quinta-feira, dezembro 03, 2020

Espiritualidade Cristã (Íntegra)

      É com muita alegria que compartilho aqui no blog “Como o ar que respiro” um livro original, dividido em sessenta e quatro reflexões, sobre o tema espiritualidade cristã. Procurei pensar no assunto sobre diversas abordagens, seja em relação ao tempo de caminhada do Cristão com Deus, assim falando tanto aos mais novos na fé quanto aos mais maduros, seja em relação ao espaço físico de prática de espiritualidade, dentro dos templos ou no mundo. Também abordei um aprofundamento do tema em relação aos ensinos mais tradicionais sobre o que é espiritualidade cristã, isso é algo que na visão que tenho no Esprito Santo falta aos cristãos para que tenham de fato uma existência, ainda que no plano físico, localizada espiritualmente nas regiões espirituais mais elevadas em Cristo, onde há cura para toda dor e resposta para todo questionamento. Que essa leitura possa te fazer reavaliar muitas coisas, mas que ela possa, na prática e não na filosofia de seus ensinos, te trazer paz. O Deus Altíssimo abençoe a todos em amor. 

1. Para que ser espiritual?

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      A orientação máxima, segundo a Bíblia, para que o ser humano tenha uma vida de qualidade está contida no texto inicial, amar a Deus acima de tudo e depois ao próximo como a si mesmo, quem ama a Deus obedece-o e quem ama o próximo como a si respeita-o, só isso deveria bastar para que vivêssemos em sociedade com justiça igual para todos, de maneira honesta e sem qualquer espécie de violência ou intolerância. Isso representa o cerne de espiritualidade que antigo e novo testamento ensinam, que a velha aliança de Israel propôs, mas que só foi possível a toda a humanidade viver de fato através do evangelho, o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição do filho de Deus sem pecado salvando o mundo.
      A Bíblia é acima de tudo um texto religioso prático, pouco se fala do mundo espiritual, do diabo e mesmo de anjos, apesar de muitos amplificarem o pouco que é falado, ela ensina como se viver na Terra, com os pés no chão. No antigo testamento mantendo a nação de Israel fiel ao Deus que prometeu guarda-la pela promessa inicial a Abraão, e deixando as outras nações em paz, com suas crenças e deuses, desde que não tocassem o território original dos israelitas. No novo testamento a orientação de Jesus, de Paulo, de João, de Pedro e de outros é clara, não se metam com política ou com os costumes sociais vigentes, aceite-os e seja bom dentro de seus sistemas que Deus os guardará.
      Isso pode parecer resignação demais, mas isso é o evangelho, não o uso tão equivocado da frase “feliz a nação cujo Deus é o Senhor” que muitos utilizam hoje em dia no Brasil, uma orientação para Israel física e não para o reino de Deus espiritual da nova aliança. Mas se quisermos resumir espiritualidade segundo o centro do ensinamento bíblico em uma palavra, a palavra é Jesus. Se estudarmos não só o que Cristo fez para salvar humanidade, que já bastaria para que sua missão fosse cumprida, mas como ele se relacionava com as pessoas, não pelos discursos, mas pelas entrelinhas de suas amizades e reações diante da hipocrisia dos fariseus, saberemos o que é ser espiritual para Deus, de maneira simples e precisa. 
      A verdade é que o termo espiritualidade não é comum na Bíblia, seja na velha aliança de Israel, seja na nova aliança do evangelho, muitos evangélicos, quando usamos o termo, pensam em “espiritismo”, isso porque o cristianismo católico e protestante, se fizermos uma avaliação honesta, representa bem a visão de “religare” ocidental (religar o homem com Deus em latim). No ocidente a grande maioria trabalha seis dias por semana na vida secular e separa só o domingo para a religião, a visão oriental é diferente, nela o ser humano tem uma relação dia a dia com o divino. 
      Enquanto o cristianismo visa uma relação com Deus mais para ter uma vida material decente, com a sociedade, com os bens, as religiões orientais pensam no mundo espiritual e visam a eternidade, ainda que sacrificando vida material. Dessa forma, o termo espiritualidade, é muito mais ligado à religiões esotéricos, espiritualistas e orientais, que ao cristianismo, honestamente a Bíblia fala mais desse mundo que do outro, principalmente no antigo testamento. Mas mesmo no novo testamento, ainda que vise um reino de Deus no coração do homem não na Terra, a eternidade é definida como céu e inferno, mais nada, sem detalhes ou outras gradações, ser espiritual é ser salvo e batizado, quase que na prática bastando isso.
      O movimento carismático, que se renovou relativamente há pouco tempo no cristianismo, começo do XX, ainda que tenhamos registros de grandes pregadores com experiências de milagres nos séculos XVIII e XIX, deu mais ênfase ao termo à medida que espiritualidade começou a ser aliada a dons espirituais. Até então espiritualidade era mais ligada à negação dos prazeres físicos nas ordens católicas, e a um conhecimento intelectual da Bíblia, esse mais exclusivo de sacerdotes e realeza, que podiam estudar mais. A grande maioria do povo não sabia ler e muito menos tinha acesso à Bíblia, cerimônias católicas eram celebradas em latim e o louvor era exclusivo dos corais. 
      Foi o protestantismo que entregou ao cristianismo uma religião mais democrática, menos mística e acessada por fé, não por compra de indulgências, o que fazia de muitos escravos e de poucos com direitos por serem ricos materialmente, não por ser espirituais. O termo espiritualidade no meio cristão tem ganhado nova leitura atualmente, quando revemos as tradições que não funcionaram antes só levaram à hipocrisia e ao materialismo, temos voltado ao evangelho primitivo onde não basta parecer cristão, temos que ser interiormente e isso é espiritualidade. 

      Após essa introdução, propomos uma pergunta: para que ser espiritual? É sobre esse assunto que refletiremos num estudo assim dividido: 

01. Para que ser espiritual?

02. Para não pecar 
03. Para ter prosperidade material
04. Para não ir pro inferno
05. Para entender a eternidade 
06. Para ter o poder de Deus 
07. Para conhecer os mistérios espirituais
08. Para ter vitória numa guerra 
09. Para vencer um inimigo
10. Para cumprir uma missão 

- Princípios básicos 

11. Pecado se vence com vontade!
12. Deus é Espírito 
13. Somos templos do Espírito 
14. Espiritualidade e unção 
15. O Espírito Santo é espiritualidade 
16. A espiritualidade dos primeiros cristãos 
17. Uma espiritualidade gradativa 
18. Espiritualidade e o tempo
19. Tempos: de salvação, de galardão
20. Espiritualidade conforme tua fé

- Início da caminhada 

21. Espiritualidade do profeta
22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior 
23. O que Deus tem e o que não tem para nós 
24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor
25. Espiritualidade exercida com amor 
26. Espiritualidade exercida com sabedoria 
27. Humildade: opção ou obrigação?
28. Humildade: único jeito de crescer 
29. Humildade: condição para libertação  
30. Espiritualidade para os olhos de Deus
31. Espiritualidade é mudança

- No mundo 

32. Espiritualidade de Cristo 
33. Espiritualidade e vitimismo 
34. Espiritualidade e crítica
35. Espiritualidade e hipocrisia
36. Espiritualidade e obras
37. Espiritualidade e liberdade 
38. Espiritualidade e arte 
39. Espiritualidade e bebidas alcoólicas 
40. Espiritualidade e sexo 
41. Espiritualidade e o planeta
42. Espiritualidade e a mídia

- Indo além 

43. Rádio espiritual 
44. Atraídos pelo Espírito Santo
45. Ouça o Espírito 
46. Comunicação espiritual 
47. Já perguntou a Deus?
48. Espiritualidade e meditação 
49. Nos lugares celestiais em Cristo 
50. Espiritualidade de graça 
51. Adoração, porta para espiritualidade 
52. Permaneçamos no amor de Deus 
53. Três testes para a espiritualidade 

- Evolução?

54. Onde está teu Deus?
55. A verdade sobre o mundo espiritual
56. Espíritos
57. Sigamos para o Altíssimo 
58. Evolução espiritual 
59. Causa e efeito 
60. Alfa e Ômega
61. Surpresas na eternidade  
62. Prossigamos em conhecer a Deus
63. Conhecimento é vida 
64. O que é ser espiritual?

2. Para não pecar

      “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” 
João 3.17-18
      “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade.“ 
Mateus 23.25

      “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
  Mateus 11.27-28

      Não podemos entrar neste estudo sobre espiritualidade sem pensarmos sobre pecado. Se queremos uma resposta rápida para por que grande parte das pessoas quer ser espiritual é: para não pecar. De maneira geral, na maioria das religiões, espiritualidade é buscada como caminho oposto ao pecado, representando virtudes que vencem as fraquezas da carne. Eu disse na maioria das religiões porque é fato que existem cultos para contato com o mundo espiritual onde santidade não é relevância, nesses faz-se uso de práticas nada limpas, como prostituição, orgias, sacrifícios, para “energizar” seus rituais mágicos (se bem que tecnicamente o termo “religare” nem se aplica a essas religiões). 
      Com certeza não são para terem acesso a Deus e muitos menos a seres espirituais, ainda que não por Cristo, que de alguma maneira prezem por limpeza moral e espiritual, mas ainda que a mídia em geral negue, existem cultos “satanizados”, que acham melhores condições de espiritualidade na sujeira e no mal. No senso comum, contudo, a definição para pecado é isso, cair nas fraquezas da carne, assim muitas religiosidades e espiritualidades estão ligadas à vitória sobre os apetites carnais. Como cristãos sabemos que pecado é mais que isso, leva a um desvio do alvo não só o corpo físico, mas coloca todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, em desacordo com o centro da vontade de Deus.
      No texto inicial de João é relatada a trágica condição do homem natural, que antecede ao pecado em si, pior que errar o alvo é já estar passivamente condenado, simplesmente por não se posicionar, “quem não crê já está condenado“. No texto de Mateus está o exemplo dos fariseus, que erraram o alvo exercendo religião, eram ativos na busca do divino, mas por motivos errados, para pousarem como melhores diante dos homens e os dominarem, não para agradarem a Deus e conhecê-lo de verdade. Seja como for, o ser humano não foi criado para o pecado, ainda que tenha livre arbítrio para escolhê-lo, por isso é natural que pecar traga desconforto, culpa que precisa de perdão para ser anulada. 
      Pecado é algo que macula todo o ser: machuca o corpo, suja a alma e esfria o espírito, pensaremos mais a respeito na próxima reflexão. A definição clássica de “pecado” é errar o alvo, assim implica em haver uma iniciativa de seguir um percurso, no uso de um bom esforço, mas que não cumpre o melhor trajeto, ainda que seja o objetivo inicial desejado de quem se esforçou. Isso nos leva a pensar não nos vícios da carne, na busca desenfreada de satisfação dos prazeres do corpo, esses nem seriam pecado como alvo não atingido, mas como algo que não teve nenhum objetivo espiritual, que nem teve início de trajetória. Já é uma condição passiva de perdição, não a causa, mas o efeito final do pecado primal.
      O que chamamos de “pecados da carne” não é o pecado principal, são os efeitos desse, o pecado principal é a tentativa de se viver sem Deus, que erra o alvo, e que tem como consequência a queda nos apetites carnais, na fraqueza moral e espiritual, na morte do espírito. Adão e Eva não pecaram porque quiseram fazer coisas moralmente reprováveis, serem pessoas más e egoístas, adulterarem, não, pecaram porque quiserem ser iguais a Deus. Foi essa a tentação principal que a serpente usou com eficiência (veremos a respeito mais à frente nas reflexões “Três testes para a espiritualidade“), e como consequência eles perderem o rumo de todo o resto de suas existências.
      A prova disso é o fratricídio ocorrido na próxima geração depois deles, que pecado terrível, entre irmãos. Isso nos faz pensar nas religiões, elas, sim, são flechas lançadas para o divino, mas que muitas vezes não chegam a Deus, portanto erram o alvo, assim são pecados no sentido exato da palavra, mais que os “pecados da carne”, são os pecados causais que geram todos os outros. O pecado mais puro tem lugar no espírito, não na carne, vejam os seres espirituais rebeldes, diabos e demônios, eles não têm corpo físico, mas são a expressão mais pura e poderosa do pecado, justamente porque tentam atingir a espiritualidade mais alta sem Deus, ainda que não tenham corpos físicos para caírem nos apetites carnais.  
      Vivemos um momento na história da humanidade onde, talvez como nunca antes, se negue o pecado, e principalmente, a consequência dele, e quem nega a doença, nega o remédio. Na agenda da estratégia final do anti-cristianismo esse é um ponto importante, ao mesmo tempo que agrada ao homem, nega a Jesus, permite que o ser humano faça o que deseja, com quem deseja, onde e quando deseja, sem que tenha que se sentir culpado por isso, em pecado. Se não há pecado, não existe condenação e consequentemente não se precisa de salvação, assim anula-se o cristianismo, nega-se Cristo, desvia o homem definitivamente de Deus, mesmo que tal agenda também pregue coisas boas como tolerância e igualdade.
      O pecado precisa ser repensado, não como a culpa que o catolicismo jogou sobre o homem por séculos, para dominar sobre ele, tradição ruim que o protestantismo dá seguimento, mas como desvio do Deus Altíssimo, o único que pode dar ao homem espiritualidade, o objetivo final de todo ser no universo. Assim, podemos chegar a uma definição final para pecado: é desvio do alvo? Sim, mas não necessariamente fazendo coisas ruins ou erradas, mas simplesmente não caminhando retamente para Deus, pecado é tudo que separa o homem de Deus. Por isso a prioridade do anti-cristianismo final não é pregar o mal, se isso foi em outros tempos, agora mudou, ele prega tudo que é bom e para todos, em todas as áreas.
      Contudo, sem ter Deus como origem e fim, e tendo Jesus somente como mais um homem, bom, sábio, espiritual, mas não um salvador, a solução para o pecado original do Éden é esquecida. O próprio termo anti-cristo já diz tudo, não é contra o amor, contra a justiça, contra a paz, mas contra Cristo, isso basta, e é isso que muitos que insistem em caminhar sem Deus não enxergam, cegos que estão em seus corações orgulhosos que acreditam que podem ser deuses e não adoradores do verdadeiro Deus. Não digo que seja fácil atualmente discernir as coisas, na verdade é difícil e vai ficar cada vez mais difícil, já que o mal prega o bem e aqueles que se dizem do lado do bem cometem equívocos. 
      Por isso é de suma importância que reavaliemos nossas crenças e entendamos o que é de fato espiritualidade, Jesus sempre oferecerá algo superior e exclusivo, os que forem a ele acharão vida que não existe em nenhum outro, só Jesus recebeu de Deus essa vida (Mateus 11.27-28). Mas é preciso que Jesus seja de fato pregado, não prosperidade material, não fé na fé e muito menos um “Deus” fechado na “caixinha” das tradições e do cânone bíblico sem a leitura do Espírito Santo, que só incentiva preconceitos e intolerâncias. Espero que o momento atual, que deu espaço a falsos cristãos principalmente nas lideranças políticas, abra os olhos daqueles que já creram no evangelho e que têm a missão de pregá-lo. 

      Por que quero ser espiritual? Para vencer o pecado, com certeza esse já é um bom motivo, depois podemos ser espirituais para pedirmos a Deus proteção e suprimentos e finalmente conhecimento. Mas por que o pecado é tão ruim, o que ele faz em nós? Ele desarruma todo o nosso ser, machuca nosso corpo, suja nossa alma e esfria nosso espírito, vamos refletir nesses três pontos. 

      “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.” Salmos 51.5-9

      O pecado machuca o corpo, porque insiste em querer tirar da carne algo que a carne não pode dar, prazer que permanece, daí nascem os vícios. Quantas doenças, físicas e psicológicas, vêm dos vícios da carne, da obsessão por sexo, por bebida, por comida, pelas sensações que elementos químicos dão a carne de euforia, de relaxamento, de delírios. Isso machuca a mente, os pulmões, os órgãos genitais, isso inviabiliza as funções normais dessas partes do corpo, não, um viciado em sexo não dará maior prazer ao seu parceiro, mas menor, e um prazer artificial, dependente de recursos não naturais, de objetos e fantasias, que transformam algo simples e bonito em dor e morte.
      O pecado suja a alma, nosso coração e nossa mente, cria caminhos desnecessários para se obter satisfação, que depois serão difíceis de serem deixados. Uma alma suja vê sujeira em tudo e não se sente mal, com culpa, quando suja inocentes e puros só para conseguir seu prazer egoísta, por isso devassos e depravados, que já não têm identidade, ganham a identidade do pecado que cometem. Um adúltero não é mais um homem ou uma mulher, mas o próprio adultério, assim como o viciado em cocaína, não é mais o ser humano, mas a droga, que anda e vive só para se mantê-la viva. Alma em pecado é cega e surda, a sujeira do pecado a impede de ver e ouvir moralmente.
      A sujeira do pecado espalha no ambiente um “cheiro” desagradável, que nem precisa ser necessariamente físico, um adúltero pode estar sempre banhado e perfumado, mas exala um “cheiro” moral horrível de pecado, que traz repugnância aos que têm sensibilidade de alma, aqueles que não são perfeitos, mas que buscam dia a dia o perdão purificador. Muitos de nós muitas vezes sentimos esse “cheiro” de alma suja, que repito, pode não ter nada a ver com o corpo, de alguém que pode estar usando as roupas caras e perfumes raros, mas pelo Espírito Santo, ainda que não conheçamos tais pessoas intimamente, percebemos que elas têm algo de errado, o pecado, e muitas vezes bem escondido. 
      Diferentemente do corpo e da alma, que podem ser “danificados” pelo pecado, o espírito, sopro de Deus em todos os seres criados à imagem dele, não pode, mas ainda assim é afetado pelo pecado, ainda que não possa ser morto ou sujado. Ele pode estar “mortificado”, e naqueles que têm o Espírito Santo, se o ser está em pecado, ainda que por pouco tempo sem se apossar do perdão de Cristo, pode ser “esfriado”. E como o nosso espírito pode se esfriar, e infelizmente muitos cristãos até se acostumam com isso, isso acontece quando o Espírito Santo de alguma forma é negado, negado não ferido, não vou usar o termo machucado pois o Espírito de Deus não pode ser machucado, mas ele pode se calar em nós. 
      Deus cala seu Espírito em nós para nos disciplinar, faz isso por um tempo, e não existe nada pior para um filho de Deus que estar nessa disciplina. Se a pessoa é de fato convertida se sentirá num deserto sem água pura e fresca para saciar sua sede, sofrerá mais que o não convertido que ainda não sabe da satisfação espiritual que a água viva do Espírito dá. Nós precisamos aprender a discernir essa disciplina, ver quando ela está existindo, aceitar que está ocorrendo porque erramos, para então sabermos onde erramos, buscarmos arrependimento, posse de perdão e então termos um desejo sincero de não errarmos mais. A disciplina de Deus, apesar de doer, conduz à vida, não é uma condenação para a morte.
      Todo espírito, de todos os seres humanos, convertidos ou não a Cristo, no plano físico ou no espiritual, está vivo, ele é eterno, mas só pode ser “vivificado” se ganhar o selo do Espírito Santo, que permite que o ser tenha comunhão com o Altíssimo, o que nos confere vida é estarmos ligados a Deus. Mesmo que conheçamos sobre espiritualidade, que saibamos profundamente os mistérios dos principados e potestades, que tenhamos comunhão com o mundo espiritual, com entidades, com espíritos, se não tivermos sido selados com o Espírito Santo, após um novo nascimento em Cristo, nossos espíritos estarão inabilitados para terem plena comunhão com Deus e direito às bênçãos que só ele pode dar. 
      A melhor eternidade de Deus é um dos direitos exclusivos do espiritualmente vivificado por Deus. O que chamamos de céu, o “ceio de Abraão”, para onde vão os salvos, é a melhor eternidade de Deus, já o que chamamos de inferno, para onde vão os diabos, seus demônios e os seres humanos não salvos, é a pior eternidade. Bem, ambas são de Deus, Deus é dono de tudo e tudo fez, mas alguns “lugares” fez para os humildes que se aproximaram dele e conheceram a salvação única e suficiente de Cristo, outros “lugares” o mesmo Deus fez para os condenados, inicialmente para os seres espirituais das trevas, mas depois para os seres humanos que levarem seus infernos pessoais do plano físico ao espiritual.
      Precisamos entender que o espírito é nossa parte mais importante, é a essência do nosso ser, no plano espiritual seremos o espírito com um corpo transformado. É o nosso espírito que leva nossa identidade eterna, que vai além de tudo que fomos e fizemos em nossa existência passageira neste mundo. Assim, o pior mal que o pecado faz, quando machuca o corpo e suja a alma, é esfriar o espírito, impedindo-o de ter plena comunhão com Deus. Todavia, ainda que nos apossemos do perdão espiritual, nossos corpos podem se machucar de forma irremediável, isso poderemos sentir só na velhice, justamente quando o que mais vamos querer é saúde física para nos focarmos em Deus, assim, cuidemos melhor de nossos corpos. 
      A sujeira da alma, por sua vez, pode levar anos para desgrudar de nós, lembranças e sentimentos ruins, culpas e arrependimentos, devaneios imundos, que podem voltar e nos tirar do foco maior, isso se já não tiverem instalado em nossas mentes doenças psicológicas sérias. Deus nos perdoa, mas nós mesmos e os homens, não, não facilmente. A sujeira da alma talvez seja ainda pior que os machucados do corpo, pois pode se esconder dentro de nós, usar mecanismos complicados que nos enganam e até nos convencem de que ela nunca existiu. Dessa forma, precisamos ser sábios e nos livrarmos do pecado o quanto antes, antes que firam nossos corpos frágeis, e sujem nossas almas, mais frágeis ainda, de maneira permanente.
      O texto inicial é uma oração poderosa, assumindo a gravidade de pecado diante de Deus, não colocando a culpa em mais ninguém, mas se colocando como o único responsável pelo pecado, que rouba a paz e separa do melhor de Deus. Junto dessa assunção vem o reconhecimento de quão santo é Deus, pois essa oração coloca o homem perto de Deus, mas isso é só o começo de uma experiência maior com o mundo espiritual, com o conhecimento dos mistérios do Altíssimo. O verdadeiramente arrependido não imputa ao santíssimo erro por ter sido disciplinado, antes aceita a disciplina com humildade e deseja com todo o coração não pecar mais, esse é o terreno mais fértil para que espiritualidade verdadeira brote. 

3. Para ter prosperidade material

      Muitas pessoas querem ser espirituais, por isso procuram religiões e outras práticas, mas por que realmente elas querem isso? Alguns acham que ser espiritual é respeitar a moralidade da sociedade em que vivem, assim virtudes como honestidade, controle emocional, caridade e não se dar a vícios como cigarro, bebida e prostituição devem definir espiritualidade. Contudo, isso tudo é só deveres de cidadania, de vida em grupo, que respeita limites e não invade limites alheios. Outros pensam que ser espiritual é ser fiel a doutrinas religiosas, mas em sua maioria as religiões sempre ensinam e cobras boa moralidade e equilíbrio os apetites carnais, mais regras para se viver em sociedade nesse mundo que de fato espiritualidade. Outros ainda, pensam que ser espiritual ter experiências místicas com o sobrenatural, ter mediunidade, se comunicar com o mundo espiritual. 
      Assim, as pessoas entendem espiritualidade de maneiras e em níveis diferentes, assim como a buscam em lugares e de formas distintas, de acordo com suas idiossincrasias, curiosidades, medos e paixões. Mas e quanto a você, evangélico, que frequenta uma igreja protestante, por que você quer ser espiritual? As questões nessa reflexão têm o objetivo de fazer pensar e conduzir a reavaliações os cristãos, não os outros, olhamos para dentro e não para fora, para os filhos de Deus. Será que nós, que acreditamos que cremos na verdade maior e absoluta do evangelho, experimentamos de fato uma espiritualidade melhor? Será que somos melhores que monges e espiritualistas de outras religiões, que esotéricos, clérigos e tantos que se dedicam exclusivamente à busca do divino? (Ou será que eles são piores por isso?) E se somos melhores, por que somos, ou mais, para que somos? 
      Atualmente muitas pessoas em igrejas evangélicas querem ser espirituais por razões absolutamente materialistas, a prova disso é a dizimolatria da qual tanto falamos aqui no “Como o ar que respiro”. Até querem ter vidas morais melhores e tentam ser fiéis às doutrinas que seus líderes ensinam nos púlpitos, mas que nem sempre conduzem de fato à espiritualidade, só à religiosidade. O que é essa religiosidade? Sim, é a obediência a algumas leis morais e sociais, basicamente no cristianismo aos mandamentos mosaicos, mas a isso são adicionadas regras específicas de uma denominação, e uma presente em muitas, principalmente pentecostais, é a obrigação do dízimo. Nem venham dizer que isso não é verdade, é sim, e ocorre uma verdadeira chantagem que tenta convencer as pessoas que caso elas não dizimem sofrerão os flagelos da tão usada passagem bíblica de Malaquias 3.10-11, ou melhor, mal usada. 
      Assim, no entendimento de muitos, se acha que é necessário ser “espiritual” para receber os favores de Deus neste mundo, principalmente prosperidade material, numa visão infantil, rasa e física do Senhor e de sua mais alta espiritualidade. As pessoas têm no materialismo não só o meio de atingirem espiritualidade, vivendo dessa e daquela maneira, fazendo isso ou deixando de fazer aquilo, mas também o objetivo, já que prosperidade material pode ser vista como critério de avaliação para espiritualidade, quando o próspero é membro de igreja e fiel ao dízimo. Num ambiente que só dinheiro e bens interessam, de um jeito ou de outro, onde fica de fato a espiritualidade, aquela evidenciada na vida simples de Jesus homem? Por isso o evangelho perde muitos para o espiritismo ou para o budismo, porque muitas pessoas encontram nessas religiões mais espiritualidade prática que em igrejas evangélicas, e assim o caminho mais reto e mais eficiente que é o nome de Jesus não é trilhado por tantos. 
      Contudo, fica difícil as pessoas não serem enganadas quando o engano começa na liderança, no conceito que muitos pastores têm do que seja um evangelho vitorioso e glorioso, conceito mostrado nas construções dos templo, nas vidas pessoais dos líderes, e na maneira como dízimos e ofertas arrecadados são administrados. Se quem deve dar exemplo não dá, aqueles que chegam, como novos cristãos, já começam suas carreiras incorretamente. Muitas igrejas atuais nem batistério têm, o que mostra que o objetivo não é converter incrédulos, mas só seduzir crentes insatisfeitos de outras igrejas, o produto usado nessa sedução é a promessa de prosperidade material que ganha ainda mais valor num momento econômico do nosso país onde há tanto desemprego.
      Mas o que muitos não entendem é que a disciplina de Deus não vem sobre os incrédulos, esses serão julgados no juízo final, ela vem sobre os cristãos, não como condenação eterna, mas como correção passageira. Assim, se o Brasil vai mal é porque os cristãos não estão andando corretamente, a culpa não é dos incrédulos no mundo, usufruindo a vida material e não se importando com espiritualidade, mas de cristãos materialistas dentro de igrejas. Da mesma maneira a bênção voltará ao país não para que o Brasil seja uma nação totalmente convertida e que possa ser chamada de cristã, não, isso não irá acontecer e nem é necessário. A bênção voltará especificamente ao povo de Deus quando esse voltar-se para Deus através de Deus, não de promessas de políticos que se dizem em nome de Deus, uma bênção espiritual e também material, essa suficiente para que os cristãos tenham vidas financeiras dignas, não mais que isso. 

4. Para não ir pro inferno

      “E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” Mateus 13.37-43

      Algumas pessoas buscam alguma espécie de espiritualidade porque têm medo da morte, ou mais, para se livrarem do inferno, bem, nesse quesito há um ponto positivo para os que creem assim, tem que se acreditar no inferno para se ter medo dele, assim como crer que Jesus pode livrar dele. Mas será que só isso, o medo do inferno, é motivo legítimo para sermos espirituais? Quem é motivado só por medo nunca aprenderá de fato sobre o amor verdadeiro, respeitará, até temerá, mas não amará, e uma relação em e por amor é princípio fundamental da nova aliança em Cristo, seja amor a Deus ou aos homens. É mais sadio amarmos mais o céu, que temermos o inferno, isso é uma motivação mais positiva. 
      Penso que quem busca religião só por temor do inferno precisa, além de crer em Jesus, ter sessões de psicoterapia, esse medo pode ser só uma projeção de outros medos, não espirituais, mas psicológicos e maiores, acumulados em uma vida que sofreu com autoritarismo e violência. Muitos com doenças emocionais têm a tendência de transferir suas referências erradas de família para as coisas Deus, buscam um lar na igreja e um pai no pastor. Por outro lado o medo pode ser só de morrer, dizem que só não tem medo da morte quem tem medo da vida, assim, esse tipo de pessoa intimamente alimenta uma vontade de “partir” para não ter que enfrentar certas realidades ou responsabilidades no plano físico. 
      O que nos leva a temer a morte? Como outros medos, tememos mais a imaginação que fazemos de certas coisas, as imagens mentais que nos vêm à cabeça e os sentimentos que pesam em nosso coração, que a coisa em si, ou o que ela é de fato. É claro que se tratando de morte, ninguém pode saber com rigor científico o que acontecerá depois que nosso corpo físico parar de funcionar, assim, a única referência que temos são as interpretações religiosas que colecionamos durante nossas vidas. Condenação eterna a sofrimento é conceito de várias religiões, mas o cristianismo prega isso de maneira especial, e o cristianismo protestante não deixa meio termo, ou é céu ou é inferno. 
      Ausência de tudo, um lugar fechado e escuro, sem ar, quente e desconfortável, muitos podem sentir que a morte lhes entregará a uma condição assim, mas é preciso entender que essas são sensações que nos aterrorizam porque restrigem o corpo, é o nosso corpo que precisa de oxigênio limpo, de temperatura adequada, de espaço e de luz, o espírito não precisa disso. Mas o que nosso espírito sentirá após morte? Nem a Bíblia traz detalhes de nossa existência pós morte, e como já dissemos, na doutrina protestante, ou é céu ou é inferno. O texto inicial de Mateus 13 fala sobre o inferno, pela doutrina protestante os salvos por Cristo terão direito ao céu, os demais, ao inferno.
      O texto de Mateus 13 é parte da parábola do joio e do trigo, vegetais semelhantes e plantados num mesmo lugar, mas com diferenças, o trigo dá fruto, o joio não, o trigo é mais maleável, o joio é mais duro. A simbologia nos faz pensar na igreja, num grupo onde pessoas diferentes frequentam a mesma comunidade e professam a mesma religião, contudo, umas são de fato convertidas, as outras não. Interessante que Jesus cita como condenados ao inferno não pessoas do mundo, mas o joio, religiosos que dizem professar a mesma fé que o trigo, mas que são joio, não praticam o que professam e devem permanecer assim, enganando, até o fim, quando receberão a justa condenação. 
      Quem prestar atenção verá essa delicadeza em grande parte da Bíblia, os ensinos não cobram os de fora, os do mundo, mas os de dentro, seja da nação de Israel ou de membros de igrejas evangélicas. Isso deveria ser exemplo para pregadores que gostam de julgar e condenar ao inferno aqueles que aparentemente são diferentes deles, enquanto deixam de cobrar muitos dentro de suas igrejas, só porque se parecem cristãos e são fiéis nos dízimos. Quanto adultério, hipocrisia e mentira no joio que muitas vezes é até mais honrado que o trigo, trigo que não aceita o pecado, principalmente aquele do “altar”, e que acaba sendo desprezado pela liderança que não quer confrontar os que lhe oferecem vantagens política e econômicas.
      Devemos ser espirituais para não irmos para o inferno? Cuidado, o céu não é lugar (ou posição) para preconceituosos, assim como o que nunca frequentou igreja cristã não irá necessariamente para o inferno, não só por isso. A verdade é que muitos se surpreenderão quando passarem desse mundo para o outro, desse plano para o outro, um estado de surpresa que poderá levar não instantes, mas milhares de anos. O grau de surpresa está diretamente relacionado com a nível de verdadeira espiritualidade em que cada um estiver, não de acordo com referências que muitos líderes religiosos, incluindo cristãos, ensinam, mas de acordo com a verdade mais alta e iluminada do Deus altíssimo.
      Os cristãos, pela Bíblia, têm pouca informação sobre o céu, e a verdade é que em sua maioria, seguindo a tradição dos israelitas no antigo testamento, pouco se interessam pelo melhor de Deus na eternidade, digo melhor porque o inferno, o pior de Deus, também pertence a Deus, mas ele criou com objetivo diferente do céu e destinado a seres diferentes. Temos informações no novo testamento, principalmente nos evangelhos e no Apocalipse, mas se resumem a um lugar onde não haverá sofrimento, morte e trevas, mas amor, luz, vida eterna e uma comunhão plena com Deus. João o evangelista mostra o céu como uma cidade luxuosa cercada por uma natureza exuberante, enfim, com referências físicas de estética e bem estar. 
      O céu pelo cristianismo é recompensa máxima para quem atingiu a mais elevada espiritualidade, espiritualidade que está, de acordo com o novo testamento, mais relacionada à salvação pela fé em Cristo e a virtudes de justiça e amor, ainda que devam ter como efeitos obras na Terra, que de fato a um conhecimento e uma comunicação profunda com o mundo espiritual. Assim o cristianismo aguarda o céu, mas pouco se interessa por ele, na prática quer vida boa na Terra, e a princípio não há nada de errado com isso. Estamos no mundo físico com orientação de Deus para dominá-lo, com população e conhecimento, e mais, temos todo o universo para conhecer ainda encarnados, luas, planetas, sóis etc.
      Ocorre diferentemente com outras religiões, muitas têm um interesse mais profundo pelo plano espiritual, tanto filosófica quanto praticamente. Isso seria porque elas são conduzidas pela mesma curiosidade pecaminosa que levou o homem a provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no Éden? Basicamente, sim. Se alguém não concorda, acha que a Bíblia fala bastante sobre o mundo espiritual e que isso é bem ensinado nas igrejas, é porque não conhece de fato sua religião, assim como as demais. Mas por favor, entendam corretamente, com isso não vai aqui uma crítica ao cristianismo, apenas uma constatação que nos permite entender algumas coisas, certas prioridades levantadas nas igrejas. 
      O cristianismo é a expressão do mais alto amor de Deus à humanidade, à medida que oferece, através de personagens da nação de Israel no velho testamento, Moisés, Samuel, Davi, profetas e outros, e dos apóstolos e Paulo registrando as palavras de Jesus e do início da Igreja, a maneira mais simples assim como a mais eficaz do homem ter comunhão com o melhor de Deus, sem “atravessadores”. Essa maneira se resume a uma palavra: Jesus. Outras religiões até se aprofundam em alguns assuntos, mas não focam no principal, por um motivo ou outro, e acredite, evangélico e católico que só conhecem as próprias religiões e olhe lá, existe sabedoria em textos sagrados fora da Bíblia, que todos deveriam ler, com o cuidado devido. 
      Existem dois posicionamento sobre saber se se vai para o céu: uns acham que o espiritual tem certeza que vai, crê no evangelho e não pode negar uma promessa que é de Deus, que por sua vez não volta atrás com sua palavra. Outros, porém, acham que a resposta mais espiritual que se pode dar quando se é questionado sobre certeza de ir para o céu após a morte é, “Deus sabe”. Confesso que como crente com base doutrinária de igreja batista tradicional fui ensinado que devo ter certeza e pronto, contudo, ultimamente tenho refletido sobre a resposta “Deus sabe” com mais atenção, mesmo sem que eu tenha perdido a convicção sobre a minha experiência pessoal com Deus, aliás, ela só tem aumentado. 
      “Deus sabe” talvez seja a maneira que devemos encarar os outros cristãos, ainda que os amando e respeitando como cristãos. Quem é meu irmão em Cristo e estará no céu comigo? Eu tenho muito cuidado em usar o termo “irmão”, certeza só terei na eternidade, ainda que queira e tenha amigos que gosto muito dentro de igrejas evangélicas, contudo, também tenho ótimos amigos que não são evangélicos, e alguns que me ajudam mais que muitos que me chamam de “irmão”. Mas isso é como eu encaro as coisas, e eu separo bem pessoas que de fato têm uma verdadeira comunhão com Deus de pessoas simplesmente doutrinadas por comunidades cristãs, muitas vezes convencidas, mas não convertidas.   

5. Para entender a eternidade

      “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis.” Apocalipse 21.1-5

      O que vou compartilhar a seguir é o que eu sinto sobre a eternidade, não é “achismo” pois eu não acho isso, eu creio em Deus, ainda que em alguns casos não possa dar texto bíblico como base, não de maneira direta. Esteja à vontade para desconsiderar, aliás, ande conforme tua fé, não pela minha, seremos julgados pelo que cremos, não pelo que os outros creem, quem crê que tenha paz nisso e não escandalize ninguém com isso dizendo que é verdade absoluta de Deus, e não só a sua interpretação pessoal. Eu creio que céu e inferno se constroem aqui, levamos daqui, mas isso não é algo que se faz só com ferramentas humanas, com pensamentos sentimentos que interpretam a realidade, os sonhos, os medos e as esperanças. 
      Não, é mais que isso, Deus conhece o homem, sua estrutura, como ele funciona e o que ele necessita, assim tudo o que permitiu que fosse registrado na Bíblia possibilita a todos os homens e de todos os tempos construírem uma eternidade dentro deles. A Bíblia não é conhecimento espiritual puro, nós não suportaríamos isso e muito menos suportariam os homens dos tempos bíblicos, mesmo os apóstolos que andaram com Cristo. Textos bíblicos são interpretação humana de revelações divinas, ainda que entreguem verdades absolutas passam por filtros subjetivos, são registrados com matéria prima emocional e racional humanas, nascem em Deus, mas frutificam no homem e o preparam para voltar a Deus. 
      A eternidade é construída em nós primeiramente quando cremos que em Jesus temos perdão para todos os nossos pecados e paz, a simplicidade do evangelho não “viaja” na doença, não procura culpados, mas entrega o remédio e avisa que cada homem tem a liberdade de tomar ou não esse remédio. Isso é simples e poderoso, por isso o cristianismo é tão especial para conduzir o homem diretamente a Deus, sem reencarnação, purgatório e muito menos inferno, só céu. Em segundo lugar passagens como a inicial de Apocalipse, que dão uma descrição do paraíso, criam em nossas mentes e em nossos corações, imagens da pós morte, imagens que Deus em sua sabedoria autorizou, assim o que o homem precisa saber revelado foi.
      Mas não basta só saber intelectualmente, frequentar cultos, ser membro oficial de igrejas, se parecer com cristão convertido, tem que ser de fato, de todo o coração e em perseverança. Só isso ultrapassará a morte do corpo, e isso é uma opinião pessoal, não penso que quem carregou o inferno em si por toda vida seja simplesmente mudado depois que morrer, nossa identidade não se perde, e no outro plano ela é mais forte já que não está presa aos limites do corpo. Se aqui podemos esquecer a dor provando um bom prato de comida, uma boa bebida, uma relação sexual, ou simplesmente tendo uma boa noite de sono, na eternidade não teremos esses escapismos físicos, mas só nossa existência mental e espiritual.
      Assim, cuidado, os que tentam vender, por um motivo ou outro, imagens de cristãos, mas que sabem que na verdade carregam infernos dentro de si, isso não irá mudar com a morte do corpo, o inferno vai junto e prevalece. Mas entenda certo, ter uma vida de lutas, ter problemas sérios, mesmo fraquezas difíceis de serem vencidas, não significa que não somos cristãos ou que temos o inferno dentro de nós. As lutas podem durar bastante, os problemas podem ser grandes, mas um dia, na vida do verdadeiro filho de Deus, terminam. Alguns mantém o inferno, apesar de todas as boas aparências, outros seguram o céu, mesmo com toda a realidade ruim, mas a verdade de cada um, só Deus conhece.
      Lá no fundo, quem vai pro céu sabe disso, e digo mais, sempre soube, já quem vai para o inferno, pode até negar a existência de qualquer coisa após a morte, mas lá em seu íntimo sabe que está em trevas, simplesmente porque não é humilde o suficiente para se render a Deus, ainda que seja um ser humano de bem em muitos aspectos. Assim, não tente ter uma religião ou buscar as referências de espiritualidade que uma ótica metafísica ensina, só por medo. Ame a Deus, com todo o teu ser, e você verá a luz do altíssimo te abraçando, te ensinando, te ajudando, te curando, te consolando, nessa luz verá a melhor eternidade de Deus e saberá que tem lugar garantido lá, não por méritos próprios, mas pelo amor de Deus. 
      Céu (ou a vida eterna) é uma construção específica de cada ser humano levantada com tijolos constituídos de uma única substância, o amor. Amor por Deus, que nos leva à santidade, amor por nós mesmos, que nos conduz à humildade, e amor pelos outros, que nos faz respeitar a todos. O que é o inferno? É a negação de tudo isso, resumindo, é impedir o amor de existir, quem não ama tem medo e que tem medo já tem o inferno dentro de si, pois não agrada a Deus com santidade, violenta a si mesmo com falta de humildade e desrespeita os outros por não lhes dar o direito de serem indivíduos livres, especiais e amados. Nada substitui o amor, o fim de todas as virtudes é o amor e sem ele nenhuma virtude é legítima. 

6. Para ter o poder de Deus

     “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” Efésios 1.3-6

      “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” I Pedro 1.18-21

      Algumas pessoas acreditam no poder de Deus, ainda que não tenham intimidade com Deus, assim querem espiritualidade para terem esse poder, querem o efeito, não a causa, desejam ser beneficiadas, não ter amizade com quem beneficia, conhecendo-o e adorando-o. Mas é mais que isso, quem não crê no Deus verdadeiro, com profundidade, também não pode entender a maneira como ele age, não pode entender seu poder ou como esse poder é manifestado. O mais equivocado é que muitos desses apologistas do poder divino se acham mais crentes que os outros, justamente por crerem numa virtude tão grandiosa de Deus, quando na verdade são esses os que estão mais enganados sobre o assunto e que mais são manipulados. 
      O tema “Deus é poderoso” é marketing fortíssimo entre as pessoas que querem soluções rápidas e milagrosas para suas vidas, geralmente em assuntos materiais, e não desejam mudança de caráter e desenvolvimento de virtudes interiores, o tema é produto fácil para trocar por “dízimos”. Deus, em sua misericórdia permite que muitos sejam abençoados ainda que peçam do jeito errado e não se deem ao trabalho de agradecer a ele do jeito certo. Deus é um pai de amor, ele já previu isso no início dos tempos, todavia, se muitos soubessem de fato como o “poder” de Deus funciona, talvez não buscassem tanto o cristianismo vendido em muitas igrejas, feiras livres de milagres baratos para crentes rasos. 
     Os que querem de fato uma relação com Deus que mude seus homens interiores e não só lhes deem coisas, vivenciam uma existência constante no poder de Deus, não experimentam ações extraordinárias, mas sincronia com o Altíssimo. Na verdade os mais crentes não são os que experimentam o poder de Deus, mas são os que não experimentam, e espere um pouco, vou explicar melhor, não experimentam porque não precisam desse “poder”, eles andam em Deus o tempo todo e são cuidados e mantidos por Deus com equilíbrio, não com “milagres”. Eles sabem que os maiores “milagres” ocorrem em suas almas e isso não acontece num passe de mágica, mas em anos de erros, resignações e enfim, atitudes humildes de mudança.
      Milagre não é a manifestação do poder de Deus, mas é a maneira como aqueles que não têm intimidade com Deus interpretam a ação de Deus, para esses parece que Deus age de vez em quando e de forma extraordinária, mas para os que andam em Deus nada é extraordinário, mas ordinário, normal. Esses entendem que Deus criou tudo no passado, por isso ele sabe de tudo, as ações que precisamos dele não são criadas quando creem, mas já foram criadas há muito tempo, previstas por um Deus onisciente, dessa forma o que é preciso não é crer muito e de vez em quando, mas andar em Cristo sempre, sincronizado com suas provisões, livramentos e bênçãos, criados paras os santos antes da criação do mundo. 
      O texto inicial, que só poderia ter sido registrado pela profundidade espiritual e teológica de Paulo, nos revela mistérios que muitos cristãos leem, passam batido e na verdade não percebem a relevância. Paulo fala de um Deus que criou tudo antes da fundação do mundo e do lugar mais alto onde as bênçãos que os filhos de Deus podem receber estão guardadas. O texto tira nossos olhos da Terra, do material, do presente, do humano, e nos arrebata para a habitação do Altíssimo, eterno e que não só já criou tudo, mas tudo nele e para ele existe e para sempre. Quando queremos milagres para resolver problemas materiais passageiros estamos sendo menores, em relação à chamada de Deus para nossas vidas.
      A oração de fé não faz algo acontecer, mas nos coloca na posição onde as coisas acontecem, essas coisas não são criadas com a fé, Deus já as criou no início dos tempos, estão lá e sempre estiveram. Perdão que dá a paz? Cura para um vício? Provisão material? Tudo Deus já providenciou e está guardado para os santos. A posição onde as coisas acontecem não é dentro de nós ou no mundo, mas no plano espiritual, assim provar “milagres” é andar com Deus, pisando nos passos de Cristo, deixar-se levar pelo Espírito Santo. O efeito da fé não são milagres, mas ter os olhos espirituais abertos para verem onde Deus está, quando vemos e nos posicionamos tudo aquilo de bom que acontece em Deus nós também provamos. 
      Crer num Deus que cria só quando uma oração de fé é feita é diminuir a Deus e empoderar o homem, Deus sempre soube do que os que o buscam precisam e já criou isso antes. Dentro desse assunto Paulo incluiu o polêmico tema predestinação, que podemos entender só quando vemos as coisas sob o ponto de vista de Deus. Podemos dizer que Deus predestinou porque é onisciente, onipotente e onipresente, mas nós não temos capacidade espiritual para interpretar nossas existências sob esse aspecto, a nós cabe testemunharmos da luz e permitirmos que as pessoas escolham, sem nos preocuparmos sobre quem é ou não predestinado, principalmente enquanto a pessoa ainda tem oportunidade de ser salva e ainda está neste mundo. 

      “O minha alma, espera somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus. 
      Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante ele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio. 
      Certamente que os homens de classe baixa são vaidade, e os homens de ordem elevada são mentira; pesados em balanças, eles juntos são mais leves do que a vaidade. Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração. 
      Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. A ti também, Senhor, pertence a misericórdia; pois retribuirás a cada um segundo a sua obra.” 
Salmos 62.5-12

      O salmo 62 é lindíssimo, os livros poéticos de Davi e de Salomão (creditados a eles mas não sendo eles autores integrais dos livros) são o coração da Bíblia, atemporais se os soubermos ler, revendo no Espírito Santo os confrontos físicos com inimigos humanos que tanto são falados nos Salmos e a ótica secular e mesmo materialista de Provérbios. Pelo Espírito Santo podemos usar tudo isso como metáforas de nossos lutas pessoais e interiores, onde nós mesmos somos os amigos de Deus, os inimigos dos homens (e de nós mesmos), assim como os seres encarnados envelhecidos pelo tempo que entendem que tudo é vaidade e tédio, mesmo na abastança de prazeres físicos e de riquezas materiais. 
      Quando o temor de Deus se alia à unção do Espírito Santo e à poesia de almas sensíveis e inteligentes temos a expressão máxima de sabedoria que os seres humanos podem expressar neste mundo, Davi e Salomão sabiam se expressar assim, personagens bíblicos especiais, por isso tiveram posições tão importantes na nação de Israel, os que proporcionaram ao povo de Deus da velha aliança seu apogeu neste mundo. Por isso Jesus é da raiz de Davi, assim como é o eterno templo onde foi sacrificado como cordeiro de Deus para salvar a humanidade, do qual o templo de Salomão é a referência material máxima. Jesus é rei, o templo e o cordeiro, o Senhor, o altar e o salvador eterno.
      Na apresentação inicial, dividi o trecho do Salmo 62 em quatro parágrafos, reflitamos um pouco nos três primeiros. Esperar somente em Deus que nos propicia um lugar seguro e inabalável para pisar, a sua promessa de salvação e suprimento é a rocha de nossas vidas, assim ainda que não vejamos, que não saibamos, estamos seguros e em paz. Se temos essa experiência temos uma palavra legítima a compartilhar, e não podemos nos calar, mas falar aos homens que Deus existe e quer nos tomar nos braços para nos conduzir no caminho melhor. Essa segurança nos ensina que os valores desse mundo não têm importância, não têm poder, nem a falta deles deve nos entristecer, nem a abastança nos iludir. 
      O quarto parágrafo, contudo, diz algo especial, “Deus falou uma vez, duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus”, o salmista dá ênfase em que o poder pertence a Deus! Quem acompanha o “Como o ar que respiro” sabe que sempre procuro desconstruir um evangelho baseado em fé e poder quando isso se refere a referências físicas, assim entendo que o poder de Deus se revela em sua maior e melhor expressão não quando faz um milagre físico, mas quando nos leva a uma espiritualidade superior que nos torna pessoas mais humildes e amorosas. O poder máximo de Deus é espiritual, no plano espiritual não há necessidade de mover montanhas nem de curar doentes, mas de iluminar espíritos com virtudes. 
      A melhor manifestação do poder de Deus é vertical, não horizontal, é espiritual, não física, assim não é aquela vista pelos homens, não pelos homens materialistas e imaturos, mas é conhecida e honrada por Deus enquanto os homens, aqueles que quiserem e puderem ver, enxergam em nós apenas seres humanos discretos e tranquilos, mais ocupados em viver a vida eterna que em falar dela, focados em dar exemplo, não em convencer ninguém disso ou daquilo com palavras. Mas o salmista encerra o Salmo 62 com uma frase que pode parecer antagônica, “a ti também, Senhor, pertence a misericórdia, pois retribuirás a cada um segundo a sua obra”. Para entender isso é preciso entender a diferença entre justiça e misericórdia.
      Devolver na mesma proporção do que se fez é justiça, já misericórdia dá mais do que se merece, devolve mais do que se fez para ganhar. Mas o salmista pode querer dizer que neste mundo nem justiça existe, as pessoas não recebem nem aquilo que por direito fizeram por merecer. Deus, contudo, em sua misericórdia, retribui a todos, e se na velha aliança era conforme a obra de cada um, na nova aliança, através da justificação do nome de Cristo, Deus pode dar muito mais, mesmo se alguém nada tiver feito, mas tiver crido. Nos referimos aqui à bênção espiritual, perdão e paz, e principalmente ao melhor de Deus na eternidade, nos conduzir a mais alta espiritualidade é a manifestação maior do poder de Deus. 

7. Para conhecer os mistérios espirituais

      As pessoas querem ser espirituais por motivos e para fins diferentes, alguns para poderem conhecer os mistérios espirituais, por uma curiosidade sobre o plano espiritual, isso ocorre com uma minoria no meio cristão, católico e protestante, já que os que desejam isso procuram antes outras religiões, não o cristianismo. Percebe-se claramente, por essa abordagem, que existem dois tipos de pessoas no mundo, as materialistas e as espiritualistas, e não alie essas classificações a virtudes morais ou comunhão com o Deus verdadeiro, não alie nenhuma das duas. Existem muitos materialistas no meio cristão, e não são só os abordados anteriormente, que buscam no evangelho prosperidade material, existem materialistas bem desprendidos de vaidades e prazeres físicos, que aparentemente parecem ser até mais espirituais que os que veem a vida de forma mais espiritualizada. 
      Há cristãos sinceros e de fato convertidos no grupo mais materialista, mas eles creem só no minimamente necessário, na salvação, em Deus, no céu, basicamente, no resto são céticos, por isso se sentem melhor no protestantismo tradicional, que não acredita, por exemplo, nos dons do Espírito Santo, pelo menos não para os dias atuais. No protestantismo tradicional as pessoas também têm curiosidade espiritual, mas a saciam com ferramentas deste mundo, digamos assim, não do outro, pelo intelecto, não pela subjetividade emocional, conhecendo mais profundamente a Bíblia com estudo teológico, conhecimento das línguas dos textos originais, enfim, numa ótica mais científica. Talvez porque essa satisfação necessite mais de estudo, é a outra baste “intuição” possa explicar porque num meio existem pessoas financeiramente mais providas que no outro. 
      Mas nesse ponto da reflexão é importante que se levante uma questão: será que quem busca um cristianismo mais intelectual é justamente o que mais tem receio de enfrentar suas feridas emocionais? E por outro lado, será que quem busca um cristianismo mais emocional e espiritualizado não é justamente quem tem mais a tendências de “viajar” em fantasias e a acreditar em qualquer coisa? Sim, nos dois extremos existem desvantagens porque a solução é o equilíbrio, onde se aprende com os dois lados, o intelectual e o emocional, o Espírito Santo quando acha liberdade transborda todo o nosso ser, pensamentos e emoções, razão e intuição, os simples entenderão isso e serão abençoados plenamente.
      Entretanto, também existem pessoas extremamente espiritualizadas em meios não cristãos, aliás, não que buscam esses meios porque acham que o cristianismo é limitado para conduzir à espiritualidade mais alta, assim buscam religiões que os coloquem mais perto do mundo espiritual na prática. Os espíritas são um grupo bem conhecido no Brasil, tanto na linha kardecista quando nas religiões de origem africanas, umbanda e candomblé, por exemplo, os esotéricos e/ou ocultistas também querem ser espirituais por possuírem uma curiosidade muito grande sobre o mundo espiritual. Essa é uma tendência que a princípio é positiva, mas que se não houver cuidado pode se transformar numa armadilha terrível, aos que querem não só o Éden e a companhia do criador, mas provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal para saberem mais. 
      Uma coisa é certa, cada um tem uma tendência espiritual eterna, e amar mais as coisas da eternidade que as desse mundo coloca o ser humano em contato com o sua essência, seu espírito eterno, que viverá muito além desse plano, só é preciso aos que têm essa tendência humildade para buscarem a Deus, nãos aos “deuses”. No meio evangélico, nas igrejas de linha carismática, onde os dons espirituais são buscados e provados com mais liberdade, se oferece ao homem mais oportunidade para desenvolver espiritualidade no aspecto de entender e interagir com o mundo espiritual. Não existe nada de errado em querer experimentar dons espirituais, ao contrário, creio que a vontade de Deus é que todos falem em línguas espirituais estranhas, profetizem, tenham visões e sonhos etc. Isso deveria ser normal no meio cristão, não proibido, como é no meio protestante tradicional, ou mistificado, como é no meio pentecostal. 
      Contudo, curiosidade espiritual pode ser tanto vaidade quanto meio de suprir uma autoimagem ruim, assim pode ser, sim, efeito de alguma doença psicológica, por isso é preciso ter cuidado e não confundir as coisas. Esse, contudo, é um limite difícil de se estabelecer, seriam os “loucos” os que mais desejam ser “espirituais” por serem “loucos”, ou os que buscam ser “espirituais” se tornam “loucos”? Ou, o que é loucura de homem, na carne, na cabeça, e o que é loucura de Deus, no espírito? (Já fizemos aqui no blog um longo estudo a respeito, “Loucura”). Como sempre, o que comprova a legitimidade de nossos caminhos são nossos frutos, se uma busca por espiritualidade não só responde às questões sobre mistérios, mas também nos faz pessoas socialmente melhores, com os frutos do Espírito e não só com os dons do Espírito, então essa busca pode ser efeito da melhor espiritualidade de Deus.

8. Para ter vitória numa guerra

      “E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. E, como desceram a ele, Eliseu orou ao Senhor e disse: Fere, peço-te, esta gente de cegueira. E feriu-a de cegueira, conforme a palavra de Eliseu.” I Reis 6.15-18

     Um motivo que leva muitos a desejarem espiritualidade é para ter vitória numa guerra, isso porque muitos veem a existência assim, como uma batalha, contra outros homens, contra os demônios, contra os que são contra os demônios e por aí vai. Existe alguém que tem muito interesse em criar e manter guerras, e esse alguém não é Deus, o Altíssimo não precisa combater ninguém para conquistar algo, ele já é dono de tudo e sempre, quem tem interesse é o diabo. O homem longe de Deus cria o campo de batalha e oferece os soldados, para ambos os lados, e mesmo cristãos sinceros ainda veem a vida dessa maneira, baseados equivocadamente numa visão da vida do velho testamento, não da nova aliança de Cristo. 
      Olhar a existência com uma ótica beligerante faz com que achemos inimigos em muitos lugares, ao mesmo tempo que faz como que nos olhemos como soldados numa guerra sem fim. Assim pode-se achar duas posturas na existência: avançar e ganhar fazendo os outros retrocederem, ou perder quando se tem que retroceder diante do avanço dos outros. Numa busca constante de controle de território só um pode estar num determinado lugar, por isso é preciso expulsar alguém para conquistar o espaço. A verdadeira espiritualidade pode oferecer uma opção superior à guerra, onde não é preciso avançar nem retroceder, mas abraçar, podendo assim dois ou mais ocuparem um mesmo espaço em comunhão, em paz e sem guerra. 
     Podemos entender essa guerra através de uma lei física: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Pode-se até pedir com educação, “por favor, pode sair para eu entrar?”, mas ainda assim só um estará num lugar em um determinado momento. A solução está em olharmos a existência não sob o ponto de vista material, mas espiritual, nessa ótica dois ou mais seres podem estar num mesmo espaço e ao mesmo tempo, um espação espiritual. Isso é possível através das virtudes espirituais da luz, do bem, do Espírito do Deus Altíssimo, por essas virtudes podemos abraçar os outros, numa união que vai muito além da física, se na terra não tem espaço para dois, no coração há, e para muito mais que dois. 
      Infelizmente muitos usam o conceito “guerra”, avançar e retroceder, tão inferiores e materiais, para exercer o que acham ser espiritualidade. Na verdade isso pode até ser uma ótica espritual, mas das trevas, dos espíritos rebeldes, e no plano espiritual existe, sim, uma batalha por território, ainda que seja para conquistar espaços que os seres encarnados entregam aos seres espirituais do mal. Mas mesmo essa guerra não nos compete entender, a nós basta orar no nome de Jesus, entregar os problemas a Deus e crer que ele solucionará. Só a Deus cabe determinar batalhas espirituais ou comandar anjos, esse é o entendimento da teologia cristã tradicional (já estudamos sobre isso em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”). 
      Quando se fala em inimigos espirituais, se fala em demônio, e vemos pouco sobre demônios no velho testamento, justamente porque ele relata a história de Israel, um povo separado e cuidado por Deus. O diabo aparece, por exemplo, em algumas situações especiais, no Éden tentando o homem, em Jó sendo usando para uma prova, em I Samuel atormentando a alma desobediente de Saul e em Daniel tentando impedir as orações de Daniel no exílio. Relatar atividades demoníacas em Israel seria semelhante a relatar essas atividades dentro das igrejas cristãs, em Israel só aparecem quando a nação está desviada, mas hoje nas igrejas a presença do Espírito Santo impede isso, mesmo em igrejas desviadas em heresias, assim o diabo está no mundo. 
      Nos evangelhos aparecem mais registros de possessões demoníacas porque é o início da nova aliança num mundo longe de Deus sob o império Romano, ainda que em terras originalmente israelitas. Contudo, é interessante como que nas últimas décadas temos visto menos manifestação de possessos nas igrejas evangélicas, em relação ao que víamos, principalmente nas pentecostais, de vinte, trinta anos atrás. Qual o motivo disso, estariam as igrejas menos ungidas? Possessões teriam diminuído? Os demônios estariam agindo de maneira diferente? Isso pode nos dizer algumas coisas sobre a espiritualidade nesses tempos que podem ser o início dos tempos finais, assim como pode nos ensinar sobre as últimas estratégias do diabo.
      Mas existia uma guerra espiritual no tempo do antigo testamento, talvez até maior que depois, mais aliada aos confrontos físicos entre as nações. Num mundo pré-cristianismos o diabo tinha mais liberdade de agir, como em sacrifícios humanos onde até crianças eram oferecidas, e de forma aberta, não velada em cerimônias de bruxaria como aconteceu depois que o cristianismo se instalou. Quando Israel lutava contra uma nação que não temia a Deus e adorava falsos deuses, havia também uma guerra espiritual ocorrendo, por conquista de território, a visão do moço do profeta Eliseu nos mostra isso. Feliz o homem que tem os olhos espirituais abertos para ver que “mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.

      Guerra espiritual: é preciso ter uma espiritualidade superior para enfrenta-la? O cristão é um soldado de Deus contra as trevas? Temos que ser espirituais especificamente para isso, para vencermos uma batalha nesse campo? Não, não e não! A nova aliança do novo testamento entrega um conceito novo, diferente e que será o eterno para a humanidade sobre espiritualidade. O campo de batalha não é mais os campos de Israel, mas o coração do homem, na verdade a humanidade teve que esperar alguns milênios para evoluir e poder enfrentar a verdadeira guerra, que se iniciou no Éden quando o homem caiu na tentação do diabo, comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. 
      Em sua obra de salvação Jesus vence a batalha, não por territórios neste mundo ou mesmo no outro, mas por almas humanas, ele anula a legalidade que o próprio homem tinha dado a Satanás, não no exterior do ser humano, seja ele material ou espiritual, mas no seu interior, em seu coração. Por isso o reino de Deus estabelecido pelo evangelho não foi na nação política de Israel, tendo Jesus como o novo rei Davi, mas no espírito humano. Jesus vence uma vez por todas a guerra e no seu ponto de origem, na causa primordial, de maneira que ninguém precisa mais lutar, pelo menos não pela condenação que o pecado original traz, só precisa crer. Se o homem volta para Deus o diabo perde todas as possibilidades de vitória.
      Talvez seja por isso que o “diabo” tivesse tanto interesse em corromper o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que foi feito superior mesmo aos anjos e que recebeu do pai direitos maiores que os de qualquer outra criatura. Talvez o diabo não pudesse ter nada que não lhe fosse autorizado, e como Deus não autorizou porque ele se rebelou e não estava preparado para administrar nada além do inferno que para ele fora criado, ele teria que desviar o homem para que esse desse a ele algum direito. Foi justamente o que aconteceu, quando o pecado original foi cometido, por ser uma desobediência ao criador o homem sai de sua proteção e fica só, então, naturalmente o diabo passa a ter direitos.
      Qual foi o primeiro direito que o diabo recebeu? De existir no coração do homem, em qualquer outro espaço o diabo não poderia derrotar Deus, mas no coração do homem ele pode, por isso ele tinha tanto interesse nesse território, mais do que em qualquer outro. Através desse lugar o diabo pode dominar o mundo, e mais que isso, pode dominar mesmo o universo, dependendo do que o homem conquista. Contra o diabo Deus pode ir e destruir totalmente suas obras, mas contra o homem não, por causa do livre arbítrio, assim se o homem escolhe obedecer ao diabo e entregar a ele suas conquistas, Deus nada pode fazer. Deus só destrói as obras das trevas quando o homem pede e permite. 
      Esse raciocínio parece estranho, o homem ter tanto poder e Deus nenhum, e o diabo só ter algum poder porque o homem lhe deu? Mas é isso, por isso os seres encarnam, vivem nesse mundo, para terem oportunidades de livre arbítrio, e com dessa forma os espíritos rebeldes que não encarnam passam a ter também direitos. Nossa curta existência neste mundo é muito especial, significativa, muitos não entendem isso, mesmo cristãos. Não, meus queridos, não é o homem que adora o diabo, é o diabo que adora o homem, que o inveja, que deseja o que o ele mesmo não tem, mas que ao homem foi dado por Deus. O que acontece é que o diabo é astuto e focado, enquanto o homem é tolo, volúvel, vaidoso, amante do passageiro.
      Vou dizer outra coisa que talvez te surpreenda, à medida que o homem foi vivendo no mundo, conquistando-o e infelizmente buscando espiritualidade errada, pelos espíritos rebeldes das trevas e não por Deus, o diabo e os demônios foram sendo “modificados“, humanizados. Sempre nos parecemos com aquilo que mais gostamos. Se um cristão diz que adora a Deus e o serve, mas mostra em seu jeito de ser, de se trajar, nas coisas gasta suas rendas, referências não tão adequadas ao que diz que crê, não tão santas quanto o Deus que diz obedecer, nesse caso podemos dizer que esse cristão mente, não adora a Deus, mas o mundo e seus valores. O que fazemos de fato é o que nos define, não o que dizemos.
      Toda essa pluralidade de religiões, de mitos, de folclores, que variam conforme e região geográfica da Terra, do povo que a habita e de sua identidade cultural, influenciou os seres espirituais rebeldes das trevas. E não é só como o homem vê os espíritos, os espíritos se manifestam com aparências variadas conforme o povo. Na cultura celta, por exemplo, os seres espirituais rebeldes aparecem de um jeito, na nórdica europeia de outro, na hindu de outro, na africana de outro, no extremo oriente de outro, entre os indígenas da América do Sul de outro. São todos diabos e demônios, mas que se apresentam conforme os homens que os buscam, suas aparências físicas e suas estéticas culturais. 
      Se Deus fez originalmente o homem à sua imagem e semelhança, o homem transformou o diabo à sua imagem e semelhança, sempre a partir de uma guerra do diabo contra Deus que tem início no coração humano. Não, não precisamos ser poderosos soldados espirituais porque não existe uma guerra, não depois que aceitamos Jesus como único e suficiente salvador, assim se gabar de ser espiritual porque se tem competência para fazer uma guerra no plano espiritual é desnecessário. Não vencemos nos esforçando, avançando, mas nos posicionando, em Deus, no lugar mais alto, no qual nenhum ser espiritual do mal têm acesso. Nesse lugar não se avança ou se retrocede, se abraça, no amor eterno de Deus. 

9. Para vencer o inimigo

      “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz, o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.12-3), em Jesus temos uma mudança de posição espiritual, isso não ocorre com nossos corpos no mundo, mas no plano espiritual. Temos acesso a essa nova posição através do Espírito Santo e nessa posição somos vencedores sobre os seres espirituais rebeldes. “Digo, porém, andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne, porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” (Gálatas 5.16-18), ainda assim enfrentamos uma batalha constante.
      Essa batalha é contra o Diabo? Não, contra nossa própria carne, contudo, Tiago em sua carta é claro, “sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4.7), assim a vitória para os salvos é sempre um posicionamento de fé por uma condição de santidade que ganhamos através do perdão pelo nome de Jesus. Mas então, como interpretarmos o texto de Efésios 6.11-12, “revestis-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo, porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais“? Entendendo onde o diabo faz a guerra, se é numa posição material ou espiritual e como isso interage conosco. 
      O plano espiritual não é fácil de ser entendido, não pelas referências materiais, mas ainda que Deus seja só um, os seres espirituais também são espíritos, portanto com faculdades semelhantes às de Deus, e ainda que não sejam onipresentes, oniscientes nem onipotentes, eles existem no espaço e no tempo de maneira espiritual. O exemplo bíblico que temos disso é o de Jesus já ressuscitado no plano físico, onde podemos entender coisas espirituais com olhos materiais, quando ele “aparece” para falar com seus discípulos com o corpo transformado (Lucas 24.36). No plano espiritual e na eternidade, os homens salvos e com corpos transformados são diferentes de anjos, caídos ou não, esses não têm em sua consciências uma identidade pessoal que nós temos, podemos entender isso quando, por exemplo, vemos que anjos não têm nomes. 
      Existem algumas referências a nomes de anjos na Bíblia, como Miguel, Gabriel, e também aos nomes dos grandes anjos caídos, Satanás, Lúcifer, Belial, Leviatã, mas isso pode se referir mais a legiões que a indivíduos, e legiões são seres espirituais unidos por um mesmo propósito ou missão. Mas esses nomes são excessões e ainda assim não podemos dizer, baseados, na Bíblia, se referem-se de fato a indivíduos, podem se referir aos nomes das funções, comuns a toda uma legião. Mas algo que podemos entender é que quanto mais perto de Deus ou distante dele, portanto, extremos acima e abaixo dos homens, em seres espirituais da luz e das trevas a individualidade perde a relevância. Isso já é algo muito importante nos seres humanos, personalidades, nomes, histórias, escolhas, palavras e ações, definem nossas identidades. 
      Contudo, mesmos sendo diferentes no aspecto identidade, na substância os corpos dos seres espirituais são semelhantes aos que vamos ter na eternidade, àquele que Jesus apresentou após a ressurreição, por exemplo. Depois que Cristo subiu ao céu ele mudou de novo, não se tornou só um justo na eternidade, como nós seremos, mas o próprio Deus, visto que Deus pai, Deus filho e Deus Espírito são um. Mas não nos esqueçamos também que Jesus disse que como ele ia ser um com o pai nós também seríamos (João 17.20-23), assim será que haverá diferenças? Quais? Esse assunto é profundo, a Bíblia relata aparecimento mesmo de anjos com corpos humanos e com necessidades físicas (Gênesis 18.1-8), seja como for os seres espirituais rebeldes existem no plano espiritual que chamamos de céu. 
      Esse céu espiritual não está, em relação ao plano físico, nem acima nem abaixo de nós, mas espiritualmente mais perto ou mais distante do Deus altíssimo, numa outra dimensão. A referência não somos nós, os altos montes do nosso planeta, nem mesmo a Lua, o Sol, os planetas e ou as estrelas, mas um Deus espiritual. Como percebemos e nos comunicamos com esse plano espiritual? Pelo nosso espírito. O que nosso espírito entende é decodificado por nossas emoções e por nossos pensamentos que então passam para o nosso corpo. Dessa forma a guerra com inimigos espirituais se passa não fora de nós, mas dentro, depois disso somos nós que damos autorização para eles agirem, fora ou dentro de nós, em atuações que sempre necessitam da autorização de Deus e do livre arbítrio humano. 
      Um dos principais erros que o cristão comete é olhar demais para fora de si, procurar inimigos nos outros, muitas vezes em quem está próximo dele e na verdade só lhe quer bem, isso tudo ao invés de olhar para dentro de si. Por outro lado olhar para dentro de nós não significa nos alienarmos, fugirmos da realidade, não, o mundo é mau e existem muitos homens maus nele, cruéis e egoístas, que não se importam em pisar os outros para terem benefícios próprios, precisamos ser sábios para conviver com isso. Mas em olhar para dentro de nós me refiro ao plano espiritual, e esse nós conhecemos pelo nosso espírito, e todos os homens, salvos ou não, podemos ter contado com o mundo espiritual pelos seus espíritos. Entretanto, é só quando abrimos nossos olhos espirituais pelo Espírito Santo que conhecemos a realidade mais profunda. 
      O melhor dessa mais elevada iluminação espritual é acharmos comunhão com o Altíssimo, só depois disso temos clareza para interagir com nós mesmos, com o diabo, com a realidade exterior e física e com os outros homens, que também enfrentam as mesmas batalhas que nós. Não, não fique procurando inimigos nas pessoas, e também não interprete o texto de Efésios 6 de forma errada, como tantos dessa última geração de cristãos vitimistas interpretam, querendo ver o diabo em tudo para por a culpa de tudo nele. Sim, o diabo autorizado por Deus, nos mostra sempre o lado que não tem Deus como princípio e fim, que não agrada a Deus nem o honra, mas quem escolhe somos nós. Assim, a maior prova de espiritualidade não é vencermos os outros, nem mesmo o diabo, mas a nós mesmos fazendo as melhores escolhas. 
      Adão e Eva não tinham qualquer inimigo e o diabo só precisava receber um não, mas eles perderam a maior de todas as batalhas: para eles mesmos. O que mais se perde nessa batalha? Não é a simplicidade de quem pode andar na luz do dia e dormir uma boa noite de sono sem culpa, não são as colheitas ruins, físicas ou morais, resultados de quem alterou seu equilíbrio no universo, isso tudo é efeito. O casal mítico perdeu o privilégio de ter o Espírito de Deus em seus espíritos, isso foi o principal. Para que isso fosse recuperado Deus teve que se fazer homem, retroceder espiritualmente encarnando. Encaremos a verdade, com coragem e humildade, nosso inimigo não é o homem, por mais que ele nos incomode, e se ele nos incomoda é porque somos incomodáveis, frágeis para o ataque, de quem? Do mal dentro de nós. Permitamos que Deus viva em nós pelo Espírito Santo, isso encerra as guerras e nos dá a paz que permanece. 
 
10. Para cumprir uma missão

      “A ti, Senhor, levanto a minha alma. Deus meu, em ti confio, não me deixes confundido, nem que os meus inimigos triunfem sobre mim. Na verdade, não serão confundidos os que esperam em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa. Faze-me saber os teus caminhos, Senhor; ensina-me as tuas veredas. Guia-me na tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia. 
      Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas benignidades, porque são desde a eternidade. Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor. Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores. Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho. 
      Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos. Por amor do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniqüidade, pois é grande. Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher. A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra. O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança.” 
Salmos 25.1-14

      Alguns conseguem chegar a um entendimento mais profundo de porque devem ser espirituais, eles querem espiritualidade para cumprirem uma missão especial e serem diferentes (e importantes...). Abrindo um parênteses, muitos querem servir a Deus, mas parece que de cara já fazem exigências para isso, querem ser usados de forma diferenciada, e vou explicar, exigem isso baseados na própria Bíblia, em promessas como a de João 14.12, “na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”. Esses na verdade não entendem o que é fé, o que é espiritualidade e nem se submetem de fato à vontade de Deus, querem milagres físicos e passageiros no mundo, não virtudes eternas nos corações. Um exemplo é como vemos no meio pentecostal pastores querendo ser novos bispos “Macedo” ou “Hernandes“, ou cantoras querendo ser novas “Ana Paula Valadão” e “Cassiane” (e aqui deixo claro que nada tenho contra os nomes citados), esses que querem o que Deus não quer para eles comentem dois erros. 
      Em primeiro lugar quem olha com cuidado para alguns líderes não verá neles de fato espiritualidade, de acordo com o exemplo de vida simples que Jesus homem ensinou-nos a ter, portanto não de maneira realmente agradável a Deus, ainda que tenham grandiosos ministérios e se achem ungidos. Muitos se fizeram baseados em heresias e os frutos que vieram disso foram poder e riqueza nesse mundo, esses que até foram usados por Deus em alguma instância, terão suas intenções reveladas no tempo certo. Infelizmente, de alguma maneira, no final farão mais mal que bem para o evangelho, como já temos visto pelo apoio equivocado que muitos deles têm dado a políticos enganadores querendo estabelecer um reino na Terra e não no céu. Em segundo lugar, mesmo que algumas cantoras tenham legítimas chamadas de Deus, e mesmo essas quando confrontamos com o verdadeiro evangelho achamos no fim de suas carreiras frutos não tão louváveis, quem disse que Deus tem essas “carreiras” para todas? Ainda que haja fé e esforço do homem, se Deus não quiser não vai acontecer, ser espiritual é aceitar isso, ser espiritual é obedecer a Deus, não à própria fé, fecho parênteses. 
      Seja como for, chamada missionária atualmente ocorre menos no meio tradicional protestante, mas infelizmente e por motivos não tão nobres, ocorre bastante no meio pentecostal. Eu disse infelizmente porque muitos desejam ser separados para a obra para terem fama e prosperidade financeira, isso explica a grande demanda dos chamados pregadores e músicos itinerantes, que se sentem livres frequentando uma igreja diferente por culto e embolsam “cachês” para darem seus “espetáculos”, coloquei cachê entre aspas porque considero absolutamente inadequado o uso desse termo para qualquer espécie de retorno financeiro para pessoas que tomam púlpitos se dizendo em nome de Deus. Enquanto que em denominações não protestantes muitos entram em ordens religiosas, sejam católicas, hinduístas, budistas, para abrir mão de valores materiais e luxos, mas usam uniformes, hábitos e outras vestimentas, que os diferenciam das outras pessoas, deixando claro a escolha de vida que fizeram, isso também acontece nas igrejas evangélicas com a obsessão que tantos têm por receberem títulos de pastor, missionário, diácono, presbítero, bispo etc. Mas de um jeito ou de outro, não seria isso também vaidade? 
      Pode não ser, não penso que seja essa a intenção de muitos sacerdotes, clérigos e monges, muitos sinceramente, ainda que por motivos estranhos, querem se sacrificar por uma causa maior, achar identidade em uniformes e normas como simples membros de exércitos que fazem caridade, aliás, muitos evangélicos obcecados por títulos e fama deveriam aprender sobre humildade com sinceras irmãs católicas que passam a vida fazendo o bem num total anonimato. Talvez os verdadeiramente espirituais passem como invisíveis aos olhos humanos, mantenham-se tão discretos e calados que ninguém saiba de suas espiritualidades, nem por vestimentas, nem por títulos. Eles as vivem para si e para o divino, se escondem sendo comuns, iguais a muitos, casando, ou não, trabalhando, sendo diferentes, contudo, sem fazer alarde. Penso que Jesus encarnado vivia assim, um simples homem judeu, não rico, mas também não pobre, equilibrado na aparência e em suas relações sociais, ainda que com vida privada espiritual de qualidade que revelava isso quando de fato era necessário, e o mais necessário ele fez, não aparecer como um líder político ou religioso, mas se sacrificar por amor por todos nós.

      O texto inicial é uma oração que faz uma entrada progressiva na presença de Deus levando o salmista a se conhecer à medida que conhece a Deus, experimentando assim a mais elevada espiritualidade do Altíssimo. Podemos aprender com o texto três lições: os realmente espirituais não são confundidos, eles provam uma misericórdia grandiosa de Deus e conhecem os mistérios espirituais de forma diferenciada. Eu preciso dizer que pela graça de Deus, não por méritos pessoais, tenho sido tratado assim pelo Senhor, com clareza, perdão e intimidade. Muitas coisas tentam nos confundir, principalmente no mundo atual quando tanta informação nos chega depressa e em todo o tempo defendendo todo tipo de ideologia, seja do lado que for, seja na área que for. Todos querem ter razão e provarem que seus opositores não têm nenhuma razão, isso está errado na essência pois uma criatura de Deus, seja ser humano ou ser espiritual, nunca está totalmente certo nem totalmente errado. Para não sermos confundidos é preciso que não durmamos num cômodo extremo, mas buscar em Deus o equilíbrio de seu centro (estudamos a respeito em “O mal está nos extremos”). 
      Mas como saber se estamos certos conforme a vontade de Deus? Sim, porque muitos estão convictos e não se sentem confusos ou se acham errados, mas certos que creem de forma mais correta e que não estão sendo manipulados, ainda que acreditem em algo não aprovado por Deus. A resposta está no tempo, ele mostra a verdade, assim para passar pela prova do tempo em paz é preciso crer em Deus, ainda que muitos sejam contra e pareçam ter argumentos bons para desconstruir o que cremos. Mas se cremos em Deus, se o buscamos e ele nos disse que as coisas são dessa maneira e não daquela, ainda que a realidade pareça dizer o contrário, devemos estar firmes e esperar. Deus não deixa os que confiam nele confundidos, ainda que agora pareçam errados, o futuro mostrará a verdade, já os apressados podem se enganar, por não quer crer, mas ver e ver instantaneamente. 
      Noção do quanto se é pecador e profunda experiência com a misericórdia de Deus, em toda uma vida, eis uma característica do realmente espiritual. Ainda que o tempo passe ele não desiste de pedir perdão e de ser grato a Deus por ele perdoa-lo, e eis outra característica dos tolos e rebeldes também relacionado ao tempo, se eles não olham com fé para o futuro também facilmente se esquecem de seus passados errados, assim não dependem da misericórdia de Deus, mas das próprias justiças. O salmista cita “não te lembres dos pecados da minha mocidade”, ele sabe como pesam esses pecados numa alma sensível que quer agradar a Deus, ele se olha e se assume como pecador, e isso o faz provar um perdão, um amor, uma graça, uma misericórdia, singulares e poderosas de Deus. O tolo se esquece do passado e não confia no futuro, eles despreza tudo o que pode depender de fé em Deus e não em suas própria obras e qualidades. 
      Mas o trecho do Salmo 25 citado inicialmente encerra com algo maravilhoso, o grande presente que aqueles que confiam num Deus de todos os tempos e ainda assim atemporal, o segredo do Senhor, ah, esse segredo não é uma liança que Deus faz com qualquer um. Aquilo que tantos desejam e que pagam tantos preços para ter, que buscam em tantos lugares, o homem pode ter, mas entendamos isso corretamente, só depois de crer em Deus, se admitir pecador e se submeter ao Senhor com mansidão. Ser manso e se deixar comandar, e não fazer exigências, e não dar nem sugestões de melhores opções, mas permitir que Deus faça de nossas vidas só o que ele deseja fazer, mesmo que diante de homens pareçamos menores. Para ser manso é preciso ser humilde e abrir mão de vaidades, mas só assim se tem direito ao segredo do Senhor, o segredo que muitos tentam descobrir por trás de teorias de conspiração, de ideologias, de política, de espiritualidade, de ciência, quando querem saber, mas não querem pagar o preço para isso. Deus aos mansos ensinará seu caminho, e só a eles.
      Eu tenho chegado a uma conclusão, nesses meus sessenta anos de vida, eu quero ser espiritual para obedecer a Deus, não importando o que ele queira de mim ou se alguém sabe disso ou não, e no meu caso tenho descoberto que minha espiritualidade deve ficar o mais discreta possível. Não foi fácil concluir isso e mesmo sabendo não é fácil pôr isso em prática, o que é melhor para cada um de nós é sempre o mais difícil a fazer, quando não for mais difícil Deus nos levará em paz com a gente tendo certeza do dever cumprido nessa curta existência no plano físico. Ainda traio esse conhecimento, e quando isso acontece me arrependo e torno a caminhar em direção ao Altíssimo, mas isso é para mim. E pra você, já sabe o que Deus quer que você faça e seja para ser verdadeiramente espiritual? A verdadeira espiritualidade nos faz crescer, nos liberta de fato, nos dá uma paz sem igual, nos entrega uma vida sem hipocrisia e sem incoerências, nos equilibra e nos permite ser bênção nas vidas de quem realmente importa para nós em Deus. 

11. Pecado se vence com vontade!

      “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.” Gênesis 4.3-8

      Ser espiritual é vencer o pecado, esse é o primeiro passo, pecado, contudo, não se vence facilmente nem com fraqueza. Ele é inimigo numa guerra e como tal deve ser vencido com persistência e força, é preciso uma decisão de vontade firme para se obter êxito. Vamos entender melhor isso refletindo na passagem inicial, o segundo relato bíblico da eterna luta da carne contra o Espírito, no primeiro relato Adão e Eva foram vencidos na tentação original, agora são seus filhos que enfrentam uma provação. Abel trouxe como oferta a Deus uma ovelha de sua criação, fruto de seu trabalho, Caim trouxe o “fruto da terra”, algo vegetal que colheu na natureza.
      Abel ofereceu algo que lhe custou um preço, assim como um animal que podia ser oferecido como sacrifício pelos pecados, ele acertou duas vezes e agiu conforme a índole de seu coração, esforçado e temente a Deus. Caim, além de ter trazido algo que não lhe custou muito, trouxe algo que não podia ser oferecido como oferta pelo pecado, isso refletia seu nível de espiritualidade assim como a ausência de sensibilidade para com suas culpas. O humilde entra na presença de Deus pedindo perdão, o tolo acha que o privilégio é dos outros de o terem por perto, assim Deus se agradou de Abel, mas não de Caim. Segue no texto a manifestação do que havia no coração de Caim, distância de Deus, inveja, ira e finalmente homicídio. 
    O mal pior não nasce de um dia para o outro, é construído no tempo, com rancor e descrença, assim o que começa com algo pequeno pode terminar em tragédia. O autor da carta aos Hebreus define o diferencial que havia em Abel, “pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala” (Hebreus 11.4), isso deixa claro que já havia a prática de sacrifício de animal, crendo que isso daria direito ao perdão de Deus pelos pecados. Contudo, o ponto dessa reflexão é a frase, “sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”, ela nos fala sobre a dura guerra que enfrentamos. 
      “Deus ajuda quem cedo madruga”, diz um velho ditado, que nos lembra da sociedade que Deus estabelece com o homem, onde cada um tem uma parte a fazer para que o homem evolua. Não só obras, não só fé, mas ambas, não só o homem, e nem só Deus, mas ambos, quanta generosidade de Deus trabalhar assim, dando-nos oportunidade para fazer parte do aperfeiçoamento de sua melhor criação, nós mesmos. Enganam-se os que pensam que o cristianismo é lugar para covardes e ignorantes, que deixam tudo nas mãos de Deus e não fazem nada, isso até pode ser assim com cristãos equivocados, mas não é para os verdadeiros. Temos que buscar a Deus e crer, mas depois temos que vigiar.
      Não podemos passar vinte e quatro horas por dia orando, em comunhão mais íntima com o Espírito Santo, temos responsabilidades no plano físico para com o mundo, trabalharmos, sociabilizarmos, mantermos família.  Assim, na maior parte do tempo, nossa parte é resistir, com todas as forças, tendo na mente as memórias de todas coisas boas e singulares que já experimentamos com Deus, e no coração a deliciosa esperança de tudo que poderemos ainda viver com o Senhor. É preciso uma mente decidida, já que tudo começa na mente, é ela quem ouve o Espírito Santo e também os espíritos rebeldes, que sempre têm uma outra maneira de ver a vida que não a do Altíssimo.
      Pecados diários são vencidos na mente, ainda que a ideia traga um desejo inicial é preciso força para dizermos a nós mesmos que não queremos pecar para não sentirmos o pecado até suas últimas consequências, o sentimento inicial ainda não é o pecado. Para isso, creiam, a simples frase, “eu não vou fazer isso”, pode nos livrar de problemas bem grandes, e principalmente dos “pecadinhos”, aqueles que nos acostumamos a fazer, mas que entristecem nosso espirito, deixando-o frio para ter uma comunhão íntima com Deus. Não, não é o Espírito Santo que se recente, que se afasta, somos nós que esfriamos, quando mantemos uma consciência cheia de memórias sujas e um corpo machucado pelos vícios. 

      Contudo, para algumas coisas temos que ser rígidos, temos que dizer, sim, “eu não posso nem querer”, pois sabemos que se dermos o mínimo de espaço sucumbiremos. Mas só entendemos de fato a necessidade de dominar nossos desejos quando percebemos o quanto isso nos impede de estar próximos a Deus, como em toda amizade, só mudamos quando percebemos que se não mudarmos machucaremos alguém que nos ama e que queremos amar, ainda que não seja Deus quem sofra com o nosso pecado, mas nós. Interessante a palavra que Deus deu a um Caim mimado e orgulhoso, bem pragmática, “por que está bravo? se agir certo as coisas dão certo, a escolha é tua”, simples, assim. 
      Coração acumulador de pecado, contudo, sempre complica as coisas, Caim não entendeu o conselho de Deus e fez ainda pior, exteriorizando todo o mal represado. O que nos surpreende nessa passagem de Gênesis é vermos um crime tão horrível justamente entre os dois “primeiros” irmãos, que ainda deviam ter em suas memórias lembranças tão recentes de um jardim do Éden onde Deus andava no meio dos homens sem véus e sem filtros. Aqueles primeiros homens sabiam muito mais de espiritualidade que nós, mas saber, só isso, não é suficiente para tenhamos vidas de plena comunhão com Deus. Conhecimento só liberta quando é praticado, com todo o nosso ser, corpo, alma e espírito. 
      De fato poucos souberam tanto como Caim e Abel, eram filhos do “primeiro” casal, mas sabiam o que, da espiritualidade de Deus ou a da serpente? Talvez um soubesse de uma e o outro de outra, talvez na família mítica já existisse o modelo para toda a humanidade, escolhas opostas, se for isso fica bem claro o fim de cada escolha, um morreu como vítima, o outro matou um inocente. Abel é modelo de Cristo, Caim do diabo, penso que assim como é hoje, desde o início da humanidade alguns têm no coração um desejo profundo de voltar a Deus, de buscar perdão, de perdoar, de achar o caminho da paz, mesmo que perca fazendo isso, no mundo e diante dos homens. 
      Abel pagou com a vida por ter um coração do bem, “e também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Timóteo 3.12), ninguém ache que possa ser de fato espiritual e ser um ganhador neste mundo, pagamos preços, mas Deus é pelos espirituais e o “universo” um cobrador implacável para os carnais. Caim tirou a vida de outro para aplacar o mal que não estava no outro, e em mais nada ou ninguém, mas dentro dele, e eis outro procedimento típico de quem não quer admitir o próprio pecado, que não busca a Deus, projeta o desequilíbrio interno no outro, se descontrola e mata. Existem vários níveis de homicídio e muitos não matam o corpo, mas a honra.
      Caim pode ser lido em várias camadas, em uma mais direta não podemos dizer que ele seja o tipo do anti-Cristo, daquele que quer viver sem buscar e adorar a Deus, daquele com intenções escondidas. Os mais sérios e profundos “satanistas” e ocultistas não perdem o controle de forma tão explícita e rápida, como homem comum Caim é o exemplo do tolo, do louco, do fraco, que dá lugar à carne. Mas Caim pode ser interpretado também como o anti-Cristo, em seu momento final e em sua intenção mais profunda e verdadeira, que nega o sacrifico pelo pecado e que mata o inocente, se o bem tem só uma cara, o mal é assim, tem várias caras, ainda que seja trevas no início, no meio e no fim. 
      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne, porque  a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gálatas 5.16-18), a vitória está no Espírito Santo! Se os cristãos dessem de fato liberdade para o Espírito do Altíssimo provariam a vida abundante que prometeu Jesus, quando entenderemos isso de verdade? Quando pararemos de ser só bons religiosos, guardiões de uma palavras linda, mas que é morta se não for vivificada em nós pelo Espírito Santo. Quem não se esforça para viver e deixar viver pelo Espírito, sempre acaba matando alguém. 

12. Deus é Espírito

      “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.” João 7.38-39

      “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” João 4.24

      Comunhão com Deus gera paz e alegria em nossa alma, sentimos muita tranquilidade em nossas mentes e muita alegria em nossos corações (ou nos centros emocionais, estejam eles onde estiverem), dessa forma o que diz ouvir a voz de Deus senti-se muito bem e quer fazer bem aos outros. Quem diz que ouve Deus e sente alguma espécie de tendência violenta ou estranha, que não leve a desejar e vivenciar as melhores virtudes, ou está muito confuso, ou está ouvindo outra voz espiritual ou está mentalmente enfermo. Tenhamos muito cuidado com isso, Deus nos conhece, sabe o que é melhor para nós e sempre respeita nossos limites, ele sempre nos conduz à vida, em todas as esferas, e vida abundante. 
      Rios de água viva, eis uma metáfora perfeita para a maneira como o Espírito Santo pode fazer transbordar de nossos interiores uma satisfação ímpar, uma felicidade sem igual, como águas puras e frescas jorrando de uma fonte sem parar, águas vivas, não parador nem sujas. Isso é vida eterna, que se inicia no plano físico, no mundo, ainda com a gente encarnado, e mesmo se estivermos velhos, cansados, ou até doentes e em grandes lutas e necessidades teremos direito a isso. Isso é a essência espiritual de Deus em nós com liberdade, é a posição que teremos de maneira plena na melhor eternidade com Deus, é aquilo que Deus planeja para o homem em Jesus, o estado que o homem tinha antes de levar no Éden.
      Deus é espírito, e não só essa matéria espiritual que temos dentro de nós, que é espiritual mas está presa à carne, limitada por ela, Deus é espírito em sua mais elevada plenitude, e é para isso que ele nos chama, ainda que tenhamos uma alma e um corpo que tentam nos chamar para valores inferiores. Deus buscamos que o adorem em espírito e em verdade, sim, porque não basta ser uma experiência espiritual, os diabos e os demônios são espirituais, mas são seres ligados à rebeldia e à mentira. Em espírito, pelo Santo Espírito, e assim, em verdade. Tantos adoram em nome de Deus tantas coisas, tantos seres, homens e espíritos, em tantos lugares e de tantos jeito, se entendêssemos de fato o que Deus procura.
      Queremos uma religião, um jeito de sermos espirituais, uma maneira de anular culpas e dores, uma explicação do plano espiritual, o porquê de nossa existência nestes universos? Adoremos ao único Deus Altíssimo, pelo seu Santo Espírito que nos é dado pela salvação em Cristo, só isso basta, essa é toda a religião que agrada a Deus é que de fato é dele de maneira pura. O resto, libertação de vícios, paz, amor para tratar bem as pessoas, justiça para termos um mundo bom para todos, é consequência dos rios de água viva que jorram do interior de quem adora Deus em Espírito e em verdade. Isso é tudo o que precisamos, isso é o melhor que Deus tem, isso é a verdadeira espiritualidade do Deus altíssimo.
    Infelizmente o cristianismo está repleto de adoradores de símbolos, e isso há muito tempo, sim, são símbolos de coisas excelentes, genuínas, de conceitos bíblicos, de doutrinas do evangelho, do próprio Cristo, de sua obra, de seu nascimento, vida, morte e ressurreição, mas ainda assim, símbolos, e símbolos são mortos, são só cópias, ritos, não a coisa real. Ele nos lembram do real, nos ajudam a focarmos nossa fé? Sim, e não despreze quem carrega mini crucifixos em miniaturas no pescoço, Deus sabe o quanto ele ama essas pessoas e atende com carinho seus clamores, me que carreguem o que muitos cristãos protestantes chamam de “ídolos”, como se só o fato de não usarem isso em suas crenças os fizessem melhores crentes.
      Contudo, para que complicar quando na simplicidade e objetividade temos acesso ao real, ao verdadeiro? O Espírito Santo é real, é Jesus, é Deus, por isso tinha que ser enviado aos homens depois que Jesus partiu para o pai. Outras religiões até podem ser vividas pelo melhor do homem, são coisas de homens, são o homem querendo alcançar Deus, são o homem tentando se religar a Deus do seu jeito. Mas o cristianismo é diferente, ele é Deus alcançando o homem, é o jeito direto de Deus, e a verdadeira religião cristã só pode ser vivida pelo próprio Deus em nós, Deus vive em nós através de seu Espírito Santo, por ele nos chama e através dele nos eleva, entendam isso, meus queridos amigos protestantes e católicos.

13. Somos templos do Espírito

      “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Isaías 55.6
 
     “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” I Coríntios 6.19-20 

      “Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.” Gálatas 5.25

      Deus se comunica conosco de maneira espiritual, o Santo Espírito fala ao nosso espírito que depois é interpretado pela nossa alma, através de pensamentos e emoções, que então passa para o nosso corpo que finalmente expressa comunicação para o plano físico, por palavras, imagens ou outros sentidos. Deus sempre ouve nossa oração, mas nem sempre ele pode nos responder de forma mais plena, e isso não é limite dele, mas nosso. O que abriga e interage com o Espírito Santo são nossos seres, espírito, alma e corpo, assim, esses são compõem o templo de Deus, se ele não estiver bem por algum motivo, Deus não pode interagir conosco com total liberdade, não através de construções mais elaboradas. 
      Buscai a Deus enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto, isso nos leva a uma pergunta: Deus está sempre perto, sempre pode ser achado? Não é Deus quem se afasta, somos nós, isso ocorre quando nossos templos estão desabilitados para receberem comunhão plena com Deus. O templo pode não estar adequado por dois motivos, pecado e enfermidade, pecado sai por assunção, confissão e posse do perdão em nosso de Jesus pela fé. Contudo, enfermidades não são pecados, ainda que possam ser efeitos dele, elas precisam de atitudes diferentes que assumi-las com honestidade e anulá-las com perdão. A enfermidade que mais pode limitar uma interação mais ampla com Deus é a mental. 
      Se não estamos “achando” Deus, se ele não está “perto”, e o motivo pode não ser pecado pendente, não se já colocamos nossas vidas em dia com Deus, assim se isso acontecer devemos simplesmente esperar, parar de buscar muitas vezes com uma oração que acaba nos fazendo mais mal que bem à medida que esgota-nos mentalmente. Comunhão espiritual pode ser experimentada em silêncio, e o silêncio de Deus com os que estão em sintonia com ele, santos e em temor, é tão maravilhoso quanto suas palavras, o silêncio da paz do Senhor cura. Contudo, para discernir as palavras de Deus é preciso que estejamos com nossas faculdades mentais sadias, senão não poderemos interpretar a voz Deus com inteligência.
      Quando “Deus se cala” por limite de nossa saúde, algo que pode ser feito, se nossa saúde permitir ao menos isso, é falar em línguas espirituais estranhas, isso não exige esforço racional, é o Espírito Santo falando diretamente ao nosso espírito e depois expressado pelo nosso corpo. O verdadeiro dom de línguas não cansa e é bastante terapêutico para relaxar nossas mentes, algo que poucos sabem ou utilizam. Contudo, é preciso que entendamos isso de forma bem clara, mas não sofrermos desnecessariamente, se não estamos em pecado e Deus se cala, podemos nos dar ao direito de nos calar sem nos sentirmos em pecado ou pensarmos que o Espírito Santo está “ferido” conosco.
      Ficarmos quietos e esperarmos pode ser só obediência a Deus que está nos falando assim: “meu filho, descansa, se refaça, não tenho nada a dizer agora, mas você está me agradando, não está fazendo nada de errado, esteja em paz”. Neste mundo não somos seres espirituais puros, com aquele corpo que Jesus tinha depois que ressuscitou e por um tempo ainda ficou por aqui orientando e consolando seus discípulos, amigos e parentes próximos. Nosso espírito até pode ter experiências bem profundas com o Espírito Santo, mas Deus precisa de nossa estrutura física e mental para nos comunicar muitas coisas, por isso é tão importante cuidarmos bem dos nossos templos. 
      Se eles não estiverem bem, ainda que não estejamos em pecado e que Deus queira nos falar muitas coisas ele não falará, enquanto não colarmos nossos templos em ordem. Somos seres físicos bem complexos, principalmente naquilo que nos faz sentir alegria, tristeza, expectativa, calma, enfim uma variedade de emoções. Essas percepções que depois manifestamos com jeitos, expressões corporais, atitudes e palavras, acontecem junto com produção e administração, por exemplo, de hormônios e outros elementos de nossos corpos. Não estamos sempre emocionalmente cem por cento, e muitas vezes mesmo que nada real de ruim esteja ocorrendo, ainda podemos nos sentir mal, sem nenhuma explicação racional. 
      Por isso é tão importante que entendamos o princípio básico da nova aliança em Cristo, que diz que o justo viverá pela fé, se não estivermos em pecado e nem enfermos, e principalmente não mentalmente enfermos, bastará uma oração de fé, com o coração cheio de temor e humildade, para vermos, mesmo uma condição física de muito desânimo, revertida em entusiasmo. Já provei nem uma nem dez vezes isso, já provei isso várias vezes, bastou que eu desse um paço de fé para Deus, que eu achava estar distante e calado, me falar ao coração de maneira maravilhosa. Quando Deus fala é fácil saber, é rápido, é simples, uma única frase, e é extremamente curativo e consolador.
      Uma coisa eu aprendi, andando com Deus por algum tempo, quando sinto um desejo muito forte de buscar a Deus, eu paro o que estou fazendo, procuro um lugar privado, caso não esteja sozinho, e oro. Clamo a Deus com todo o coração pelas minhas prioridades no momento e adoro ao Senhor. Alguém pode dizer, “mas isso significa que só devemos orar quando sentimos”? Não, devemos orar sempre, e quando não sentimos devemos buscar mesmo que seja só pela fé, como refletimos antes. Mas vou compartilhar outra coisa que aprendi, o Espírito Santo sempre nos chama para orar no momento certo, pelas razões corretas e para os objetivos melhores, o cristão maduro vive, anda no Espírito e não tem falta de nada. 
   
14. Espiritualidade e unção

      “Tu, pois, toma para ti das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him. E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção.
      E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do testemunho, e a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os seus utensílios, e o altar do incenso. E o altar do holocausto com todos os seus utensílios, e a pia com a sua base. Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo. Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio.” 
Êxodo 30.23-30

      Unção, como esse termo tem sido usado atualmente em muitas igrejas evangélicas, mas o que é unção? Quando alguém de fato está ungido por Deus, e sendo assim, usado por Deus e vivendo, na prática e não só nas palavras, como um ungido de Deus? Para muitos, no meio cristão, algo que está diretamente relacionado com a mais alta espiritualidade é a unção, se acham que alguém está ungido então concluem que com certeza esse alguém é uma pessoa muito espiritual. A definição do dicionário diz que unção é “ato ou efeito de ungir, de aplicar óleo consagrado numa pessoa”, ou o “ato ou efeito de untar, de esfregar com unto, gordura, untadura, untura”, assim o termo unção está ligado ao uso religioso do óleo. 
      A passagem bíblica mais reveladora sobre unção é a de Êxodo 30, onde Deus dá a Moisés a receita para produzir o óleo que seria usado na unção dos objetos e locais do templo assim como dos sacerdotes, “principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him”, isso para criar “o perfume composto segundo a obra do perfumista”, o óleo. Nas medidas atuais seriam mais ou menos assim as proporções: 5,75 kg tanto de mirra quanto de cassia, 2,88 kg tanto de canela quanto de cálamo, e 4 litros de azeite. 
      Vejamos as características dos elementos que compõem esse óleo. A Mirra é uma planta espinhosa, medicinal e usada como cicatrizante, anestesia e no tratamento rejuvenescedor. A canela aromática (cinamomo) além de medicinal, pode ser usada no alimento e tem um cheiro marcante. O cálamo aromático (ou cana cheirosa ou jasmim azul) é uma planta pequena, aquática e rara, é usada para purificação da água que é consumida, mas também tem indicação como cicatrizante, seu cheiro é agradável, assemelha-se a tangerina, mas seu sabor é amargo e picante. A cássia (ou chuva-de-ouro) ao mesmo tempo limpa, ornamenta e perfuma o ambiente. O azeite é o óleo da oliveira, ele reduz o risco de infarto.
      Assim, o óleo têm características diferenciadas, é feito de elementos especiais, não são encontrados com tanta facilidade, são especiarias, são elementos que exalam cheiros agradáveis e únicos, é perfumado e feito com plantas aromáticas. O que dá o corpo ao óleo é o azeite de oliva, que confere ao produto uma consistência gordurosa, líquida mas insolúvel na água, que faz com não seja derramado com facilidade, permanece por mais tempo sobre a superfície. Por isso o termo untado a óleo, e não molhado, a água, por mais pura que seja, não tem cheiro e facilmente escorre e seca. Todas essas características do óleo israelita para unção são metáforas para a unção espiritual do Espírito Santo.
      O óleo nos passa ideia de limpeza, e em se tratando de coisas espirituais, de santidade, mas é mais que isso, se a metáfora fosse só essa bastaria lavar as coisas religiosas com água limpa. Ele tem um cheiro forte e agradável, isso nos passa a ideia de uma limpeza que é compartilhada, todos no mesmo espaço ou próximos sabem quando alguém usa perfume, pelo cheiro. Em termos espirituais nos fala de uma santidade feliz, alegre, exultante, que transborda o “perfumado” (o ungido) e que compartilha sua experiência com os outros. Repetindo a metáfora da água, também usada para identificar o Espírito Santo (“água viva” em João 4.10-14), ela alimenta o que a prova, mas numa experiência mais discreta e pessoal. 
      Mas além da limpeza e do cheiro, o óleo tem uma cor, brilhante e dourada, como o ouro, o que confere realeza a quem o usa, em termos espirituais isso no remete a Deus, o ungido foi tocado por Deus, quem tem essa experiência não a esquece facilmente, fica marcado com ela. Novamente comparando, a água vai e seca com mais facilidade, o óleo não, fica na superfície, não some tão depressa, e além disso, o óleo da unção tinha efeitos fisicamente curativos. Dessa forma entendemos que a unção do Espírito Santo santifica, diferencia socialmente, abençoa os outros e também cura as feridas emocionais. Para entendermos tudo isso temos que nos lembrar das três áreas que compõem o ser humano.
      Com certeza a unção de Deus mexe com nossos sentimentos, mas ela é muito mais que emocionalismo, sentimentos vêm e vão, e facilmente cedem lugar a seus opostos, o efeito emocional da unção de Deus é diferente. Como em tudo na experiência com Deus através de Cristo, fé é a chave, assim a verdadeira unção nem sempre nasce de um momento em que estamos felizes, ao contrário, pela fé podemos experimentar uma unção de Deus num momento de extrema tristeza e solidão, onde tudo contribui para que não nos sintamos bem. Mas ainda assim, o Espírito Santo vem e nos encontra, nos enche, nos alimenta, não, meus queridos, é muito mais que sentimento da alma, é unção, o santo óleo espiritual do Altíssimo.

      “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” Salmos 133

      “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” João 13.34-35

      Existe uma unção no mundo, a “unção do mundo”, e ela é bem forte, artistas a têm, com ela eles hipnotizam multidões em estádios e na internet, com ela eles cantam, dançam, tocam, com um carisma diferenciado. Essa unção baseia-se na alma, uma emoção humana usada com muita inteligência e manifestando-se através de talentos naturais do corpo, como oratória, canto, técnica musical, poética etc. Essa unção tira do ser humano o máximo que ele pode ser e fazer sem o Espírito Santo, o diabo pode ou não ter alguma ingerência direta nela, e na verdade isso nem importa, se não é de Deus, sempre dá glórias ao diabo. Essa unção é tão forte que seduz mesmo homens em púlpitos de igrejas cristãs. 
      A verdadeira unção nasce num espírito tocado diretamente pelo Espírito Santo de Deus, não nasce na alma, seja por emoção, por mais alegria e euforia que se sinta, ou de conhecimento, por mais profundos que sejam, também não nasce no corpo, por cantar, bater palmas, dançar ou correr. O espírito ungido, e ungido pelo Espírito Santo não por outros “espíritos”, entrega à alma pensamentos e sentimentos ungidos, assim entendimentos e emoções são efeitos da unção genuína de Deus, não causas. A alma por sua vez manifestará no corpo, por sons, imagens, outros sentidos e movimentos, os efeitos de fato ungidos pelo Santo Espírito de Deus, com equilíbrio e bom senso. 
      Será que todas essas evidências podem ser notadas em muitos que chamamos de ungidos atualmente? Alguns cheiram forte, mas um perfume barato que ainda que agrade no início depois enjoa, nos repugna e até nos dá dores de cabeça, esses até controlam seus corpos, mas não suas línguas, falam e falam, mas nada de fato profundo. Outros até demonstram uma “consistência oleosa duradoura” em suas “unções”, mas depois que expõem fisicamente seus êxtases não seguram mais nada de espiritual, a lembrança que teremos deles é apenas de gente escandalosa, sem domínio próprio, mais com vontade de exibir uma espiritualidade (falsa) como vaidade, que testemunhar de Deus. 
      Meus queridos, todos nós temos direito a infantilidades espirituais, crianças devem ser respeitadas e cuidadas, muitos de nós quando experimentamos dons pela primeira vez nos encantamos e podemos até perder um pouco o controle. Por isso experiências de busca do batismos do Espírito são mais adequadas de serem feitas em cultos mais íntimos, de preferência só com os cristãos já estabelecidos, não em cultos evangelísticos. Sim, na Bíblia as pessoas provavam dons na conversão e em cultos abertos, mas hoje em dia não é sabido agir assim, deixemos as crianças, mesmo espirituais, serem crianças, mas isso no tempo das pessoas serem crianças, e sempre orientado-as a amadurecerem. 
      A resposta é não! Muitos que se apresentam como “ungidões”, que muitos aplaudem como ungidos, não o são, ainda que preguem e cantem com uma emoção, com uma convicção, que nos impressione emocionalmente muito fortemente. Muitos não imaginam a qualidade moral das vidas íntimas que muitos “gospel famosos” têm de fato, o que fazem depois de participarem de cultos como estrelas máximas, e nem queiram saber, é nojento. Para discernir o critério é sempre um, pelos frutos vos conhecereis (Mateus 7.20-23), o falso não ficará de pé na congregação, não para sempre, o tempo o revelará, mas os justos não devem esperar pelo tempo, devem buscar em Deus discernimento e confrontar esses falsos ungidos já! 
      A mais forte e pura unção nos leva à mais elevada espiritualidade, e como vimos neste estudo, “Por que ser espiritual?”, a mais elevada espiritualidade deixa santidade, paz e amor, depois que nos posicionamos nela, então nos leva a temer a Deus de uma maneira única. Esse temor exige de nós discrição, não exposição, nessa disposição queremos nos calar, não falar, desaparecer, não aparecer, para que Deus seja adorado, mais ninguém. A mais elevada espiritualidade nos permite conhecimentos espirituais sérios, e isso não se revela assim facilmente, a qualquer um, na verdade a espiritualidade mais alta se guarda na mente e no coração, como a pedra mais preciosa, o primeiro passo para ela é a verdadeira unção. 
      O Salmo 133, contudo, entrega um ensino singular, interessante como o óleo da unção é comparado à comunhão que se pode ter com irmãos, sejam esses irmãos de sangue, em Cristo ou amigos queridos, ainda que não cristãos oficiais. Isso nos remete diretamente às palavras de Jesus nos evangelhos, quando ele ensina que o amor seria a marca de seus seguidores, bem, se unção não nos conduzir a uma espiritualidade que nos leve a amar, para nada serve. Quando pensamos em unção como amor, pensamos em algo que não serve só para nos beneficiar, nos mostrar, mas abençoar os outros, honrar os outros e servir aos outros, Jesus como homem encarnado vivia essa unção, uma unção que não escandaliza, mas ama.

      “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem.” II Coríntios 2.15

15. O Espírito Santo é espiritualidade

      “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos.” 
Atos 1.4-9

      “E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.“ “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas.” 
Atos 2.2-6, 38 e 41

      “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado. Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” 
João 16.7-14

      Não podemos estudar o assunto espiritualidade sem falarmos sobre o Espírito Santo, no cristianismo genuíno espiritualidade é a pessoa do Espírito Santo. O texto inicial de Atos 1 é o registro das últimas palavras de Jesus neste mundo, já ressuscitado e com um corpo transformado, dando as derradeiras orientações a seus discípulos, elas foram especificamente sobre o Espírito Santo. A orientação de Cristo deixa claro que os homens devem passar por uma experiência clara e marcante, que os habilite para testemunharem do evangelho, que não seja só um comprometimento público com uma religião pelo rito do batismo, nem só um entendimento racional do que é o evangelho e de que ele foi adotado como estilo de vida. A descida do Espírito Santo em Atos 2 foi bem mais que isso e teve efeitos poderosos, físicos, no local onde os discípulos estavam, nas vidas dos discípulos, assim como nas vidas daqueles que ouviram os discípulos testemunharem na plenitude do Espírito Santo. 
      É claro que como evento inaugural, a descida do Espírito Santo na festa de Pentecostes em Jerusalém, deveria ser diferenciada, isso não acontece hoje com todos os que recebem o selo do Espírito Santo, contudo, é importante que entendamos que o grande debate teológico presente nos evangelhos e principalmente nas epístolas paulinas se trata de ensinar o quanto a nova aliança pela fé em Cristo é superior à velha aliança pelas obras, ritos e sacrifícios de Moisés. Muitos dos textos que usamos como argumentação para provar muitas teologias relacionadas a temas atuais, na verdade, originalmente, não estão no mesmo contexto no novo testamento, e muitos podem não ter nada a ver com as relevâncias atuais. Mas por causa desse debate é que foram necessários tantos sinais e milagres, e em minha opinião, não para provar o poder de Deus, Deus não precisa disso, mas a legitimidade de Jesus como seu filho e, mais ainda, para convencer homens incrédulos e presos a tradições.
      Mas a promessa de Jesus em João 16, feita antes de sua crucificação, deixa claro que a religião que fundaria proporcionaria ao homem bem mais que a escolha de uma ótica metafísica, de uma estética de Deus para se adorar, de ritos a se fazer a fim de se ter onde colocar a fé e entender o divino e a existência, assim como de um jeito de se livrar de culpa e obter uma paz interior que vá além das satisfações do corpo, a grande diferença do que Jesus deixou após salvar o homem é o Espírito Santo. Muitos até professam isso com a boca, mas na prática não vivem à medida que confiam mais nos textos tradicionais da Bíblia que numa relação viva com o Espírito Santo, e não, não estou diminuindo o valor do cânone bíblico, mas estou dando ao Espírito Santo o valor que Jesus deu. Jesus diz algumas coisas muito importantes sobre o Espírito Santo, que chama de Consolador, talvez a principal característica do Espírito de Deus.
      Nos consolar no caminho tão curto e muitas vezes dolorido que é nossa passagem por este mundo, só isso bastaria, só isso é o que precisamos tantas e tantas vezes, quando buscamos a Deus com um problema que parece impossível de ser resolvido, sozinhos e sem que ninguém de fato possa entender nossa situação e muitas vezes nem estar interessado em saber ou nos ajudar. Um Deus que nos consola, isso diferencia o cristianismo de qualquer outra ótica religiosa, um Deus pessoal e que sente o que sentimos, que nos faz companhia, não só uma energia impessoal que nos leva a crermos em nós mesmos, talvez isso baste para os “fortes”, mas os fracos precisamos de mais, de um pai, de alguém de quem possam depender. Mas será que isso é fraqueza ou é de fato a verdade sobre nós, verdade que os espíritos das trevas escondem atrás do álibi que o forte não precisa depender de ninguém só dele mesmo? Respeito quem pensa assim, que se acha “forte”, mas eu já entendi que não sou e sou totalmente dependente de Deus e de seu Espírito.
      Na parte seguinte de João 16 Jesus diz que o Espírito Santo convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado porque o mundo não crê em Jesus, da justiça porque Jesus voltou para Deus, e do juízo porque o príncipe do mundo está julgado, vamos entender isso um pouco mais. Ninguém pode convencer o homem que ele é pecador e precisa de salvação, só o Espírito de Deus que está sobre a Terra, mas ele só faz isso se o homem permitir. Só Jesus através de seu Espírito pode confrontar o homem e convencê-lo da necessidade de justiça, porque não existe nenhum justo no mundo para fazer isso. Isso ensina que não devemos nos usar como referência para julgar e condenar alguém, ainda que devamos persistir em viver o evangelho. Contudo, existe um juízo, porque pela justiça de Deus existe alguém que nos dá a oportunidade de escapar dele, o Espírito Santo, e ninguém ficará impune pelo que tiver praticado aqui, o mal maior, o diabo, a quem foi dada a autoridade sobre este mundo, já está julgado e condenado. 
      A última parte de João 16, contudo, é reveladora, “ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora, mas quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade“, eu afirmo que o maior erro que os cristãos, não o mundo, mas os da Igreja cometem, é desprezar de alguma maneira o Espírito Santo. O que muitos chamam de aprender com Deus é só conhecer intelectualmente o princípio da doutrina através da Bíblia, e o que outros chamam de plenitude do Espírito Santo é só experimentar emocionalmente o começo de uma experiência espiritual genuína que poderia ir muito mais além se as pessoas tivessem fé e dessem menos importância à tradição de homens. Por que ser espiritual? Para darmos liberdade ao Espírito Santo, o único que pode nos levar ao conhecimento de toda a verdade, verdade que nem Jesus revelou os seus mais próximos simplesmente porque eles ainda não estavam preparados. Nós, contudo, já estamos preparados, e há algum tempo. 

16. A espiritualidade dos primeiros cristãos

      “E, pondo-os no meio, perguntaram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto? ...Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós... E, chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus... Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus, porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido.” Atos 4.7, 10 e 18-20

      Se a verdadeira espiritualidade é a pessoa do Espírito Santo com liberdade em nós pelo nome de Cristo, o registro bíblico que mostra os frutos que esse Espírito deu aos primeiros cristãos no livro de Atos dos Apóstolos, é o testemunho direto e puro dessa espiritualidade. Ela tinha várias características, como manifestação de feitos milagrosos físicos, assim como conversão de grupos grandes de pessoas ao evangelho, conforme esse saía de Jerusalém e ia sendo pregado em boa parte do mundo do primeiro século, com Pedro e João, com Paulo, Timóteo e outros. A reflexão a seguir é sobre um dos primeiros frutos da espiritualidade do Espírito Santo.
      Após terem curado um coxo e pregado o evangelho (cerca de cinco mil pessoas creram), Pedro e João foram interrogados pelos líderes da religião de Israel que estavam num dilema, não podiam soltar os dois porque iam contra aquilo que eles entendiam ser suas crenças, mas também não podiam prender porque o povo tinha presenciado o milagre e sabia que era genuíno. Dessa forma soltaram os dois, mas os exortaram que não pregassem mais o evangelho, foi então que eles responderam com as palavras do verso 20. Mas o que incomodava tanto os sacerdotes, os saduceus, os escribas e outros da linhagem do sumo sacerdote, em relação ao evangelho? 
      Os versos 7, 10 e 18 resumem o incômodo, representantes de uma velha religião não aceitavam que outros tivessem mais autoridade que eles e que dissessem que essa autoridade vinha de Deus. Isso mostra claramente a obsessão que o homem tem para se achar dono exclusivo de certas coisas, principalmente de “verdades” espirituais. Isso, todavia, não foi exclusivo de líderes da velha religião judaica do primeiro século, o próprio cristianismo, à medida que conquistou o mundo, seja pelo catolicismo ou pelo protestantismo, também adquiriu essa arrogância. Mas alguém pode perguntar, “mas o cristianismo não prega Jesus, de fato a única autoridade de Deus para salvar”?
      Ainda assim como cristãos não podemos ter essa arrogância, mais ainda, é justamente por sermos aqueles que pregam o evangelho que não devemos ter essa arrogância, ainda que creiamos num Jesus como único caminho, verdade e vida. Mas se é difícil para um homem comum não ser arrogante, muito mais para o que provou o evangelho, não deveria ser, se o cristão continuasse crescendo, mas é para aquele que passa anos como uma criança espiritual, que recebeu as bases da doutrina e não se aprofundou mais nela pelo Espírito Santo. Assim, ainda que de um jeito mais discreto, os cristãos de maneira geral, sempre recriminaram os que pregam autoridade divina que não venha deles.
      Temos que entender e aceitar uma coisa sobre Deus se manifestando ao homem em pecado, o Senhor age através de um processo gradual, que se aperfeiçoa com o tempo. Aquela comunhão que o homem podia ter com Deus, nos ensinada no livro de Gênesis, foi perdida com a escolha do pecado, e de forma radical. Como sempre, quando o pecado entra, o ser humano se rebaixa muito, perde direitos e honras, suja-se. Logo em seguida à expulsão do homem do Éden já vemos uma cena de assassinato, e de um irmão matando o outro, assim o primeiro fruto de qualidade do qual deveria descender toda a humanidade, Abel, não viveu muito, Caim o matou e foi expulso. 
      Depois Set nasceu para dar continuidade ao plano de salvação de Deus, Abraão foi o descendente de Set para o qual Deus fez a promessa de um povo grandioso e especial que teria uma aliança com ele e a oportunidade de testemunhar sobre Deus no mundo. Nesse tempo todo o homem já tinha o costume de oferecer sacrifícios de animais e de outras coisas a Deus para obter perdão de pecados e outras graças. Mas foi só com Moises que uma família se tornou uma nação e recebeu a Lei e os protocolos para sacrifícios num templo que deveria ser meticulosamente construído, manifestando-se assim no mundo uma religião formal para religar o homem a Deus.
      Contudo, foi só em Jesus que Deus deu ao homem a “religare” definitiva, completa e eterna, nesse ponto da reflexão, podemos fazer uma pergunta: por que demorou tanto tempo, desde o primeiro homem mítico Adão até o primeiro século de nossa era, para que isso acontece? Porque o homem não estava pronto, mas ele está pronto hoje? Não, para conhecer toda a verdade sobre espiritualidade não está, ainda que em Cristo ele já tenho o meio de ter acesso direto ao pai celestial. Assim, a espiritualidade dos primeiros cristãos, por mais poderosa que nos pareça, também era algo a ser aperfeiçoado, numa revelação progressiva do Altíssimo à sua criatura à medida que ela crescesse no espaço e no tempo. 

17. Uma espiritualidade gradativa

      Parece que por mais excelente que pareça a novidade de Deus nesse mundo, ela sempre perde o encanto, Jesus nunca deixará de ser o salvador, isso é para sempre, mas a mesma arrogância que tinham os líderes da religião de Israel no primeiro século, que os levou a matarem o Cristo e a perseguirem os primeiros cristãos, também existe hoje em evangélicos. O princípio nunca mudou desde a queda de Adão, Moisés legalizou o sacrifico de animais dando à humanidade uma metáfora do verdadeiro sacrifício que ocorreria com Jesus, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Mas é só isso? Não, isso é só o início, é só o meio que nos dá direito a entrar na presença de Deus para começar a aprender com o Espírito Santo. 
      Contudo, uma velha mentalidade precisa morrer para dar lugar à nova, e em seu final, a velha se torna mais arrogante e resiste à nova com violência. Isso ocorre hoje no mundo e vemos claramente no Brasil, o que já existia de forma velada e que não foi corrigido ganhou espaço, saiu dos templos e invadiu a política à medida que achou representantes que encarnassem o equívoco, que mais que uma arrogância é uma heresia. O resultado é uma guerra ideológica, que do campo verbal facilmente pode cair no físico. Sim, os antigos líderes religiosos de Israel eram intolerantes religiosos, mas um cristianismo desviado, que já provou isso na inquisição católica, também prova isso no meio protestante atual. 
      Um evangelho que foi oferecido à humanidade como o melhor e mais eficiente caminho para a espiritualidade, torna-se só uma ideologia para satisfazer a vaidade de homens que se acham donos da verdade e que querem que todos pensem como eles pensem, algo que nem Deus exige de ninguém. Apesar disso tudo não tem como a gente não se emocionar com a declaração de Pedro e João em Atos 4.10, “seja conhecido de vós todos... que em nome de Jesus Cristo... é que este está são diante de vós”, que autoridade sincera e poderosa, pura e nova, não como as palavras de muitos imitadores atuais, envelhecidas, manipuladas, com segundas intenções e principalmente no tempo errado.
      Os tempos são outros, Deus não mudou, mas o homem, sim, e esse precisa de uma palavra renovada de Deus fornecida não por interpretação tradicional da Bíblia, mas pelo Espírito Santo. Muitos ainda pensam que a melhor expressão do evangelho é experimentada com uma fé enorme que realiza milagres, como o que Pedro e João realizaram em Atos 4. Mas vou dizer algo que talvez espante alguns, um grande erro nas igreja evangélicas atuais é que existe fé demais, e fé demais, perdoem-me o trocadilho, fede. Interessante que existe muita fé e ainda assim poucos milagres genuínos são realizados. Por que isso acontece? Porque Deus não age mais assim, e isso porque a lição sobre fé já foi aprendida.  
      Hoje o homem sabe lidar com valores subjetivos e não só olho por olho e dente por dente ou trocar valores morais por materiais. Ele entende que adultério não é só o ato em si, mas que mesmo o desejo não realizado que existe na mente já é adultério, ele sabe que não precisa matar um animal para ter perdão, basta crer no sacrifício de Cristo. O homem entendeu que existe um mundo mental e espiritual, o homem entendeu espiritualidade e espírito, o homem entendeu a fé, assim ele já está pronto para aprender coisas novas. Ênfase na fé era de suma importância no início do cristianismo porque era necessário desconstruir uma velha religião baseada em obras, por isso tantos milagres e tantos textos defendendo a fé. 
      Todavia, a ênfase exagerada na fé que se dá hoje só tem fortalecido o humanismo, feito o homem crer em sua fé, não em Deus, levando-o a pensar que basta crer para ter. “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (Atos 4.20), isso nunca muda, mas o que de fato temos visto e ouvido de Jesus? O que de fato tem sido feito por Deus e não só por convicções humanas e mesmo por “intercessões diabólicas”? O que de fato Deus tem feito e que não é só fantasias ou invenções de homens em nome de Deus? O que de fato Deus quer fazer para o ser humano do século XXI? Se é que entendemos o que é o homem atual e não queremos que ele seja alguém infantil ou ultrapassado. 
      Eu posso só responder por mim, eu sei o que tenho ouvido de Deus em oração, sincera, profunda e constante, quando o Espírito Santo me compunge à santidade e à humildade, eu sei o que tenho visto de Deus em minha vida, em sessenta anos de existência e com mais de quarenta de conversão ao evangelho, em minha vida e nas vidas de minha mãe, esposa e filhas. Eu sei e isso não posso negar, por isso o “Como o ar que respiro” existe, para testemunhar a minha verdade na verdade maior do Altíssimo, esse espaço não tem razão de ser na busca de fama ou para convencer alguém a pensar como eu penso, mas só em dar testemunho, quem quiser que tire, ou não, suas própria conclusões. 

18. Espiritualidade e o tempo

      “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17.3

      “Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.“ Mateus 19.30

      “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” Mateus 22.14

      Amo João 17.3, é o texto lema do “Como o ar que respiro”, foi por ele que comecei o blog em 2010. Ele revela um dos mistérios mais importantes da Bíblia, senão o mais, ele responde à pergunta, “o que é a vida?”, e mais, nos diz muito sobre a verdadeira espiritualidade. Vida eterna e verdadeira espiritualidade, que são a mesma coisa, é conhecer a Deus como único Deus e Jesus como o enviado desse Deus para nos salvar. Novamente enfatizando, o sentido de conhecer a Deus no texto não é um conhecimento intelectual, mas espiritual, não é adquirir doutrinas, mas se posicionar espiritualmente.
      João 17.3 diz muito sobre a relação entre tempo e espiritualidade, porque conhecimento espiritual não está atrelado a tempo no plano físico, mas só a virtudes que nos colocam numa posição espiritual instantaneamente. Conhecer a Deus não é nos enchermos de informações, mas nos esvaziarmos delas e permitirmos que o Espírito Santo nos encha, quando estamos nessa comunhão não há tempo, e mesmo o pouco tempo nos dá todo o tempo do mundo. Conhecer a Deus não nos faz superiores aos homens, mas próximos ao Altíssimo, à medida que nos liberta da morte que é o pecado no tempo e nos dá vida eterna. 
      Para o evangélico comum ou é céu ou é inferno, para o católico ainda existe a possibilidade do purgatório, onde alguém passa um sofrimento no plano espiritual, mas passageiro, posição que pode ser mudada mesmo por influência da oração dos vivos, isso, repentinos, conforme a teologia católica. Os espíritas kardecistas e outros religiosos orientais vão além com o conceito da reencarnação, mortos podem tornar a viver no mundo com o mesmo espírito, mas em corpos diferentes, assim não existe céu nem inferno eterno, mas apenas tempos para que a pessoa reflita, mude de atitude e cresça espiritualmente. 
      Os protestantes são os que menos valorizam tempo para proporcionar evolução ao ser, para eles fé em Cristo é tudo. Cristo como único e suficiente salvador eterno é a bênção maior da verdadeira espiritualidade, mas que interpretado pelos homens pode ter um lado bom e um lado ruim. O lado bom é a segurança que independe de homens e de créditos pessoais, mas só de Deus, dando a ele toda a glória por isso. Esse lado bom é tão bom que compensa todos os outros lados, que são mais equívocos, que lados ruins, mas o lado menos bom é que muitos cristãos podem ser tornar mimados.
      Isso tem acontecido principalmente nos tempos atuais, quando o pentecostalismo se populariza, junto de suas ramificações hereges como a teoria da prosperidade, vemos nos últimos tempos crentes ociosos e pouco afeitos à caridades. Com ocioso não quero dizer vagabundo, não é isso, todos trabalham, contudo, deixam de fazer algumas coisas que são partes dos homens achando que é parte de Deus fazer. Por quê? Porque creem e acham que isso basta. Contudo, viver neste mundo é uma oportunidade especial de se viver no tempo e Deus tem um importante propósito com isso, para à salvação e para o galardão. 
      Talvez o texto mais relevante no novo testamento sobre tempo seja o do final de Mateus 19 (também presente nos evangelhos de Marcos e de Lucas), Jesus usa um antagonismo para exortar aqueles que por alguma vaidade possam se achar melhores que outros, ou com mais direitos, à eternidade e à espiritualidade. Chegar antes não basta, muitos vêm depressa para igrejas, mas nunca de fato mudam de vida, é preciso chegar com as vestes certas. A declaração no final da passagem de Mateus 22.1-14 ressalta isso, todos são convidados, e alguns no último momento, mas só os vestidos adequadamente podem ficar.
      Podemos precisar de um longo tempo neste mundo para purificar nossas intenções e nossas ações, enquanto outros já estão em igrejas, muitas vezes posando de cristãos, mas com vidas duplas, em hipocrisia e mentiras. Não nos apressemos, principalmente diante dos homens, quem salva é Deus, quem nos conhece é Deus, quem nos veste com vestidos brancos lavados com o sangue de Cristo é Deus, e tempo, para Deus, nada significa. Não se ganha espiritualidade por tempo de serviço em religiões, mas com corações humildes que querem agradar ao Altíssimo indiferentemente se os homens sabem ou concordam. 

19. Tempos: de salvação, de galardão

      “E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” Lucas 23.39-43

      Julgamos a nós mesmos e aos outros pelo tempo, pensamos: “esse é tão novo e já tão bem sucedido”, ou, “aquele já passou do tempo de tomar jeito”, ou ainda, “se eu tivesse a cabeça que tenho hoje há vinte anos atrás”. Assim achamos que um ser humano melhor é aquele que aproveitou o tempo mais eficientemente, que levou menos tempo para acertar, que conquistou mais em um tempo menor. Mas será que é assim que Deus pensa? Será que Deus nos julga pelas referências de tempo deste mundo? Qual de fato a importância do tempo em nosso crescimento, em nossa espiritualidade?
      Em nosso crescimento espiritual pessoal o tempo não têm qualquer importância. Se levamos um ano, cinco, dez ou trinta anos, para entendermos e praticarmos certas coisas, não importa, levaremos para a eternidade a melhor posição espiritual que tivemos no mundo e na qual permanecemos pelo maior tempo que nos foi possível, não importa quanto levamos para isso. Também não importa o quanto beneficiamos outros com nossos crescimentos, não para a salvação e direito ao céu, por isso não devemos julgar ninguém, quem sabe o que alguém decidiu diante de Deus em seu último instante de vida aqui?
      O exemplo do segundo crucificado com Cristo na passagem inicial ensina-nos isso de forma clara, Jesus prometeu ao condenado o paraíso imediato, por que isso? Porque Jesus sabia que naquele homem havia um coração arrependido e crente, pronto para a melhor eternidade com Deus, ainda que tivesse passado uma vida no erro, mesmo que estivesse sendo crucificado para pagar o preço de seus erros para o mundo. Isso revela o poder da fé no nome de Jesus e a força que existe num posicionamento pessoal de mudança de vida, posicionamento muitas vezes desconhecido dos homens, mas sabido por Deus. 
      Tempo importa aqui, no mundo, no plano físico, e nas referências materiais, mas essas só construirão valores também materiais, que poderão ser usufruídos aqui, não na eternidade espiritual. Assim, esses valores poderão beneficiar não só a nós como aos outros e é claro, serão vistos e conhecidos por muitos, que poderão nos colocar em alta consideração por causa disso. Mas até que ponto esses valores abençoam os outros espiritualmente? Muitos recebem conforto e bens, mas não recebem o verdadeiro amor, porque quem os criou teve tempo para muitas coisas, menos para amar, deu coisas, não afeto. 
      Obviamente de imediato alguns só precisam de um prato de comida, e quem lhes dá isso pratica uma obra que abençoará não só ao corpo, mas também ao espírito, só com o mínimo de saúde física podemos ter saúde mental para buscar saúde espiritual. Se pessoalmente um instante pode bastar para mudar nossas vidas, o tempo nos dá a oportunidade de abençoarmos outras vidas neste mundo. Isso será importante na eternidade? Não para salvar, ninguém é salvo por obras, mas para nos graduar espiritualmente, o que a teologia protestante chama de galardão, conceito que os evangélicos pouco se atém.
      Mas, talvez, nossa existência aqui neste plano, que às vezes parece interminável e outras vezes rápida demais, seja só um instante na eternidade, um grão de areia na ampulheta divina, para que somente uma coisa nós façamos, nos dobrarmos a Deus. Cada um é dobrado de um jeito, cada um tem algo a ser quebrado para que depois busque conserto através de Jesus, cada um de nós tem algo único e diferente que precisa ser revelado pela luz do Espírito Santo. Se entendermos esse instante, não morreremos, apenas passaremos daqui para o plano espiritual em Deus, e quem parte nele continua nele, para sempre. 

      “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” I Coríntios 3.11-15

      A passagem acima nos ensina sobre o galardão que os salvos ganharão não eternidade. Que metáforas representam edifício, os materiais e o fogo? O edifício é nossa existência no plano físico, o sábio se colocará sobre Jesus, pisará na rocha, não sobre religião nem sobre o materialismo, mas naquele que pode levar diretamente ao Altíssimo e selar com o Espírito Santo. Jesus é a rocha inabalável em qualquer tempo ou situação desse mundo tão frágil e sujeito às injustiças dos homens. Contudo, ainda que se seja salvo, que se esteja sobre o fundamento melhor, é preciso construir com os materiais corretos.
      O que define o galardão não é a base onde se constrói nem a construção em si, mas o material usado para construir. Pode-se usar materiais diferentes, ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, o fogo provará esses materiais e só o material que permanecer ganhará galardão. Galardão não é salvação, pois mesmo que nada sobreviva ao fogo a pessoa será salva, mas será salva porque ainda que tenha construído com materiais inadequados estava sobre o fundamento melhor. Cristo nos salva do fogo, mesmo que tenhamos passado a vida construindo existências equivocadas, se cremos em Jesus somos salvos. 
      Os materiais não são as obras, mas a qualidade delas, diversos materiais podem ser usados e mesmo sendo diferentes podem resistir ao fogo, assim o galardão também pode ser diferente. Materiais diferentes podem ter qualidades diferentes, pureza, beleza, transparência, brilho, resistência, representando virtudes diferentes, dessa forma algumas virtudes são diferentes de outras, ainda que não sejam melhores. Então, podemos entender que o galardão poderá ser não só uma posição espiritual distinta, mais baixa ou mais alta, mas também uma identidade espiritual única, ainda que na mesma posição. 
      O fogo é o juízo, para o salvo não para decidir se ele irá para o céu ou para o inferno, mas se ganhará galardão e qual a qualidade desse galardão. Não é um fogo físico, mas espiritual, o fogo do Santo Espírito, a luz do altíssimo passada através de tudo que alguém fez, disse, pensou e sentiu no mundo, todas as suas obras. É a palavra viva de Deus descrita em Hebreus 4.12, que funciona como uma sonda que vasculha “células” e “átomos” espirituais, revelando o âmago de cada ser, suas mais profundas intenções, trazendo à tona mesmo as vaidades mais secretas, a verdade de cada um que muitas vezes é escondida de todos. 
      Cada ser tem uma identidade espiritual, com uma missão específica para expressar essa identidade, por isso cada um passa por provas diferentes para que sua essência espiritual seja trazida à tona. Isso ocorre à medida que deixamos que o Espírito Santo trabalhe em nós, o que nos permite usar materiais mais nobres em nossas construções. Alguns podem construir enormes castelos, honrados pelos homens, mas se forem de palha serão queimados pelo fogo. Outros, contudo, podem construir pequenas casas, sem reconhecimento humano, mas se lá no interior das paredes for usado ouro, resistirão ao fogo.
      Refletindo sobre a importância do tempo na qualidade de nossa vida espiritual, concluímos que ele pouco pode valer numa decisão para nossa salvação pessoal, podemos ser elevados a um nível alto de espiritualidade num instante. Um instante pode parecer pouco, mas pode ser a conclusão de toda uma vida, e se um instante for o suficiente para Deus, quem somos nós para discordarmos? Contudo, os que têm a oportunidade de tomar a decisão certa com mais tempo de vida no mundo, poderão abençoar os outros, assim as obras que serão feitas nesse tempo poderão dar direito ao galardão espiritual.
     
20. Espiritualidade conforme tua fé

      “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.“ “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.“ “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.” Romanos 12.3 e 14.12, 22 

      Fé é um evento produzido pela alma, através de um elemento emocional e outro mental. O emocional sente com convicção algo que se quer que aconteça, ele gera o conteúdo, o mental dá forma ao conteúdo, pode imaginar, visualizar aquilo que se deseja que ocorra. Isso, contudo, é só a parte humana, mas ainda que não encontre a parte divina pode trazer benefícios positivos ao ser humano. Essa convicção emocional que consegue ver uma solução pode influenciar o corpo, de alguma maneira que a ciência ainda não explicou, sua estrutura material e psíquica, realizando mesmo cura de enfermidades físicas e psicológicas, seria um efeito oposto ao do evento psicossomático, com a mente tendo influência positiva sobre o corpo.
      Essa “energia humana”, que mesmo cristãos podem achar equivocadamente que é ação direta de Deus, só se torna fé espiritual de verdade quando encontra uma vontade de Deus em realizar aquilo que se creu. Assim, não é qualquer coisa que se crê que Deus “responde”, é preciso que seja algo da vontade do Senhor, que de alguma maneira abençoará o homem e glorificará o nome de Deus, no tempo e no lugar melhor de acordo com o plano de Deus. Se isso ocorre nosso espírito saberá, visto que o Espírito Santo o informará que a bênção é de fato dom de Deus, e não mera casualidade do universo, é preciso que fique claro que “milagres” podem acontecer por motivos diversos, não tendo diretamente a mão de Deus envolvida.
      Mas quanto aos benefícios no corpo colhidos por um coração crédulo e positivo, também não foram permitidos por Deus? Sim, mas sob esse ponto de vista nada ocorre no universo sem que Deus permita, contudo, essa experiência pode vivenciar mesmo ateus ou adoradores de Satã. O ponto é que a princípio o limite da fé é a imaginação humana e o quanto podemos focar nela uma convicção emocional, assim, uma pergunta precisa ser feita: há limites para a fé? Sim, o limite é dado pela nossa imaginação, pelo menos para o evento inicial, não para a fé que é respondida por Deus no final. Espiritualidade é uma experiência que se inicia com fé, assim em sua origem também depende da fé pessoal que cada um de nós pode exercer.
      Se desejamos que Deus nos responda, há limites no que podemos crer, simplesmente acreditar, com sinceridade, não basta, é preciso sensatez, coerência e equilíbrio, e o Espírito Santo sempre nos orienta a crer da maneira correta. Contudo, mesmo entre os “filhos de Abraão” que habitarão o “ceio de Abraão” na eternidade, a fé pode diferenciar, é assim que tem que ser e Deus respeita isso. Ainda que achemos que alguns vivenciam uma fé menor que a nossa, devemos respeitar isso, muitos não conseguiriam entrar no reino de Deus com os dois olhos (usando o ensino de Mateus 18.9), olhar as verdades espirituais de maneira mais profunda poderia escandalizar alguns, e Deus na verdade não julga as pessoas dessa maneira. 
      Assim, que cada um caminhe segundo a fé que consegue carregar e seja fiel a ela, fazendo as coisas em paz indiferentemente daquilo que outros pensam ou creem. Agora, se fazemos com dúvidas, tentando convencer os outros porque nós não estamos convictos e na verdade queremos é convencer a nós mesmos, aí estamos em pecado, essa fé que dizemos ter, e não temos, não agrada a Deus. É melhor retroceder, fechar um olho, mas estar em paz, que pensar de si mesmo mais do que se é, por vaidade ou ganância, e não com humildade de espírito. Deus não nos julgará pelo número de olhos abertos, nem de pés que andam, nem pelas mãos que são usadas, mas pela paz real dos que creem nele, tenham esses os limites que tiverem. 
      Quando o objetivo da fé é Deus, o efeito dela é uma paz diferenciada, quem de fato crê tem a tranquilidade dos justificados, não o delírio dos loucos, que acreditam em sandices, imaginam alucinações e colhem amargura. Fé que para existir precisa que outros também creiam igual não é a fé dom de Deus, que salva e consola, é obsessão, ideia de homem para exaltar o homem, não é espiritual, não conduz nem adora a Deus. A fé genuína começa e termina no Altíssimo e à medida que o tempo passa fica mais firme, mais discreta, mesmo mais silenciosa, ainda que muito, muito mais eficiente, pois encontra a Deus sem subterfúgios, sem segundas intenções, se torna mais simples e estreita, mas mais reta e forte.
      “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito“ (João 15.7), eis um dos versículos mais simples e profundos da Bíblia, um mistério espiritual importante é revelado nele, dois princípios extremos são citados mas um limita o outro. Temos que estar em Deus, isso é estar em obediência a Deus, com uma vida que agrada-lhe totalmente. Temos que pedir conforme a palavra de Deus, dentro daquilo que o Espírito Santo ensina como sendo Deus e sua vontade para o homem. Mas não basta uma das coisas, quem tem vida certa e pede uma tolice, ou pede algo sábio mas tem vida errada, não acessará a fé dom de Deus que conduz à espiritualidade cristã. 
      Como em tudo na vida com Deus, espiritualidade se processa com fé, e se foi assim nas primeiras coisas, no perdão que dia a dia nos apossamos na presença de Deus, também é assim no “conhecimento espiritual mais profundo”. Usei e ainda usarei muitas vezes no estudo “Espiritualidade Cristã”, do qual essa reflexão faz parte, o termo “conhecimento espiritual mais profundo”, muitos talvez não entendam o que seja isso. É um conhecimento bíblico e teológico maior? Sim. É um conhecimento doutrinário maior da nossa religião cristã? Também. Mas o que está escrito, apesar de conter fundamentos essenciais que nos dão “limites”, é só o início, o que saber mais depende da fé de cada um no Espírito Santo. 
      Vimos que fé envolve convicção e imaginação, o sentimento foca e a mente visualiza, algo que se quer sem que ainda exista, de quem a fé espera resposta? De qualquer coisa, espírito ou homem, incluindo de si mesmo, o homem é livre para crer no que quiser para receber o que quer que seja. Há resposta para toda fé? Sim. É sempre resposta de Deus? Sim, nada ocorre nos universos sem autorização de Deus. Mas toda resposta abençoa o homem espiritualmente? Não, ainda que em curto prazo pareça abençoar. Fé só beneficia de fato o homem, em todas as áreas, e de uma maneira que o benefício permaneça e faça o homem crescer espiritualmente, quando é exercida no Espírito Santo, isso é muito mais que prosperidade material e cura física. 
      Fé é movimento, mas o Espírito Santo é o único caminho que conduz a Deus. Você pode ter um carro e usá-lo em estradas diferentes para chegar a lugares distintos, mas somente o carro em movimento na estrada certa vai levá-lo à casa do pai, onde há um amor especial. O selo do Espírito Santo só tem quem entendeu, aceitou e viveu a salvação de Jesus, nessa redenção ganhamos o Espírito de Deus que nos permite entender as verdades espirituais mais elevadas e construir em nós a vida eterna, que será plenamente manifestada no plano espiritual quando deixarmos nossos corpos físicos, seja pela morte ou pelo arrebatamento. 
      Quem tem o Espírito Santo tem acesso a Deus porque está em Deus, assim têm acesso livre à melhor estrada que leva ao mais excelente lugar. Contudo, não basta estar na estrada certa e ficar contemplando, de longe, o destino, é preciso fé para se mover nessa estrada, e uma fé aprovada por Deus. A fé que Deus aprova é a descrita em João 15.7, ela movimentará nosso espírito através do Esprito Santo até o Deus altíssimo. Para a maioria das pessoas acreditar não é um problema, no divino muitos creem, outros só em si mesmos, passando por uma infinidade de entidades, homens, objetos e ritos mágicos, contudo, muitos, incluindo cristãos, têm dificuldade para se apossarem do caminho reto do Espírito Santo. 
      Esse caminho é vivenciado através de um processo de colocação espiritual, que inicia-se com perdão e adoração, para estão alcançar um estado de tranquilidade onde nos posicionamos na mais pura estrada espiritual. A grande maioria dos cristãos pede perdão, louva, deixa seus pedidos, e para aí, não medita, não contempla e não ouve a voz do Espírito Santo ensinando e revelando. Muitos evangélicos, ainda que livres emocionalmente para sentirem o prazer que advém da liberdade do Espírito Santo, não abrem suas mentes para discernirem a voz do Espírito Santo, assim param no início da estrada e não se movem por ela até o Deus Altíssimo, e infelizmente, achando que isso é o máximo na espiritualidade cristã.
      Tudo é possível ao que crê no Espírito, tudo o que Deus quer dar a alguém para que seja feliz. Isso não faz de alguém um super-herói, muito menos um religioso famoso que realiza sinais e prodígios, não, o plano de Deus nunca foi esse apesar de muitos acharem que o evangelho prega essas referências. Mas se fizermos tudo certo poderemos nos aproximar mais do homem que Jesus foi quando encarnado, só não se esqueça, que o que alguém espiritual como ele provou no final da vida, foi perseguição e descrença. Andemos conforme a nossa fé e nos movamos com ela no Espírito Santo, mas cientes que ser um cristão espiritual neste mundo é buscar a vida de Jesus homem, não de “deuses”. 

21. Espiritualidade do profeta

      Muitos se consideram profetas, nas igrejas evangélicas atuais, mas a maioria não entende de fato o que era um profeta no antigo testamento, assim como não entendeu o que é profecia, hoje, sob o novo testamento. Nunca nos esqueçamos, Jesus, mais do que qualquer outro personagem bíblico, é nossa referência máxima de homem espiritual. No mundo atual, onde o ministério do Espírito Santo tem liberdade nas vidas de todos os convertidos, não há necessidade mais de profecias como as do antigo testamento, direcionadas a um povo e com o objetivo de trazer um povo desviado de volta a Deus. Na maior parte das vezes as palavras que o Espírito Santo entrega atualmente são palavras de consolo, não de condenação, as mais sérias só recebem os muito rebeldes, e quero crer que são excessões. 
      A experiência  com o Senhor, após a obra redentora de Cristo e a descida do Espírito Santo, é individual, ainda que nos reunamos em igrejas para compartilhar a fé, de acordo com afinidades e gostos doutrinários comuns. Se Deus precisa falar, ele fala ao coração do homem pelo seu Espírito, quanto ao mundo o Senhor fala pelo testemunho dos crentes, não por profetas no estilo bíblico, muitos que se colocam nessa função, seria mais prudente que os encaminhássemos para psicoterapia. No antigo testamento a religião autorizada por Deus era diferente, uma simbologia do cristianismo, as coisas eram físicas. Contudo, vidas de homens como Habacuque, nos ensinam muito até hoje, sobre sensibilidade espiritual, sobre lucidez para com a realidade e principalmente com respeito à espiritualidade cristã.

O peso que viu o profeta

      “Habacuque ou Habacuc é o livro bíblico cuja autoria é atribuída ao profeta de mesmo nome. Discute-se a data em que o livro foi escrito, havendo duas hipóteses:
- o livro foi escrito pouco antes da queda de Nínive em 612 AC; nessa hipótese, os opressores seriam os Assírios;
- o livro foi escrito entre a Batalha de Carquemis em 605 AC e o primeiro cerco a Jerusalém em 597 a.C.; nessa hipótese, os opressores seriam os caldeus. 
      Habacuque significa "abraço", e está incluso na subdivisão da Bíblia chamada de Profetas Menores, sendo um livro de apenas três capítulos. Provavelmente tenha sido escrito no século V a.C.. Habacuque nos sugere que observava a sociedade judaica a partir do Templo, onde possivelmente servia como levita, isto é cantor, ornamentador, prontificador do templo (ver Números 3:6-10). Podemos notar que o capítulo três de seu livro é uma canção, sendo que os últimos versos são considerados uma das maiores expressões de fé do Antigo Testamento. 
      O livro de Habacuque é diferente dos demais livros dos profetas em seu estilo literário, pois em momento algum há profecias contra esta ou aquela nação ou pessoa em particular, porém o que se pode ver é um diálogo entre o profeta e Deus. Entre seu texto há no capítulo dois a expressão: "O justo viverá da fé", que mais tarde inspiraria o apóstolo Paulo a escrever a mais teológica de suas cartas, a Carta aos Romanos, que posteriormente inspirou também Martinho Lutero na elaboração das 95 Teses "gatilho" da Reforma Protestante.”
Fonte: wikipedia 

      “O peso que viu o profeta Habacuque.”

      A palavra “peso”, usada na primeira frase, também pode ser traduzida como advertência ou sentença, e o texto é isso, uma veemente palavra profética chamando a atenção dos homens para a realidade. O profeta sentiu a seriedade do momento e clamou a Deus, nesse clamor o Espírito Santo teve liberdade para revelar a ele a profundidade da situação. Se alguém é frio ou acha na frieza proteção pessoal, não busque ser profeta, se alguém prefere ficar na sua, não se envolver, não tomar partido, não almeje ser boca de Deus. Para ser boca de Deus antes é preciso ter ouvidos espirituais acurados para ouvir a palavra de Deus, mas ser boca não seja sair proclamando o que se sabe de qualquer maneira, é preciso o mesmo cuidado que se teve para ouvir, para falar. Se Deus precisa corrigir um filho, isso é algo sério, devemos ter temor de Deus por isso, principalmente se estamos numa condição de mais iluminação onde podemos ver que alguém está errado e pode pagar um preço caro por isso. O fiel de Deus sente o peso da palavra do Senhor e treme, não se alegra com a queda do arrogante, nem com a vergonha do tolo, antes enxerga a situação, cala-se e espera, com respeito. 

      “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida.

      O conhecimento tem seu preço, a sensibilidade espiritual tem sua responsabilidade, Habacuque via uma situação errada que não se resolvia e sofria com isso, não era indiferente nem dizia, “o problema não é meu, se eles erraram que paguem o preço”. Ele sofria porque tinha sede de justiça, e o Espírito Santo clama dentro dos filhos de Deus por justiça, aqueles que de fato andam com Jesus não se alegram com a injustiça nem são displicentes, mas anseiam que as coisas se resolvam. Contudo, os profetas de Deus não fazem justiça com as próprias mãos, querem que as coisas se resolvam, mas do jeito certo, o jeito certo é o jeito de Deus, no tempo e no lugar certo. Deus pode agir por meios que podem ser impossíveis aos homens, mesmo desconhecidos por eles, mas quem tem os olhos espirituais abertos e vê que algo está errado, quando muitos falsos profetas veem que está tudo certo, clama a Deus por justiça. 

      “Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Horrível e terrível é; dela mesma sairá o seu juízo e a sua dignidade. E os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, e mais espertos do que os lobos à tarde; os seus cavaleiros espalham-se por toda parte; os seus cavaleiros virão de longe; voarão como águias que se apressam a devorar. Eles todos virão para fazer violência; os seus rostos buscarão o vento oriental, e reunirão os cativos como areia. E escarnecerão dos reis, e dos príncipes farão zombaria; eles se rirão de todas as fortalezas, porque amontoarão terra, e as tomarão. Então muda a sua mente, e seguirá, e se fará culpado, atribuindo este seu poder ao seu deus.

      Então Deus responde a Habacuque, aos que o buscam com todo o coração o Senhor sempre responde, e de forma maravilhosa, a solução de Deus pode vir de maneiras que nós sequer imaginamos. Ela pode nos surpreender porque Deus tem solução quando ninguém tem, ele é dono de tudo e de todos, todos os sistemas do plano físico e do plano espiritual estão em suas mãos, e ele os administra com equilíbrio. Algumas vezes para vencer um inimigo poderoso Deus levanta um inimigo mais poderoso ainda que domina o inimigo inicial e traz justiça à Terra, disciplinando os rebeldes. Enganam-se os que dividem os homens em bons e maus, ou mesmo os seres espirituais em anjos e demônios, como se uns obedecessem a Deus e os outros, não. 
      Existem diferenças nas índoles, diabos e demônios tiveram oportunidade de livre arbítrio e escolheram ser rebeldes, mas todos estão debaixo, de um jeito ou de outro, da soberania divina, alguns obedecendo ordens diretas, e outros, mesmo que através de atos cruéis, contribuindo para que a vontade final de Deus seja cumprida. As complexidades do universo são para terror dos ímpios, as “árvores cabalísticas da vida”, as hierarquias dos anjos, os rituais mágicos, tanto quanto os políticos corruptos e a burocracia dos estados, quem está em trevas tenta dominar tudo isso para conquistar seu espaço. Mas a vida é simples para os simples, direto ao Altíssimo, esse não teme babilônios, caldeus, gregos ou romanos, pois tem o todo poderoso ao seu lado. 
      O justo vive pela fé, quem busca, obedece e adora a Deus tem uma vida iluminada, quem está em Deus tem ao seu lado o tempo e todos os seres, homens ou anjos, e não precisa temer nem os poderes desse mundo, que por maiores que se apresentem são temporários. O arrogante, contudo, será vencido, não pelo simples que humilhou, mas por alguém mais arrogante que ele, apesar de aparentar-se forte e destemido, seu íntimo teme, pois sabe que existem outros com ele, injustos e egoístas. Já para o justo que crê a mão de Deus pode se apresentar de diversas maneiras, não para destruí-lo, mas para defendê-lo, assim ele não precisa se vingar ou dar a última palavra, basta crer, com temor a Deus e em silêncio. 

      “Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, meu Santo? Nós não morreremos. O Senhor, para juízo o puseste, e tu, ó Rocha, o fundaste para castigar. Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele? E por que farias os homens como os peixes do mar, como os répteis, que não têm quem os governe? Ele a todos levantará com o anzol, apanha-los-á com a sua rede, e os ajuntará na sua rede varredoura; por isso ele se alegrará e se regozijará. Por isso sacrificará à sua rede, e queimará incenso à sua varredoura; porque com elas engordou a sua porção, e engrossou a sua comida. Porventura por isso esvaziará a sua rede e não terá piedade de matar as nações continuamente?

      O profeta enxerga a verdade e pede que Deus aja, ele entende que se há sofrimento, é porque houve pecado, penso em quantos veem o Brasil como está hoje e ainda acham que está tudo certo, e quando digo tudo certo são evangélicos e protestantes que pensam que se há algum problema ele está no mundo, não neles. O julgamento do ímpio só ocorrerá no final ou após sua morte, Deus autorizou o homem a cuidar do mundo à sua maneira, o homem já entendeu que o mundo que é seu precisa ser cuidado melhor, por isso tanta preocupação com queima de florestas, com poluição de ar, rios e mares. A verdade é que os poderes deste mundo estão bem acordados quanto às suas responsabilidades com o planeta, quem não está acordado é o cristão quanto à sua vocação espiritual.
      O cristão é corrigido no mundo, não na eternidade, na eternidade ele estará no melhor de Deus, numa “posição” espiritual onde não haverá choro, dor, culpa, mágoas, lembranças ruins e nem medos, na luz de Deus só há o amor. Todavia, neste plano, o filho de Deus é disciplinado para que possa mudar de atitude, crescer, receber cura e libertação, experimentar perdão e justiça. Dessa forma, se o mundo, se o Brasil, passa por uma situação difícil, a responsabilidade pode ser do cristão, principalmente daquele que fugiu para dentro dos templos, para “curtir” cultos cheios de música ou cheios de estudos bíblicos técnicos, que não mudam suas práticas de vida, ficam encantados com a falsa unção, mas não são transformados e assim não são força de transformação na sociedade. 
      Quando Israel se desviou de Deus o mundo se desequilibrou, porque quem tinha a missão de iluminar o mundo estava em trevas. Por causa disso as nações, que já viviam em paz ainda distantes de Deus já que Deus respeita o livre arbítrio, entraram em guerra, conquistaram Israel e depois foram conquistadas por outras nações. É a serpente engolindo o próprio rabo, tudo porque quem deveria estar fazendo a coisa certa não estava. Não fazemos ideia do quanto as pessoas são prejudicadas quando desobedecemos o Senhor, ainda que fisicamente possamos não estar fazendo a elas nenhum mal. Deus age no mundo pelos seus fiéis profetas, isso não é algo só físico, que acontece quando uma palavra profética é entregue, é espiritual, quando alguém como Habacuque faz a oração do capítulo um de seu livro. 

Na torre de vigia

      “Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa.”

      O ofício do profeta, dedicar tempo para conhecer a vontade de Deus, apesar de ser mais adequado que se esteja bem física e emocionalmente, já que o trabalho de comunhão espiritual mais profunda exige que nossos sentidos e movimentos físicos estejam sadios, a tarefa é espiritual. É preciso que se esteja com o espírito lavado pelo sangue de Cristo, com a mente em paz, com a consciência limpa e com os sentimentos tranquilos e focados em Deus. 
      Nesse ofício o trabalho do homem é obedecer, é Deus quem chama o profeta, se limpar, é Cristo que purifica o profeta, e prestar atenção, é o Espírito Santo que fala, revela, ensina, mostra e toca. O que tiver real chamada de profeta entenderá as coisas espirituais porque é espiritual, ainda que tenha convicção de que é só um homem pecador como todos os outros, não é especial por ter recebido sua chamada, mas tem uma chamada especial porque é comissionada por Deus. O profeta de Deus ouve  e adora somente a Deus.

      “O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.”

      A palavra de Deus deve ficar clara para que os homens identifiquem sua origem, o profeta, portanto, não pode ser covarde ou confuso, ainda que muitos não o queiram ouvir e que ele deva ter muita sabedoria para saber com quem deve compartilhar as revelações que recebe, e ainda que muitos mereçam saber dos mistérios de Deus por códigos, para que mesmo que olhem não vejam, por terem corações endurecidos e arrogantes. Os simples e humildes, contudo, sempre entenderão a profecia, e na verdade nem necessitarão dela, profecia ocasional é para rebelde, o fiel tem consolo o tempo todo, pois se acertam com Deus antes que sejam necessárias disciplinas e exortações. 
      Entretanto, não se enganem os soberbos, Deus não se atrasa e nem falha, mesmo que confiem na curta glória do mundo que seus olhos veem, mesmo que duvidem da justiça por se acharem com créditos suficientes para serem aprovados por Deus, isso tem tempo certo para acabar. O justo, todavia, não se ilude com o momento, não se ilude com as vaidades, não se vende por nada, antes suporta em silêncio a injustiça e a incredulidade dos loucos e confia plenamente num Deus que mantém o equilíbrio do universo. Nenhum mal fica sem castigo e nenhum bem sem recompensa, mas só o poder do nome de Jesus anula o efeito espiritual do pecado, esse direito só tem o que crê no invisível. 
      Começamos a andar com Deus pela fé, então, vivenciamos as primeiras experiências, a paz que vem do perdão, as curas dos vícios mais sérios, o consolo da oração, a sabedoria da Bíblia, depois caminhamos com alguma facilidade, porque fé vira experiência que gera conhecimento e conhecimento mantêm-nos na vida eterna. Contudo, o conhecimento de Deus não para, o Espírito Santo está sempre nos desafiando a conhecer mais para viver com mais profundidade a vida eterna, assim, mais fé se faz necessário. Neste mundo sempre será assim, se sabemos não precisamos crer, mas só se cresce com mais conhecimento espiritual, assim, é preciso crer mais. O justo viverá pela fé até o fim de sua vida aqui. 

      “Assim como o vinho é enganoso, tampouco permanece o arrogante, cuja gananciosa boca se escancara como o sepulcro e é como a morte, que não se farta; ele ajunta para si todas as nações e congrega todos os povos. Não levantarão, pois, todos estes contra ele um provérbio, um dito zombador? Dirão: Ai daquele que acumula o que não é seu (até quando?), e daquele que a si mesmo se carrega de penhores! Não se levantarão de repente os teus credores? E não despertarão os que te hão de abalar? Tu lhes servirás de despojo. Visto como despojaste a muitas nações, todos os mais povos te despojarão a ti, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores. Ai daquele que ajunta em sua casa bens mal adquiridos, para pôr em lugar alto o seu ninho, a fim de livrar-se das garras do mal! Vergonha maquinaste para a tua casa; destruindo tu a muitos povos, pecaste contra a tua alma. Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento. Ai daquele que edifica a cidade com sangue e a fundamenta com iniquidade!”

      O homem que se afasta de Deus e assume sua situação, ainda se mantenha afastado, se torna um pária no mundo, escravo de vícios, usados por muitos e nunca tendo nada seu, mas o que se afasta e não se assume como tal prova do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, quer ser Deus e parte, sem medo, para conquistar o mundo e dominar os homens. Se para o primeiro tipo de homem há esperança de mudança de vida mais rápida, ainda que pague um alto preço por isso, para o segundo tipo a mudança pode ocorrer, se ocorrer, só no final, depois de ter gasto uma vida roubando, matando e sendo infeliz. 
      Não, não me refiro a roubo como algo explícito, socialmente ilegal, mas a algo que pode ser feito mesmo com trabalho honesto e muito esforço, quando um homem busca ter uma vida, ainda que certa para outros, não a vida que Deus tem como a melhor para ele. Quando se faz isso se rouba, não a Deus, mas a si mesmo, pois se usa o tempo que deveria ser usado para receber coisas certas para tentar comprar coisas erradas, ou melhor roubar. Quem faz isso sempre acaba, de alguma forma, matando os outros, pois não teve tempo para amar quem precisava, dar a eles atenção, vida, visto que gastou seu tempo amando a si mesmo. 
      O maior risco que corre o que se fortalece a troco de enfraquecer os outros e que acaba encontrando outros iguais a ele, quem rouba, acaba roubado, “os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mateus 26.52b), o mal atrai o mal. Como saber se alguém adquiriu poder nesse mundo do jeito legítimo? Não é pelas obras exteriores, essas até podem parecer boas, mas é pela intenção do coração, e essa só o tempo para revelar. O certo é que quem faz algo sem a aprovação de Deus está desprotegido, Deus protege os que se constróem em seu amor, porque esses adoram a ele, não a si mesmos, e abençoam os outros. 

      “Não vem do Senhor dos Exércitos que as nações labutem para o fogo e os povos se fatiguem em vão? Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.”

      O próprio Deus permite que o soberbo prossiga, insista em seu caminho, o Senhor faz isso esperando que ele um dia se arrependa? Sim, Deus ama sempre e sempre espera que o homem volte para ele, a porta do céu sempre, sempre está aberta, mas os que insistem em se fatigar com trabalho desnecessário, com guerras inventadas, para compensar uma insegurança que dinheiro, bens e aprovação humana não compensam, e que só uma vida humilde em Jesus pode curar, seguirá por muito tempo, antes que seja disciplinado. 
      Nesse tempo poderá achar que de fato está fazendo tudo certo, quando não está, só Deus sabe o tempo de cada um debaixo do Sol, o tempo de receber glória, o tempo de ser cobrado pela falsa glória que usurpou. Mas um dia a justiça vem, e como uma luz forte revela todas as intenções, mesmo as mais ocultas, o que se fez por inveja será conhecido, o que se acumulou para impressionar os homens será revelado, mas o que se buscou de todo o coração no Senhor, será honrado, nada e nem ninguém pode impedir isso. 

      “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro, misturando à bebida o seu furor, e que o embebeda para lhe contemplar as vergonhas! Serás farto de opróbrio em vez de honra; bebe tu também e exibe a tua incircuncisão; chegará a tua vez de tomares o cálice da mão direita do Senhor, e ignomínia cairá sobre a tua glória. Porque a violência contra o Líbano te cobrirá, e a destruição que fizeste dos animais ferozes te assombrará, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores.”

      As pessoas podem ser maquiavélicas, esconderem más intenções atrás mesmo de presentes e festas, só para dominarem os homens, alguns se surpreenderiam em saber o que muitos fazem para prevalecerem sobre os outros, para tentarem comprar as pessoas, para forçá-las a mostrar suas fraquezas e então humilhá-las. Quanta malícia pode haver na alma de seres humanos que por não terem paz em si mesmas com Deus, querem roubar a paz dos outros, enfraquecer e desmerecer para dominar e usar. 
      Por que mortes estúpidas em acidentes e no crime? Porque a vida pode cobrar num minuto estupidez acumulada em anos, exigir num instante as oportunidades que deu para alguém por anos neste mundo, e que a pessoa endurecida não aproveitou. Por que mortes demoradas e dolorosas em leitos de hospitais, na solidão em asilos? Porque pode ser preciso uma interrupção abrupta e extrema do corpo, para que o espírito pare e ache humildade para entender o que precisava ter feito para ser feliz, e não fez por toda uma vida.

      “Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum.”

      Muitos de nós não fazemos ideia de como existem ídolos neste mundo ocupando o papel de Deus, e ídolos com semelhança de Deus, falando coisas da Bíblia, adorados por gente que se diz cristã e seguidora do evangelho. São ídolos lindos, feitos com os materiais mais nobres, mais que ouro e prata, são ídolos ideológicos, criados e mantidos nas mentes das pessoas e construídos de intenções nobres, humanitarismos, preocupação com o meio ambiente, bandeiras de justiça social, igualdade, tolerância, religiosidade. Mas ainda assim, são ídolos, não Deus, e como tais, na hora final, quando a pessoa mais precisar, não poderão ajudá-la, salvá-la, consolá-la, curá-la, dar-lhe paz. O ídolo é um deus falso como falso é quem o adora. 

      “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” 

      Um dos versículo mais lindos da Bíblia, Habacuque 2.20, com poucas palavras o profeta expressa a nobreza e a majestade de Deus, assim como a reação que têm aqueles que de fato temem a Deus, o obedecem e o adoram, o silêncio contemplador. A alma precisa estar em silêncio para conhecer a Deus, não embriagada com as próprias e mesquinhas intenções, e nem ambiciosa para dominar e crescer diante dos homens, só o simples e humilde consegue calar a alma. Com a alma quieta e o espírito limpo a voz do Espírito Santo é clara para nos entregar o discernimento que nos permite entender todas as verdades, a nossa, as dos homens e a do Deus Altíssimo. 
      Profeta legítimo de Deus tem esse privilégio, mas não tente ele esperar de homens honra por isso, não nesse mundo, a ele basta cumprir sua missão com mais e mais cuidado, santo, com domínio próprio, sendo um dos luzeiros de Deus que justificarão no juízo os julgamentos divinos. Se alguém perguntar naquele dia derradeiro, “por que estou sendo condenado por algo que eu nem sabia que tinha que fazer?”, Deus responderá, “havia um profeta, bem perto de você, ele te alertou com profecias, com sonhos, e sempre esteve disponível para te aconselhar, mas você preferiu ouvir os falsos profetas, que diziam aquilo que você queria ouvir, não o que precisava ouvir”.  

Ainda que a figueira não floresça

      “Oração do profeta Habacuque sobre Sigionote. Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. Deus veio de Temã, e do monte de Parã o Santo. A sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor. E o resplendor se fez como a luz, raios brilhantes saíam da sua mão, e ali estava o esconderijo da sua força. Adiante dele ia a peste, e brasas ardentes saíam dos seus passos. Parou, e mediu a terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram esmiuçados; ou outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem. Vi as tendas de Cusã em aflição; tremiam as cortinas da terra de Midiã.”

      O capítulo três do livro do profeta Habacuque é um "sigionote", um tipo de canto poético ou elegia, assim esse texto é a letra de uma música antiga. Que palavra atual essa do profeta, não há nada que o cristianismo de hoje mais precise que um avivamento, contudo, e infelizmente, como esse termo foi corrompido no meio cristão, o sentido bíblico e mesmo o evangélico de algum tempo atrás, que significava de alguma maneira uma volta ao primeiro amor, ao cristianismo original, se tornou sinônimo de qualquer heresia que se pregue como novidade em muitos púlpitos, e que toca os corações não por ser de Deus, mas só por ser uma nova moda. 
      Quem acompanha a igreja cristã há algumas décadas, sabe como vieram e foram vários modismos, métodos, teologias, termos e conhecimentos, que eram só novidades passageiras para seduzir gente que ama modas, que quer a vaidade de achar que possui um conhecimento mais profundo que os outros, mas que não ama a Deus. Deus não precisa de moda, é o mesmo ontem, hoje e será eternamente, os mistérios ele revela aos que o amam e esses não usam desse conhecimento como vaidade. 
      Aviva tua obra, Senhor, mas a obra de Deus não são igrejas e ministérios de homens, é a ação direta do Esprito Santo na Terra sobre indivíduos, essa obra é avivada quando as pessoas tiram os olhos daquilo que lhes convém no plano físico e olham diretamente para Deus, por isso pode ser necessário que o cristianismo evangélico e protestante atual seja desconstruído, para que o nome de Deus seja de fato glorificado. Da Igreja Católica não adianta nem falar nada, ela se perdeu no abismo há séculos, mas que o Senhor tenha misericórdia de muitos católicos sinceros e que de fato querem Deus, apesar do catolicismo. 
      Após esse clamor, Habacuque contempla a majestade de Deus e teme, as forças da natureza são só metáforas do eterno poder espiritual de Deus, se uma tempestade, se chuvas fortes e ventos violentos, se a força das águas e explosões vulcânicas nos fazem tremer, muito mais a manifestação da ira de Deus sobre um homem que quer ser Deus e não teme ao Deus verdadeiro. 

      “Acaso é contra os rios, Senhor, que estás irado? É contra os ribeiros a tua ira, ou contra o mar o teu furor, visto que andas montado sobre os teus cavalos, e nos teus carros de salvação? Descoberto se movimentou o teu arco; os juramentos feitos às tribos foram uma palavra segura. Tu fendeste a terra com rios. Os montes te viram, e tremeram; a inundação das águas passou; o abismo deu a sua voz, levantou ao alto as suas mãos. O sol e a lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das tuas flechas, ao resplendor do relâmpago da tua lança. Com indignação marchaste pela terra, com ira trilhaste os gentios. Tu saíste para salvação do teu povo, para salvação do teu ungido; tu feriste a cabeça da casa do ímpio, descobrindo o alicerce até ao pescoço. Tu traspassaste com as suas próprias lanças a cabeça das suas vilas; eles me acometeram tempestuosos para me espalharem; alegravam-se, como se estivessem para devorar o pobre em segredo. Tu com os teus cavalos marchaste pelo mar, pela massa de grandes águas.”

      Sim, a natureza paga pelo pecado do homem, e ela responde a isso, viveremos tempos difíceis de agora em diante, todos seremos afetados, ninguém ficará impune, mesmo os justos, ainda que Deus os proteja do pior pela sua misericórdia. Mas não nos enganemos, ainda que a natureza se transforme e se revolte contra o egoísmo e a maldade do homem, desequilibrando o clima, secando os mares e queimando as matas, não é contra ela que Deus se ira. 
      Sobre Jesus foi lançada toda injustiça, assim quando cremos nele somos perdoados, porque ele levou sobre si nossos pecados, dessa forma Deus se “vingará” no final, não pelos justificados, não existe mais nação escolhida, mas um povo, de todas as nações, Deus derramará sobre os homens injustos a injustiça que fizeram e fazem contra o único justo, Cristo. Deus tomou sobre si o castigo para que pudesse lutar pelos justos, assim o final não será a guerra de homens bons contra homens maus, mas do rei Jesus contra todas as potestades de espíritos rebeldes. 
      Usei a palavra vingará entre aspas porque na verdade Deus não se vinga, não é assim que funcionam as coisas espirituais, mas o homem quando planta injustiça a injustiça ele colhe, e isso quem cobra é o universo, que está debaixo de leis eternas e imutáveis estabelecidas por Deus antes do início dos tempos. Por isso a natureza se revolve e exige, e com ela vêm pestes e guerras, sobre um homem que não foi humilde para buscar seu criador e muito menos será para fazer alianças com as criaturas para construir paz e justiça. 
      Ah, meus queridos e minhas queridas, o homem não tem ideia sobre com que está mexendo, ainda que ache que a solução seja tratar a natureza com respeito, ainda que ouça a sensatez da ciência, ele despreza o principal, seu próprio espírito, esse clama para voltar ao seu criador. Desse pecado nenhum cuidado com sustentabilidade, ecologia, e mesmo com justiça e igualdade social e tolerância, poderá salva-lo, só o nome do Cristo que ele desprezou e perseguiu.  

      “Ouvindo-o eu, o meu ventre se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim; no dia da angústia descansarei, quando subir contra o povo que invadirá com suas tropas. Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.”

      Habacuque expressa novamente seu temor, tem temor que tem sensibilidade espiritual, tem sensibilidade quem busca, acha, ouve e obedece a Deus, esse teme e treme, pois sabe que o universo geme por equilíbrio. Segue, então, o texto com uma das passagens mais lindas da Bíblia (versos 17 e18), dessas que reúnem poesia e espiritualidade, alma e espírito, expressados por um corpo machucado pela realidade que é conhecida somente por aquele que de fato é profeta de Deus. Será que somos espirituais de verdade para que ainda que nossos olhos físicos vejam uma Terra destruída, com um povo passando necessidades extremas, continuemos confiando em Deus e com muita alegria? 
      Como muitos evangélicos atualmente se acham preparados para o fim, acham conhecer bem a Bíblia, e nisso pensam ter o conhecimento espiritual mais profundo. Por outro lado, como pensam, hereticamente, que podem evitar o pior final com líderes políticos que defendam suas bandeiras, quanto equívoco, quanto equívoco. Não sei se temos olhos espirituais abertos o suficiente para nos darem luz diante das trevas que os olhos físicos verão, a verdade é que o que virá surpreenderá mesmo os que se acham os mais espirituais. 
      Mas os últimos tempos serão terríveis, o mundo enfrentará uma calamidade com colapsos em várias áreas ao mesmo tempo, como nunca enfrentou antes. Por isso Deus livrará alguns, não todos, pois muitos ainda que sejam filhos provarão a agonia final do planeta Terra, junto dos ímpios, dos ateus, dos materialistas, dos adoradores de Lúcifer e Satã, do enganados pelas falsas luzes de querubins e arcanjos caídos, de tantos que confiaram na ciência dos homens e nas tradições religiosas, mas não no Altíssimo. 
      Por isso nos acertemos enquanto há tempo, a nós e às nossa famílias, ainda que o fim possa demorar, é importante que nos preparemos sempre e em todos os tempos, para que a verdade do evangelho seja passada para as próximas gerações. Não olhemos para o homem, principalmente para aquele que se diz profeta de Deus quando é filho de Belial, Leviatã se levantará no final e tragará a todos, sem dó, porque recebeu de Deus autorização para isso, só os realmente lavados pelo sangue do cordeiro, que não se corromperam com prostituição espiritual e com as vaidades desse mundo serão poupados. 

      “O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. 
(Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda).

      Se o monte é alto, Deus nos coloca num lugar mais elevado. Se o inimigo é rápido, Deus nos faz mais velozes. Se o mar é profundo, Deus nos faz leves para flutuar. Se o louco nos afronta com mentiras, Deus nos dá a paz que têm os que guardam sua verdade no coração. É preciso conhecer toda a verdade para ver toda a realidade para assumir toda a dor e, então, poder provar toda a libertação de Deus, é preciso não ter medo para sentir temor e tremor diante do Altíssimo. Quem busca escapismos numa verdade pessoal inventada, construída num coração que um dia não aceitou o plano de Deus para sua vida, coloca-se acima da verdade de Deus e viverá uma ilusão, se achará forte, rápido, mas será baixo e pesado, por fim, afundará na própria arrogância, sozinho, preso numa cela dentro da própria mente.
      Habacuque era um homem espiritual, via o mundo de sua época, seu povo, as outras nações, via os justos e os injustos, mas se colocava acima disso tudo, numa torre de vigia, ele era livre, por isso via além do mal na Terra, no coração do inimigo poderoso, nas intenções das potestades dos seres espirituais rebeldes. Ele não era alguém diferente de outros de sua época, ou de mim e de você, devia ter seus limites, seus pecados, mas ele tinha uma comunhão diferenciada com Deus, Deus o atraia e ele se deixava atrair, por isso buscava coisas mais excelentes que os outros. Assim Deus o usou, para registrar coisas mais altas, que abençoam todos os que leem textos sagrados judaicos e cristãos por séculos, ainda que tenha escrito um livro pequeno, de somente três capítulos, porém, com palavras que nos abraçam de forma especial. 

22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” II Pedro 1.10-11

      A palavra vocação significa qualquer aptidão, gosto natural, disposição, talentos, chamamento de alguém para exercer certa função obrigatória ou para a posse de um direito. Como seres humanos temos aptidões naturais, que nos ajudam no exercício de uma profissão mais eficiente, como cristãos podemos receber dons espirituais, que nos ajudam a ter uma vida pessoal vitoriosa e a exercer um ministério mais profícuo, contudo, o sentido que Pedro deu no texto inicial à palavra pode ser algo que vá além disso. Qual a nossa principal vocação como seres eternos no universo? É voltarmos ao Altíssimo, contudo, neste mundo somos identidades diferentes e como tais cada um de nós chega a Deus e o agrada de uma maneira específica.
      Se você não consegue mostrar seu melhor falando, fique quieto, nem todos são chamados para falar, e não existe nenhum desmérito nisso. Como é difícil para muitos com essa vocação entenderem isso, e quando dizemos que alguns devem se calar nem é porque não falam bem ou não tenham coisas legítimas para dizer. Nesse caso, contudo, não nos referimos ao conteúdo, mas à forma, e para fazermos algo bem devemos saber o que fazer e como fazer, se soubermos o que dizer mas não dissermos do jeito certo, é melhor não falarmos. O jeito certo de fazer, para desempenhar qualquer função ou missão, é com amor. O amor tem paciência com os que sabem menos e humildade com os que sabem mais, no amor todos somos alunos. 
      Se você recebeu uma ordem da vida, cumpra-a, não alegue limitações, mas trabalhe nos aperfeiçoamentos, somos seres em constantes construções. Ninguém nasce pronto e também não estará pronto no final, assim quem espera melhorar para fazer algo, nunca fará, isso não é fazer de qualquer jeito nem ser irresponsável, mas ser diligente e simples. Aliás, as pessoas que mais mudam o mundo de forma positiva acham satisfação na simplicidade, ainda que sejam inteligentes e competentes acima da média, são simples para começar e terminar algo, sem melindres ou vaidades. Quem tem medo de errar nunca acertará, e podem ser necessários muitos erros, até que se descubra porque se veio ao mundo para então se fazer algo original.
      Por outro lado é preciso avaliar investimentos e lucros, e muitas vezes, sim, é preciso parar o que se está fazendo, às vezes por anos a fio, e fazer outra coisa. Eis uma virtude nobre, mudar de ideia, eis uma coragem ímpar, admitir mudança de ideia diante dos outros, eis algo que alegra a Deus, se colocar debaixo de sua luz. Muitos seguem errando e não acham forças para mudarem de rumo porque estão em trevas, intelectuais, emocionais, espirituais, assim não se conhecem, não se assumem, vivem de aparências, não são felizes e nunca experimentam de fato suas verdadeiras vocações. É triste ver gente assim, nos aperta o coração, queremos ajudar mas elas nos impedem, se forem tocadas, gritam e esperneiam, como crianças mimadas.
      Não ligue para esta terra, eis parte de um entendimento fundamental para conhecermos nossa vocação, que não é só para esse mundo, mas para o outro também. Não é para aqui, mas começa aqui, e viver aqui não é qualquer coisa, é experiência de suma importância que define radicalmente nossa existência eterna. Os que se acham ateus dão importância demais para este plano, os que se dizem cristãos dão importância de menos, a verdade está no equilíbrio, e eis um mistério espiritual, vislumbrar o Espírito com os pés bem firmes na terra. Alcançar a espiritualidade não é alienar-se do mundo, mas vencer nele e ainda assim não deixar que isso importe mais que os valores que levaremos para o outro mundo, só quem tem pode abrir mão. 
      A outra parte do entendimento fundamental é: não ligue para o tempo. Quando começamos a de fato a exercer nossa vocação? Não importa, quando nascemos de novo em Cristo e recebemos iluminação do Espírito Santo, Deus não vê as coisas assim e as coisas espirituais não funcionam assim. Por isso não devemos nos comparar com os outros, nos acharmos melhores porque acertamos a mais tempo, ou nós considerarmos inferiores porque erramos por mais tempo. Para muitos de nós dez anos de obediência às nossas vocações valerão mais que cinquenta anos de outros que pareciam desempenhar suas vocações e não o faziam. Últimos serão primeiros e primeiros serão últimos, mil anos como um dia e um dia como mil anos. 

      Pedro nos ensina coisas importantes em seu texto, “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis, porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno”. Três palavras chamam a atenção: firme, tropeço e reino, as três têm implicações diretas com vocação. Firme, isso nos lembra que a vida é uma luta persistente, não alcançamos e descansamos, e muito menos nos esforçamos e depois desistimos, na evolução espiritual, enquanto neste plano físico, não há parada, descanso ilimitado só na eternidade. Deus pode nos permitir períodos para que nos recuperemos, mas a luta não para, e fica na verdade cada vez mais sútil, à medida que o caminho se estreita. 
      Tropeço, quem estaciona tropeça e cai, ninguém consegue, no crescimento espiritual, ficar de pé e parado, só estamos de pé à medida que caminhamos. Muitos, pensando que já alcançaram tudo, podem cair em terríveis armadilhas do mal, porque se acharam no direito de parar e usufruir, não viemos ao mundo a passeio. Mas mais que isso, Pedro nos revela algo que muito evangélico, em sua “fé na fé”, não entende bem: “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno“. Desempenharmos nossa vocação de forma adequada nos dará direito à melhor eternidade com Deus, isso pode ir contra o pensamento que muitos têm de que lhes basta crer e ter uma vida moral civilizada. Não basta fazer, tem que fazer o mais certo. 
      Não basta pregar, tem que pregar no Espírito Santo, não basta trabalhar, tem que trabalhar naquilo que Deus mandou, não basta aparecer no mundo, tem que pagar o preço que Jesus pagou, não basta ser cristão, tem que ser espiritual, só somos quando conhecemos e exercemos nossa maior vocação como seres eternos, voltarmos ao criador. Quando morremos as vendas de nossos olhos espirituais caem para vermos o mundo espiritual como é, seremos atraídos por aquilo que levarmos conosco, se levarmos trevas, seremos infernizados pelos espíritos rebeldes das trevas, se levarmos luz, seremos abraçados pelo Esprito de luz do Altíssimo. Só em Jesus existe a luz que podemos levar conosco e que nos ligará eternamente ao Pai de toda luz.
      Meu querido e minha querida, não perca tempo tentando agradar os outros, tentando ganhar discussões, tentando prevalecer sobre quem não tem nada realmente de bom pra você, já que quem de fato pode te abençoar não exige nada de você, só sinceridade do bem. Temos algo maior para alcançar e levar desta vida, isso importa mais que viver para fazer dívidas e pagar dívidas. Se for preciso, pare tudo e reavalie tua história, tudo o que fez e conquistou até agora. Sim, pode ter sido muita coisa e a troco de trabalho honesto, não estou negando isso, mas será que valeu a pena? Você realmente sente que desempenhou tua vocação maior? Se morrer agora, deixará para quem ama o que mais importa e levará consigo de fato espiritualidade? 

23. O que Deus tem e o que não tem para nós

      “Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente. Sou como um prodígio para muitos, mas tu és o meu refúgio forte. Encha-se a minha boca do teu louvor e da tua glória todo o dia. Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força.” Salmos 71.5-9

      Ser espiritual é aceitar a espiritualidade de Deus, onde ela começa e onde ela termina para cada um de nós, assim, temos que aprender a ser felizes com o que o Senhor tem para nós e estarmos em paz com o que o Senhor não tem para nós. Eis o segredo de uma alma tranquila e de um corpo curado, satisfeitos em viver o plano de Deus. Para isso é preciso buscar a Deus com todo o coração para saber qual de fato é a sua vontade para as nossas vidas, seja na área afetiva, isso é na família, na área profissional, em nossa formação acadêmica e em orientação de emprego secular, ou na área ministerial, em nossas atividades dentro de igrejas. Somos corpo, alma e espírito, Deus nos fez assim e quer nos usar nessas três áreas no plano físico.
      É importante que se entenda que sob a ótica de Deus nenhuma dessas áreas tem prioridade sobre as outras, nossa missão maior neste mundo compreende as três áreas, ainda que a quantia de tempo que se possa usar para cada área possa variar de pessoa para pessoa, conforme o plano de Deus. Como já tantas vezes tenho dito aqui, o que trabalha mais em serviços ligados a uma igreja local não é mais espiritual que o que trabalha no mundo, o que leciona na E.B.D. não é mais espiritual que o que leciona numa escola pública ou particular, nem o que toca um instrumento em cultos não é mais espiritual que o que toca em festas e cerimônias, desde que faça debaixo do temor de Deus e para a glória dele.
      Depois que descobrimos o que Deus quer de nós, de verdade, sem ilusões ou medos, sejamos feliz nisso, não invejando o que Deus tem para os outros nem sendo relapsos com nossas responsabilidades, é claro, com equilíbrio, não idolatrando nada ainda que seja algo separado por Deus para nós. Quem idolatra, até coisas legítimas que são permitidas por Deus, amará mais as coisas e a si, e menos as pessoas e a Deus, nada deve ser idolatrado, nem serviços puramente espirituais. Muitos não são felizes com o que fazem para Deus porque não se descobriram em Deus, assim não têm uma visão correta do que são e do que podem fazer, ou acham que fazem demais, ou acham que fazem menos que deveriam.
      Se olhar por inteiro e se aceitar só é possível quando nos olhamos em Deus, Deus é o espelho, que nos revela à medida que andamos com ele, falamos com ele em oração, observamos a vida e verificamos os frutos, medindo até onde podemos ir sem pecar, ou o que precisamos fazer para não pecar. Se conhecer, contudo, não é uma tarefa rápida, levamos a vida inteira para isso, só o tempo para nos mostrar quem de fato somos, e se conhecer e se aceitar está diretamente ligado a ser feliz. Só achamos felicidade quando entendemos com humildade qual é nossa missão nessa vida, infelizmente podemos descobrir isso só na velhice, é mais que entender, é aceitar e aceitar do jeito certo. 
      Muitos acham que estão se esforçando em Deus para fazer mais e serem melhores, mas na verdade só estão lutando contra a vontade de Deus, e quando isso acontece nos violentamos e levamos infelicidade principalmente para aqueles próximos a nós. Muitos não entendem que menos pode ser mais quando é tudo no Senhor, aquele que faz a ferramenta é o que sabe a maneira mais eficiente de usá-la e Deus nos constrói por toda uma existência. É realmente feliz o que faz o que Deus quer ele faça, mas são necessários limites para saber e ter paz naquilo que não devemos fazer. Você sabe exatamente aquilo que Deus não quer que você faça? Sim, tem esse outro lado, saber o sim e aceitar o não.

      “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” Mateus 7.21-25

      Não entendamos aquilo que Deus não quer que façamos como coisas erradas, mas como coisas que mesmo que a princípio sejam certas, podem ser tornar más, por não serem a vontade de Deus para nós, e por fazermos na desobediência. Não basta ao cristão ter fé e força de vontade, é preciso comando de Deus, e muitos hoje em dia fazem um monte de coisas por fé e com força de vontade, contudo, sem comando de Deus. Isso inicialmente pode até funcionar, pode colaborar para que o evangelho seja pregado, e creia, mesmo esses equívocos Deus usa, principalmente quando não tem outro jeito. Mas em algum momento pode escandalizar o evangelho e prejudicar muito a obra de Deus. 
      Mesmo o bem, sem ordem de Deus, é mal. Por quê? Porque o que prega, mesmo uma visão da palavra do Senhor, mas sem ordem dele para isso, não conseguirá viver o que prega, não da maneira certa, a maneira de Deus. Assim esse tropeçará nas palavras e poderá escandalizar aqueles que creram em sua pregação. Preciso repetir Mateus 7, ele é citado com frequência no “Como o ar que respiro”, mas é porque ele é muito relevante para entendermos o falso evangelho que se prega atualmente. Dessa vez quero chamar a atenção para a segunda parte do texto, a que diz, “o que escuta estas minhas palavras e as pratica”. Por que ela segue na passagem a exortação sobre os falsos cristãos? 
      Porque os falsos até falam a verdade, mas não conseguem praticá-la, isso acontece porque não aceitam o não de Deus, não são humildes o suficiente para terem paz naquilo que não é para eles, e que eles desejam fazer, não para obedecer e louvar a Deus, mas por vaidade e ganância. Não, meus queridos, o verdadeiro evangelho é simples, mas “não” é fácil, justamente porque é simples, e muitos não aceitando essa simplicidade complicam as coisas para as próprias perdições. É simples porque não exige de nós mais do que somos de verdade, mas não é fácil porque precisamos entender e aceitar o que somos de verdade, somos porque Deus nos fez assim e nos fez assim para cumprirmos uma missão.
      Feliz com o que devemos fazer e em paz com o que não temos que fazer, simples assim, isso é ser prudente, é construir casa sobre rocha. Ah, meus queridos, muitos caem e são humilhados porque não acatam a vontade de Deus, querem ser o que não são e terem o que não estão preparados para ter, e ainda que trabalhem muito e sejam bons cidadãos, não têm humildade espiritual para acatar a orientação do pai que nos conhece e sabe o que é melhor para nós. Deus só quer que sejamos felizes e tenhamos paz, assim ouçamos sua voz mansa de pai, obedeçamos sua vontade. A tempestade se levanta contra todos, já está ocorrendo uma e bem forte, só sobre a rocha nos manteremos de pé até o fim. 
      Esta reflexão nos leva muito mais adiante, a entender o que é espiritualidade, o que é ser espiritual, como e quando devemos ser. Muitos ainda aliam espiritualidade as quatro paredes de templos religiosos, tanto para serem espirituais só dentro dos templos, quanto para levarem ao mundo certos conhecimentos que deveriam ser restritos as quatro paredes. “Então temos que ser diferentes, de um jeito dentro da igreja, e fora de outro?“ Não, não é isso. Primeiro ponto: Deus quer que sejamos o nosso melhor sempre e em todos os lugares. Segundo ponto: o efeito disso diante de todos são obras de justiça feitas em amor, não só palavras. Ponto três: falar disso com mais profundidade, contudo, só para quem Deus orienta.
      O equilíbrio que nos traz a felicidade do que Deus tem para nós e a paz com o que ele não tem, nos permite ser espirituais o tempo todo, não atores em púlpitos que tentam ser os que não são, ou frustrados em bares que não aceitam o que são. Esse equilíbrio também nos leva a respeitar limites, falar o que devemos no lugar melhor, e finalmente nos livra da hipocrisia, de pregar algo que não vivemos. Enfim, só entendendo nossa chamada podemos ser espirituais, para Deus, para nós mesmos, e para as pessoas que realmente interessam e o Senhor quer abençoar através de nossas vidas. Eu estou feliz e tenho paz? Pois se não sou feliz e não tenho paz ainda não entendi o que é ser cristão e muito menos sou espiritual.

      “Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” João 15.11

24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor

      Uma experiência marcante com o Espírito Santo sempre gera em nós três coisas: santidade, humildade e amor. Se uma dessas coisas faltar, não é o Espírito de Deus quem agiu, não em sua plenitude. Essas virtudes abrangem todas as nossas relações, a santidade nos permite agradar a Deus, a humildade nos permite aceitar a nós mesmos e o amor nos permite respeitar os outros. Só o Espírito Santo de Deus habitando o espírito dos salvos através do perdão exclusivo e completo de Cristo, pode colocar o homem no mais alto nível espiritual, limpando sua alma e curando seu corpo. Precisamos entender isso e não aceitar falsificações de experiências espirituais, feitas por muitos que podem estar provando outras coisas, mas não de fato a unção do Espírito Santo de Deus. 
      Santidade é a primeira coisa que nossa alma sente como prioridade quando temos de fato um encontro com Deus, uma passagem bíblica que bem exemplifica isso é a do profeta Isaías, “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” (Isaías 6.1-5). 
      “Então disse eu, aí de mim”, essa é a reação de quem de fato se aproxima de Deus, esse sente medo, não por por recear algo mal, moralmente reprovável ou violento, mas por sentir-se indigno, como se fosse colocado diante de alguém famoso, rico, poderoso, mas com vestes inapropriadas, sem banho, com cabelos desarrumados, com a barba por fazer, ou se for mulher, sem maquiagem ou unhas feitas. Deus é muito mais nobre, poderoso e limpo que qualquer homem ou ser espiritual, assim o sentimento honesto de quem se aproxima dele é temor por se achar indigno, despreparado, em pecado. Hoje temos o sangue de Cristo que nos purifica de todo pecado, mas ainda assim muitos não se apossam disso e ousam tentar entrar na presença do Senhor de qualquer jeito, e muitas vezes só para impressionar os outros, para dizerem que entraram mesmo não sendo verdade.
      Humildade é o segundo efeito de quem encontra Deus, porque quando olhamos para Deus nos vemos e quando nos vemos de verdade, sem máscaras ou filtros, entendemos o quanto somos fracos, imperfeitos, dependentes da misericórdia do Senhor, necessitados de mudanças, de melhoras. Quando nos vemos como somos olhamos os outros diferentemente, não exigimos desses o que nem nós somos. A humildade nos leva a agir de uma outra forma com as pessoas, mas antes disso, ela nos dá paz, pois com ela podemos nos aceitar, sem exigir de nós o que não somos ou podemos, e amando nossas verdades pessoais sem vaidades. Só o humilde se aceita, se gosta, tem paz e pode então se relacionar melhor com os outros, essa é a verdadeira humildade que nasce só de um real encontro com Deus, onde nos humilhamos e clamamos por misericórdia e perdão.
      “O Senhor eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra“ (Salmos 147.6), humildade é um dos grandes mistérios espirituais, pois algo que a princípio pode parece que nos diminui no final acaba nos engrandecendo, isso porque abrimos mãos da referência errada e confiamos na referência certa. A errada é a do homem, nós mesmos ou os outros, o humilde abre mão de ser honrado pelo outros sendo aquilo que ele acha que vai agradar os outros ou a si mesmo. A referência certa é a referência de Deus, quando paramos de nos importar com o que os homens acham que é importante Deus nos revela o que é importante para ele, e nessa experiência nos sentimos muito bem, satisfeitos, úteis, completos, em paz, num orgulho pessoal que não sente necessidade de mostrar aos outros, mas que se sente feliz só por saber que Deus sabe e se importa. 
      A terceira experiência que temos quando vivenciamos um real encontro com Deus é o amor. Se pela santidade nos equalizamos com Deus e com a humildade nos aprumamos com nós mesmos, podemos, então, ver os outros como são e tratá-los como Deus quer os tratemos. Amor é dar ao outro o mesmo direito que queremos para nós, mas não de um jeito frio, como se fosse só obedecendo cegamente uma lei. O verdadeiro amor compungi-nos, move nossas estranhas, toca profundamente nossos sentimentos, nos faz querer abraçar alguém, física e emocionalmente, e assim, enternecidos, queremos que a pessoa seja honrada, ainda que isso signifique que nós não seremos. O amor não espera recompensa, se sacrifica em silêncio e entrega nas mãos de Deus, esperando dele e somente dele qualquer espécie de retorno, só após um encontro profundo com o Espírito Santo conseguimos amar. 
      “Então foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a face de JóE o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía“ (Jó 42.9-10), essa passagem de Jó é um dos registros mais reveladores sobre o amor na Bíblia, mostra o amor na prática, demonstrado por quem não podia fazer outra coisa a não ser amar, e que precisava receber nada melhor que amor sincero. Os “amigos” de Jó foram punidos por Deus por terem falado a Jó sobre Deus com uma falsa sabedoria, aquela que até usa Deus e sua palavra como argumentos, mas que por não ser em amor julga e condena. Contudo, ainda assim, aquele que vivia uma provação enorme de Deus, que tinha sofrido muito e perdido tudo, se deu ao trabalho de orar por falsos amigos. 
       Quem se lembra de amigos falsos quando está lá no fundo do poço? E muitas vezes depois que saímos do fundo ainda tentamos nos vingar dos que foram cruéis conosco, ainda que seja só com um desprezo discreto. Mas Jó orou, pois bem, Deus não só ouviu a oração como “mudou a sorte de Jó”, e não só o levantou, mas com honra dobrada em relação a tudo que ele tinha perdido. Contudo, tem algo que passa quase que desapercebido no último capítulo do livro de Jó, no final do versículo 9, “fizeram como o Senhor lhes dissera e o Senhor aceitou a face de Jó”, não podemos dizer com certeza se uma coisa tem relação direta com a outra. Contudo, será que podemos interpretar que o Senhor aceitou a face de Jó só depois que seus amigos ofereceram a Deus sacrifícios por seus pecados? Em seguida, aceito por Deus, Jó ora pelos amigos e o Senhor concretiza a bênção. 
      Se interpretarmos dessa maneira, parece-nos que a bênção de um vem pelo esclarecimento dos outros, e vice-versa, Jó é abençoado quando seus amigos se arrependem e seus amigos são abençoados quando Jó ora por eles. Somos muito materialistas, gostamos de interpretar a bênção maior que Jó teve com a provação que passou, como a multiplicação de seus bens, nos esquecemos da bênção maior, a “iluminação” que tanto ele como seus amigos tiveram com a experiência Essa “iluminação” proporcionou-lhes uma visão mais clara do porquê estarmos neste mundo, uma experiência que os tornou mais preparados, e mais que para viver no plano físico, para habitar a eternidade espiritual com Deus. Jó não só ficou mais rico, mas com certeza mais santo, mais humilde e mais amoroso, assim como seus amigos, esse é o propósito maior de Deus em todas as provações que permite que passemos. 
      Quando temos de fato um encontro com Deus essas três experiências transbordam de nossos corações, desejo de ser santo, humildade não fingida e amor sem concessões, quem não demonstrar isso depois de ter alguma experiência espiritual precisa rever suas referências de experiência espiritual, seu entendimento sobre dons do Espírito. Uma experiência profunda com e no Espírito Santo mexe com nossas emoções, mas é muito mais que isso, mexe com nosso espírito, e isso nos coloca num nível espiritual diferenciado, nos dá uma convicção mental, um esclarecimento intelectual que transcende o emocional. Uma experiência com o Santo Espírito não deixa nossos corpos “sem controle”, como acontece em experiências com espíritos ”estranhos”, somos curados psicológica e fisicamente quando temos uma experiência verdadeira, ela nos coloca de fato mais perto de Deus e de sua espiritualidade mais elevada. 

25. Espiritualidade exercida com amor

      “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Colossenses 4.6
 
      A verdadeira espiritualidade deve ser guardada como o bem mais precioso, assim não deve ser compartilhada de qualquer jeito, com qualquer um, em qualquer momento, principalmente quando é explicada de maneira mais profunda. Vivida, sim, precisamos vivê-la sempre e da melhor maneira possível, ainda que com cuidado, mas para falar sobre ela é preciso amor e sabedoria, isso porque não é todo mundo que está preparado para ela, e pior que isso, alguns podem usar um conhecimento nosso, adquirido a duras penas, para se promover, ou então, para odiar mais ainda o cristianismo à medida que entendem mal o que não estão preparados para saber. Algumas coisas é melhor que fiquem “ocultas”. 
      Ser espiritual é saber de certas coisas, sim, isso está correto, mas não basta saber. Em Deus as coisas funcionam de maneira diferente, não basta saber sobre ele ou poder dizer algo sobre sua palavra, é preciso ter ordem dele para manifestar isso aos outros. Quando ele manda ele nos prepara, senão será palavra de homem, não de Deus, e pior, palavra de homem dita em nome de Deus, o que agrava mais ainda o pecado. Para coisas de homens, basta saber que se tem direito de dizer, mas mesmo nisso se coisas certas forem ditas em tempo errado, no lugar errado ou para pessoas erradas, poderão funcionar mal, ainda que nesse caso, quem fala, fala por si, e assume responsabilidade pessoal por isso, nada tendo a ver com Deus. 
      A verdade é que o bem só é bem quando usado com bem, senão pode se tornar mal. Os tolos acham que basta saber, os estúpidos defendem legitimidade para o que têm a dizer na coragem que têm para dizer isso, mas coragem em si não confere legitimidade, pode ser apenas irresponsabilidade, falta de noção de quem fala o que pensa de forma errada. Qual é a forma certa de falar coisas certas? Em amor, o amor é o tempero adequado que dá equilíbrio à sabedoria, que torna mesmo a exortação mais insípida, salgada. O amor não humilha o exortado, nem exalta o exortador, mas glorifica o Deus de todas as virtudes buscando restaurar o exortado para Deus, não vencê-lo numa guerra pessoal e humana.
      Só sob ordem de Deus temos o amor certo para revelar a palavra dele, assim, se você entender que tem algo a dizer a alguém, se sentir que deseja ajudar alguém com uma orientação de sabedoria para uma área da vida, não necessariamente área espiritual, mas se perceber que não sentiu ainda amor suficiente para fazer isso de forma elegante, educada, espiritual, não faça, não ainda. Ore mais a Deus e espere que Deus propicie o momento certo, no tempo de Deus temos não só o que dizer, mas o modo certo de dizer, em amor ganhamos amigos consolados mesmo na exortação, e não fazemos inimigos humilhados com uma verdade dita de maneira insensível e egoísta para a qual eles não estavam preparados. 
      “Não toque em ferida que não possa curar”, orientação que um dia recebi e nunca mais me esqueci, e como nós evangélicos nos achamos tantas vezes donos da verdade e com capacidade diferenciada para resolver problemas alheios. Por outro lado, quem está sempre achando que pode resolver os problemas dos outros, grande parte das vezes não quer resolver os próprios problemas, já quem se conhece e se resolve em Deus age com paciência, com amor, com humildade, pois dá para os outros o que recebeu, e cada um só dá o que recebe, eis uma “economia” básica no universo. Quem recebe exortação dura e violenta dará isso aos outros, e nem se sentirá mal por agir assim, mas quem recebe amor dá amor e ganha mais amor.
      Quem não ama pode ser impelido a agir por inveja, e não se pode confiar em quem quer expressar espiritualidade, seja ensinando mistérios ou praticando caridade, com um coração invejoso. Inveja revela que alguém não se conhece, não se ama e deseja ser ou ter o que o outro é ou tem, assim a inveja até consegue bens e conhecimentos, mas falsos, porque o invejoso não busca para si, mas para o outro. O invejoso não vive para si, mas para impressionar o outro, assim nunca estará satisfeito, terá tudo mas não usufruirá de nada, por isso tudo o que acumula é falso. O coração do invejoso é o de um ladrão, que ainda que não manifeste isso roubando algo material, tem um desejo profundo de adquirir algo que não é dele. 
      Existem duas coisas difíceis de serem detectadas no coração humano, uma é boa, a humildade, sobre a qual refletiremos adiante, a outra é ruim, a inveja. É difícil de ser detectada porque o homem pode ser motivado a fazer coisas esplêndidas por ela, assim suas ações não refletem suas intenções. Como ser liberto dela? Pelo amor, o diabo invejou a Deus, por isso perdeu direitos, o que o fez ferramenta para testar no homem justamente a inveja, Adão e Eva provaram do fruto proibido porque queriam ter o mesmo conhecimento de Deus, invejaram a Deus ao invés de amá-lo. Quem vence inveja com amor entende um dos mistérios da espiritualidade mais elevada, e será servo. O servo, contudo, sempre é servido por Deus.  

26. Espiritualidade exercida com sabedoria

      “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.” Mateus 7.6 

      A espiritualidade nos dá acesso a conhecimentos divinos que salvam, curam e transformam o ser humano, mas será que basta saber, mesmo saber com um coração cheio de amor, para compartilhar esses conhecimentos? Para entender isso precisamos entender corretamente a metáfora “pérolas aos porcos”, o que ela significa? Significa coisas preciosas demais para quem não dá a essas coisas o devido valor, valor de coisas preciosas. Porcos podem comer quase que qualquer coisa, e quando são mal criados, no meio de sujeira e lixo, podem até comer pérolas, mas não saberão o valor delas, nem que elas não são para comer. 
      Podemos observar dois tipos de reações indevidas de quem não sabe o valor do que lhe é apresentado: rejeição e aceitação estúpida. A aceitação estúpida aparentemente não rejeita, mas também não recebe do jeito adequado. O texto acima fala da atitude de rejeição, de quem não reconhece o valor do que lhe está sendo ofertado e simplesmente pisa e destrói o presente, e mais, se volta contra os que lhe deram a oferta. Esse não entende nem o valor do que recebe nem a virtude de quem lhe dá, e pode reagir com violência.
      Contudo, atualmente existem muitos estúpidos que recebem o evangelho como recebem qualquer coisa, sem discernimento, eles até o “ingerem”, mas não usufruem de suas bênçãos mais profundas e facilmente se “livram“ dele para seguirem se alimentando de qualquer coisa, sejam bolotas ou pérolas. Mas por que alguns podem, além de despedaçarem o que recebem, voltarem-se contra os que deram? Entendamos pérolas nesta reflexão como simbologia para o conhecimento de Deus, e não existe nada mais precioso que a palavra do Senhor, que conduz à salvação, ao perdão, à cura e à paz eterna. 
      A culpa no coração orgulhoso cria mecanismos para desmerecer quem vive e ensina a simplicidade do evangelho, porque o orgulhoso quer álibis para permanecer como é, com as suas soluções, negando de qualquer maneira que suas soluções não resolvem, não lhe trazem paz. Dessa forma, quando compartilhamos a solução de Deus com o orgulhoso, ele não vê como solução de Deus, mas como a nossa, o orgulhoso não enxerga Deus, o mundo espiritual, mas homens e o plano físico, e para tirar a legitimidade de algo divino diz que é só mais um ponto de vista humano.
      Por ser orgulhoso, não quer admitir que outros têm uma solução melhor que a sua, ainda que com isso continue se sentindo culpado, e entenda como outros principalmente aqueles que causam a ele alguma insegurança, já que ele até pode aceitar soluções, mas de quem não ameace de alguma maneira a posição superior que ele quer mostrar que tem em seu grupo social. (Quer um exemplo disso? Não existe gente mais difícil de ser evangelizada que parentes, eles ouvirão estranhos na rua, mas não alguém com laços de sangue em comum). 
      A culpa no coração orgulhoso leva muitos a comprarem os produtos mais insanos possíveis para que o coração continue com culpa, na verdade o orgulhoso busca outros nomes para sua culpa, que não jogue sobre ele mesmo a responsabilidade por ela, mas nos outros. A preciosidade da pérola do evangelho está em mostrar a responsabilidade pessoal de cada um por seus erros e a objetividade com que se pode receber paz pelo perdão que existe no nome de Jesus. Dessa pérola todas as outras advém, salvo e sem culpa o homem pode então aprender mais pelo Santo Espírito.
      Todavia, com os porcos que comem de tudo, talvez seja com quem tenhamos que ter mais cuidado, “pérola” comida rapidamente é “descartada”, pois “pérola” não é para ser comida, mas para ser usada como joia preciosa, principalmente em momentos especiais, mantida segura para sempre. Por “comerem” e não guardarem do jeito certo é que tantos enchem igrejas atualmente, e ainda assim nunca conhecem profundamente a palavra do Deus Altíssimo, nunca crescem, e sempre são manipulados por homens. O evangelho atualmente, em muitos lugares, não é apresentado como “pérola”, mas como bolotas de porcos, essa é a terrível verdade. 
      Se você achou uma pérola do evangelho guarde-a para si, como seu bem mais precioso, você achou espiritualidade, se outros tiverem que vê-la que vejam a beleza que ela apresenta em sua vida, que vejam o efeito dela. Não tente dar uma pérola a qualquer um, de qualquer jeito, dê a tua pérola o devido respeito, seja espiritual, tenha-a como pérola divina, não como arma humana para dar a última palavra numa discussão. Caso contrário o estúpido poderá se voltar contra você e ainda desmerecer o evangelho, você só estará jogando fora, por ter feito algo no tempo errado, a oportunidade de alguém ser abençoado, e estará lançando aos porcos a espiritualidade de Deus. 

27. Humildade: opção ou obrigação?

      Humildade talvez seja o efeito mais profundo da verdadeira espiritualidade, já que algumas virtudes podem ser aparentes e sentidas pelas pessoas, como um testemunho de santidade, atitudes e palavras realmente de amor, assim como uma disposição de constante tranquilidade e domínio próprio que transmite uma paz real. Contudo, humildade é algo muito mais sútil, a verdadeira se instala em nosso âmago, só Deus sabe de fato se somos ou não humildes, por outro lado, mesmo a ausência aparente de algumas virtudes, pode não indicar a ausência de um espírito  humilde. Já pensamos sobre humildade neste estudo, mas pela importância do assunto, vamos refletir um pouco mais nessa e nas duas próximas partes. 

       “Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe.” Salmos 138.6

      Humildade, talvez seja a virtude mais difícil de se ter, e a mais delicada, facilmente se perde. Quem a tem? Só Deus conhece de fato os realmente humildes, já que nós, homens, podemos nos enganar sobre ela, a vermos em quem não a tem, muitos são dissimulados profissionais em emular virtudes, e não a enxergarmos em que a tem lá no fundo do coração, mesmo que seja um coração encapado por um jeito grosseiro de ser, no trato e nas palavras. A verdade é que nós, principalmente os cristãos com séculos de tradição católica hipócrita, criamos arquétipos de humildade, e parece que quando alguém foge desse arquétipo achamos que não é humilde. As pessoas, contudo, podem ser humildes por motivos diferentes.
      Alguns são humildes por opção, podem escolher isso. Esses são bons cidadãos, bons profissionais, bons cristãos, conseguem errar menos, fazem as melhores escolhas antes, têm bons empregos, bons casamentos, bons amigos e são considerados como membros fiéis em suas igrejas. “Mas como, esses parecem tão corretos e ainda assim podem escolher não serem humildes?” Exato, e justamente por serem tudo o que foi descrito, eles, lá em seus íntimos, em seus corações, de um jeito que só Deus sabe, podem não ser de fato humildes. Muitos pensam assim: “sempre fiz tudo certo, sou honrado por isso diante de meus semelhantes, não preciso me rebaixar para certas coisas, para certas pessoas, tenho direito ao meu orgulho”.
      Ouros, contudo, têm a obrigação de serem humildes, eles não têm outra saída para seguirem vivos. Esses fizeram tudo errado, pelo mal que lhes fizeram e pelo mal que eles quiseram fazer a si mesmos, fizeram alianças equivocadas e foram infiéis com elas, traíram e como efeito foram traídos. Dessa forma, para poderem ter ainda nesta vida um pouco de paz, uma segunda chance, ainda que tardia, alguma liberdade, ainda que na solidão, precisam tratar muitos com humildade, sem exigências, sem cobrar que ninguém os perdoe, mas firmados apenas no perdão de Deus e de si próprios. Esses entenderam que não podem confiar em si mesmos, e muito menos naqueles que sempre os verão como eram, não como são agora. 
      Existe um terceiro e um quarto tipo de pessoa. Um deles é aquele que mesmo tendo sido melhor e há mais tempo, é humilde, esse é o tipo mais raro de ser humano, o que sempre teve, mas ainda assim vive como se nunca tivesse tido, o que abre mão de valores pessoais, de aprovações humanas, para confiar em Deus e tratar com misericórdia a todos os homens, mesmos os mais pecadores, ainda que não precise de ninguém. O quarto tipo é o tipo mais triste, ainda que tenha errado, não aprendeu com os erros, e segue, errando mais e arrogante. Contudo, uma pergunta cabe aqui, sobre os dois primeiros tipos: quem é mais feliz? O que pouco errou, mas envelheceu arrogante, ou o que muito errou e aproximou-se da morte humilde?
      Para responder essa pergunta é preciso responder outra: para que serve essa vida, para que estamos neste mundo? Para sermos importantes materialmente, diante dos homens, ou para adquirirmos espiritualidade que agrade a Deus? Se for para nascer de um jeito, passar por juventude e maturidade e continuar igual, talvez nem importe se fomos sempre ruins ou bons aos olhos dos homens. É preciso evoluir, mudar, e todos, todos nós temos o que mudar, ninguém nasce pronto, ainda que num nível “espiritual” (moral) mais alto que outros. No que mudar, onde e quando mudar, cada um de nós sabe, ainda que mostremos para os outros uma aparência de integridade e excelência. Uma coisa é certa, para o que muito errou é muito mais difícil mudar, deixar o mal e fazer o bem, largar a infidelidade e ser fiel. 
      Os que erraram muito não têm escolha, se quiserem uma vida diferente terão que ser humildes, Deus, contudo, cuida de um jeito especial dos humildes, dos que não confiam em si mesmos, isso por não terem justiça própria para confiar, e confiarem em Cristo, que justificou os pecadores. Entretanto, cuidado, não acuse os que se refugiaram no perdão de Jesus, quem faz essa acusação não acusa o pecador, mas quem o perdoou. Infelizmente, muitos religiosos que conhecem o evangelho de trás para frente podem ainda nem terem se convertido, se acham cristãos por acharem que merecem ser. Quem acha que merece nunca foi de fato cristão, o fundamento do novo nascimento em Cristo está na assunção de que nada se merece, mas tudo se recebe pela graça de Deus, a humildade verdadeira começa aí, e daí ilumina-se para a espiritualidade.
      O texto inicial fala de uma dimensão interessante para discernir o humilde do soberbo, a distância. Enquanto o humilde se conhece quando se olha de perto, no coração, já que a humildade verdadeira pode ser simulada com aparência de falsa humildade, o soberbo se vê de longe, por quê? Porque ele gosta de ostentar, de se exibir, e muitas vezes mesmo virtudes falsificadas, que ele sabe que são importantes, mas não paga o preço para tê-las de fato. Deus conhece o soberbo de longe, ele é facilmente identificável porque quer aparecer, já o humilde é discreto, sábio, aprendeu a se recolher em si, ele sabe que muitas qualidades, ainda que genuínas, não podem ser valorizadas por todos, assim ele as guarda como seu tesouro mais valioso. O humilde, não se posta diante de homens porque confia em Deus, isso é espiritualidade cristã. 

28. Humildade: único jeito de crescer

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mateus 5.3

      Sábio é querermos melhorar, não nos acomodarmos, mudarmos por dentro e não confiarmos na aparência, aparência pode ser enganadora. Aproveitemos bem nosso tempo neste plano físico, a vida encarnada é uma existência muito especial, uma oportunidade de mostrarmos nossa melhor essência e de construir a porta para a eternidade. Na verdade quem muda é humilde, não importando em que nível começou, os que tratam os pecadores com arrogância, que não lhes dão a chance de serem melhores, que os julgam pelo passado, além de descrerem do poder do perdão que há em Jesus, nunca experimentaram mudança em suas vidas, ainda que nunca tenham escandalizado ninguém. Esses não provam espiritualidade, mas só a carne, mesmo que ostentem aparências de virtudes. 
      Muitos, talvez, só tivessem que fazer uma escolha em suas vidas e não fizeram, escolherem ser humildes, eles nasceram com melhores possibilidades, com mais atenção, pelo menos mais que outros que tanto mal colheram e plantaram, mas ainda assim continuaram orgulhosos. Por medo de perder o que tinham não investiram em nada, foram tímidos, foram covardes, e timidez é só um outro nome para arrogância, não é virtude. A eternidade, contudo, revelará o nível de espiritualidade real que cada um de nós alcançou, não no início de nossas vidas, muitas vezes nem na maior parte delas, mas no final. Temos até o último instante aqui neste plano para mudarmos, os orgulhosos, contudo, poderão passar seus dias finais em UTIs, só para entenderem isso, só para escolherem ser espirituais. 
      A vida passa muito depressa, não deixemos para depois o que é mais importante. O mais importante para cada um de nós, que é algo pessoal e específico, sempre nos conduz à humildade, pois nos leva a pagar preços, a perder para ganhar, quem de fato foi atrás de sua verdade, de ser feliz teve que mudar, e quem mudou para melhor é humilde. Os que não querem pagar preços, que não querem perder, que são escravos dos outros, que se sentem obrigados a mostrar para os outros coerência e justiça dos outros, nunca serão quebrados para que precisem se reconstruir, assim nunca mudarão e não se sentirão na obrigação de serem humildes. Dentro de um coração arrogante tem um escravo, que por ser escravo agrada a muita gente, pode até ser honrado por muitos, mas é um escravo infeliz. 
      Uma pergunta precisamos fazer a nós mesmos: que tipo de pessoa eu sou? Eu sei, sou do tipo que errou muito, muitos ainda me julgam pelo meu passado. Mas como devo reagir a isso, levantar minha voz e dizer que Jesus me perdoou e ninguém tem o direito de me acusar? Não, devo ser humilde, e isso não é fácil, mas preciso confiar que quem me salvou e me perdoou também pode me defender, ele não precisa de meus argumentos. Esteja certo de uma coisa, causa deixada nas mãos de Deus com fé e em humildade Deus toma, e faz o melhor, ninguém duvide ou zombe disso. Terrível é cair nas mãos do Deus altíssimo, os acusadores dos lavados pelo sangue do cordeiro caem nesse juízo, sejam demônios ou homens.
      O texto inicial diz algo muito importante sobre humildade, os cidadãos do céu, um reino que começa na terra, nos corações dos homens, são humildes. A versão NVI desse texto, contudo, diz “bem-aventurados os pobres em espírito”, assim pode não ser tão fácil entender o que o escritor quis dizer com pobres nesse contexto, mas nesse caso pobre não é ter menos virtude espiritual, mas é ter mais à medida que não se dá importância a valores materiais. Todavia, o fato de termos menos condições econômicas não faz de nós, necessariamente, pessoas humildes, o que faz é nossa atitude de não confiar nessas condições para nos posicionarmos como melhores. O que nos faz melhores são as virtudes espirituais que aperfeiçoam nossa moralidade, quem tem essas virtudes não se coloca como superior aos outros. 
      O pobre de ou em espírito é humilde, abre mão de tudo aquilo que pode lhe dar aprovação humana ou status social através de valores de aparência externa, ele não se importa com essas medidas e pode achar felicidade e paz diretamente em Deus. Esse pobre não precisa provar nada a ninguém, se defender e muito menos acusar, a ele basta saber o que Deus pensa dele, fez e faz por ele. Em Deus ele sabe que não é pobre, que está perdoado, é cidadão do reino dos céus e é riquíssimo, isso é suficiente para que ele caminhe firme e de pé, sem orgulho, mas também sem medo, protegido contra as setas dos acusadores, protegido contra seu próprio passado ruim. Bom é ser humilde, ainda que por obrigação, mas todos os que provam a Deus de verdade se sentem obrigados, não por força, mas pelo Espírito, a serem humildes.

29. Humildade: condição para libertação

      “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2.5-11

      Humildade, realmente espiritual, não outra, que não pode ser substituída por nenhuma virtude, eis a chave para que tenhamos de fato libertação e paz, reflitamos nessa afirmação de seu fim para seu início. Libertação, todos nós precisamos de libertação de algum tipo de prisão, que nos tortura e não faz buscar algum tipo de vício para amenizar nossa dor. O que nos aprisiona? O mal que fizemos e que nos traz culpa, o mal que nos fizeram e que nos traz mágoa, o mal que imaginamos que poderá nos afligir e que nos traz ansiedade, o mal que pensamos que poderão nos fazer e que nos traz medo. Culpa, mágoa, ansiedade e medo, tudo isso nos deixa inseguros, inseguros ficamos fracos e somos aprisionados, aprisionados perdemos a liberdade de seguir em frente, construir, crescer e ter paz, à medida que buscamos prazeres falsos que nos satisfaçam, e que acabam se tornando vícios. 
      Nos transformamos em medos ambulantes, quem tem medo não ama e vê inimigos em todos, para anular isso até podemos tentar ser melhores pois nos sentimos mal, em dívida, assim procuramos largar os vícios da carne, sermos bons cidadãos, ajudar aqueles que estão em situação pior que a nossa. Podemos nos tornar caridosos assíduos em serviços sociais e religiosos, religiosos assíduos em cultos e trabalhos, crentes assíduos em jejuns e consagrações, mas ainda assim podemos não achar libertação e nem paz. Por quê? Porque podemos estar só tentando fugir do principal, substituir humildade espiritual por outras virtudes, e não é qualquer humildade, já que diante de homens podemos até parecer humildes, mas se somos ou não espiritualmente humildes só Deus sabe. Deus só nos liberta quando de fato somos humildes, e humildes não só na aparência, mas espiritualmente. 
      O que é humildade espiritual? É dobrar os joelhos para o nome de Jesus, como diz o texto inicial, e o mais maravilhoso é que aquele para o qual todos devem se dobrar ganhou essa posição porque deu o exemplo e se humilhou, assim recebe honra quem honra dá, recebe respeito, quem respeito dá. Quem tenta substituir humildade por outras virtudes o faz por vaidade, porque na verdade o que quer é receber aprovação de homens, e até de Deus ainda que do jeito errado, tentar receber algo que não se deu é impossível. Contudo, quem se humilha diante de Deus será honrado simplesmente porque não tem mais necessidade de honra, dessa forma mesmo na solidão e na clandestinidade se sentirá honrado e satisfeito. Para saciar a alma não basta tentar achar um alimento adequado, isso é impossível, primeiro porque a fome principal é espiritual, a solução é anular a fome.
      Só Jesus pode curar nossa necessidade de justiça própria que ainda que nos leve a ser bons religiosos nunca nos fará provar a verdadeira espiritualidade, só em Cristo somos humildes porque aceitá-lo como salvador implica em nos assumirmos como pecadores, sem direitos, que aceitam segui-lo sem exigências. O espiritualmente humilde em Cristo não se importa em ganhar porque já ganhou tudo, nem em perder porque sabe que nada tem valor, a não ser comunhão com o Altíssimo através de Jesus e pelo Espírito Santo. Essa é a cura para a fome principal de nossos seres. Somente humildes somos de fato espirituais em Deus, de outra forma poderemos até ter experiências espiritualistas e bem profundas, mas não com Deus e nem para a glória dele. Sigamos o exemplo de Cristo que se humilhou e recebeu de Deus a única honra que importa, que levaremos à eternidade e que nos fará de fato espirituais. 

30. Espiritualidade para os olhos de Deus

      “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” I Samuel 16.7

      Somos seres que querem ser vistos, e se já era assim antes, muito mais agora que podemos compartilhar fotos e vídeos no Instagram, Whatsapp e outros espaços da internet, todos querem ser famosos, celebridades, ao menos nas fotos carregadas de filtros. Chegamos ao ridículo de que registrar uma festa é mais importante que a própria festa, assim quando vamos a uma ao invés de vermos gente usufruindo do momento estão todos tirando selfies e acompanhando as vidas alheias nas redes. Nunca parecer foi tão mais importante que ser, nunca aparência externa valeu mais que as virtudes interiores do coração, o diabo está conquistando o mundo, mas não matando cristãos e bem antes de mandar não cristãos para o inferno. O mal tem encarcerando todos numa vida artificial, a vida falsa da internet, isso pode ser o engodo mais eficiente do diabo para desviar o ser humano da espiritualidade. 
      Quando Deus mandou o profeta Samuel escolher um rei para Israel ele foi até Jesse que lhe apresentou sete filhos, ele deve ter feito isso de acordo com um critério dele de qual seria o filho melhor, assim começou por Eliabe. Foi para esse que Deus deu a Samuel a resposta do versículo inicial, mas ela servia para todos os sete filhos que Jesse apresentou, quando achou que esses eram seus melhores filhos. Davi nem estava nessa lista inicial, para Jesse talvez não fosse grande coisa, mas ele também estava ocupado, enquanto que ao que parece os outros sete irmãos não estavam. Mas ainda que seu pai não lhe desse valor, ainda que ele não estivesse no lugar certo fazendo a coisa certa (e com coisa errada me refiro a estar indisponível para a escolha, não por estar fazendo algo errado), ainda que não tivesse as características que podiam elenca-lo como um rei, ele foi escolhido. 
      Por quê? Porque “o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. Quando Deus tem algo pra nós, o homem pode gritar, fazer-se prevalecer, estar presente no lugar certo e melhor apresentado para algo, pode mesmo nos criticar, diminuir-nos, dizendo mentiras sobre nós, mas também revelando a muitos nossos erros, nosso passado, tentando roubar de nós nossa honra. Mas tudo isso não importa, Deus olha o coração, conhece o sincero do bem, o que não busca honra própria mas a dele, o que de fato está pronto para obedecer, seja qual for a dificuldade, o que já abriu mão de tudo pela verdade. Não tema o homem, os belos e poderosos Sauls, Deus usa os Davis, que podem ter muitos defeitos e limites, mas possuem um coração que agrada a Deus, e se os homens  não veem isso, Deus vê, confie em Deus. 
      Toda a lição da escolha de Davi que está em I Samuel 16 sem resume numa coisa, confiarmos no que Deus sabe sobre nós, não no que os homens sabem e veem. Isso é algo que exige de nós intimidade com Deus e fé, caso contrário desenvolveremos mágoas achando que Deus não liga para nós, não vê nosso esforço e nossa intenção, e que o homem, por sua vez, aparece mais que a gente, é mais visto. Pensamos assim quando damos valor a coisas que podem ser só aparências, e aparências que outros homens valorizam, assim a mágoa nasce quando damos valor para os olhos físicos dos homens, e não para os espirituais de Deus. Deus vê tudo, e mais, vê o que de fato interessa, ele não se deixa enganar com os teatros, com as exibições pirotécnicas, que nos dias atuais podem ser mostrados para todos os olhos e em tempo real nas redes sociais, vivemos um momento em que é fácil ser visto.
      “E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam, mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração“ (Lucas 2.18-19), Maria era discreta porque sabia que a vida de seu filho deveria ser discreta, o mais importante ele faria em sua morte, e isso era algo que teria um preço alto. Quem confia nos olhos do Senhor sabe que a vida não é fácil e deve ser levada com sabedoria, nunca confiando nos homens. O próprio Jesus pediu mais de uma vez a seus discípulos discrição sobre seu ministério, para que as coisas não acontecessem antes do tempo certo, e no seu caso, sua morte, “e, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos“ (Marcos 9.9), Jesus não confiava nos olhos humanos, “mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia“ (João 2.24).
      Quem nós queremos que veja nossa vida, nosso trabalho, nosso melhor, nossas virtudes? Os homens ou Deus? Queremos plateia, aplausos, holofotes, fama, tudo para aplacar alguma carência não resolvida? Ou queremos fazer a vontade de Deus? Só quem faz a vontade de Deus é feliz e abençoa os outros, quem quer os olhos dos homens sobre si poderá até fazer boas obras, ajudar os outros, escrever livros de auto ajuda, até ser famoso, mas só beneficiará a si mesmo, não os outros. Benefícios egoístas são sacos sem fundo, por mais que sejam cheios nunca será o suficiente, parecerão sempre vazios, confiemos nos olhos de Deus, que registra tudo que fazemos, para ele nada fica perdido ou esquecido, e no tempo certo nos recompensa. Para quem confia nos olhos de Deus fazer o bem é um fim em si mesmo, se é feliz pelo simples fato de se fazer, indiferente de reconhecimento ou fama. 
      Interessante que o mesmo homem que confiava nos olhos de Deus acabou cometendo seu pior pecado quando usou mal os próprios olhos (II Samuel 11). A história de Davi também nos ensina que onde se encontra nossa maior força está também nossa maior fraqueza, a ferramenta é uma só e é eficiente tanto para construir quanto para destruir. Sensibilidade espiritual natural pode ser um talento que alguns nascem com ela, se tiverem temor a Deus serão cristãos ungidos e cheios de dons espirituais, mas se não tiverem poderão procurar em outras religiões respostas para seus questionamentos espirituais, se tornando médiuns ou magos. Espiritualidade é algo sério, uma grande benção, mas também algo perigoso, produz um desejo profundo de seu ter comunhão com o mundo espiritual, mas nele não existem só Deus e anjos, seres espirituais rebeldes estão por lá, atentos aos curiosos descuidados. 
      Quem estuda o mal é estudado pelo mal, mas quem olha para Deus é protegido pelos olhos do altíssimo, seja como for não se sai ileso de uma experiência profundamente espiritual, conhecemos e somos conhecidos, e se for na luz do Senhor, crescemos e recebemos a verdadeira iluminação. “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido“ (I Coríntios 13.9-12), Paulo, sempre Paulo, nos fala por mistérios em muitos de seus textos, que tem olhos espirituais pode entender verdades profundas neles.
      Solidão, algo intrínseco em todo ser humano, por isso ele quer ser visto, isso lhe dá atenção, a sensação que está acompanhado, mas só uma vida realmente espiritual pode satisfazer essa solidão, porque a principal solidão que temos não é a que precisa da companhia de uma companheira, de um companheiro, de um amigo, de um pai, de um irmão, mas de Deus, é uma solidão espiritual, não só emocional ou social, necessidades espirituais se resolvem com soluções espirituais e com nada mais. Os olhos de Deus fazem de todos nós reis, como Davi? Mais que isso, como Jesus, um rei que veio para servir e não ser servido, e aí está o mistério, quem a todos serve acaba sendo servido pelo maior de todos, o próprio Deus. Assim, liberte-se dos outros homens, e também de todos os outros seres espirituais, olhe diretamente para o Deus Altíssimo e confie nele, ele nos basta e nunca nos desaponta. 

31. Espiritualidade é mudança

      “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste: que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste.” Salmos 8.3-5

      “Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.” Salmos 22.9-10

      “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.” Salmos 23.6

      Em algum momento de nossas vidas podemos dizer que somos de fato espirituais? Sim, não tão altos como Deus, mas no máxima que podemos atingir no plano físico. Essa espiritualidade é individual, e nem sempre será aquela que gostaríamos de ter ou que achamos que temos, e isso pode ser para menos ou para mais. Sonhos, erros, desilusões, dores, mas também paixões e amores, em trajetórias solitárias, coletivas, no mundo, nas igrejas, convertendo-se, desviando-se, voltando ao cristianismo, e às vezes ainda continuando desviados, enfim, a verdade pessoal de cada um sempre vence no final da vida, se mostra sem pudor e não se esconde mais. Ou é isso ou é o suicídio, que muitas vezes nem precisa dar cabo do corpo físico para existir, e como existem zumbis neste mundo. 
      No final da vida muitos se acharão no topo da espiritualidade, mas só fizeram manter o que eram no início, nunca de fato cresceram, ainda que se achem melhores que outros por verem em suas vidas uma curva sempre reta. Esses representam muitos religiosos, principalmente no cristianismo, gente com status social em suas comunidades, que nunca perderam uma batalha porque nunca entraram em uma. Venceram a guerra? Não, sequer dela participaram, foram só espectadores. Quem nada faz e só olha sempre tem mais tempo para criticar as vidas alheias, principalmente daqueles que se expõem e perdem muitas batalhas para ganharem a guerra final. Os medrosos especializam-se em chamar coragem de irresponsabilidade, e mesmo busca de felicidade verdadeira de fraqueza e vaidade. 
      É preciso coragem para perder, os orgulhosos, contudo, que não querem expor suas humanidades, acovardam-se, por nada lutam para nada perderem, mas assim também nada ganham, esses estão bem retratados na parábola dos talentos (Mateus 25.14-30). Muitos não entendem que o que mais identifica o ser humano são suas fragilidades, são elas que farão as escolham, já que quem está forte e satisfeito não precisa fazer nada, mas o sedento e faminto sai à procura de água e comida e enquanto não acha não descansa. Quem nega ou quer esconder seus limites nega a si mesmo como aquele que pode alimentar, não só o corpo, mas o espírito, o Santo Espírito de Deus, esse nunca se posicionará na espiritualidade do Altíssimo, esse não quer mudar, no fundo já se acha espiritual o suficiente. 
      Uma vez, ainda em minha juventude como cristão assíduo e trabalhador no ministério de uma igreja batista, ouvi alguém dizer, “as pessoas não mudam”, aquela afirmação vinha de alguém mais novo que eu, mas apesar de eu discordar, e discordo até hoje, e mesmo que eu não tenha entendido de forma consciente tudo que isso diz, me pareceu algo maduro, vindo de uma alma velha, que já tinha vivido muito e sabia das coisas dos homens mais do que eu. Até hoje eu insisto que as pessoas podem mudar, sim, e para melhor, e não devem desistir disso enquanto estiverem neste mundo, é essa persistência que nos dará direito à melhor eternidade de Deus. É o próprio Espírito Santo que nos empurra nisso, o tempo todo, isso é o que de fato significa estar vivo, querer evoluir, não se acomodar. 
      Vejo algo em minha vida hoje, vejo coisas, coisas que nunca mudaram, coisas que nem sempre me eram conscientes, mas que sempre estiveram dentro de mim. Entendo que o meu melhor já me habitava antes, quando eu era criança, adolescente, lutando dentro de mim, é esse melhor, que existe em todos nós, que Deus busca trazer à tona confrontando-nos com os homens, com o mundo e com o tempo. Nossa história tem o formato de uma onda senoidal que se inicia no alto, inclina-se até atingir seu ponto mais baixo e depois torna a subir até o ponto mais alto. Início e fim parecem iguais, mas não são, o que os diferencia? É a consciência. No início não temos consciência, assim o que muda não são nossos valores morais e entendimento espiritual, mas só a consciência do que de fato somos no espírito.
      O momento em nossas vidas em que mais perto estamos de Deus não é em nossa morte, ou próximos a ela, mas logo após nosso nascimento, nesse tempo estamos o mais perto da melhor eternidade de Deus, acabamos de nascer e em nós ainda habita inocência espiritual. A vida nos permite escolhas, e mesmo que sejam em áreas diferentes, profissional, afetiva, ministerial, todas colocam à prova uma escolha maior: estarmos ou não em Deus. Eu não disse sermos ou não religiosos, nem mesmo sermos ou não cristãos, mas estarmos ou não em Deus, em Deus só se pode estar através de Jesus. Viver é ter a chance de conhecer e permanecer em Cristo, e quem está no filho, está no pai, isso é ser espiritual e nisso está nosso melhor como seres humanos. Estar é Cristo é se arrepender do erro. 
      Arrepender-se não é mudar, mas aquele que de fato se arrepende quer mudança, ele sente profundamente a dor que é efeito de seu erro e resolve que não quer errar mais, para não ferir as pessoas, para não machucar a si mesmo, para não desagradar a Deus. Já o que se arrepende só superficialmente, se arrependerá algumas vezes e tornará a errar, o mesmo erro, então não se arrependerá mais, e para seguir com alguma integridade, ainda que enganosa, achará bons motivos para errar, assim como dará outros nomes para seus erros, que não pecados. Esses expuseram suas essências espirituais ao mundo, aos homens e ao tempo, e não tiveram coragem de amar mais ao Deus espiritual, preferiram adorar os seres espirituais rebeldes que estão por trás de todo ídolo, vaidade e ateísmo. 
      Quer uma definição (mais uma) para espiritualidade? Constante desejo de mudar para melhor. O espiritual não se contenta com um degrau, não dorme nele para desfrutar uma vitória, mas tem consciência que o topo é Deus, e que é preciso subir muito para alcançá-lo. Mas será que não é isso que dá graça à existência, o entendimento que sempre há algo novo para aprender e melhorar? Tenhamos cuidado, pois foi o desejo de alcançar o lugar mais alto depressa demais que foi usado pelo diabo para tentar o homem, quando lhe falou sobre o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no Éden. Não podemos ser Deus, mas podemos estar nele, por Jesus e através do Espírito Santo, esse é o caminho para uma transformação genuína que nos conduz à verdadeira espiritualidade.

      “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2.10-11  

      “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Coríntios 5.17

      As pessoas não mudam? Suas essências espirituais não, essas apenas têm a oportunidade de serem reveladas. No final de nossas vidas abrimos mão de concessões e máscaras e nos mostramos, pudera, não existem mais forças físicas em nós para mantermos personagens, a verdade é colocada na mesa, agrade a quem agradar. Quem sou eu de fato? O que resistirá em mim no final? Talvez Deus não cobre de ninguém altura espiritual, não aquela que coloca um mais alto ou mais baixo que outro, Deus não nos julga pelos outros, mas por nós mesmos, o quanto olhamos para ele para sermos nossos melhores. Deus julga pela coerência? Sim, mas não pela coerência que temos com religiões ou com os homens, mas com nós mesmos, com nossa cota de fé, nossa dose de iluminação.
       Nascemos com nossas virtudes espirituais, e ninguém pode tirá-las de nós, só nós mesmos, nós fazemos isso quando trocamos as virtudes por vaidades e prazeres com os mercadores de ilusões. Quem são esses mercadores? Os homens maus e os espíritos rebeldes, esses querem impedir que nasçamos espiritualmente, esse nascimento ocorre quando adquirimos consciência de nossas essências, que são divinas, que são da luz, que são do bem, que são do Deus altíssimo. Há muitos meios de se adquirir consciência espiritual, cristão, não se engane com relação a isso, mas em Jesus existe o meio mais direto e eficiente, queridos e sinceros amigos (e irmãos) de outras religiões, não se enganem em relação a isso. Por isso o novo nascimento é tão enfatizado no evangelho, não a reencarnação.
      Do que adianta reencarnar e reencarnar (se é que isso é possível) e não conhecer a Jesus como único salvador? É só prolongar a morte, é só eternizar o inferno, é só adorar os espíritos rebeldes, ainda que fazendo boas obras, levando justiça ao mundo e conservação ao planeta, mas não é ser um com o pai, o Deus altíssimo. Nele há céu, há eternidade de espiritualidade mais alta, há o objetivo mais elevado de todo ser criado à imagem de Deus, entender isso é adquirir a consciência mais iluminada, é achar o real sentido de nossas temporárias passagens por este mundo. Quem entende isso, no final de sua vida, atingiu a espiritualidade mais alta, entendeu o motivo de estar neste mundo. Infelizmente, muitos, andam e andam por esta terra e não libertam seus espíritos, porque não querem pagar os preços.
      É patético ver pessoas que tiveram as melhores oportunidades de adquirir consciência envelhecerem arrogantes, ainda que se achando cheias de conhecimentos, ainda que se vendo como quem enfim está pensando “fora da caixinha”, quando na verdade só buscaram motivos para se afastarem de Deus. Quem se afasta de Deus se afasta de si mesmo e dos outros, pelo menos dos homens realmente de bem, mas quem se afasta de Deus se aproxima da mentira. O que é a mentira? É tudo que nega, de alguma maneira, Deus. Pode ser explicitamente o diabo, pode ser o ateísmo materialista, podem ser objetivos morais e sociais altos, podem ser bandeiras ideológicas, e também pode ser acreditar em algum sectarismo cristão, a mentira também está dentro do que é denominado cristianismo. 
      Mas por que algumas pessoas parece que de fato não mudam? Porque usaram do direito ao livre arbítrio e preferiram não adquirir consciência, isso só é possível quando se amordaça o Espírito Santo, e meus caros e minhas caras, é preciso ser muito forte para isso. Quem pode lutar com Deus e vencer? Só o homem duro de coração. Por isso o céu é para os fracos, fracos não por cederem ao pecado, mas por se humilharem diante do Deus altíssimo, e isso nem é uma fraqueza, mas uma virtude, a lucidez de quem abre os olhos e enxerga as coisas espirituais como realmente são. Contudo, todos nós, todos, temos a arrogância equivocada de em algum momento de nossas vidas tentarmos lutar com Deus e prevalecer, e é o próprio Deus quem permite um confronto assim.
      Você já lutou com Deus? Isso a princípio não é algo ruim, é apenas o confronto honesto de nossas verdades com a verdade maior do Altíssimo, é preciso assumir algumas coisas para se colocar nesse confronto, ter certas convicções, se conhecer ao menos um pouco. Mas só isso já é ter alguma consciência que só será espiritualmente e plenamente adquirida se Deus vencer o confronto. Repito, só na verdade maior de Deus é que enxergamos nossas verdades, assim, infelizmente, quem “vence” Deus sai derrotado, enganado pela ideia de que sua maneira de ver e administrar a vida é melhor que a maneira de Deus. Mas algo pior pode acontecer, o derrotado pode crer na heresia de achar que sua maneira é a de Deus, quem luta com Deus e “vence” se torna um pequeno “Lúcifer”, um falso deus. 
      Por isso não julguemos mal a ninguém, e mesmo um bom julgamento deve ser feito com sabedoria, não sabemos em que ponto da curva alguém está, e obras muitas vezes podem não revelar espiritualidade, nem as boas e nem mesmo as outras. Aqui no plano físico somos todos escravos do tempo, assim tenhamos paciência com os outros, como Deus tem conosco, talvez alguém que nos parece enganado e duro na queda esteja só no último round de sua batalha para entender sua verdade pessoal, talvez falte pouco para que consciência espiritual seja adquirida, para que olhos e ouvidos sejam abertos, e a pessoa entenda o que é em Deus. Talvez as pessoas nunca mudem, e nem precisem mudar, mas só entender que são especiais, desde os seus nascimentos, e que só em Deus suas singularidades serão libertadas. 

32. Espiritualidade de Cristo

      “E aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo. E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. E, advertindo-o severamente, logo o despediu. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.” Marcos 1.40-45 

      Jesus como homem viveu com certeza a espiritualidade mais adequada e possível ao homem neste mundo, possível ainda que inalcançável, penso eu. Essa espiritualidade tinha uma característica, que a diferencia da espiritualidade de outros personagens religiosos, sejam bíblicos ou de outras religiões. Se essa característica é de fato o diferencial da vida de Cristo ou é aquilo que os homens que viveram com ele ou que relataram sua vida no novo testamento acharam que era, isso não sabemos. Os teólogos tradicionais, em defesa da Bíblia, podem argumentar que se é isso que entendemos nos evangelhos e nas cartas é o que Deus planejou nos ensinar, assim essa característica é de fato o diferencial da vida de Jesus. Eu prefiro acreditar que Deus nos mostra seu melhor não só com a Bíblia, mas apesar da Bíblia, e mesmo assim pode ser só por ela se a lermos com os olhos do Espírito Santo. Que característica é essa? Discrição. Jesus não dava relevância para exibir sua espiritualidade diante dos homens, em vários aspectos vivia a vida simples de um homem  judeu comum de seu tempo. Um mestre? Um rabi, pois ensinava as escrituras sagradas.
      Alguém, todavia, pode argumentar, “mas Cristo não fez milagres?”, fez, e esses são coisas que fizeram do ministério de Cristo tudo, menos discreto, contudo, penso que fez mais por amor e pela incredulidade dos homens que por ser de fato uma prioridade em seu ministério. Em exibir espiritualidade me refiro a práticas de religiosos, que ainda que não queiram sinceramente serem vistos como pessoas diferentes e ligadas a busca de espiritualidade e negação das vaidades do corpo, acabam em suas atitudes aparentando isso. Por exemplo, monges, principalmente de religiões orientais, que fazem suas meditações nas cidades, em meio ao povo, ou que se vestem de maneira diferenciada, ou que mesmo que se isolem vão a mosteiros reconhecidos como locais de busca de espiritualidade. Jesus não se portava assim, Cristo não era dono de nada, nem de sua privacidade, frequentemente roubada pelos outros, Cristo não fazia questão de aparentar, mesmo porque espírito não é algo visível. 
      A passagem de Marcos 1 nos revela atitudes de Jesus que nos ensina muito sobre sua discrição. Em primeiro lugar foi o leproso quem o procurou e que disse que acreditava que ele podia cura-lo, isso significa que Jesus não tinha um lugar específico onde ele se prontifica a fazer curas, e a receber alguma coisa por isso, contudo, sua boa fama o precedia, o homem o achou já crendo em seu poder porque já tinha ouvido falar dele. O segundo ponto é algo que Marcos deixa bem claro no texto, “movido de grande compaixão“, o que motivava Jesus era o amor, não existia qualquer vaidade nele de exibir seu poder, ainda que fosse para que os homens cressem que ele era o Cristo que vinha ao mundo para salvá-lo. “Estendeu a mão e tocou-o e disse-lhe, quero, sê limpo”, vejo pela fé nesse gesto um carinho profundo de Jesus pelo homem, tocar alguém que trazia na pele um estigma terrível, que devia afastar as pessoas, quanto mais as aproximarem para toca-lo, quem ama não teme e age com compaixão. 
      Mas o que segue no texto revela-nos muito mais sobre o caráter de Jesus, “advertindo-o severamente, logo o despediu, e disse-lhe, olha, não digas nada a ninguém, porém vai, mostra-te ao sacerdote“. Jesus dá duas orientações nessas palavras, a primeira diz respeito ao homem e a ele, que em outras palavras era, “não exiba tua experiência com Deus por aí, seja discreto”, isso era um conselho de espiritualidade para o homem, para que pensasse no que tinha experimentando de modo que a experiência mudasse não só sua vida física, sua vida social, já que a cura da lepra mudaria sua existência na sociedade. Mas era uma orientação que também beneficiaria seu ministério, ele sabia que muita propaganda de seu poder suscitaria a ira dos líderes religiosos judeus que poderiam apressar seu fim. A segunda orientação diz respeito à religião judaica, mostrando o respeito que Jesus tinha por ela, ainda que soubesse que estabeleceria uma religião superior, mas também ensinando que devemos honrar quem honra merece, no caso, as leis da religião que apesar de ser aquela que no final o mandaria à morte, era a religião do povo naquele momento.
      O leproso curado foi desobediente, como nós também somos tantas vezes, saiu a contar a todos, como resultado de sua desobediência o ministério de Jesus foi prejudicado, “de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos”, mas ainda assim “de todas as partes iam ter com ele“. Eu não tenho dúvida que fazer milagres para multidões não era o plano original para o ministério de Cristo, se fosse ele chegaria às cidades, se colocaria no lugar de mais fácil acesso para todos e começaria a fazer curas e prodígios, e se fosse assim talvez teria sido crucificado após seis meses de ministério, deixando de fazer, ou não fazendo com eficiência, aquilo que era sua missão em vida, uma missão importante mas secundária, preparar doze apóstolos para pregarem o evangelho. Sua missão primária era morrer sem pecado e ressuscitar, isso não curaria só os corpos de pessoas dos lugares por onde andou, mas os espíritos da humanidade de todos os tempos. Jesus era espiritual porque conhecia as prioridades que o pai tinha para ele e as seguia, indiferente do que os homens pensavam ou diziam. 
      Espiritualidade é algo espiritual, parece óbvio mas muita gente não entende isso, enquanto no plano físico o espírito humano é invisível, fica escondido dentro do corpo, e isso tem um motivo. O motivo é a revelação de um mistério, espírito não se mostra, não se expõe, mas se protege, se valoriza, e se permite que suas virtudes sejam exteriorizadas no mundo através de nossos pensamentos, sentimentos, palavras e gestos, mas com discrição. Por isso, evangélicos, não deem valor a títulos, e como vemos jovens em igrejas, sinceros e esforçados, mas ansiosos por receberem títulos, evangelista, pregador, ministro, presbítero, diácono, e alguns, depois de receberem algum título, se os tratamos com alguma formalidade, ainda que tenham idade para serem nossos filhos, se sentem desrespeitados, quanta vaidade, quanta falsa espiritualidade. O segredo é existir como Jesus existiu quando homem, certos que o nosso fim pode ser perder a vida para obedecer ao pai, se algo diferente ocorrer agradeceremos a Deus, mas como graça a mais, não como uma honra que merecemos receber, quem acha que merece nunca receberá, não de Deus. 
      Por misericórdia o Senhor não permite que atualmente a grande maioria de nós tenha que dar a própria vida pelo que crê, mas muitos de nós podem ter que abrir mão de coisas bem caras, como orgulho próprio e honra dos homens, se quisermos ser espirituais, quem não estiver pronto para perder nunca alcançará espiritualidade. A história de muita gente que tenta caminhar com Cristo é justamente essa, Deus pede algo, e a pessoa não dá, e continua, caminhando como se nada tivesse acontecido, como se fosse cristã em perfeita harmonia com a vontade do pai. Essas pessoas não perderão a salvação, mas serão sempre crianças espirituais, ainda que conheçam a Bíblia de trás para a frente, que tenham cargos em igrejas e mesmo que sejam pastores. Jesus mostrou a espiritualidade mais alta andando no mundo, com os pés no chão, ciente de sua trágica realidade final, não era pobre nem sem cultura, mas nunca ansiou pelos valores desse plano, são ilusões. Tenham certeza, Jesus revelou aos homens muitos menos que sabia, e entendeu a razão mais importante de passarmos por esse mundo, obedecer a voz de Deus para de fato alcançar espiritualidade. 

      “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.24-27
 
33. Espiritualidade e vitimismo

      Vivemos um momento quando a humanidade desperta para enxergar como existem vítimas no mundo, gente que sofre por preconceito, como inocente ou incapaz, ou sem qualquer outra condição de reagir à altura a agressores, das mais variadas espécies. Vivemos um momento em que o mundo desperta para uma justiça que dá a todos os mesmos direitos. Vamos refletir sobre vítimas e pensarmos sobre a relação disso com espiritualidade. Vitimismo significa a tendência a se vitimizar, a se fazer de vítima, vítima pode ter vários significados, pode ser um ser sacrificado em algum rito, um ser ferido ou assassinado por outro, um ser afetado por acidente ou outro dano, ou ainda, um ser sujeito à violência, opressão, maus-tratos etc. O papel de vítima coloca um ser numa isenção de responsabilidade por um mal feito, já que algo ruim foi feito a ele sem sua autorização, mas põe outro ser na posição de agressor, com toda a responsabilidade pelo mal. 
      Ser vítima inverte a justiça de causa e efeito, que normalmente é interpretada como boa colheita de bom plantio, já que alguém adquire direitos não por ter feito algo bom, mas por ter sofrido algo ruim. É certo que ninguém, com sanidade normal, quer adquirir direitos desse jeito, já que o trauma pode ser tão grande que por vergonha vítimas podem mesmo desejar esconder o mal que receberam. Por isso, são os outros que devem vigiar, para que vítimas não sejam feitas, vítimas em potencial devem ser protegidas, já que quem recebe um mal como vítima é justamente quem não estava pronto para se defender, sendo violentado por alguém que em determinado momento detinha uma posição que lhe dava poder para cometer o mal. Se é vítima sempre de alguém egoísta que quer usufruir um direito ou prazer à força e que portanto não lhe é justo possuir, agressão é roubo e todo ladrão deve ser punido.   
      Nenhum homem, contudo, merece o mal, disciplina e correção, sim, e isso se fizer por merecer, mas de uma maneira humana, e principalmente tendo oportunidade para adquirir consciência de porque está sendo penalizado, assim só pessoas com boa sanidade mental podem ser corrigidas, para que possam ter a chance de mudança de comportamento. Os doentes mentais, ainda que cometam grandes males, devem ser tratados como doentes, não disciplinados, mas curados, e se isso não for possível devem ser isolados. Esses podem ser terríveis agressores, que podem fazer muitas vítimas, mas também são vítimas, deles mesmos, não é fácil viver com memórias de agressões que se fez aos outros, não se houver ou for possível adquirir alguma consciência. Novamente cabem aos outros perceberem o doente mental, isola-lo, com humanidade, e tratá-lo, antes que façam vítimas.
      Ocorre com muita frequência de agressores se tornarem assim por terem sido agredidos, vítimas fazem vítimas. Por que alguns mesmo tendo sofrido muita violência não se tornam agressores e outros, que sofreram até menos, se tornam agressores? É complicado dizer, mas penso que o fator livre arbítrio sempre é possível aos seres humanos, pelo menos em algum momento de suas vidas, dessa forma sempre se tem uma escolha. Contudo, se passar do momento as pessoas podem escolher serem o mal por não conseguirem mais ser outra coisa, busca de identidade é o que impede as pessoas de se matarem, e na falta de uma identidade melhor, serve mesmo a mais ruim. Já foi dito que toda forma de violência é sexual, e isso não têm a ver só com o mais óbvio, um homem hétero forçando uma mulher hétera a conceder-lhe favores sexuais, uso de sexualidade como arma é algo bem mais complexo.
       Mulheres podem usar dotes sexuais para de alguma maneira obterem favores, e não só chegando as vias de fato, mas postando-se mais “agressivamente” através de suas sexualidades, entretanto isso não acontece só com mulheres, mas também com homens e com outros gêneros. Isso não é, como diz a mídia, ser poderosa ou poderoso, é desequilíbrio, não somos seres definidos só pela sexualidade, mas pela inteligência intelectual, pela inteligência emocional, e principalmente, pela espiritualidade. Violência é arma num jogo de poder? Sim, e sob esse ponto de vista é só uma maneira errada de posse de espaço no mundo, que mesmo na área sexual não precisa ser para obter prazer sexual, mas simplesmente para se impor como mais forte. O estuprador não quer prazer sexual, ele não pagaria preço tão alto por algo que poderia ter sem violência, se fosse equilibrado, ele quer subjugar alguém, e não existe maior prepotência que a que rouba aquilo de mais íntimo que alguém possui. 
      Por isso tantos idiotas que se dizem machos gostam de sair à noite em grupos, depois de encherem a cara, chingando e afrontando transsexuais, para que isso se não para atuto-afirmarem uma segurança que não sentem, um poder que não possuem, uma heterossexualidade que talvez não tenham? Odiamos nos outros aquilo que eles são e assumem ser e que nós somos e não assumimos ser, odiamos quem tem mais coragem que nós, e para continuarmos covardes tentamos tirar da coragem alheia sua legitimidade. Também é por isso que outros, na privacidade de seus lares, à noite, enquanto a família dorme, acha prazer em vídeos de pedofilia, ainda que disfarçados de outros fetiches (como adultos vestidos de crianças), ainda que no dia a dia se portem como homens “normais”, porque têm violências não curadas dentro deles, que ainda exigem deles prevalecer sobre mais fracos para terem algum prazer, algum espaço no mundo. 

      Atualmente a humanidade está revendo uma vítima verdadeira da civilização nos últimos quinhentos anos, os africanos. Trazidos à força de seu continente de origem, vendidos por irmãos que com o tráfico europeu começaram a ter lucros com um costume que já tinham, já que os próprios africanos tinham escravos africanos na África, membros das tribos perdedoras em batalhas regionais. Como escravos africanos foram levados a muitas partes do mundo como o Brasil, onde foram mão de obra importante na lavoura e enriqueceram muitos portugueses. Mas se isso era um problema ficou pior quando esse sistema econômico, que via seres humanos como coisas, sem direitos e sem dignidade, acabou deixando milhares de seres humanos num país que não era o deles, dominados por uma religião que não era a deles, sem direito à cultura, à identidade, à liberdade, por que o que adianta ser livre se não se tem direito a ter uma vida digna como os outros? 
      Não vou aqui levantar todos os pontos que temos visto diariamente na mídia, dando voz aos descendentes de africanos que agora são brasileiros e que só querem isso, serem brasileiros livres para serem o que querem ser, na profissão, na sociedade, na cultura, na religião. Contudo, o problema no Brasil hoje não são os descendentes de africanos, mas os pobres, e entre esses existem descendentes de imigrantes de várias nações, incluindo de indígenas que já habitavam o Brasil antes de portugueses chegarem. Esses imigrantes e indígenas se misturaram com os portugueses, assim o Brasil não é um país de brancos, como não é de negros amarelos ou outras cores de pela, mas de miscigenados, e grande parte desses são pobres mal administrados por políticos e outros poderosos. Descendentes de africanos têm motivos para se assumirem como vítimas? Claro que têm, mas quem não é de alguma maneira, no Brasil atual, descendente ou que tenha alguma ligação familiar com descendentes de africanos? Talvez uma minoria bem pequena.
      Daqui a algum tempo todos seremos pardos, essa é uma tenência mundial, a mistura geral de raças, e talvez daqui a uns séculos, o que hoje ainda é considerado exceção não será, mas regra, e preconceitos, de um jeito ou outro não existirão mais, acreditem nisso, o que vivemos hoje é só uma fase, como foi a idade média e outras eras. Nós, seres humanos, somos seduzidos por complôs apocalípticos, e os cristãos, baseados numa interpretação equivocada da Bíblia, mais ainda, mas o tema desta reflexão é vítima e vitimismo, falamos de vítimas legítimas, contudo, existe um problema sério no falso vitimismo, que pode manipular mesmo vítimas reais. Na verdade, no sentido mais puro, só existiu uma vítima neste mundo, Jesus, só ele de fato não fez nada de errado, em nenhuma instância, e foi preso, torturado e morto, tinha que ser assim, Deus ser sacrificado como homem sem pecado, para poder dar à humanidade salvação e perdão eternos. 
      Em Cristo, não em caça às bruxas ou nas leis do estado, há proteção contra todo tipo de agressor, há cura para toda dor que agressores causam, assim como há um meio transformador que arranca o preconceito, não de nações ou governos, mas de indivíduos. Jesus não veio para ser Senhor de nações, seja do Brasil, dos E.U.A. ou de outro país, mas para ser Senhor de indivíduos, de mim, de você e de todos que permitirem. Os descendentes de africanos devem lutar por seus direitos? Os pobres devem lutar por seus direitos? Mas lutem em Cristo, por Cristo, não sozinhos e contra os cristãos. Sim, afro-brasileiros têm direito mesmo às religiões trazidas da África ou recriadas aqui, como Umbanda e Candomblé, e como cidadãos os cristãos devem lutar por isso, contudo, como cristãos, em amor e com sabedoria, podem dizer aos religiosas da Umbanda, do Candomblé e de outras religiões, só Cristo salva! 
      Acreditamos na sinceridade e na bondade daqueles que frequentam terreiros e casas de religiões afro-espiritas, mas só Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e cristãos, repito, digam isso com muito amor e com sabedoria, sem preconceitos. O mundo passa por um momento importante onde causas legítimas estão sendo levantadas e muitos, como nunca antes, as estão entendendo e por elas estão lutando, que bom que é assim, mas entendam isso do jeito certo, evangélicos e protestantes, isso não é a vitória do mal, mas justiça, e Deus é justiça. Não se apressem condenando ao inferno, ainda há tempo, querem dar testemunho de espiritualidade cristã? Lutem junto do afro-brasileiros, independente se eles são evangélicos ou espíritas. Querem dar testemunho de luz e paz? Alimentem os pobres, ajudem os órfãos e as viúvas, façam bem a quem precisa agora. Separem luta por um mundo melhor por opção por uma eternidade melhor, Deus dá livre arbítrio a todos e nós, evangélicos, temos que respeitar isso.
      O que adianta assiduidade em cultos, cantos e dízimos, uma vida religiosa dentro das quatro paredes dos templos, se a injustiça anda solta na Terra? Tenham certeza, se viverem e lutarem pela justiça, não apoiando políticos ou sendo políticos, mas sendo cristãos, seus testemunhos falarão alto, muito mais que suas palavras, e o nome de Jesus será de fato pregado e honrado. É tempo de mudança, é tempo de repensarmos espiritualidade cristã, não como algo que separa e afasta, mas que une e atrai, não como palavra dita no púlpito para convertidos, mas no mundo, para todos. Para que isso seja eficiente é preciso sermos cristãos com espiritualidade, liderados pelo Espírito vivo não por palavra morta. Não se esconde a luz debaixo da cama e se olha para ela à meia-noite, como se pudesse fazer alguma magia secreta, mas a luz é levada para o centro da cidade, ao meio da multidão, e se for luz de Deus brilhará forte mesmo sob o Sol quente do meio-dia, e não como uma mensagem panfletária e rasa, mas como prática de vida de amor, de misericórdia, de paciência e de justiça. Isso é espiritualidade cristã no mundo! 

34. Espiritualidade e crítica

      Crítica, lidar com ela do jeito correto, seja recebendo-a ou fazendo-a, requer muita espiritualidade, e muitos tentam ser perfeitos, na área profissional e moral, justamente para não receberem críticas, por orgulho, não por amarem ao Deus que tudo vê e mede, e quem age assim também se acha no direito de criticar, de se colocar como um deus julgador. Mas o espiritual, ainda que procure agir corretamente, não se importa com crítica, isso é fácil de dizer, mas muito difícil de fazer, justamente porque nos importamos, assumindo ou não, demais com as opiniões dos homens. Interessante que podemos não dar a mesma importância àquilo que Deus pensa de nós, porque Deus não manifesta sua crítica publicamente, assim não nos envergonha, mas quem definirá nossa eternidade, os homens ou Deus? No texto que segue uma reflexão sobre “dislike”, aquele polegarzinho para baixo que podemos dar em postagens na internet, creio que pensar sobre isso tem uma grande relevância para quem quer ser espiritual no mundo atual. 

      “O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força. Com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros.” Provérbios 24.5-6

     Quem posta vídeos no Youtube sabe que existe uma opção nas configurações onde pode-se desabilitar o “like” e o “dislike”, não permitir que publicamente seja visto o número de pessoas que curtiram ou não um vídeo. Eu não faço uso dessa opção em meu canal, assim todos podem manifestar se gostaram ou não, assim como podem ver se um vídeo, com uma performance musical, foi apreciado ou não. Nos últimos anos tenho promovido aplicativos musicais para iPad, softwares que fazem do dispositivo um instrumento musical, é um conceito com alguns anos, mas que se tornará a música do futuro, assim a grande maioria dos meus vídeos é demonstração de recursos desses produtos, não do músico que os demonstra. 
      Não que eu goste de receber “dislikes”, não gosto mesmo, ainda que eu tenha consciência de minhas limitações, principalmente quando faço o máximo para postar um trabalho bem feito, vídeos de três minutos que podem demorar horas para serem produzidos, desde o arranjo, a execução e gravação até a edição final e upload. Músico quer tocar o coração das pessoas de um jeito bom, não quer prejudicar ninguém, ainda que saiba que gosto artístico muda de pessoa para pessoa. Eu não dou “dislike” em vídeos no Youtube, se gosto dou “like” e se não gosto não faço nada, em se tratando de performance musical representa o trabalho de alguém, e trabalho, ainda que pessoalmente não me agrade, deve ser respeitado. 
      Algumas pessoas, contudo, fazem o contrário do que faço, se gostam, não se manifestam, e se não gostam são rápidas para clicar no polegarzinho para baixo, a verdade é que a grande maioria simplesmente não se manifesta, muitos são tímidos para aplaudir, ainda que carentes de aplausos. As pessoas precisam saber que músicos de verdade gostam de fazer música e ficam muito felizes com o aplauso, isso não é idolatrar o homem, ou fazer média, é dar honra a quem honra merece. Se parabenizamos um engenheiro, um médio, um vendedor ou um florista pelos trabalhos que realizam, aplaudamos os músicos, no Youtube isso é feito com “likes”, não custa nada e abençoa um trabalho honesto. 
      O início desta reflexão foi uma introdução com uma metáfora para algo mais profundo, ainda que seja um tema atual e relevante, ocorre é que muitas pessoas desabilitam o “dislike” de suas vidas e seguem, não querendo saber a verdade sobre elas mesmas e tentando se convencer que estão fazendo tudo certo. Como existem pessoas que simplesmente se fingem de mortas, não assumem responsabilidades e ainda exigem direitos, e isso ainda que sejam trabalhares esforçados e competentes. O elogio é importante, pais elogiem seus filhos, pastores elogiem suas ovelhas, ovelhas elogiem seus pastores, filhos elogiem seus pais, mas a crítica construtiva pode ser mais importante, e eu disse construtiva, o que é crítica construtiva? 
      É uma avaliação honesta feita com amor e manifestada com amor, e sendo assim usará as palavras melhores para dizer no tempo e no lugar certo algo que pode beneficiar alguém, crítica construtiva não é pecado. Nós, contudo, eu e você, estamos tão acostumados a achar que nossas críticas são válidas, mesmo não sendo construtivas porque não estão nos parâmetros que falei antes, feitas com amor e do jeito certo, que passamos a criticar tudo e todos assim como a denominar a crítica dos outros de não construtiva, isso para que tenhamos a última palavra numa discussão, visando nosso egocentrismo e não o benefício do outro. A verdade é que dificilmente conseguimos tecer uma crítica construtiva ou ouvir crítica dos outros. 
      Por isso, com medo de recebermos o que damos, desabilitamos o “dislike”, sempre julgamos os outros por nós, principalmente o lado ruim. É preciso muita humildade para ouvir uma crítica, seja construtiva ou não, é preciso muita maturidade para habilitar o “dislike” e tomar conhecimento do quanto nós não somos o que gostaríamos de ser e que tentamos mostrar que somos, pelo menos na aparência. Contudo, só ficaremos mais fortes quando nos confrontarmos com a realidade, é só depois disso que poderemos fazer escolhas. Algumas escolhas nos farão mudar para melhor, outras nos ajudarão a conviver com o que não podemos mudar, com isso crescemos, com a verdade, nunca com a mentira.
      Conseguimos receber críticas quando vemos os outros como amigos e não como inimigos, quando entendemos que não somos melhores que ninguém e que todos, de algum jeito, têm coisas a nos ensinar, para que isso ocorra temos que nos abrir. Quem se fecha quer se proteger, se protege quem está em guerra, na guerra vemos inimigos e de inimigos não esperamos ajuda, mas ataque, não crítica construtiva, mas destrutiva. Inimigos nos levam a ser agressivos ou escondidos, isso aprisiona, não liberta, só amigos são conselheiros e conselheiros nos ajudam a sermos melhores, abertos e livres. Dessa forma, se tivermos que lutar, será para termos vitória sobre inimigos reais, não sobre psicoses de mentes fechadas. 

      “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,” Deuteronômio 30.19

      Já citei mais de uma vez aqui no “Como o ar que respiro” a passagem de Marcos 9.47, “e, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora, melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno”, ela nos diz que em algumas situações é preciso desabilitar, sim, o “dislike”, e quanto cito essa passagem me refiro principalmente às nossas interações em redes sociais na internet. Se elas estão fazendo mais mal que bem, se ouvir opinião alheia nos leva a dar a nossa e isso não for contribuir para a paz, mas só para polêmicas, é preferível nem darmos e nem ouvirmos opinião, principalmente nos dias atuais onde política virou um campo de batalhas sangrentas.
      É preciso sabedoria, equilíbrio, o melhor nunca está num extremo, Deus não está num extremo, ainda que muitos achem que está. Se fosse assim ele é o “diabo” teriam poderes iguais só que em lados diferentes, essa guerra com forças iguais para agir só existe na cabeça dos homens por causa do livre arbítrio, como tantas vezes já pensamos aqui. Nos universos, contudo, físico e espiritual, Deus domina sozinho sobre tudo, e o diabo é só parte dos seres espirituais rebeldes, criaturas de Deus, não deuses, e que só agem com autorização de Deus. Mas voltando ao “dislike”, o próprio Deus tem o seu habilitado, desde o início quando colocou a árvore do conhecimento do bem e mal no Éden.  
      Se Deus fosse prepotente, um juiz que manda para o inferno quem não lhe presta culto, ele não daria livre arbítrio ao homem, o homem só viverá um inferno na eternidade se desobedecer as regras do universo, que, sim, foi criado por Deus, mas são regras que estabelecem a diferença entre vida e morte, luz e trevas, construção e destruição, evolução e estagnação. Essa regra está dentro do homem, não fora dele, é parte intrínseca de seu espírito, sua identidade eterna, quando o homem constrói um inferno desobedece a si mesmo, e por isso se afasta da luz mais alta onde o melhor de Deus está. Não é Deus quem se afasta, mas o homem e isso é Deus permitindo que seja dado um “dislike” para o céu. 
      Alguns podem dizer, “mas não é isso que é pregado nas igrejas evangélicas”, sim, eu concordo, nem é isso que a igreja católica pregou por séculos, mas isso está na Bíblia, e poderão entender assim os que a lerem com olhos do Espírito Santo. Deus não exige nada de ninguém e permite que qualquer um não goste dele, se o primeiro homem e a primeira mulher não gostaram, por que podemos achar que Deus em algum momento esteve interessado em  receber só “likes”? Você nunca pensou como é interessante que o pecado original tenha sido comedido justamente pelo homem original, por que não houve algumas gerações na Terra, vivendo em harmonia com Deus, para só depois haver a queda?
      O homem é um projeto que nasceu para dar errado (e não por culpa do arquiteto), de cara deu “dislike” em seu criador e num modo de vida de absoluto conforto físico e pleno conhecimento espiritual, por quê? Porque achou que isso não era o suficiente, ele queria “ser igual a Deus”. Hoje podemos achar isso uma completa estupidez, mas nós também cometemos estupidez semelhante, o tempo todo, pecamos porque achamos que o que vamos ganhar é melhor que o que temos, ainda que isso nos tire da comunhão com Deus. Achamos o fruto da árvore do conhecimento do bem e mal mais aprazível que o Espírito Santo dia a dia, um fruto muitas vezes oferecido pela serpente dentro de igrejas.
      As imperfeições só são vistas na luz, no escuro tudo é igual e nada tem defeito, assim habilitar nosso “dislike” é acima de tudo nos apresentarmos a Deus sem ressalvas, sem máscaras e por inteiros. Quando fazemos isso de verdade dói, e muito, sentimos vergonha, culpa, mas a luz de Deus não só mostra o erro como também o corrige, só Deus pode fazer uma crítica plenamente construtiva de nossas vidas, porque ele não age com amor, é bem mais que isso, ele é o próprio amor, a luz e a cura. Quando a luz de Deus nos ilumina a vida muda de sentido, críticas e mágoas perdem o valor, o passado não tem mais peso, nem o futuro causa medo, mas tudo se torna um presente eterno de Deus. 
      Quando estabeleceu uma aliança, Deus deu à nação de Israel uma escolha (Deuteronômio 30.19), que também podemos entender, como cristãos, como dada a nós, o Senhor deixa-nos livres para escolher, para dar “like” ou “dislike” em sua vontade. Se a vivermos, teremos a vida, senão a morte, é muito importante que entendamos isso, que o que nos acontece não é por culpa ou por responsabilidade de outros, mas nossa, somos nós que escolhemos quem queremos ser, e todos nós, de algum jeito, sempre temos escolha. Que sejamos sábios, lúcidos, humildes, para reconhecermos a luz, o bem, a justiça e o amor, e nos agradarmos disso, honrarmos a Deus por isso, darmos “like” no plano dele para nossas vidas. 

35. Espiritualidade e hipocrisia

      “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” Mateus 5.48

      Grande parte dos cristãos vive uma vida de acordo com os novos costumes, principalmente em relação à família e sexualidade. No dia a dia, convivendo com colegas de serviço, com clientes e fornecedores, com amigos da escola, com familiares, com vizinhos de bairro, muitos cristãos praticam tolerância religiosa, respeito às diferenças sexuais, eles não condenam ao inferno os não cristãos nem nutrem preconceitos contra espíritas, esotéricos e outros. Contudo, quando entram nos templos ouvem do púlpito uma palavra diferente, não, não estou dizendo que é uma palavra intolerante ou preconceituosa, não é assim que as igrejas evangélicas funcionam, não a maioria, quem acha isso deve se informar mais sobre o assunto ao invés de ficar julgando mal os evangélicos, e eis aqui uma palavra em defesa aos crentes. Então, que palavra diferente é essa? É uma que se for de fato praticada pode conduzir, sim, à intolerância e aos preconceitos. 
      Por que acontece isso? O problema não está, a princípio, nas ovelhas, mas nos pastores, esses por um motivo ou outro ensinam uma palavra errada, pelo menos para o mundo atual. Ensinam porque muitas doutrinas se tornaram tradições, para eles isso confere a elas legitimidade, e eles não têm coragem de reavaliar isso pelo Espírito Santo para então ensinar melhor as ovelhas. Seja por medo de irem contra o que eles acham serem dogmas protestantes, ou por preguiça, a pouca vontade de se dar ao trabalho de pensar e orar, muitos pregadores continuam dizendo e dizendo as mesmas coisas, sem checarem a realidade, não só do mundo, mas da igreja. Nisso usar a Bíblia, palavra inspirada pelo Espírito Santo, mas em homens de outras épocas, sociedades e culturas, como doutrina inquestionável é interessante, já que se alguém discordar pode-se argumentar, “está na Bíblia, não sou eu quem está dizendo”. Enquanto isso hipocrisia rola livre e solta. 
      O problema se torna pior porque não é só o caso de deixar de assumir algo que se sabe, mas de não saber, as pessoas não percebem o que está acontecendo, não veem por isso nem podem assumir. Parece que muitos cristãos se habituaram a ouvir uma coisa e a viver outra, parece que aceitaram que certas coisas são vontade de Deus e por isso são impossíveis de serem vividas, assim se ninguém vive, nem eles precisam viver. Mas ainda assim devem ouvir calados isso dos púlpitos, dizerem amém, mas só de boca, não de coração, e ainda que louvando a Deus por lhes mostrar uma vontade tão excelsa, não se acham necessariamente responsáveis para viverem isso. Sim, muitos são de fato hipócritas, não vivem o básico e atemporal do cristianismo ensinado na Bíblia e dizem que vivem, mas grande parte vive uma loucura, contempla aquilo que acha ser o plano ideal de Deus para o homem, enquanto na prática só dança conforme a música.
      Por isso tantos não experimentam libertação de vícios, só os trocam, deixam aqueles que prejudicam principalmente o corpo, bebidas alcoólicas, tabagismo e drogas, e aderem à religiosidade. Bem, religiosidade implica em obedecer rituais e liturgias, basta estar presente fisicamente, sem necessidade de raciocinar a respeito e muito menos de ter uma comunhão espiritual pelo Espírito Santo. Não estou dizendo que religiosos são frios, não eles sentem, e muito, contudo, não há limites para a paixão humana e pelo que ela pode se apaixonar, existem cultos os mais diversos possíveis no mundo onde os homens experimentam êxtases. Não usemos sentir algo diferente como argumento para legitimar presença poderosa de Deus em uma religião, ainda que a presença poderosa de Deus nos faça sentir algo forte e singular. Contudo, religiosidade que experimenta Deus é plena, vivenciada com equilíbrio no corpo, nos sentimentos, no raciocínio e no espírito.
      Quando o homem não confronta o que ouve no púlpito com aquilo que pratica em sua vida, não está sendo um ser humano pleno, está enganando a si mesmo, desse jeito não poderá alcançar espiritualidade cristã. Meus queridos, como nos acostumamos com a mentira como cristãos, a maioria bebe bebidas alcoólicas, e grande parte moderadamente, mas ainda assim não admite isso pra ninguém, e se sente em pecado quando bebe, quando Deus não exige de ninguém isso. Por que se faz isso? Porque se construiu um dogma evangélico que diz que bebida alcoólica é pecado. Talvez essa hipocrisia, em alguns assuntos, seja melhor que uma assunção extremista de certas tradições, infelizmente, atualmente no Brasil vivemos um momento perigoso onde muitos cristãos se perderam nas heresias e têm levado à sociedade objetivos que são para indivíduos, querendo estabelecer no mundo um novo Israel, isso não é plano de Deus para o Brasil hoje. 
      Cristãos são hipócritas porque não conseguem viver o que falam, porque se comportam diferentemente dentro do templo e no mundo, mas essa incoerência existe ou porque eles de fato são desobedientes à palavra de Deus ou porque são desobedientes a uma palavra que acham que é de Deus e não é. De todo jeito eles se sentem mal com a hipocrisia, porque acham que não conseguem seguir a vontade de Deus, e eu quero crer que ainda existe sensibilidade espiritual em muitos para ouvirem a voz de Deus e se entristecerem por não conseguirem obedecê-la, eu creio que ainda com hipocrisia o Espírito Santo habita o coração dos cristãos, porque Deus é misericordioso com todos. Mas talvez falte a muitos cristãos mais leveza, libertarem-se da bigorna religiosa trazida da tradição católica que pesa sobre tantos exigindo muito e negando aquele que pode viver tudo em nós, o Espírito Santo, e nesse ponto espiritualidade cristã deve ser reavaliada. 

      Para ninguém dizer que fiz um estudo errado em três pontos, li um texto, saí do texto e nunca mais voltei ao texto, deixei para refletir no texto inicial agora, e eis aí um dos textos bíblicos que mais me metem medo. Por quê? Porque ele exige algo inalcançável de nós como cristãos, perfeição. Contudo, é por colocar as coisas em extremos que se faz inimigos, se cria preconceitos e se vive hipocrisias. Extremismos são convenientes a homens que querem dominar sobre homens no mundo, no plano físico, por isso imperadores e papas, na política e na religião, e também no meio protestante evangélico. Como me revolta ver líderes evangélicos se autodenominando bispos, apóstolos, quanta carnalidade num meio que deveria dar o maior exemplo de humildade e desprendimento de vaidades. Só Deus é o Altíssimo, só Deus é perfeito, e nós somos quando nos posicionamos nele, isso é possível? Sim, sempre que oramos e nos aprumamos pelo Espírito Santo. 
      Conseguimos estar nessa posição o tempo todo? Não, e nem precisamos, ainda que devamos andar em vigilância e temor a Deus sempre. Mas é por entender erradamente isso que as pessoas se sentem culpadas, e quem sente culpa por um erro se torna mais frágil para cometer outros erros, piores que o que causou a culpa inicial. Podemos pensar assim, “isso é errado? mas eu já estou errado mesmo, um erro a mais não faz diferença”, eis uma armadilha que o diabo tem interesse em armar para nós, quando andamos com culpas e pecados pendentes, para nos lançar num buraco mais fundo ainda, nos afastando ainda mais de Deus. Uma consciência em paz está protegida da mentira, mas um coração pesado, ainda que por uma mentira, é presa fácil de novas e maiores mentiras. A solução para a hipocrisia é conhecer mais a Deus, o que pode ser um conhecimento que se adquire sozinho, orando e vivendo, e não necessariamente ouvindo pastores e pregadores. 
      Quem conhece a Deus conhece seu amor e quem conhece o amor de Deus se conhece e se ama. Quem se ama tem paz, se assume por inteiro e em qualquer lugar, não vendo necessidade de ser hipócrita, na verdade de Deus achamos nossa verdade e não temos medo de mostrá-la aos homens. É importante que nos assumamos como cristãos coerentes nesses tempos, mas acima de tudo coerentes com aquilo que Deus de fato quer de nós. Nisso muitas vezes é mais adequado não estarmos ligados a cargos em igrejas, por quê? Para sermos coerentes e não escandalizarmos ninguém, principalmente os mais fracos e novos na fé. Quem faz aliança se compromete, quem se liga de maneira mais íntima com ministérios cristãos deve ser fiel a eles, mas com quem mais nos interessa fazermos alianças, com homens ou com Deus? Não é por ser igreja cristã que é de Deus para nós, pode até ser para os outros, mas pode não ser para nós se isso nos leva à hipocrisia. 
      O tempo sempre confronta as pessoas com a verdade se forem minimamente lúcidas, se tiverem alguma coragem mudarão de atitude, e se tiverem humildade conhecerão a melhor espiritualidade. As igrejas, os pastores e os “irmãos” nos decepcionam? Sim, e a princípio isso pode ser até positivo, pode significar que esperávamos desses atitudes coerentes com o evangelho e não achamos. Mas o que nos definirá como espirituais é como administraremos essa decepção, a pior reação é colocar a culpa em Deus e nos afastarmos de Jesus por causa de homens. Contudo, também podemos errar quando, mesmo depois de acertarmos com Deus a nossa decepção com os homens, pararmos de frequentar igrejas. Se Deus quisesse que as igrejas fossem melhores não teria permitido uma igreja cristã com quase dois mil anos de existência do jeito que é, seja no catolicismo, no protestantismo ou em outras denominações, não funciona assim com Deus. 
      Acerte-se com Deus de maneira que possa viver com uma só cara, no mundo e nos templos, mas permita-se continuar sendo confrontando pelas igrejas cristãs, frequente-as, com humildade, com paciência, não assumindo o que não precisa cumprir, não se intimidando com ameaças de homens, principalmente dos escondidos atrás de púlpitos. Nisso você será abençoado, porque Deus fala através de seus filhos, de todos, e não é só por você, mas nisso você também poderá abençoar, com simplicidade, com sabedoria, e muitos mais que com palavras, mas com atitudes. Siga sem ilusões, sem mágoas, resolva tuas carências em Deus, quanto ao homem ele sempre será homem, em todo lugar, no mundo ou na igreja, desprenda tua paz dele, de sua aprovação, desamarre Deus do homem, o Espírito Santo é Deus, e nele a gente sempre pode confiar. Seja luz, no mundo e no templo, conheça e execute tua missão, essa é a espiritualidade que Deus quer de você. 

36. Espiritualidade e obras

      “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé. E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” Tiago 2.20-26

      Interessante que o mesmo religioso que busca tanto receber dádivas materiais nas igrejas, é meio avesso a abençoar materialmente os outros, e eis mais uma das características do povo evangélico atual. Muitos sentem-se absolutamente desobrigados para ajudar materialmente principalmente os mais pobres e necessitados, existe uma grande maioria de crentes em igrejas evangélicas que não se sentem responsáveis por serem fatores de mudança numa sociedade onde poucos têm muito e muitos têm pouco. O “Como o ar que respiro” não é um espaço de estudos bíblicos, no sentido convencional, creio que de estudos bíblicos, e de excelente qualidade, os púlpitos, reais e virtuais, estão cheios, e ainda assim o povo cristão não muda de atitude. Dessa forma não vai aqui mais um estudo sobre o livro de Tiago, o escritor do cânone bíblico que fala com mais propriedade do tema, mas uma exortação para nos acordar para a espiritualidade cristã. 
      Talvez tenha pouco a ver com a espiritualidade da teologia evangélica tradicional na prática, mas muito com a espiritualidade ensinada por Jesus, quando homem neste mundo, a espiritualidade cristã mais pura e original. O que vemos nas igrejas evangélicas opõe-se à prática de outras religiões, principalmente espíritas, onde o ditado “faça o bem não importa a quem e no nome de quem” revela que boas obras podem ser mais importantes até que fé e mesmo fé em Deus, para elevar a espiritualidade humana. Esse é o outro extremo do ensino, sabemos que a Bíblia não ensina um extremo mas o equilíbrio, entre fé e obras, mas na prática muitos evangélicos vivem o extremo de que só é necessário crer. Você acha que isso não é verdade? Então talvez seja porque tua igreja é uma exceção, mas se for feito um senso veremos que muitas igrejas não têm preocupação em ajudar materialmente o próximo, no máximo fazem alguma distribuição de cesta básica para membros em situações econômicas ruins. 
      Uma informação sobre o texto inicial, que aliás se aplica a muitas das apologias teológicas do novo testamento, principalmente as de Paulo, frequentemente se afirma a maior excelência da nova aliança por Cristo sobre a velha aliança de Moisés. Naquele momento da história cristã, no século um, era importante que os judeus entendessem a eficácia do sacrifício de Jesus, que eles não precisariam continuar com sua velha religião, com sacrifícios e festas, todas essas obras foram substituídas pelo sacrifício de Cristo. Na visão do evangelho fé é de suma importância porque credita salvação em algo que já foi feito, e não é, algo que se está fazendo no momento em que a fé está sendo exercida. Na velha aliança também era necessário fé, mas em algo presente, mas o sacrifício de Cristo é algo do passado, e mais eficiente que o sacrifício de animais porque foi o próprio Deus que se sacrificou sem pecado. 
       No caso do texto de Tiago 2 Abraão é usado como exemplo porque é conhecido pelos judeus como o pai da fé, alguém que tinha experimentado aliança com Deus pela fé e não por obras antes mesmo da Lei de Moisés, uma aliança por obras, ser estabelecida. Paulo usa Abraão em uma defesa da fé sobre as obras, “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça“ (leia todo o 4º capítulo da carta aos Romanos para mais entendimento, texto que é creditado por muitos estudiosos a Paulo). Mas Tiago usa o mesmo Abraão para defender o valor das obras, não como maior que o da fé, mas como algo que a completa. A frase final do texto inicial de Tiago é fantástica, “assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”, explica o conceito com as palavras do Espírito Santo, fé e obras ligadas como causa e efeito, não se pode separar o corpo do espírito.
      A verdade é que não são eventos separados, fé dom de Deus tem como efeito boas obras, isso é algo natural na experiência de caminhar com o Senhor, mas se isso não está ocorrendo o homem está em débito, não com Deus, Deus não precisa de nada e de ninguém para se completar, ele é pleno, mas com o universo, criado por Deus e sob regras inexoráveis dele que servem para todos os homens. O cristão que está errado sente o erro, contudo, muitos tentam pagar a dívida de outro jeito, ao invés de ajudarem os que precisam com iniciativas financeiras, enchem os “altares” de dízimos e ofertas, uma igreja que vive e incentiva essa prática nunca vai se posicionar nas mais elevada espiritualidade cristã. O correto seria ajudar como ensina o evangelho, na mais completa discrição (Mateus 6.3-4) e somente por amor. Mas será que a Igreja (corpo de Cristo na Terra hoje) ama? Será que ela está sendo ensinada a amar?
      “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras“ (Lucas 11.42). Infelizmente muitas igrejas ou são grandes empresas ou pequenos clubes. Nas igrejas “grandes empresas” as pessoas são parte de massas com carência de fazerem parte de algo, de uniformes, nessas é onde se paga tudo com dízimos, onde quanto mais gente tiver é melhor, onde perder-se na multidão é escapismo para não enfrentar a própria realidade. Nos “clubes” constroem-se comunidades quase que familiares, esses até se ajudam, mas como grupos fechados e com número limitado de membros, essas igrejas perderam a visão de evangelismo. Nos dois tipos de igreja se foge do inferno e do diabo, mas ainda assim não se prova a verdadeira espiritualidade cristã, e muito menos se adquire maturidade para exercer obras de amor. 
      O que de fato falta é uma apropriação profunda da vivência cristã, as pessoas atualmente até se aprofundam, mas nas coisas erradas. Se apaixonam loucamente umas pelas outras e em nome da paixão se dão por inteiras e depressa, ah, se fossem assim com Deus, se se apaixonassem por Jesus com igual energia e com tamanha disposição para seja aprofundarem nessa comunhão. Então, a fé seria intensa e os obras naturais, toda a sociedade seria abençoada, não só as igrejas, não só os líderes, a luz de Deus brilharia de tal maneira no mundo que o evangelho teria, da maneira certa, uma influência positiva. Não seria como muitos pensam hoje no Brasil, ter um presidente que respeita cristãos e que perdoa dividas de impostos não pagos de templos, não seria como participante em um conflito de ideologias extremas, porque os cristãos não se imporiam por palavras, mas praticando boas obras por amor, sem exigirem nada em troca. 
      Um outro ponto é que muitos cristãos aliam suas espiritualidades às igrejas, ou melhor, àquilo que fazem dentro das quatro paredes dos templos, assim se portam novamente como manadas que seguem ordens sem pensarem muito no assunto, isso lhes oferece uma zona de conforto, além de jogar a responsabilidade por qualquer erro de percurso nos líderes, não neles. Dessa forma não tomam iniciativa para serem espirituais como indivíduos, mas só como partes do coletivo, se veem uma família vizinha do bairro onde moram em dificuldades, pensam, o problema não é deles, eles já fazem suas partes participando de cultos, dizimando. Muitos evangélicos atualmente não se pensam como parte da sociedade, mas só como participantes de igrejas, é certo que essa polarização política que esta ocorrendo no Brasil desde a última eleição presidencial tem politizado muitos cristãos, mas essa nova realidade tem se mostrado equivocada.
      Muitos evangélicos não pensam uma sociedade com tolerância religiosa e diferenças de ideologias, mas como uma grande igreja evangélica, um engano que desrespeita o livre arbítrio humano assim como a vontade soberana de Deus para o mundo atual. Ser cristão no mundo não é algo fácil, fácil é sê-lo entre as quatro paredes dos templos, mas Jesus nos chama para fora, não para dentro, essa foi sua ordem final antes de subir ao céu (Mateus 28.19-20). Dessa forma desenvolver uma espiritualidade individual, independente da agenda de ministérios cristãos de igrejas, é assumir responsabilidade pessoal pela sociedade, pelo mundo, ainda que muitos no mundo não sejam cristãos. Isso é mostrar amor como Jesus mostrava como homem, sem apego à fama ou ao poder, se preocupando com as pessoas, mas nunca condenando-as, e sempre deixando uma porta aberta para a salvação. Isso é espiritualidade cristã.

37. Espiritualidade e liberdade

      Espiritualidade verdadeira é liberdade, para amar os homens e conhecer a Deus, para conhecer o homem e amar ao Altíssimo, mas cuidado, o diabo ofereceu uma “liberdade” ao homem pela serpente no Éden, e era uma falsa liberdade assim como para ter uma falsa espiritualidade, enganos que muitos cometem até hoje. Nesta reflexão, dividida em três partes, pensemos sobre a relação entre liberdade e espiritualidade, segue a primeira parte.

      “Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Eu fiz aliança com vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, da casa da servidão, dizendo: Ao fim de sete anos libertareis cada um a seu irmão hebreu, que te for vendido, e te houver servido seis anos, e despedi-lo-ás livre de ti; mas vossos pais não me ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos. E vos havíeis hoje arrependido, e fizestes o que é reto aos meus olhos, apregoando liberdade cada um ao seu próximo; e fizestes diante de mim uma aliança, na casa que se chama pelo meu nome; Mudastes, porém, e profanastes o meu nome, e fizestes voltar cada um ao seu servo, e cada um à sua serva, os quais já tínheis despedido libertos conforme a vontade deles; e os sujeitastes, para que se vos fizessem servos e servas. 
      Portanto assim diz o Senhor: Vós não me ouvistes a mim, para apregoardes a liberdade, cada um ao seu irmão, e cada um ao seu próximo; pois eis que eu vos apregôo a liberdade, diz o Senhor, para a espada, para a pestilência, e para a fome; e farei que sejais espanto a todos os reinos da terra. E entregarei os homens que transgrediram a minha aliança, que não cumpriram as palavras da aliança que fizeram diante de mim, com o bezerro, que dividiram em duas partes, e passaram pelo meio das suas porções; A saber, os príncipes de Judá, e os príncipes de Jerusalém, os eunucos, e os sacerdotes, e todo o povo da terra que passou por meio das porções do bezerro” 
Jeremias 34.13-19

      A religião de Israel nos tempos do antigo testamento era bem mais que regras morais e protocolos religiosos, também dava orientações sociais, políticas e mesmo de saúde e higiene, enfim, eram ensinos completos para que uma nação fosse espiritual neste mundo seguindo o Deus verdadeiro, à medida que testemunhava às outras nações que esse Deus existia e é superior a outros deuses. Entre as orientações havia a citada no texto inicial, os israelitas podiam ser levados, por motivos como dívidas etc, a se tornarem mão de obra escrava dentro de Israel. Não confunda o conceito de escravatura desses tempos e em Israel com a escravatura de africanos feita por portugueses no Brasil, essa era diferente e bem mais cruel.
      Na escravatura de africanos, que existiu no mundo entre o século quinze e o dezenove, escravos não tinham direitos, eram mercadoria, apesar de mesmo nesse sistema desumano haver diferença de tratamento, não nos enganemos com relação a isso, sempre existiu essa diferença no mundo, em tempos, culturas e locais diferentes, porque sempre houve gente boa e gente má que ainda que dentro de um sistema ruim ou bom podia agir de forma melhor ou pior. O ser humano sempre foi o ser humano, com livre arbítrio para ser justo ou misericordioso, ou egoísta e ganancioso. Mas voltando ao ponto, em Israel o servo tinha alguns direitos, um deles era de ser liberto de suas obrigações como escravo a cada sete anos.
      Essa regra permitia que o filho de Deus em Israel sempre tivesse nova oportunidade para ser livre, ninguém deveria ser escravo para sempre, obviamente que ter servos permitia certas vantagens econômicas aos senhores, vantagens que homens desviados de Deus podiam querer manter, independente se isso representasse não obedecer à Lei de Deus. Era isso que estava acontecendo no tempo do texto e o profeta Jeremias foi usado para dar a exortação registrada no capítulo 34 do livro do profeta à Israel. Quem não liberta se torna escravo, foi isso o que aconteceu a Israel, porque não só o povo, mas rei e líderes, estavam desobedecendo orientações do Senhor, todos caíram como escravos de Nabucodonosor, rei da Babilônia.
      Quem não liberta se torna escravo, de quem? De si mesmo, assim somos presos numa prisão que é o nosso coração cujo carcereiro somos nós mesmos. Essa é a lição que nós como Igreja espiritual pela nova aliança de Jesus podemos tirar usando uma lei da velha aliança de Deus à nação de Israel, não podemos receber o que não damos. Se escravizamos os outros nos tornamos escravos, ou se somos escravos não poderemos libertar os outros. Como podemos encarcerar as pessoas? Principalmente com a negação de perdão e de amor, virtudes intrinsecamente interligadas, só perdoa de fato quem ama e quem ama sempre perdoa, quem perdoa e ama é humilde e tem paz e quem é humilde e tem paz é livre, plenamente liberto. 
       Nos enganamos quando achamos que estamos tendo alguma vantagem por não perdoar alguém, por manter em nossos corações rancor e ódio, não são os odiados que ficam encarcerados, mas quem odeia, e muitos vezes os odiados nem fazem ideia de que são odiados por alguém. Perdoe, e a princípio nem para beneficiar o perdoado, mas a si mesmo, depois, se puder, se for sábio, verbalize isso para ele, mas faça isso para ganhar um amigo não para jogar na cara de alguém que ele te magoou e que você ainda assim é espiritual o bastante para perdoá-lo. Isso é só uma espécie de vingança, não é perdão e muito menos espiritualidade, é auto vitimização, e vítimas equivocadas são seres amarrados e jamais espirituais. 
 

      “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pós no jardim do Éden para o lavrar e o guardar. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” “E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.” Gênesis 2.15-18 e 25

      Liberdade, uma virtude que Deus sempre quis conceder aos que o buscam, um conceito muitas vezes difícil de entendermos, nós, que podemos nos acostumar com celas de cadeia, acharmos nelas não restrições, mas proteções, de alguma maneira, ainda que nos limite. A característica de adaptabilidade do ser humano, que o permite se adaptar a situações, terrenos, climas, ambientes tanto físicos quanto psicológicos diferentes, e que permitiu que ele conquistasse o planeta e se desenvolvesse, também faz com que ele se vicie em coisas que a princípio podem até ser boas, mas depois, pelo exagero, tornam-se ruins, ou ruins, ou podem ser ruins, mas também pelo exagero podem se tornar falsamente boas.
      Vício é tudo que controla o homem e não é controlado por ele, se for algo para para que ele usufrua com equilíbrio, e se for algo ruim, mas que ele provê uma vez, no máximo, e não prove mais. O homem também pode se adaptar a celas porque elas protegem, é interessante para quem não se importa de não poder fazer isso ou aquilo, ou de não ir a esse ou àquele lugar, contanto que outras pessoas ou coisas se mantenham longe. “Estou preso, mas estou protegido, alimentado, suprido, ainda que com limites e não dependendo de meu trabalho mas do que meu carcereiro me fornece”, esse é o pensamento de quem se acostuma com prisões e abrirem mão de liberdade. 
      Livre arbítrio para fazermos as escolhas morais, espirituais e físicas que acharmos melhor, nisso está a essência da liberdade que Deus dá às suas criaturas, mas é aí onde se origina as prisões mais antigas, no primeiro teste desse livre arbítrio o homem escolheu, não a liberdade em Deus, mas a prisão, na opção que o diabo dava pela serpente no Éden para que ele comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Interessante que a proposta que o diabo para o homem, não foi de prisão, mas de liberdade, pela serpente ele disse que no que Deus queria é que havia restrição, já no comer do fruto haveria conhecimento ilimitado, liberdade para saber. 
      Outro ponto é que a tentação original e principal dos espíritos rebeldes das trevas não foi para que o homem tivesse mais prazeres carnais ou riquezas materiais, mas conhecimento, talvez porque aquele homem original, ainda não corrompido pelo pecado, em sua maior pureza e qualidade de comunhão com Deus, não seria tentando por valores menores como os físicos ou materiais, mas somente por algo superior como conhecimento, e mais que científico, moral e espiritual. Um longo caminho foi percorrido pelo ser humano em sua trajetória no planeta, à medida que evoluiu científica, social e psicologicamente, suas noções de espiritualidade caíram e subiram.
      Da mesma maneira o conceito de liberdade se modificou, piorou e tornou a melhorar, vemos isso na transformação da prática de escravatura, iniciando em algo explícito e violento que via o ser humano como coisa qualquer, até chegar às existências como escravos que tantos têm até hoje como empregados em empresas, tendo que usar doze horas por dia entre trabalho e transporte para poderem sobreviver. Escravos no corpo, na mente, na religião, na cultura, qual seria o pior tipo? Mas é preciso admitir que vivemos um momento na humanidade de clamor intenso por liberdade, mas seria uma liberdade que de fato conduz à mais alta espiritualidade ou apenas libertinagem para usufruir prazeres no plano físico? 
      O texto de Gênesis 2 nos diz qual a visão bíblica daquilo que Deus tinha para o homem originalmente, antes que ele pecasse. A vida pareci que seria simples, lavrar a terra e gerar filhos, lembrando que inicialmente o homem era vegetariano, não comia carne, dessa forma bastaria ter os frutos da agricultura para sobreviver. Além disso, antes do pecado, a terra não havia sido amaldiçoada, nem o homem, nem a mulher, assim o trabalho de sobreviver e gerar filhos não seria algo penoso. Essa era a prospeta de vida sem pecado, nisso o homem poderia usufrui de liberdade completa assim como da mais alta espiritualidade, Deus falava diretamente com o homem, seus “véus” ou metáforas religiosas. 

      “Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda.” Isaías 58.5-8

      A verdade é que o ser humano tem perdido a vergonha na cara, não sente mais culpa, querendo liberdade perdeu a sensibilidade, e mais que para conviver de maneira elegante consigo mesmo e com as outras pessoas, mas para perceber o Santo Espírito de Deus e obedecê-lo. A liberdade melhor e mais alta que temos deve nos levar ao Altíssimo, antes de tudo, não a uma vida sexual mais satisfatória, para ser bem claro, ainda que a espiritualidade conquistada com essa liberdade deva repercutir como prática de vida justa e de respeito a todos no plano físico. É exatamente sobre isso que fala o texto inicial de Isaías 58, passagem que refere-se a uma das bandeiras principais do “Como o ar que respiro”. 
      “Seria este o jejum que eu escolheria?”, é a pergunta que Deus faz, explicando, Deus se importa mesmo com religião, com ritos, com tradições, com nomes, com templos, resumindo, com aparência externa? Do que adianta tudo isso se “as ligaduras da impiedade não são soltas, se as ataduras do jugo não são desfeitas, se os oprimidos não são libertos, se o jugo não é despedaçado, se o pão não é repartido com o faminto, se os pobres abandonados não são recolhidos em casa e se o nu é desprezado”? Esse texto é uma exaltação à liberdade, de pessoas como cidadãs em uma sociedade, à medida que outros cidadãos não as escravizam, antes permitem que todos tenham direitos iguais. 
      A religião dada por Deus à Israel tinha objetivos práticos, se preocupava com justiça e igualdade social, para que todos tivessem liberdade neste mundo para serem felizes e prósperos. Isso nos faz pensar profundamente no que chamamos hoje de religião, de espiritualidade, o que de fato agrada a Deus e ele deseja de todos nós, isso nos leva a uma questão: o que é fé sem obras? O que é espiritualidade se não tiver efeitos no plano físico? Se fôssemos espirituais não estaríamos neste mundo, o plano espiritual com Deus se conquista no plano físico vivendo corretamente com seres físicos, com necessidades materiais, assim não podemos ser espirituais sem darmos às pessoas liberdade, mesmo para não serem espirituais. 
      “Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente; E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam.” (Isaías 58.9-11), eis a promessa de Deus aos obedientes, existem bençãos melhores que essas? Elas são efeitos naturais de quem é livre e deixa ser livre em Deus. Escolha ser livre e livre para viver em Deus. 
      Concluindo esta reflexão sobre espiritualidade e liberdade, preciso dar uma orientação. De todas as liberdades, a melhor é a que temos através do Espírito Santo em oração, e muitos não usufruem dessa liberdade, por isso tanta depressão mesmo no meio cristão, por isso tantos bons pastores se suicidam, por tentarem viver um cristianismo meramente mental. Busque a Deus, principalmente de forma privativa, e tenha experiências profundas no Espírito Santo, com os sentidos espirituais, olhos e ouvidos, abertos para ouvir e ver coisas maravilhosas que Deus tem para mostrar a todos que o buscam com intimidade. Só essa experiência pode nos alimentar e nos livrar da morte, “ouvi-me e vivei, diz o Senhor, sois livres para isso”. 
 
38. Espiritualidade e arte

      O cristão evangélico tende a ter uma visão não adequada de pessoas que trabalham com arte, principalmente se essas pessoas querem exercer cargos nas igrejas. Quando um médico vem para uma igreja, indiferente de outros valores, ele é respeitado, como profissional de medicina, isso ocorre também com outros profissionais, mas não acontece sempre com músicos. Em primeiro lugar, e não por todos, mas por muitos, tanto no meio pentecostal quanto no meio tradicional, o músico é mais visto como uma pessoa ligada a vida frívola que frequenta lugares não recomendados, onde se desrespeita valores morais e se escraviza pessoas a vícios. Sim, bares, boates, danceterias, clubes, podem ser lugares onde coisas ruins têm mais possibilidade e liberdade para ocorrerem, mas mundo é mundo, mesmo que em alguns locais as coisas ruins possam ser mais escondidas, mais disfarçadas, elas acontecem. Por outro lado, existem ambientes “pesados” em qualquer área, mesmo num hospital pode haver muito espaço para vícios e adultério.
      Outro ponto é que, como dizem muitos evangélicos, a arte engrandece o homem, o ego humano, não a Deus, por isso mesmo trabalhando nas igrejas os músicos são tão cobrados, julgados, desrespeitados, ainda que existam muitos músicos que de fato não separam arte musical de adoração por música. Mas existe tentação à vaidade também em outros ministérios eclesiásticos, na palavra ela é bem forte, mas aí está o equívoco, um bom pregador é elogiado, mas um músico, principalmente o instrumental, se aparecer demais é porque está dando lugar à carne, e repito, ainda que existam músicos instrumentais que de fato perdem o limite entre liberdade de adoração pelo instrumento e simples exposição de seu talento e técnica. Muitas coisas contribuem para uma visão confusa da arte, e principalmente da música, no meio cristão, e talvez a mais importante seja o fato de que o músico verdadeiro nasce com uma aptidão diferenciada, independente se ele usará isso ou não para a adoração. A princípio alguém pode não necessitar de estudo para ser artista, e isso pode incomodar alguns. 
      Essa diferenciação, que aquele que nasce com ela não tem culpa de possuí-la, pode suscitar inveja em alguns, ainda que mesmo sem talento ou conhecimento muitos se achem no direito de julgar os músicos e suas atuações, todo mundo acha que entende de música só porque pode ouvir. Ninguém, ou poucos, julgam médicos, eles são respeitados, afinal fizeram uma faculdade difícil e cara, possuem anos de treinamento, mas os músicos são tantas vezes destratados. É importante salientar que isso ocorre mais com o músico instrumental, como citei antes, já que o vocal, na mentalidade de muitos evangélicos, principalmente de pentecostais, é visto como pregador, que ao invés de discursar ou ensinar a palavra, usa a música para “profetizar”. É justamente aí onde muitos confundem unção espiritual com paixão emocional, e é nesse ponto que o assunto ganha interesse nesta reflexão, dentro do estudo, “Espiritualidade Cristã”. Como pensamos ser espiritual uma cantora, afinada, apaixonada, enfática, e cantando textos do antigo testamento, mas seria isso suficiente para que alguém tenha espiritualidade?
      Naquilo do cristianismo original que se tornou catolicismo, logo nos primeiros séculos foi retirado a música nas missas cantada por leigos, só corais, estrategicamente colocados nos locais traseiros dos templos, ou em outros lugares, mas sempre meio escondidos, faziam os cânticos, isso por vários motivos. Um deles era a necessidade, dentro de uma seita que se afastava de Deus e calava o Espírito Santo, de ter controle e padronização na liturgia, assim mais e mais foi se perdendo a liberdade de culto, em muitos aspectos. Foi só com a reforma protestante no século XVI que o cristianismo voltou a uma música de adoração executada por leigos e não só por um grupo profissionalizado. Além disso surgiu o conceito de louvores, usando-se muitas vezes músicas seculares com letras sacras, o que hoje chamamos de hinos eram os “corinhos” do início do protestantismo. Nisso vemos de novo a tendência do ser humano de se acomodar e “tradicionalizar” as coisas, buscando segurança preguiçosa em verdades antigas sem se dar ao trabalho de se renovar pela viva comunhão com o Espírito Santo. 
      Parece que o ser humano é obcecado por tradições, e quando acha algo, ainda que tenha sido algo novo que tenha tido alguma dificuldade para se assentar nas cabeças das pessoas, já que via de regra os homens são avessos a novidades, ele “tradicionaliza” e se acomoda. Vemos isso em movimentos recentes na área musical que afetaram muitas igrejas evangélicas, algo que há pouco mais de vinte anos era novidade, agora virou tradição, desde simples termos modistas como “gospel” e “worship”, ao estilo “mantra” (repetição de palavras ou frases ad infinitum) como meio para levar “adoradores” ao êxtase. Assim, quem aparece e usa essas tradições é respeitado por muitos como espirituais, isso vai até alguém com coragem e algum talento inventar uma nova moda. A espiritualidade verdadeira do Espírito Santo não precisa de modas, e é viva mesmo que se cante um hino de quinhentos anos, assim, a verdade é que tanto faz a arte, se ela de fato é instrumentalizada por alguém que de fato só deseja adorar a Deus. A espiritualidade afeta a alma, como a arte, e muito como a música, mas a verdadeira espiritualidade começa no espírito. 
      Contudo, nem todos se sentem confortáveis com todo tipo de expressão artística, assim não se deve tentar generalizar, forçando todos a louvarem de um jeito, correndo o risco de escandalizar, e nem julgar um músico por sua formação e estilo musical, correndo o risco de ser preconceituoso, ambos os erros podem afastar as pessoas das igrejas, se essas não acharem uma música de adoração que abrace seu louvor pessoal, seja como adoradores ou como “ministros” de louvor. O mais sábio é permitir que o Espírito Santo tenha liberdade no maior número de pessoas possível, já que agradar a todos e sempre é impossível, e liberdade com alguma ordem social, já que somos seres civilizados. Seja como for, falsa unção e tradicionalismo são dois equívocos que ocorrem no uso da arte musical nas igrejas, e que podem se travestir de espiritualidade, um liberando a alma, o outro aprisionando-a, sem que haja um equilíbrio do espírito humano no Espírito Santo de Deus. Infelizmente, enquanto neste mundo, a alma sempre estará em conflito, sendo tentada pela carne, ainda que sensível ao espírito. 

      “E sucedeu que, quando os que levavam a arca do Senhor tinham dado seis passos, sacrificava bois e carneiros cevados. E Davi saltava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava Davi cingido de um éfode de linho. Assim subindo, levavam Davi e todo o Israel a arca do Senhor, com júbilo, e ao som das trombetas. E sucedeu que, entrando a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi, que ia bailando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu coração.”
      “E, voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, a filha de Saul, saiu a encontrar-se com Davi, e disse: Quão honrado foi o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre qualquer dos vadios. Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me escolheu preferindo-me a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse soberano sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor tenho me alegrado. E ainda mais do que isto me envilecerei, e me humilharei aos meus olhos; mas das servas, de quem falaste, delas serei honrado. 
      E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até o dia da sua morte.” 
II Samuel 6.13-16 e 20-23

      A passagem inicial relata um típico encontro entre alguém, que por algum motivo está afastado de Deus, no caso Mical, e outra pessoa, absolutamente livre para adorar a Deus, alguém que num determinado momento não teve sensibilidade para pôr a espiritualidade de alguém acima de seu rancor, e alguém que não se importava com a opinião dos homens, ainda que fosse alguém afetivamente muito próximo. Mas ainda assim o texto não nos autoriza a classificar como espiritual aquele que se solta fisicamente no louvor, muitos podem ser espirituais, ainda que discretos e silenciosos, o texto só nos ensina que importa mais é agradar a Deus, de que maneira? Da maneira mais sincera e coerente possível, de acordo com a verdade pessoal de cada um. O final do texto é triste, e Deus não nos poupou dessa informação em sua palavra, Mical, a amada de Davi, foi estéril por toda a vida, nunca teve filhos, que cada um tire suas próprias conclusões e ligue as coisas. Esse texto diz muito sobre Davi, um homem espiritual, ainda que um homem, e também pode nos ensinar sobre a “Mical” que às vezes pode se apresentar dentro de cada um de nós.
      Além da percepção (ou pelo menos mais acentuada no plano físico) de tempo, assunto que já pensamos neste estudo, outra consequência do pecado foi a divisão do ser humano em partes, partes que têm dificuldades para coexistirem em harmonia, e que estão o tempo todo em conflito dentro de nós. Isso não acontecia antes do ”pecado original”, nem acontecerá na melhor eternidade com Deus, o céu. Assim, o corpo luta contra o espírito e ambos deixam a alma desequilibrada e atormentada, por isso a expressão artística humana causa tanta polêmica, principalmente num meio cristão imaturo e arrogante, que acha que pode ditar regras por se achar o “último biscoito do pacote” na espiritualidade. Sempre uso no “Como o ar que respiro” o conceito de tricotomia que entende o ser humano como corpo, alma e espírito. O corpo é a parte física, material, estudada pela ciência. O espírito é parte vista pelas religiões, o sopro de Deus que nos faz diferentes dos animais e da natureza, que é selado com o Espírito Santo quando há conversão pelo nome de Jesus, e que pode se relacionar com Deus. 
      A alma, contudo, é a interface, fica no meio, entre o corpo e o espírito, ela é a primeira que interpreta o entendimento e o sentimento do espírito, seja pelo intelecto, a mente, ou pelo chamado “coração” (não o órgão físico), com consciência de pensamentos e de sentimentos. Nossa identidade presente, no plano físico, está contida na alma, já que a eterna, que está em nosso espírito, só conheceremos de fato totalmente na eternidade (eis aqui um mistério para os que têm “ouvidos” ouvirem). A partir desse entendimento humano o corpo é informado para então reagir, seja pelos sentidos ou por movimentos mecânicos. No plano espiritual do melhor de Deus (o céu, não o inferno), existirão o espírito com uma comunhão mais plena com o Espírito Santo, e um novo corpo, transformado, mas não físico, além de uma alma em perfeita harmonia com tudo isso. Obviamente é o corpo físico que terá sua maior mudança no plano espiritual, mas penso que é a alma que terá mais benefícios, porque será uma só com um espírito, em total comunhão com o Espírito de Deus, e novamente me refiro aqui à existência espiritual na melhor eternidade de Deus. 
      Existirá arte na eternidade? Talvez aqueles que “demonizam” arte e artistas dirão, não haverá, lá Deus será glorificado, não o homem, mas é justamente o contrário, haverá arte e numa plenitude muito maior, a vida no paraíso será pura arte. Você nunca se perguntou por que gosta tanto dos textos do livro de Salmos? Pois bem, Davi foi um homem que conseguia equilibrar de maneira maravilhosa corpo, alma e espírito, pelo menos em seus textos, ele harmonizava estética artística (poética e musical) com unção (revelação, adoração, exortação espirituais) de uma maneira que consegue falar com homens de tempos e de lugares diferentes. Imagine termos na eternidade uma comunicação semelhante a muitos textos dos Salmos, onde num olhar um ser que esteja no paraíso consiga transmitir, sem palavras (e na velocidade do pensamento), um poema, uma música, um quadro, uma escultura, um filme inteiro, e não só com estética artística, mas também com unção, a verdadeira unção de Deus, que nos transborda de prazer, de paz e de um desejo profundo e intenso de sermos santos, amorosos e agradarmos ao Deus altíssimo.
      Ah, se os artistas, e todos nós somos artistas em algum ponto, entendessem essa interação de arte com unção, de música com adoração, de alma com espírito, e se ou outros dessem a esses artistas o direito e a liberdade para serem ferramentas nas mãos de Deus. Sempre é preciso dizer que o homem que Deus mais usou em Israel, para colocar o povo de Deus em sua posição máxima neste mundo, não foi um Saul, mas um Davi, alguém fisicamente menor, mas com uma iluminação espiritual e artística especiais. Por que isso? Porque havia em Davi um cuidado para todas as áreas de seu ser, ele também era um bom soldado e um excelente líder político, mas dando prioridade não para o corpo, mas para o espírito e a alma. É dito que antes da descida do Espírito Santo em pentecostes, Davi foi o homem que mais provou da unção do Espírito Santo, ele andava em unção, Davi era espiritual. Contudo, eu fico só imaginando, como músico que sou, a beleza das músicas que serão executadas na eternidade, vocal, instrumental, tudo junto, porque lá o ser humano será íntegro no amor de Deus, não mais partido, em sua mais elevada espiritualidade.
      O plano físico não é a realidade eterna, é só uma expressão material e passageira dela, ainda assim, tudo que existe nele, a natureza, os animais, a terra e todas as diversidades, incluindo a de seres humanos, é lindo. Um quadro de uma paisagem pode ser belo, mas é só a expressão artística humana da natureza real, não é a paisagem de verdade, assim é todo o plano físico, uma expressão artística de Deus. O universo material é uma maravilhosa obra de arte de Deus, um jeito de Deus expressar o plano espiritual. A beleza original e eterna está no plano espiritual, o mundo e os seres humanos encarnados, perto do que existe no plano espiritual, são só um quadro, limitados às dimensões físicas. Deus é um artista, o melhor deles, e nós somos suas obras primas, ainda que necessitando de restauração. A restauração foi habilitada por Jesus e Deus a faz usando não qualquer material, assim como não altera o que resta do original, escondido debaixo de sujeiras, remendos e buracos. O Espírito Santo, o material original, é usado, que nos limpa e nos completa, deixando-nos com a beleza que havia no coração de Deus quando nos criou. 

39. Espiritualidade e bebidas alcoólicas

      O cristão deve tomar bebida alcoólica? Se tiver tempo de tomar e não perder tempo depois de tomar, sim, ele pode. Tudo se resume a prioridades e em usar bem o tempo, se isso estiver certo não haverá excessos, em nenhuma área. O cristão será feliz, não machucará o corpo, não sujara a alma e nem esfriará o espírito, fará os outros felizes e agradará a Deus. Então, a pergunta que devemos fazer é: temos tempo para certas coisas na vida, e mais, no tempo atual do mundo em que vivemos? Antes de começar a reflexão é preciso que se faça uma afirmativa: aquele que nunca coloca uma gota de bebida alcoólica na boca, não é mais espiritual que os outros só por causa disso! 
      Quando estamos focados em trabalho, não há tempo mesmo para um copo ou uma dose de algo que a princípio nos fará relaxar e nos deixará menos aptos para certas atividades. Quem está trabalhando no serviço secular precisa estar em sua melhor forma, para se concentrar, atender as pessoas e ser eficiente, e mesmo que nisso, pelo menos a princípio, nem tenha necessidade de estar em comunhão com Deus ou com princípios espirituais e morais. Contudo, se no trabalho secular é preciso lucidez, muito mais numa comunhão espiritual com Deus, principalmente quando Deus nos chamam para uma consagração mais especial, com jejum e maior tempo de oração. 
      Abrindo um parênteses, a consagração genuína, da qual um jejum verdadeiro pode fazer parte, é chamada por Deus para nossas vidas, o Espírito Santo nos convoca para ela, nos prepara para ela, nos leva a ela, porque tem um objetivo muito claro para as nossas vidas através dela, que nos levará a um novo posicionamento espiritual. O jejum verdadeiro não é o homem se sacrificando para Deus mas Deus limpando seu templo, nossos seres, para transbordar seu Espírito, fecho parênteses. Quem está no meio de uma batalha, principalmente espiritual, não tem tempo para relaxar ou se divertir, desde que seja uma batalha para a qual Deus o chamou. 
      Entendamos uma coisa, em nossa existência no plano físico não temos que estar em todo o tempo em luta espiritual, vigilantes e tementes, sim, mas não sempre numa disposição mais extrema de conquista de terreno espiritual. Muitas vezes bastará que mantenhamos o que conquistamos, usando a metáfora bíblica do povo de Israel no antigo testamento, não era sempre que essa nação estava em guerra para conquista ou reconquista de território. Assim, neste mundo temos tempo, sim, para relaxar e com equilíbrio muitas coisas nos são permitidas, ainda que mesmo quando temos tempo, com certas coisas é preciso não exagerar, para que não percamos depois tempo numa “recuperação”.
      O soldado pode parar para descansar, mas sempre tem em mente sua condição de soldado, confesso que não gosto de usar o termo soldado para definir o cristão, porque essa simbologia leva muitos cristãos a cometerem vários enganos sobre o que eles são e como devem se comportar nesse mundo. Mas a melhor maneira de entendermos essa metáfora e nos vermos como soltados numa guerra espiritual por nossas vidas e pelas vidas dos nossos próximos, pelos quais temos responsabilidade de dar cobertura espiritual. O erro é trazermos a simbologia de Israel do velho testamento para o Brasil atual, assunto que já refletimos muito no “Como o ar que respiro” e no estudo “Espiritualidade Cristã” do qual esta reflexão faz parte. 
      Outra coisa que precisamos entender é que certas coisas limpam o templo, mas não colocam nele o melhor conteúdo, assim em si mesmas não nos tornam espirituais, não basta abrirmos mão de certos prazeres do corpo, não basta tirar do organismo bebidas alcoólicas, temos que encher o espírito com o Santo Espírito. A verdadeira espiritualidade não é seguir uma lista de nãos, nem somente uma lista de sins, mas é equilibrar as duas listas, quando é Deus nos mostrando como sermos espirituais achamos forças para sermos harmoniosos e nunca extremados. Tudo começa aprendendo a ouvir a voz de Deus e discernindo o que de fato ele quer de nós, nem mais e nem menos. 
      Confesso que tenho achado pouco tempo para certos prazeres, e não é porque sou melhor que os outros, só não beber vinho não me faz melhor que ninguém, no máximo beneficia meu fígado. Mas buscar o enchimento do Espírito de Deus me dá uma visão mais clara de minha existência e de como posso ser mais útil nas mãos de Deus, principalmente neste momento difícil que vivemos no Brasil e no mundo. Oro a Deus para que um dia possa ter tempo, com minha família, para relaxar e me dar ao direito de certos prazeres, o cristão sabe que não é deste mundo, mas deve trabalhar para o bem dele, tendo paz aqui mas sabendo que a paz maior não vem daqui.
      Para encerrar uma orientação, algumas pessoas podem ser facilmente viciáveis em bebidas alcoólicas, ou podem, mesmo que com pouca quantidade delas, perderem o controle, tornarem-se violentas ou cometerem outras inconveniências sociais, outras pessoas podem ter enfermidades, como cirrose, diabetes, para as quais bebida alcoólica é altamente prejudicial. Para essas pessoas, tomar bebida alcoólica não é uma escolha, mas obrigação de evitar. Pessoas assim aceitem seus limites com humildade buscando a Deus, que sempre dá forças para que sejamos nosso melhor nele, todos nós de alguma maneira temos limites, que nos são permitidos para sermos mais espirituais, não menos. 

40. Espiritualidade e sexo

      Temos uma ideia errada sobre vício, o que torna algo um vício não é o simples fato de ser errado ou ruim, que prejudica de alguma maneira nosso corpo, nossa mente ou nosso espírito, vício é fazer algo de forma exagerada, deixando que nos controle. Assim, a princípio, vício pode não ser algo ruim ou errado, mas que feito sem controle, na hora errada, no lugar errado, com as pessoas erradas, pode viciar. Algo bom pode ser tornar um vício se não conseguirmos parar de fazê-lo ou se dependermos dele para estarmos bem. Iniciei esta reflexão sobre sexo falando sobre vício porque o vício mais comum é o vício por sexo, isso por vários motivos. Sexo é algo que se pode fazer de graça e sozinho, sem que haja necessidade de pagamentos, outros recursos ou mesmo de companhia. Diferente de bebida alcoólica ou de entorpecentes, que precisam ser comprados e muitos podem ser bem caros, para sexo podem bastar os nossos próprios corpos e alguma imaginação. 
      A princípio o pecado não está em algumas coisas, mas no exagero delas, no vício dessas coisas, e a verdade é que vivemos numa sociedade obcecada por sexo, e nem é pela interação social que ele proporciona, mas pelo consolo que ele oferece para que se possa enfrentar dores e carências. Um exagero, no início, sempre traz desconforto, o fígado reclama, a alma se sente culpada, é só na sua insistência, que é quando algo se transforma de fato em vício, que o homem se acostuma e fica viciado. Então, a busca inicial por um prazer muda, a dor de não ter o prazer do vício é que leva as pessoas a ficarem mais viciadas, no final não se anulou uma dor com um prazer, mas só se trocou de dor. A dor da falta de carinho dos pais, por exemplo, é substituída pela abstinência de sexo, que no início até era resolvida com sexo seguro, mas que depois bastou sexo casual numa madrugada qualquer após um encontro num lugar regado à música ruim e álcool. 
      Mas até que ponto sexo é pecado, até que ponto pode limitar nossas vidas espirituais? Naquilo para o qual se desviou o cristianismo primitivo que se deu o nome de catolicismo, ordens religiosas surgiram com o objetivo de levar as pessoas àquilo que se achava que era a espiritualidade mais alta. Celibato era exigido assim como vida isolada em mosteiros, quem vê o mal nas coisas pensa que afastar-se das coisas pode facilitar uma vida santa, isso quando não se entende que o mal está dentro de nós e nos acompanha para onde formos. No que os historiadores europeus chamaram de idade das trevas (parte da idade média, e é de nos chamar a atenção denominarem assim um período onde o cristianismo tinha predominância religiosa, política e econômica no mundo ocidental), estabeleceu-se o conceito de que os sacerdotes deveriam se abster de sexo e de outros apetites carnais, assim casamento foi proibido aos padres e membros do clero: 

      O celibato acabou por se impor no Ocidente: o Código de Direito Canónico impõe o celibato a todos os sacerdotes da Igreja Latina (em 1123). Porém, há várias exceções de sacerdotes casados na Igreja Latina, houve alguns papas casados (Adriano II, Honório IV), bispos casados (nas diocese da Islândia até à Reforma protestante; o bispo Salomão Barbosa Ferraz no Brasil) e vários padres casados ordenados nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido e Escandinávia, sob autorização especial. A Igreja Católica de rito latino, sinteticamente, dá as seguintes principais razões de ordem teológica para o celibato dos sacerdotes e religiosos de vida consagrada:
      - com o celibato os sacerdotes entregariam-se de modo mais excelente a Cristo, unindo-se a Ele com o coração indiviso;
      - o celibato facilita ao sacerdote a participação no amor de Cristo pela humanidade uma que vez que Ele não teve outro vínculo nupcial a não ser o que contraiu com a sua Igreja;
      - com o celibato os clérigos dedicariam-se com maior disponibilidade ao serviço dos outros homens;
      - a pessoa e a vida do sacerdote são possessão da Igreja, que faz as vezes de Cristo, seu esposo;
      - o celibato dispõe o sacerdote para receber e exercer com generosidade a paternidade que pertence a Cristo.
Fonte: Wikipedia

      Quem sai da cobertura do Espírito Santo e ainda assim quer viver para Deus (ou para o que pensa ser Deus), está sozinho, só tem suas próprias forças para ter vida espiritual, os católicos em seu cristianismo desviado do original, mas ainda obstinados, por vários motivos, a se manterem como representantes oficiais de Cristo na Terra, inventaram suas regras e uma delas foi controlar a força mais poderosa que existe no homem, o sexo. Mais forte que outros instintos, mais forte que outras vaidades, mais forte mesmo que a sede de dominar outros homens na política, nas riquezas e na guerra, o sexo é democrático, todos, pobres, ricos, pouco instruídos ou eruditos, podem usufruí-lo. Por ele muitos abrem mão de muitas coisas, reis já abdicaram por uma paixão, reis já mudaram de religião pelas paixões, teve um, Henrique VIII, que mudou a religião de seu império por elas, transformou o catolicismo da Grã Bretanha em anglicanismo, para ter autorização para se casar de novo e de novo. 
      Mas não é só no cristianismo que sexo é visto de forma equivocada, muitas culturas o demonizam, algumas mutilam (até hoje) fisicamente mulheres para que não tenham prazer sexual, e outras as mutilavam emocionalmente, colocando-as no papel de somente geradoras de filhos, o prazer os maridos teriam com profissionais do sexo. As religiões orientais também orientam abstinência sexual para o caminho de uma espiritualidade mais elevada e mesmo o apóstolo Paulo tinha uma visão que impunha prioridades para que vida sexual interagisse bem com espiritualidade, coerente com a cultura de seu tempo. Precisamos aceitar que a Bíblia deve ser entendida com a ajuda do vivo Espírito Santo porque seus textos são, sim, influenciados pelas culturas dos tempos dos que a registraram, e em assuntos referentes à sexualidade é onde precisamos de mais auxílio do Espírito Santo, para não ficarmos escravos de preconceitos e tradições de homens, que não representam a real vontade de Deus.

      “Ora, quanto às virgens, não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel. Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim. Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher. Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos. Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem...” “E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.” 
I Coríntios 7.25-29 e 32-33
   
      O pensamento de Paulo sobre sexo fica bem claro no texto inicial, é importante notarmos a honestidade dele quando começa o ensino dizendo “não tenho mandamento do Senhor, dou, porém, o meu parecer”. Eu já cheguei a um entendimento que ouço a voz do Espírito Santo indiferente do que uma leitura rasa da Bíblia diz, mas mesmo os que só têm fé para entender e obedecer a Bíblia ao pé da letra concordarão que a orientação não é o que Paulo entendia como de Jesus, mas dele, ainda que para muitos a orientação de Paulo possa ter o mesmo peso que a de Jesus por estar na Bíblia. Mas é sensato compreendermos que o ensino não é uma lei, mas apenas uma orientação, que pode ser seguida com sabedoria. Qual é o parecer de Paulo? Se alguém tiver feito uma aliança de casamento, mantenha-se nela, mas se não tiver, não a faça, é mais fácil obter a espiritualidade na condição de solteiros.
      Para mim, com sessenta anos de idade e com um bom casamento de mais de vinte anos, talvez seja mais fácil dizer aos jovens, se puderem, permaneçam solteiros, e não me entenda mal, mas os anos nos “acalmam” e na maturidade muitas coisas ganham mais importância que o prazer de uma relação sexual. Hoje posso me dar ao luxo de focar minhas energias em orar, estudar a Bíblia, ler bons livros, enfim, me aprofundar em cultura e espiritualidade, sem que meus instintos me empurrem para querer, buscar e achar “namoradas”. Jovens, creiam em mim, envelhecer é uma bênção. Paulo escrevia como alguém maduro, resolvido como homem, não sabemos pela Bíblia sobre a vida conjugal do apóstolo-teólogo, mas se apresenta em seus textos como alguém com quem Deus pode contar, com o tempo e com as capacidades, intelectuais, sociais e espirituais, de um chamado para uma missão para lá de especial no cristianismo, só superada pela do próprio Cristo.
      Todavia, o que Paulo orienta não é fácil para os jovens, principalmente para os jovens de hoje, numa sociedade que prega sexo sem culpa sempre e para todos, que disponibiliza fantasias gratuitas a qualquer hora e lugar no aparelho celular, que oferece controles seguros de natalidade e de proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, e onde se tem liberdade para ir e vir mesmo sendo jovem (obviamente fora de um ambiente de pandemia como temos vivido nestes dias). E se os tempos são outros, em relação aos meus tempos de juventude ou dos tempos de meus pais, são outros completamente diferentes em relação aos tempos do apóstolo Paulo e da sociedade para a qual ele falava, que legalizava escravos, tinha a mulher como ser inferior ao homem e que pouco valor dava a crianças e adolescentes. 
      Mas a declaração reveladora de Paulo e que tem certa dificuldade de ser colocada em prática em vista dos papéis de homem, mulher e casamento atualmente na sociedade, é a seguinte: “o solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor, mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher”. Hoje o solteiro tem muito mais liberdade e facilidades, como dissemos acima, de servir a ele mesmo, tanto no esforço de se preparar melhor para uma independência econômica, estudando e trabalhando, como nas possibilidades de diversão e entretenimento, e nisso sexo é algo prioritário. Assim, ao meu ver, hoje o entendimento é o contrário daquele que tinha Paulo, e também como dissemos acima, o mais maduro, os não tão jovens, têm bem mais oportunidades de servirem a Deus, principalmente se já tiverem tido um bom casamento. 
      O homem moderno pede um evangelho interpretado pelo Espírito Santo que satisfaça necessidades diferentes das elencadas não Bíblia, por diversos motivos. Homem e mulher têm as mesmas oportunidades de estudar, trabalhar e se casar, ninguém é dono de ninguém, não existe o conceito de submissão, mas de respeito mútuo e igualdade, e ambos, se ficarem solteiros, podem ter vidas de independência econômica sem qualquer vínculo financeiro ou hierárquico com pais. Assim, ninguém serve melhor a Deus porque não se casa, aliás, o evangelho só atualmente está podendo ser compreendido em toda a sua abrangência libertária, algo que sempre esteve no coração de Deus, mas que só em nossos dias o Espírito Santo tem tido liberdade de ensinar. Essa abrangência diz que todos somos chamados a conhecer a Deus e a servi-lo, isso não depende de se ter um ministério específico e exclusivo ligado a igrejas, podemos exercer chamadas dentro de vidas profissionais seculares, casados e administrando família. 

      “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento. Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.” I Coríntios 7.4-9

      A Bíblia e as tradições cristãs, muitas ainda católicas, mesmo no meio protestante e evangélico, precisam ser desmitificadas, à luz e na autoridade do Espírito Santo de Deus, refletimos bastante a respeito em “Reavaliemos nossas crenças”, mas a interação entre sexo e espiritualidade talvez seja o tema mais importante nessa reavaliação. Muitos se espantariam ao saber o que Deus de fato pensa sobre sexo, que em poucas palavras é, Deus não dá para sexo tanta importância como damos. Deus se importa, sim, com alianças, e santidade nada mais é que ser fiel a alianças. Por isso Paulo diz que o que foi chamado solteiro ou ao que está viúvo, que assim permaneça, quem não estabelece aliança não pode quebrá-la, mas isso não é estar legal e religiosamente solteiro, enquanto se mantém vida sexual ativa e com mais de um parceiro, isso é promiscuidade tanto quanto é adultério para casados.
      Nesse caso a aliança que se quebra é com o próprio corpo (I Coríntios 6.16), e se alguém disser que não está tendo relação sexual com profissional do sexo porque não está pagando, saiba que todos que fazem sexo só por prazer, sem aliança de fidelidade, se prostitui, ainda que não pague ou que receba pagamento por isso. Vivemos numa sociedade onde muitas pessoas, incluindo muitos jovens, se prostituem uns com os outros, e fazem isso sem culpa. A consequência são os filhos que nascem de relações sexuais e não de relações conjugais, criados sem famílias, só por solteiros imaturos, ainda que já velhos. Enfatizo que aqui não estou pregando qualquer padrão tradicional de família, meus queridos, para Deus isso não importa, família é aliança mantida com fidelidade, sejam os parceiros do sexo que forem, aceitem isso, amados cristãos.
      Santidade é origem e fim da verdadeira espiritualidade do Espírito Santo do Deus altíssimo, defino espiritualidade assim porque o termo espiritualidade é bastante usado por muitos, que conhecem o mundo espiritual e que interagem com ele, mas santidade é uma característica que só possui a espiritualidade de Deus. Muitos são espiritualistas, espiritualizados, mas não são de fato santificados, assim não são espirituais, porque só o nome de Jesus pode nos limpar de todo o pecado e nos selar com o Espírito Santo, e a verdadeira espiritualidade é o Espírito Santo, não outros espíritos, entidades, anjos, arcanjos, diabos, demônios etc. Mas existe algo que mais faz com que sintamos que perdemos a santidade que uma experiência errada com sexo? Podemos nos limpar em várias áreas, nos abstermos de bebidas, de ira, de vaidades, mas tentação a sexo errado é algo que nos acompanha o tempo todo, e basta um deslize e caímos. 
      Como cristãos genuínos filhos de Deus em Jesus o segredo é: nunca deixemos de chamar pecado de pecado, nunca menosprezemos a culpa, peçamos perdão por algo que sabemos que fizemos e que não é correto, nem porque magoamos alguém, nem porque alguém sabe, mas porque ferimos a nós mesmos e ao Espírito Santo. Deixemos claro em nossas mentes e em nossas sentimentos que algo é errado, que não queremos mais fazer e que em Jesus somos totalmente perdoado, façamos isso sempre que for preciso. Contudo, achemos em Deus o prazer maior, remédio para todas as faltas de atenção que os homens nos deram, para todas as calúnias que tantos muitas vezes fazem sobre nossas vidas, o Espírito Santo pode nos dar uma paz maior e única que não deixará que as mágoas fiquem em nós, nem as injustiças com que tantos nos tratam. Sem dor não buscaremos em sexo um vício, e desejaremos mais e mais estarmos próximos a Deus, nisso conheceremos a verdadeira espiritualidade.
      Pessoalmente não acho casamento e sexo problemas para a espiritualidade, de maneira alguma, somos almas partidas, não conseguimos ser sós, temos necessidade do outro, há em cada um de nós uma necessidade implícita de nos “casarmos”, começando pelos nossos corpos, senão seríamos hermafroditas. Ainda que muitos escolham viver só, Deus sabe deles e os abençoe, nada nos amadurece mais que partilhar a existência com alguém, criar filhos com esse alguém, além de nos evoluir nos protege e nos faz proteger, é bênção de todos os lados. Novamente enfatizo o ponto de vista do “Como o ar que respiro”, que não interessa como seja esse casamento, com papel ou sem, não importa cerimônia religiosa, com ou sem, ainda que se puder haver isso é bom, mas também não importa sexualidade, dessa maneira ou “daquela”, criando filhos biológicos ou não. Tudo isso não faz nenhuma importância para Deus e nem nivela espiritualidade, fidelidade às alianças em comunhão com o Deus Altíssimo, isso é que importa. 

41. Espiritualidade e o planeta

      “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.” II Pedro 3.10-13

      “Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.” II Tessalonicenses 2.1-4

      Quando pensamos em espiritualidade, seja como cristãos ou mesmo em outras religiões, a maioria de nós pensa em valores para existir no plano espiritual, na melhor eternidade com Deus, no céu, contudo, esse mundo continuará a existir, e muitos que amamos, nossos descendentes, filhos, netos, bisnetos, continuarão aqui. Como espirituais, sintonizados com o Deus Altíssimo, o que temos que desejar para este plano, ou melhor, o que devemos fazer por este mundo? Nada? Só aguardar o juízo onde tudo será destruído pelo fogo, quando novos céus e nova Terra existirão? Até que ponto espiritualidade deve se refletir também num mundo no plano físico com melhor qualidade? Esse assunto é bem relevante nos dias atuais e com certeza um ponto a ser levantado nesse estudo, que pode expandir nosso conceito de espiritualidade.
      Em primeiro lugar é importante que entendamos que certas preocupações com o mundo, como conservação da natureza, das florestas, dos recursos hidráulicos e da atmosfera, equilíbrio ecológico, numa sociedade sustentável capaz de se desenvolver suprindo as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações, sem esgotar os recursos do planeta, todos esses pontos que a mídia e outras organizações tanto têm levantado atualmente, bandeiras que têm se transformado quase que em religião, não eram importantes há um tempo atrás, mesmo no início do século XX. Assim, não culpem os cristãos por não se preocuparem com isso, ainda que eles possam ser culpados por ainda olharem o mundo sob uma ótica ultrapassada, em várias áreas. 
      Como parte da estratégia humanista do diabo está o levantamento dessa bandeira, que junta duas coisas importantes para ele, uma prioridade óbvia para o planeta que agrada a tantos mais preocupados com esse mundo que com o outro, e o antagonismo a prioridades ditas espirituais por muitos cristãos, ainda que não por todos (não estou generalizando). Isso coloca o cristianismo como vilão e dá aos que já não simpatizam com o cristianismo mais motivos para continuarem assim. Sim, sem sombra de dúvidas, luta por um mundo melhor é uma bandeira do anti-cristianismo, que de maneira alguma tem prioridades a princípio más ou injustas, ao contrário, junto de tolerância religiosa, igualdade entre sexos e raças e cientificismo, entrega a última e mais completa religião anti-cristá. Estão os cristãos preparados para esse embate? 
      Importante salientar que o estudo, do qual este texto é parte, é palavra direcionada a cristãos, usando termos e conceitos de cristãos, muitos que não forem de fato cristãos e que não tiverem algum conhecimento da doutrina cristã comum às denominações protestantes e evangélicas, talvez não entendam o que é dito, e não possam usar isso de maneira mais adequada. Assim, quando dizemos que algo é do “diabo”, bem, diabo é um conceito que pode ser bem abrangente, que vai de um ser mal que quer levar as pessoas para longe de Deus e finalmente ao inferno, a um ser espiritual simplesmente rebelde à ótica cristã, que quer o bem do homem, só que não de acordo com as “regras“ do cristianismo. Dessa forma, o diabo pode ser somente um anti-cristão, não necessariamente alguém ruim, ainda que para os cristãos ser anti-cristão baste para ser ruim.
      Mas será que muitos de nós cristãos estamos certos em não priorizar tanto assim esse planeta, de nos preocuparmos mais com o céu? A resposta para essa pergunta está novamente num dos conceitos mais simples e aplicáveis da Bíblia, pelos frutos serão reconhecidos. Se o cristão viver de fato a misericórdia e o amor do evangelho, ele terá, como um dos efeitos, uma vivência justa e equilibrada no planeta, com a natureza, com os animais, com a água, com o ar, enfim, com o plano físico. Contudo, numa hipocrisia estrutural instalada em grande parte do cristianismo, nos acostumamos a falar e não a praticar, a pregar, mesmo crer, mas a não averiguarmos se isso tudo de fato está mudando para melhor as sociedades em que vivemos. Estamos mais ocupados com a qualidade do som e das cadeiras de nossos tempos, que com os rios e as matas do planeta. 
      O cristão precisa reavaliar suas crenças, abranger seu conceito de espiritualidade, de forma que isso seja de fato causa de um efeito muito maior, em primeiro lugar em sua vida moral, em suas virtudes interiores, e depois no planeta onde vive. O cristão precisa libertar-se do cárcere dos templos, dos carcereiros, os falsos pastores, assim como dos espetáculos que assistem nos templos e que não levam de fato a Deus, mas só iludem e tiram deles dinheiro. O resultado da incoerência entre o que muitos evangélicos dizem e o que eles fazem é que o cristianismo está “entregando ouro ao bandido”, está armando os inimigos do cristianismo, afastando os que ainda não são cristãos e que precisam de Cristo, e legitimando bandeiras certas, mas levantadas por mãos erradas. 
      Outro ponto é que ninguém sabe quando o mundo vai “terminar”, se é que vai ser do jeito que muito cristão acha, teremos que existir aqui talvez por muito tempo, se não nós, pessoas que amamos. Não pense ninguém que temos motivos mais legítimos para achar que o final está próximo, o cristianismo já achou muitas vezes na história, que o mundo iria acabar e não acabou. Foi assim nas duas grandes guerras mundiais do século XX, na idade média, e mesmo nos tempos do apóstolo Paulo, cristãos se equivocaram sobre quando seria o fim. Atualmente estamos mais próximos do que nunca do fim, isso é fato, mas ainda teremos um longo tempo aqui, e seja como for, luz se faz necessária nas trevas, é o mundo quem precisa dela, o plano físico, não o céu, portanto, cristãos, sejamos espirituais também para o bem do planeta Terra.

42. Espiritualidade e a mídia

      “E, levantando-se no seu lugar, leram no livro da lei do Senhor seu Deus uma quarta parte do dia; e na outra quarta parte fizeram confissão, e adoraram ao Senhor seu Deus.” Neemias 9.3

      “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.“ II Timóteo 4.13

      A palavra mídia significa meio de informação, na reflexão que segue a usarei referindo-me a um grupo de órgãos, empresas e instituições que compartilham informação, com ênfase em mídia virtual. Procurei na Bíblia citações sobre mídia, achei no antigo testamento o versículo de Neemias e no novo o de II Timóteo, a primeira citação se refere a textos sagrados, à própria Bíblia, a segunda a textos que eram importantes para Paulo no final de sua vida, seriam textos de ficção? Quem sabe, mas poderiam ser textos técnicos, como dicionários, Paulo era um homem cosmopolita em viagem constante por povos diferentes de seu tempo, mas é opinião dos estudiosos que Paulo estaria preso em Roma pela segunda e última vez quando escreveu o texto. Interessante que para um homem pleno, como Paulo, intelectual e espiritualmente, serem esses os bens que ele priorizava no final de sua vida. 
      Compartilhar informação sempre foi algo importante na humanidade, mas por muito tempo foi algo feito só por via oral, isso é, um pai contava para o filho que tornaria a contar para seu filho, era assim que a informação era perpetuada. A partir do momento que os textos sagrados passaram a ser escritos a tradição oral se tornou menos importante, cópia de textos sagrados era algo feito à mão e de suma importância, existia uma classe religiosa específica e dedicada a esse ofício, os escribas. Quando a impressão mecânica foi inventada (em 1440 por Gutenberg) a informação ficou mais fácil de ser multiplicada, criava-se uma matriz de tipos que depois podia produzir muitas cópias, sem tanto trabalho humano e com certeza que as cópias não seriam adulteradas, mas ainda assim, no dia a dia, poucos escreviam e liam. Textos religiosos e acadêmicos eram escritos em latim, o que limitava a distribuição de informação.
      Foi a partir do século XVIII com o advento do romantismo literário e da propagação de feiras de livros em várias cidades da Europa, que a leitura tornou-se um hábito mais popular e com impacto na sociedade. O computador para uso pessoal e doméstico revolucionou a mídia, substituindo papel pela tela dos monitores, mas também entregando informação não diariamente em lojas físicas, mas em sites o tempo tempo e para todos. A televisão já havia iniciado esse processo, principalmente com a CNN norte americana nos anos 1980, com notícia em real time, o celular, contudo, mudou de vez a maneira como a humanidade recebe e passa informação. Informação se tornou mais que texto sagrado, que leitura prazerosa de um romance, que aquisição de conhecimento, mas um vício, e infelizmente vício em informação raza e vã. É sobre essa mídia que pode manipular o homem que pensaremos a seguir. 

      É certo que a mídia, redes de televisão, sites, jornais e revistas, em sua maioria, é tendenciosa sobre o que veicula sobre espiritualidade, seja para promover ou para criticar, não, isso não é teoria de conspiração, é fato, quem tem uma visão mais aberta da realidade, e não extremada, enxerga isso. Nessa reflexão farei algo que faço menos no “Como o ar que respiro”, avaliar o mundo, já que de maneira geral sigo a orientação do Espírito Santo, que notamos nos livros bíblicos, avalio a minha casa, não a casa dos outros, quem lê a Bíblia com mente esclarecida perceberá isso. Os profetas no antigo testamento, salvo algumas exceções como Jonas, eram enviados para exortar Israel, não as outras nações, quando templos idólatras eram destruídos eram aqueles dentro de Israel, não nas outras nações, Deus deu posses a seu povo, mas estabeleceu limites para que as nações que não o temessem tivessem, neste mundo, direitos iguais.
      No novo testamento, apesar de ter uma proposta nova, mais abrangente, de um salvador para toda a humanidade, e não de uma nação como testemunha de Deus na Terra, visando aperfeiçoar Israel não o mundo, vemos isso também em muitas passagens, tanto nos debates teológicos de Jesus com os líderes religiosos judeus como nas cartas, principalmente de Paulo, onde fé em Jesus é defendida como mais importante que obras e sacrifícios. Mas desta vez pensaremos um pouco diferente, não especificamente nas outras religiões, e sempre entenda as avaliações feitas neste espaço sobre as outras religiões como constatações de fatos, pontos de vista técnico das doutrinas, não juízos de valor, nesse aspecto nunca poupo nem o catolicismo e muito menos o protestantismo, ainda que respeitando a sinceridade do bem e a verdade das vidas de todos os seres humanos, católicos, protestantes e de outras religiões. 
      Deus ama a todos, ouve a todos, e salvará bem mais que só evangélicos de templos evangélicos, muitos se surpreenderão na eternidade ao confrontarem seus preconceitos com o amor do Senhor. Jesus se sacrificou por todos, mesmo por aqueles que não o aceitam como salvador, e muito por tantos que mesmo sem decisões oficiais em templos cristãos ainda vivem como filhos de Abraão, com temor a Deus e fazendo obras verdadeiramente de amor. Desta vez refletiremos sobre o comportamento da mídia, que atualmente é muito mais que divulgadora de notícias diárias ou de entretenimento, a mídia tem se colocado como sacerdote, se achando no direito de ditar regras morais, direitos sociais e mesmo orientações espirituais, enquanto eleva a ciência, a conservação do planeta e a saúde física. Essa agenda, em si não está errada, mas é, sim, arma nas mãos do anti-cristianismo que nega o Deus altíssimo.
      Negar o Altíssimo, eis o grande propósito do diabo. Altíssimo é o melhor adjetivo para Deus, por isso o usamos tanto aqui no “Como o ar que respiro”, ele coloca Deus numa posição espiritual exclusiva, acima de todo principado e potestade, uma posição onde existe a luz mais clara. Nessa luz está a mais pura santidade, as mais altas virtudes, os olhos que tudo veem, as mãos que tudo controlam e os pés que em todo lugar estão, nesse lugar espiritual mais elevado só Deus está o tempo todo e sempre, e estando ele está Jesus. Depois que Jesus consumou sua obra de redenção os homens também podem estar nas regiões celestes mais elevadas, enquanto encarnados pela oração através do Espírito Santo, e na eternidade pelo amor de Deus, ainda que nós homens não sejamos e nem poderemos ser Deus, podemos estar comunhão com o Altíssimo por Cristo, com direitos não à adoração ou aos poderes de Deus, mas à proteção dele. 
      O anti-cristianismo quer impedir que o homem olhe para o altíssimo levando esse a olhar para os outros poderes espirituais abaixo, abaixo de Deus estão os seres espirituais do bem e os rebeldes, os do bem estão guardados pela luz que vem do altíssimo, esses não se comunicam com os homens sem autorização de Deus, portanto, não recebem adoração nem podem responder a pedidos diretos do homem. A esses os homens só têm acesso no Altíssimo e por Jesus Cristo, dessa forma o que resta para estabelecer contato, quanto não é Deus, são os anjos caídos e suas legiões, que têm autorização para terem comunhão com o homem por causa do livre arbítrio do homem. Afroespíritas não devem sentirem-se ofendidos quando escolhem certos contatos espirituais que sob o ponto de vista bíblico-cristão são contatos abaixo do Altíssimo, sejam quais forem, boas ou não, suas intenções em contacta-los, não estamos julgando isso. 

      A Cabala judaica, em hebraico, קַבָּלָה (receber/tradição), impossível de ser explicada em poucas palavras, pelos menos para os que não têm ouvidos “espirituais” (os iniciados, conforme as ordens secretas), é um sistema que organiza várias coisas, vários conceitos, vários seres, tanto físicos quanto espirituais, tanto no céu quanto na terra (conforme o hermertismo). Ela é um método para prática, não mera explicação teórica e filosófica, demonstra o fluxo de energia que se inicia em Deus e acaba no homem, passando por potestades espirituais através das dez Sefirá ou do Sefirot (no plural), em hebraico סְפִירוֹת, potências ou agentes pelos quais manifestou sua vontade na produção do universo Ein Sof, em hebraico אין סוף (sem limites, ilimitado ou Infinito), termo cabalístico para a Deidade antes de sua auto-manifestação na criação dos mundos. Cabala e hermetismo são a base do esoterismo, do ocultismo etc.
      A Cabala é a representação mais próxima da árvore do conhecimento do bem e do mal, e ainda que de forma velada ou inconsciente (se é que isso é possível) é o que a mídia mundial propaga, sempre, repito, para desviar os olhos humanos do Deus Altíssimo. Uma frase do ocultismo revela muito sobre isso, “Deus é arquiteto, não pedreiro”, assim, conforme o ocultismo diz, se quisermos comunicação, comunhão ou mesmo poder sobre o universo, devemos procurar os pedreiros que administram os elementos, não o arquiteto. Esse princípio é tão antigo quanto o homem, é ensinado no mito grego de Prometeu, titã que foi incumbido por Zeus junto de seu irmão Epimeteu para criar os animais e o homem. Reza a lenda que depois de ter criado os animais e dado a eles capacidades Epimeteu não tinha mais capacidades para dar ao homem, assim pediu ajuda a Prometeu que roubou o fogo dos deuses e deu ao homem. 
      Fogo é um símbolo, das ciências, a mesma simbologia bíblica do fruto da árvore do conhecimento do bem e mal, a mídia é o Prometeu moderno. A principal crítica que fazemos à mídia é que ela promove os defeitos do cristianismo, principalmente em se tratando do cristianismo não católico, notícias sobre falsos pastores e erros de cristãos são veiculadas rapidamente e com todos os holofotes. Enquanto que em relação a religiões não cristãs, mas incluindo o catolicismo, são divulgadas qualidades mesmo quando elas não são tão evidentes. Sim, o motivo óbvio para isso é que ainda que o cristianismo protestante evangélico não esteja sempre certo, ainda prega o caminho mais reto e certo para o Deus altíssimo, e isso não interessa às potestades as quais estão ligados muitos donos e profissionais importantes da mídia. O diabo odeia o cristianismo, sempre será assim, por isso é impraticável qualquer comunhão entre luz e trevas. 
      Defende-se aquilo em que se acredita, ainda que a mídia não assuma no que acredita, ela defende o estado laico quando lhe é conveniente porque se fosse de fato laica ou não falaria nada de nenhuma religião ou falaria de forma justa de todas. Mas existem, sim, igrejas evangélicas e protestantes assim como pastores e ovelhas, que levam cristianismo a sério, nem vou entrar no mérito se seguem ou não o cristianismo original, mas tem muito evangélico que não compra e nem se vende por dízimo, que pratica caridade, que é tolerante com as outras religiões e que respeita a diversidade sexual defendida atualmente principalmente pela mídia. Contudo, o que aparece na mídia são denominações que nem evangélicos consideram evangélicas, mas seitas, grupos desviados da doutrina principal aprovada pela maioria dos protestantes. A mídia não quer entender o básico, que evangélicos não são uma denominação única como o catolicismo.
      Muitas vezes vemos a exceção equilibrada da religião x sendo promovida como regra, enquanto que a regra do cristianismo é divulgada como exceção, jogo sujo de grande parte da mídia. Mas quando essa mídia encontra um líder político estúpido que é apoiado por muitos evangélicos, então é que ela faz a festa, nem precisa se esforçar para anular o cristianismo com fake news, basta veicular a verdade, isso é muito triste para todos nós cristãos. Enquanto isso ioga e meditação budista são mostradas pela mídia como práticas que devem ser incluídas mesmo no currículo escolar, como terapêuticas, e com apoio da ciência, já que orar a um Deus único através de Cristo em instituições de ensino é ser intolerante e ignorante, e isso, corroborado por cristãos sem sabedoria que de fato são intolerantes. E repito, não estou dizendo que ioga e meditação budista não tenham seus benefícios, têm sim, e aliás, cristãos deveriam saber mais a respeito. 

      Mas talvez a coisa mais séria que a mídia faça seja desconsiderar qualquer informação sobre religiões que fazem mal explícito e que têm práticas de sacrifício humano, principalmente de crianças, explicação para um número tão grande de desaparecimento de menores no Brasil e no mundo, e objetivos por trás de muitas clínicas clandestinas de aborto. O que muitos jornalistas dizem, e eu creio que muitos jornalistas competentes de fato acreditam no que falam e não têm noção que estão sendo manipulados, é que esse tipo de coisa não existe e é, sim, teorias de conspiração de gente ignorante ou com transtornos psiquiátricos, argumento que novamente ganha legitimidade quando cristãos em cargos políticos importantes (como ministro de educação) revelam esse tipo de coisa sem sabedoria alguma. Assim o mal vence mais um round, já que verdade em boca de mentiroso tem credibilidade improvável.
      O único que pode vencer o cristianismo no mundo é o mau cristão, e no mundo atual o mau cristão se perde nas redes sociais e na política. Informação é poder e conhecimento é libertação, a mídia sabe que tem nas mãos uma arma poderosa, os espíritos rebeldes sabem que a mídia é uma arma importante para conquistar a mente do homem, mente rendida conquista o mundo exterior à sua maneira. Enganam-se os pastores que pregam vitória contra perseguição ao cristianismo com fé num Deus que faz milagres exteriores, que ainda acham que cristãos podem ser levados a arenas para serem mortos por leões, atualmente, como jamais ocorreu antes, o diabo quer matar a mente, não o corpo, e a mente se mata com informação falsa, e não me refiro aqui a fake news. A informação mais falsa e mais eficiente baseia-se em verdades, verdades de cristãos vivendo errado e de não cristãos vivendo corretamente. 
      A mídia foca no ser humano (como refletimos em “O diabo é um humanista (III)”), exibe e defende o homem, suas causas, suas paixões, suas dores e suas superações, e principalmente como vítima do “sistema”, que sistema é esse? Tudo que é ou que a mídia interpreta como autoritarismo, como monopolizador de ideologias, por isso o cristianismo é tão perseguido, ele prega um único Deus e um único salvador, que relega todos os outros deuses e salvadores. A mídia nem está interessada em saber se a maioria das pessoas gosta desses monopolizadores, que é direito delas, mas ela busca argumentos para destruir totalmente os monopolizadores. Enganam-se os que acham que atualmente a mídia maior de todo o mundo é de esquerda (e muito menos é de direita), ela está acima desses extremos, o diabo não apresenta mais uma guerra contra Deus, colocando Deus no seu nível e do lado oposto. 
      Os espíritos rebeldes querem anular totalmente a ideia de um Deus altíssimo e se colocarem como únicas potestades nos ares espirituais, estão fazendo isso não em cultos satânicos, mas no Instagram, no Whatsapp, na Netflix, enfim, pela mídia e principalmente no mundo virtual. O mundo virtual definitivamente é o campo de batalha dos últimos tempos, é onde as pessoas, por incrível que pareça, se encontram mais proximamente nos dias atuais, já que mesmo guerra de verdade está sendo travada à distância, feita por drones, veículos controlados remotamente, bombas teleguiadas que são enviadas de muito longe e fazem um ataque com precisão cirúrgica aos alvos. O Armagedom poderá ocorrer enquanto boa parte da humanidade estará assistindo-o pela internet, anestesiada pelos filmes apocalípticos de qualidade que assistiu, assim não sentirá a relevância do que está vendo, achando que é só um game. 
      A mídia virtual busca ter no plano físico o que só Deus tem a partir do plano espiritual, onipresença e onisciência, e quem tem isso acaba tendo também onipotência. Disponibiliza informações em todo lugar e em tempo real, e adquire informações de todos pois todos compartilham suas vidas, então, se sabe de todos e pode dizer isso a todos acaba tendo também poder sobre todos. Se o diabo quer ser Deus a mídia virtual dá-lhe as ferramentas para isso, ferramentas que nunca antes teve, através do homem e para dominar tudo pelo homem, criando algo que substituiu até a principal vocação humana, espiritualidade. Quem quer transcender espiritualmente em direção a Deus quando pode ser deus na Terra, diante dos homens, recebendo likes em suas fotos e vídeos e inscrições em seus canais, num mundo de mentira e à distância? Eis a verdade sobre a mídia, o Prometeu moderno, entregou o fogo, mas roubou a alma.

43. Rádio espiritual

      É isso que somos, ou podemos ser, aparelhos de rádio que recebem ondas, só que espirituais. Ligar ou não o aparelho, e sintonizá-lo numa estação que esteja transmitindo um programa bom ou ruim, só depende de nós. Todos os seres espirituais transmitem suas intenções no universo, de Deus, o espírito mais elevado, que tem um alcance maior que qualquer outro, até os demônios mais baixos, passando pelos seres espirituais de luz, anjos e outros, e os seres espirituais rebeldes, diabos e outros príncipes das trevas. O salvo por Cristo tem a instrumentalização do Espírito Santo para saber onde e como sintonizar seu aparelho, infelizmente a maioria dos cristãos ouve só a programação básica para iniciantes. 
      A primeira coisa a entender sobre comunicação com o mundo espiritual é que ela é algo protegido, guardado, digamos assim, para que não seja usada por qualquer um e de qualquer jeito, assim, é mais normal que as pessoas não se interessem por ela. A única estação que está sempre ligada e para todos é a que sintoniza no Deus altíssimo, e essa, a princípio, é para todos os homens e sintoniza um programa: Deus te ama e quer te salvar. Todos podem ouvir a vós de Deus, mas ainda assim é uma comunicação espiritual, que tem referências espirituais. Qual a chave para toda experiência espiritual? Fé, assim essa é a primeira coisa que precisamos entender, algo tão importante, mas que muitos cristão não entendem nem o básico. 
      Fé envolve três experiências, força emocional que nos dá uma convicção, imaginação mental que nos permite visualizar o que queremos, e aprovação de Deus que recebe do nosso espírito nossas intenções de alma e “realiza” o que cremos. Está pressuposto que fé sempre é usada para se ter algo que não se sabe materialmente se existe ou não, como os seres espirituais, além do uso mais comum pelos homens que é receber, ainda que algo físico, mas que pelos meios materiais não parece possível. Para a comunicação espiritual “fé dom de Deus“, conforme Efésios 2.8, que vão além de convicção e imaginação humanas, é mais que a chave mestra, é a porta, a sala, e novamente a porta e a sala, infinitamente.
      A fé genuína dom de Deus não é a força humana que se dá em troca de uma resposta divina, é o conhecimento humano de algo que Deus quer dar ou fazer, dessa forma o homem ora só para tomar posse, nessa fé verdadeiramente divina, cabe ao homem conhecer, mas a Deus executar a obra. Obviamente essa fé está essencialmente ligada ao duplo princípio de João 15.7, onde as duas coisas precisam acontecer simultaneamente, pedir conforme a vontade de Deus assim como viver de acordo com essa vontade. Uma coisa, contudo, é começar a caminhada cristã pela fé, receber a salvação e mesmo os dons espirituais, outra coisa é aprender os mistérios espirituais com o Espírito Santo, a fé precisa ser aperfeiçoada para isso. 
      Equilíbrio entre corpo, alma e espírito, eis um princípio que não pode ser esquecido na busca de espiritualidade, se uma dessas áreas receber mais peso que as outras, o ser pode ser prejudicado. Se forem o corpo ou o alma, poderão ficar enfermos, jejum demais pode enfraquecer o corpo, diminuir o sistema de imunidade, mas oração demais pode prejudicar a mente, levar mesmo à depressão e outros transtornos, porque coloca o homem numa condição mental de foco e isolamento que não é para ele estar o tempo todo. Assim, manter o aparelho de recepção de rádio espiritual bem ajustado e funcionando implica em manter também o corpo e a alma sadios, ter o “templo do Espírito” limpo, arejado e aberto, não fechado. 
      Isso não se faz só clamando e adorando a Deus, de joelhos num quarto fechado, ou mesmo nos templos junto de outros crentes, com o coração no céu, mas caminhando pela Terra, com os pés no chão, olhando o Sol, a Lua, usufruindo da natureza, tendo conversas positivas e descontraídas com amigos. É importante que isso seja dito e entendido, porque não somos espíritos soltos querendo voltar a Deus, temos corpos e almas, e esses não são limitadores, mas mecanismos de equilíbrio, Deus nos fez assim para este tempo no mundo, precisamos aceitar isso com humildade. Muitos querendo atingir nível superior de espiritualidade podem se frustrar e afastarem-se do evangelho, mas também podem enlouquecer. 
      A maioria dos cristãos não se atém a isso, mas muitos ficariam assustados em saber como existem pessoas mentalmente desequilibradas nas igrejas, principalmente no meio daquelas que parecem mais consagradas e santas. Infelizmente muitos líderes mal intencionados usam essas pessoas para fazerem trabalhos sem fins lucrativos para que eles recebam fins bem lucros. Sem sanidade mental é impossível ter de fato uma experiência espiritual cristã, com o Deus Altíssimo e através do Espírito Santo, e o diabo e seus lacaios podem se aproveitar disso de muitas maneiras. Para alguns, ainda que sejam sinceros e crentes, se forem mentalmente frágeis, é melhor que nem se aprofundem em coisas espirituais.
      Deus é perfeito, sabe o que tem para cada um de nós, não é igual para todos, a nós compete conhecer e obedecer, cientes de que se é a vontade de Deus é boa para nós. Não busquemos espiritualidade pelos motivos errados, quem busca sempre acha, mas se busca na rebeldia não acha em Deus, mas nos espíritos rebeldes. O plano espiritual é fechado para os olhos carnais, e mesmo cristãos convertidos se não olharem com os olhos espirituais nada verão, mas creiam, Deus tem muito a nos ensinar, a nos mostrar, os que forem chamados a crer verão. Todavia, iniciamos um tempo quando algumas coisas não serão só para alguns, o homem já está pronto para aquilo que o Espírito Santo sempre manteve guardado para revelar. 
      O importante é termos ciência que Deus “não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação“ (II Timóteo 1.7), e eis outro texto que só a Bíblia tem, curto e revelador. Os ensinos mais corretos sempre nos conduzem a uma perfeita harmonia, força, cuidado afetivo e equilíbrio, uma coisa limitando a outra para que o ser experimente sua melhor posição espiritual, respeitando os outros, a si e a Deus. Há de se ter coragem, força, trabalho, empenho, mas com amor, com carinho, não passando por cima de ninguém por causa disso, nosso direito acaba quando começa o do outro. Que tudo seja feito de maneira moderada, já que mesmo busca por espiritualidade, sem moderação não é boa, com fé, sim, mas por amor. 
      Não tenhamos medo, o Espírito Santo nunca é espírito de medo, é sim de temor a Deus, mas não de medo, seja de quem quer que seja, homem ou espírito. Por outro lado temos que nos basear na fé antes de em nossos sentimentos, mas quem crê pelo Espírito sente a presença de Deus, é esse sentimento pós fé que nos dá vitória sobre sentimentos ruins. Não basta só crer, temos que crer e experimentar aprovação do Senhor, quem tenta vencer dores só com fé mental, ignorando o sentimento “pós fé dom de Deus”, poderá adoecer mentalmente, não ter o problema resolvido, e só exigir de si algo que só Deus pode fazer. Essa experiência, contudo, exige tempo, é preciso paciência para achar a estação espiritual certa.
      Creia, ore e não saia da presença de Deus enquanto não se sentir curado, não, isso não é um trabalho de horas ou dias, leva minutos, minutos que quando estamos torturados por uma luta podem parecer anos, mas creia, ninguém que se aproxima de Deus com todo o coração sai de sua presença sem uma resposta, “e buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração“ (Jeremias 29.13). E não nos preocupemos com quais coisas devemos dizer, o Espírito Santo nos diz, nos ajuda a orar, “e da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis“ (Romanos 8.26).
      Relacionamento com Deus, como toda amizade, é algo que se aprende com o tempo, intimidade se constrói, não se acha pronta e se usa de maneira imediata, precisamos gastar tempo falando com Deus, examinando nosso coração, discernindo a voz mansa do Senhor que fala ao nosso espírito, ajustando nosso rádio espiritual. Isso só o tempo ensina, à medida que provamos, não para Deus, mas para nós mesmos, que convencemos, não Deus, mas nós mesmos, que de fato queremos mais de Deus. Quando esse processo é caminhado, crescemos, começamos a entender como funcionam as coisas espirituais, como Deus nos fala, e é só a partir daí que podemos aprender mais com o Espírito Santo sobre os mistérios espirituais. 

44. Atraídos pelo Espírito Santo

      Por que muitos cristãos se tornam hipócritas, falam uma coisa e vivem outra? Porque limitam a atuação do Espírito Santo em suas vidas, dessa forma deixam de dar liberdade para Deus, o único que pode dar-lhes uma vida de vitória de acordo com a vontade de Deus. Estudam e estudam a Bíblia, decoram textos, sabem de memória tudo o que Deus quer deles para que iniciem uma jornada com Jesus, mas barram a atuação do Espírito Santo o que impede que o conhecimento intelectual seja posto em prática e vire vida. O resultado é uma vida frustrada, que por orgulho não se assume como tal e que passa a ser falsa. Saber a Bíblia pode ser só informação mental, só o Espírito Santo dá conhecimento espiritual. Conhecimento espiritual é vida!  
      Objetivos maiores para a vida cristã não são metas criadas por esse que escreve este estudo, nem fantasia de românticos que não têm nada pra fazer, também não são utopia de teóricos ou invenções de desviados que descontentes com o cristianismo tradicional querem novidades que deem sentido às suas existências rebeldes. Objetivos mais altos da genuína espiritualidade cristã são aquilo para o qual o próprio Espírito Santo do Deus Altíssimo nos atrai, nos chama, é a nossa vocação, e não só como cristãos, mas como seres humanos. Existimos para voltarmos a Deus e só o Espírito Santo por Cristo pode realizar isso de maneira reta e certa. Você veio a este mundo para voltar a Deus no outro mundo, essa é tua prioridade! 
      Temos que conhecer a Bíblia? Sim, profundamente, é um texto maravilhoso e quanto mais o lemos mais nos descobrimos e nos resolvemos nas histórias, nos personagens, na nação de Israel e nas atitudes dos apóstolos de Cristo, metáforas eternas para nossos curriculum vitae, nossos erros e nossos acertos. A Bíblia, por ter sido inspirada pelo Espírito de Deus, é renovável, sempre tem algo novo para nos mostrar, ainda que a tenhamos lido várias vezes, muitas vezes na simplicidade de pequenos versículos um mistério espiritual profundo nos é revelado, que nos ajuda a achar solução para nossos problemas e que nos consola prontamente. Leia Bíblia, dos textos sagrados, o mais excelente sempre!
      Mas temos também que comungar com o Espírito Santo. Em primeiro lugar sensíveis à sua voz quando nos mostra um pecado a ser assumido, perdoado e deixado, pelo nome de Jesus. Pecado não se acumula, não se dá apelidos, não se arranja desculpas para eles, mas os encaramos como algo que nos separa de Deus e nos macula, como algo ruim, que deve ser lançado fora o quanto antes. Em segundo lugar buscando os dons espirituais, eles são para todos os cristãos e em todos os tempos. Quem os nega, nega remédio não só para o espírito, mas para a mente e para o corpo, quem os nega pode se colocar numa batalha desarmado, assim é derrotado antes mesmo de começar a lutar. Arme-se com os dons espirituais! 
      Entretanto, experiência cristã espiritual é mais que dons do Espírito, é conhecimento espiritual, que fundamenta-se na Bíblia, mas que pode ir além. O catolicismo construiu uma seita eficiente, que instalou na alma humana enganos que não são o cristianismo de fato, e que o protestantismo reformou, mas não transformou. Um deles é o conceito de dogma, algo que é de um jeito e não pode ser questionado, sim, como cristãos verdadeiros temos verdades inquestionáveis, Jesus como único e suficiente salvador é a principal, o único caminho que leva a Deus. Contudo, o engano instalado nas mentes de muitos cristãos, católicos, protestantes e outros, é que a Bíblia é um livro de regras atemporais. Livre-se de dogmas! 
      Sabemos que a Igreja Católica foi além de dogmatizar a Bíblia, muitos outros textos que dogmatizam sua religião foram adicionados à sua doutrina, e isso só fez aumentar ainda mais o engano, mas com mais algemas ou menos a verdade é que nos acostumamos a um cristianismo amarrado que procura nos impedir de ter acesso ao mestre Espírito Santo. É fácil entender porque o grande Vaticano e os pequenos, as várias denominações protestantes e evangélicas, têm interesse nisso, eles querem controlar as pessoas para realizarem seus objetivos de poder no mundo, assim não é conveniente para eles que as pessoas obedeçam a algo livre e invisível, como é o vento do Espírito Santo. Jesus é o pastor das ovelhas, nenhum outro! 

      Mahatma Gandhi disse, “na verdade há tantas religiões como indivíduos”, é claro que sob o ponto de vista hinduísta dele isso ganha uma ampliação extrema, que mesmo os que não têm foco no Deus Altíssimo se encaixam. Mas o genuíno cristianismo é o único que pode praticar essa afirmação, sem que os homens se percam de Deus e ainda assim tenham direito às suas individualidades, o catolicismo prega justamente o oposto dessa afirmação. Em quase dois mil anos de cristianismo no mundo o ser humano provou um evangelho muito aquém da proposta original de Jesus, mas o tempo urge, uma grande mudança está para ocorrer, pelo menos para os que se permitirem enxergar a verdade. Ligue seu rádio espiritual!
      Muitos conceitos cristãos precisam ser revistos, igreja, pastor, ovelha, não para que os homens sejam rebeldes e libertinos, mas para que o Espírito Santo tenha liberdade de ação. Essa enorme divisão de igrejas evangélicas que temos visto nas últimas décadas, que a princípio nos pareceu só efeito de conflito de vaidades e ganâncias, pode ser algo positivo, no sentido de individualizar mais a fé. Contudo, a solução não é dividir igrejas, templos, denominações, mas libertar o ser humano, levantado-o a se conhecer no Espírito Santo e a respeitar a mesma experiência libertária nos outros. Na verdade se houvesse maturidade poderia existir uma única igreja que funcionaria muito bem. No céu será assim, todos um no pai! 
      “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.“ (Romanos 8.13-16), que texto esplêndido, no final das contas os filhos de Deus sempre serão atraídos pelo Espírito Santo, portanto não julgue mal ninguém. O final de cada história revelará a verdade sobre cada um, mesmo que batamos as cabeças no processo. A ovelha sempre segue seu pastor! 
      Outros, contudo, ainda que aparentemente pareçam ter acertado, se não foram atraídos pelos Espírito Santo não mostrarão no final frutos adequados a isso. O Espírito Santo nos atrai com amor e puxa de dentro de nosso âmago a palavra pai, um desejo profundo e sincero de querermos estar perto de Deus, de conhecê-lo e de adora-lo. Ah, meus queridos, que percamos tudo na vida, menos esse privilégio, de sermos atraídos por Deus e de dizermos a palavra pai. Ela revela muito mais que uma oração, que respeito por Deus, mas uma intimidade espiritual, de filho com o pai, não existe nada melhor no universo que essa comunhão, em amor, por amor, nela se revelam todos os mistérios da espiritualidade cristã. Deus é pai de amor! 
      Existem muitas coisas que sei e que gostaria muito de dizer neste estudo sobre espiritualidade cristã, mas não posso. Por que? Por vários motivos. Em primeiro lugar porque Deus não me autoriza dizer, e os outros motivos vêm do fato de eu entender o porquê Deus não dar essa autorização. Cada um de nós deve trilhar seu caminho sozinho, e não me refiro ao caminho inicial de salvação, esse deve ser pregado a todos, em todo o tempo, mas me refiro ao conhecimento de coisas espirituais mais profundas. Por que deve trilhar sozinho? Porque só Deus sabe o que cada um pode saber, e o que cada um pode saber nunca fará mal ou escandalizará, isso será suficiente para que cada um ache a melhor felicidade. A felicidade é simples! 
      Paulo se refere a um conhecimento que ele guardava só para ele em II Coríntios 12.1-5, “conheço um homem em Cristo que há catorze anos... foi arrebatado ao terceiro céu... arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar”, como introdução ao ensino sobre o espinho na carne, uma das passagens mais ricas da Bíblia, onde muitos conceitos espirituais são esclarecidos para os que tiverem olhos espirituais para ver. Algumas palavras são inefáveis, isso é, não devem ser ditas, pelo menos não para qualquer um e de qualquer jeito, assim que cada um descubra sozinho seu repertório de palavras não pronunciáveis, mas creia, Deus tem muito mais pra você. Deus quer te revelar mistérios espirituais! 

45. Ouça o Espírito

      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” Apocalipse 3.22

      Por sete vezes a frase do versículo acima é citada no livro de Apocalipse, o que existe de tão importante nela? Ela se refere à primeira parte de Apocalipse onde João entrega cartas a sete igrejas, o que são ou representam essas igrejas ninguém sabe ao certo, mas existem várias interpretações. Podem ser igrejas mesmo, locais da época em que João escreveu o livro, podem ser eras na história da igreja cristã universal, do início do evangelho até o final dos tempos, podem ser grupos específicos de cristãos no final dos tempos, assim representando a situação do cristianismo nos últimos tempos. Enfim, as cartas nos falam como seres humanos, sobre condições, situações e escolhas que cada um de nós fez e faz na vida, e o que Deus pensa disso e com nos orienta para que nos preparemos para a morte e para o juízo final. 
      O objetivo desta reflexão não é ser um estudo sobre Apocalipse, mas entender a relevância da frase “ouça o que o Espírito diz”. Quando João fala “quem tem ouvidos“ obviamente não está se referindo a ouvidos físicos, esses todos têm, também não se refere a isso porque senão os fisicamente surdos estariam sendo deixados de fora para ouvirem um ensinamento de Deus, o Senhor não comete essa injustiça. Assim, os tais ouvidos, são ouvidos espirituais e esses não são todos que têm, porque não são todos que querem ter, ou que mesmo tendo usam. A exortação de João é para que tenhamos e mantenhamos viva e atenta nossa sensibilidade espiritual, nossa verdadeira espiritualidade, nosso cuidado em buscar, ouvir e obedecer à voz de Deus. Caso contrário poderemos não perceber algo sério e decisivo que está acontecendo, e nos separarmos da melhor vontade de Deus para as nossas vidas.
      Interessante que João poderia ter usado outra referência na frase para denominar o divino, ele poderia ter registrado “ouça o que Jesus diz”, ou “ouça o que Deus diz”, mas ele usou Espírito, Espírito Santo, penso que isso mostra não um Deus criador distante ou um Cristo salvador que partiu do mundo, João conviveu com Deus homem em Jesus em tempo real. João nos chama a atenção para o Espírito Santo, o representante oficial de Deus na Terra, aquele que foi enviado por Jesus, com a mesma autoridade e poder dele, para permanecer com a humanidade até o fim. É esse Espírito que nos exorta, e não só nos registros de Apocalipse, mas hoje, em nossos corações, assim como chamando todos os homens à salvação. É o Santo Espírito que torna viva, próxima e acessível a presença do Deus Altíssimo, ele é a espiritualidade melhor de Deus, ele é o evangelho, sua origem e seu fim, ele é a religião de Deus que salva o homem.   
      Quantos, contudo, têm negligenciado a voz do Espírito, quantos têm “profetizado” de seus corações e não dele, quantos têm interpretado sua voz sem cuidado, sem sabedoria, sem temor a Deus, e têm levado palavras enganosas ao povo de Deus. Mas também, quantos têm amordaçado a boca dos verdadeiros profetas, aqueles que têm ouvido a voz de Deus e têm algo a entregar ao povo de Deus, mas não entregam porque líderes vaidosos e manipuladores não permitem. Enquanto isso os falsos profetas têm liberdade e são bem pagos para dizerem coisas que interessam a muitos líderes e que são agradáveis a muitos cristãos que não querem a verdade, que não querem mudar de vida, não a interior, a espiritual, só querem prosperidade material que mude seus exteriores. Quem tem ouvidos ouça? Mas muitos não possuem ouvidos, se fazem de surdos, e isso no meio do chamado povo de Deus, nas igrejas cristãs, não no mundo.

      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte.
      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus.” 
      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.
Apocalipse 2.7, 11 e 17

      Os versículos iniciais fazem três promessas “aos que vencerem”, e essa vitória está essencialmente ligada a ouvir a voz do Espírito, não de religiões, não de homens, mas a verdadeira voz de Deus, vamos refletir sobre essas promessas. A primeira promessa é não receber o dano da segunda morteA primeira morte é a morte do corpo, que os arrebatados não provarão, eles serão livrados das duas mortes. O arrebatamento é a tomada por Deus de pessoas vivas no mundo que estiverem numa situação espiritual diferenciada, antes que o mundo comece a passar por sua pior fase, um tempo de problemas globais em várias áreas, área climática, cósmica, política, da saúde e também áreas moral e religiosa. Assim, ocorrerão terremotos, quedas de objetos espaciais, como guerras, doenças e desvirtuação de valores morais. Mas mesmo mortos em Cristo serão ressuscitados e não provarão a segunda morte.
      A segunda morte é a condenação ao inferno, onde, pela visão teológica do cristianismo protestante tradicional, será uma condição de danação eterna. Ouvir a voz do Espírito, e na área espiritual acima que a voz da ciência e de outros materialismos incrédulos, livra do inferno e de uma situação de sofrimento sem fim do espírito, a essência eterna do homem. A segunda promessa está ligada à primeira, comer da árvore da vidaque terão direito os que não tiverem a segunda morte e estiverem no lugar (ou posição) céu, o paraíso, o melhor da eternidade com Deus. Seria a mesma árvore citada no livro de Gênesis (2.9 e 3.22 e 24)? Penso que sim, mas sendo isso a Bíblia dá outra dica para entendermos que Gênesis não descreve fatos que devem ser entendidos ao pé da letra, mas que são ou metáforas ou só esboços de eventos e lugares bem mais complexos para os quais o ser humano, no geral, não está pronto para entender. 
      Como a árvore plantada em algum lugar do oriente médio estará no paraíso celestial e alimentará os salvos? Não penso que os frutos dessa árvore serão alguma espécie de alimento, os salvos e transformados no céu não necessitarão de alimento, mas eles terão o privilégio de provar um fruto que foi proibido ao homem depois que ele pecou. Lembremos que esse fruto, pelo que lemos na Bíblia, só foi proibido depois que o homem pecou, antes só o fruto da outra árvore, a do conhecimento do bem e do mal, era proibido. Pelo que entendemos o fruto da árvore da vida poderia dar vida eterna ao homem encarnado, ainda vivendo no plano físico. Mas seja por alguma espécie de necessidade de manutenção de vida eterna ou prêmio aos salvos, esse será outro direito exclusivo para os que ouvem a voz do Espírito. Que sabor terá esse fruto?
      Comer do maná escondido é outro direito dos salvos, uma terceira promessa ao que ouvem a voz do Espírito, o que é isso a Bíblia não dá qualquer informação, só a relação óbvia que podemos fazer com o maná que os Israelitas comeram no deserto quando iam à Canaã. Aquele maná era efeito de um evento milagroso de Deus para alimentar o povo numa situação especial e num lugar limitado. O paraíso será um lugar diferenciado, os salvos existirão numa condição especial, assim podemos entender que poderemos provar coisas singulares, que nunca ninguém provou e nem tem a mínima ideia do que sejam. A verdade é essa, não podemos ter ideia do que será prazer na eternidade, já que prazer no mundo material sempre acaba, enjoa, entedia, por causa da condição da carne caída no pecado, ainda que nosso espírito esteja salvo e ungido com o Santo Espírito. 

      “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” Apocalipse 2.17

      Há uma outra promessa feita aos que ouvem a voz do Espírito em Apocalipse 2.17,  o recebimento de uma pedra branca com um novo e secreto nome, nome que só o que recebe sabe qual é. É importante que entendamos que lugar, objetos e mesmo nomes, que no plano físico se referem a coisas físicas, dentro de dimensões físicas, são apenas simbologias para outras referências no plano espiritual. De maneira geral podemos entender essas lugares como posições espirituais, saindo da dimensão horizontal e indo para a vertical, nome não é uma denominação simplesmente para chamar alguém, mas uma graduação que coloca a pessoa numa altura espiritual. Mas o interessante é o texto dizer que ninguém sabe o nome a não ser quem recebe, isso denota uma condição de ausência de vaidades, de se postar sobre os outros para receber glória deles, mas é uma satisfação que se contenta por saber e saber que Deus sabe, mais nada. 
      Isso nos fala profundamente sobre a verdadeira espiritualidade, aquela que levaremos na eternidade e que começamos a construir aqui pela fé em Jesus, dando liberdade ao Espírito Santo e conhecendo e obedecendo ao Deus Altíssimo. Contudo, nossa existência no melhor do plano espiritual de Deus é mais que termos liberdade de movimentação além de para frente, para trás, para à esquerda e para à direita, nós seremos livres, e não só para ir para cima e para baixo, mas poderemos flutuar, voar, libertos dos limites dos membros de nossos corpos físicos. Poderemos nos mover em todas as dimensões e na velocidade do pensamento, simplesmente poderemos aparecer nos “lugares”, como Jesus mostrou que podia fazer depois de ressuscitado, mas ainda neste mundo. Contudo, mesmo o exemplo de Jesus depois de ressuscitado e antes de subir ao céu, não mostra tudo o que poderemos fazer no plano espiritual.
      Jesus, ainda que estivesse com o corpo transformado, estava aqui, no plano físico, assim aqueles que testemunharam seus movimentos e os registraram na Bíblia reconheciam as coisas ainda com a ótica de corpos físicos no plano físico. No mundo espiritual não existem “lugares” como entendemos aqui, embora João tenha interpretado revelações espirituais com as referências sensitivas físicas que ele tinha, mas é muito mais que comprimento, largura e altura, que espaço, e isso sem tempo, já que espírito na melhor eternidade de Deus não envelhece nem sofre. Não será assim no “inferno”, uma eternidade também feita e mantida por Deus, mas um “lugar” (ou posição, e bem inferior”) de sofrimento, e tempo é inerente a sentir o passar do tempo. Sofre-se porque não se vê o fim do sofrer, ainda que se sinta que o tempo passe, para quem sofre um minuto parece mil anos e mil anos são apenas um minuto de um tempo sem fim. 
      Se alguém quer adquirir espiritualidade saiba que a espiritualidade mais alta só é acessada por Jesus que nos dá direito ao selo do Espírito Santo. Cuidado, muitas religiões são profundamente espirituais, mais até que muitas denominações cristãs, contudo, não ouvem a voz do Espírito Santo, só a de outros seres espirituais. Não basta ser espiritual, no sentido de crer no mundo espiritual e se comunicar com ele, é preciso se render ao nome de Jesus, se assumir como pecador e ser selado com o Santo Espírito. Mas cuidado, também aos cristãos, não basta uma relação intelectual com Deus, como tantas vezes temos dito aqui no “Como o ar que respiro” e em especial no estudo “Espiritualidade Cristã”, do qual esta reflexão faz parte. Precisamos ter momentos de oração mais dedicados, quem tiver ouvidos, ouvirá do Santo Espírito coisas inefáveis, que guardará só para si de tão preciosas que são.

46. Comunicação espiritual

      “Então Moisés, quando viu isto, se maravilhou da visão; e, aproximando-se para observar, foi-lhe dirigida a voz do Senhor, Dizendo: Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés, todo trêmulo, não ousava olhar. E disse-lhe o Senhor: Tira as alparcas dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa.” Atos 7.31-33

      Muitos termos que usamos quando falamos com Deus são relativos ao plano físico, usados por seres presos em corpos físicos que têm ferramentas materiais para se comunicarem com outros seres físicos, contudo, não representam a verdade espiritual maior. Por exemplo, quando dizemos “Deus não se esqueça de mim”, a verdade é que Deus nunca se esquece de ninguém, quando dizemos “Deus não me abandone”, a verdade é que Deus nunca abandona ninguém, quando dizemos “Deus não se ire comigo“, a verdade é que Deus não se ira. Contudo, por mais inexato que seja, isso é útil para que nos posicionemos emocional e espiritualmente, como seres humanos e limitados que somos, e para Deus, isso de fato nem importa.
      Ninguém precisa ter conhecimentos doutrinários, teológicos e mesmos espirituais minuciosos para falar com o Senhor e ser ouvido por ele, na verdade Deus não se comunica conosco através de nossas palavras, essa são ferramentas e referências físicas, não espirituais. Deus vê o coração, mas mais que o coração emocional (ou físico), o “coração” espiritual, é nesse que reside nossa verdade, nossa mais profunda sinceridade, e é pelo que está nesse lugar íntimo de nosso ser que Deus nos reconhece, nos conhece e nos responde. Esse lugar tem acesso ao Espírito Santo de Deus e por isso sabe e sente a vontade de Deus antes mesmo de raciocínios serem montados em nossas mentes e palavras serem geradas em nossas bocas.
      A comunicação com o mundo espiritual é feita de maneira espiritual, mesmo que nossas almas, que são nossos sentimentos e nossos pensamentos, não consigam, não saibam ou mesmo não queiram realizar essa comunicação de uma maneira mais precisa com Deus. Mas, repito, isso não importa, quando dizemos coisas como “Senhor, por favor, ouça a minha oração”, “Senhor, lembra-te de mim”, “Deus não me julgue conforme meu passado”, podem ser redundâncias espirituais, mas necessárias para que nos posicionemos emocionalmente, sentindo com convicção as coisas de Deus, para então nos colocarmos espiritualmente pela fé em comunhão com Deus em Cristo nos lugares espirituais mais elevados.
      Comunhão com o mundo espiritual necessita de várias camadas de comunicação e cada uma tem um objetivo. Com Deus basta que sintamos, como já disse acima, mas é importante que falemos em espírito, com fé, ainda que sem articular palavras audíveis. Quem tem experiências de visão espiritual, e nessas pode existir a visão de anjos, a doutrina tradicional protestante não nos autoriza a falar com esses seres, e principalmente dar-lhes ordens, quem vê sinta-se feliz por vislumbrar o tanto quanto Deus o protege e agradeça diretamente a Deus por isso. Contudo, não quero deixar aqui regras fixas, temos na Bíblia relatos de homens falando com anjos, se isso for feito sinta antes autorização de Deus.
      Para provar se um ser espiritual é de Deus, no sentido de ter sido enviado por ele para algo bom (já que todos os seres espirituais são criaturas de Deus e só são “vistos” por nós no plano físico se Deus permitir), fale em espírito com Deus, porque os seres espirituais rebeldes não podem ouvir orações feitas assim, eles não são oniscientes. Por outro lado, por essa mesma razão, para expulsar seres espirituais malignos, repreender ou destruir suas obras, é necessário que façamos uma oração audível, não precisa ser aos berros, mas o suficiente para ser ouvida. Contudo, não são só orações assim que são interessantes de serem feitas em voz alta, certos posicionamentos de fé também devem ser dessa forma.
      Quando temos autorização de Deus e entramos numa comunicação espiritual mais profunda e séria, um momento inicial de invocação de Deus, definindo quem é esse Deus, deixa claro para o mundo espiritual, para todos os seres, principados, potestades e outros, que estamos debaixo da aprovação e da proteção do Deus altíssimo. Eu costumo ser bem específico, oro assim: “é com o Deus de Abraão, de Jacó, de Moisés, de Davi, de Daniel, de Elias, dos apóstolos, e no nome de Jesus, que nasceu, viveu, morreu e ressuscitou sem pecado, o único e suficiente salvador e intercessor entre Deus e os homens, que eu falo, é em quem eu confio, e a quem eu adoro, acima de todo o poder neste mundo e no outro”.
      Muitos não têm uma experiência decisiva na presença de Deus porque não se dão ao trabalho de entrarem, do jeito correto, na presença de Deus. Se na presença de homens importantes entramos com respeito, muito mais na presença do todo poderoso, santíssimo e altíssimo. Não precisa estar de terno ou roupa social, mas se puder esteja asseado, com uma roupa limpa, mas acima de tudo, com temor e perdoado de todo pecado. Quem invoca o único e verdadeiro Deus corretamente, acha-o, e é respondido por ele de maneira singular e marcante. Contudo, o que muitos chamam de experiência poderosa de oração, pode ser só o início de uma experiência maior com o mundo espiritual, veremos isso nas próximas reflexões.

47. Já perguntou a Deus?

       “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.” Filipenses 4.6-7

      O cristão aprende algo na conversão, bem à porta para a nova vida, e experimenta uma coisa que não tinha provado antes, aprende que Jesus perdoa e experimenta paz, uma paz diferente de tudo que ele conhecia até então. Contudo, com o tempo ele acaba complicando de novo a vida, perdendo a simplicidade dos primeiros passos com Jesus, dessa forma começa a sentir um desconforto e se acostuma com ele, não vai atrás para saber porque está sem paz. Isso não significa que ele perdeu a salvação, salvação quando é genuína não se perde, mas algo que pode começar pequeno, como só uma pequena brecha, pode se alargar e ser entrada para males e pecados maiores, tudo porque ele se esqueceu que Jesus sempre pode nos dar paz. Você tem paz, de verdade? Ou nem tem tempo para pensar nisso, só vai vivendo? Cuidando, paz é uma palavra pequena, um sentimento parecido com água, aquela que é pura e fresca, mas inodora e insípida, quando a temos não damos valor a ela, mas se ela faltar, tudo fica ruim. 
      É interessante como o ser humano tem a tendência de complicar a vida, assim muitas vezes ele se prontifica e consegue fazer um monte de coisas, menos o mais importante, menos aquilo que de fato vai resolver o problema. É assim com o amor, por exemplo, para de fato não amar uma pessoa compra-se presentes caros para ela, faz-se todo tipo de sacrifícios, ou então, no outro extremo, acha-se desculpas para não amar, desmerecendo a pessoa, dizendo que é lá quem é ruim, que não quer e não merece nosso amor, assim não se perdoa e não se ama. Amor, eis outra palavra pequena, um sentimento tão popular, ouvimos sobre ele o tempo todo nas músicas tocadas no rádio, na TV, na internet, e que na verdade é a única maneira de se anular o ódio, entregar perdão e se obter paz. Ah a paz, tê-la é estar num barco seguro, sob um mar calmo, mas com o vento certo para nos levar à terra mais firme, ainda assim como tentamos substituí-la por comida, bebida, sexo, e mesmo religiosidade. Só Jesus dá paz verdadeira! 
      Deus é vivo e inteligente para nos administrar! É vivo assim conhece nosso dia a dia, nosso coração, nossa mente, nossos problemas, nossas verdades e nossas mentiras, e como somos caras de pau para mentir, e se Deus sabe disso, então, ele é muito, muito misericordioso. Como um ser onipotente poderia amar seres tão dissimulados como nós? Nos fazemos de vítimas quando somos agressores disfarçados, nos fazemos de santos quando temos vícios secretos, mas o pior é que muitas vezes achamos que podemos enganar a Deus, isso se nem nossos espíritos conseguimos ludibriar, já que são eles que ficam torturados dentro de nós e afogam nossas almas num deserto sem paz. Deus é inteligente, não nos engana e tem o remédio certo para a doença verdadeira que está nos roubando a paz, dessa forma não pedirá de nós mais que o que podemos dar, e de maneira alguma aprovará que sigamos sem paz, ele sabe que isso é um grande risco. Sem paz estamos cegos e surdos, inviáveis para o mundo e muito mais para a espiritualidade.
      A principal armadilha para a falta de uma pequena paz, que se originou de um pecado ou problema pequeno, é que pode ser a porta para a ausência de uma grande paz, que existirá quando os pequenos pecados ou problemas não forem resolvidos. Quando nos acostumamos com a falta de paz, ainda que pequena, nos acostumamos com um pequeno problema não resolvido ou com um pequeno pecado não perdoado, essa situação pode nos levar ao seguinte raciocínio, “se já estou sem paz por que não ultrapassar essa outra barreira, por que não pecar mais ou criar mais problemas? já está ruim mesmo...”. Um pequeno erro se torna um grande erro só porque estamos infelizes, isso porque, como o pecado e um problema, paz não tem tamanho. Falta de paz é manter algo suspenso, é tentar ficar em cima do muro, é viver com uma coceira que não pode ser coçada. O que nos leva a essa situação? Acharmos que um problema não tem solução ou um pecado não tem libertação, e isso  não significa que tudo na vida é solucionável, não é isso. 
      A solução para o pecado é o perdão de Cristo, sempre, por mais que ele seja reincidente, mesmo que tenhamos que pedir perdão setenta vezes sete, e isso é uma metáfora para um número infinito. Nunca, nunca se canse de pedir perdão e de buscar um desejo profundo de não pecar mais, nunca! A solução para os problemas da vida não é uma solução, mas a entrega dos problemas nas mãos de Deus, ainda que não tenhamos nenhuma noção da solução. A solução pode ser, “aprenda a viver com o problema sem perder a paz”! O principal é obedecer o ensino de Paulo em Filipenses 4.6-7, deixemos Deus ciente do nosso problema e agradeçamos por isso. Como deixamos Deus ciente? Falando com Deus. Mas Deus já não sabe de tudo, por que temos que falar com ele? Ele sabe, mas nós não sabemos, quando falamos com Deus, com convicção, com sentimento, com seriedade e em detalhes, nós entendemos de fato, emocional e mentalmente, nosso problema, e conhecimento é poder de cura. 
      Meus queridos e minhas queridas, se entendêssemos de fato como funcionam as coisas espirituais, como é e o que é nos posicionarmos nas regiões espirituais mais elevadas, onde, em Cristo, temos acesso ao perdão, à cura, ao consolo, e à paz. Sim, nem precisaríamos dizer muita coisa, bastaria uma meditação focada, mas enquanto estivermos tão envolvidos com o mundo, com os prazeres da carne, com iras e invejas, com mágoas e inseguranças, temos que orar mais, e muito, para estabelecermos a comunhão com o Deus Altíssimo que no dá paz. Quantas questões, para as perdemos tempo inventando explicações, buscando argumentações, crenças dos outros, teorias de conspiração, tradições humanas, enfim, tantas mentiras nas quais cremos porque não vamos até Deus e simplesmente perguntamos a ele o que ele pensa a respeito. Sim, em primeiro lugar precisamos orar para receber perdão e solução de Deus para vivermos em paz, mas existe bem mais que isso em no Altíssimo, existem respostas para tudo. 
      Temos paz quando oramos a Deus, conhecemos sua vontade e a fazemos! Contudo, nem tudo é o que parece, muitas vezes a paz não dependerá só de um pedido de perdão, assim como não será resultado de fazermos um enorme sacrifício, e novamente nós temos dificuldade para entendermos isso porque não entendemos como funcionam as coisas realmente espirituais. Deus é amor, eis uma das maiores verdades, tão grande que no céu não precisaremos de nenhum outro dom além dele, lá não teremos as fraquezas da carne, nem a tentação dos espíritos rebeldes, nem os limites do corpo físico, assim um Deus de amor abraçará todos os espíritos que morreram em Cristo. Mas esse amor começa a ser construído aqui no mundo, assim algo que nos rouba a paz com frequência é não estarmos vivendo em amor. Para buscar perdão pelos pecados do dia a dia não precisamos de muita iluminação, sentimos culpa e vergonha e sabemos quando isso é preciso, contudo, como temos dificuldades em amar. 
      Com tantos anos andando com Deus, como ainda me surpreendo, em como ando sem paz, muitas vezes, simplesmente por não estar obedecendo a Deus, e isso é algo arriscado. Algumas vezes tudo o que Deus pode estar pedindo de você é que ore por alguém, alguém que você sabe que nem te dá tanta importância, que não te trata do jeito que você queria que te tratasse, mas ainda assim Deus está dizendo, “interceda por essa pessoa, por amor, sem querer nada em troca”. Pense a respeito, você se surpreenderá ao ver como que uma angústia que sentia há tanto tempo, e que nem sabia o porquê, pode ser retirada de sua alma porque você demonstrou amor, fazendo uma oração que ninguém precisa e vai saber que você fez, mas que era importante que você fizesse para que alguém alcançasse paz. Muitas vezes alguém que não faz nenhuma questão de nos dar a paz, tem em nós a única pessoa que realmente pode ajudá-la, quanta paz achamos quando obedecemos a voz de Deus em amor, isso é espiritualidade cristã! 

48. Espiritualidade e meditação

      “E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará. Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” II Coríntios 3.15-18

      Algo importante para muitas religiões, quando se trata de alcançar espiritualidade, está ligado à oração. Os católicos usam o termo rezar e os protestantes o termo orar, para se referirem a pedidos de coisas e agradecimentos por coisas recebidas a Deus, contudo, de maneira geral, os cristãos não estão acostumados com o termo meditar. Na verdade, a maioria dos evangélicos não utilizam um dos grandes privilégios de terem o Espírito Santo dentro deles, ouvirem a voz de Deus ensinando. Dizem que aprendem coisas novas ouvindo pregadores ou estudando a Bíblia, mas quando se trata de oração é mais para pedir, agradecer e quando muito, ouvir alguma profecia ou revelação mais imediata.
      Religiosos orientais dão muita ênfase à meditação, para eles falar com o divino é mais que o pedir e agradecer dos cristãos, é um estilo de vida que sintoniza o humano com o espiritual. Eles conhecem o poder dessa experiência, mais que os cristãos, ainda que não a usem exclusivamente para terem comunhão com o Deus altíssimo, e aqui não vai uma crítica, apenas uma constatação. Diferente dos evangélicos que oram pouco e querem resultados rápidos, hinduístas e budistas passam a vida meditando, não para terem prosperidade na terra, mas para serem espiritualmente melhores, preparando-se para o outro plano, como efeito acham também melhores condições de saúde no corpo, por isso ioga é tão popular.
      O lado ruim da meditação oriental é difundido justamente por causa de seu lado bom, como parece ser só uma disciplina para o corpo, exercícios de respiração e postura, regime alimentar, esconde o lado sombrio que é levar as pessoas a se comunicarem com entidades espirituais, e não com Deus. É claro que muitos, que são seduzidos só pelo modismo exótico de uma ioga de butique, não sabem disso, e mesmo muitos iogues que vendem esse tipo de meditação são tão falsos ou rasos quanto são muitos pastores e padres dentro do cristianismo. Os verdadeiros mestres de religiões orientais assim como de esoterismos de maneira geral, sabem o que fazem e com quem compartilham suas experiências e conhecimentos.
      A melhor definição para meditação pode ser concentrar-se no silêncio de Deus, assim é calar as ansiedades iniciais de pedidos e clamores, mesmo a necessidade final de adoração e gratidão, e só ouvir. O quê? A voz de Deus ensinando pelo Espírito Santo. Isso pode não ser fácil para muitos, que ou “emocionalizam” ou racionalizam demais suas comunicações com Deus. O fato é que uma grande maioria de cristãos não entende com profundidade as coisas espirituais, principalmente sob a ótica do evangelho que se realiza através do Espírito Santo. Mesmo os carismáticos, que têm experiências com os dons espirituais, chegam só na porta dos mistérios, não entram e reconhecem tudo o que Deus tem para mostrar. 
      Meditar é mais que falar com Deus, é contemplá-lo sem véu, privilégio que nem os israelitas tinham (e têm) seguindo a religião de Moisés, privilégio que temos só e plenamente em Cristo. Em Jesus estamos numa posição espiritual especial, exclusiva e alta, que nos coloca em comunhão diretamente com o Deus altíssimo. Quem estabelece essa comunicação, a partir do momento que somos salvos em Cristo, é o Espírito Santo, esse só veio e ficou ao plano físico depois que Cristo cumpriu sua obra de redenção humana. Contudo, repito, muitos, mesmo na nova aliança, vivem como se estivessem na velha aliança, cobrem o rosto com o véu da tradição quando poderiam ter uma experiência mais profunda com Deus. 
      Se através da oração podemos ser cheios, transbordados, batizados com as águas do Espírito Santo, meditar nos permite flutuar e sermos levados por essas águas para o alto, as águas encherão o “lugar”, mas nós não nos afogaremos, subiremos. Não é só um experiência emocional, apesar de sentirmos uma unção poderosa, e é exatamente por ser tão prazeirosa que muitos param aí, querem sentir o gozo espiritual e mais nada. Mas há mais, e os que quiserem verão e ouvirão, pela fé, e entenderão com as mentes iluminadas como nunca antes, toda a maravilha do mundo espiritual debaixo da cobertura que desce por Cristo diretamente do Deus altíssimo sobre aquele que se permitiu levar pelas águas do Espírito.

      “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, Rocha minha e Redentor meu!” Salmos 19.14

      “Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque os teus testemunhos são a minha meditação.” Salmos 119.99

      Muitas religiões não cristãs atraem tantos porque entregam o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e quem tiver caráter, insistência e equilíbrio achará verdades, não se enganem. Mas são verdades que salvam? Não. O pior é que por serem verdades espirituais profundas podem prender as pessoas à mentira final com muito eficiência que vícios da carne. Qual é a mentira final? Negar a Jesus, como o único meio de chegarmos diretamente a Deus na mais elevada posição espiritual, acima de todos os seres espirituais, que muitos contactam através de meditação profunda. Enquanto isso muitas igrejas evangélicas “vendem” Jesus, sim, Jesus é pregado como único e suficiente salvador, mas junto de muita ilusão.
      Certas coisas, contudo, não podem ser ensinadas, principalmente comunhão espiritual mais profunda, e como tudo na experiência espiritual depende de fé, e nesse caso, não para salvar, esse é só o primeiro degrau, mas para entender tantas coisas dos universos, coisas que a ciência não explica. Mas isso não é para aqueles com uma enorme curiosidade e nem mesmo para os que creem, é para os que Deus permite. Deus permite que conheça os mistérios aquele que ele sabe que não usará isso para se envaidecer diante de homens, e muitos menos para a própria perdição, mas só para adora-lo. Eu creio que Moisés, Salomão, Daniel, João o evangelista, Paulo e outros sabiam muito mais que o que relataram na Bíblia.
      Se sabiam, por que guardaram só para para eles? Para não escandalizarem ninguém, e muitos homens não assumem o dever de conhecerem as coisas de forma mais profunda, simplesmente por preguiça, mas se acham no direito de ficarem escandalizados com o que, os que se deram ao trabalho de conhecer, sabem. Contudo, um conselho, depois de orar, tente meditar, no Espírito, isso vai exigir de você fé e consagração, mas com a boca cheia de louvores que sobem de um coração limpo, e com a mente em paz e sintonizada em Deus, preste atenção ao silêncio do altíssimo, se de fato você desejar com todo o teu ser, e se após isso Deus permitir, poderá ter as respostas que você sempre quis e ninguém nunca te deu. 
      “O Senhor é Espírito e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade”, se as pessoas entendessem esse ensino achariam a realização maior do ser na comunhão espiritual e não seriam presas fáceis de tantas coisas bobas e ruins da carne, a grande ilusão que cria em nós medo de tudo e nos impede de amar, amar que é o ápice da espiritualidade. Sei que muitos materialistas e ateus se escandalizarão com isso, mas o mundo e os homens são a ilusão, Deus é que é a realidade. Isso não significa que devemos viver nesse plano de forma irresponsável e sem objetivos, ao contrário, quem conhece a Deus sabe que a existência corpórea é um privilégio que deve ser bem aproveitado e que definirá toda a nossa eternidade espiritual. 
      Mas lembre-se, cada um tem uma chamada específica de Deus, assim não tente saber o que Deus não quer revelar, pelo menos a você. Se Deus disser isso não é para você saber, aceite com humildade e em paz, se fizer isso amadurecerá, aceitar limites pode nos fazer crescer mais que agir como criança mimada que acha que tem direito de ter tudo o que quer. Quando Deus fecha uma porta ele abre outra, como diz o ditado, mas na verdade há uma porta certa para cada um de nós, basta que batamos nela e não na errada. Alguns passam a vida batendo em portas erradas, assim estão sempre infelizes e frustrados, e nunca recebem de Deus aquilo que ele de fato quer dar a eles, porque querem as coisas erradas. 
      Meditar pode nos levar a novas portas, que sempre estiveram lá, mas que nós nunca nos demos ao trabalho de bater nelas. Se for o tempo certo e a vontade de Deus, procure ir além de orar só para pedir coisas e depois para agradecer por tê-las recebido, isso é uma bênção, mas Deus tem muito mais que isso através do Espírito Santo. Não vou insistir mais nesse assunto, aliás, acho que já fui longe demais e muitos não entendem de fato do que se trata, contudo, penso que é importante falar sobre isso dentro de um estudo que trata de espiritualidade. Por que ser espiritual? Para aprender com o Espírito Santo, e meditar é sair dos primeiros ensinos da oração e se aproximar mais da luz do Deus altíssimo. 
   
49. Nos lugares celestiais em Cristo

      Na 6ª parte desse estudo, “Espiritualidade Cristã”, intitulada, “Para ter o poder de Deus“, já compartilhei o texto de Efésios 1 que cita o termo “lugares celestiais”, vamos refletir um pouco mais nele, apresentado novamente por Paulo no segundo e no sexto capítulo da mesma epístola. Penso que esse termo é extremamente revelador e de suma importância na teologia evangélicas, aliás, parte de um ensino fundamental para o cristianismo presente nos dez versículos iniciais do capítulo dois da carta aos Efésios. 

      “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. 
      Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. 
      Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” 
Efésios 2.1-10

      “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.” 
Efésios 6.10-13

      O texto de Efésios 2 coloca os seres humanos em posições espirituais diferentes, são essas posições que definem perdição e salvação, inferno e céu, espiritualidade dos seres espirituais rebeldes e espiritualidade mais alta de Deus. Inicialmente os seres humanos estão mortos andando segundo o curso deste mundo que segue o espírito que opera nos filhos da desobediência, isso ensina que todo homem neste mundo precisa de salvação, precisa mudar de posição espiritual, precisa subir. Ainda que essa mudança necessite de escolha, ainda que o ser humano tenha liberdade para fazê-la ou não, se ela não for feita o homem continuará numa posição inferior, e isso independe se ele é ou não um bom cidadão, com bons valores morais, e mesmo se tem alguma experiência com o mundo espiritual ou se é um religioso fiel. O texto dá informações importantes para se entender posição espiritual, e em qual posição tem liberdade para agir qual “espírito”. 
      Deus está no mais elevado lugar celestial e esse lugar só é acessado por Cristo, por isso chamar Deus de o Altíssimo é tão propício, tão significativo, tão preciso, por isso os antigos buscavam Deus em lugares altos, por isso sistemas esotéricos, como a Cabala, colocam Deus na posição mais alta. Quando aprendemos a meditar “olhando” o mundo espiritual, e isso é algo que nem todos sabem (e nem precisam saber), fixamos nossos olhos espirituais na posição mais elevada, já que os seres espirituais, de luz ou de trevas, estão abaixo dessa posição. Demônios estão quase que presos à superfície desse mundo, anjos estão acima, por isso a crença tradicional que o inferno está nas regiões subterrâneas, mas isso não é no plano físico, na Terra, neste mundo, mas no plano espiritual. Veja que um diabo é descrito no texto como o príncipe das potestades do ar, ele também é colocado numa posição acima do chão pois lidera legiões. 
      No capítulo seis de Efésios Paulo torna a usar o termo lugares celestiais, agora posicionando os espíritos malignos, e mais, o apóstolo-teólogo nos revela quem são nossos piores inimigos, que não são a carne e o sangue. Esse ensino, contudo, pode ser mal interpretado quando os cristãos colocam no diabo a culpa por erros que são seus, pode existir uma batalha maior entre seres espirituais rebeldes e seres espirituais da luz, mas ela não é para nos tentar nas coisas corriqueiras do dia a dia. Em nossas lutas diárias somos nós que decidimos se a vitória será dos demônios ou do Espírito Santo e essa luta só acontece dentro de nós. A batalha que Paulo se refere pode ser melhor entendida com a experiência de Daniel (Daniel 10), quando ele lutava em oração por toda uma nação, numa situação dessas, sim, existe algo que vai muito além de nossas vontades e que independe de nossas forças, ainda que conte com nossa fé e consagração.
      Aliás, as pessoas muitas vezes sem importam demais com o diabo quando em grande parte das vezes ele não se importe tanto assim com elas, ainda que ganhe o crédito mesmo quando não está envolvido diretamente. Se fazemos algo em Deus e para Deus a glória é de Deus, mas todo o resto, incluindo coisas que fazemos com boas intenções, para ajudar os homens e sem nenhum ligação com o diabo, é para o diabo, parece extremista mas é isso (como já refletimos em “O diabo é um humanista (III)” e outras reflexões). Se o homem se afasta da luz está nas trevas, não tem meio termo, mas se o diabo ganha créditos sem fazer nada Deus já fez tudo, inclusive pelos que estão longe dele, salvou a humanidade por Cristo Jesus. Se o diabo mente para ser adorado e ter legalidade para se apossar de territórios através do homem, ainda que Deus nada faça ele pode dar tudo porque tudo já fez.
      Algo que precisamos entender é que altura espiritual não tem a ver diretamente com altura física, na verdade os dois planos, espiritual e físico, se sobrepõem em dimensões distintas, contudo, como os espíritos malignos têm legalidade, dada pelo homem, de agirem no mundo, nas coisas dos homens, podemos dizer que eles estão numa posição próxima ao céu físico do planeta Terra, bem abaixo do céu espiritual onde estão os anjos, e todos esses abaixo do trono de Deus, onde está a “consciência” do Altíssimo. Assim podemos abranger um pouco mais o entendimento dos três céus: o céu físico do planeta Terra que sobrepõe o primeiro céu espiritual dos demônios (o mundo, I João 5.19), o segundo céu, o espiritual dos líderes espirituais, onde ocorrem as batalhas espirituais (como a de Daniel 10), e o terceiro, o céu espiritual mais elevado, onde está o trono de Deus (visto por Isaías em Isaías 6).

      “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” João 17.20-24

      A posição espiritual melhor, mais alta, está no nível mais elevado dos lugares celestiais onde está o melhor do Deus verdadeiro, que é sua “essência“, sua “consciência”. Deus não está só nesse lugar, ele está em todos os lugares, ele tudo contém ainda que nada o contenha, até no inferno Deus está. Contudo, a “essência” de Deus, sua “consciência”, e estou usando esses termos por falta de termos mais apropriados, termos melhores que na verdade não existem no plano físico visto que nos referimos a conceitos espirituais do mais alto plano, que seja, essa posição onde está o melhor de Deus é a vocação de todo ser humano, de toda alma vivente, de toda criatura que foi colocada neste mundo com o sopro de Deus vivo. O homem é posto no mundo e seu destino é retornar a Deus, contudo, só Jesus pode devolver o homem a essa posição, mais nada e nem ninguém. Cristo está nas regiões celestiais mais altas esperando os que nele crerem. 
      A posição espiritual mais alta, contudo, não é conquistada com trabalho e com tempo, por isso o homem poderia reencarnar eternamente e ainda assim viveria um contínuo inferno, mesmo que se tornasse um homem de bem e bem fizesse a todos “sem ver a quem“. Essa posição não é o final de uma longa e exaustiva jornada, mas é um posicionamento feito num instante de fé, a posse intelectual e emocional de uma promessa, promessa da palavra de Deus, essa palavra diz: em Cristo Jesus sois novas criaturas. A novidade não está numa nova religião e em nada de exterior, mas na colocação do espírito humano em comunhão direta com o Deus altíssimo. É importante entender que a fé que é a chave para a porta que é Jesus não é força humana, mas dom de Deus, o homem pode querer, deve querer, mas só receberá fé para se posicionar se Deus der a ele. Fé é dom de Deus, ensino fundamental de Paulo (Efésios 2.8).
      Esse reposicionamento espiritual é algo que muda profundamente o ser humano, ele ressuscita o morto, morto não no corpo, mas no espírito, por isso essa nova vida vence a morte do corpo, anula o inferno e coloca o ser nos lugares celestiais em Cristo (Efésios 2.6) e que posição é essa, meus queridos. Nela os diabos e outros seres espirituais rebeldes não tocam, é o abrigo onde o salmista se colocava para se proteger de todo o mal e achar consolo de toda injustiça. Essa posição tem uma luz espiritual tão forte que os demônios temem olhar, e os homens que não amam a Deus sentem, mesmo sem terem consciência do que é, nos homens que amam Deus, ainda que esses últimos sejam humanos e limitados. Nesse lugar não há necessidade de milagres pois nele tudo que o ser necessita, de material e espiritual, está, naturalmente para os que estão em plena comunhão espiritual com o Deus altíssimo pelo Espírito Santo. 
      Por isso, ainda que o cristianismo seja tão mal tratado, mal falado, mal vivido, mal interpretado, possui um poder sem igual, uma autoridade singular, ele tem Cristo, e isso basta. Mesmo com heresias, com fé na fé, com dizimolatria, com busca de prosperidade material mais do que de virtudes morais, com tanta imaturidade, hipocrisia e superficialidade, aliados ao cristianismo em quase dois mil anos de história, se há o nome de Jesus, há salvação. Isso é algo que a religião mais sincera, que os espiritismos mais caridosos e altruístas, que os esoterismos mais profundos e legítimos, não têm e nunca terão. Os doces frutos do Espírito Santo sempre trarão a vida eterna, que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não pode trazer, por mais sofisticado e exótico que seja. Podemos provar os frutos do Espírito porque um Deus altíssimo, mas acessível, nos ama e nos salva, eis o segredo da mais alta espiritualidade.
     Jesus deixou muito claro, “onde eu estiver, também eles estejam comigo”, assim os que creem nele têm direito à mesma posição espiritual que ele tinha antes de encarnar e continuou tendo depois que subiu ao céu ressuscitado. Isso nos dá plena certeza que não há necessidade de mais nenhum “trabalho” ou “tempo” para que sejamos restaurados ao nível espiritual mais alto, aquele que o homem tinha antes da queda no Éden. A obra de restauração de Cristo é completa e livra completamente do inferno, seja ele o que for e quanto durar, essa é a verdade espiritual que os espíritos rebeldes tentam esconder, ainda que entreguem ao homem um vasto e profundo conhecimento espiritual. Em Jesus somos perfeitos num passo de fé, vivamos, então, como dignos dessa tão excelsa vocação. Qual a marca dos que são um em Cristo como Cristo é um em Deus? O amor, em paz o homem pode amar e esse é o fruto da mais elevada espiritualidade.

50. Espiritualidade de graça

      “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. I Coríntios 1.18-21

      Muitos não entendem o conhecimento profundo que existe no princípio “pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésio 2.8), muitos acham, e infelizmente baseados em equívocos que os próprios cristãos criam e creem, que isso é um jeito de enfraquecer o homem para que outros homens, em nome de Deus, possam controlá-lo. Aliás, muitos dizem que o cristianismo é a velha ordem mundial, no qual um teocentrismo negacionista impede a humanidade de evoluir cientificamente e socialmente, e isso pode até ser verdade em relação ao falso cristianismo criado por religiosos sem escrúpulos, não em relação ao cristianismo original. A verdade do ensino de Paulo não tem o objetivo de enfraquecer ou subjugar o homem, mas de liberta-lo, abrir seus olhos espirituais para a luz mais alta, num plano onde as referências materiais não funcionam. 
      Entretanto, mesmo os que entendem essa verdade, acabam usando-a para se acomodarem, assim, o que deveria ser o começo acaba sendo o final. Temos uma caminhada a fazer, mas não para receber a verdade, mas para crescer nela, e é isso que dá à existência prazer e sentido. Muitos, contudo, estão mais ocupados em ganhar dinheiro para sobreviverem, e nada de errado tem nisso, não num mundo injusto onde poucos dominam e exploram muitos. “Aprofundar-se na espiritualidade? Não tenho tempo”, dizem, assim querem resultados rápidos, pedir a Deus e receber, agradecerão ao Senhor por isso, mas sem perderem muito tempo. Isso parece dar pouco a um Deus que tanto dá? E é, mas Deus ama os homens, todos eles, mesmo uma maioria que não tem tempo para ser espiritual. Por isso o evangelho é acima de tudo uma prova do amor de Deus pelos homens, homens que pouco tempo têm para Deus. 
      Vou dizer algo que talvez muitos cristãos não aceitem, cristãos com um poder aquisitivo mais alto, que podem ter uma qualidade de vida melhor, e que têm tempo não só para trabalhar, mas também para adquirir cultura: a Bíblia é a versão elementar da verdade mais alta de Deus, enquanto que textos religiosos de outras crenças e óticas metafísicas, são versões avançadas de verdades abaixo da mais alta de Deus. Alguns podem não aceitar isso porque têm tempo e vontade de se aprofundarem na Bíblia, assim tentam descobrir nela conhecimentos que outros não têm, mas estudar com mais afinco um livro de fundamentos não faz o livro mais profundo, mas esse não é o ponto aqui. O ponto é que Deus ama o homem, assim, para salvá-lo, disponibilizou o conhecimento da salvação de um jeito que qualquer homem pudesse entender, sem que tivesse mais tempo ou erudição para se aprofundar nele.
      Por isso certas religiões seduzem os que se acham mais sábios, mais cultos, por isso esses mesmos criticam o cristianismo como uma religião de ignorantes, por isso eruditos se perdem mais facilmente e os simples se salvam com mais facilidade, por isso Paulo diz em I Coríntios 1, “destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes”. A Bíblia pode ser o básico, mas é suficiente, e talvez o possível para a grande maioria de seres humanos do mundo atual, e creiam, em certas coisas o homem não evoluiu muito, ainda é o mesmo de quase dois mil anos atrás, assim a Bíblia ainda é atual. Jesus sempre é atual, isso nunca vai mudar, mas a aplicação do evangelho na moral, nos costumes, na família, na sexualidade, nos direitos políticos, isso precisa mudar, mas só mudará quando o homem se aprofundar em sua espiritualidade, e mais, na espiritualidade mais alta do cristianismo.
      Amor, isso define melhor a Deus que erudição teológica, luz, isso explica melhor o Senhor que conhecimentos ocultos, simplicidade, isso representa mais a sabedoria de Deus que complexos rituais religiosos. Deus é amor, é luz e é simples, para que os simples tenham acesso a ele e tenham paz. Do que vale todo o conhecimento se não há paz no coração? O amor de Deus traz paz, eis o início e o fim da espiritualidade, o resto é trevas, é o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e isso está abaixo dos mais altos lugares celestiais em Cristo. Graças a Deus que nos ama, glória a Deus que se faz homem para que os homens o entendam, se abaixa sem se rebaixar, louvores ao altíssimo, que ainda que esteja lá em cima, nos acha pelo seu Santo Espírito e nos ensina, coisas inefáveis, que não merecemos saber, mas que ele compartilha com filhos do seu amor em Cristo.

      “Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus, Daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. 
      Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados. E também o Espírito Santo no-lo testifica, porque depois de haver dito: Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, E as escreverei em seus entendimentos; acrescenta: E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado.” 
Hebreus 10.9-18

      No texto inicial, como presente nas epístolas paulinas de maneira geral, o escritor faz a defesa do evangelho como estabelecedor de uma aliança melhor e eterna de Deus com os homens através da obra de Cristo. Depois que Cristo concluiu sua obra não há mais necessidade de sacrifícios de animais para que os homens possam receber perdão, basta a eles que creiam no nome de Jesus. Isso pode ser aplicado também a tantas outras substituições que os homens tentam fazer para a obra de Cristo através das religiões, mesmo nos dias de hoje, substituições que sempre negam um princípio básico da maneira de Deus agir, sua graça. Se tantas coisas Deus dá ao homem de graça, muito mais a salvação, e não é só por generosidade, mas porque não existe outro jeito. O homem não pode, pelas próprias forças, se salvar, se existe evolução espiritual que depende de tempo e trabalho humano, ocorre depois que ele é salvo, não para ser salvo. 
      Algo que choca muitas religiões com relação ao cristianismo, pelo menos em relação ao cristianismo que o protestantismo tentou resgatar, é o conceito da graça de Deus. Como tantas vezes já foi dito, e que define a diferença entre cristianismo e outras religiões, o evangelho é Deus buscando o homem, enquanto as outras religiões são o homem buscando a Deus. Quando o homem se coloca como protagonista sempre quer, de alguma maneira, glória para si, aplauso pelo seu trabalho, por isso a espiritualidade buscada por ele sempre custa preços. Vemos isso no catolicismo, que desviado do cristianismo original, criou ritos, cerimônias e sacramentos. Quando o Espírito Santo falta o homem tenta fazer o trabalho, que simule espiritualidade e alie ao culto alguma sagração, por isso o catolicismo se tornou uma religião pesada e morta, que acaba separando o homem da graça mais pura de Deus.
      Rituais são encenações aos quais são aliados poderes religiosos, onde se procura refazer um acontecimento, através de teatrialização, para reviver a capacitação dada pelo evento original. Por exemplo, quando se encena na Quaresma a “Via Crúcis”, o "Caminho da Cruz" ou “ Via Sacra”, referente ao trajeto percorrido por Jesus carregando a cruz do Pretório ao Calvário, pode ser um rito, se as pessoas crerem que podem obter algo através dessa encenação. Contudo, uma diferença importante do genuíno cristianismo, é que ele não precisa de rituais, o novo testamento não deixou orientação para eles, basta crer na obra final de Jesus. O batismo nas águas e a ceia são mais eventos sociais, testemunhos públicos da fé, momentos para se ter comunhão com os que comungam a mesma crença, eles não possuem qualquer poder espiritual ou concedem qualquer benefício de salvação ou perdão.  
      Quem precisa reviver o passado para achar forças ou motivos para crer é porque não tem no presente algo vivo e capaz que mantenha viva sua fé, sem o Espírito Santo utiliza-se rituais, repletos de pompas e circunstâncias. Rituais impressionam emocionalmente e fortemente as pessoas e fazem com que elas se sintam parte de algo maior e importante. Infelizmente muitas denominações evangélicas atuais, que se desviam do verdadeiro evangelho, têm provado a falta do verdadeiro Espírito e também têm inventado rituais, principalmente baseados na religião israelita do antigo testamento. Isso sempre glorifica mais o homem, que se sacrifica, que cumpre uma “promessa”, que participa fielmente de uma série de vigílias, que jejua por um grande número de dias ou que tem fé suficiente para alcançar uma graça. Mas graça não se compra nem se troca, só se recebe, é de gratuita. 
      Quando Deus busca o homem, a glória é de Deus, mas não porque ele exija isso ou precise disso, é simplesmente porque ele é Deus e Deus sempre merece todo o louvor. O louvor que damos a Deus não exige de nós trabalho, ao contrário, é prazeroso, nada alimenta mais o espírito humano que adorar o Deus altíssimo. Adoração confere ao homem uma intimidade espiritual com um Deus pessoal que muitas religiões não podem dar, não podem dar porque não têm o direito de dar e não têm o direito de dar porque não têm Cristo. É justamente a adoração a porta para experiências espirituais mais profundas, quantos não receberam dons espirituais, tiveram suas primeiras experiências com línguas espirituais estranhas, louvando a Deus com liberdade. Assim, a graça de Deus nos leva a louva-lo, o louvor abre a porta para os dons, e os dons são o início da mais profunda espiritualidade cristã.
      É maravilhoso como Deus nos atrai de um jeito simples, que nos realiza por completos, intelectual, emocional e espiritualmente, de graça por amor e através da fé, sem ritos, sem protocolos mágicos complicados, sem sacrifícios, algo possível a todo ser humano que passou da “idade da inocência”, seja qual for seu nível intelectual, financeiro ou etário. Mesmo que o verdadeiro evangelho nos leve a abrir mãos de vaidades e prazeres, ele o faz do jeito certo, nos respeitando e tirando de nós o nosso melhor, e isso, repito, é como Deus trabalha, não as religiões, incluindo as cristãs. Deus não pede sacrifícios de ninguém, e se parece sacrifícios o é aos que amam mais o mundo e a si mesmos que as virtudes. Se o “diabo” é um senhor cruel e mentiroso, cobra preços altos, faz muitas exigências, e na verdade não dá nada em troca, Deus dá de graça porque Cristo já pagou o preço, com a própria vida, dá muito mais que merecemos ou imaginamos e para sempre.

51. Adoração, porta para espiritualidade

      “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.” “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” I Coríntios 14.26-33, 39-40

      Por adoração ser tão libertadora e simples é que o “mal” tenta desviar o cristão dela, seja impedindo que ele chegue a ela ou corrompendo-a depois que ele já a provou. Ele impede quando leva cristãos a crerem que liberdade emocional e exposição dela é fraqueza, ele corrompe quando convence muitos que liberdade emocional é o clímax da espiritualidade. Mas o que tem a ver liberdade emocional com adoração e espiritualidade? O ser humano é composto de três partes, o corpo, a alma e o espírito (refletimos sobre isso em “Mapa espiritual cristão”), a alma é composta de um centro intelectual e um centro emocional, ou mente e coração, bem, uma interação com Deus o experimenta nas três áreas, com respeito e equilíbrio. Assim negar uma parte é negar um ser humano completo, é aleijá-lo, é impedir que o ser humano tenha uma experiência completa com o universo, o mundo, as pessoas, Deus e o mundo espiritual. 
      Alguns se sentem mais confortáveis enfatizando o intelecto, essa área humana é mais contida, aparentemente controlada, mais ligada ao material e à ciência, cristãos que enfatizam isso darão preferência a igrejas protestantes mais tradicionais, que focam num estudo teológico de mais qualidade e que buscam entender Deus, o cristianismo e a Bíblia, de um jeito mais racional. Outros, contudo, se sentem mais confortáveis tendo experiências mais sensoriais com Deus, querem sentir e não têm nenhuma vergonha de mostrar isso aos outros, veja que as pessoas procuram aquilo que mais as protege, afirmam aquilo que elas querem ser e escondem o que elas não querem ser. Os emocionais buscarão igrejas pentecostais ou onde existe liberdade maior principalmente para o louvor, depois, para que busquem e provem dons espirituais, manifestação dos dons é quase que o efeito natural de uma adoração emocional livre. 
      Eu creio que todos, quando se convertem e são selados com o Espírito Santo, recebem dons espirituais, todos, mesmo aqueles que nem creem que dons existam, o que acontece, que pode ser no momento da conversão ou anos depois após muita busca, é a conscientização emocional dos dons. É nela que os dons se manifestam, através de línguas estranhas, revelação, visão, ou outras maneiras que o Espírito Santo acha para se manifestar no nosso espírito que depois externa, através de nossa alma e de nosso corpo, para o mundo exterior. Assim, nossas emoções são muito importantes, elas nos dão referências de prazer e de dor, de paz e de tormento, de alegria e de tristeza, e se coisas de homens nos fazem realizados, como não fariam as coisas de Deus, como não mexeria com nossos sentimentos a presença do Espírito Santo de Deus em nós? Além do mais, Deus é vivo e sempre renovado, assim perceptível.
      Contudo, se o mal não consegue nos anular emocionalmente ele tenta liberar nossas emoções de forma descontrolada, assim ele sempre joga com nossos extremos. Por isso muitos acham que espiritualidade é adorar em todo o tempo e sentir êxtases arrebatadores, mas aí é preciso lembrar das outras partes que nos compõem como seres humanos, a razão deve existir para equilibrar a emoção e vice-versa, e nunca uma para anular a outra. Quem consegue ter uma experiência intelectual depois que teve a emocional, amadurece, começa a entender espiritualidade cristã, mas quem estaciona em uma delas, aleija-se, limita-se, impede Deus de trabalhar. Deus é pleno e nos quer plenamente para que entendamos a existência de forma plena, Deus nunca nos chama pela metade, Deus nunca nos vê por partes, ainda que nós tentemos expor só as partes que nos interessam. 
      O versos 39 e 40 de I Coríntios 14 resumem a interação de espírito, emoção e razão, tenhamos liberdade no Espírito, isso é nosso direito, mas com ordem e decência, isso é nosso dever. Eis uma coisa que me faz amar a verdade de Deus entregue pelo evangelho, uma verdade sem igual, os que têm olhos podem ver, os que têm ouvidos podem ouvir e maravilharem-se com a espiritualidade que só há em Cristo. Os que acham que dons não são para os dias de hoje que rasguem da Bíblia as partes que falam a respeito. Mas ninguém se engane, Deus está presente no meio de evangélicos simples, adorando e falando em línguas, presente e se agradando, mas Deus também se agrada com aquele que dedicou anos aprendendo as línguas originais da Bíblia, estudando escatologia, entendendo a religião judaica, esmiuçando a teologia de Paulo em sua apologia à fé. Ainda que nos vejamos em partes, Deus nos ama por inteiros. 

52. Permaneçamos no amor de Deus

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.” João 15.9

      “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8.38-39

      Iniciei o estudo “Espiritualidade Cristã” com Mateus 22.37-40, ele tem um assunto em comum com João 15.9, o amor. Mateus resume a velha aliança de Moisés, obrigações do homem para com Deus e com seus semelhantes, o homem deve amá-los, mas João nos fala da maior motivação que Deus tem para buscar o homem, Deus ama o homem. Quer saber o que é a mais elevada espiritualidade, seja no plano físico ou no espiritual? É permanecer no amor de Deus. João resume tudo num único versículo, Deus amou a Jesus, Jesus nos amou e nós devemos ama-lo, quem ama permanece, tem comunhão, obedece, adora, conhece e dá testemunho disso, por amor e em amor. 
      É muito difícil entendermos o amor de Deus, assim como muitos de nós até hoje não entendem a obra de Jesus, estamos presos demais a uma religiosidade de barganhas, que acha que para ter favores de Deus precisa fazer favores a ele em troca, fé por milagres, dízimos por provisão material, assiduidade em cultos por algo que apazigue almas escravizadas a remorsos. O amor de Jesus não exige nada, só pede permissão para nos amar, e quem é amado se sente satisfeito, não corre atrás de vaidades ou de prazeres passageiros. O amor liberta, quem é amado não se sente só e quem ama não se sente vazio, o amor ilumina, abre a porta para o mais alto dos conhecimentos espirituais e nos coloca perto do Altíssimo. 
      O grande desafio que temos na vida é permanecer no amor de Deus, isso quando nós mesmos, os homens, o mundo, os espíritos rebeldes, todos estão sempre tentando nos tirar dessa posição. Estar nessa posição é ser espiritual, espiritualidade não é um lugar para se chegar, mas é uma posição para se estar. Quem pensa que tem que melhorar, caminhar por um longo tempo para agradar a Deus, nunca alcançará seu objetivo, pisamos a mais elevada posição espiritual pela fé, quando nos lavamos com o “sangue” de Cristo o cordeiro de Deus e permitimos que o Espírito Santo nos conheça e se deixe conhecer por nós, numa comunhão que levaremos à eternidade, que permite que nosso espírito volte para quem o criou. 
      Quem prova isso tem a vida transformada, toma da água da vida e nunca mais desejará outro líquido espiritual ou material para satisfazer, não o corpo e a alma, mas o espírito. Quem tem essa experiência já chegou no ponto espiritual mais alto, ainda que caminhe por esse mundo, ainda que mude, não perderá jamais a referência daquele que pode alimentar para sempre o espírito, uma riqueza que bem ou prazer nenhum desse mundo ou do outro pode superar. Esse conheceu o amor de Deus e não abrirá mão dele, antes ficará, até o fim, e não existe lugar melhor para se estar que no amor de Deus, isso é mais que conhecimento espiritual, que milagres físicos, que sinais e mistérios, é a própria pessoa do Altíssimo.
      Os espíritos rebeldes, chamemos-os dos nomes que forem, diabo, Satanás, demônios, anjos caídos, arcanjos caídos, enfim, seres espirituais que nunca escarnaram e que num momento do tempo tiveram autorização de Deus para exercerem livre arbítrio, são seres que não têm direito a nada, só ao inferno. Por isso quiseram fazer com que o homem se afastasse de Deus, para terem legalidade de entrar no lugar que nem Deus pode impedir que entrem, no coração do homem se esse autorizar. Esses seres não têm outro poder senão aquele que os homens delegam a eles, e Deus não pode ir contra o livre arbítrio que ele mesmo deu aos homens, pelo menos até o juízo final, por isso o diabo tem tanto interesse no homem. 
      Esses espíritos rebeldes não querem que o homem fique no amor de Deus, pois isso simplesmente os impedem de terem poder, de ocuparem espaço no mundo. O diabo conquista o mundo não com suas mãos e seus pés, mas com as mãos e os pés dos seres humanos, enquanto esses realizam, fora do amor de Deus, injustiça, egoísmo, intolerância. Contudo, ainda que defendendo os valores morais e espirituais mais altos, o diabo conquista espaço, e essa é sua estratégia final, negando a Deus, sua mais alta posição espiritual, sua onipotência, e principalmente, sua salvação pelo nome de Jesus. Quem nega a Jesus, nega a Deus e de maneira alguma pode provar o verdadeiro amor, sem esse amor espiritualidade é impossível. 
      Por todas as coisas pela quais devemos lutar, a mais importante delas é permanecer no amor Deus, nada falta aos que se colocam nessa posição, assim como ninguém toca os amados de Jesus. E entendamos certo, no amor não existe exigência de sacrifícios, mas só compartilhamento de misericórdia. Um bom casamento é a maior bênção que podemos ter nesse mundo, mas só no amor de Deus podemos ter, administrar e manter isso com equilíbrio e paz. Que percamos tudo, bens e aprovações de homens, mas no amor de Deus sempre estaremos tranquilos, protegidos, vitoriosos, e acima de tudo, preparados para a eternidade melhor de Deus, onde nós e Jesus seremos todos um só no eterno amor do Deus Altíssimo.
 
53. Três testes para a espiritualidade

      “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
 I João 2.15-17

      “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”
 Gênesis 3.6-7

      “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
      Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.
      Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.” 
Mateus 4.1-11

      Essa abordagem não é nova, mas achei interessante trazê-la a esse estudo sobre espiritualidade, ela diz que em todas as tentações que sofremos, basicamente, três coisas são testadas em nós. Ela resumi todos os “testes” que o mal nos faz a essas três coisas, partes de uma estratégia que esteve presente na tentação de Adão no Éden, assim como na tentação de Cristo no deserto. As três coisas são: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida, que confrontam gradativamente o ser com o mal. Concupiscência, é cobiça de bens materiais ou anelo de prazeres sensuais, é dar lugar aos instintos carnais do homem, carnal no sentido físico, do corpo, que a princípio nada tem de errado, mas que pode se tornar “carnal” no sentido pecaminoso. A carne se torna “carnal” quando valores mais altos são relegados em favor dos mais baixos, quando o físico ou o emocional ganham prioridades sobre o espiritual, quando o ser humano perde o equilíbrio entre suas partes, o corpo, a alma e o espírito. 
      Moisés, no texto de Gênesis, define os conceitos denominados por João o evangelista em sua primeira carta, assim há uma correspondência entre eles. O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal é bom para comer, o que tenta a concupiscência da carne, mas ele também é agradável aos olhos, o que tenta a concupiscência dos olhos, finalmente é desejável para dar conhecimento, que tenta a soberba da vida. Uma testa o corpo, a outra a alma e a última o espírito. Na tentação de Cristo também há uma correspondência entre as três coisas, na sugestão dada a Cristo para que ele transformasse pedras em pães é tentada a concupiscência da carne, na sugestão que ele se lançasse do pináculo do templo é tentada a concupiscência dos olhos, e na possibilidade de ter tudo o que quisesse é tentada a soberba da vida. O corpo é tentado com às necessidades básicas de sobrevivência, a alma com as vaidades aparentes que vão além dos instintos primordiais, o espírito com a necessidade de ter poder sobre tudo. 
      A concupiscência da carne tenta o querer imediato, a concupiscência dos olhos o ter para mostrar aos outros, e a soberba da vida tenta o ser, que estrapola o plano físico e quer dominar o espiritual. Querer, ter e ser, eis a evolução daquilo que é tentado em nós pelo mal, vemos claramente na sociedade pessoas de níveis financeiros e culturais diferentes desejando coisas distintas. Os mais pobres só querem trabalho para se alimentarem, se vestirem e terem onde morar. Acima desses, aqueles que ganham o suficiente para o básico mais alguma coisa, não se satisfazem só com comer, vestir e morar, querem comer algo mais caro, vestir algo mais chique, morar numa casa melhor, ter mais de um carro. Para que, para satisfazer necessidades? Não, passaram desse ponto, querem mostrar aos outros que são melhores, no campo material, mas também usam o que têm a mais que os mais pobres para consumir cultura e informação, e isso também é vaidade, o primeiro passo para a soberba da vida no campo intelectual. 
      Finalmente vemos os mais perigosos, que já têm tudo o que precisam e mais um pouco, tanto na área material quanto intelectual, esses querem ser, ser o quê? Serem adorados, querem ser deuses. Vemos políticos, empresários, artistas e outros nesse nível de tentação. Não há nada de errado em ser rico, político ou artista, mas alguns acham prazer na proeminência social que essas posições dão e se viciam nesse prazer, proeminência que é simples efeito de uma causa. Quando se faz um bom trabalho é natural que sejamos elogiados por isso, que ganhemos mesmo alguma fama por isso, mas a fama é algo perigoso, que deve ser administrado com lucidez e humildade. Muitos conseguem vencer a tentação nos dois primeiros testes, não se vendem por um prato de comida nem querem aparentar só para parecerem melhor que os outros, contudo, caem diante da soberba da vida, a pior das tentações porque corrompe mais que corpo e alma, corrompe o espírito e leva o homem a invejar a Deus. 
      Assim, a fama, que deveria ser mero efeito de quem é competente, passa a ser o objetivo final, quando as pessoas não querem mais fazer algo bem feito, querem ser adorados por isso. Veja que nas duas primeiras tentações a queda numa tentação só prejudica a própria pessoa, quando ela troca o prazer de um fruto por uma virtude, ou troca a exibição da aparência do fruto pelo amor sincero dos outros, sim, porque o que sucumbe à concupiscência dos olhos se afasta das pessoas porque se acha melhor que elas. Na terceira tentação, contudo, as pessoas querem se aproximar das outras, mas para dominá-las, e fazem isso mentindo, enganando. Quem quer o lugar de Deus toma o lugar de Lúcifer e esse não tem escrúpulos para obter seus objetivos. A soberba da vida quer o conhecimento de Deus sem ser Deus e sem ter o Espírito Santo dentro de si. Infelizmente muitos pastores, pregadores e cantores evangélicos caem nessa tentação, viciam-se em fama e poder, e querem adoradores, não irmãos ou ovelhas. 
      Como o diabo que dizemos ser o pai da mentira, um ser das trevas, que incentiva o mal, conhece tão bem o ser humano? Na verdade precisaríamos rever muitas de nossas crenças, incluindo o que achamos ser o diabo e entender melhor o que é bem e mal, luz e trevas, e todas as implicações disso tudo na nossa moralidade. Não é o ponto aqui, mas resumindo, esse assunto não é tão simples como muitos acham que é, contudo, o que de fato precisamos saber é: o melhor caminho, o que traz a paz que permanece e o amor que une, é aquele que olha para o Deus altíssimo através de Jesus. Esse caminho nos afasta do diabo e de todas as suas estratégias, que não são de maneira alguma burras ou levianas, porque na minha opinião são autorizadas por Deus. Se como já foi dito nesse estudo, o diabo é responsável pelo serviço sujo, ele também é responsável pelos testes, não é o que ensina, mas pode ser o que aplica as provas, se for isso ele não é um oponente que contribui para o caos, mas parte do grande sistema, que confere a ele, equilíbrio. 

      “E aconteceu que, tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, enviou Davi a Joabe, e com ele os seus servos, e a todo o Israel; e eles destruíram os filhos de Amom, e cercaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém. E aconteceu que numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista. E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela (pois já estava purificada da sua imundícia); então voltou ela para sua casa.
II Samuel 11.1-4

      Cada teste é perigoso para cada um de nós no nível de espiritualidade que estivermos. Muitas vezes é melhor termos vidas simples se podemos dar conta só do primeiro teste, simples mas humildes. Em outros casos, ainda que tenhamos competências, é melhor permanecermos discretos e não adquirirmos fama, se ela for uma tentação muito forte para nós, que nos leve a querer uma glória que é de Deus, não nossa. Melhor entrarmos no céu com só um olho que com dois formos ao inferno (Mateus 18.9). Muitos podem não acreditar, mas como existem pessoas que fazem o que fazem só porque querem ser amadas, e se essa carência for muito grande e muito mal resolvida as pessoas poderão ser motivadas para alcançarem posições elevadas no mundo, só para terem a atenção do maior número de pessoas possível. Muitos ditadores e tiranos, levaram nações inteiras a guerrearem contra o mundo, só para saciarem uma terrível necessidade de adoração.
      Mas por mais inacreditável que pareça o desejo dessas concupiscências está latente no ser humano, o casal original sucumbiu aos três testes e eles não tinham nenhum motivo aparente para serem carentes, de nada. Tinham um jardim maravilhoso para viver e um pai, o melhor pai do universo, que cuidava deles bem de perto. Isso nos ensina que a culpa de nossos pecados não é de nossos pais, de nossa criação ou da sociedade, a culpa é nossa, todos temos livre arbítrio para fazer escolhas. Que espiritualidade podemos ter? Aquela que administrarmos do melhor jeito, simples assim, e entenda, aquela que lidarmos melhor com ela, será o jeito melhor de agradarmos a Deus, de sermos felizes e de fazer nossos próximos felizes. Deus não julga pela aparência, mas pelo coração. Muitos adquirirão o mais elevado nível de espiritualidade sendo pessoas simples e discretas, sem nenhum reconhecimento do homem (leia também sobre a tentação de Cristo em “A primeira tentação de Cristo”).
      Algo interessante sobre os três testes é que eles podem ocorrer em tempos e lugares diferentes, se no jardim do Éden foi testado o primeiro homem e no deserto o último, podemos achar na vida de Davi (II Samuel 11) o tempo e o lugar para testar o homem intermediário. Esses testes, esses tempos e esses lugares revelam mistérios profundos, são metáforas para as vidas de todos os seres humanos. Nosso primeiro teste ocorre no início de nossas vidas como adultos, é o que nos faz sair da idade da inocência e entrar na idade da razão, onde escolhas nos são apresentadas e fazê-las definirá nossas vidas. O último teste ocorre em nossas velhices, quando a paixão já tiver seca, quando nossas forças físicas estiverem diminuídas e consequentemente estivermos menos susceptíveis a cairmos nas tentações básicas da carne. Nesse momento, no deserto, poderemos ser confrontados com os conhecimentos espirituais mais profundos, que definirão nossa eternidade, mais próxima do que nunca de nós. 
      Mas o segundo teste ocorre no meio do caminho, quando já tivemos algumas vitórias e conquistamos, principalmente neste mundo, bens e posições. O segredo para não cair nessa tentação é não relaxar antes do tempo, se é que existe neste mundo um momento para relaxar, manter-se vigiando e lutando, é não se iludir com o passageiro. Davi pode ter caído porque achou que já tinha tudo e podia ficar em casa descansando, enquanto os outros lutavam, “numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando... então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la, e ela veio, e ele se deitou com ela. Parece-nos que tudo foi tão fácil e rápido, mas esse é um exemplo típico de se estar no tempo errado, no lugar errado fazendo a coisa errada. Somos presas fáceis do pecado quando depois de muitos avisos desobedecemos não uma, mas várias regras, simplesmente porque queremos descansar antes do tempo.  
      Davi é o símbolo da glória maior do homem no plano físico, levou Israel, dentro da velha aliança, à sua melhor situação no mundo, como nação política, econômica e religiosa, mas como tudo que ainda não conhece a espiritualidade mais alta de Deus, sucumbe, e sucumbiu justamente na concupiscência dos olhos de Davi quando ele adulterou. Por misericórdia Deus não permitiu que o castigo maior viesse no tempo de Davi, nem de seu filho Salomão, que nasceu de sua relação adúltera, mas só no tempo de seu neto. Roboão não reinaria sobre as doze tribos unificadas por seu avó Davi, mas somente sobre Judá e Benjamim, reino que recebeu o nome de Judá, as outras dez tribos ficariam com Jeroboão que legaram o nome de Reino de Israel. É um ensino para todos nós, a desaprovação no segundo teste pode tirar de nós grande parte do direito de prosperidade que teríamos se fôssemos aprovados, seguiremos com algumas vitórias, mas aquém daquelas que originalmente Deus queria nos dar. 
      Mais que estarmos no lugar errado e com os sentimentos errados, podemos cometer um erro pior e perdermos tudo o que tínhamos conquistado até então, se perdermos a noção de tempo. Há tempo para descansar, e se for o tempo de Deus estaremos protegidos, por fora e por dentro, por fora pela providência divina, e por dentro pelo nosso próprio espírito já amadurecido e focado nas coisas do Espírito Santo e não da carne. “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus“ (Romanos 8.14), os que são guiados pelo Espírito de Deus têm noção do tempo, não se apressam em relaxar antes da hora, mas também não se mantêm fazendo esforços exagerados quando já deveriam descansar em Deus e ocuparem-se só com coisas espirituais. Pecam os que param de lutar antes do momento e também os que continuam lutando quando Deus mandou parar de lutar. Enfim, jardim, terraço ou deserto? Em que lugar e tempo estamos? Em quantos testes fomos aprovados a caminho da espiritualidade?

54. Onde está teu Deus?

      “E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” Gênesis 3.8-10

      “As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?” Salmos 42.3 

      “Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus.” Mateus 27.42-43

      Talvez essa seja a maior e mais determinante tentação que os filhos de Deus devam passar para que possam reagir do modo realmente espiritual, responder a uma pergunta: “onde está o teu Deus”? Qual a resposta certa? Nenhuma. Os que não conhecem a Deus em profundidade, e mesmo alguns que são seus filhos, levantam a voz e defendem seus pontos de vista, ainda mais quando eles se referem a confiar em Deus acima de tudo, mas será que uma resposta mais enfática tem alguma eficácia para quem faz uma pergunta como essa? Penso que não, por vários motivos, não somente pela dureza de coração de quem nos afronta, mas também pela situação de debilidade que podemos nos achar.
      O salmista diz, “minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite”, quem responde numa atitude ativa e defensiva se coloca no ataque, como forte, e não deve estar chorando com o questionamento incrédulo, cínico e injusto que lhe fazem. Se o salmista estava quebrantado era porque sabia que não adiantava responder, que estava só e fragilizado diante de grande insolência. Pode parecer fraqueza, mas diante de um confronto tão cruel, que pode vir geralmente quando estamos passando pela pior situação de sofrimento e vulnerabilidade, só nos resta olhar para Deus e nos humilhar, não é momento de levantar a voz, não é momento para nos defender ou defender àquele que nos defende, o Senhor.
      Quem enfrentou o pior exemplo dessa situação e da maneira mais espiritual foi Cristo na cruz, a ele disseram em sua pior hora, “confiou em Deus, livre-o agora se o ama”, parece difícil ouvir essas palavras? Mas muito pior foi para Jesus, e ele ouviu e se calou. Não, calar-se em momentos de grandes afrontas não é disposição de enfraquecimento, por isso tantas vezes procuramos palavras em certas situações e não achamos, os argumentos nos faltam enquanto o incrédulo e cínico destila sua injustiça com prazer, assistindo nossa humilhação. Se nosso Senhor passou humilhação pela justiça, por que os que dizem segui-lo não passariam? “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (João 15.20b).
      Precisamos entender, contudo, que não deve ser uma humilhação por algo errado que fizemos, nesse caso ainda menos razão temos para responder à injúria, mas nos calarmos diante de uma afronta estando nós de fato testemunhando da justiça, aí sim, pode ser uma ferramenta poderosa nas mãos de Deus. “Porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (II Coríntios 12.9b), sim, nesse caso, nossa fragilidade pode ser usada para demonstrar o poder de Deus. Foi exatamente isso que ocorreu na morte de Cristo no calvário, Deus dando vida à humanidade à medida que seu filho morria, eis o conceito antagônico do plano espiritual em relação ao físico apresentado em seu apogeu. 
      Interessante que o silêncio de um justo compensou o silêncio dos pecadores originais no Éden, “e ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, e esconderam-se”, os pecadores com noção de suas condições fogem do santíssimo, e isso ainda é algo bom, mostra que o coração não se cauterizou. Contudo, vivemos tempos que ainda erradas as pessoas se acham no direito, de enfrentarem a justiça, aos justos e ao santo Deus. Uma geração que acha que tem o direito de levantar a voz e defender posicionamentos sempre, afasta-se de Deus, fortalece-se no reino dos homens, mas enfraquece-se para ter direitos no reino da luz à medida que se rende ao reino das trevas.
      “Onde está o teu Deus?”, se alguém te perguntar isso, respire fundo, pense um pouco, não se apresse em responder, muitas vezes você não deverá responder nada, porque não adianta e porque Deus pode usar isso para julgar a dureza de coração das pessoas. Que a insolência do louco ecoe no teu silêncio e retorne a ele, para o fundo de sua alma, e fique lá, e o leve a responder a si mesmo à medida que lembre das vezes que Deus lhe falou e ele não quis ouvir, negou aquele que poderia lhe dar vida eterna. Deus pode usar nosso silêncio, muitas vezes muito mais que nossas palavras, afinal quem tem que brilhar é Deus, não nós, quem tem que convencer é o Espírito Santo, não nós, quem salva é aquele que se calou na cruz, não nós.

55. A verdade sobre o mundo espiritual

      A verdade sobre o mundo espiritual é que nele existem seres espirituais que por algum motivo são rebeldes ao Deus altíssimo. Nessa afirmação temos que entender várias coisas para podermos enxergar a verdade, a primeira coisa é que existe um Deus altíssimo. Esse Deus não está em conflito com ninguém, nem se iguala em tamanho e altura a ninguém, seja na pureza de sua luz espiritual, nas virtudes de sua essência moral e no controle que ele tem sobre tudo, em todos os planos, espiritual e físico, e em todos os tempos (estudamos sobre isso em “Deus e o diabo”). Não existem no universo dois poderes numa batalha eterna, bem contra o mal, ou luz contra as trevas, a batalha existe dentro dos seres humanos e esses podem permitir a vitória de um lado ou de outro dentro deles, através do livre arbítrio. Essas escolhas afetam a eles e a seus próximos, mas não o universo e muito menos a Deus, ainda que o Altíssimo possa permitir que exércitos da luz lutem contra exércitos das trevas para beneficiar um ser (Daniel 10.11-13).
      A segunda coisa a saber é que existem seres espirituais não encarnados, que podem estar ou não em comunhão com o melhor de Deus (leia mais em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”), assim, quando alguém se prontifica a se comunicar com o mundo espiritual há varias possibilidades, pode-se fazer contato com seres de índoles distintas (I João 4). Falar com os mortos não foi proibido porque não pode ser feito, mas porque não deve ser feito, essa é a opinião desse que vos escreve (falamos a respeito em “Comunicação com mortos...”). Por que não deve ser feito? Porque pode-se incorrer em muitos erros, e o principal deles é se desviar do Espírito Santo que através da salvação em Cristo é o meio autorizado por Deus para todas as pessoas saberem e viverem as verdades espirituais. Para ser sincero eu não creio que seja só isso, mas creio que isso seja a vontade de Deus segura e eficiente para salvar qualquer homem, em qualquer tempo, indiferentemente de seus conhecimentos, cuidados ou experiências. 
      A terceira coisa a saber é sobre alguns seres espirituais especiais, que nunca se encarnam, são mais que demônios menores, são príncipes, grandes diabos, anjos ou arcanjos caídos, rebeldes de alguma maneira ao Deus Altíssimo. Esses, em algum momento, também tiveram oportunidade de escolha, mas não puderam, depois disso, mudar o efeito dessa escolha. Eles possuem, do próprio Altíssimo, liberdade de ação em diversas instâncias, mais que isso, são ferramentas de Deus, e nunca semelhantes a ele de maneira alguma, visto que são criaturas e não criadores. O início da história de Jó é o melhor exemplo disso (Jó 1 e 2), Satanás pedindo permissão a Deus, depois de andar pela Terra, e Deus permitindo que ele tirasse coisas de Jó, não foi Deus quem tirou diretamente, mas o Diabo, que tocou os bens, a família e a saúde física de Jó. Podemos entender com isso que o diabo é a ferramenta de Deus para o serviço “sujo”? Mas se for isso sua existência é útil aos propósitos divinos de alguma maneira, ou não (Deuteronômio 32.39)? 
      Citar a serpente no Éden como exemplo de Deus usando o diabo, pode tocar em assunto polêmico para muitos, se alegarmos que mais que ser instrumento de tentação, que só testou o livre arbitro dado ao homem pelo próprio Deus, a própria queda que adveio da desobediência foi “vontade“ do Altíssimo. Se Deus tudo sabe, ele já sabia que o homem iria cair na tentação. Será que podemos dizer que o diabo foi instrumento de Deus para que a humanidade tomasse o caminho que tomou? Seja como for, o que precisamos entender é que o mundo espiritual pode ser bem complexo para os que forem além daquilo que o cristianismo tradicional recomenda, e o conhecimento disso é o que muitos chamam de elevada espiritualidade. Contudo, aliado a isso, pelo menos em muitas religiões e visões espiritualistas, espiritualidade está numa vida de abstinências materiais, que para muitos é condição sine qua non para se receber conhecimentos espirituais, para se ser digno das revelações dos grandes mistérios. 
      Não é só ser um bom cidadão, trabalhador honesto, tolerante com todas as diferenças e praticante de caridade para com os mais necessitados, é experimentar uma vida de sacrifício no corpo, “refrear” a carne para libertar o espírito. Todavia, o início dessa reflexão foi a afirmação de uma verdade, e tão importante quanto saber que existe um Deus, que se estivermos em comunhão com ele pode nos abençoar, é saber sobre a rebeldia de seres poderosos. Essa rebeldia não é só aprovada por nós quando de alguma maneira agradamos mais a nós, a nossa carne, que a Deus e aos outros, não, pessoas em íntima comunhão com os grandes príncipes rebeldes espirituais podem viver existências de privações e caridade, e ainda assim serem rebeldes com o Deus Altíssimo. Por que levantei esse tema no estudo “Espiritualidade Cristã”? Porque para muitos espiritualidade pode ser mais uma armadilha que encarcera e faz retroceder, que uma fonte de águas vivas que renovam, curam e permitem evolução espiritual.
      “Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10.26-28), viciar-se nos apetites carnais pode matar o corpo, contudo, a espiritualidade dos príncipes espirituais rebeldes pode matar o espírito, porque nega o Espírito Santo, peca contra ele, não aceita o caminho reto de Cristo e desvia-se do Deus Altíssimo para os falsos deuses. Tenhamos cuidado com as armadilhas desses “anjos” caídos, e eles podem influenciar mais que vidas individuais, mas sociedades inteiras, toda uma civilização, através de ideologias que fazem a cabeça de líderes intelectuais, sociais, políticos e religiosos. O homem de bem, contudo, sempre terá a chance de fazer a escolha certa, terá uma visão lúcida de tudo, para esse nunca se apagará a luz de Deus. 
      Nosso exemplo maior e completo de espiritualidade é Jesus encarnado, não o que ele sempre foi como Deus, esse é nosso salvador e Senhor, mas como ele viveu no mundo desprovido de poderes divinos. O que muitos não entendem é que o ministério do Espírito Santo não é nos fazer deuses, com poderes para operar atos extraordinários, seu ministério é nos ensinar a ser homens, como foi Jesus encarnado. Mas sim, para aqueles que buscarem de Deus mais que vaidades e satisfação de necessidades materiais, o Espírito Santo pode revelar mistérios acima de qualquer conhecimento que obtêm magos e espiritualistas com os grandes anjos rebeldes, mas mistérios com a autorização do Altíssimo pelo poder de Cristo o redentor eterno. Assim, anime-se, espiritualidade é ouvir a voz de Deus que nos entrega o real sentido da vida, os simples e humildes a acharão e serão muito felizes, não para exibirem isso aos homens, a eles basta nossa prática de vida em amor e paz, mas para nos prepararmos para a eternidade que é plenamente espiritual. 

56. Espíritos

      “E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor.” I Samuel 16.14

      Antes de iniciarmos uma reflexão sobre espíritos, algo importante para se entender dentro do tema Espiritualidade Cristã, façamos um rápido resumo sobre a história de Saul. Israel queria um rei, mas o profeta Samuel disse que isso não era a vontade de Deus, na insistência do povo, Deus deu a Israel um rei, conforme o coração do povo. Saul era um homem de boa aparência, tinha suas qualidades, mas desobedeceu o Senhor, Deus mandou que ele destruísse totalmente um inimigo e não ficasse com os despojos, mas ele não seguiu a ordem, assim perdeu direito ao trono. Deus, então, levanta Davi como novo rei, um homem de aparência mais simples, mas de muitos talentos, com um coração adorador e com uma unção diferenciada, é nesse momento da história que o versículo inicial é citado. Entre o momento que Saul perdeu a legitimidade como rei até o momento que Davi assumiu como o novo rei, um tempo se passa, e é nele que podemos estudar todo o processo de degradação do homem Saul. 
      O ponto desta reflexão são os usos da palavra espírito, citados no versículo inicial (se possível leia todo o capítulo 16 de I Samuel): um se refere ao Espírito do próprio Deus, o outro é um ser espiritual rebelde, do mal, das trevas, mas conforme o texto, vindo da parte do Senhor. Se as pessoas entendessem a verdade ensinada nesse texto, tanto cristãs como não cristãs, perceberiam como interpretam erradamente o mundo espiritual, Deus e o diabo, luz e trevas, bem e mal. O plano espiritual não é um campo de batalha, com duas forças iguais e antagônicas, numa guerra eterna, que influenciam o plano físico cada uma à sua maneira. Deus é soberano, acima de tudo e todos, presente em todos os lugares, com autoridade sobre tudo e todos, sempre! O diabos, os anjos caídos, os demônios, ou seres espirituais rebeldes que um dia tiveram oportunidade de livre arbítrio e que escolheram não estar em comunhão com Deus, nos melhores e mais elevados lugares espirituais de luz, estão absolutamente subordinados a Deus. 
      Qual é então a diferença entre esses diabos e os outros seres espirituais, os de luz e do bem, que chamamos de anjos, arcanjos, querubins, serafins? Os seres da luz existem em perfeita harmonia com o Deus Altíssimo, são responsáveis por diversas tarefas, mas sempre, conforme entendemos pela teologia cristã tradicional, para abençoar os homens. Os seres das trevas podem “pensar” e desejar o mal, contudo, só podem fazer o mal em primeiro lugar sob autorização de Deus, e em segundo lugar através de obras, que nós homens fazemos, para as quais damos a eles o crédito. Por causa de suas índoles, diabos e demônios são responsáveis por testar e atormentar os homens, fazem o serviço “sujo”, digamos assim, mas ainda assim sob ordem de Deus. O diabo não tem corpo físico, dessa forma não pode andar pelo mundo, mas ele pode conversar conosco e tentar nos convencer a fazer o mal no mundo e aos outros homens, assim podemos ser ferramentas do diabo no plano físico. 
      Por que Saul era atormentado por um mau espírito? Não penso que a resposta para isso seja simples, a princípio ele negou a comunhão do Espírito de Deus, o que o deixou frágil para um ataque contrário. Mas não foi só o caso dele ter quebrado uma aliança com Deus, e então, em represália, Deus ter enviado um espírito mau para lhe atormentar. Toda a situação de desobediência de Saul destruiu sua sanidade, suas referências de certo e errado, de amigo e de inimigo, a prova disso é que mesmo Davi, que a princípio era alguém que ele gostava (I Samuel 16.22), depois tornou-se, pelo menos na cabeça de Saul, seu inimigo. Davi teve temor a Deus e respeitou Saul até sua morte. Na vida de Davi podemos ver um outro aspecto sobre espírito, Davi tinha uma unção espiritual especial, e era isso que conferia às suas expressões artísticas, seja no tocar do instrumento ou na composição de salmos, que já eram frutos de um talento humano especial, um poder curativo. 
      Enquanto Saul teve sua alma ferida por causa de seu orgulho espiritual, Davi teve a alma ungida, um experimentou enfermidade, o outro, arte. Incrível como Deus reuniu numa mesma história duas pessoas tão contrárias, e ambos com características semelhantes, dentre elas a espiritualidade. Sensibilidade espiritual é uma faca de dois gumes, pode tanto discernir a voz de Deus, quanto outras vozes, sejam de ecos negativos da própria mente ou de espíritos maus. Isso nos ensina que pessoas com um dom espiritual, com uma chamada de Deus especial, se não forem obedientes ao Senhor podem provar uma força contrária e semelhante, que ao invés de conferir unção de Deus, entrega tormentos e mesmo doenças, principalmente mentais. A música de Davi era terapêutica para Saul, e essa ironia, onde alguém acha justamente no principal oponente o remédio para seu tormento, é só parte de uma história bíblica complexa, e mais sofisticada que muito romance literário. 
      Mas podemos entender que Saul ficou psicótico, o que começou como arrogância, como uma má administração dos direitos reais que tinha, acabou por levá-lo a desobedecer a Deus, a perder direitos e finalmente a transtornos mentais. Algo que devemos aprender na história de Saul é que o entendimento das passagens bíblicas pode não ser algo fácil, simples e rápido. Sim, podemos fazer uma interpretação mais simplificada, numa primeira leitura, que já nos ensina algo. Deus em seu grande amor pelos homens permite ensinos mais simples para aqueles que por um motivo ou outro não se aprofundam na Bíblia, mas se estudarmos um pouco mais poderemos ver além da superfície. Entender, no texto de I Samuel 16, que Deus simplesmente envia um mal para atormentar alguém não penso que seja o mais correto, o livre arbítrio humano coloca a misericórdia do Senhor no limite, assim certas portas só são abertas quando o homem insiste e muito em fazer algo errado. 
      O mal maior, a vergonha maior, a queda no buraco mais fundo, nunca ocorre na vida de alguém de um dia para o outro, e isso é devido, repito, principalmente ao amor e à misericórdia de Deus, que tenta de toda maneira recuperar o homem, salvá-lo, principalmente alguém como Saul que recebeu do Senhor uma honra tão grande. Contudo, o exemplo de Saul é pra lá de emblemático, como alguém que começou tão alto caiu tão baixo? O final da vida de Saul foi humilhante (I Samuel 31.4-6), se suicidou, talvez não exista fim mais covarde e incrédulo para o ser humano. O certo é que ter a instalação de um “mal espírito”, seja isso algo espiritual ou psiquiátrico, quando não se tem um problema congênito ou efeito de uma longa vida de erros, antes, um bom berço e boas oportunidades na vida, é algo sério, uma situação quase que irremediável de perdição ainda no mundo, tenhamos a humildade para nos acertar antes que isso possa ocorrer.
      A história de Saul é de fato muita rica para aprendemos sobre “espíritos”, além das três abordagens que fizemos acima, o Espírito de Deus, um espírito mau sobre Saul e o Espírito Santo sobre Davi, tem ainda a consulta de Saul à profetiza de En-Dor (I Samuel 28). Refletimos nesse tema no estudo “Reavaliemos nossas crenças”, assim não vou me aprofundar nele desta vez, mas o acontecimento só reforça a ideia da relevância que Saul dava para a espiritualidade, e ainda na desobediência a Deus e após a morte do homem que era boca de Deus em sua vida, o profeta Samuel, ele tentou esse meio para achar conhecimento, ainda que para acessar fins polêmicos dentro da teologia cristã. Interessante que o mesmo homem que consultou uma médium espírita teve o tormento de um espírito mau, isso pode revelar uma porta que o próprio Saul deu legalidade para ser aberta em sua vida, que quando mexeu com coisas proibidas pagou um preço caro.

57. Sigamos para o Altíssimo

      “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Filipenses 3.13-14

      Nestes meus últimos anos de vida tenho sido levado, creio que pelo Espírito Santo, a conhecer mais profundamente algumas religiões, principalmente o hinduísmo e o budismo. Quando se deixa o preconceito de lado e se busca conhecer aquilo que é muito importante para muitas pessoas, ainda que pareça ser diferente daquilo que se está acostumado a estudar, principalmente na área religiosa, podemos nos surpreender e sairmos da experiência mais lúcidos. Não pense que esse tipo de conhecimento seja pecado, ainda que não seja para todos, ainda que seja sábio buscar a orientação de Deus antes de começar a adquiri-lo, no meu caso eu pedi autorização e Deus me deu. 
      Quanta sabedoria achei no Bhagavad Gita, que li na íntegra, e no Mahabharata, que li numa excelente versão em forma de romance, o Bhagavad é uma espécie de novo testamento dos textos sacros hindus, já o Mahabharata originalmente é extenso demais para ser lido integralmente com mais facilidade. Esses são textos sagrados do hinduísmo, o budismo basicamente se baseia no hinduísmo, mas com a ótica do Buda, que está para o hinduísmo como Jesus está para a religião israelita do antigo testamento, para usarmos comparações arredondadas para que possamos entender melhor como cristãos. Mas o ponto aqui não é uma reflexão sobre as teologia budista e hinduísta, talvez numa outra ocasião. 
      Sim, há muita sabedoria em textos de outras religiões, principalmente em assuntos sobre busca de valores morais mais altos e de domínio próprio para abrir mão dos apetites carnais e dos valores materiais do mundo, a fim de se preparar melhor para uma eternidade espiritual. Contudo, algo precisa ficar bem claro, só o cristianismo foca na necessidade de salvação e a entrega unicamente através da obra de Jesus, essa eficiência de reposicionamento espiritual possível através exclusivamente de fé em Jesus só o cristianismo ensina, ainda que outras religiões toquem em pontos para lá de relevantes principalmente nos efeitos que devem existir na vida dos que buscam a mais elevada espiritualidade.  
      Talvez você não concorde com isso, mas todas as religiões possuem parte da verdade, incluindo as não cristãs, e todas as religiões acreditam em partes da mentira, incluindo as cristãs, só Jesus é a verdade absoluta, e essa só conhecemos quando a buscamos no Deus altíssimo pelo Santo Espírito, não nas religiões. Mas muitos podem questionar, “mas se não acho Jesus pelas religiões, então, que igreja frequentarei, qual é a que pode me ajudar no caminho”? A resposta é: todas e nenhuma. Isso confundiu mais que ajudou? Mas é simples, comece pelas religiões, comece pelas igrejas, comece em denominações protestantes cristãs, comece em templos evangélicos, mas não pare aí, siga em frente a Deus.
      Ninguém precisa começar o caminho pelo fim, nem pode, a jornada é longa e se estreita à medida que caminhamos, mas é importante começar, e começar com a intenção correta. Onde? Tanto faz, Deus vê o coração, mas se houver um desejo profundo de conhecer a verdade ela será achada. Por quê? Porque a verdade está num Deus de amor que tem interesse em iluminar os que o amam. O caminho não é só aquisição de conhecimento intelectual, de respostas a perguntas, mas é um processo de transformação interior que muda as pessoas de dentro para fora. Mas é preciso que se tenha os olhos focados em Deus, isso é algo que se faz por fé, fé pura e interessada unicamente em Deus, no que ele pensa e quer de nós.
      É prazeroso achar respostas para perguntas, mas isso, simplesmente, pode não mudar nossas almas, ao contrário, muitas vezes aceitar do jeito certo perguntas sem respostas pode nos transformar muito mais para melhor. O conhecimento pode conduzir à arrogância intelectual, mas a ausência dele, depois de buscado persistentemente, pode nos conduzir a uma humildade espiritual profunda. Deus tem interesse em responder às nossas perguntas mais importantes concernentes aos mistérios mais altos do universo? Sim, mas só depois que nosso caráter for transformado, religiões podem responder as perguntas e nos dar algum status religioso numa comunidade, mas só Deus pode nos ajudar a mudar nossos homens interiores.
      Agora, uma palavra a todos os homens, religiosos, ateus, espiritualistas, materialistas, cristãos ou não: somos todos iniciantes no conhecimento de Deus, só que alguns são iniciantes há mais tempo, ninguém é mestre, assim não nos achemos assim ou chamemos os outros disso. Saibam que Deus ama a todos, entende a todos, se importa com todos, sejam quais forem suas crenças e descrenças. Saibam também que indiferente do que igrejas oficiais cristãs fizeram e fazem de errado no mundo, Jesus é algo muito especial vindo de Deus, e isso, eu nunca negarei, ainda que eu saiba da beleza espiritual que existe em muitas religiões, em muitas crenças, em muitas descrenças, em todos os homens. 
      O que abre nossos olhos espirituais é a humildade, que reconhece Deus como o Altíssimo e que aceita que o melhor jeito de existir só ele pode dar, seja qual for o nome que se dê a esse Altíssimo, ainda que Altíssimo só exista um. Quem tem essa intenção, ainda que em caminhos escuros, chegará à luz e ao Deus verdadeiro, outros, contudo, ainda que estejam no caminho mais direto e reto do cristianismo original, se não possuem essa intenção, se estiverem tentando usar o cristianismo, ao invés de deixarem que Deus os use, estão perdidos mesmo que debaixo da luz, em trevas, ainda que falando no nome de Deus. Esses não aprenderam ainda o caminho da verdadeira espiritualidade. 
      O que é espiritualidade? É a espiritualidade cristã, essa é a mais elevada, se posicionam nela os humildes que creem em Jesus. Não, meus queridos que ainda não foram “iluminados” pelo poder do evangelho, que ainda não nasceram de novo, não olhem para o cristianismo, mas olhem para Cristo, ele não mudou em dois mil anos de história, ainda que o cristianismo tenha mudado, e tantas vezes para pior. Por que o cristianismo resiste e forte mesmo corrompido? Porque Jesus está nele, e incorruptível. Por que um Deus incorruptível trabalha num meio corrompido? Por amor, e nesse amor ele tem achado seres humildes que provam de fato a verdadeira espiritualidade, a espiritualidade cristã. 

58. Evolução Espiritual

      “No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.” Gênesis 1.1-4

      Existem textos religiosos, não cristãos, que encontram extensos conhecimentos sobre eventos primordiais e que levaram milhares de anos para acontecerem entre os primeiros versos do primeiro livro do cânone bíblico, citados acima. Talvez a maioria dos cristãos não esteja preparada para esse entendimento, e na verdade saber ou aceitar esse entendimento não é necessário para se entender o conhecimento principal que Deus quer nos transmitir pela Bíblia, Jesus. Mas algo que temos que notar no texto inicial, é que antes de qualquer coisa no plano material no universo, antes mesmo do “big bang”, Deus existia como um espírito sobre as águas, águas que podem não ser o líquido que temos hoje em mares e rios do planeta Terra. Deus é a causa primordial de tudo, tudo saiu dele, por isso tudo é atraído para retornar a ele, num processo evolutivo que começa no espírito, passa à matéria e retorna ao espírito, obviamente em passagens com muitas nuanças de variações que misturam os dois elementos em proporções distintas. 
      Para as religiões não cristãs, de maneira geral, o processo da evolução que conduz à espiritualidade prova basicamente duas experiências: misticismo e caridade. Misticismo é a crença que se pode estabelecer comunicação entre o plano físico e o plano espiritual, caridade é amor, mas mais que o sentimento, é a manifestação dele em palavras e em ação, seja com Deus, mas principalmente com os homens, de maneira altruísta, opondo-se ao egoísmo. Principalmente amor para com os homens porque muitas religiões, principalmente as espíritas, creem que Deus é alguém de nível espiritual tão elevado que simplesmente é possível, pelo menos no nosso nível espiritual atual (como eles pensam), nos comunicarmos diretamente com ele. É por essa razão que tantos buscam comunicar-se com espíritos guias, com desencarnados, com entidades, com anjos e demônios, mas não diretamente com Deus, e na impossibilidade de manifestar um amor pessoal a Deus, o amor mais elevado deve ser manifestado aos homens.
      Se misticismo é pela fé e caridade é por obras, então achamos essas experiências também na espiritualidade cristã, a diferença, como sempre, é Jesus, ele nos permite acesso ao Deus Altíssimo, acesso que outros, por ignorância ou por outro motivo, não têm. O outro motivo, meus queridos, é uma das verdades sobre a espiritualidade não cristã, por mais caridosa e crédula que ela seja, ela afasta o homem de Deus à medida que o aproxima dos principados e potestades de seres espirituais, sejam quais forem os nomes que se deem a eles. Um espírita é sincero? É um homem de bem? É um ser que busca luz e justiça? É alguém que ajuda o próximo? Sim, sim, sim e sim, e se não for, o é tanto quanto não são alguns que se dizem cristãos. Entretanto, com tudo o que eles sabem e fazem de correto, não conhecem a Jesus, não como o único e suficiente salvador, e me perdoem, amigos espíritas, eu os entendo, mas essa é a verdade. Quem conhece a Jesus do jeito certo tem a vida mudada de uma maneira que nenhuma outra religião muda. 
      Mas seja como for, um princípio básico na grande maioria das religiões, é que o ser não é alguém passivo e parado no universo, ele é atraído para seguir num caminho que o leva mais e mais a uma iluminação, iluminação essa que o liberta da carne e o faz mais espiritual. Essa espiritualidade, contudo, não é algo que se manifestará só no plano espiritual, ele é evidenciada no plano físico, assim, para muitas metafísicas não cristãs o homem evolui à medida que existe no mundo, encarnando e reencarnando nele, numa evolução que pode demorar centenas, milhares de anos. Essa evolução, conforme pensam eles, também fará com que o ser humano desperte faculdades espirituais e psíquicas no plano físico, assim espiritualidade não é só virtudes morais, mas um certo poder espiritual manifestado na carne que torna homens em deuses. Essa é uma diferença em relação ao cristianismo, que ainda que sua espiritualidade disponibilize os dons do Espírito Santo, não crê numa evolução dessa forma.
      Transformar homens em deuses parece ser mais o desejo da serpente do Éden, isso para que possa se opor ao Deus altíssimo, não unir-se a ele, e eis o objetivo maior do “diabo”, dividir um poder indivisível, ocupar uma posição inalcançável, receber uma adoração impossível. Deus não divide seu poder, sua posição só é alcançada em Cristo, e só ele pode receber adoração, assim o que o diabo quer e diz que o homem pode ter é uma mentira, um engano, que só conduz à segunda morte, ao inferno, à separação espiritual de Deus. A verdade mais profunda é perigosa, por isso Deus ordenou ao casal mítico no Éden que não comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e meus queridos, o conhecimento que eles tiveram não adveio do fruto, o fruto não tinha poderes mágicos, era apenas um teste. O conhecimento veio pela desobediência, pelo pecado, e foi um conhecimento, ainda que verdadeiro, ruim, prejudicial, amargo. Antes do tempo? Talvez, Deus tudo sabe e sabia que o homem não passaria no teste. 

59. Causa e efeito

      “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá.” Ezequiel 18.20-22
 
      Na evolução espiritual que as religiões não cristãs acreditam e que é o processo que conduz o ser à espiritualidade mais alta, tal posição superior é alcançada conforme se conhece, administra-se e evita-se as consequências de ações ruins que se pratica, que os cristãos chamam de pecados. Enquanto o cristão crê que basta pedir perdão no nome de Jesus, entendimento que se for raso demais pode conduzir a irresponsabilidades e crenças em utopias, religiosos orientais, espíritas, esotéricos e outros, entendem que precisam lidar com as consequências dos erros com prática real de vida melhor, que se manifesta em obras, não só em fé. Assim, evolução espiritual para muitos não cristãos, é um árduo e demorado trabalho humano, não simples recebimento de graça divina, para isso o conceito do Karma é um princípio muito usado, mas que de certa maneira também existe no cristianismo.
      Karma (ou carma, do sânscrito कर्म, em páli, kamma, ambos os termos significam "ação"), é um dos princípios das religiões orientais, presente no hinduísmo, no budismo, mas também no xintoísmo e em outras, e mesmo em esoterismo ocidental, ainda que chamado de outro nome (como princípio hermético, na Cabala etc). Ainda que de formas um pouco diferentes, esse princípio diz o seguinte: no hinduísmo refere-se ao efeito que nossas ações geram em nosso futuro, no budismo se refere às nossas intenções, que podem ser boas, más ou neutras, boas intenções geram bons frutos, más intenções geram maus frutos. Mas de maneira geral é causa e efeito, que está relacionado também com um princípio científico da física, a 3ª Lei de Newton (princípio da ação e reação) que diz: a toda ação sempre há uma reação de mesma intensidade e direção, porém de sentido oposto. 
      Por que estou mencionado isso aqui, num estudo sobre Espiritualidade Cristã? A Espiritualidade Cristã nada mais é que retornar ao criador, ao Deus Altíssimo, aquilo que teve origem nele, assim na prática ela respeita esse princípio, que outras religiões estudam com mais profundidade, ainda que a Bíblia não o cite de forma clara. Dentro de evento causal original e maior que é Deus, todos nós estamos, assim boas obras sempre trazem de volta bons frutos, colhe-se o que se planta, o homem que pecar esse morrerá, são outras maneiras de se referir ao princípio Karma dos religiosos orientais. É claro que sabemos que as outras religiões pensam esse princípio de maneira mais abrangente, incluindo para explicar a necessidade de reencarnação, doutrina que o cristianismo tradicional não aceita, principalmente porque em Cristo todo efeito negativo de condenação espiritual eterna é anulado. 
      A anulação de Cristo não é de graça, experimentada pelos homens, sim, mas não foi para Deus, Deus teve que morrer e ressuscitar em Cristo para anular o efeito fatal do pecado e então poder salvar o homem. Assim, o Deus do cristianismo respeita o “Karma”, senão bastaria a ele decretar que quem cresse nele seria salvo e perdoado, mas nunca foi assim, para que um vivesse outro deveria morrer. Na velha aliança Mosáica sacrificavam-se  animais, e na nova aliança do evangelho Jesus foi sacrificado. Você pode até não entender o que está sendo dito aqui, mas precisa aceitar que causa e efeito, o Karma, é um princípio real, mesmo no cristianismo. Contudo, a grande diferença do cristianismo em relação às outras religiões é a salvação completa de Cristo, por isso o diabo pode aceitar e ensinar muitas coisas, coisas boas e verdadeiras, mas sempre negará a Jesus, o mais importante.
      No mundo material, o princípio de causa e efeito vale sempre, e ainda que o homem tenha sido perdoado, tenha paz e segurança da melhor eternidade com Deus, as consequências de seus atos ruins neste mundo são colhidas. Ninguém espere que basta fé para não ser preso por um crime que cometeu ou punido judicialmente por ter infringido alguma lei fiscal, dai a César o que é de César. Mesmo regras morais e sociais, como tratar as pessoas com educação e respeito, se desobedecidas geram consequências, e muitas vezes num momento em que a pessoa mais precisa de respeito e atenção, as mesmas coisas que ela um dia não deu a alguém. Vivamos neste mundo com cautela, o homem é injusto, mas o universo é justo, já Deus é misericordioso com aqueles que o buscam por Jesus, todas as nossas obras, contudo, têm consequências e nós as colheremos, em algum momento. 

60. Alfa e Ômega

      “Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro.” Apocalipse 22.13

      Todo bem feito no universo deve-se ao criador, todo mal feito, deve-se à criatura. Se você faz algo bom, glória a Deus por isso, não a você, mas se você faz algo ruim a responsabilidade é toda tua para colher as consequências disso. Se Deus é glorificado por um bem a ele também caberá recompensar quem fez o bem, e não cabe a quem fez exigir isso de alguma maneira, e se alguém não o reconhecer por isso, prestará contas a Deus. O bem verdadeiro vem de Deus e para ele volta, que novamente o devolve quando, onde e a quem achar justo. O mal que o homem faz permanece nele, o deixa em débito, assim não receberá de Deus justiça e ficará desprotegido do mal de outras criaturas, sejam físicas ou espirituais. 
      Vamos agora interpretar isso na prática de nossas vidas, em nossas vidas materiais, já que o bem não se realiza só nas áreas espirituais e morais, com paz e justiça, mas também em prosperidade material. Funciona do mesmo jeito, aliás, para Deus não existe material e espiritual, ele reina sobre tudo e todos, homens, espíritos, anjos e demônios. Isso não significa que você terá que trabalhar, estudar, se esforçar, e permanecer depois como um monge, na possibilidade de não receber nada por isso e na obrigação de ainda assim ser grato e não reclamar. O universo é uma máquina bem azeitada, se não vemos isso é porque estamos olhando de perto, já que de longe, no tempo e no espaço, tudo acontece de forma equilibrada.
      Um segredo de viver em paz é fazer como se não estivesse fazendo, não é não fazer e achar que pela fé as coisas acontecerão sem nossa atuação, isso é loucura e irresponsabilidade. Se agirmos assim, fazer como se não estivéssemos fazendo, a passagem por este mundo será leve, não esperará dos homens o bem que eles não podem dar nem os culpará pelo mal que nos dão. Se recebemos algum mal os únicos culpados somos nós mesmos, se não por termos feito algum mal, será por termos esperado o bem da origem, no tempo ou no lugar errado. Isso quer dizer que a existência aqui não tem graça? Não, mas quer dizer que ela é menor diante do que somos, do que é o universo, do que é Deus, isso quer dizer que devemos olhar certo.
      O entendimento de que o bem vem de Deus e para ele deve voltar é mais que um saber intelectual, é o conhecimento de um mistério espiritual, faz com que nos vejamos mais que como corpos de carne numa batalha injusta, num mundo mal e com homens egoístas, corpos fadados ao envelhecimento, a serem instalações de doenças e de culpas. Esse entendimento faz com que assumamos os seres eternos que somos, cujas missões são mais que terem famílias e boas vidas financeiras. Nossa missão é rumar ao Altíssimo, no qual não há fome, sede, nem nenhuma outra necessidade a ser saciada, porque é a essência espiritual primordial de tudo, de onde viemos originalmente e em quem acabaremos na melhor eternidade.
      Em Deus não há expectativas, ilusões nem surpresas, isso tudo é o início de toda dor e sofrimento, quem espera sempre se frustra, quem se ilude sempre se desilude, e se surpreende quem não sabe por onde anda porque olhou errado, olhou para baixo e não para o alto. Devemos olhar certo, para o lugar certo, que não é físico, neste mundo, em status social, bens ou em usufrutos materiais, devemos olhar para o Deus Altíssimo, o alfa e o omega, a vida eterna de luz, bem, paz e amor. Assim, a carne luta contra o espírito porque são opostos, incompatíveis no homem neste mundo, cabe-nos achar forças em Deus para convivermos com essa incompatibilidade, cientes de nossas limitações, nunca acreditando só em nós. 
      Isso é injusto, Deus é injusto por nos fazer viver assim? Não, ele apenas prova o nosso melhor e mais eterno, por isso a vitória nesta existência estranha aqui só se alcança na humildade de aceitarmos que não somos vitoriosos em nós mesmos, mas em Deus, por Deus, através de Deus, por isso é preciso entender que o bem verdadeiro só pode vir de Deus e para ele voltar. Não, isso não é masoquismo ou baixa autoestima, é elevar o espírito acima da carne, a eternidade acima deste plano, é entender a nossa existência maior e melhor, e é aceitarmos que só seremos felizes em Deus no plano espiritual. Isso representa o cerne da nova aliança que Jesus entregou no evangelho, a mais alta e verdadeira espiritualidade.

61. Surpresas na eternidade

      “E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração. Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém.“ I Pedro 4.7-11

      Leio muito sobre religiões, profundamente, textos hinduístas, budistas, espíritas, esotéricos, assim como estudo filosofia e conheço essa nova visão que entende a necessidade de novos conceitos de família, sexualidade e igualdades. Não tive medo de conhecer aquilo que parece ir contra o que a teologia cristã protestante tradicional pensa, ou diferente daquilo que a doutrina evangélica pentecostal ensina. Deus me libertou de preconceitos para entender que o que está por trás das diferenças não é um “diabo” inimigo de Deus, não, são os seres humanos que estão por trás, seres diferentes e com tanto desejo e direito de serem felizes como os cristãos. O diabo é só um espectador condenado. 
      Creio em céu e inferno, mas construídos no plano físico e dele levados para o plano espiritual, não creio que na eternidade acontecerão coisas como num passe de mágica, e não entenda isso como mera metáfora, o que ocorrerá é só uma libertação do espírito. Seremos livres para sermos o quê? O que somos de fato, sem as cadeias do corpo físico, de suas paixões, ilusões, vícios, medos e encantos. Na eternidade não há lugares ou maneiras para fugas e escapismos, os refúgios que a carne oferece, no tempo e no espaço, não existem lá, por isso é tão importante construirmos ainda neste mundo um espírito reto, que de fato ama o bem, que deseja as coisas de Deus mais que as da carne.
      É isso que levaremos e é isso que será libertado e que nos dará o direito a melhor eternidade de Deus. Cristão, você diz que ama a Cristo? Então, viva esse amor na prática, “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama, e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele“ (João 14.21). Quanto aos outros, creiam, podem ir além que de entidades, anjos e espíritos, e o caminho é Jesus, o texto que diz “disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14.6), não é mero extremismo cristão, é uma verdade, e perdoem os cristãos por não serem coerentes com a verdade em que acreditam. 
      Muitos de nós protestantes e evangélicos, mas também católicos e outros cristãos, levamos toda uma vida para descobrir que o que nos encantou no início de nossas caminhadas no cristianismo, que de fato mudou nossas vidas, não foram as igrejas, as belas palavras que ouvimos em púlpitos, não foram os louvores, as liturgias, nem as comunidades cristãs, o afeto de irmãos ou a oportunidade de sermos úteis que o mundo não nos deu, fazendo parte de algo maior, organizado e focado, tudo isso é lindo, mas não foi isso. O que nos marcou de forma diferenciada foi Jesus, ele esteve presente mesmo nas igrejas mais afastadas da igreja cristã original, e cuidou de nós, com um amor especial, sempre. 
      A todos, contudo, deixo o termo “multiforme graça de Deus”, presente no texto inicial, ah, se entendêssemos de fato que Deus manifesta sua multiforme presença nas vidas de todos os seres humanos, cristãos ou não, que o maior e mais lindo quadro que Deus pintou, sua obra prima artística que é o universo material, precisa de cada ser humano, de todos os tempos, lugares e credos, para ser completo, e que o Deus altíssimo não faz acepção de pessoas, nunca, ainda que alguns escolham esperar mais tempo para compor esse quadro. Entretanto, talvez, só talvez, o nível de espiritualidade de cada um de nós esteja inversamente ligado ao grau de surpresa que teremos quando entrarmos no plano espiritual.
      Como você será surpreendido na eternidade, para melhor ou para pior? “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” (I Coríntios 2.10-11). O que tem o Espírito Santo e a ele dá liberdade está corretamente preparado, porque já começou a viver a verdadeira espiritualidade aqui e consigo a levará para o céu. 

62. Prossigamos em conhecer a Deus

      “Vinde, e tornemos ao Senhor, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele. Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva seródia que rega a terra. 
      Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa. Por isso os abati pelos profetas; pelas palavras da minha boca os matei; e os teus juízos sairão como a luz, Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” 
Oseias 6.1-6

      O texto de Oseias é uma lição de espiritualidade cristã, podemos aprender várias coisas com ele. Em primeiro lugar ele faz um convite para que todos nos aproximemos de Deus, eis algo que precisamos aprender a fazer, acima de tudo nesta vida, convidar as pessoas para chegarem mais perto de Deus. Não de religião, não de crenças, mas do único e verdadeiro Deus, e por dois motivos básicos. Em primeiro lugar porque ele existe, e em segundo lugar por ele tem boas coisas para aqueles que se achegam a ele. “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam“ (Hebreus 11.6), aproximemos-nos de Deus, e com fé, pois ele abençoa os que se aproximam assim, e sem acepção de pessoas. Deus sempre tem as portas de seu coração abertas. 
      Contudo, o convite que o profeta faz é mais que para um encontro, é para um reencontro, a quem um dia esteve perto do Senhor, por ele foi abençoado, mas que depois, por rebeldia, por imaturidade, por dar prioridade a alguma vaidade ou a algum prazer passageiro dessa vida, por ser enganado por uma ilusão, se afastou, e quem se afasta, principalmente depois de ter conhecido o melhor de Deus, paga um preço caro. O profeta admite esse preço, reconhece que ele é disciplina do Senhor para com os rebeldes, mas agora, num estado de quebrantamento acredita que o mesmo Deus que disciplinou, que feriu, poderá curar a ferida. Interessante as palavras “depois de dois dias nos dará a vida, ao terceiro dia nos ressuscitará e viveremos diante dele”, o profeta aceita que certos processos de reaceitação não são rápidos, mas ainda assim valem a pena.
      Amo as palavras que seguem, “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor“, Oseias revela a profundidade que existe no conhecimento de tudo através de Deus, ele fala da vocação mais alta que todo ser humano tem, acima de qualquer outra coisa. Essas palavras me passam a sensação de algo que nos leva a uma expectativa apaixonada para experimentar uma aventura maior, o profeta diz que conhecer a Deus é uma experiência que nos instiga a mais e mais prosseguir aprendendo. Conhecer a Deus não é saber algumas doutrinas religiosas, cumprir alguns sacramentos, para depois cair num tédio que faz com que as coisas percam a graça, onde não existam mais novidades, não é um curso primário, e nem só um curso superior, mas pós, pós e pós graduações que vão iluminando nossos caminhos em direção ao Deus Altíssimo.
      Infelizmente conhecer a Deus é uma maravilhosa aventura que grande parte dos cristãos não usufrui, muitos seguem fieis a ritos e tradições, como que por obrigação, com medo de pararem e serem castigados, mas ainda que assíduos a cultos e missas, desligam-se do Espírito de Deus. Conhecimento de Deus não é só informação intelectual, é comunhão com o Espírito Santo, quem se nega a isso morre, ainda que seja um bom religioso. Mortos amam mortes e enterros, preferem fazer sacrifícios que experimentar misericórdia, por isso a exortação que segue no texto, “vossa benignidade é como a nuvem da manhã... que cedo passa”. Conhecer a Deus é viver, é praticar a verdadeira espiritualidade, quem não persiste em conhecer o Senhor poderá até ter cargo em ministério, ser um cristão ativo, mas não terá vida espiritual que gere frutos de justiça.
      Meus queridos e minhas queridas, Deus me levou a fazer esse longo estudo sobre espiritualidade não para tentar exibir conhecimentos teológicos ou bíblicos, para isso existem materiais bem melhores, mas o objetivo foi compartilhar minha experiência de vida com o Senhor. A essa altura do campeonato, nesse ponto de minha vida, não tenho mais tempo para preconceitos ou hipocrisias, nem para defender teorias que não levam a nenhuma prática de vida realmente cristã. Me cansei dos púlpitos falsos, que falam e falam, alguns nos levando às lágrimas com palavras proféticas incandescentes, outros encantando nossos intelectos com estudos bíblicos profundamente embasados, mas sempre levando as pessoas a mesma qualidade de vida fugaz que tinha Efraim e Judá no texto acima, que passa “como o orvalho da madrugada”. 
      Existe vida em Cristo, que se manifesta em nós através do Espírito Santo e que nos conduz ao Deus mais alto à medida que nos ensina coisas maravilhosas, isso é acessível aos que querem, buscam e prosseguem conhecendo. Não desistam, o que muitos dizem ser o final é só o início, acreditem, e muitos não têm interesse em que tenhamos esse conhecimento, homens e seres espirituais rebeldes a Deus. Mas é preciso coragem e total desprendimento de necessidade de aprovação humana, os que querem viver para os homens serão escravos da carne, fora e dentro de igrejas. Contudo, é preciso também humildade, para não se deixar ser seduzido pelos anjos caídos, que querem nos desviar do altíssimo não pela ignorância, mas pela arrogância que acham nos corações daqueles que querem ser deuses que serem adorados, e não adoradores. 

63. Conhecimento é vida

      E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17.3

      Sede de conhecimento espiritual é uma boa curiosidade, alguns a têm de forma mais natural, se for o teu caso não tente supri-la com teorias de conspiração, com explicações fantasiosas que existem aos montes no mundo, essas são mais ferramentas de manipulação, que de fato explicações verdadeiras. A verdade está na fonte, assim acesse-a de preferência em primeira mão, diretamente de Deus, “quem conta um conto sempre aumenta um ponto” e cada um armazena informação com as ênfases que lhe convêm, busque em Deus as tuas respostas. Mas se você não for curioso, cuidado, isso pode não representar uma virtude, mas só um desinteresse de quem ou não entendeu ou se esqueceu que amar a Deus é fonte de vida que nos atrai a ele nos faz crescer, “buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55.66).
      Podemos correr o risco de quando mais precisarmos termos dificuldades de achar a Deus, não porque Deus se esconda de nós, não é Deus quem se afasta, são nossos corações que podem se esfriar de tal maneira que não sintam mais vontade, que não tenham mais fé, que não experimentem mais a curiosidade espiritual, que nos leva a prosseguir querendo conhecer mais e mais a Deus. “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir, mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Isaías 59.1-2). Com Deus só tem uma direção a seguir, para frente e para cima, não se acomode, mas continue, conhecendo a Deus, ore mais, obedeça mais, viva mais a espiritualidade cristã.
      “Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal.” (Provérbios 1.33), a curiosidade que nos dá vida espiritual não é vontade que se origina na alma do homem que deseja saber sobre coisas que não têm explicação, mas é iniciativa de Deus para revelar ao homem aquilo que ele precisa saber para ter uma vida espiritual sadia. Dessa forma, querer conhecer mais a Deus é uma questão de desobediência, quem se acomoda desobedece e se enfraquece, mas alguém pode perguntar, “mas como faço isso, lendo mais a Bíblia, indo a mais cultos, frequentando a E.B.D.? Também, mas o mais importante é orar dando liberdade para o Espírito Santo, o mestre é o Espírito Santo, e comunhão com o Espírito é algo que só se aprende fazendo, coisas espirituais se aprendem do jeito espiritual, debaixo do poder do nome de Jesus. 
      Os cristãos, por medo, que os leigos têm e os líderes querem manter para terem controle sobre os leigos, acabaram se afastando de experiências espirituais mais profundas, com isso passaram a crer e a ensinar uma religião de teorias, não de práticas. Por isso tantos preferem os espiritismos e esoterismos, essas crenças se aprofundam na comunicação e no conhecimento espiritual e entrega aos homens uma espiritualidade mais legítima e prática, ainda que ao não colocarem Jesus como único e suficiente salvador se perdem nos principados e potestades e não alcançam o Deus Altíssimo. A verdade é que o protestantismo, ainda que tenha pretendido um retorno ao cristianismo primitivo, o fez dentro de paradigmas católicos, sabemos que Martinho Lutero nunca quis deixar de ser católico, só queria se libertar de burocracias e de hierarquias religiosas.
      De fato Martinho Lutero e outros protestantes fizeram uma reforma, mas não fizeram uma transformação, simplificaram mas mantiveram os fundamentos, do cristianismo original? Não, do catolicismo, mesmo que sem os “santos”, ainda somos católicos, caros irmãos evangélicos, não nos enganemos, dessa forma ainda presos a lei (ao cânone bíblico) e não ao Espírito, a liturgias e não à liberdade de culto, a tradições e não ao conhecimento vivo e gradativo de Deus. Não, a palavra de Oseias 6.3, “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor”, não se aplica à prática do cristianismo que muitos evangélicos vivem atualmente, e que talvez nunca tenham vivido depois do primeiro século, esses são os fatos, os que tiverem olhos abertos verão. Deus abençoou a humanidade apesar disso? Sim, mas há limites.
      Precisamos acordar, não poderemos seguir como cristãos sem de fato conhecermos a Deus, uma grande, diferenciada e final perseguição se arma, sem mudança o cristianismo não resistirá, e já não está resistindo à medida que tenta lutar contra o inimigo com armas das trevas, não da luz. Nisso a espiritualidade cristã se desprestigia, à medida que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do fica mais atrativo, entregando uma espiritualidade que respeita e valoriza todos os seres humanos. Jesus não perde o poder, mas se o homem escolher não vivê-lo a luz mais alta se apagará no mundo, e isso, meus caros, é o anti-cristianismo se manifestando. O mesmo homem que deu poder ao diabo pelo livre arbítrio pode anular a salvação de Cristo também por uma simples escolha, Deus deu o mundo ao homem e esse pode dá-lo a quem escolher dar. 
      O texto inicial desta reflexão é o lema do blog “Como o ar que respiro”, uma das coisas que me dá segurança em compartilhar o que entendo em Deus como sendo espiritualidade cristã é João 17.3, me veio ao coração em maio de 2010 quando criei o espaço. Não foi só mais um de tantos versículos importantes na Bíblia, mas representa o centro de minha chamada neste mundo, que só vem se fortalecendo nesses dez anos de blog, chamada que me leva a não me acomodar com o tradicional e nem me prender a pré-conceitos, mas prosseguir, conhecendo a Deus, nisso tenho achado vida, libertação de vícios e vaidades, iluminação que me realiza e que me faz feliz. Com ele encerro o estudo “Espiritualidade Cristã”, exortando a todos que conheçam mais de Deus, e que não parem enquanto não acharem felicidade real que permanece. 

64. O que é ser espiritual?

      O espiritual crê que só através de Jesus pode chegar ao Deus Altíssimo, sabe que só assim pode conhecer a verdade mais profunda. 

      O espiritual não se cansa de pedir perdão, ainda que se esforce para não repetir erros, ele cresce no quebrantamento de espírito. 

      O espiritual ama a Bíblia mas vive no Espírito Santo, experimenta nele, e em mais nada ou ninguém, o mestre Jesus no mundo.

      O espiritual busca a Deus, não religiões, apesar de conseguir viver dentro delas, ser abençoado por elas e abençoar outros nela.

      O espiritual está em Cristo, mas dá ao cristianismo no mundo seu lugar como coisa de homens, assim se desvia da igreja para Deus.

       6 O espiritual respeita o mundo e seus poderes, o livre arbítrio dos homens e suas religiões, ele não é violento nem em nome da verdade. 

      O espiritual é livre, não libertino, é tolerante, mas assume convicções, não tem preconceitos, se dá ao direito de questionar sempre. 

      O espiritual protege as crianças, abraça os idosos, é paciente com os jovens e conhece as astúcias dos seres espirituais rebeldes e dos políticos.

      O espiritual conhece o coração do homem, pois conhece o próprio coração, sabe quão águas profundas é, a verdadeira intenção está no fundo.

      10 O espiritual trabalha muito pela manhã, administra o suficiente à tarde e descansa à noite, ele conhece os tempos e os respeita. 

      11 O espiritual não tem medo de pagar preços, ainda que sofra sabe que importa morrer para renascer mais iluminado em uma só vida.

      12 O espiritual não teme a verdade, ainda que por ela perca aprovações, ele a mostra com firmeza, resistindo aos ventos da mentira.

      13 O espiritual não tem vaidades nem se apega às aparências, nem a de ser espiritual, ele sabe que o mais importante está no interior. 

      14 O espiritual não receia o tolo que grita, ele tem o argumento que mesmo no silêncio prevalece e alegra só por existir, não por se opor. 

      15 O espiritual ainda que caia, levanta-se, ainda que se desonre, se limpa, ainda que desacreditado, acredita, ainda que esquecido, ama. 

      16 O espiritual encontra e cala, mede o valor do que encontrou e cuida, satisfaz-se só em saber, não tem necessidade de dizer e contradizer. 

      17 O espiritual não engessa a espiritualidade, não se ilude com o saber nem despreza o não saber, ele vê Deus em todas as criaturas. 

      18 O espiritual se constrói neste mundo e no passar dos anos, e ainda que comece lá embaixo, vai subindo, como o sol ao amanhecer.

      19 O espiritual faz parte da solução, não do problema, isso o tempo sempre revela, e os que tiverem a menor honestidade reconhecerão. 

      20 O espiritual acha abrigo na paz que perde para ganhar, que cala para conhecer a Deus e a si mesmo, que não liga para palcos e púlpitos.  

      21 O espiritual sabe o tempo de se retirar, espera a morte tranquilo, não como quem vai sumir, mas subir, o sol nunca morre, só não é visto. 

      22 O espiritual entende e não é entendido, é odiado pelos de casa, ignorado pelos da rua, e ainda assim abençoa a todos e não represa rancores. 

      23 O espiritual percebe a história, não acorda como se o juízo final fosse ao meio-dia, mas dorme como se fosse encontrar Deus na madrugada. 
      
      24 O espiritual deseja um lugar com os luzeiros de Deus, não precisa ser um lugar vip, só um cantinho onde possa se unir ao amor divino eterno. 

José Osório de Souza, 30/09/2020

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