quinta-feira, março 31, 2022

Uma chance de restauração (60/90)

      “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” 
Romanos 12.2

      Um novo amigo é mais que uma oportunidade para conhecermos alguém, é chance para nos aceitarmos. Um novo amigo é uma nova oportunidade de perdão, tanto para nós como para o outro, e não por um erro que cometemos com esse amigo ou cometido por esse conosco. Às vezes, não podemos voltar ao passado e resolvermos certas coisas, consertarmos certos erros, mesmo obtermos certos perdões, assim, por mais que saibamos que temos que depender do perdão de Deus e não do homem, sermos aceitos por uma nova pessoa, quem quer que seja ela, nos consola.
      Uma nova amizade nos permite fazer as coisas de um jeito melhor, mostrarmos para alguém que somos bons, ou pelo menos, que nos tornamos bons, isso permite-nos resgatar nossa reputação, ter ao menos de uma pessoa uma boa opinião sobre nós. Respeite as pessoas, principalmente um novo amigo, ele pode estar buscando em você uma nova chance, que talvez não convença outros sobre o que ele é hoje, mas que se convencer você pode bastar para que ele se sinta melhor. Você pode ser a chance, e talvez a derradeira, que alguém está precisando para restaurar a si mesmo. 
      Qual a duração de nossas amizades? É fato que levados principalmente por carreiras profissionais, podemos nos mudar de cidade, de estado, até de país, isso quebra muitos laços afetivos valiosos. Mas mesmo numa só cidade, você tem amizades que já perduram por mais de cinco, dez, vinte anos? Infelizmente também é fato que muitas vezes nos distanciamos de alguém por algum mal entendido, assim podemos deixar para trás pendências, que nem são pecados, mas só coisas não resolvidas, e nem darmos conta que isso nos desconecta de relações preciosas. 
      Vivemos muitas vidas em uma, principalmente se não temos medo de nos desconstruir para novamente nos construirmos, se não tememos mudar de opinião, e isso leva-nos a migrar de certos círculos sociais para outros. Isso não deveria ser exceção, mas regra, nosso tempo encarnado na Terra precisa ser bem aproveitado, aproveitá-lo bem é nos desafiarmos a sermos melhores a cada dia. Quem não quer isso para si, por orgulhosamente achar que já está bom como é e não precisa mudar, também não verá essa necessidade nos outros, julgará mal e se distanciará de muitos. 
      Quem não vê necessidade de se desconstruir e se reconstruir verá no tropeço de alguém algo definitivo, a consideração que tinha pela pessoa até então não terá mais, porque se acha traído por uma leitura que fazia da pessoa que mudou. Não nos decepcionamos com os outros, a verdade é que não queremos admitir que não sabemos tudo, que fomos nós que nos enganamos fechando alguém numa caixa antes do tempo, se é que há tempo para fechar alguém. Mas se vermos a vida, não como uma, mas como várias vidas, com mortes e nascimentos, entenderemos melhor os outros. 
      Sabe aquela pessoa que você conheceu há vinte anos em uma igreja, e que depois, por algum motivo, que você não sabe bem porque nunca foi atrás para saber, se afastou da igreja e do teu convívio? Ela não é mais a mesma pessoa hoje, não ficou condenada ao inferno por um erro que cometeu, não necessariamente. Ela pode ter feito novas e melhores escolhas e mudado, de maneira extrema. Quem está convivendo com ela hoje pode nem ter ideia de quem ela foi e fez. Esse novo amigo da pessoa é uma nova chance que Deus deu a ela para se restaurar, mudar e ser alguém melhor. 
      Faça novos amigos, se puder, mantenha os antigos, mas se restaure, temos o melhor auxiliar para isso, o amigo Espírito Santo de Deus. Viver é se restaurar o tempo todo, quem acha que acertou depressa e que não precisa mais de reformas e por isso é melhor, engana-se, principalmente se se diz cristão. Alguns creem em reencarnação como meio de evolução espiritual, mas é muito mais efetivo vivermos várias vidas em uma, deixarmos morrer velhos egos, velhos vícios, velhos passados, e nascer novos espíritos no mesmo corpo, numa única e maravilhosa existência em Jesus Cristo. 

Esta é a 60ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

quarta-feira, março 30, 2022

A eternidade revelará (59/90)

      “Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.” 
João 12.46-47

      Nem todos adquirem lucidez moral rapidamente, alguns demoram mais, assim a sensibilidade que temos para entendermos o que é errado e o quanto isso machuca-nos e aos outros, é obtida gradativamente. Eu creio num Deus poderoso, vivo, justo e sempre presente em amor nas vidas das pessoas. Ele permite provações para nosso crescimento espiritual, não nos engana impedindo de alguma maneira que os efeitos de causas erradas venham, mas também não cobra mais que cada ser humano pode fazer para não errar. 
      Por isso não devemos julgar ninguém, condenar, tão pouco, mas temer o Deus que tem com cada ser relação única que só ele e a pessoa sabem de fato como é. Devemos orar por todos, sim, ajudar com atenção e palavras, mas sempre com paciência, as pessoas não funcionam como você ou eu funcionamos, os tempos de crescimento e cobrança de cada um são diferentes. Alguém que podemos achar que se perdeu e que não tem mais jeito, pode só estar esperando o tempo de Deus, onde há providências que desconhecemos. 
      O certo é que muitas coisas que vivemos só as entendemos de fato muitos anos depois, e se é assim conosco isso é razão suficiente para exercermos paciência generosa com os outros, afinal, crescemos para isso, para aprendermos a amar mais e melhor os outros. Quanto aos orgulhosos, que usam suas falsas virtudes como referências para tudo, que medem os outros por aquilo que acham que são e têm, seguirão enganados, julgando e condenando, exigindo do fraco algo que ele não está ainda pronto para dar. 
      Vivi por algum tempo equivocado e incentivado a isso pelas igrejas que participava, julgando e me achando no direito disso. Muitos ainda vivem assim e muitos, com as quais eu convivi há mais de trinta anos atrás, ainda estão assim, julgando, inclusive a mim. Esses nunca me conheceram de fato, minha formação familiar, minha infância, as feridas abertas que eu tinha na alma naquele tempo, apenas criam que por eu fazer oficialmente parte de uma igreja, ser batizado e ter cargos, tinha a obrigação de ser perfeito. 
      Na verdade não era a mim e a outros que eles não conheciam, mas a eles mesmos, e parece que isso continua assim para muitos. Eles eram bons cristãos? Eram e continuam sendo, como cidadãos, com boa moral, fazendo bem ao próximo de maneira genérica, mas o problema é o entendimento errado que eles tinham e podem ainda terem do verdadeiro evangelho. Veem a experiência com Cristo como um ato mágico e instantâneo, que se não deixa alguém perfeito deixa-o capacitado para não cometer mais erros graves. 
      A vida não é simples, e se dentro de igrejas podemos ter a falsa impressão que Deus salva alguém e o transforma imediatamente, é porque alguém pode ter vindo já pronto por Deus para essa experiência, não podemos usar isso como regra. Pedro não negou Jesus três vezes, mesmo depois de andar por três anos com o mestre, sendo um de seus amigos mais íntimos, testemunhando milagres e atitudes de amor profundo? Somos semelhantes a Pedro, ninguém se engane sobre isso, nosso caminho só termina quando acaba.
      Só Deus sabe se não nos aguarda, na próxima curva da vida, um tropeção tal que nos fará perder o rumo, mas que será o único jeito de acordarmos de uma posição arrogante e covarde, posição que pode ter julgado por anos muitos fracos que Deus ama e continua cuidando, mesmo depois que os condenamos, paramos de amá-los e sequer tomamos alguma iniciativa para sabermos como eles estão. Essa palavra soa como mágoa? Pois ela é, eu assumo isso, e oro a Deus para que me dê amor pelos que me magoaram. 
      Mas eu tenho certeza em Deus de quem serei na eternidade, sei de todos os meus erros, mas também de meus arrependimentos e de minhas curas, verdadeiras e profundas através do Santo Espírito de Deus pelo nome de Jesus. Sei o que os anos fizeram comigo debaixo da graça e da misericórdia do Altíssimo, assim espero, sinceramente, ver homens e mulheres que ainda amo, que foram importantes para mim e ainda são, ainda que me julguem sem se darem ao trabalho de me conhecerem de fato, a eternidade revelará tudo. 

Esta é a 59ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, março 29, 2022

Andemos por fé, não por vista (58/90)

       “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. 
      Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor. (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.
II Coríntios 5.1-10

      Quantos mistérios o texto bíblico inicial nos revela. A casa terrestre que Paulo se refere é nosso corpo físico, o edifício nos céus é nosso homem interior aperfeiçoado, nossa melhor forma de consciência e existência na eternidade. Paulo diz que o normal, enquanto estamos encarnados no mundo, é nos sentirmos desconfortáveis, contermos dentro de nós um gemido, baixo e constante, declarando que nosso espírito não está totalmente satisfeito no mundo e que deseja estar no outro mundo. Eis a primeira lição do texto, aceitarmos que nunca seremos plenamente felizes nesta vida, é certo que isso pode ser por muitos motivos, mas ainda que estejamos andando com Deus, como Paulo estava, sempre gemeremos desejando a eternidade, onde nosso espírito será livre. Não se desespere ao verificar uma angústia que nunca passa, ainda que esteja em paz com Deus, todos a sentimos. 
      Mas liberdade do espírito no céu tem um preço, nosso espírito será liberado para o céu só se estiver com roupa. A que roupa espiritual Paulo se refere? Lembra-se de Adão e Eva, logo após terem desobedecido a Deus? Eles tentaram se esconder do Senhor porque o pecado fez com que eles sentissem vergonha, por isso Deus fez para eles roupas (Gênesis 3.9-11, 21). A vergonha espiritual que eles provaram não seria mais sanada, só em Jesus haveria remédio, e ainda assim só para a eternidade, no mundo o homem sempre se sente moralmente nu na presença de Deus. O vestido que Paulo se refere, que será procurado em nosso espírito, é tudo o que Jesus representa, sua salvação, seu exemplo de conduta. Jesus veste o nosso espírito, se crermos que nele há perdão e que a partir disso podemos praticar obras de virtudes espirituais que construam o céu em nossos homens interiores
      O consolo que temos é o penhor do Espírito Santo, ele não deixa que a vergonha pelo pecado nos vença, que a insatisfação por estarmos encarnados no mundo nos derrote. Só uma comunhão íntima com o Espírito de Deus para fazer-nos olharmos para cima, para frente, para o futuro, para a melhor eternidade de Deus. O Espírito Santo nos faz desejar as virtudes espirituais da luz mais alta, e acharmos nisso o prazer maior, aquele que nos satisfaz e não tem fim. Quem é espiritual não se acostuma com o mundo, não se satisfaz com os prazeres da carne, mas deseja a liberdade da existência espiritual em direção a Deus na eternidade. Mas ainda que sabendo que aqui estamos longe da nossa vocação maior, vivemos pela fé, não pelo que vemos e sentimos, e pela fé conhecemos as virtudes espirituais e não nos escandalizamos com elas, pois sabemos que elas são verdades eternas. 
      No mundo nunca beberemos o suficiente, comeremos o suficiente, teremos relações íntimas o suficiente, isso tudo nunca bastará, nunca será plenamente satisfatório, mas deve ser assim porque o ser humano não é vocacionado para ser feliz neste mundo. Se assim fosse viveria eternamente no mundo, não teria seu corpo envelhecido, não morreria, mas estamos aqui de passagem, para sermos provados, aprovados e crescermos. Somos como viajantes a trabalho em terra estranha, que guardam no bolso a foto de sua terra de origem, para que olhando para ela sintam-se confortados. Nossa viva foto espiritual do céu é o penhor do Espírito Santo, sem ela não achamos sentido em trabalhar, dia após dia, nessa terra estranha e estéril. O que não possui essa foto, ou ainda que a tenha não olhe para ela regularmente, só sentirá o enfado da existência de vaidades do plano físico. 
      A roupa é espiritual, mas conquistada no corpo material, o juízo verificará isso, assim sigamos, desejando o que está por vir, não o que temos aqui, ainda que tenhamos muito, o mundo não é lugar para a melhor felicidade. Isso é assim, ainda que Deus nos permita momentos alegres, como o nascimento de um filho, sua formatura, seu casamento, o nosso casamento, a nossa formatura, o sorriso da pessoa amada, o abraço da mãe, a gargalhada gostosa daquele amigo que nos faz bem só por estar perto de nós. Mas não nos iludamos, e nem nos desesperemos, no mundo é só uma viagem, curta, não nos sintamos donos de nada aqui, assim também não nos frustemos se perdermos algo aqui, o que é nosso de verdade está lá no plano espiritual. Andemos por fé, não por vista, em todo o tempo, tiremos nossos olhos deste mundo e abramos nossos olhos espirituais para o outro mundo. 

Esta é a 58ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

segunda-feira, março 28, 2022

Justiça, amor, intenção e obras (57/90)

      “Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá. Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá.” 
Ezequiel 18.21-24

      Não é porque o homem peca que a obra de Deus para de ser feita. Deus usa um servo em pecado? Usa. Até quando? Até que o tempo da misericórdia de Deus para esse servo acabe. Misericórdia tem fim? Amor e justiça não têm, mas misericórdia tem fim, misericórdia é bênção de exceção, amor e justiça são as regras e são mutuamente limitáveis. O amor para de abençoar, não de agir, quando a justiça é desobedecida, mas isso não é feito de imediato, um tempo é dado para que o errado se acerte. Deus continua amando o errado, assim como ao que esse está abençoando como servo. Se o tempo de misericórdia acabar e o errado não se acertar, ele será retirado de seu posto e outro será chamado para seu lugar, isso ocorre espiritualmente. 
      Entretanto, isso não significa que o homem sincronizará seu tempo com o tempo de Deus. Muitos que erraram e foram tirados por Deus de suas posições, significando que não recebem mais provisão espiritual para compartilhar com os outros, ainda assim são mantidos por outros homens, também no erro, em seus postos, deixando que alimento não vindo de Deus chegue a quem precisa. Mas no grande plano de Deus, com exceção das crianças e de outros intelectualmente limitados, ninguém é inocente, os que permitem seguir trabalhando o errado, assim como aqueles que se alimentam do alimento espiritual ruim, também serão confrontados pela justiça, quando o tempo de misericórdia de Deus para cada um chegar ao fim. 
      Justiça não é opositora do amor, mas uma outra face dele, no verdadeiro amor não há convivência eterna com o erro, assim ser disciplinado pela justiça é provar o amor. A disciplina existe para que alguém volte a ser beneficiado pelo sim do amor, e não só tratado pelo não dele, amor pode tanto dizer sim como não, e não só sim o tempo todo, como muitos equivocadamente acham. Pecado, misericórdia, justiça e amor, são conceitos espirituais que se cruzam, mas de todos esses o mais poderoso e duradouro é o amor, que sempre tenta levantar, não derrubar, curar, não matar, dar tempo para o arrependimento, não julgar definitivamente. A maior qualidade do amor é a paciência, que sempre acredita que o errado se acertará. 
      Entendamos bem o que o texto inicial fala, ele não diz que o ímpio que se converter de seus pecados viverá e terá seus erros esquecidos. Além da conversão, que é assunção de pecados e pedido de perdão, o ímpio tem que praticar obras, guardar os estatutos de Deus, proceder com retidão e justiça. Mas desviando-se o justo e cometendo iniquidade não viverá, ainda que tiver crido em Deus antes e praticado boas obras isso será esquecido, se fizer conforme o ímpio faz pecará e no pecado que pecou morrerá. Ezequiel ensina sobre penas e privilégios, salvo e perdido, sobre o tempo de Deus para as coisas, que é relativo, não absoluto, mas ele diz muito sobre o amor de Deus. “Quero mais que o homem se converta e viva”.
      Pergunto: ainda que seja só por uma possibilidade, não parece que o texto de Ezequiel, teologia básica da velha aliança, se opõe à teologia da nova aliança do Cristo? O evangelho diz que basta ao homem crer para ser salvo (Atos 16.31). Não estou dizendo que fé em Jesus não salve, mas talvez precisemos reavaliar o que significa de fato fé e salvação. Fé salva, se nos colocar numa posição espiritual elevada, nas regiões celestes onde Jesus habita espiritualmente hoje. Isso nos transforma aqui no mundo, nos dá novos valores e novos objetivos, assim o velho homem preso aos pecados da carne é retirado das posições inferiores do inferno e é salvo. Contudo, se entendemos fé só como uma convicção racional, não significa muita coisa. 
      Obras salvam? Não se nascerem de intenção errada. Intenção errada é aquela que existe no coração que não tem comunhão com Deus pelo Espírito Santo e não vive os ensinos do Cristo homem. Intenção certa naturalmente gera boas obras, pois começa e acaba em Deus, assim como salva quem a possui. Mas ainda que haja objetivos positivos no coração, que pratique obras úteis para outros homens, pois Deus usa todas as obras, intenção errada não salvará o mal intencionado. É isso que Jesus ensinou no evangelho, a importância da intenção certa nascida da qualidade do homem interior, que pratica no mundo uma vida, não hipócrita ou de aparência, mas de real intimidade com Deus e para a glória do Senhor, não do homem. 

Esta é a 57ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

domingo, março 27, 2022

Para ser íntimo de Deus (56/90)

      “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.
Jeremias 29.13

      A boa refeição é aquela que não precisamos deixar a mesa sem estarmos totalmente satisfeitos, contudo, espiritualmente, muitos saem da presença de Deus insatisfeitos e acham que é assim que as coisas têm que ser. Não, as coisas não precisam ser assim, mas para que não sejam temos que nos libertar de fórmulas. Religiões são essencialmente fábricas de fórmulas, receitas podem ser anotadas, registradas, autenticadas e até comercializadas, fórmulas são coisas físicas, ainda que referindo-se ao plano religioso e espiritual, ainda que pondo o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo no meio. Fórmulas podem até terem tido origens legitimamente espirituais e eficientes, mas se tornaram fórmulas e perderam sua validade espiritual. 
      Qual a chave para acharmos a paz maior que Deus quer nos dar, e não nos acomodarmos às fórmulas, ainda que sejam autorizadas por lideranças religiosas? Trabalho, mas trabalho espiritual. O termo trabalho é adequado aqui para deixar claro que adentrarmos-nos na intimidade de Deus requer esforço, e sempre maior, por isso uma fórmula não serve, ela pode até ter levado alguém até um ponto, mas parou aí, fórmulas nos fazem ociosos espirituais. Ainda que tenhamos tido uma experiência real, profunda, poderosa com Deus ontem, se usarmos hoje a mesma fórmula não conseguiremos ir além. Deus é vivo, sempre nos atrai para mais perto dele, isso exige o trabalho de conhecermos coisas novas que não sabíamos ontem. 
      Na prática isso significa termos um tempo significativo e de qualidade na presença de Deus, não usando mantras emocionais ou mesmo falando as mesmas coisas em línguas espirituais estranhas, mas achando a paz maior no silêncio, descobrindo o segredo que existe em fazer o espírito sorrir para o Altíssimo, isso poderá nos ajudar a abrir nossos olhos e ouvidos espirituais. Nisso tudo nos cinge a fé, nos protege a luz e no atrai o amor, de forma que depois de termos falados tudo o que precisávamos, possamos, e essa é chave de uma oração que acha satisfação na presença de Deus, aprendermos a ouvir, a discernirmos a voz do Espírito Santo. Isso só se experimenta num silêncio espiritual muito especial na presença do Altíssimo. 
      Muitos falam muito com Deus, e Deus os ouve com amor, mas não aprenderam ainda a ouvir Deus falando, pensam que Deus só fala pela Bíblia e pelos pregadores, anulam assim a principal função do Santo Espírito consolador e professor. Me perdoem se eu estiver sendo repetitivo em algumas exortações nos últimos tempos do “Como o ar que respiro”, e em especial no estudo “Quem você será na eternidade?”, mas é que esse assunto é de suma importância. Só o entendimento disso nos libertará de homens, de mentiras, de religiões e de fórmulas que só conduzem à morte e ao inferno. Se queremos o céu, temos que prová-lo ainda aqui no mundo, pelo Espírito Santo, só isso nos fortalecerá contra o pecado e o mal. 
      Entretanto, é preciso que entendamos que diferente das coisas materiais, para as quais podemos usar receitas para acharmos, não funciona assim no mundo espiritual. Creiam, estou tentando de todas as formas usar aqui uma dialética esclarecedora, ainda que experiência espiritual só entende quem a tem. O que posso contar são os efeitos de uma vida com e sem essa intimidade com Deus, se você já a tem experimentado consegue entender o que estou dizendo. Se não teve essa experiência pode entender isso verificando se você não tem os efeitos disso, sabendo assim se tua vida de oração tem sido eficiente e se tuas prioridades espirituais têm sido as mais altas. Se for honesto consigo mesmo entenderá o que estou tentando dizendo. 
      No final o que vale são bons frutos que permanecem: libertação de pecado, que é o fruto da santidade que agrada a Deus, paz diferente que é o fruto que nos harmoniza interiormente e nos dá forças para seguirmos, e vida de amor, o fruto que põe em prática o que cremos com os homens ao nosso redor. Se você ainda segue preso a certos vícios, mesmo que sejam secretos e você diga que não prejudicam a ninguém a não ser a você mesmo, se ora bastante, mas não acha uma paz que excede todo o entendimento, e se depois de tanto esforço devocional você continua sem paciência para amar as pessoas, então, você não experimentou ainda uma oração de qualidade e intimidade com Deus, e pode ainda estar preso a fórmulas. 
      Linhas espiritualistas como ocultismos, cabala, magia e esoterismos, usam fórmulas, protocolos, ritos e sistemas, para terem contato e “controle” sobre potências espirituais. Mas isso é feito em rebeldia à vontade de Deus, propõem conexão com seres das trevas. É exatamente por isso que fórmulas podem até funcionar, seres mistificadores (demônios) gostam de mistificações, de máscaras, de rituais, isso agrada seus egos vaidosos e decaídos. Não funciona assim com Deus, para o Altíssimo basta-nos o nome de Jesus e o caminho de duas vias do Espírito Santo, que tanto permite que Deus nos ouça quanto o ouçamos, e que por isso é caminho reto de vida, não de morte, que nos leva a crescer em virtudes da luz mais alta do Senhor. 
      Não posso deixar de citar aqui aquele povo simples, pobre, às vezes sem formação superior, com um forte doutrinamento católico. Essas pessoas rezam repetindo fórmulas que aprenderam e fazem isso com o coração, colocam Deus em tudo em suas vidas, ainda que sob os filtros do catolicismo, cultuam a Deus ainda que debaixo da fechada liturgia católica. Mas há muitos em igrejas evangélicas assim, pagam dízimos, não faltam a cultos de consagração, mas também estão em cultos da semana que poucos vão, e não fazem isso por vaidade, como fazem muitos músicos que só participam de cultos lotados. Esses, católicos e evangélicos, usam fórmulas tradicionais para buscarem a Deus, isso é o que podem fazer e Deus respeita.
      Deus não ouve as orações desses? Sim, ouve, e com muito carinho cuida deles. Contudo, entendamos uma coisa, Deus tem chamadas diferentes para pessoas diferentes. Quem é chamado para ser ovelha, que seja, uma ovelha humilde, fiel e amorosa, mas quem é chamado para ser mais que isso deve sê-lo com temor a Deus e com muito esforço espiritual. Se Deus quer mais de você, saiba que você não terá paz enquanto não obedecer esse chamado, e se for saber mais que o humilde irmãozinho que só sabe o que lhe é ensinado, você deve buscar isso. Para quê, para ser maior? Não, para obedecer a Deus, e entenda algo, por experiência própria, tua provação pode ser saber e calar, só para que você seja útil orando por muitos. 

Esta é a 56ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sábado, março 26, 2022

Liberte-se de fórmulas (55/90)

      “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes.
Jeremias 33.3

      O que compartilho neste estudo não é uma teoria para mim, somente coisas que li, que outros me disseram, que ouvi, não é isso, são experiências em primeira mão. Leio muito, estudo a Bíblia, comentários sobre ela assim como outros textos sagrados, mas não bato o martelo em nada antes de Deus me dar sua palavra final em oração. Algo maravilhoso em andar com Deus é ver que as coisas acontecem de forma sincronizada e serena, assim, só fui atrás de alguns conhecimentos, me informando mais intelectualmente, depois que Deus me autorizou em oração. Dessa forma tenho entendido as coisas no tempo melhor, não tenho sido surpreendido, nem tenho me escandalizado, tudo tem caído em meu coração na medida certa.
      Pela misericórdia e vocação de Deus sempre tive vida de oração, mesmo quando andava pelo deserto da vida errando para aprender a acertar. Mas nos últimos anos, coincidindo minha idade com a pandemia, que me prenderam mais em casa, Deus tem me atraído para viver experiências fantásticas em oração. O que quis a vida inteira, e que por muito tempo nem sabia que queria, se realizou. Isso tem levado-me a saber de coisas que desejaria muito compartilhar aqui, mas que Deus tem pedido que eu guarde no coração, assim tenho aprendido a conhecer e a calar. Esta reflexão é sobre oração, como ela nos conduz ao céu, experiência que quando verdadeira é mais ouvir e obedecer, que falar e se explicar, acontece de cima para baixo. 
      Você já deve ter passado por isso, um amigo te conta que achou um restaurante com uma comida ótima e com um preço bom, então, te passa o endereço do lugar. O local não é fácil de se achar, e se for em um grande centro, como São Paulo capital, complica ainda mais. É claro que nos dias atuais, com navegação por GPS, basta digitarmos rua e número num celular, mas antigamente não era simples acharmos endereços desconhecidos. Funciona assim no plano físico, as coisas têm referências, endereços, pontos cartesianos num mapa, ou então medidas, comprimento, largura, altura, uma vez identificado algo as referências podem ser registradas e usadas como fórmulas, para que outros identifiquem algo depressa e com facilidade. 
      O que define, encerra, o que se acha, acaba, o que se controla, falece, no mundo material as coisas funcionam assim. Quanta expectativa acumulamos quando queremos algo, e isso tem um lado produtivo, nos dá energia para trabalharmos para obtermos algo. Todavia, quão facilmente enjoamos, como crianças depois de ganharem um brinquedo e brincarem um pouco com ele. Um tempo depois de adquirirmos algo, aquilo não gerará mais em nós expectativas e prazer, o bem mais caro perderá o valor, então, desejaremos outra coisa. Isso acontece com todos nós e em muitas áreas, as coisas perdem o encanto, entediam. Nem são as coisas que ficam menores, são nossas almas que são pequenas demais para reterem satisfação. 
      Até casamento, se não for administrado em amor verdadeiro, assumindo-se com responsabilidades os desafios que ele traz, poderá cair no tédio e levar à quebra de uma aliança, que no início parecia tão especial, duradoura e satisfatória. No mundo tudo é passageiro, contudo, é diferente no plano espiritual, simplesmente porque lá não existe morte, fim, limites. Não existem fórmulas para acharmos coisas espirituais! Por quê? Porque no plano espiritual tudo é vivo e como tal pede de nós sempre leituras atualizadas, ainda que as referências morais mais altas de Deus sejam imutáveis. Como no plano físico sempre morremos, precisamos de trabalho constante para nos harmonizarmos com um plano eterno. 
      No mundo somos inabilitados para entender plenamente o plano espiritual, o que fazemos é estabelecer comparações, se engana quem lê meras adaptações como informações reais e ao pé da letra. Se não fosse assim bastaria-nos querer que veríamos o mundo espiritual, anjos, diabos, demônios, espíritos e outros seres, o perceberíamos pelos sentidos físicos. É preciso inteligência e imaginação, fé e vontade, numa qualidade moral santa e amorosa, para conectarmos planos opostos. O maior desafio que aprouve a Deus entregar ao homem no mundo, é conciliar plano físico com plano espiritual, matéria com espírito, ciência com fé, materialismo com religiosidade, quem entende isso entende a principal razão de viver encarnado. 
      Todo o estudo “Quem você será na eternidade?” pretende provocar as pessoas para terem vidas espirituais vivas e renovadas, libertando-se de fórmulas religiosas para terem intimidade espiritual com Deus. Isso permite aos seres humanos construirem o céu em seus homens interiores ainda neste mundo. Mas nesta parte, “Liberte-se de fórmulas”, e na próxima, “Para ser íntimo de Deus”, me aprofundarei mais no assunto. Oração é fundamental nesse tema, momento de alimentação espiritual que só será eficiente se feito sem receitas de homens, usando coisas espirituais para entender coisas espirituais, libertando cristãos do materialismo pelo Espírito Santo, levando-os da religiosidades morta para a vivificante espiritualidade.
      Oração formal tem sua importância, principalmente liberar nosso emocional de ansiedades, por isso começar o período de oração falando com Deus sobre nossas preocupações mais diretas, pedindo perdão, solicitando proteção para nós e nossa família, clamando por manutenção material, pelos nossos empregos e atividades profissionais, agradecendo a Deus por tudo, é recomendado, todos os dias. Mas é depois disso que nossa alimentação espiritual mais avançada inicia-se. Você já notou que muitas vezes, depois de ter orado por tudo que precisava, ainda assim se sentiu vazio? Não triste, mas vazio? É porque Deus tinha mais para te dar e você não buscou. Quando razão e emoção cessam é que o Espírito Santo age para nos encher. 

Esta é a 55ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, março 25, 2022

Vocação e Herança (54/90)

      “Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos” 
Efésios 1.17-18
 
      O texto bíblico inicial é trecho de uma oração que Paulo faz a Deus pelos cristãos de Éfeso. Apesar do texto ser de imensa profundidade, penso que muitos passam batido por ele, leem, mas sem entenderem de fato o que ele diz. Vou tentar resumir: Paulo pede que Deus dê aos efésios espírito de sabedoria e de revelação, para que, iluminados os olhos de seus entendimentos, saibam qual é a esperança de suas vocações e as riquezas da glória de suas heranças. Entendemos com isso que ser cristão é mais que saber que se é salvo e que se vai ao céu. Paulo enfatiza a necessidade de um conhecimento espiritual profundo, para que entendamos de fato qual é a qualidade da vocação e da herança que recebemos no Cristo.
      Uma pergunta pode ser levantada: “e daí, que importância tem isso para minha vida prática, no que isso pode melhorar meu dia a dia na realidade de sobrevivência no mundo?” Pode não fazer diferença direta nas coisas materiais de tua vida no mundo, mas mudará teu interior, levando você a não sofrer tanto com coisas menos importantes e que são passageiras, para assim ter paz. Em paz você fará menos uso dos escapismos dos prazeres físicos, com isso usará menos dinheiro com coisas erradas, sobrando mais tempo para fazer as coisas certas. Tua saúde física, teu bem estar como cidadão, a prosperidade de tua família podem ser melhores, não por você ter mais, mas por conseguir ser feliz com menos, à medida que é mais espiritual.
      O que sabe qual é a sua vocação em Deus tem a melhor esperança, os mais altos objetivos, os mais nobres propósitos. Fará sua parte no mundo, mas sabendo que não precisa depender das ilusões que são constantemente vendidas pelas mídias. Nossa vocação é o céu, o mundo é só uma passagem, justiça é só a divina que será estabelecida na eternidade, por isso não precisamos confiar em palavra de homens, ainda que se digam religiosos ou representantes políticos de cristãos. Nossa vocação não é apoiar obra humana, ministério de igreja, ideologia política, mas viver o evangelho e dar testemunho dele no mundo. Isso é mais que uma bandeira na mão, é nos apropriarmos de uma herança de glória em nossos homens interiores
      Se a vocação nos dá segurança para desempenharmos um trabalho, pois nos permite saber que temos uma chamada superior para fazer isso, sabermos que receberemos na eternidade uma herança nos consola e nos renova, pois nos dá esperança para persistirmos mesmo após termos feito bastante. Ah, meus queridos, não temos noção da herança que nos espera nas regiões celestes mais elevadas em Jesus no plano espiritual. Paulo usa os termos riquezas da glória, temos de fato entendimento sobre o que é isso? Nós que achamos que o melhor da vida está no que o dinheiro pode comprar e em prazeres que o corpo físico pode usufruir, como pensamos pequeno, como somos materialistas, mesmo orando a Deus e cantando louvores a ele.
      Quando a boca não puder mais comer e beber, quando os lábios não puderem mais beijar, nem os braços abraçarem, quando as mãos não puderem mais acariciar o ser amado, nem os dedos puderem dedilhar instrumentos musicais, quando os ouvidos não puderem mais ouvir sinfonias, quando os olhos não se fascinarem mais com a beleza dos corpos, nem o desejo puder ser seduzido pelo sexo, então, restará só o espírito. Esse poderá experimentar prazeres muito maiores se de fato tiver começado a prova-los no mundo, se de fato tiver aprendido a amar em primeiro lugar a Deus e às suas virtudes. Mas se além de ter conhecido e amado a Deus tiver recebido iluminação, administrará o céu com Jesus e servirá aos homens. 
      O religioso dá o dízimo, o iluminado adora a Deus com tudo que tem, o religioso dá paz do Senhor aos irmãos, o iluminado doa dinheiro ao pobre e estranho e não fala disso aos outros. O religioso conhece a Bíblia, os louvores, porta-se como evangélico decente, o iluminado coloca-se como luzeiro no mundo, intercede pelos necessitados, disponibiliza-se para Deus como soldado numa guerra espiritual em amor. O religioso odeia o diabo, o iluminado ama o endemoniado, o religioso obedece seu pastor, o iluminado sabe da humanidade de seu líder e o ajudará em segredo. O religioso tem certeza de sua salvação, o iluminado constrói o céu dentro de si no mundo, não será surpreendido pelo inferno porque de fato conhece a Deus.

Esta é a 54ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

quinta-feira, março 24, 2022

Espera e vigia em Espírito (53/90)

      “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?” 
Salmos 27.1

      Certa vez, quando pedi do Senhor uma orientação, o Esprito Santo me disse de forma bem clara, espera e vigia. Num raciocínio lógico essas duas ordens parecem contradizerem-se, não dá para vigiar enquanto se espera. Com esperar nos vem à mente a ideia de fazer nada e quando nada se faz não se pode estar numa disposição de vigilância. Com a palavra vigiar nos vem a ideia de estarmos numa disposição defensiva, que exige de nós algum trabalho, ainda que só atenção. Seja como for, não parece ser possível vigiar e dormir, por exemplo, para se vigiar é preciso estar bem desperto, mas será que esperar é de fato não fazer nada? É dormir? Não se contemplarmos o ser como corpo, alma e espírito.
      Esperar, sob o ponto de vista de uma orientação recebida de Deus, é parar num lugar, não retroceder nem prosseguir. Existe um descanso nisso, aliás uma orientação de Deus para descansarmos geralmente vem para que relaxemos e renovemos nossas forças, físicas e mentais. Mas esse descansar de Deus não se refere diretamente e necessariamente a atividades de nossos corpos. Podemos descansar em Deus e seguirmos desempenhando obrigações profissionais diárias, acordando cedo, trabalhando até o final do período, enfim, mantendo nossos corpos em movimento. O descansar de Deus é um descansar emocional e racional, e isso tem a ver com limpar a mente e pacificar as emoções. 
      Quando descansamos paramos de gerar ansiedades que se originam de pensamentos e emoções fora de controle, paramos de imaginar coisas desnecessárias, que podem nos prejudicar, nos cansar. Por desejarmos demais algo, podemos acabar criando isso nos pensamentos e nos sentimentos, sem que ainda exista fisicamente no mundo exterior, e não existe porque ainda não é o momento para isso. Por isso Deus orienta-nos a esperar, para pararmos de usar nosso mundo interior desnecessariamente. Mas como seres completos, corpo, alma e espírito, não basta-nos relaxar mente e coração, isso é esvaziar e limpar o templo, e essa situação pode ser perigosa, lugar vazio e limpo sempre interessa ao mal. 
      Nosso espírito deve estar em atividade, mas na atividade correta, em comunhão com Deus pelo Espírito Santo. É essa relação que nos permite vigiar, de forma que mente e coração estejam protegidos contra invasões perniciosas. Ao contrário do corpo, da mente e das emoções, nosso espírito não se cansa, não se estiver em comunhão com Deus, por isso o dom de línguas estranhas, por exemplo, é tão útil. Ele permiti-nos uma comunhão com Deus que nos alimenta espiritualmente e que não estressa nossa mente e nossos sentimentos. Falando em línguas não entendemos racionalmente o que falamos, assim não cansamos nossa mente, só sentimos no espírito a satisfação de estarmos em comunhão com Deus. 
      Ah, se tantos cristãos entendessem a bênção que é falar em línguas estranhas, o quanto descansa ao mesmo tempo que alimenta. É sentirmos as águas vivas do Espírito sendo derramadas sobre nossos corações, o óleo puro, fresco e perfumado sobre nossas cabeças, seja qual for a simbologia, é revigorante. Quantas doenças psicológicas como depressão e fobias são curadas na experiência desse dom tão simples e tão misterioso, que só experimentam os humildes que adoram a Deus de toda sua alma. Sim, dons espirituais são dados por Deus quando damos a ele uma livre adoração, só recebe quem dá, e dá sem segundas intenções, só para agradecer a Deus por ele existir e nos atrair à sua luz. 
      Quantas vezes, quando eu sabia que tinha que esperar, que aquilo que estava querendo não viria de imediato, e que não me restava nada a fazer senão aguardar o tempo de Deus, quantas vezes nessa expectativa, com a mente repleta de imaginações e os sentimentos presos a ansiedades, falei em línguas estranhas. Fiz isso devagar, deixando que novas línguas, e não só aquelas palavras que a maioria fala, viessem ao meu espírito e jorrassem, renovando-me, alimentando-me, libertando-me, me permitindo esperar em Deus em paz. Quantos adoecem mentalmente por tentarem viver um evangelho só intelectual, preso à palavra escrita, negando a si mesmos direito à viva palavra do Espírito. 
      Quem você será na eternidade? Será luz, paz, amor, se aprender a esperar e vigiar ainda neste mundo. Limpe a mente, de vícios, de mágoas, de medos, de imaginações descontroladas, isso é um trabalho de força de vontade. Depois cale suas ansiedades, ache paz no seu silêncio interior, então, mantenha seu espírito na presença de Deus. Tenha uma íntima comunhão com o Espírito Santo, adore ao Senhor, permita que as línguas estranhas venham, eis as chaves para que seus olhos e seus ouvidos espirituais sejam abertos. O mundo passa por um tempo estranho e terrível, perderemos muitas coisas e muitos amigos, só o poder do Espírito Santo nos dará forças para nos mantermos fiéis a Deus.

Esta é a 53ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

quarta-feira, março 23, 2022

Dons do Espírito: céu no mundo (52/90)

      “Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar. De alguém assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas. Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve.
 II Coríntios 12.1-6

      Quanto tempo você passa orando? Ora só no culto de domingo à noite? Ora nos vários cultos que participa na semana? Ora em casa, todos os dias, agradecendo por estar vivo? Faz jejuns e consagrações ocasionais para clamores especiais? Mas mesmo que você ore todos os dias, o que você busca na oração, pedir e agradecer pelo que recebeu? Já teve experiências com os dons do Espírito Santo? Se tem, o que você experimenta além de louvar e falar em línguas estranhas? Você já buscou e recebeu de Deus a tradução ou o dom de profecia, que entendem a voz de Deus falando contigo de forma clara? Se já teve essa experiência, você a tem sempre ou só de vez em quando? Responda sinceramente essas questões.
      Várias perguntas foram feitas, de forma gradativa, para que você possa avaliar teu nível de intimidade espiritual com Deus. Mas entenda certo, ainda que você não tenha tanta intimidade, não significa que você não tema a Deus e não seja cuidado por ele em amor. Contudo, saiba de outra coisa, nosso período de oração pode ser muito mais que pedirmos e agradecermos pelo que recebemos, podemos provar na oração experiência próxima a que teremos no céu, ainda que limitados por corpos físicos aqui. Sob o ponto de vista de “Quem você será na eternidade?”, como alguém quer ir ao céu sem tê-lo provado no mundo? Provar o céu no mundo é possível, tendo uma experiência íntima com Deus pelos dons espirituais. 
      Percebo algo interessante em igrejas pentecostais, ainda que elas experimentem dons espirituais, isso é feito, na maioria das vezes (se não em todas), de forma aleatória, dificilmente vejo pastores pregando sobre isso de forma didática, em escola bíblica, por exemplo. Mesmo os pentecostais, ainda veem dons do Espírito de forma supersticiosa, acham que a experiência com dons é sinal de espiritualidade, os buscam em vigílias e cultos especiais, louvam a Deus quando um dom é manifestado ou quando alguém é “batizado” no Espírito Santo. Todavia, não existe um ensino aprofundado, uma busca mais focada, e mesmo os que se acham cheios de dons, só experimentam o início da experiência e nem sabem disso. 
      Esse tema já foi estudado aqui em “Espiritualidade Cristã”, mas sinto que preciso ser ainda mais direto sobre ele. Não ter experiências com dons espirituais pode pôr em risco, não a escolha da igreja que frequentaremos, ou a crença sobre dons espirituais serem ou não para os dias atuais. Essa experiência influi na qualidade da eternidade que teremos, assim como em vitória em nossa vida neste mundo. Mas preciso dizer de novo, a exatidão do nosso conhecimento sobre o mundo espiritual não tem a ver com o cuidado que Deus tem com nossas vidas. Deus não depende disso para nos amar e proteger, tem sido assim desde o início do cristianismo, da igreja primitiva à pentecostal, passando por catolicismo e protestantismo. 
      Experiência espiritual mais profunda só acontece depois da oração inicial, aquela que todos fazemos e precisamos fazer. Só depois das ansiedades serem satisfeitas e de nossa alma se calar, com os sentimentos tranquilizados e com a mente silenciada em paz, é que essa experiência pode iniciar-se. Ocorre é que a grande maioria encerra a oração exatamente aí, sente-se em paz, pediu e agradeceu, então, simplesmente abre os olhos e para de orar. Isso é diferente em religiões não cristãs, principalmente nas orientais, essas estudam e praticam exercícios específicos para que os homens se coloquem numa posição espiritual de relaxamento, onde olhos e ouvidos espirituais são abertos, para experimentarem o plano espiritual. 
      Contudo, esses outros religiosos podem querer e ver outros espíritos e seres, e isso pode ser perigoso. Já o cristão tem acesso direto a Deus pelo Espírito Santo, nessa experiência ele tem o amor e a luz de Jesus, nessa experiência ele está protegido, nessa experiência muita coisa pode ser revelada para que o homem cresça espiritualmente. Existe um motivo de porque ser esse assunto tão mistificado, experiência espiritual é muito subjetiva, se passa na mente humana, assim é difícil estabelecer regras que certifiquem se é uma experiência espiritual verdadeira e com Deus, ou se é imaginação humana ou mesmo influência de seres espirituais das trevas. Mas será que isso basta para que o assunto seja proibido e esquecido? 
      Jesus deixou claro que quem esclareceria a humanidade sobre o evangelho (João 14.26) seria o Espírito Santo, assim, ainda que existam dificuldades, presentes em todo processo de aprendizagem, dons são necessários. Mas foi querendo evitar essas dificuldades que a Igreja Católica criou dogmas e extinguiu os dons. Protestantes tradicionais seguiram na mesma linha, a diferença é que limitaram o antolhos à Bíblia, jogando fora resoluções de concílios e legalismos de dogmas e sacramentos. O pentecostalismo fez ressurgir experiência com dons, mas parou no êxtase inicial que provocam no emocional humano, e em profecias num formato estereotipado e veterotestamentário. Isso é menos que a experiência pode ser. 
      Muitos consideram hoje importante voltar a costumes e princípios do antigo testamento, achando que aí está um Deus de poder. Isso é desvio herege, retrocesso, o Espírito Santo nos conduz à frente, não para trás. O que está à frente? Poucos cristãos têm descoberto nos dias atuais, mas isso é só reflexo do nosso tempo, ainda com uma humanidade em níveis morais e espirituais baixos, mesmo que com altos níveis intelectuais e científicos. Mas o que muitos cristãos chamam de fim dos tempos nada mais é que uma iluminação espiritual, que aceitando a incompetência do velho cristianismo, conduzirá a humanidade ao novo, onde o Espírito Santo será o guia da verdade, não as tradições religiosas e seus ensinos ultrapassados. 
      Podemos entender pelo texto bíblico inicial que Paulo teve experiências espirituais profundas, que com certeza não compartilhou com muitos e nem deixou registrado nas epístolas. Se deixou, aqueles que construíram o cânone bíblico que temos em mãos hoje, subtraíram. Paulo reflete a humildade e a sabedoria que tinha, não queria crescer sobre ninguém, contando suas experiências, e mesmo que alguém não queira crescer quem ouve experiências espirituais diferenciadas sempre acha que o que as está relatando é alguém superior e arrogante. Mas experiência espiritual genuína faz justamente o oposto, nos lança na mais sincera humildade, quanto mais próxima a luz do Altíssimo estiver, menor vê o homem a si mesmo. 

Esta é a 52ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, março 22, 2022

Pão da Vida (51/90)

      “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
  João 6.57-58

      Faça o que tem que fazer agora e da melhor maneira, não deixe para depois, nem faça de qualquer jeito. O homem que teme ao Senhor conseguirá sincronizar sua vida com a vontade de Deus, de forma que consiga fazer o seu melhor dentro do plano perfeito do Altíssimo. Achar no coração forças para trabalhar com a força de Deus, faz do homem instrumento de luz que destrói toda treva. A luz, a força, o amor e a justiça de Deus, são eternos e constantes, o ser humano, contudo, neste mundo, sempre tende à morte, ainda que seu espírito possa viver eternamente em Deus, seu corpo físico tem roteiro com começo, meio e fim. A única certeza que temos na vida é que um dia vamos morrer. 
      No jovem existe uma energia natural, efeito de elementos de seu corpo que estão funcionando no apogeu, que são potencializados por um emocional ainda não profundamente impressionado por culpa e dor. Isso conduz à impulsividade que tanto leva a irresponsabilidades quanto a empreendimentos audaciosos. Com o tempo o corpo cansa e o emocional pesa, filtros são criados, mecanismos que tentam impedir que novas culpas e dores se instalem. Isso diminui a velocidade da caminhada e freia a aventura de viver, mas não ocorre na mesma velocidade com todos. Alguns parecem velhos ainda em corpos jovens, e outros, mesmo envelhecidos no corpo, mantêm uma energia jovial na alma.
      Que não cheguemos no final com o arrependimento de não termos feito algumas coisas. Arrependidos de termos feito outras coisas, isso sim, e isso pode nem ser um problema, mas só consequências de quem ao menos tentou viver. O que vier ao teu coração de bom, faça-o, sem timidez, seja um projeto profissional, seja um contato amistoso com alguém, seja um pedido de desculpas, seja uma declaração de amor a quem divide com mais proximidade o curto tempo neste mundo com você. Não se canse de perdoar, de mudar de opinião, de amar, de ler e aprender, não se canse de se transformar para melhor. Vá a pé, se não conseguir vá de bicicleta, se não puder vá de ônibus, mas mova-se, em frente.
      Quando não puder se mover mais, ore mais, para fazer isso só precisa calar a mente, acalmar o coração e abrir ouvidos e olhos espirituais, e eis um trabalho tão maravilhoso quanto necessário, principalmente nos dias atuais, orar. Essa é a última aventura do homem, que ainda que o tenha acompanhado por toda a vida, pode ser instrumento poderoso nas mãos do Espírito Santo no final da jornada humana. Se o corpo cansa, o espírito se renova e se prepara para o melhor que está depois do último suspiro do invólucro material que encapsula a alma. A jornada é sem fim e será de ressurreição para a vida eterna, se o ser tiver comido e bebido, no mundo, do corpo e do sangue do Cristo, eis um mistério. 
      No texto bíblico de Salomão, no final desta reflexão, há sabedoria e poesia, mas não é exatamente isso que o homem é chamado a viver no mundo? A vida não pode ser só fascinação pela paixão dos sentidos do corpo, que encanta-se com a poesia, mas também é inviável para ser só sabedoria espiritual. O desafio está na conciliação de ambos, corpo e alma. A chave do mistério da vida eterna é revelada no texto de João, também no final desta reflexão, que aos olhos desatentos pode parecer descrição de um ato de canibalismo. Não é, é uma experiência plenamente espiritual, de comunhão profunda com tudo que Jesus é. Temos nos alimentado do pão da vida ou apenas celebrado religiosamente o que ele é? 
      Por que Jesus usou simbologia tão forte? Porque se a interação do homem com Jesus não for assim, de integrar de tal maneira, não só ensinos morais evangélicos, mas também a pessoa espiritual do Cristo ao seu ser, o homem não provará tudo que Deus revelou pela obra de seu filho. Jesus é uma manifestação única e poderosa do mundo espiritual, nenhum outro fundador de religião, profeta, sábio, que já pisou o planeta Terra, se compara ao Cristo. Só Jesus é a pão da vida que liberta da morte, mas pão é para ser comido, não só admirado. Infelizmente é isso que muitas religiões cristãs ensinam, com medo dos homens saberem a verdade, a olhar de longe, mas a não provar, como se ensina a crianças.
      Interessante que a Igreja Católica, que defende a eucaristia como um dos sete sacramentos, como algo que vai além da simbologia da ceia protestante, mas como a presença real do Cristo nos elementos, é justamente a denominação cristã que mais impede os homens de comerem do verdadeiro pão da vida. Como? Não ensinando sobre a relevância do Espírito Santo sobre dogmas, teologias, sacramentos e ritos de instituições humanas. Alimentar-se do pão da vida que Jesus se referiu, é possuir e dar liberdade para que o Santo Espírito limpe, ensine, cure e console, é ter uma experiência pessoal e íntima com o Deus vivo, é ser iluminado pelo conhecimento mais elevado do Deus altíssimo. 
      Quem você será na eternidade? Será um espírito vivo, limpo e livre para subir para o amor de Deus, o céu em Jesus, mas isso se tiver se alimentado no mundo com o pão da vida. Se não tiver comido desse pão estará morto, ainda que tenha passado uma vida admirando e cultuando o pão, morto espiritualmente já terá a semente do inferno dentro de você e não experimentará a ressurreição. Quem morre no corpo com o espírito alimentado pelo pão da vida, ressuscitará instantaneamente na eternidade, é promessa de Jesus, mas quem morre sem nunca ter tido coragem e fé de provar desse pão, já está infernizado pela segunda morte, e isso simplesmente não vai mudar, só se manifestar com mais liberdade.    

—————#—————

      “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva; no dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas; e as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.” 
Eclesiastes 12.1-4
      “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.” 
João 6.54-58

Esta é a 51ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

segunda-feira, março 21, 2022

O que você quer como vencedor? (50/90)

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.
Mateus 16.27

      Nas últimas oito partes da reflexão “Quem você será na eternidade?”, vimos as sete promessas que Deus faz no início do livro Apocalipse aos que vencerem, aos que finalmente, quando estiverem no plano espiritual, tiverem direito ao céu. Mas e você, diga com sinceridade a si mesmo, tendo esse direito, o que você quer como vencedor? Quem você quer ser na eternidade? O que você acha que receberá pelo Cristo no céu? Cada um de nós desejará aquilo que mais deu valor na sociedade e em igrejas. O que podemos esperar na eternidade de Deus não será nada diferente daquilo que desejamos que Deus nos desse no mundo, que pedimos a ele como nossas prioridades, ainda que no plano material e com referências físicas. O que mais fomos na prática, é o que somos de verdade, e isso é o que levaremos para o plano espiritual. 
      “Não quero nada, o que vier, está bom”, essa resposta pode parecer até sensata, mas pode demonstrar um estado de depressão espiritual, de alguém que pode ser membro de igreja há algum tempo, conhecer a Bíblia, ser um cristão reconhecido e equilibrado, mas já desapaixonado pelo evangelho. Tem muita gente assim, até com um sorriso no rosto, mas com um coração frio. Gente que não teve coragem para fazer as melhores escolhas, assim fez as escolhas medianas, as que não colocavam em risco as aprovações humanas que tinha, mas que também não traziam junto grandes desafios. Todo grande desafio traz perdas, mas também traz ganhos ainda maiores, contudo, é preciso coragem para aceitá-lo, senão seremos só joguetes em mãos alheias, e como existem mãos alheias que acham saber o que é melhor para as vidas dos outros. 
      “Quero o que não tive aqui”, essa talvez seja a pior resposta, vinda de alguém insatisfeito, ainda que se ache bom crente. Se o que construímos em nosso homem interior for um ser espiritual incompleto, é esse que levaremos à eternidade, nem mais, nem menos. Essa resposta pode conter o desejo de se querer ser mais do que realmente se é, e que se precisa ser, assim, o medíocre desejará fama, o pobre, riqueza, e ainda que entenda que no céu não haverá necessidade de bens materiais, desejará proeminência espiritual, vendo espiritualidade como vaidade. Como há pessoas em igrejas que por não terem status no mundo, na área profissional ou na intelectual, querem pregar mais, cantar mais, aparecerem mais, e não por terem chamadas para isso. Ainda que esse equívoco siga com elas à eternidade, céu não é lugar para vaidades. 
      Mas a resposta “quero o que não tive aqui” pode conter algo pior que vaidade, e que também caminha junto do vaidoso, a vingança. Meus queridos, como há gente em igreja evangélica atualmente querendo ir à forra, querendo vingança sobre quem a humilhou. Eis uma doença na igreja evangélica atual, gente que por se sentir vítima, se acha no direito de pedir a Deus vingança. Infelizmente isso não se restringe às igrejas, uma vitimização geral, apoiada pela mídia, cai sobre a sociedade. Atualmente há causas legítimas a serem exigidas por vítimas reais, injustiças e preconceitos históricos que precisam ser corrigidos urgentemente. Entretanto, muitos militam errado e ao invés de buscarem justiça sobre opressores, querem só poder para serem novos opressores. Cristãos como falsas vítimas desejarão um céu para se imporem sobre outros.
      Esses esquecem-se que o céu é “lugar”, acima de tudo, para humildes, e eis aí dois conceitos que a sociedade atual não consegue conciliar, não ser vítima e ser humilde. Muitos cristãos têm ainda mais dificuldade para fazer essa conciliação, quando são empoderados por pregadores que dizem que eles podem tudo se crerem. Pastores gananciosos querem ovelhas prósperas para que essas dizimem mais, não porque esse seja o ideal de vida de Deus para elas no mundo, e não é, não para todas. Mas sob essa bandeira muitos se colocam como vítimas dos ricos, não aprendendo sobre a necessidade de serem humildes, e não conseguindo entender que uma coisa nada tem a ver com a outra. É possível ser próspero e humilde, se tivermos a humildade de aceitar a vontade de Deus para nossas vidas, que pode ser não sermos ricos. 
      “Quero o que Deus tem para mim”, essa é a resposta mais sábia, e se querem saber, os sábios sabem exatamente o que Deus tem para eles. Eles guardam isso no coração, não exibem para ninguém, mas não pensam de si mesmos nem menos e nem mais do que são, não possuem falsa humildade, mas também não têm nenhuma apego a vaidades. Eles descobriram o segredo da paz que permanece ainda no mundo, e paz que fica é aquela que não depende de homens, nem de aparências. Sábios entendem o valor do saber e calar, do não ter e se sentir totalmente satisfeito. Será que é isso que queremos ser na eternidade, o que de fato somos, seguros que conseguimos chegar a ser tudo o que Deus tinha para nós na existência encarnada no mundo material? Quem chega a isso morre em paz, parte tranquilo e deixa atrás de si legados de honra. 

Esta é a 50ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

domingo, março 20, 2022

Co-herdeiros no trono (49/90)

      “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono.
Apocalipse 3:21

      João evangelista parece mostrar o céu de forma gradativa nas sete promessas de Apocalipse. Depois de ser alimentado com alimento exclusivo (árvore da vida e maná escondido), ser livrado do dano da segunda morte, receber novo nome (pedra branca), administrar o plano espiritual (reger as nações), vestir novas vestes e ser um com Deus (coluna do templo e nova Jerusalém), o que vencer se assentará no trono com Jesus, a promessa mais elevada Agora não haverá só diferenciação do ser em relação aos outros, mas o que vencer estará no mesmo nível que o Cristo. Co-herdeiros de Cristo é termo citado em outros textos, por Paulo (Romanos 8.17) e por Jesus (João 14.1-6), quando diz que os salvos estarão no mesmo lugar que ele.
      O mais importante é que Jesus não se coloca como superior, mas no mesmo nível dos que vencem, novamente não interpretemos “trono” como um lugar num castelo, onde o líder supremo é visitado e venerado por súditos. A Bíblia sob os olhos de homens antigos vê poder e espiritualidade sempre de forma estática, chega-se a um final, alguns vencem e outros perdem. Os que vencem, imperam, os que perdem, servem, de maneira que posições sejam definitivas. Isso com certeza era o ideal de civilização dos que viviam para a guerra, construíam e mantinham impérios fazendo guerras e vencendo inimigos. Cristãos, quando vamos entender que não somos mais assim e por isso a Bíblia precisa ser reavaliada? Quando?! 
      O evangelho de Jesus não vê assim a existência humana, por ele as pessoas podem errar e podem se corrigir, nada é definitivo, assim quem está por baixo hoje pode subir, e quem está por cima, se não tomar cuidado, pode cair (I Coríntios 10.12). Como interpretaríamos hoje o lugar de uma pessoa importante? Mesmo que ainda existam reis, tronos e castelos, como na Grã-bretanha e na Espanha, esse conceito hoje é mais folclórico que de fato levado a sério, excetuando logicamente por britânicos e espanhóis. Para o senso comum atual, alguém poderoso é rico ou famoso, não relacionamos isso necessariamente a poder político herdado por sangue real, o que confere status quo é dinheiro e fama, principalmente pela vida virtual. 
      Mas “tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (I Coríntios 10.11), que palavra reveladora é essa de Paulo, cabe tão bem a tanta coisa que lemos na Bíblia, não só na velha aliança de Israel em relação à nova aliança da igreja. Deus sempre falou (e fala, e falará ainda por um bom tempo), com figuras aos homens, como a crianças, e mesmo que muitos escritores bíblicos soubessem de mais coisas, o que eu pessoalmente não acredito, e se for isso só em raras situações já que só Jesus homem de fato conhecia todos os mistérios e o significado de todas as simbologias e parábolas, mesmo que homens conhecessem os mistérios eles usaram figuras.
      Por que foi, é e será assim? Por amor, um amor que é paciente, que não se priva de dialogar mesmo com quem entende muito pouco ou quase nada do que é dito. Ah, meus queridos, como existem tanto materialistas como espiritualistas que olham cristãos tradicionais com jactância, achando-se superiores, com mais informações, sejam da ciência ou de suas experiências espirituais mais profundas. Mas esses pequeninos que são muitos cristãos, conhecem o principal pelo amor de Deus, podem não conhecer detalhes, mas experimentam o mais importante. Esses fazem parte do grupo de seres humanos chamados de vencedores, que receberão todas as promessas feitas no livro de Apocalipse aos anjos das sete igrejas. 

Esta é a 49ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sábado, março 19, 2022

Coluna do templo e Nova Jerusalém (48/90)

      “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.
Apocalipse 3:12

      As simbologias que João usa no texto bíblico inicial são de construção física e delimitação geográfica, coluna no templo e cidade de Jerusalém. A que espiritualmente ele se refere? Haverá mesmo uma cidade e um templo, construídos de pedras e metais preciosos, com dimensões específicas, com paredes, teto, janelas e portas? No livro de Apocalipse João está sempre transportando revelações espirituais, que via, ouvia e sentia em seu espírito ungido com o Espírito de Deus, para referências físicas que ele conhecia como homem de seu tempo. Chama-nos a atenção Jesus dizer que o vencedor será parte de uma construção, coluna no templo de Deus, pondo os vencedores numa posição de íntima comunhão com Deus. 
      Deus constrói o céu com os espíritos dos vencedores? O templo parece ser sustentado por esses seres espirituais, visto Jesus dizer que os que vencessem seriam colunas da construção. Estaremos dentro de um templo ou seremos o próprio templo? Mas não é isso que já ocorre no mundo com os salvos, são templos individuais do Espírito Santo? (I Coríntios 6.19). Num céu em que muitos salvos viverão juntos, onde estará a luz mais alta de Deus, tendo seus corpos espirituais transformados e numa interação plena com Deus, Deus viverá em todos e todos em Deus, por dentro e por fora. Procede João dizer que os vencedores serão colunas num templo, não só habitarão um espaço, mas serão o próprio espaço, e um espaço espiritual. 
      O termo nova Jerusalém deixa muito claro que o uso de um conceito material conhecido é importante para que homens de um tempo entendam e aceitem conceitos espirituais. Ao judeu do século I, Jerusalém é sua cidade mais importante, a capital de seu reino, o orgulho maior do povo israelita, o lugar onde deve estar o templo, centro de sua religião. É mais que uma região geográfica, é a embaixada de Deus na Terra, testemunho para a humanidade que Deus existe, é todo-poderoso, escolheu um povo para ser seu e cuida desse povo. Não existe maneira mais fácil de um judeu entender a importância de um lugar na eternidade que usando o nome de um lugar importante para ele, para um judeu o céu é uma Jerusalém nova.
      Mas que importância tem isso para um japonês, por exemplo? Esse não vê relevância em Jerusalém, muitos menos vê numa nova Jerusalém. Mas a Bíblia não é um livro de judeus escrito para judeus? Sim, mas ainda assim Deus a usa para falar com todos os povos. Escrita por judeus para cristãos judeus ou ainda que gentios, conhecedores da antiga religião dos hebreus. Isso é relevante para entendermos o quanto da religião judaica está contida na Bíblia, assim aceitarmos que muitos símbolos existentes nela existem porque foram interpretados por judeus. Pode-se argumentar: mas são símbolos de uma nação escolhida por Deus desde o início para testemunhar dele ao mundo, é o mundo que tem que se adaptar a isso.
      Sim, mas ainda assim são símbolos e judeus. Sendo símbolos, não podem ser interpretados ao pé da letra, como construções de pedras, tijolos, cimento etc. Mas tudo bem, não sejamos tão extremistas, se um cristão mais simples, sincero em sua fé, espera no céu morar numa cidade luxuosa, condição que nunca teve na Terra, Deus, o pai de amor, aceita isso e respeita. Temos que fazer alguma imagem mental, isso nos dá esperança, nos resolve, ainda que seja só um portal de uma realidade espiritual. Entretanto, precisamos aceitar que num momento onde existem seres libertos de espaço, tempo e matéria, as coisas serão diferentes dos símbolos que mentalizamos no mundo material presos à cultura, religião, inteligência e gostos pessoais.
      João revela-nos que Jesus escreverá o nome de Deus, o nome da cidade de Deus, assim como o novo nome dele, Jesus, sobre os que vencerem. Isso deixa claro a importância da simbologia “nome” no entendimento que João teve da revelação. Entendamos nome, não como uma identificação escrita ou verbal, como uma maneira de chamar alguém, como já dissemos quando refletimos sobre o nome na pedra branca que os vencedores receberão. O nome é mais que uma simples diferenciação de alguém no meio da multidão, que uma identificação, é a própria identidade, a posição e a qualidade moral e espiritual que os seres terão na eternidade, nome que na verdade já existe, mas escondido em nosso homem interior
      Essa qualificação é justa, porque é dada pelo próprio Cristo que nos conhece por dentro, é o nosso homem interior aperfeiçoado no plano físico que será considerado por Jesus. Essa qualificação é exclusiva, pois todos os seres são especiais para Deus, ele não ama ninguém de forma distinta. Contudo, a qualificação poderá ser diferenciada, colocando seres em alturas diferentes, ainda que isso não poderá ser usado por ninguém como vaidade. Paulo cita algo que pode ser base para isso, o conceito do galardão (I Coríntios 3.12-16), muitos serão salvos, mas o galardão poderá variar. Só na eternidade será manifestado o “nome” do nosso espírito, não o que achamos ter baseados em nossas passagens no mundo, mas o eterno. 
      Há uma chave espiritual para um mistério nesta reflexão, como há em muitos conhecimentos profundos da Bíblia escondidos sob a forma de simbologias e parábolas. O nome escondido diz respeito ao nosso espírito, que é eterno, sem começo e sem fim, não limitado à nossa vida encarnada no mundo no presente. Quem somos de fato, homens e mulheres com nomes, documentos, residências, graus educacionais, profissões, estado civil, religião, contas em bancos, tudo isso hoje no mundo? Será que é só isso, uma existência que nos define? Talvez, e estamos dizendo, talvez, se fosse só isso nosso nome na eternidade seria o mesmo que temos hoje, talvez não haveria necessidade de recebermos novos e melhores nomes... 

Esta é a 48ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, março 18, 2022

Vestes brancas e Livro da vida (47/90)

      “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
Apocalipse 3:5

      Vestes brancas, João transporta o entendimento de uma posição espiritual, de uma condição moral, que ele com certeza discerniu em sua comunhão com o Espírito Santo, para referências materiais e externas. Penso que dessa vez ele não fez um transporte muito diferente daquele que faríamos hoje, se recebêssemos a mesma revelação. Branco, claro, alvo, tem a ver com santidade, com pureza moral, com elevação espiritual, com proximidade da luz, ele deve ter visto vestidos, a roupa típica de sua época. Talvez hoje, como homens ocidentais, víssemos camisas e calças, mas também de uma brancura singular, impedindo-nos de identificar detalhes, numa luz tão clara que deixariam desconfortáveis os olhos espirituais. 
      A cor branca tem uma característica, se juntarmos todas as cores, nas proporções adequadas, nenhuma se sobressairá, todas se transformarão em branca, isso nos diz algo sobre a luz da espiritualidade mais alta. O branco que vemos em várias passagens bíblicas quando se refere a visões, por exemplo de Ezequiel e Daniel, ao céu, aos anjos e a outros seres, à transfiguração de Jesus mais as aparições de Moisés e Elias, é a transferência para o plano físico de uma virtude espiritual, nossos olhos (espirituais) vêm o branco, mas na realidade o que existe é santidade. Santidade por sua vez não é só abstinência de prazeres físicos, isso é mais bons hábitos alimentares e equilíbrio sexual que outra coisa, alguém pode ter isso e não ser santo. 
      Santidade é ausência ou presença? Se a cor branca é mistura de todas as cores, então, ela é presença, não se é santo por se deixar de fazer as coisas, de se sentir as coisas, de se pensar, de se fazer as coisas, mas se alcança santidade tendo noção de tudo e usando tudo na proporção certa. O branco da santidade não é espaço vazio, mas espaço preenchido com equilíbrio. Não se aprende a ser santo retirando-se para o alto de uma montanha e evitando convívio com a realidade, com as pessoas, com as tentações, mas convivendo-se com tudo isso e não sendo contaminado por excessos. Se não fosse assim, não precisaríamos encarnar no mundo, aprendermos a fazer escolhas que nos aperfeiçoam, agradarmos a Deus e amarmos o próximo. 
      Não podemos ser crianças para sempre, uma criança não é santa, só é inocente, não escolhe não errar, só não aprendeu ainda a errar, assim faz a única coisa que sabe fazer. Quando amadurecer emocional e fisicamente poderá errar por escolha própria e terá responsabilidade por isso, portanto perderá a paz que só será reencontrada no reconhecimento do erro e numa prática de boa vida moral. Isso só se consegue plenamente em comunhão com Deus. Só temos forças para sermos santos respondendo sim à atração que o amor de Deus nos faz para sua santidade, isso nos dá direito às vestes brancas que os vencedores receberão de Jesus na eternidade, isso nos confere alvura espiritual ímpar, o objetivo maior de Deus para todos nós. 
      João também cita o livro da vida, termo que aparece muito no livro de Apocalipse, mas que Paulo usa só uma vez, em Filipenses 4.3. Seria um documento divino onde estão listados os nomes dos que venceram? João também diz que os que vencerem seriam confessados por Jesus diante de Deus e de seus anjos. Jesus tem um papel único na humanidade do nosso planeta, mostrou o caminho de salvação, mas também será o responsável por identificar quem é quem na eternidade, separar ovelhas de bodes (Mateus 25.32), salvos de condenados. O “céu” será uma posição elevada onde Cristo passou a habitar, depois que partiu da Terra no século um, mas Jesus pode ser o próprio “céu”, aguardando ser completado por cada um de nós.
      “O que vencer de maneira nenhuma riscarei seu nome do livro da vida”, se nos lembrássemos disso quando desanimamos, quando por coisas tão pequenas perdemos a paz. Diante de Deus no plano espiritual, o vencedor será identificado por Jesus no livro da vida, nada e nem ninguém pode tirar nosso nome desse livro. Se caminhamos persistentemente em santidade e em amor podemos ter certeza disso, usando essa certeza, não para nos protegermos de irresponsabilidades, mas para nos fortalecermos e sermos fiéis até o fim de nossas jornadas no mundo. “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11.25). Creia, ninguém está definitivamente morto, a vida é eterna, a morte, não é! 

Esta é a 47ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

quinta-feira, março 17, 2022

Poder sobre as nações (46/90)

      “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as naçõese com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai.
Apocalipse 2:26-27

      Antes de iniciarmos a reflexão, algo precisa ser dito. Nós, evangélicos e protestantes, nos acostumamos tanto a ler a Bíblia, que na maioria das vezes não prestamos atenção ao que lemos, aceitamos como dogmas, não questionamos porque cremos que é a palavra de Deus, e só. Hoje temos muitas versões de Bíblia disponíveis em livrarias, e interessantes para serem usadas como consultas secundárias são as versões em linguagem de hoje. É bom usarmos com cuidado, e o ideal é consultarmos mais de uma versão, mas o principal é entendermos de fato as palavras que lemos. 
      Das promessas feitas “ao que vencer”, a do texto bíblico inicial, pode ser a mais difícil de ser entendida hoje, justamente por parecer a mais simples, se interpretada ao pé da letra. Para um homem do primeiro século, debaixo da opressão romana, e como judeu, ainda próximo da realidade do israelita do velho testamento, o que mais representaria uma vitória definitiva? Não seria uma posição militar, política e social, superior, não de oprimido, mas de opressor? Não só como um mero administrador, mas como um juiz que faz cumprir penas, “quebrando as nações como vasos de barro”
     Pois é, essa é a visão de mundo de João, o evangelista, escritor do livro das revelações, a visão de justiça, a visão de vitória, a visão de eternidade, a visão de Deus que ele tinha. Será que entendemos realmente o quanto isso se opõe ao Deus de amor ensinado por Jesus? Você acredita que por crer no Cristo terá o direito de castigar aqueles que não creem? Ou você não acredita, não entende o texto do Apocalipse, mas também não se importa muito com isso. Se for esse o caso, você não está levando a sério a Bíblia, que é ensinada a você como sendo palavra infalível de Deus. 
      Agora, se não for, se houver partes que precisam ser reavaliadas, entendendo diferentemente daquilo que a tradição cristã ensina, então devem haver “verdades” que não são bem o que você acha que são, ainda que estejam na Bíblia. Eu não brinco com a Bíblia, ou ela é, ou não é, não varro para baixo do tapete questões que teólogos chamam de polêmicas, só para não assumir que a Bíblia não é coesa. Será que o que queremos pelo evangelho no mundo hoje, é vingança sobre inimigos, oprimirmos opressores, aqueles que odeiam o cristianismo e são injustos com os cristãos? 
      O evangelho ensina-nos perdoarmos inimigos, orarmos por eles e estendermos a mão para restaurá-los. Se é assim aqui, por que seria diferente na eternidade? O Deus que oprime nações inimigas é o “Deus” do antigo testamento, que João ainda tinha na memória, já que ainda vivia num mundo oprimido por um poderoso império. Se você acha que não existe incoerência nisso, fique em tua crença, mas eu penso que há, principalmente se considerarmos o nível moral do homem civilizado atual, que não aceita mais o modus operandi guerras, como meio das nações se manterem.  
      Mas o mistério que João viu, a relevância que temos que entender hoje e que não pode ser esquecida, ainda que João, autor de Apocalipse, tenha feito um registro coerente com o homem de seu tempo, é que o que vencer fará algum tipo de trabalho, uma administração ativa, no plano espiritual, não para oprimir, mas seguindo o evangelho, para orientar e abençoar. Esse é o conceito eterno que Deus quer nos ensinar por trás da história antiga e da mitologia. Assim, os que no mundo foram injustiçados, desempenharão na eternidade papel de liderança sobre os que foram injustos.
      Esse conhecimento não deve alimentar em nós vingança infantil e carnal, mas madura responsabilidade em humildade e temor. Se essa promessa “ao que vencer” é a que pode ser mais mal interpretada se lida ao pé da letra, é a que pode revelar um dos maiores mistérios da eternidade. Lá não será um lugar só para descanso e adoração, o que muitos que não conhecem a renovadora unção do Espírito Santo podem interpretar como algo tedioso e sem graça. O trabalho espiritual é eterno, irmãos e irmãs cristãs, o que mudará é a qualidade desse trabalho, de físico para espiritual. 

Esta é a 46ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

quarta-feira, março 16, 2022

Maná escondido e Pedra branca (45/90)

      “Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.
Apocalipse 2:17b

     O que é o maná escondido? Para entendermos temos que saber a importância que teve o maná material original para a nação de Israel no antigo testamento, quando fugia dos egípcios, no meio do deserto, sem água e sem comida. A resposta é simples: foi uma provisão especial de um Deus que pode fazer aquilo que parece impossível aos olhos humanos. O que vencer provará mais que um prazer, e no plano espiritual prazer tem um conceito diferente, não é egoísta e passageiro como no plano físico, o que vencer será alimentado com um alimento especial. 
      Esse alimento será diferente de tudo que o ser humano provou no mundo, não é material, e é melhor mesmo que a unção do Espírito Santo que provamos encarnados, já que o corpo nunca pode perceber e reter toda a relevância que possui uma experiência de plenitude no Espírito de Deus. No plano espiritual, prazer é vida, é qualidade moral, é proximidade da luz mais alta de Deus, são as virtudes do Senhor. No plano espiritual teremos prazer na paz, na santidade, no amor, tudo isso é eterno e incorruptível, não será parcial, mas pleno, dentro e fora de nós. 
      Justamente por muitos não conseguirem no mundo desvencilharem-se dos apetites do corpo, retendo assim carnalidade em seus homens interiores, e consequentemente construindo infernos dentro de si, é que enfrentarão a continuidade desses infernos na eternidade. Se no mundo podemos fugir de Deus nos prazeres do corpo, na eternidade não haverá corpo para escaparmos. O único prazer será estar no amor de Deus para o qual nos decidimos encarnados no mundo, caso contrário, lá só restará a tortura de desejar algo que não se pode ter. Eis uma definição de inferno.  
      Temos tentado insistentemente definir o inferno neste estudo, porque muitos cristãos preguiçosamente aceitam o inferno como dor infinita causada por agente externo. Crer que é Deus quem põe fogo num lugar e lança lá os que considera culpados, de uma certa forma joga a responsabilidade toda em Deus. Coloca o Senhor como uma potência vingativa e capaz de criar e manter um lugar eterno e terrível, mas não é bem assim. O inferno é interior e construído pelos homens, vivenciado no mundo, ainda que aqui os homens tenham meios de anestesiarem a dor infernal. 
      Sobre pedra branca, a primeira coisa que temos que entender é que lugar, objetos e nomes, que no plano físico se referem a coisas físicas, dentro de dimensões físicas, são apenas simbologias para outras referências no plano espiritual. Lugares, por exemplo, podemos entender como posições morais, saindo da dimensão horizontal e indo para a vertical, assim menos moralidade é região inferior, é trevas, mais moralidade é região superior, é luz. Deus é a luz mais elevada. Todo o plano físico, suas leis e seus valores no tempo, são símbolos do plano espiritual. 
      Nome, por sua vez, não é uma denominação, usada para chamar alguém, mas uma graduação e também moral, que coloca a pessoa numa altura espiritual, espiritualidade tem a ver com posição e identificação. O interessante é o texto dizer que ninguém sabe o nome a não ser quem recebe, isso denota uma condição de ausência de vaidades, de não carência de se impor sobre os outros, mas é uma satisfação que se contenta por saber e saber que Deus sabe, mais nada. Nome espiritual define nossa identidade essencial como espírito eterno, é isso que é a pedra branca. 

Esta é a 45ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021