sexta-feira, março 31, 2023

Enoque andou com Deus (4/4)

      “E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.Gênesis 5.23-24

      Adão gerou a Sete que gerou a Enos que gerou a Cainã que gerou a Maalalel que gerou a Jerede que gerou a Enoque, assim, pela narrativa bíblica, Enoque é a sétima geração de homens na Terra, ou conforme pode ser mais lúcido entender, a sétima geração de homens “selecionados” a partir de Adão, o primeiro homem “selecionado”. Com “selecionado” não entendo que só houve esses homens, essas famílias, mas esses foram selecionados pela narrativa de Moisés como patriarcas da nação de Israel, do povo judeu atual. Enoque, nessa narrativa, gerou a Matusalém, esse a Lameque, esse a Noé e esse a Sem, do qual descendeu Abraão, portanto, Sem é o décimo primeiro homem “selecionado” pela narrativa em I Crônicas 1.1-4 (autoria atribuída a Esdras). 
      Para a Cabala, o esoterismo judaico, assim como para ocultismos e outras filosofias mágicas, essa genealogia e principalmente Enoque e sua experiência peculiar, têm muita importância. Há até um livro aliado a Enoque, com cópia mais antiga de 200 a.C. e considerado apócrifo pelo cristianismo, onde descrições precisas de seres espirituais, suas hierarquias e funções, são colocadas. Judas (1.14-15), livro do cânone bíblico oficial tanto da Bíblia católica quanto da protestante, cita claramente uma passagem do livro de Enoque, prova que esse livro era conhecido e aceito no primeiro século, mesmo por discípulos de Jesus. A religião oficial que Moisés parece começar a descrever com Enos, tem uma excessão em Enoque?
      Enoque andou com Deus e não apareceu mais, com certeza das passagens mais intrigantes da Bíblia, sobre ela não temos maiores explicações, mas podemos conjecturar. Não tem como não aliar isso a arrebatamento do Espírito Santo, experiência que pode-se ter ainda em vida, como teve Paulo (II Coríntios 12.2-4), ainda que no caso de Enoque ele foi e não voltou, assim, experiência mais semelhante com a de Elias, que desapareceu ainda vivo num carro de fogo (II Reis 2.11). Há citações fantásticas na Bíblia, que a rasa doutrina tradicional cristã não pode explicar, se muitos evangélicos quisessem, poderiam perguntar a Deus e conheceriam mistérios, que para eles são assuntos proibidos e mesmo diabólicos, quando não são. 
      Pode-se entender a narrativa de Moisés na Torá como exotérica, isso é, um texto primário e para o povo comum sobre a relação do ser humano com espiritualidade. Algumas coisas até são citadas, mas não aprofundadas, devem ter sido citadas porque já faziam parte da tradição oral, da mitologia israelita, eram de conhecimento popular. A narrativa esotérica, contudo, ficou para outros livros e outros leitores, que textos da Cabala estudam com mais aprofundamento. Sabe quem quer saber, contudo, quem escolhe não querer saber, não fica só com restrições de informações, mas limita também seu fortalecimento moral, assim como pode se tornar presa fácil de manipuladores religiosos, que dominam pelo medo do desconhecido. 
      Penso que o questionamento mais importante, e mais útil, não seja como Enoque sumiu, mas por que ele sumiu. Muitos se atêm a como e a o que ocorreu depois, fazendo uso de especulações, que apesar de poderem revelar mistérios sobre o mundo espiritual não oferecem aquilo de mais importante que Deus quer nos ensinar. É importante conhecermos mais o mundo espiritual? Eu creio que sim, mas o mais importante é termos virtudes morais, sermos mais santos, amarmos mais, sermos mais pacientes, não julgarmos nem termos preconceitos. Enoque foi tomado por Deus ainda em vida, sendo livrado de enfrentar a morte física, porque tinha virtudes morais elevadas, tinha entendido e cumprido sua missão no tempo e na Terra. 
      Muitos querem ser arrebatados no espírito para conhecerem mistérios, e muitos até conseguem isso, ainda que não pelo Espírito Santo. Contudo, poucos querem pagar o preço que Paulo, Elias e Enoque pagaram, com certeza vidas consagradas, humildes e fiéis. O importante é que Enoque andou com Deus, se ele não apareceu mais depois, ou não, se Deus o tomou para si em vida, ou não, isso é com Deus. Sou um ferrenho defensor de que quem quer saber, sabe, e tem direito a isso, ainda que as instituições religiosas digam que não, mas mais importante que isso é termos vidas práticas como a de Jesus. Isso será avaliado em nós na eternidade, e não sabermos nomes de anjos e mesmo termos mais ou menos dons espirituais. 

quinta-feira, março 30, 2023

Origem de uma religião (3/4)

      “E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela deu à luz um filho, e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou. E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor.Gênesis 4.25-26

      A afirmação de Moisés no final do versículo vinte e seis do capítulo quatro de Gênesis é intrigante: se começou a invocar o nome do Senhor. Mas como assim, antes isso não era feito? A Bíblia não deixa claro o que significa essa informação, assim o que podemos fazer são suposições. Penso que com “invocar” o escritor se refere a uma busca de Deus de maneira mais formal, isso pode ser o registo do surgimento de uma religião, no sentido de se estabelecer um contato com o divino de forma institucional. Pelo time (leia como tempo em inglês) da narrativa bíblica, o período que se passou entre a criação do primeiro casal, o nascimento dos dois primeiros irmãos, o assassinato de Abel, o exílio de Caim, o nascimento de Sete e a vida de Enos, nos parece rápido e ininterrupto, uma pessoa sendo diretamente conectada a outra. 
      Se foi mesmo assim não podemos afirmar, na verdade, e aqui vai uma grande conjectura, nem sabemos se a “história” relatada nos quatro primeiros capítulos de Gênesis se refere à humanidade em todo o planeta Terra, ou apenas a um povo específico, o israelita ou judeu, em uma região no Golfo Pérsico. A favor dessa possibilidade podemos argumentar com a pergunta clássica: como o homem se multiplicou existindo só Caim, Abel e Sete? O mais sábio e para mim o que o Espírito Santo orienta, é entendermos que os personagens selecionados e relatados por Moisés têm o propósito de nos ensinar lições que para Deus são relevantes aprendermos, assim busquemos entender esse propósito divino, e não usar os textos de Gênesis como informações históricas e científicas. Isso não é pecado, meus caros evangélicos. 
      Existe um princípio no estudo científico da história, o texto muitas vezes pode revelar muito mais sobre o escritor e seu tempo, que sobre os fatos, os personagens e os tempos desses no texto. Gênesis pode nos dizer muito sobre Moisés, dito autor do livro, sobre suas relevâncias e propósitos ao ter escrito o livro, assim como boa parte do Pentateuco. Moisés construiu não só a religião e o estado de Israel antigo, quando libertou a nação do Egito e recebeu a Lei de Deus, como também estabeleceu a base cultural dos judeus, e fez isso de uma maneira moderna e eficiente, registrando em textos a criação de Adão e Eva, a seleção de Noé e seus filhos, a chamada de Abraão, até a transformação dos filhos de Jacó em famílias e finalmente numa nação. Se Moisés tinha propósito, Deus ainda mais com a visão de mundo de Moisés. 
     Por isso, ainda que levado como escravo, migrando de um país para outro, vivendo em várias regiões do mundo durante milênios, o povo judeu manteve, não só sua saúde física, visto que a Torá também dá orientações sobre higiene e saúde, mas também sua integridade cultural. Pode-se matar pessoas, mesmo milhões delas, mas não se extermina uma ideia, a “ideia Israel” está bem definida nos textos de Moisés e em outros textos israelitas. Podemos dizer, que mais até que Abraão ou Davi, Moisés é o criador do povo judeu, e é sobre essa cultura que o cristianismo de Jesus, Paulo e João evangelista, foi construído, dando origem depois ao catolicismo e ao protestantismo. Cristãos são muito mais membros de seitas judaicas que outra coisa, retire a história e a religião do povo judeu deles e não haverá cristianismo institucional. 
      Usei o termo institucional referindo-me ao cristianismo como religião desenvolvida neste mundo, já o verdadeiro cristianismo, que está no coração de Deus, no centro de sua vontade, dele podemos retirar muita coisa que não fará diferença. O que deve ficar? Jesus, sua vida e morte como homem e sua existência eterna como Deus. A Bíblia é maravilhosa, aprendo com ela todos os dias, mas como sempre digo, entendemos sua melhor relevância quando a lemos com inteligência científica e unção genuína do Espírito Santo, uma leitura assim nos direcionará a Cristo. Qual o objetivo de Moisés registrando a declaração “então se começou a invocar o nome do Senhor”? Informar a origem de sua religião, aquela que se concretizaria com as leis, os mandamentos e os protocolos de festas e sacrifícios e ofertas oferecidos num templo. 
      Algo precisa ser dito sobre religiões institucionalizadas neste mundo, elas só nascem quando a origem espiritual pura que veio do outro mundo morre. Até Sete o ser humano buscava a Deus? Sim, buscava, mas de uma maneira mais direta, informal, pura, vide a oferta aprovada por Deus de Abel. O homem ainda tinha viva, de alguma forma, o contato original com Deus que Adão e Eva fizeram, assim não precisava de rituais e regras. Quando o Espírito Santo esfria porque os homens se desviam em algum nível, é preciso criar ritos e liturgias para “encenar” (ritualizar) procedimentos que não podem mais ser exercidos de maneira mais viva e livre. O melhor exemplo disso é o catolicismo, ele não é uma evolução do cristianismo, mas uma seita que surgiu desse, uma visão de homens desviados de uma revelação espiritual direta de Deus, o verdadeiro Cristo. 

quarta-feira, março 29, 2023

A ti cabe dominar teu desejo (2/4)

      “E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.Gênesis 4.7b-8

      Pelo texto bíblico abaixo podemos ter a impressão que a vida de Caim e Abel era solitária, que não tinham muita gente para conviver, mas eu não creio que foi assim com Caim e Abel verdadeiros, e penso que houve uma história real na qual o mito foi estabelecido. Que seja, aprendamos a lição como Deus nos permite aprender pelo texto registrado por Moisés, se Caim só tivesse que conviver com Abel isso já seria suficiente para que o ponto de seu caráter que precisava ser tratado fosse confrontado. Ninguém se engane, se Deus quer tratar-nos achará um jeito, independente do ambiente externo, das pessoas com que vivemos, de nossa profissão ou de nosso nível financeiro, ninguém vem ao mundo de férias, sempre há propósito. 
      Há nisso uma lição, o tratamento mais pesado a que Deus nos submete é com aqueles que vivem próximos a nós, principalmente pais e irmãos. Deus insistiu em abrir os olhos de Caim, “se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”, simples assim, e eis a luta de todos os seres humanos e de todos os tempos resumida, encarar tendências prejudiciais e vencê-las. Contudo, hoje parece que o mundo incentiva jovens a fazerem justamente o contrário, deixarem correr soltos desejos e impulsos. Por exemplo, se as mulheres querem andar expondo seus corpos, em qualquer hora e lugar, podem, se algo ruim ocorrer a culpa não é delas, mas de homens que não se controlaram. 
      Entendam-me certo, não sou falso moralista e muito menos sexista, não culpo mulheres, não digo que elas se vitimizam, por outro lado não inocento homens e muito menos os demonizo, com equilíbrio e bom senso pode haver liberdade para todos, respeito e boa moral que prioriza o espírito, não o corpo. Mas a orientação de Deus é clara, a ti cabe dominar teu desejo, aqui desejo são coisas ruins, ou inconvenientes que apesar de a princípio serem boas podem desencadear algo ruim. Tem gente tendo intenção boa e não sendo ativamente errada, mas fazendo isso no lugar errado, na hora errada e com pessoas erradas, o resultado é que algo dará errado, numa passividade irresponsável que o mundo chama de direito. 
      Voltemos a Caim e Abel, olhando a história pelo lado de Abel ele parece ter recebido uma injustiça, não tido oportunidade para se defender dela e simplesmente sido mandado para o outro mundo antes do tempo. Mas como sempre o ponto de vista de Deus é o que explica tudo com justiça, Abel cumpriu sua missão, sofrendo violência e traição? Sim, mas que importa, ele estava no centro da vontade de Deus e foi usado pelo Senhor, ainda que fosse só para trazer à tona a verdade sobre Caim, um mal que ele escondia bem. Sejamos sábios, só saberemos de fato nossa missão neste mundo na eternidade, e pode ser algo bem mais subjetivo que achamos que é, algo que homens não dão valor, que só Deus vê e dá um valor eterno. 
      Muitos se acham como perdedores porque não conhecem, e se conhecem não aceitam, suas missões principais no mundo, querem ser uma coisa, acham que isso é o mais importante, e como não conseguem ser, frustram-se. Muitos estão fazendo a vontade de Deus e não sabem, ou não aceitam que estão, Deus os usa e ainda assim não são felizes. Fazer o que se gosta e gostar do que se faz, diz o ditado. Caim queria ser Abel, por isso o invejava, mas não sabia que a missão de Abel era morrer por ele, a exemplo de Cristo. Se soubesse disso será que Caim invejaria o irmão? Quem não ama a ponto de morrer por alguém viverá ainda que matando alguém, não necessariamente matando a pessoa, mas assassinando sua reputação.
      Morremos por alguém quando dominamos nosso egoísmo, nossas vaidades, nosso desejo de prevalecer, de darmos a última palavra, de nos aparentarmos como superiores. Mas quem não se aceita não amará, não se sentirá satisfeito, invejará e será um assassino, ainda que só de reputações. Abel também devia ter desejos que devia dominar, todos temos, mas pelo que entendemos na Bíblia ele teve vitória, ainda que para o violento Caim tenha sido um fraco vencido por sua inveja. Não importa, Deus sabe quem somos, não se deixa enganar pela aparência, por isso aceitou o sacrifício de Abel e não aceitou o de Caim. Felizes os que ainda que tendo que morrer de algum jeito no mundo, terão vidas agradáveis ao Senhor na eternidade. 

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      “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um homem. E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. 
      E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou. E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.
Gênesis 4.1-10
 
Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

terça-feira, março 28, 2023

Se fizer certo será aceito (1/4)

      “Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?Gênesis 4.5-7a 

      Quando lemos o texto bíblico abaixo (no final desta reflexão), não nos lembrando da história toda, até a primeira parte do versículo cinco podemos não entender a avaliação de Deus, acharmos mesmo que o Senhor tenha sido injusto. Existem algumas interpretações de porque o sacrifício de Abel agradou a Deus e o de Caim não, mas pelo início do capítulo quatro de Gênesis entendemos que ambos se esforçavam em seus ofícios, ambos separaram partes legítimas para ofertarem a Deus. Sim, eles tinham atividades profissionais distintas, Abel trabalhava com animais e Caim com vegetais (como agricultor ou como coletor?), mas como Abel deveria pastorear bem as ovelhas, da mesma forma Caim administrava a terra, não podemos fazer pelo texto interpretação diferente. 
      Essa é a interpretação inicial e humana, que podemos fazer não só dessa tragédia familiar bíblica, como também de vidas de outros homens, próximos a nós hoje, e como temos a tendência de sermos injustos com Deus, defendendo os homens. Mas eu penso que Deus permitiu que a passagem fosse registrada assim para que a ênfase do ensino ficasse clara, a diferença não estava nas coisas materiais, nem no fato de um oferecer o primogênito de suas ovelhas e o outro do fruto da terra. Que culpa tem alguém de ter atividade diferente? Ainda que na religião israelita sacrifício de sangue seja substituto por pecados melhor que oferta de vegetais, ainda que criar uma ovelha empregue mais trabalho que colher frutos da natureza.
      Não penso que o que levou Deus a avaliar diferentemente a oferta de Caim tenha sido isso, o problema era mais profundo, subjetivo, pessoal, interior, tinha a ver com o coração de Caim, esse era diferente do coração de Abel. Ainda que Caim tivesse oferecido oferta errada, se houvesse nele algum temor a Deus, alguma humildade, ele teria recebido a desaprovação do Senhor e reagido corretamente. Ainda que triste a princípio, depois buscando a Deus e perguntando no que poderia melhorar sua oferta para que o Senhor a aprovasse. Mas pergunto: Caim ficou arrasado porque Deus não gostou do que ele ofertou ou porque Deus gostou do que Abel, seu irmão, ofertou? Talvez o problema de Caim tenha sido só inveja.
      A resposta de Deus é emblemática, entendê-la é compreender como o Espírito Santo fala com todos nós até hoje, “se bem fizeres, não é certo que serás aceito?”. Deus não complica, não condena, só ensina, mostra causa e efeito, aja certo e será aprovado, faça isso e resolva a situação, basta que seja humilde, reconheça onde errou e não erre mais. Mas o problema de Caim não era Deus, e que terrível é o ser humano estar nessa condição, de não se importar com o que Deus diz, quando isso ocorre cai-se na idolatria, coloca-se o homem acima de Deus, foi o que Caim fez. Era mais importante para ele ser melhor que o irmão, talvez para chamar a atenção dos pais que ele poderia achar que davam mais importância a Abel que a ele. 
      Caim não se resolveu com Deus e o mal o dominou, inveja tornou-se homicídio, matando o próprio irmão, eis a terrível escalada de pecado não resolvido, o primeiro assassinato registrado na Bíblia, e justamente de irmão contra irmão. Como em outras vezes eu faço um questionamento: por que Deus permitiu que esse crime estive aí, no quarto capítulo do primeiro livro da Bíblia, com o homem ainda tão próximo ao jardim do Éden e a Deus? Pela tradição judaica-cristã, sob os textos bíblicos, podemos nos acostumar a interpretar pecado original como uma exceção, como algo que não devia ter acontecido, e que só foi totalmente resolvido com vida e morte do Cristo no mundo. Mas será que foi isso, só um acidente? 
      Penso que não, o homem é colocado no planeta para ser testado e reprovado, só isso revela ao ser humano a verdade sobre ele, alguém que tem que sofrer e fazer sofrer muito para se pôr a caminho para a região espiritual mais elevada do Altíssimo. Depois de Adão e Eva, na primeira prova que o homem teve, e justamente convivendo com um irmão de sangue, o ser humano é reprovado. O homem só é confrontado consigo mesmo quando vive em sociedade, são os outros que trazem à tona nosso pior e nosso melhor. Se Caim vivesse sozinho não teria quem invejar, mas Deus pôs Abel com ele, com habilidades profissionais opostas as dele, mas talvez com outras características diferentes, que a Bíblia não cita, isso para testá-lo.

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      “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um homem. E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. 
      E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou. E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.
Gênesis 4.1-10
 
Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

segunda-feira, março 27, 2023

Tempo: amigo ou inimigo?

      “Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força.Salmos 71.9

      Eis a obra do ser no mundo, vencer o tempo e os efeitos que ele impõe ao corpo. Sim, há uma oposição intrínseca na existência de corpo e alma juntos, mas com a qual Deus, criador e elevador de todos os seres, conta. “Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo, as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará” (Salmos 1.3), ainda assim é possível dar frutos no tempo, virtudes que agregam ao espírito as glórias do habitante do céu, a melhor eternidade de Deus. 
      Muitos não entendem o propósito de seus tempos no mundo, e muitos em igrejas e seguindo a Bíblia usam fé e religião só para seus desígnios, não para serem aprovados por Deus. Viemos ao mundo para sofrer? Sim, é isso, ainda que o sofrimento útil não seja efeito de covardia e passividade. Ao contrário, é preciso força e coragem para sofrer do jeito certo, que administra tempo em comunhão íntima com Deus. O importante é aceitarmos que apesar de parecer longa, a vida passa depressa, logo voltamos à eternidade. 
      Mas cuidado, não pense que só a fé pode levá-lo ao céu, e muitos em igrejas evangélicas e católicas estão assim, acomodados a liturgias, rituais e dogmas. Se não houver trabalho persistente no mundo, que faz morrer a carne e viver o espírito, na eternidade será pior. Apetites do corpo, vaidades, sensualidades, ódios e invejas, persistirão e de uma maneira terrível, pois serão sentidos, mas não poderão ser satisfeitos, visto que haverá espírito sem corpo. O tormento vindo dessa situação é o que podemos chamar de inferno. 
      Contudo, os que aprenderam a mortificar as obras da carne no mundo material, ainda que em lutas, já provaram o céu no plano físico, pois olharam para o alto, para Deus, e se colocaram em movimento para ele. Persistamos em nossa luta contra o tempo que enfraquece nossos corpos, e é bom que seja assim, nos traz à realidade, que é a eternidade, não a ilusão do mundo. Quem ama a Deus, de todo o coração e quer conhecê-lo e agradá-lo não é ímpio, mas amado do Senhor e sempre achará a paz que permanece. 
      “Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar, até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão” (Salmos 32.6). Dos que temem a Deus o tempo é amigo, retarda efeitos de causas ruins (punições do universo ou infernos) e adianta efeitos de causas boas (recompensas ou o céu). Já os que só confiam em si mesmos e lutam por glória humana no mundo, estarão sempre correndo atrás do tempo, nunca encontrando-o, sempre insatisfeitos, culpando os outros pela insensatez de seus corações.
      “Louvarei ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente na minha boca. A minha alma se gloriará no Senhor; os mansos o ouvirão e se alegrarão” (Salmos 34.1-2). Uma arma contra o tempo é louvar a Deus sempre, isso ocupa nossas energias, não com ansiedades, vícios e culpas, mas com adoração que nos coloca em comunhão espiritual com o Deus Altíssimo. Nessa conexão somos fortalecidos, vemos a existência de cima, onde não há tempo, e conquistamos humildade e mansidão. 

domingo, março 26, 2023

Tesouro em vaso de barro

      “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corposII Coríntios 4.7-10

      O segredo da vida eterna é separar efeito de causa, matéria de espírito. O corpo físico contém o espírito, mas ele não é aquilo que somos de mais importante, de mais profundo, de mais duradouro, ele só reflete de maneira imperfeita as experiências espirituais. Mesmo boas experiências com o Espírito Santo podem refletir no corpo físico e em nossas almas, efeitos que podem conduzir a equívocos. Muitos procuram experiências, achando que elas são espirituais e por isso as mais legítimas de serem buscadas, mas estão buscando só efeitos de uma experiência espiritual na carne, portanto, buscando a carne e não o Espírito.
      O corpo físico está em constante degradação, sempre morrendo, a partir do momento que somos expostos à luz do mundo, que nascemos das entranhas de nossas mães, iniciamos um processo irreversível de falecimento. A natureza física do planeta emprestou nossos corpos e os cobra de volta, no grande ciclo da vida material, do pó para o pó. Ainda que estejamos sujeitos a acidentes fatais, que podem apressar o fim, até próximo aos quarenta anos nosso corpo consegue repor células mortas por novas células, assim o processo é retardado, mas depois não haverá mais renovação, só morte real que se apressará com os anos. 
      Não só órgãos e membros de nossos corpos morrem, nossos sentimentos também se enfraquecem, nossos mecanismos de percepção emocional e racional da realidade, tanta a física quanto a espiritual, falecem, diminuindo assim nossas capacidades de encantamento e de paixão pela vida, pelo mundo, pelas pessoas, por nós mesmos e mesmo por Deus. Isso é só a causa, não é o efeito, Deus é espírito e como tal, vivo, eterno, benigno, iluminado, imutável, dessa forma as experiências que temos com ele, mesmo em corpos envelhecidos e enfermos, são sempre novas e maravilhosas. Nós morremos, Deus em nós, não. 
      Contudo, nossos corpos são inviáveis, por tenderem sempre à morte, para repetirem a mesma sensação, seja boa ou ruim. A primeira vez que você provou uma fruta, o primeiro trago de uma bebida alcoólica, o primeiro beijo, a primeira relação sexual, deixaram em você lembranças de sensações que nunca mais se repetirão. Poderão até serem semelhantes, até melhores em certas ocasiões, mas nunca iguais. Mesmo uma experiência maravilhosa de oração com Deus, o recebimento de um dom espiritual, a primeira vez que você falou em línguas espirituais estranhas, seu corpo físico não sentirá de novo a mesma sensação.
      Por isso não podemos confiar no efeito, mas na causa, não podemos idolatrar o corpo, mas priorizar o espírito, nem podemos desanimar quando não conseguimos sentir algo bom do mesmo jeito que sentimos antes. Isso não é de forma alguma uma punição ou qualquer espécie de capricho de Deus, mas é o processo que ele usa para nos libertar da carne, do corpo físico, do mundo, e abrir nossos sentidos espirituais, livres das influências das ilusões da matéria, para a vida espiritual eterna. Se no nascimento o corpo reconhece a vida chorando para que respire profundamente, nosso espírito reconhece a Deus vendo morrer o corpo.
      Isso também nos conduz naturalmente a viver pela fé, não pelos sentimentos, aliás, com o tempo fé se torna a única ferramenta confiável para conhecermos e sermos abençoados por Deus, visto que aprendemos a não confiar mais no que sentimos ou deixamos de sentir, mas naquilo que pela fé experimentamos. Não desanime, isso não nos leva a um final de vida sem sabor, sem alegria, sem graça, mas nos faz conhecer sabores, alegrias e relevâncias que sempre existiram dentro de nós, em nossos espíritos, mas que quando éramos jovens e imaturos ficavam sufocados pelos encantamentos e pelas paixões do corpo físico. 
      Por isso dor e sofrimento, causados pelas lutas e também pelas enfermidades, e mesmo que sejam só emocionais, por recebermos as injustiças e egoísmos dos homens e não reagirmos, são tão úteis no tratamento que Deus faz em todos os seres humanos neste mundo. Quem se nega a aceitar isso, nega sua vocação maior de existir, nega o motivo de estar no planeta Terra. Dor e sofrimento nos chamam à realidade do mundo, estamos sempre morrendo, e nos convocam à realidade do outro mundo, o espírito é eterno e precisa ser libertado da matéria, dor e sofrimento nos libertam de nós e nos aproximam de Deus. 
      O texto bíblico inicial nos chama a atenção para uma coisa. Busquemos a Deus sempre e ele nos dará consolo e paz para seguirmos em frente, mas não esperemos ter vidas plenamente sossegadas neste mundo. Quem desiste porque se sente sempre atribulado, angustiado, perplexo, perseguido, abatido, aceite, o espírito habita em vaso de barro, esse vaso traz sempre a morte em si. É assim para que a excelência do poder seja de Deus, não nossa, para que na eternidade queiramos subir para Deus num “céu”, não descer para o mundo num “inferno”. Vivemos para aprender a morrer e então vivermos eternamente.
      A verdade é que paz interior não fica mais fácil de ser achada e segurada com o tempo, à medida que envelhecemos, fica mais difícil, porque nosso emocional se esfria, assim precisamos de mais sensibilidade e fé para percebermos e mantermos a paz. A proximidade da morte deixa o mundo espiritual mais próximo de nós, os que temem a Deus e nele confiam, o sentirão mais perto no final, serão consolados e preparados. Triste, contudo, o final dos materialistas, ateus e céticos, verão escorrer as paixões e ilusões deste mundo, lhes será drenado todo o prazer da carne, e não terão o dom do Espírito para lhes consolar. 

sábado, março 25, 2023

Navegue no Espírito

      “Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.Gálatas 5.25

      O ser humano tem um trabalho principal em sua trajetória neste mundo: achar o Espírito de Deus. Apesar desse Espírito estar por toda parte, chamando a todos e sempre disponível, nossa existência encarnada pode dificultar nossos sentidos espirituais de perceberem esse Espírito, assim, é preciso algum esforço para achá-lo. O tipo de trabalho, sua extensão, e o tempo que cada ser humano usa para achar o Espírito de Deus, variam de ser para ser, depende do quanto cada um está ligado aos valores materiais. Estar preso à matéria não é só afeiçoar-se de maneira exagerada aos apetites do corpo, aos prazeres físicos e mundanos, mas também é depender demais de aprovação dos homens e da glória do mundo.
      Assim, muitos precisarão provar sofrimentos para serem libertados da ilusão do mundo, só a dor, a perda, o abrir mão, a morte, libertam o espírito da matéria. Mas novamente, o que cada um precisa fazer e quanto para aceitar a dor e deixar ir a ilusão, é variável. Muitos entenderão a relevância do Espírito de Deus logo na juventude, outros envelhecerão ainda iludidos pela glória do mundo, e ainda que sejam bons cidadãos e bons religiosos, viverão para si e para os homens, não para Deus. Quando enfim o ser humano “vê” o Espírito de Deus e se coloca nele, é aí que vida eterna se inicia, o ser entende que só precisa fazer um esforço, descansar plenamente no Espírito de Deus e se deixar levar por ele, acima da matéria. 
      No início de minha jornada com o cristianismo tradicional, aos dezesseis anos numa igreja Batista tradicional, eu era ensinado, esse ensino achava apoio na formação familiar que eu tinha recebido até então, que precisava ter períodos diários de leitura bíblica e de oração. Querendo ou não, gostando ou não eu precisava ter vida devocional diária. Eu agradeço a quem me deu essa orientação, minha geração, diferente das que vieram depois, sabia obedecer e colheu até hoje os frutos da obediência, fazer o que é preciso, ainda que não seja agradável. Isso construiu em mim uma base de conhecimento bíblico que fundamenta minha prática de vida até hoje, me deu um sol no horizonte que me direcionou, não me deixando perdido. 
      Numa fase mais infantil temos que ser tratados como crianças, com regras e experiências dos outros, isso é adequado principalmente nos tempos de nossas vidas que ainda temos pecados básicos e sérios a serem vencidos. Essa fase infantil é variável nas vidas dos seres humanos, muitos serão homens crescidos no corpo, conhecedores de Bíblia, servos fiéis em igrejas, mesmo líderes e pastores, e ainda estarão nela. Muitos nunca amadurecerão o suficiente para saírem dessa fase, e creiam, para esses é mais sábio que não saiam, melhor entrar no céu como criança que perder-se como adulto. Muitos têm experiências espirituais profundas fora do cristianismo, mas estão perdidos, sabem muito, mas moralmente praticam pouco. 
      Deus é sábio, sabe o que cada um está preparado para saber, e aqueles que já controlaram a si mesmos, a paixões e egoísmos, entenderão que não somos nós que invocamos a presença do Espírito, mas é o Espírito quem nos chama. Basta-nos estar nele, em sintonia com ele, em todo o tempo, e saberemos quando orar, quando buscar uma palavra na Bíblia ou diretamente dele. Mas isso, repito, é para os que aprenderam a vigiar em todo o tempo, a temerem a Deus silenciosamente, a manterem ouvidos espirituais abertos para ouvirem quando o Espírito de Deus orienta a falar ou fazer algo. Vou dizer algo que muitos não estão preparados para ouvir: não ore a Deus sem sentir uma chamada clara do Espírito Santo para isso.
      Mas Paulo não orienta “orai sem cessar” em I Tessalonicenses 5.17? Sim, mas esse orar não é interceder, onde se fala e se espera resposta imediata de Deus, é ouvir. A excessão é adorar, isso, sim, devemos fazer sempre. Certas intercessões, de libertações, de pedidos específicos sobre coisas muito importantes, só devem ser feitas com a unção do poder de Deus, nem antes, nem depois. Quando fazemos isso fazemos obedecendo uma ordem de Deus, que sabe o momento certo de certas “batalhas espirituais” serem feitas, então, Deus, que tem o universo, os sistemas deste mundo e a mecânica do plano espiritual em suas mãos, responderá. Vigie, esteja atento, mas só ore quando Deus mandar, nesse momento a resposta poderá ser conhecida. 
      Muitas vezes sofremos o seguinte dilema: sabemos que temos uma questão séria a ser resolvida, sabemos que temos que orar a Deus a respeito, sabemos que Deus nos dará a melhor resposta e que nos dará capacidade e consolo para aceitarmos e praticarmos essa resposta, mas simplesmente nos sentimos sem ânimo para orar. A regra é: insista mesmo assim, se não tem vontade, vai sem vontade mesmo e com fé, ainda que seja pequena. Contudo, vivendo com Deus, com o tempo aprendemos que muitas vezes temos que esperar e descansar em Deus, não só o universo é preparado e precisa de tempo, nós também. Deus respeita todos os limites e sincroniza todos os tempos, para que sua melhor vontade seja exteriorizada.
      Não é a tua fé que resolve um problema ou coloca o poder de Deus em ação, mas a tua obediência, a maior prova de fé que podemos dar a Deus é obedecê-lo. Muitas vezes, vendo que estamos desanimados e cansados, ele segura as consequências do problema, para que não nos atinjam, e aguarda até que estejamos restabelecidos, para nos dar a honra de sermos participantes da vitória através de uma oração sincera e convicta. Deus não precisa de nós, muito menos da nossa fé ou de nosso louvor, mas se nos deixarmos conduzir pelo Espírito faremos parte de algo muito maior que nós, que nos abençoará, assim como a muitas outras pessoas, de maneira fantástica e misteriosa, como são sempre as providências divinas, creia nisso. 

sexta-feira, março 24, 2023

Jesus, crucificado de novo

      “Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.I Coríntios 2.7-8

      O novo fim do mundo não ocorrerá com uma grande guerra mundial. As nações civilizadas não querem isso, querem um mundo minimamente em paz para venderem seus produtos. A guerra que haverá será contra doenças, vírus e pandemias, onde também haverá oportunidade para se lucrar economicamente, vendendo remédios e vacinas, o inimigo será ideológico e invisível, não físico. 
      O novo fim do mundo não ocorrerá com corpos celestes despencando sobre a Terra. A resposta da natureza, não do cosmos, será com chuvas e secas extremadas, causadas pelo desmazelo com que o ser humano explorou o planeta. Não será uma explosão estúpida dos elementos, mas uma atividade lenta e impactante, de águas, ventos e temperatura, estabelecemdo um novo normal. 
      O novo fim do mundo não será anti-cristãos contra cristãos. Será homens esclarecidos lutando contra opressões, injustiças e preconceitos históricos, que o velho cristianismo assistiu passivamente. Nessa reação, uma inicial e falsa impressão de prevalecimento de não cristãos fará surgir o novo cristianismo, que na verdade é o original, eterno e puro do Cristo, cujo reinado será duradouro.
      Você, cristão protestante e evangélico, consegue enxergar esse novo fim do mundo, que na verdade sempre foi o fim do mundo que Deus planejou, mas que muitos não entenderam porque estavam presos a seus contextos históricos, sociais e religiosos? Enquanto muitos insistem no velho fim do mundo, o mal tem vitória, fazendo nada, só assistindo o engano de um ultrapassado cristianismo. 
      Como muitos líderes judeus do primeiro século, desejando um messias como o rei Davi, político e militar, que livrasse Israel dos romanos, crucificaram o Cristo verdadeiro, que veio humilde e ensinando virtudes morais interiores para a eternidade, não vitórias em guerras na Terra, muitos cristãos, esperando o fim do mundo errado, estão despreparados para o verdadeiro fim do mundo de Deus.
      A trágica consequência disso é que Jesus é crucificado novamente, não fisicamente, mas seus ensinos, não pelo anti-cristo, mas pelos próprios cristãos, achando-se esses que fazem a coisa certa, que zelam por suas crenças, e que obedecem a Deus. “Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo, porque o tempo será mau” (Amos 5.13). Aqueles com olhos e ouvidos abertos, orem. 

quinta-feira, março 23, 2023

Não ilumine o mal

      “E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta.Efésios 5.11-13

      Não lance luz sobre o mal e ele desaparecerá. Como não possui luz própria, o mal busca luzes externas a serem lançadas sobre ele para que possa aparecer. Isso é técnica de manipulação de informação usada na mídia, não levantar nem crítica sobre o opositor, pois a simples crítica mantém a pessoa em foco, que pode receber ou continuar recebendo publicidade. Há outra máxima no uso da mídia para autopromoção, “falem mal, mas falem de mim”, para quem quer aparecer, até notícia ruim sobre ele interessa, e hoje muitas pessoas não querem ser boas ou más, apenas famosas. 
      Isso revela algo muito importante sobre o mal. O que é o mal? Aquilo que se movimenta no sentido inverso à posição de luz do Deus Altíssimo, assim, para as trevas. Como sempre dizemos aqui, mal não é necessariamente fazer coisas más, ainda que quem se afaste de Deus não consiga fazer, ou pelo menos manter no tempo, boas ações. Muitos, contudo, parecem exercer boas ações, lutando por justiça e direito, zelando pela saúde, pela ciência e pelo planeta, contudo, como não obedecem a vontade mais alta de Deus, fazem isso por si só, para glória própria e neste mundo. 
      Como não possui luz moral própria, o mal nos tenta o tempo todo para chamar nossa atenção, assim, nossa luz baterá nele e refletirá nos outros. Aqueles que aliam todo o mal do universo a um “diabo” estão direcionando holofotes sobre o mal, promovendo-o, aliás, “diabo” é a mais eficiente invenção do marketing maléfico. Quando um ser ciente, inteligente, independente, é estabelecido, fica mais fácil direcionarmos a atenção, odiarmos, temermos, principalmente um ser que se opõe a Deus. O catolicismo e o protestantismo conservadores mantêm-se poderosos dessa forma. 
      Entretanto, esse também é o truque de extremistas políticos, criarem inimigos opostamente extremos, isso os fortalece, lhes dá razão para existir e lutar. Quem está num extremo sempre procura colocar opositores em outro extremo, não aceita a possibilidade do equilíbrio, e o que anula o extremo não é um extremo oposto, mas o meio termo. Jogamos luz sobre o mal quando não perdoamos alguém e mantemos rancor, mágoa e inveja dentro de nós. O mal é sujo e utiliza meios sujos para brilhar, assim o mal é ladrão e homicida, rouba virtudes e assassina reputações (João 8.44). 
      A fofoca e todo tipo de crítica destrutiva, a que não é feita em verdade diretamente para a pessoa avaliada, em amor e com o objetivo de construir a pessoa, são holofotes eficientes para iluminarem o mal e permitirem que ele faça seu showzinho. É triste como nós, muitas vezes com vidas que se esforçam para conhecer e obedecer a Deus, damos protagonismo a “diabos”, porque não conseguimos nos controlar, nos calar e só amar. Lembro que quando o mal é chamado vem com ele algum “demônio”, afoito por um momento de glória, que “gruda” naquele que o chamou. 

quarta-feira, março 22, 2023

Ter poucas necessidades é ser rico

      “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.I Timóteo 6.7-8

      Muitos dizem, e me incluo entre esses muitas vezes: “sou infeliz porque não posso ter tudo que preciso, o que gostaria de ter, tenho que me contentar com pouco, ainda que eu trabalhe muito, seja um cidadão honesto e bom religioso”. A isso, uma resposta: você está trabalhando para o patrão errado, para teu corpo indisciplinado, e não para teu espírito bem resolvido em Deus. É claro que não me refiro aqui a pessoas que realmente têm necessidades não satisfeitas para uma vida minimamente digna. 
      Ser rico não é ter muito para satisfazer muitas necessidades, mas é ter poucas necessidades a serem satisfeitas, assim poder ter pouco para satisfazê-las. Isso não conduz o sábio à ociosidade, mas permite-lhe mais tempo livre para se dedicar ao que mais importa, conhecer a Deus e servir ao próximo. Não podemos produzir toda riqueza que desejamos, somos limitados para isso, mas podemos reduzir nossas necessidades, fazendo boas escolhas morais e trabalhando para vencer vícios, paixões e vaidades. 
      O mundo atual, principalmente através da internet e da mídia, é especialista em criar necessidades e vendê-las, cabe a nós comprar ou não. Consumidores descontrolados são escravos de mentiras, só os livres dirão não às ilusões da matéria e se satisfarão com a vida eterna. Virtudes morais são riquezas espirituais, essas nunca viciam ou escravizam, mas libertam, alargam e elevam o espírito, duram para sempre, ainda que muitas vezes não sejam aprovadas nem reconhecidas pelos homens no mundo.
      Não é certo nem útil perder tempo com teorias conspiratórias, mesmo que seja interpretando textos bíblicos apocalípticos, contudo, não podemos deixar de ver o mundo atual conduzindo a humanidade para o caminho errado. Dizem que todos têm direitos iguais a tudo, e isso em si não está errado, é a história respondendo à história, faz parte da evolução civilizatória, mas o que muitos não aceitam é que nessas lutas sociais por direitos o ser humano está sendo materializado, não espiritualizado. 
      Jovens não são ensinados a lutarem pelo direito de conhecerem e confiarem em Deus, e isso indiferente da religião, nem estou puxando a sardinha para o lado do cristianismo. Jovens são doutrinados a lutarem pelo direito de consumirem produtos materiais, de fazerem sexo quando e com quem quiserem, de ouvirem música de má qualidade para executarem danças vulgares, de exporem seus corpos como pedaços de carne em açougues. Sim, tudo isso cada um pode fazer se quiser, mas não é o melhor. 
      Nisso as necessidades aumentam, os meios para que elas sejam satisfeitas diminuem, o corpo é explorado, enquanto valores morais e eternidade espiritual são desprezados como meros moralismos ultrapassados. Isso não fere só o cristianismo, mas toda religião séria que se propõe orientar o ser humano em uma evolução moral para o bem e para a luz. Aqui não me refiro às instituições do mundo, mas aos princípios religiosos puros e originais, entregues a muitas religiões pelos seus fundadores. 
      Como já disse outras vezes aqui, creio que isso é só uma fase, e cada fase tem acertos e erros, o que vem depois, o equilíbrio, é que permanece. A cobrança por justiça social pode ser imatura no momento, mas é necessária, vivemos séculos debaixo de intolerância, injustiças, sexismo e preconceitos, e isso permaneceu porque um cristianismo errado oprimiu o mundo por muito tempo. Mas depois, eu creio, Jesus será entronizado, valores morais eternos buscados, no final o céu vencerá o inferno. 

      “Há alguns que se fazem de ricos, e não têm coisa nenhuma, e outros que se fazem de pobres e têm muitas riquezas.Provérbios 13.7

terça-feira, março 21, 2023

Ressonância simpática

      “Que os aflitos vejam isso e se alegrem; quanto a vocês que buscam a Deus, que o seu coração se reanime.Salmos 69.32

      Você já deve ter visto e ouvido peles de peças de bateria ou instrumentos de percussão, como caixas e toms, vibrarem sozinhas, sem que ninguém as toque ou bata, quando outros instrumentos, como contrabaixos e teclados, são tocados. Isso acontece porque existem semelhanças harmônicas entre materiais aparentemente diferentes. Isso também ocorre no piano, quando cordas médias soam, cordas mais graves, em frequências semelhantes, também vibram, isso é chamado de ressonância simpática. Entre os seres vivos isso também existe, quando alguém diz algo engraçado ou triste, se nos tocar nós também riremos ou choraremos, porque houve uma consonância ou simpatia emocional e até espiritual, “vibramos” juntos. 
      Existe uma lei, espíritos que vibram na mesma frequência se agrupam para vibrarem juntos, assim quando estamos felizes e virtuosos, o Espírito Santo e os anjos de luz de Deus se alegram conosco e nos fortalecem. Já quando praticamos alguma obra da carne, odiamos, invejamos, fantasiamos devaneio sexual ilegítimo (ou legítimo mas inadequado), demônios vibram conosco, potencializando nosso pecado, falamos sobre isso em reflexões sobre possessões demoníacas. Mas o ponto desta vez é outro: não tente ouvir a nota MI em quem vibra em SI (Romanos 12.15). Quem só pensa em si nunca será simpático ou consonante com o meu sentimento, poderá até vibrar de maneira contrária, ficará triste quando eu me alegrar e alegre quando eu me entristecer. 
      O arrogante não verá relevância no testemunho de humildade, achará o humilde um tolo, procurará nele um defeito para negar a virtude e não ver no outro aquilo que ele não quer ser, humilde. O workaholic não verá virtude no que serve a Deus, achará o que dedica tempo para conhecer a Deus e servir o próximo um ocioso, não aceitará que Deus trabalha pelo que nele descansa, mas insistirá que trabalho é o físico e aprovado pelo homem, não santificação, oração e fé. O aço até poderá vibrar com a fina corda de crina de cavalo, mas terá que ser reduzido e afinado, para ser consonante, simpático, senão achará o som seco e duro que produz mais sofisticado que as refinadas frequências de cordas de crina de cavalo de um violino. 
      “Seja a vossa equidade notória a todos os homens; perto está o Senhor” (Filipenses 4.5). Nosso testemunho importa, mas para quem? Para os que conhecem e agradam, na mesma qualidade e profundidade, na mesma “onda de vibração”, o mesmo Deus que nós. Não cabe-nos julgar ou fazer acepção de pessoas, só exercermos vidas sinceras com Deus, genuínas, não falsificadas ou dissimuladas, mas discretas ainda que corajosas. Quem tiver que ver, no plano físico, verá, Deus permitirá que veja, de um jeito ou de outro. Mas no plano espiritual muitos nos assistem, “demônios”, “anjos”, Jesus, o Espírito Santo, e creia, nosso testemunho é muito importante para o mundo espiritual, ainda que nos seja invisível. 

segunda-feira, março 20, 2023

Sois as minhas testemunhas

      “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador. Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus. Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?Isaías 43.11-13

      Muitos acham que louvar a Deus é fazer, de baixo para cima, o reconhecimento de qualidades de alguém superior, mas adorar a Deus é bem mais que isso. Quando declaramos as qualidades do Senhor e agradecemos a ele por cuidar de nós e nos orientar, mudamos de posição espiritual, nosso espírito se eleva e habita com o Espírito de Deus. Nisso conhecemos as melhores prioridades da existência, percebemos a pequenez e a temporariedade do mundo e de nossa condição no corpo físico, queremos e nos apossamos das virtudes morais, e nos preparamos para a melhor eternidade com Deus, o céu. Louvar é mais que agradecer, é subir, mais que palavras, um movimento, é provar a eternidade no mundo, o único jeito de nos apossarmos de forças para cumprirmos nossa vocação maior, sermos um em Jesus com Deus. 
      Testemunhar Deus no mundo é mais que fazer publicidade do criador, que participar de discussões moralistas e ter melhores argumentos, que informar a humanidade sobre o fim do mundo, que promover uma religião e fazer prosélitos, é mostrar uma porta aberta a todos os seres humanos para a região espiritual mais alta. Entender isso é compreender que Deus e o ser humano não são duas consciências separadas, que podem se conectar só por palavras, num diálogo, Deus nos oferece mais que isso. O meio é o Espírito Santo que nos leva até Jesus, porta direta para o Altíssimo. Testemunhar Deus é revelar a luz que veio antes da luz do Sol, declarar que existe alguém do qual nenhum ser humano pode fugir ou enganar, o Deus que quando age ninguém pode impedir, esse é o Senhor que conhecemos e que compartilhamos.
      Todos nós somos chamados para testemunhar Deus no mundo, mas alguns estão preparados para testemunhar além de seu grupo social direto. Se para todos a vida é difícil, testemunhas especiais terão que abrir mão de mais vaidades e direitos, entendendo que seu trabalho vai além de conquistar prosperidade material e estabilidade emocional para si e sua família. Mas para os que trabalham para Deus, Deus para eles trabalha, assim ninguém pode se opor ao que está sob ordem de Deus, ainda que o que obedece o faça com contrição e discrição. A responsabilidade é grande, o nível de consagração e santidade exigido é mais alto, sofrimento e solidão podem ser provados até o limite, inimigos surgirão de todos os lados, mesmo no meio familiar, mas nenhum gozo se compara ao daquele que está no centro da vontade do Senhor. 

domingo, março 19, 2023

Davi, Saul ou Samuel? (2/2)

      “E disse o Senhor a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos. Naquele mesmo dia suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa, começarei e acabarei. Porque eu já lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu.
      “Este tinha um filho, cujo nome era Saul, moço, e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo.
      “Foram-se os três filhos mais velhos de Jessé, e seguiram a Saul à guerra; e eram os nomes de seus três filhos, que se foram à guerra, Eliabe, o primogênito, e o segundo Abinadabe, e o terceiro Sama. E Davi era o menor; e os três maiores seguiram a Saul.

I Samuel 3.11-13, 9.2, 17.13-14

      Se Davi é exemplo de homem com chamada certa, desempenhando-a do jeito certo (I Samuel 13.13-14), Saul é exemplo do homem com a chamada certa, mas desempenhando-a do jeito errado. Já Samuel é exemplo do homem com chamada certa, que queria desempenha-la do jeito certo, mas que teve que abrir mão dela por ordem de Deus e por causa da imaturidade dos homens. Se Davi representa o homem vitorioso em Deus da antiga aliança, Samuel representa o homem vitorioso em Deus da nova aliança, que perde para ganhar, que se sacrifica para que o homem aprenda uma lição e faça a coisa certa.
      Muitos são na verdade Saul, querendo e achando serem Davi, quando Deus de fato quer que eles sejam como o juiz e profeta Samuel. Querem os talentos, a fama, a realeza de Davi, mas não são conforme o coração de Deus, são só homens vaidosos, despreparados porque querem fazer as coisas do seu jeito, confiam em si, não no Senhor. Se nem Jesus foi chamado para ser um novo Davi, por que Deus chamaria a homens muito menos preparados que o Cristo para essa posição? Deus nos chama para sermos como Samuel, nem grandes, nem pequenos, só com ouvidos sensíveis e bocas obedientes. 
      Muitas vezes, verificando a perseguição que Saul fez a Davi, a vida marginal que o escolhido do Senhor teve que levar enquanto aguardava o tempo de Deus para que o rebelde fosse retirado de sua posição, achamos que foi difícil a prova de Davi. De fato foi, e ninguém se engane, muitas vezes temos que aguardar muito tempo até que Saul seja tratado para recebermos nossa bênção de Davi. Deus não condena ninguém apressadamente, sempre espera que todos se arrependam. Contudo, a prova de Samuel foi mais difícil, ainda que obedecesse a Deus, perdeu um direito que nunca mais foi restabelecido. 
      Pelo evangelho de Cristo Deus nos chama para uma visão superior de vida, não é tão pequena, material e até simples como a ótica do antigo testamento, onde ímpio era disciplinado e justo era honrado. A maneira como Deus quer nos tratar, e ele quer porque é o melhor para nós e estamos preparados para isso hoje, é a de Samuel, esse tinha uma missão e teve que abrir mão de uma interpretação rasa dela. A missão de Samuel era ser juiz ou ser profeta, ser um líder político ou ouvidos sensíveis e boca obediente de Deus? Deus nada faz pela metade, Samuel cumpriu sua missão, com certeza.
      Muitos não querem desempenhar suas chamadas porque elas não lhes conferem aprovação popular. Se Davi e Saul como líderes políticos deviam ser homens carismáticas e bons oradores, ainda que fossem diferentes, Saul fisicamente mais bem aparentado e Davi menor, Samuel não devia ser alguém amado por todos, profetas realmente de Deus nunca são, eles dizem o que as pessoas não querem ouvir. Ser útil é ser feliz com o que realmente se é, aceitando isso com humildade em Deus e confiando na glória que Deus dá, não na glória dos homens, “eu não recebo glória dos homens” (João 5.41). 
      Não é fácil administrar a glória de homens, os que não estão preparados para isso podem se perder na vaidade e no egocentrismo. Para isso pode ser preciso uma chamada de Deus ainda na infância, que prepara o homem por anos para obedecer o Senhor, enfrentando do jeito certo oposição e perseguição humanas. Saul e Davi foram chamados na juventude, mas Samuel foi chamado na infância, ele foi ensinado e aprendeu a fazer a vontade de Deus. Davi também teve o devido preparo, todos que Deus chama ele prepara, mas Davi e Samuel eram homens diferentes, com chamadas diferentes. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

sábado, março 18, 2023

Davi, Saul ou Samuel? (1/2)

      “E o Senhor tornou a chamar outra vez a Samuel, e Samuel se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, filho meu, torna a deitar-te. Porém Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do Senhor. O Senhor, pois, tornou a chamar a Samuel terceira vez, e ele se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. 
      Então entendeu Eli que o Senhor chamava o jovem. Por isso Eli disse a Samuel: Vai deitar-te e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Então Samuel foi e se deitou no seu lugar. Então veio o Senhor, e pôs-se ali, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.
  I Samuel 3.6-10

      Quem nasceu para ser pedreiro (e aqui não há nenhum preconceito com essa honrosa profissão), até poderá tentar ser outras coisas, mas só será feliz sendo pedreiro, ainda que o que construa caia sobre as cabeças das pessoas. Assim, há uma segunda lição, não basta saber o que se é e se ter coragem para ser, tem que saber como, onde e quando ser, no caso do pedreiro, como usar adequadamente tijolos, cimento, estruturas, telhas e outros elementos. Eu penso que cada um de nós tem uma missão ou chamada a cumprir no mundo, primeiro em nossa evolução moral, depois em nossas carreiras profissionais onde nos relacionamos diretamente com muitas pessoas.
      No mundo atual, entretanto, habilidade profissional é um conceito bem mais abrangente que era antigamente. Hoje, para terem mais chances de prosperidade, todos precisam exercer várias habilidades, como conhecimento de tecnologias, de computadores, de internet, de pelo menos o idioma inglês, mas tudo isso poderá ser só ferramenta para um foco profissional específico. Contudo, ainda que essa missão venha conosco no nascimento, precisamos nos informar, nos capacitar, com estudo e experiência prática, para exercer uma chamada com eficiência, tornando-a bênção e não maldição. 
      Pior que fazer a coisa errada é fazer a coisa certa do jeito errado, o prejuízo pode ser maior, e fazer errado não é só fazer sem competência, mas mesmo que com competência fazer com intenção moral errada. A missão não somos nós que escolhemos, é Deus quem dá, e se nos dá é para que seja bênção para nós e para os outros, portanto, com boa qualidade moral na execução e nos frutos. Quem faz a coisa errada ficará restrito, pois faz algo sem competência, mas o que faz a coisa certa mal intencionado usará sua melhor competência e atingirá mais pessoas com sua irresponsável e má intenção. 
      Samuel, o juiz que Israel rejeitou, um personagem importante na Bíblia, que muitos não dão o valor que merece. Preferem Moisés e Davi, que foram honrados pelos israelitas e que fizeram grandes atos no poder de Deus, mas desconsideram aquele que fez um ato a exemplo de Cristo, humildemente abriu mão de sua chamada respeitando a escolha de um povo rebelde. Não era vontade de Deus que Israel tivesse um rei, muito menos que esse rei fosse Saul, e aqueles que acham que se Deus dá é algo bom e certo, cuidado, mesmo coisa ruim e errada Deus permite, na insistência errada (I Samuel 8.6-7).
      Se Israel teimou em querer o que não deveria ter, Samuel demorou para receber o que Deus queria lhe dar. “Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do Senhor”, quantos mistérios há na vida e mesmo na morte de Samuel, começando por sua chamada. Quem não recebeu a manifestação da palavra de Deus não tem ouvidos espirituais para discernir a voz do Espírito. É Deus quem toma a iniciativa de manifestar, mas o homem deve estar preparado, muitas vezes prestando atenção à voz de Deus e só conseguindo discerni-la depois de algum tempo. 
      Muitos cristãos, católicos e evangélicos, estão há anos em igrejas, são fiéis às suas religiões e profundos conhecedores de suas doutrinas e liturgias, mas na verdade estão como Samuel nas duas primeiras vezes que o Espírito o chamou, respondendo a homens, não a Deus, e achando sinceramente que obedecem a Deus. Assim crenças vivas se transformam em religiosidades mortas, que na prática não funcionam mais como libertação de pecado e perdão de culpas, mas que muitos mantêm por costume e para terem aprovação social. Não conhecem a missão de Deus para eles por isso não podem ser felizes.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

sexta-feira, março 17, 2023

Temos amor suficiente?

      “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor. Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo.” “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas.” 
Colossenses 3.20-21, 23-25

      Muitos de nós pensam assim, “sou deste jeito porque não fui amado o suficiente”, a primeira coisa que precisa ser dita é: isso é verdade. Apesar de falta de amor verdadeiro ser parte da razão de muitos serem o que são, muitos experimentaram isso de maneira extremada, indiferença e mesmo violência, se não física, emocional, de quem deveria amar de maneira necessária. Muitos que criam crianças e jovens, pais, tios, avós e outros, de fato exageram em não amar, ainda que muitos por razões legítimas, podem não dar porque também não receberam, ou porque não têm tempo, estão mais ocupados em pôr comida em casa. 
      Mas mesmo os que receberam criações mais normais, digamos assim, experimentaram amor verdadeiro insuficiente, e mesmo que tenham recebido o suficiente, lá no fundo acham que não foi amor do jeito que realmente necessitavam. Contudo, quem recebe também pode ser injusto com quem dá, ainda que onde se planta laranja se colhe laranja, não limão, assim bons pais produzem bons filhos, não perfeitos, mas o suficiente para serem pessoas gratas e bem resolvidas. Pode ser difícil de ler isso no mundo atual, mas a trajetória espiritual da humanidade é em direção à luz, não às trevas, portanto a um amor igual para todos e de todos.
      Quem não teve bons pais pode quebrar o loop, com humildade e superação emocional, e se tornar um pai bom, essa é a revolução que a humanidade mais precisa, quebra do loop da injustiça. Isso o evangelho ensina há quase dois mil anos, abençoar os que amaldiçoam, não devolver o mal que se recebeu. O que pensa um Deus, que conforme o cristianismo é amor, sobre tanta falta de amor com que muitos têm que viver, e quando crianças sem merecerem? Bem, Deus tem um propósito nisso, e ao que parece, para ele um propósito mais interessante, que se o homem fosse amado do jeito que esse acha que precisaria ser. 
      Não viemos a este mundo para sermos felizes, mas para permanecermos em paz mesmo sofrendo, não viemos a este mundo para fazermos amigos, mas para desfazermos inimizades, não viemos a este mundo para sermos amados, mas para amarmos. Desculpe-me se essas afirmações são duras, mas o quanto antes as aceitarmos do jeito certo, antes poderemos ser felizes, acharmos amigos, amarmos e termos a paz que permanece para sempre. Se fôssemos amados como queremos não evoluiríamos, o ser humano sempre tende a se acomodar a zonas de conforto, ele só se move para frente empurrado por imprevisibilidades. 
      Devemos trabalhar para termos vidas estáveis para nós e nossas famílias, materialmente e afetivamente, mas não devemos nos desesperar quando imprevistos ocorrem. A vida sempre nos surpreenderá, Deus a faz funcionar assim, e isso até o final de nossas trajetórias aqui, ninguém se iluda. Dessa forma não dependa que tudo esteja resolvido, que você seja amado como deseja, que os outros te honrem, para ser alguém útil nas mãos de Deus para melhorar a sociedade, e foi dito sociedade, não igrejas. Deus nos chama para mudar pelo menos uma parte do mundo, não grêmios religiosos privados que existem em igrejas. 
      De minha parte posso dar meu testemunho como filho e como pai, com sessenta e dois anos sou de uma geração quando pais eram presentes, mães ainda mais, mas havia muita cobrança e pouco elogio. Já passei do tempo de colocar a culpa por meus problemas na criação que recebi, hoje sei que meus pais me deram mais que receberam, mas devo admitir que levei muitos anos para resolver isso em minha alma, carreguei rancor por muito tempo. Mas crescer em Deus nos dá libertações, e a primeira delas é amar os pais e assumir que com o tempo podemos cometer erros piores que os que eles cometeram nos criando.
      O principal foi entender que devia e podia criar minhas filhas diferentemente, e consegui. Não, fui e sou um pai imperfeito, mas nunca cometi violência contra minhas filhas, e desde que elas eram pequenas eu aprendi a pedir perdão a elas quando me excedia. Hoje elas são seres humanos mais normais que eu fui, têm suas idiossincrasias, seu defeitos, mas não são medrosas como eu era, têm opinião sobre as coisas, opiniões equilibradas e atuais, não têm medo de declará-las, mas principalmente, na prática são bons seres humanos, trabalhadoras, estudiosas, não dadas à superficialidade do mundo, com bom caráter moral. 
      Se amigas próximas a minhas filhas, lhes perguntarem se foram amadas por seus pais como elas queriam ser, se elas forem honestas dirão que não foram, não me engano sobre isso. Mas penso que a falta que elas tiveram foi menos traumática que a minha, assim como a minha foi menos traumática que a falta que meus pais tiveram. Creio que minha família tem quebrado loops de injustiça, principalmente porque todos conhecem a Jesus como salvador e têm Deus como amigo. Na eternidade haverá uma consonância espiritual entre gerações, avós, pais, filhos e netos, para a glória de Deus, todos na luz mais alta, eu creio. 
      Deus nos ama como precisamos! Se soubermos disso teremos amor suficiente para convivermos com as injustiças do mundo e com seres humanos como nós, também aprendendo a superar as trevas e seguirem para a luz. Muitos sofrem porque vivem exigindo de homens aquilo que eles não podem lhes dar, e isso ainda que se digam cristãos. Enquanto o amor de Deus não nos bastar, não amadureceremos, seremos crianças carentes, amargas e vingativas. A verdade é que devemos aprender a fazer uma aliança e a darmos prioridade a ela, nossa amizade com Deus, ainda que sendo bons cidadãos na sociedade e na família. 

quinta-feira, março 16, 2023

O resto não importa

      “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha.” Apocalipse 2.25

      Uma das razões para sofrermos nesta vida é querermos guardar e levar conosco coisas desnecessárias. O que de fato temos que reter e conduzir conosco até que se findem nossos dias neste mundo? Paz com Deus. Só isso? Sim, só. Mas tem que ser uma profunda e verdadeira paz com o Senhor, que só temos quando estamos em íntima comunhão com ele, conhecendo sua vontade, fazendo sua vontade, assim tendo as prioridades certas nesta vida e nos preparando devidamente para a outra vida.
      Quando temos paz com Deus somos aprovados por ele, o agradamos como filhos, por isso mesmo que o mundo nos peça coisas, bens, dinheiro, posições profissionais, aprovações de grupos, que podemos perder para permanecermos em paz com Deus, não fará diferença. Muitos querendo manter antigos negócios de família, reputações baseadas em concessões, perdem a paz, assim ganham tudo, menos o mais importante. Paz com Deus nos permite conquistar virtudes morais, dessas não abramos mão. 
      Mas que não sejamos obsessivos, conquista de bens e de status profissional podem se tornar uma obsessão, como tal não terem fim, nunca satisfazendo. As virtudes morais que adquirirmos quando andamos em paz com Deus são infinitas e eternas, diferentes de bens materiais que sempre envelhecem e podem ser destruídos. Contudo, ainda assim nossas capacidades para adquirirmos virtudes são limitadas, por isso estejamos em paz com o que conquistamos e seguremos isso com humildade. 
      Os mais velhos entenderão melhor esta reflexão, chegamos num ponto, onde por mais sinceros e crentes que sejamos, nos veremos limitados para sermos melhores. Alguns pecados continuarão nos assediando dia a dia, algumas fraquezas, mas não desistamos, peçamos perdão, nos perdoemos, e não coloquemos todos os nossos anos de trabalho a perder por causa de algo que até agora não conseguimos superar. Não aprendemos só lutando e vencendo, mas também parando de lutar e aceitando certas coisas. 
      Deus pode permitir que vivamos tendo que aceitar limites para que não dependamos de nossa perfeição para termos paz. Com aceitar limites não me refiro a não chamar pecado de pecado e a não buscar perdão para ele, desejando de todo o coração não cometê-lo mais, me refiro a não sofrer tanto com cobranças que nem Deus nos faz. Querer ser santo, ainda que seja objetivo espiritual, por causa de cobrança humana, nossa e dos outros, pode ser, não para agradar a Deus, mas a um ídolo.
      Se você já entendeu pelo Espírito Santo que precisa amar a todos, ter paciência com todos, não se irar com ninguém e não ter inveja de ninguém, mas percebe que em certas situações e com certas pessoas você perde o controle e não consegue ser tão bom quanto você sabe que precisa ser, limite os lugares e os eventos que frequenta. Você não tem que salvar o mundo, mas apenas um grupo pequeno de pessoas, se souber se colocar no lugar certo e na hora certa, com humildade e com temor a Deus. 
      Coloque tua vida no eixo, seja fiel com alianças, com cônjuge, com patrões e clientes, isso é santidade, não se perca nos apetites do corpo, eles não te satisfarão no final. Depois entregue tua vida e de tua família nas mãos de Deus, peça provisão material, mas que todos temam antes de tudo ao Senhor. Então, não se importe com o mundo, não seja ganancioso ou vaidoso, melhor o pouco com Deus que o muito longe dele. Faça cada vez mais firme tua vocação de salvo por Jesus, cidadão do céu. 

quarta-feira, março 15, 2023

Fizeste em nós as nossas obras

      “Senhor, concede-nos a paz, porque todas as nossas obras tu as fazes por nós. Ó Senhor, nosso Deus, outros senhores têm tido domínio sobre nós, mas nós louvamos unicamente o teu nome. Eles estão mortos, não voltarão a viver; são apenas sombras, não ressuscitarão. Porque tu os castigaste e destruíste, e apagaste completamente a lembrança deles. Tu, Senhor, aumentaste o povo, aumentaste o povo e tens sido glorificado; alargaste todas as fronteiras do país.Isaías 26.12-15

      Outra versão cita o versículo de Isaías 26.12 assim, “Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras”, ao invés de fazes por nós diz fizeste em nós. É sutil, mas pode aprofundar ainda mais o ensino, se Deus faz em nós significa que ainda que no final nós façamos as coisas, Deus não faz pelo homem a parte que é do homem, isso será efeito de Deus ter trabalhado antes, não no mundo, mas dentro de nós, capacitando-nos para depois fazermos as coisas. De um jeito ou de outro a glória é de Deus, mas quando entendemos que Deus não realiza no mundo material coisas por nós, nos prontificamos a ter vidas morais de mais qualidade, para podermos trabalhar melhor e darmos bons e perenes frutos.
      Entretanto, há coisas, sim, que Deus faz objetivamente por nós, essas ele permitirá acontecer no mundo exterior sem que façamos materialmente qualquer coisa, temos só que confiar. Isso ocorre porque Deus tem as vidas de outros seres humanos assim como toda a mecânica do universo em suas mãos, dessa forma pode nos dar algo pelo trabalho de outros. Nessa experiência é preciso ainda mais fé de nossa parte, porque não conhecemos os intrincados sistemas do mundo, assim não sabemos o que está sendo preparado para ocorrer, que logo ocorrerá e que nos beneficiará de alguma maneira. Mas Isaías faz uma solicitação nesses modos maravilhosos da ação de Deus, concede-nos paz, se Deus faz tudo, também pode nos dar paz.
      Isaías cita também os outros “senhores”, todos temos que suportar “senhores” neste mundo, nem sempre opressores injustos, mas sempre de algum jeito “donos” de liberdades nossas. Deus permite esses “senhores”, todos têm direito de serem prósperos, se há trabalho, há boa colheita disso, nisso muitos, ainda que não vivam perto de Deus, serão patrões de muitos que vivem perto de Deus. Mas esses “senhores”, por mais poder que tenham sobre nós em um período de nossas vidas, têm tempo determinado, depois não haverá lembranças deles, como é com todas as ilusões neste mundo. Não se preocupe com ”senhores”, os que temem a Deus não são “diminuídos” para sempre, serão “alargados” pelo Senhor no tempo certo. 
      O trabalho mais importante que temos que desempenhar é deixar Deus trabalhar em nós, e muitos fazem de tudo, inclusive trabalho honesto, sacrifício pela família, obras sociais e serviços em igrejas, para não deixarem Deus trabalhar neles. Permitir o trabalho do Senhor em nós exige humildade, não ser visto pelos homens como alguém ativo e esforçado, Jesus era visto por muitos líderes religiosos judeus, não como um homem de Deus, mas como um vagabundo (Mateus 11.19). O maior esforço não é do corpo, mas do espírito, esse é feito em silêncio, sem buscar aprovação de outros, esse é o que separa religiosos e trabalhadores, de pessoas realmente espirituais e que se colocam no centro da vontade do Senhor.

terça-feira, março 14, 2023

Quebre o loop, siga em frente

      “Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso SalvadorTito 3.3-6

      Dois aprendizados que já compartilhei aqui e que sinto de repetir. Quando alguém é injusto conosco ou nos fere de alguma forma, se não perdoarmos e esquecermos, guardaremos uma mágoa que em algum momento desabafaremos sobre outra pessoa. Essa pessoa, por sua vez, recebendo nosso mal, que pode nem ter sido merecedora dele, se não o administrar corretamente também guardará uma mágoa, que em algum momento também será desabafada em uma terceira pessoa. 
      Nesse raciocínio existe um loop, um laço do mal, criando efeito que se tornará causa que se tornará efeito que se tornará causa e seguirá. Por isso Jesus enfatiza tanto no sermão do monte (Mateus 5-7) o perdão da ofensa, o amor ao inimigo, a bênção sobre o que nos persegue, esse é o único jeito de quebrar o loop do mal e iniciar um loop do bem. 
      Missão que todos recebemos neste mundo, esse é o primeiro aprendizado, quebrar loops do mal e iniciar loops do bem. Isso não interfere só em nossas vidas, mas também nas vidas dos outros, principalmente daqueles que se colocam como nossos inimigos, tanto no mundo quanto no plano espiritual. “Demônios” perdem a legalidade de vibrarem na mesma “frequência” que nós quando paramos de ser veículos do mal, eles não acham mais ressonância em nós e se afastam. 
      Mas quebrar o loop vai além de perdoar e oferecer a outra face, tem a ver também com estar aberto para mudar de opinião, aprender coisas novas, deixar as velhas para trás e seguir em frente aprendendo, numa renovação de vida espiritual, que tem implicações em nossa vida moral e social. Mudar e seguir mudando, eis o segundo aprendizado. 
      Os dois aprendizados são intrinsecamente conectados, quem não quebra loops do mal, cria desculpas para seguir magoado, acha nisso identidade de vítima que pode ser útil para quem não quer se assumir como agressor. Nessa condição de morte nos tornamos conservadores, achamos zonas de conforto em crenças estabelecidas, já que essas não cobram de nós mudanças que não queremos fazer. 
      Não se cresce sem se libertar, não se liberta sem encarar o novo, o desconhecido, não se conhece coisas melhores sem humildade, sem amor, sem santidade, sem fé, assim, conhecimento espiritual mais elevado não está relacionado com curiosidade intelectual, mas com virtudes morais. Quem não perdoa não abre portas, segue encarcerado naquilo que é, assim tem medo do que não sabe e nunca será melhor que é. 

segunda-feira, março 13, 2023

O céu vencerá o inferno

      “Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu, e me tirou para um lugar largo. O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem. O Senhor está comigo entre aqueles que me ajudam; por isso verei cumprido o meu desejo sobre os que me odeiam. É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem. É melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes. Todas as nações me cercaram, mas no nome do Senhor as despedaçarei.Salmos 118.5-10

      Já disse isso aqui e repetirei tantas vezes quantas o Espírito Santo me pedir: nosso inimigo não é o homem, ainda que esse possa se opor a nós, nosso inimigo é o nosso medo, e quando esse existe nem precisa o homem se opor, basta que haja insegurança em nossos corações. O salmista, existindo num tempo de guerras como modo de vida, até deveria e podia pedir a Deus que destruísse seus inimigos humanos e externos. Deus, contudo, permitiu que textos bíblicos como o acima ficassem na Bíblia como simbolismos, aliás, a Bíblia é na maior parte do tempo só metáforas de situações emocionais e espirituais, não regras para serem interpretadas ao pé da letra.
      Quem não se sente assim tantas vezes, amedrontado, preso, limitado a um buraco escuro, quente e mal arejado? Ainda que não esteja necessariamente e fisicamente em um lugar claustrofóbico e cercado por pessoas que o deixam desconfortáveis? E acredite, quando isso ocorre uma situação emocional interior em nós acha simpatia com espíritos malignos externos, o que faz com que nossa percepção de opressão se potencialize. Assim, podemos orar a Deus para que nos livre de nossos inimigos, mas não necessariamente homens no mundo, mas pensamentos, emoções e demônios em nossas mentes. Como já dissemos aqui, a existência é essencialmente mental. 
      Depois disso podemos entregar nas mãos de Deus todos os que sentimos que nos oprimem de alguma maneira, mas sempre com a visão do novo testamento, não com a do antigo. Nessa visão Deus ama igualmente todos os homens, mesmo os que se colocam como nossos inimigos, e quer abençoar a todos. Deus não destrói suas criaturas, nenhuma delas, mesmo a mais perversa, mas pode nos proteger de suas intenções e ações ruins. Deus sempre espera o arrependimento, de todos, por outro lado muitas vezes nosso juízo que coloca alguns como inimigos pode ser enganoso, ainda que Deus nos ouça e nos livre de toda a nossa situação mental de opressão. 
      Mas faça a coisa nessa ordem: peça libertação do medo, entregue possíveis inimigos nas mãos de Deus e depois tome posse de perdão e de amor por todos. A verdade espiritual mais profunda, e que muitos cristãos não entendem, é que o que vence as trevas e o mal é a luz e o amor. Deus não aniquila opositores, mas atrai-os para ele para que se tornem seus amigos, a intenção realmente espiritual da luz mais alta não diminui exércitos inimigos, mas aumenta o seu exército, anexando inimigos transformados como correligionários. No final só haverá um exército, de amigos de Deus caminhando para sua luz mais alta, eis o mistério, o céu vencerá o inferno. 

domingo, março 12, 2023

Vossa tristeza se converterá em alegria

      “Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.João 16.20

      Seguir em direção a Deus dói, sim, achamos consolo, conhecemos a melhor paz, mas há sofrimento. O motivo é simples, perto de Deus somos iluminados e a luz moral do Altíssimo expõe nossas imperfeições, a verdade faz doer. Quem não quer seguir para Deus inventa motivos para dizer que ele não existe como ele realmente é, diz que crer no mundo espiritual é coisa de ignorante, que culpa é para fracos, com isso fica em trevas. Com as luzes apagadas não se vê defeitos, não se sabe a verdade, há o torpor da irresponsabilidade moral, que não assume erros nem sente culpas, assim não se sofre. 
      Quem quer ser feliz neste mundo sempre, prefere ficar longe de Deus, quem se aproxima do Senhor se aproxima da dor, mas só a dor aperfeiçoa, faz melhorar, e só quem busca melhorar entende a verdadeira razão de estar neste mundo. Pode ser duro o que vou dizer, mas não viemos para este mundo para sermos felizes, viemos para sofrer, viemos para sentir dor. Mas não se desespere, quem aceita humildemente esse tratamento, quem aceita a verdade e busca com todo o coração ser alguém melhor em Deus, acha a paz, é tratado de forma diferenciada pelo universo, sabe onde anda porque está na luz. 
      Você já deve ter percebido que algumas pessoas parecem não sofrer muito, isso acontece com gente diferente, de níveis financeiros e intelectuais distintos. Essas pessoas têm problemas, e acredite, piores que os daqueles que se aproximam do Senhor e assumem a verdade, mas elas conseguem se livrar da dor e seguirem em frente. Fazem isso principalmente jogando a culpa nos outros, dizendo que elas estão certas, que são as outras pessoas que não estão agindo corretamente. Já você, que segue para Deus, sente uma aflição constante, uma cobrança permanente, é a luz de Deus tratando tua vida. 
      É importante que fique claro que a dor dos filhos da luz, que não é de pecado não resolvido ou de ansiedade não entregue ao Senhor, existe, mas é curada na humildade, assim a luta do que segue para Deus não é para anular a dor, mas para permanecer humilde. Aquele que nega essa dor insiste na arrogância, coloca-se acima do sofrimento, foge do Senhor, por isso consegue ter no mundo mais alegria que os filhos da luz. Entretanto, na eternidade, onde todos são confrontados com a luz mais alta, onde não há como fugir do juízo, os que aqui sofreram corretamente terão alegria duradoura. 
      Temos vivido um momento onde a mensagem pregada pela mídia e outros poderes é de negação da dor, ninguém quer sofrer, ou pior, mostrar que sofre, a imagem nas redes sociais tem que exibir um ser humano sempre maquiado, bem vestido, festejando. Não negamos que o objetivo final do ser seja a felicidade, mas a verdadeira felicidade não se consegue neste mundo e muito menos do jeito que se é pregado. É preciso muita dor no plano físico, digerida da maneira certa, esculpindo valores morais na pedra dura do ego humano, para que se possa colher felicidade, e isso só no plano espiritual.
      Desculpe-me ser humano pós-moderno, não posso esconder de você a verdade, o evangelho de Jesus não é livro de auto-ajuda, palestra motivacional ou filme da Disney. Todo o dinheiro que se pode gastar em academias, dietas alimentares, cirurgias plásticas, viagens, bebidas, festas, roupas, tênis, celulares, remédios ou psicoterapia, não trará felicidade, só aumentará o buraco da alma para caber mais vazio. O arrogante que foge de Deus adentra mais as trevas, isso faz com que se engane mais, longe da luz do Altíssimo só há mentira. Quantos sofrem enquanto alguém não assume sua verdade?
      No texto bíblico inicial João registra o momento quando Jesus revela aos discípulos que eles ficariam sem ele, que isso os deixaria tristes, enquanto os outros estariam felizes, mas Jesus diz que depois os discípulos estariam felizes novamente com a presença do mestre. Vossa tristeza se converterá em alegria, como tantas passagens bíblicas, essa possui mais de uma camada de interpretação, a mais próxima dos discípulos naquele momento é que Jesus morreria e ressuscitaria, mesmo nessa interpretação há um milagre que os discípulos não estavam preparados para entender, só entenderiam depois.
      Mas a interpretação mais abrangente tem a ver com as vidas de todos os seres humanos, de todos os tempos, que creem em Deus e caminham espiritualmente em sua direção. A lição do texto segue o princípio que permeia todo o evangelho, que diz que se ganha quando se perde, que se vive quando se morre, assim só haverá alegria quando houver tristeza para se transformar nela. Mas como querem ter alegria na eternidade os que querem ter alegria no mundo, mesmo em nome do que muitos creem ser o evangelho? A lição não é alerta só para os do mundo, mas também para muitos da igreja. 

sábado, março 11, 2023

O Senhor peleja por nós

      “Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os tornareis a ver. O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis. Então disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco. E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, e os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros.” Êxodo 14.13-18

      O texto bíblico inicial é o epílogo do livramento da nação de Israel do Egito. Podemos analizar esse episódio sobre vários pontos de vista, Israel, Egito, o faraó e os egípcios, o deserto, o milagre da abertura do mar e Canaã, são simbolismos para várias coisas em nossas vidas pessoais. Egito é uma condição de vida dura, onde muito se trabalha, mas pouco se recebe, onde se dá lucro para os outros não para si mesmo. É uma condição difícil, mas é para ser só uma fase, principalmente no início de jornadas, o lado positivo dela é que como uma família, a de Jacó e seus filhos, se transformou numa nação, nós como indivíduos crescemos e nos fortalecemos, preparados para atravessar um deserto e conquistar Canaã. 
      O faraó pode parecer um opressor injusto, mas no tempo certo é instrumento de Deus para fazer de uma família uma nação, todos nós temos nossos “faraós” em nossas jornadas. O correto é no momento adequado nos livrarmos dos egípicios, e esses, se forem sábios, saberem que devem deixar partir os que temem a Deus para serem livres. Se os egípcios de Israel tivessem tido essa lucidez, essa humildade, teriam ficado sem aqueles que de alguma forma lhes proporcionavam lucros, no caso de Israel como mão de obra escrava, mas ainda permanecido com alguma dignidade, mas não foi assim que ocorreu. Se Deus tem propósito na luz dos que o temem, também tem nas trevas dos que não confiam nele. 
      Israel, vendo os exércitos egípcios perseguindo-o teve novamente sua fé testada, e novamente falhou. Depois de ver tantos sinais que o todo-poderoso tinha feito para livrá-lo de seus opressores, saber que quando Deus quer ele faz e não é preciso temer, mas confiar e seguir em paz, Israel duvidou. Povo de dura cerviz? Sim, como eu e você. O próprio Moisés temeu, por isso Deus lhe respondeu, “por que clamas a mim? dize aos filhos de Israel que marchem, e tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco”. Nada de novo Deus tinha a dizer, a libertação de Israel já havia sido dada, bastava que Moisés e o povo seguissem com fé.
      Se o povo de Deus não creu, quanto mais os egípcios, depois de todos os sinais que viram o Deus verdadeiro fazer a favor de um povo seu, ainda insistiram na perseguição, achando que ainda poderiam voltar a subjugar Israel. Mas quem se rebela contra Deus tem o coração endurecido, olhos e ouvidos espirituais fechados, anda em trevas e caminha para uma humilhação maior. “Estes entrarão atrás deles e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, e os egípcios saberão que eu sou o Senhor”, não era uma situação onde seria perdida a liberdade conquistada, mas uma em que essa liberdade se estabeleceria por completo e os opressores seriam totalmente punidos. 
      Eis uma experiência que todos nós podemos viver, termos um grande livramento de Deus e depois sentirmos como se esse livramento fosse perdido. Mas quando isso ocorre é para nós confiarmos ainda mais no Deus que começou a nos libertar e entendermos que Deus intenta nos livrar mais ainda. Se os egípcios não tivessem vindo atrás poderiam ter dado a Israel uma sensação de liberdade, mas temporária, porque depois poderiam se fortalecer e voltar a atacar Israel. Deus queria dar a Israel não uma libertação temporária, mas definitiva, não era Deus interrompendo no meio uma obra, tirando o que havia dado, mas aumentando ainda mais a bênção, acabando com qualquer possibilidade do faraó oprimir de novo seu povo. 
      “Não temais, estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará, porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os tornareis a ver, o Senhor pelejará por vós e vós vos calareis”, essa é uma das palavras mais poderosas da Bíblia, Deus a diz também a mim e a você. Estais quietos, sem murmuração, sem reclamação, sem tristeza, mas naquela paz profunda que se vive em silêncio. Vede o livramento do Senhor, quando Deus age nós assistimos, de camarote, quietos, porque não somos nós quem lutamos, mas ele, a glória por sua vez será só dele. Os egípcios que hoje vistes nunca mais os tornareis a ver, o que nos oprimiu por anos será só lembrança, nunca mais nos afligirá, estará submerso no fundo do mar. 
      Israel, quando viu o mar à frente e os egípcios atrás, talvez tenha se sentido novamente preso, oprimido, mas esse mar não era para oprimi-lo, mas para destruir seu opressor. Precisamos ter discernimento, o temos quando não olhamos para trás, para nossos opositores, para nossos erros, para a confiança errada em egípcios, que a princípio podem até nos ajudar, num momento de falta de suprimentos materiais, mas depois nos tornarão seus escravos. Mas também temos esse discernimento quando não olhamos para o mar à nossa frente, o Deus que quebrou a opressão pode abrir o mar, o mar do desconhecido futuro, de outros inimigos que poderão tentar nos impedir de entrar em Canaã. Olhemos para cima, para Deus. 
      Refletimos sobre os pontos de vista dos egípcios e de Israel, mas há um terceiro ponto de vista, de Moisés. Muitos de nós somos chamados como líderes por Deus para tomarmos a frente e conduzirmos outras pessoas às suas canaãs, de tais é exigido firmeza de propósito e confiança no Senhor que vigia na qualidade moral. Quem Deus chama Deus prepara, se Deus te colocou como Moisés em uma causa esteja preparado para ser cobrado, não por Deus, mas pelas pessoas, quando a fé delas for confrontada elas não cobrarão o Senhor, mas você. A quem tem chamada de Moisés é preciso certeza do que faz, serenidade que olha sempre para cima. Se mostrar-se fraco aquele que guia, como findará a jornada o guiado?