sensação de bem estar, como drogas e bebidas alcoólicas.
      Outra espiritualidade baixa que pode nos aprisionar atua diretamente em nossos pensamentos, além de fantasias sobre os desejos básicos falados anteriormente, estão também devaneios de ódio, vingança, ciúmes, e nesses podem agir sobre nós diretamente seres espirituais do mal, que pegam carona nas tendências de pensar bobagens que todos nós temos. Não se engane, ninguém que esteja com a cabeça cheia de sensualidades e de homicídios, será templo do Espírito Santo, mesmo que a boca fale de Bíblia sua “unção” será carnal e maligna, capacitada por demônios, não por Deus. 
      Por outro lado, e isso digo principalmente a cristãos tradicionais cheios de preconceitos, a mesma coisa que Jesus disse a líderes religiosos judeus do primeiro século (João 10.19-21). Casa limpa abriga o Espírito Santo, e se além disso as palavras forem sábias e as obras forem de amor, como dizer que os olhos espirituais não estão focados nas regiões espirituais mais elevadas? Colocando alguém em contato com Deus e sendo instrumento dele, ainda que não seja protestante ou evangélico? Podemos até não entender certas coisas, crermos diferente, mas nesse caso é melhor nos calarmos que julgarmos.
      Não nos enganemos, assim como Deus pode estar longe de muitos pregadores e cantores em púlpitos, ainda que obedeçam à risca protocolos de uma igreja, Deus pode ser amigo íntimo de outros religiosos, que muitos cristãos aliam ao diabo. Que altura tem meu Deus? A altura de Jesus, essa é a resposta, quem colocar os olhos realmente em Jesus estará protegido de todo engano, de toda potestade e principado do mal. Eis a razão do cristianismo permanecer útil à humanidade por tanto tempo, mesmo em meio à tanta corrupção do catolicismo. Deus não despreza quem chega a ele por Cristo. 
      Quando orar erga teu rosto, ainda que esteja num pequeno quarto, no escuro ou com os olhos fechados, imagine-se olhando para as regiões espirituais mais altas, e creia, isso não é só uma questão de fantasia mental, mas é uma postura espiritual que foca os olhos espirituais no Altíssimo. Isso tira de nós uma atitude corajosa de fé, que já nos posta, ainda que com humildade e temor e Deus, como vitoriosos, isso ergue nossos pensamentos e sentimentos de coisas baixas, de ressentimentos, de pecados, de descrenças, e nos posiciona em Deus. Faça isso tendo no espírito as palavras, “em o nome de Jesus”.

sábado, agosto 20, 2022

Instantânea ou gradativa? (20/92)

       “Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus. Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.” João 16.25-28
 
      “Aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.13), essa afirmação é repetida várias vezes no novo testamento, entendemos por ela que salvação ou espiritualidade não é algo que se obtém instantaneamente, mas através de persistente trabalho. “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” (Atos 16.31a), nesse texto, contudo, podemos entender diferentemente, que quem crê é instantaneamente salvo, assim possui salvação ou espiritualidade baseada numa decisão inicial de fé, não por contínuas obras no tempo. Seriam salvação e espiritualidade a mesma coisa para o cristianismo tradicional? Isso pode ser concluído quando se entende que só o salvo terá direito eterno ao céu, efeito final daquilo que o cristianismo considera espiritualidade. 
      A Bíblia possui ensinos contraditórios, apesar de muitos teólogos não admitirem, e nisso nada há de excepcional, como poderiam homens de tempos, lugares e níveis intelectuais diferentes, interpretarem espiritualidade da mesma forma? Prefiro entender que Deus permite ensinos em alguma instância distintos, para que não se use a Bíblia como leis, que devem ser obedecidas ao pé da letra, mas para que o homem atual, e do futuro, possa aprender com experiências dos antigos sob interpretação viva do Espírito Santo, conhecendo a verdade com questionamentos racionais e perseverante vida de oração. Fé é trabalho constante, o tempo todo nossa fé é confrontada, largamos mão dela e voltamos a senti-la com fervor mais vezes que assumimos.

      O texto bíblico inicial ensina-nos alguns princípios importantes sobre a espiritualidade verdadeira, não necessariamente a das religiões, mas a de Deus. Um deles é que Deus revela-nos espiritualidade de forma gradativa, assim Jesus disse verdades eternas, mas muitas delas, por causa dos níveis moral, intelectual e espiritual do homem do primeiro século, assim como de muitos homens dos séculos futuros a esse e mesmo do século atual, através de parábolas. Comparemos essas parábolas às estórias que contamos a crianças, existe uma interpretação ao pé da letra dessas estórias, benéfica para a criança e que ela entende sem muitos esforços, mas existe uma interpretação mais profunda que ela só entenderá quando crescer e amadurecer.
      Por trás de chapeuzinho vermelho, da floresta, do lobo, do caçador e da vovozinha, existe muito mais que um conto de fadas infantil (pesquise na internet e achará muitas interpretações desses simbolismos), assim há muito mais por trás das parábolas de Jesus. Mas Cristo disse que na hora certa não usaria mais de parábolas, porque não precisaria usar mais, para que ele não precisasse usar mais esse recurso duas coisas tinham que acontecer, o ser humano estar preparado e uma ferramenta mais adequada para isso estar disponível. Essa ferramenta não poderia ser Jesus, seu ministério como homem foi curto, a ferramenta é o Espírito Santo, que permite mesmo no mundo, que Deus fale ao ser humano de maneira mais profunda.
      Por não aceitar que espiritualidade é experiência gradativa (já refletimos em Uma espiritualidade gradativa), é que religiões são criadas e que homens são amarrados a conhecimentos iniciais, ainda que tenham direito à espiritualidade mais alta. Por isso textos bíblicos são idolatrados, quem não tem a viva palavra do Espírito precisa de leis em papel para ter um guia, mas é também por isso que dogmas e tradições são construídos, prendendo os homens a uma liberdade restrita que não deixa o Espírito Santo agir e que não coloca em risco o poder de manipulação dos líderes. Não é só na religião que essa estratégia é usada, pela política também se mantém pessoas com pouca escolaridade na sociedade para que não saibam votar certo.
      Mas no texto bíblico inicial é na seguinte parte que algo importante sobre espiritualidade é revelado, “não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai, pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes”. Pode-se interpretar esse texto simplesmente entendendo que se referia só aos discípulos que andaram com Cristo no mundo, que Jesus só estava dizendo que não poderia mais interceder por eles, como fazia, porque morreria, mas que continuaria fazendo isso no plano espiritual. Contudo, podemos entender algo mais profundo, e de uma forma mais ampla, que homens de todos os tempos chegarão a níveis espirituais onde terão acessos mais diretos a Deus, quando poderão nem necessitar de certas ajudas de Deus. 
      Jesus diz que não pedirá a Deus pelos homens, mas Deus os responderá pelo amor que eles deram a ele como filho de Deus. Jesus será sempre um meio único para nos achegarmos a Deus, “naquele dia pedireis em meu nome”, mas não da maneira que muitos acham que é. Levanto uma questão: Jesus é o meio, por nos mostrar como fazer, ou por ter feito por nós? Na verdade é as duas coisas, ele fez o que não poderíamos fazer colocando-se numa posição espiritual que nos dá acesso a Deus de forma exclusiva, mas isso é só o primeiro passo da espiritualidade. Os outros passos, usando a força que o primeiro passo dá, que nos permite ter a paz dos perdoados (Romanos 5.1), são para trabalharmos neste mundo e crescermos. 
      Paz é fundamental, já que muitas vezes o que nos impede de prosseguir para construir um futuro melhor, é a culpa pelo que fizemos no passado. Jesus nos dá perdão de Deus no presente, retira a condenação da lei que mostra onde erramos, mas não nos capacita para acertar. Contudo, trabalhar para sermos alguém melhor no mundo é algo que depende só de nós, nisso não estamos sozinhos. Está conosco hoje no mundo o Espírito Santo, é esse em nós que nos dá a possibilidade de nos movermos espiritualmente e diretamente para a porta, que é Jesus, para termos acesso a Deus. Fé não transforma, nos posiciona nas virtudes espirituais mais altas de Deus para que nos transformemos neste mundo através de boas obras.
      Por qual razão sinto de Deus que é tão importante entendermos isso? Porque uma doutrina, no mínimo infantil e no máximo mal intencionada, tem mimado os cristãos, acomodando-os e limitando-os, o resultado é uma grande maioria de cristãos imatura espiritualmente, escravizada a superstições e presa fácil de heresias e de homens maus. Aceitar algumas coisas só pela fé pode alimentar e legitimar preconceitos, como por exemplo achar que quem crê vai para o céu, e que quem não crê vai para o inferno, extremos opostos e eternos, desconsiderando prática de vida, e só levando em consideração aceitação de um credo religioso pela fé. Será que isso basta para salvar e condenar para sempre, para definir espiritualidade? 
      Um filho que recebe uma enorme herança não se esforçará para trabalhar, para quê? Já tem tudo o que precisa de graça? É isso que falsas doutrinas evangélicas têm feito por séculos a muitos homens, e não venham com o argumento que enaltece a graça e a misericórdia de Deus. Nenhum pai se alegra com filhos que crescem no corpo, mas não na responsabilidade, que não adquirem independência para saírem do lar paterno para terem seus próprios lares, por que Deus desejaria isso para seus filhos? Mas a Igreja Católica e as denominações protestantes e evangélicas querem filhos infantis para que possam controlar e usar. Tenhamos, pois, coragem para romper com cordões umbilicais, então adquirirmos espiritualidade. 

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José Osório de Souza, 3/09/2021

sexta-feira, agosto 19, 2022

O que é espiritualidade? (19/92)

      “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
      “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.
  I Coríntios 2.9-11, 14-16

      Para a doutrina cristã protestante espiritualidade é a pessoa do Espírito Santo nos homens, permitida pela conversão a Cristo salvador, para se tornar meio para acessar Deus pela porta que é Jesus espiritual no céu. Jesus é começo e fim, o Espírito Santo é o único meio, Deus é tudo em todos e suas virtudes mais altas são o objetivo da espiritualidade cristã. O texto inicial diz que quem sabe de Deus é seu Espírito, assim não é a religião ou costumes religiosos que fazem de um ser humano possuidor de espiritualidade, mas a liberdade que o Santo Espírito tem nele para conectá-lo a Deus. 
      O texto diz mais, sem o Espírito de Deus o homem é um ser “natural”, toda a humanidade está originalmente nessa condição, nela o ser é incompatível para entender a espiritualidade mais elevada de Deus, ainda que tenha conexão com “outros” espíritos, porque só o Santo Espírito nos dá a “mente de Cristo”. Não basta o corpo, os sentimentos e mesmo os pensamentos experimentarem conhecimentos espirituais, o homem precisa provar uma metamorfose que transforma sua mente natural em “mente de Cristo”, só assim poderá conhecer a verdadeira espiritualidade e praticá-la. 

     Espiritualidade, termo usado por pessoas e religiões diferentes para referirem-se a coisas semelhantes, mas não exatamente iguais. De maneira geral o termo refere-se a valores espirituais, uma parte do ser humano que opõe-se à matéria, que não pode ser percebida puramente pelos sentidos físicos, que não pode ser provada cientificamente, que é eterna, que dialoga com o divino. Refere-se também a capacidades e talentos que seres humanos têm para se comunicarem com o plano espiritual, e nisso pode não existir qualidade moral, já que no mundo espiritual podem existir deuses, divindades, entidades, potestades, anjos, arcanjos, demônios, e como creem muitos, espíritos de pessoas mortas, dentre outros seres espirituais. 
      O cristianismo tradicional usa o termo espiritualidade para definir a boa espiritualidade, já que para ele só com essa é autorizado ao homem ter comunhão especificamente com Deus pai, Deus Espírito e Deus filho, Jesus Cristo. Para a doutrina protestante os seres humanos não devem tomar iniciativa de fazer conexão mesmo com anjos, os bons seres espirituais. Para a doutrina cristã protestante em espiritualidade implica contato com bons seres espirituais, assim o termo está ligado a boa moral, virtudes morais, santidade, justiça, amor etc, já vícios e pecados estariam ligados à ausência de virtudes e moralidade, assim para o meio cristão se não há Deus, não há espiritualidade, quem não tem moral não é espiritual.
      A religião espírita, o kardecismo ou espiritismo, é mais humanista, entendendo espiritualidade como elevação moral do indivíduo, dependendo dele construir sua graduação espiritual, assim ser espiritual é adquirir virtudes e virtudes expressas em obras. Para o espiritismo ser espiritual está mais ligado ao que o homem faz do que ao que ele crê, não se é espiritual porque se é cristão e se adora a Deus, mas porque se tem uma vida prática de caridade, justiça e santidade, e principalmente de caridade, servindo o próximo em amor. Se para o cristão tradicional ser espiritual é relacionar-se com Deus pela fé, para o espírita relacionar-se com o próximo em amor é o que de fato evidencia espiritualidade, e isso não é mais fácil, é mais difícil. 
      Não vou refletir sobre outras críticas que o cristianismo tradicional faz ao kardecismo, não é o ponto deste texto. Contudo, é justamente aquilo que o protestantismo considera falta de espiritualidade, ou seja, comunicação com mortos e reencarnação, vendo um como contato com anjos caídos e o outro como negação da salvação gratuita pela fé em Cristo, que o espiritismo considera pontos de espiritualidade, ou seja, mediunidade que ensina e evolução por mérito próprio. Será que os evangélicos não deveriam considerar o fato de que muitos que eles acham ter ligações com Satanás, possuirem em suas vidas práticas virtudes morais e obras reais de amor, para então reavaliar seus conceitos de espiritualidade?

      Esse entendimento do que é espiritualidade foi introdução para o ponto desta reflexão, que é uma pergunta: qual é a essência de Deus? Muitas linhas religiosas ou metafísicas, entendem Deus como uma luz, ou como uma frequência muita alta, como uma onda, ou mais, como uma energia. Nem vou afirmar que Deus não possa ser percebido pelos nossos sentidos físicos, impressionados por nossos espíritos, dessa maneira. Como não podemos ver e ouvir Deus diretamente por nossos sentidos físicos, que recebem um eco daquilo que nossos espíritos percebem e tentam fazer uma interpretação grosseira disso, quando oramos ao invisível podemos sentir o Espírito Santo como uma luz, como um som, mesmo como uma energia. 
      Apesar de crer que a humanidade chegará num tempo onde muita coisa que se considera parte do mundo espiritual poderá ser comprovado pela ciência, um momento onde religião e ciência não serão mais oponentes, mas amigas, pessoalmente não considero adequado considerar as coisas espirituais como elementos e eventos inteligentes mas desprovidos de virtudes morais. Ainda que possamos perceber Deus como uma luz claríssima, é uma luz provida de amor, santidade e principalmente de extrema empatia com o ser humano, por isso Jesus homem é e sempre será a expressão mais completa de Deus que a humanidade conheceu. Se Deus se mostrou como Jesus, ter espiritualidade é ser como Jesus, não como uma energia. 
      Ainda que sinceros e bem intencionados, os que tentam ver Deus, seres espirituais e comunicações com esses, só como um estudo científico, se possível para obterem comprovações materiais, mapeando as partes invisíveis do ser, alma, espírito, perispírito, fluídos espirituais etc, podem até conhecer a Deus, mas só seu “corpo”, não seu “espírito”. Um médico pode definir o ser humano como ossos, nervos, veias, órgãos, membros, carne e pele, mas todo esse conhecimento não curará depressão e insanidade, contudo, alegria, esperança, paz, podem harmonizar não só o corpo físico, mas também o espirito. Deus está em todo o universo, visível e invisível, conhecer isso é bom, mas só tem vida eterna quem conhece sua essência.
      Deus nos atrai com amor, para que sejamos santos respeitando nossas idiossincrasias, isso é um contato pessoal e afetivo buscando nosso aperfeiçoamento moral. Não é como o de um transmissor de ondas para um receptor, como de uma emanação de luz para uma área escura, de um raio do céu para um campo vazio, mas como o apelo carinhoso de um pai para um filho, respeitando todas as imperfeições desse filho. Não precisamos entender intelectualmente como isso acontece, por isso a fé é tão enfatizada no evangelho, basta-nos crer, e isso qualquer ser humano, indiferente de sua cultura, educação ou posses, pode fazer. A espiritualidade mais elevada se manifesta com simplicidade, traz paz e nos faz seres humanos melhores.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.
José Osório de Souza, 3/09/2021

quinta-feira, agosto 18, 2022

O invisível no escuro (18/92)

      “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivoSalmos 42.1-2b

      Ter uma experiência eficiente de diálogo com Deus permite respiração espiritual de forma profunda, que renova o corpo e nivela o espírito com o melhor de Deus. Esse tema tem que ser falado aqui sempre, já que muitos perdem a luta contra as diárias tentações do pecado, assim como nunca superam as provações existenciais mais importantes, simplesmente porque não são alimentados adequadamente em bons períodos de orações com Deus. 
      Procure um lugar escuro e silencioso, pare, se acalme, se limpe e preste atenção, olhe o invisível, Deus pode ser visto mais claramente nele. O mundo espiritual se vê com olhos espirituais, anulando-se o máximo possível distrações e interferências materiais e morais. Fechando os olhos podemos fazer isso, mas de olhos abertos é ainda melhor. Os antigos faziam isso à noite e sobre os montes, buscar o Senhor assim é uma experiência libertadora. 
      Muitos cristãos amam a Deus, o adoram, oram a ele, mas são crianças em experiências espirituais, porque não se dão ao trabalho que outros homens se dão. Isso não impede a humanidade de ter comunhão e ser abençoada por Deus através do cristianismo, mas entrega uma experiência espiritual menor, que se fosse expandida traria aos seres humanos paz e elevação moral superior. A aventura de ver o invisível no escuro é poderosa. 
      Enquanto espera Deus falar, adore o Senhor, mas discretamente, sem estressar seu corpo, descansando-o, deixando que suas emoções e pensamentos adquiram leveza e se deitem. Isso elevará teu espírito, permitirá que ele voe nas asas do Santo Espírito até às regiões espirituais mais altas em Cristo, então chegue à mente de Deus. Se fizer certo, em santidade e humildade, no momento aprovado por Deus, verá o invisível no escuro e será iluminado. 
      Antropomorfizando Deus, algo não totalmente adequado, mas metaforicamente didático, entendemos que o “coração” de Deus ama todos sempre, suas “mãos” acolhem os humildes que o buscam, seus “pés” pisam as regiões, terrestres e celestes, e tomam posse daquilo que é para ser nosso, mas sua “mente”, como num corpo humano, é o lugar mais alto. Na “mente” de Deus temos acesso aos  pensamentos do Altíssimo, conhecimentos exclusivos. 
      Não pense que esses conhecimentos são revelações de mistérios do universo, até são, mas esses pensamentos não são fáceis, nem para todos. Para mim e para você, em nosso dia a dia, podem ser palavras simples, uma frase curta, que num momento de angústia, onde achamos que a solução de um problema é impossível, dizem somente, “descansa e espera”. Parece pouco? Mas se forem palavras que vêm da “mente” do Senhor bastarão.
      Receberemos esse conhecimento embebido de uma unção tão forte que nos dará paz imediata, porque contém a vontade direta de Deus para aquele momento de nossa vida. Ah, se pudéssemos ver todos os “anjos”, seres espirituais de luz, que se aproximam de nós para nos consolar, limpando nossas mentes, libertando nossas emoções. Nesse momento os “braços” do Senhor nos abraçam, com um afeto que ninguém pode nos dar. 

      “Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém.” I Timóteo 1.17

quarta-feira, agosto 17, 2022

As coisas do alto (17/92)

      “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
      “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria;” “despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca.” 
      “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.
      E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração.”  
Colossenses 3.1-3, 5, 8, 12-16

      Coisas que são de cima, o que entendemos com isso? A primeira coisa que nos vem à mente é santidade, pensar nas coisas do alto, nas coisas de Deus, não nas de baixo, do mundo, portanto, coisas espirituais, santas. O que entendemos como coisas santas? O senso comum alia santidade à abstinência ou controle dos prazeres e dos impulsos do corpo físico, como não fumar, não consumir bebidas alcoólicas, não usar drogas ilícitas, não adulterar, não se prostituir, não matar, não roubar, dentre outros pecados. 
      Apesar de quase dois mil anos do evangelho de Cristo no mundo, ainda temos uma visão da velha aliança de Moisés, da Lei judaica, dos dez mandamentos, sobre santidade, assim, uma ótica dos efeitos externos e não das causas interiores. Dessa forma pensar nas coisas de cima seria não pensar nos prazeres do corpo e pensar em Deus, principalmente louvando-o. Mesmo muitos que exercem os dons do Espírito, preferem adoração que palavras de sabedoria, acham que ser santo é adorar a Deus, não conhecê-lo.
      Vida de consagração e oração é vista pela maioria basicamente como louvar a Deus, por isso música como louvor tem feito tanto sucesso nas últimas décadas em cultos evangélicos, mais até que o estudo da Bíblia. Esse entendimento é transportado para a eternidade, para muitos o céu será um espaço para adoração, assim, a vocação mais alta de Deus aos homens é para serem eternos coristas num coral celestial. Mas será que as coisas que são de cima, que santidade, que a eternidade, são de fato isso, ou só isso? 
      De maneira alguma estamos menosprezando a importância do louvor, principalmente porque junto do amor, gratidão é a maior virtude que podemos expressar, amor e gratidão terão poderosa utilidade mesmo na eternidade. “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças” (Colossenses 4.2), louvor a Deus é importante como preparação e vigilância, assim, antes de receber a palavra de Deus, louve-o, e depois de receber, continue louvando. Adoração nos mantém em conexão com o Deus Altíssimo pelo Espírito Santo.
      Contudo, uma visão errada limita, e é errada porque usa referências das coisas de baixo, do mundo, ainda que confessando o nome do pai, do filho e do Espírito. Por isso muitos veem eternidade como os períodos de excelência dedicados a Deus na Terra, missas e cultos, só que mais duradouros. Para católicos a eternidade pode ser uma missa eterna, para protestantes tradicionais, um longo estudo teológico, para evangélicos, um período de louvor sem fim, para carismáticos, êxtases ilimitados em línguas estranhas.
      A verdade é que o homem não tem capacidade para acessar as “coisas do alto”, e muitos que tentam o fazem usando referências de religiões, que se desviaram do evangelho original calando o Espírito Santo ou experimentado-o limitadamente. Acessar as coisas de cima só o Espírito Santo pode, assim nós podemos se entramos em sintonia com o Espírito. Se sozinhos não podemos nos mover para Deus, pegamos “carona” no Espírito, que nos leva a Jesus e que nos dá acesso ao Altíssimo, nenhum outro “espírito” pode fazer isso.
      Só depois que entendemos o “como” é que podemos entender o “o quê”. O que o Espírito Santo nos permite buscar e pensar das coisas lá de cima? Não são “nãos”, mas “sins”, ser santo não é saber o que não se pode fazer, mas entender o que se pode fazer e estar tão satisfeito com isso que o que não se pode fazer perde a graça. Posso beber uma dose de scotch doze anos envelhecido? Posso, não é pecado. Mas quando nos posicionamos pelo Espírito Santo nas coisas que são de cima achamos prazer nisso? Não. 
      Uísque foi só um exemplo, poderia citar outros prazeres deste mundo, ocorre que entendendo coisas do alto como “nãos”, muitos lutam contra os prazeres e perdem. Não se pode vencer algo que é agradável aos nossos sentidos físicos, o que se pode é provar algo melhor, o melhor está lá em cima, com Deus por Jesus e através do Espírito Santo. A única coisa que vence a morte é a vida, a matéria existe para morrer, só no Espírito Santo há vida, que nos liberta das coisas de baixo e nos posiciona nas coisas de cima. 
      As coisas que são de cima na verdade são uma única coisa: a palavra de Deus. Essa não importa como chega a nós, pela Bíblia, por um testemunho, por uma música, por línguas estranhas, por profecia, por uma visão, por um sussurro inexprimível, por um sentimento inefável, mas que depois nossa mente esmiuça o significado, no nível intelectual que cada um de nós tem. Esse conhecimento, que começa puramente espiritual e acaba racional, nos vivifica, consola, cura, apazigua nossa alma de maneira singular. 
      Nós, protestantes, costumamos ter uma noção, que não digo que é errada, mas que é limitada do que seja a palavra de Deus, pensamos que é só a Bíblia. O termo é citado no antigo testamento, mas aos homens daquele tempo significava a Lei de Moisés, por outro lado o termo é citado no novo testamento, mas escrito num tempo que não se tinha em mãos a Bíblia que conhecemos hoje. Palavra de Deus é a pessoa do Espírito Santo, que inspirou escritores bíblicos, mas que nos fala ao vivo hoje quando paramos e ouvimos.
      Sim, meu querido, você pode buscar e pensar nas coisas que são de cima da tua maneira, do jeito que você sabe e se sente melhor, mas entenda que pedidos e agradecimentos não são o fim, andar por uma pista de mão única, mas o começo, só parte do processo. Há uma outra via, com mão contrária, e se tua busca e tua intenção forem humildes, sinceras e crédulas, Deus te responderá pelo Espírito Santo. Então, você achará a vida eterna espiritual maior, que te dará as condições melhores para vencer as coisas de baixo.
      A primeira parte do processo é humana, exige esforço emocional e limpeza moral, que depois conduz ao silêncio de alma que espera com olhos e ouvidos espirituais abertos. A segunda parte é divina, nessa recebemos a “palavra viva de Deus”. Essa “palavra” não é só palavras e frases racionais, é vida eterna, que desce até o homem como um poderoso facho de luz muito clara e pura, emanada diretamente do Altíssimo. Essa é a coisa do alto que entrega ao homem santidade verdadeira, de dentro para fora, de cima para baixo.

terça-feira, agosto 16, 2022

Santidade sempre! (16/92)

      “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” Mateus 5.8

      Santidade, a virtude que a maior parte dos homens entende como o efeito principal de quem quer ser espiritual, mais até que o amor. Santidade, por mais preciosa que seja, é vista como uma virtude que cresce no insulamento, muitos acham que ela melhora se viverem mais longe dos homens, e isso porque ela está muito relacionada ao controle do desejo sexual na cabeça de muitos. Já o amor requer o contrário, que se conviva socialmente servindo ao próximo. A principal característica do amor é paciência, já que com pressa não se ama, se julga olhando o outro com olhos sujos, não santos.
      Mas se amor é fazer, mais que sentir ou falar, santidade é simplesmente ser, e sem santidade não se pratica o amor verdadeiro. Por ela, entretanto, muitos cometem equívocos, limitando-a a ausência de prazeres físicos e aliando-a a isolamento social. Não se conhece a Deus porque se tem limpeza moral, não no sentido que essa limpeza seja um fim em si mesma, muitos cuidam do corpo e da mente e não são santos. Contudo, quando se ama a Deus ele nos atrai para amá-lo mais, nisso a santidade acha lugar em nós de maneira natural, queremos ser santos para agradar a Deus. 
      Assim, santidade é efeito de quem conhece o Senhor e então se torna causa para que ele seja conhecido ainda mais. Muitos, contudo, interpretam santidade de forma errada, por medo do inferno e da culpa tentam dominar seus corpos físicos pelas próprias forças, carne tentando controlar carne para que haja espiritualidade. Santidade é experiência espiritual, não física, e quando vivida traz paz e liberdade, não dor e aprisionamento, santidade alegra o coração, na verdade é a maior felicidade que o ser pode experimentar porque coloca o ser na íntima presença de seu santíssimo criador. 
      O homem pode criar religiões, pode buscar coisas e lugares diferentes para focar sua fé, pode achar o divino de maneiras distintas, mas uma relação genuína com o verdadeiro Deus sempre implica em santidade, em abrir mão dos prazeres do corpo e do ego, em pureza moral e em se posicionar direto e reto no Deus altíssimo. Muitos se perdem, incluindo pregadores e cantores famosos de grandes ministérios, porque acham que não há mais necessidade de santidade, que lhes basta o carisma humano, o talento e a experiência na palavra e no canto, a facilidade para seduzir os homens. 
      No caminho para conhecer o Senhor podemos abrir mão de muitas coisas, incluindo posições e serviços dentro de igrejas que muitas vezes podem se tornar só vaidades e jugos pesados de homens. Todavia, aquele que ama a Deus, que teme o Senhor, que deseja com humildade fazer sua vontade, nunca abrirá mão da santidade, ele entendeu que um Deus santo se agrada de filhos santos, e a esses nada nega. Mas não se é santo para se ter créditos para se ganhar coisas de Deus, ou por se ter medo que ele castigue caso não seja santo, se é santo por amor a Deus, um amor desinteressado. 
      Você quer uma prova se tua vida está de acordo com a vontade de Deus, se tuas ações e escolhas têm agradado ao Senhor? Verifique se está andando numa santidade que permanece, que representa a maior parte do tempo de seus dias. Quem desobedece a Deus, por mais que seja esforçado em muitas áreas, no trabalho, mesmo na participação ativa de ministérios nas igrejas, não conseguirá ser santo, não na sua vida mais íntima, aquela que só a pessoa e Deus conhecem. Muitos passam vidas como cristãos, assíduos em cultos, estudando Bíblia, sem nunca conseguirem vitória sobre pecado. 
      Deus não santifica ocioso, e com ocioso não me refiro a vagabundo que não trabalha secularmente, me refiro a não fazer a real vontade de Deus. Muitos trabalham e trabalham e permanecem ociosos, porque desobedecem a Deus, fazem tudo, menos o que de fato Deus quer deles, esses nunca provarão santidade. Deus limpa instrumento útil para que seja mais útil, “toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira, e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (João 15.2), assim, se estiver sobrecarregado e não conseguir ser santo não jogue a culpa no trabalho, mas em tua teimosia. 
      Superar ansiedade, gula, sensualidades, traições, invejas e vícios, é santidade. Ter paciência com as pessoas, suportar suas fraquezas, não querer fazer justiça com as próprias mãos, é santidade. Não segurar pensamentos sujos e violentos, de autocomiseração e de orgulho, é santidade. Acalmar os sentimentos e os pensamentos, buscar todos os dias uma experiência viva de oração, quando se ouve uma palavra do Senhor e então pode-se repousar em paz, é santidade. Não se acomodar com o pecado, persistir nisso até o final, ser puro mesmo se ninguém vê, é santidade que pode ver a Deus.

segunda-feira, agosto 15, 2022

Vício sexual: tabu? (15/92)

      “Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito. Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” I Coríntios 6.16-20

      Culpa e ansiedade são as causas mais comuns de dores não resolvidas, mesmo quando desnecessárias, mas traumas também são difíceis de serem enfrentados, e os mais comuns são os domésticos, advindos de criação violenta ou ausente. Tudo isso se resume numa palavra: cobrança. Nos sentirmos cobrados o tempo todo dói, como nos faz cobrar outros injustamente, assim também pode nos isolar. Sofrendo e sozinhos somos facilmente viciáveis, ainda que no vício mais barato e eficiente de todos, sexo a um, ou masturbação.
       A vida moderna com internet e celulares baratos e acessíveis, disponibiliza sexo para quem quiser, em qualquer lugar ou hora, assim uma legião de viciados em sexo solitário é mantida no mundo. Isso é um problema, precisa ser encarado como tal e cura deve ser buscada. Muitos cristãos, bons cristãos, têm esse vício, que se tornou tão comum que muitos nem chamam de vício, alegam que são só coisas das pessoas, particulares, que elas fazem em suas vidas privadas, ninguém fica sabendo e não prejudica ninguém. 
      Mentira, prejudica sim, é só efeito de causa não resolvida, menosprezada e por isso tão útil nas mãos do mal espiritual. Muitos vivem pesados e amarrados por causa desse vício, faz sofrer e assim é porta para outros vícios, num loop maldito. Sexo de maneira geral pode ser vício, e como tal precisará de cada vez mais “artifícios” para ser prazeroso, por isso fetiches e tantos desvios. Isso nada tem a ver com sexualidade emocional, seja ela qual for, tem a ver com prazer físico, por isso sem afeto, sem respeito, só pelo clímax. 
      Um aspecto precisa ser considerado sobre esse assunto, aliás, um tema demonizado por pastores que não o enfrentam com maturidade e realismo. Como se comportam pessoas sem vida sexual com outras pessoas, tendo organismos sadios e libidos normais? A posição “oficial” de muitas igrejas evangélicas é que não se comportam, solteiros não devem praticar sexo. Nem vou refletir sobre o aspecto moral de sexo e casamento, não é tema desta reflexão, mas algo precisa ser dito sobre o funcionamento de nossos corpos.
      Pessoas com boa saúde física e emocional, num ideal de vida onde buscassem espiritualidade, controlariam desejos sexuais que não podem ser saciados na fonte, em suas mentes, não precisariam consumir pornografia na internet ou outras coisas para as excitar. Aconteceria com elas o que é comum com adolescentes, polução noturna, ou mesmo o êxtase de maneira rápida e natural durante o banho, por exemplo. Por que pessoas adultas dificilmente provam isso? Porque seus corpos não têm tempo para isso. 
      Muitas pessoas estão tão viciadas em masturbação, e como vício é algo bruto que mais machuca que relaxa, que só saciam suas tensões sexuais provocadas não pelo funcionamento normal de seus corpos mas por excitação forçada, com imaginações imorais. Isso é vício mental. O desejo não pode simplesmente sumir, se a pessoa tem boa saúde ele existirá, mas pode ser resolvido com mais naturalidade, sem que se torne vício que fira o corpo, suje a alma e esfrie o espírito. A cura está em manter a mente limpa.  
      Sexo não é pecado, o melhor dele é provado de forma ao mesmo tempo leve e intensa, é assim quando compartilhamos intimidade física e afetiva com alguém que amamos, e como nos sentimos limpos depois. Mas creiam, solteiros focados em espiritualidade verdadeira também podem conviver com sexualidade sem peso e sem violência, insisto num ponto que não vejo pastores evangélicos falando a respeito. A maioria considera sexo problema sem solução para solteiros e simplesmente finge que o assunto não existe. 
      Sexo solitário como vício leva as pessoas a terem vidas duplas, uma vida temendo encontrar a outra, ambas existindo dentro da mesma alma. Isso nos enfraquece, já que mantemos em nós um conflito desnecessário, mas também enfraquece casamentos, ainda que muitos viciados nunca tenham coragem de viver adultérios reais, só virtuais. Há psicoterapeutas que dizem que isso é sadio, que as pessoas devem ser incentivadas a essa prática, mas vício nunca é bom, porque é efeito de algo pior escondido e não resolvido.
      Nos dias de hoje muitos dizem, “se te dá prazer e não prejudica ninguém, faça”, mas isso considera o ser humano só como matéria e emoção, desconsidera espírito e a finalidade maior desse, ter comunhão com um Deus espiritual e moralmente santo. Quando sabemos a importância da mente em nossa comunhão com Deus, da relevância da limpeza moral, e do quanto o mal espiritual é atraído por mentes sujas, entendemos que não é só questão de satisfação física, tem a ver com nossa essência eterna e com um Deus de amor. 
      Pode-se usar o texto bíblico inicial para alegar que masturbação não é pecado visto que não realiza conjunção carnal com profissionais de prostituição, ainda que meretrizes, homens ou mulheres, não sejam só quem troca favores sexuais por dinheiro. Mas pelo evangelho entendemos que forçar um orgasmo sozinho requer imaginação, isso suja nossas mentes, nossa essência interior, portanto nosso espírito. É justamente sobre isso que o texto fala, de sujar o templo do Espírito Santo com presenças inadequadas. 
      Case-se bem, eis uma boa solução para sexualidade, mas não se apresse. Muitos, querendo se casar a qualquer custo, só para terem sexo legítimo como cristãos, se casam e como o problema principal não era sexo, não se resolvem, continuam sofrendo e susceptíveis a vícios. Após um tempo casados voltam ao vício do sexo solitário. Tenha Deus como amigo, um amigo nos entende, sabe de nossos segredos e nos ajuda sempre, contudo, aceite, vida espiritual precisa ser prioridade e ela não é fácil neste mundo, para ninguém.

Leia nas postagens anteriores
as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 12/10/2021