sábado, julho 31, 2021

Princípios

      “E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” João 8.10-11

      Algo que me marcou quando vim para o cristianismo protestante, foi a seriedade como ele trata o pecado e a reputação. Antes mesmo do batismo, éramos orientados a acertarmos nossas vidas, deixarmos vícios básicos, como tabaco e álcool, colocarmos vida matrimonial em ordem, pedirmos perdão para pessoas, caso tivéssemos coisas não resolvidas como discórdias ou males cometidos que de alguma forma tivessem ofendido ou machucado alguém. Da mesma maneira era a disciplina, caso alguém, que já fosse membro oficial do hall, “pisasse feio na bola”, seria deletado da igreja. 
      Contudo, acho que algumas coisas que funcionavam com convertidos de trinta, quarenta anos atrás, não funcionam mais com convertidos de alguns anos para cá, não que o pecado esteja menos relevante, mas com certeza as pessoas ficaram, digamos assim, bem mais complicadas, principalmente na área de sexualidade e matrimônio. Por outro lado, falando honestamente, na minha época - me converti em 1976 numa Igreja Batista tradicional - havia muita hipocrisia e superficialidade, coisas sérias e profundas não eram tratadas, só jogadas para longe, o “culpado” ficava sozinho.
      Eu mesmo tive que ser tratado sozinho por Deus em várias áreas, sem ajuda de minha igreja de origem. Infelizmente, principalmente em algumas igrejas protestantes tradicionais, com membros mais de classe média, ainda hoje existe um forte falso moralismo, que julga as pessoas por obras, não têm um trabalho eficiente de gabinete pastoral, de “cura interior”, de aconselhamento em amor, que de fato permita às pessoas serem tratadas. Algumas coisas ainda são simplesmente julgadas como pecados imperdoáveis, submetendo os que os praticam à sucinta exclusão do hall de membros.
      Por outro lado, e isso mais no meio mais pentecostal, com membros de classes mais baixas, os erros parecem ser mais tolerados, e se forem da liderança, talvez por motivos políticos ou financeiros, quando alguém “cai em pecado” não é disciplinado com tanta dureza, por favor, não estou generalizando nada, apenas constatando fatos. Mas de maneira geral dificuldades no casamento ainda são vistas de forma equivocada, e esse é um assunto bem complexo, que não pode ser resolvido passando a mão na cabeça ou excluindo, existem muitos tons de cinza entre o branco e o preto. 
      Não vou fazer aqui mais um estudo minucioso sobre a passagem da mulher adúltera, citei o texto inicial só para compartilhar o principal, a palavra de Jesus “nem eu também te condeno, vai-te e não peques mais”. Cristo não menosprezava o pecado, mas também não o espetacularizava, como já vi ser feito em sessões de exclusão de igreja, Jesus era objetivo visando a recuperação, não a condenação. A solução do evangelho para o pecado é uma, amor a Deus e aos homens, quem ama a Deus deseja santidade e quem ama os homens age com misericórdia, não com preconceitos ou displicência.
      Vou compartilhar um sonho que tenho para as igrejas cristãs não católicas, ainda que diferenças sejam úteis, que visões distintas de costumes, mesmo interpretações variadas de doutrinas devam existir, ainda que deva ser assim para que cada ser humano em sua idiossincrasia ache o cristianismo mais confortável, desde que não se mude o principal, meu sonho é: bom seria haver uma união das denominações. Para quê? Para zelar pela qualidade do cristianismo, para disciplinar quem precisa, ajudar quem quer ajuda. Isso testemunharia um evangelho mais próximo do original num mundo descrente.
      Quando vejo a mídia veiculando com prazer sórdido um escândalo do meio cristão não católico, generalizando nas entrelinhas de maneira injusta o povo crente, como se todos fossem iguais e de baixa qualidade, como seria bom se um grupo que representasse os evangélicos e protestantes se levantasse e se posicionasse. Que fosse então disciplinado quem escandalizou e deixado claro para a mídia e para o mundo que isso é uma exceção, não uma regra, enfatizando que existe crente que não vive só para trocar dízimos e fé por bens materiais, mas para praticar o evangelho verdadeiro de Cristo. 

sexta-feira, julho 30, 2021

Pão espiritual da boca de Deus

      “Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o Senhor jurou a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.Deuteronômio 8.1-3

      “Se eu não comer, não beber, não dormir, eu não vivo”, todos nós pensamos assim. Mas quem permite que estudemos e trabalhemos para ganharmos dinheiro para comprarmos comida, bebida, roupas e poder ter um lugar protegido para dormir? É a palavra de Deus, e com palavra de Deus não nos referimos só aos registros de homens com experiências com Deus feitos no cânone bíblico. A palavra de Deus é o imperativo espiritual que mantém os planos físico e espiritual existindo, todo o universo visível e invisível, incluindo a natureza, as existências humanas, nós, eu e você. 
      Se uma permissão divina for dada um raio pode cair na minha cabeça, ainda que eu esteja protegido em minha casa, mas um carro também pode perder o controle e me atropelar, ainda que eu esteja tranquilo indo à igreja. Entretanto isso pode ser ainda mais sério, se o imperativo de Deus autorizar, um meteoro pode bater no planeta Terra e causar a morte de muita gente, nos acostumamos tanto com a vida que não paramos para pensar o quanto somos frágeis, o quanto a vida é muito mais que pagar o pão de cada dia. A palavra de Deus, esse é o verdadeiro pão que nos sustenta. 
      Jesus usou parte do texto bíblico inicial para repreender Satanás em sua tentação no deserto, “está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus” (Lucas 4.4b), isso parece simples de praticar? Mas não é, quantas vezes damos mais importância para encher o estômago que para encher o coração? E me refiro a nós que temos condição de ter a geladeira cheia de mantimentos, como é difícil para gente ansiosa, que sente fome o tempo todo, fazer um sacrifício agradável a Deus de um jejum por uma causa realmente importante, espiritual, não material. 
      Jejum não é cambiar abstinência física por algum favor material, não é isso, isso é trocar seis por meia dúzia, ficar uns dias comendo menos para ter um aumento de salário para poder comer rodízio com mais frequência. Muito crente sincero e que quer se consagrar não entende que o poder do jejum não é convencer o Senhor que temos fé e somos devotados a ele, para que ele nos dê algo, mas é acalmar nossas almas e permitir que nossos ouvidos espirituais se abram para ouvirmos mais a Deus. Deus não precisa do nosso jejum, somos nós que precisamos, para sermos transformados. 
      Precisamos de uma palavra de Deus todos os dias, não deveríamos ir para a cama sem descansarmos nossas almas e acharmos paz no silêncio, e não tentando saciar ansiedades entupindo-nos de comida. Isso nos permitiria ouvir a voz do Senhor e alimentarmos, não nossos corpos, mas nossos espíritos, o Espírito Santo tem algo para nos dizer todos os dias, ainda que seja só “descansa e fique em paz”. O alimento não está em sabermos algo racionalmente, isso podemos saber e continuarmos agoniados, somos alimentados quando recebemos a palavra que sai diretamente da boca de Deus. 
      Isso é vivermos o cristianismo pelo Cristo, no Espírito Santo, e não pela razão, só por nossas capacidades mentais e emocionais, nessas capacidades só achamos a morte, ainda que seja celebrando a vida. A vida está no Espírito Santo, ele dizer-nos “acalme-se” vale mais que um textão construído com os melhores argumentos teológicos, a palavra do Deus vivo é fogo que não consome e que nos aviva espiritualmente. Esse é o único alimento que pode vivificar nossos espíritos e se os espíritos estiverem vivos, corpo, mente e coração serão renovados, em paz e fortes para seguirem. 

quinta-feira, julho 29, 2021

Imaginar o mal não faz bem

      “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.I Coríntios 4.5

      Imaginar o mal não faz bem, olhar uma situação, analizar uma pessoa de longe, observar uma conversa à distância, e nessas situações sempre achar que algo ruim está sendo dito ou feito, nenhum bem nos traz. Você já percebeu que quando olhamos algumas coisas de longe nunca imaginamos algo bom? Quando vemos pessoas falando e rindo a nossa tendência é sempre achar que estão criticando alguém, e não raras vezes a nós? Isso não é paranoia de alguns, é fraqueza de muitos, mesmo que não assumam, que não verbalizem. Em raras situações isso não ocorre, poucas pessoas não nos levam a fazer juízo maldoso, mas com que facilidade nossa cabeça se torna rádio sintonizado em estação ruim.
      Nem precisa ser algo doentio que depois gruda em nós e nos atormenta por algum tempo, basta que seja um pensamento passageiro, se paramos por um momento para fazer o que não temos que fazer, que é cuidar da vida alheia, podemos tecer julgamento errado, e mais que isso, destrutivo. Dificilmente julgamos bem, ainda que sem conhecimento da verdade, ainda que só como imaginação, por que isso? Porque isso é uma tendência humana, mas também oportunidade aproveitada por seres espirituais do mal, que percebem uma fraqueza nossa e lançam sobre nossas mentes raciocínios tóxicos, invenções mentirosas, julgamentos injustos, para tirar nossa paz e nos jogar contra os outros. 
      A existência é basicamente mental, pensamos mais que falamos e fazemos, e o pensamento dispara a emoção que nos faz criar e sentir toda uma história, com enredo e personagens. É por essa razão que a Bíblia nos exorta tanto a vigiar na mente, por isso Jesus ensinou que o primeiro e mais importante pecado ocorre em nossas cabeças e em nossos corações, mesmo que nem se manifeste em ações. A mente é o maior campo de batalhas que existe, a vitória dos demônios sobre os homens começa nela. Se eles nos vencem em nossas mentes experimentaremos o pecado em nosso corpo mesmo que seja só nos sentimentos, e isso já torna o pecado real para nós, praticá-lo só envolverá outras pessoas. 
      Existem pessoas que têm mais facilidade para se isolar, não são tão imaginativas, mas isso pode ser mais deficiência que potência, pode ser insensibilidade, muitas vezes construída como mecanismo de defesa por causa do muito que se foi machucado. Mas quem tem coração, sente, quem tem cabeça, pensa, a questão é administrar isso bem, ocupá-los com coisas boas, altas, espirituais, e não com julgamentos maléficos. Precisamos entender que nosso mundo interior é a ferramenta que Deus nos dá para termos comunhão com ele e adquirirmos conhecimento do mundo espiritual, usemos essa ferramenta para a finalidade mais nobre assim nossas capacidades serão bençãos, não maldições. 

quarta-feira, julho 28, 2021

Deixe o outro ser outro

      “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.Apocalipse 22.11-12

      Não lute desnecessariamente por si mesmo, não se defenda diante do tolo, não queira dar a última palavra e às vezes nem a primeira. Se alguém tem a necessidade de se achar melhor que você, que se ache, e quer saber? Muitas vezes os outros são melhores que nós, devemos aceitar isso. Contudo, sem nos vitimizarmos ou nos frustrarmos, mas quebrantados diante de Deus que recebe o humilde e sempre permite que esse parta consolado. Quem está em paz com Deus não precisa provar nada a ninguém, e nos dias de hoje, com a polarização política, com gente se levantando defendendo esse ou aquele ponto de vista, muitas vezes desprezando bom senso e ciência, é importante demais não trocarmos nossa paz por fake news.
      Se alguém tem um ponto de vista diferente do nosso, e isso em si nada tem de errado, mas se tem e não tem temor do Senhor para exercer esse ponto de vista, e assim precisa agredir para se sentir melhor que os outros, mais informado, até mais cristão, cale-se e fique em paz. Na verdade, muitos que se envolvem em conflitos por motivos políticos, sempre tiveram algum problema pessoal não resolvido, algum recalque, alguma insegurança, mesmo alguma inveja e mágoa, o campo político só lhes deu uma causa (errada) para lutar, um álibi para odiarem. Se esses tivessem se resolvido em Deus e tivessem buscado Deus como causa maior de suas vidas, nem tomariam partido de homens em luta de homens maus num mundo mau.
      Não sejamos carnais como os que sempre foram carnais, para esses mudam as militâncias, mas seus corações continuam sujos e feridos, por não buscarem limpeza e cura no Altíssimo seguem enganando-se, achando-se melhores que os outros por portarem essa ou aquela arma. Mas quem está nas trevas não pode militar com as armas da luz, por mais sofisticadas e amedrontadoras que essas armas pareçam ser, são trevas, mentiras, enganos. Que os da luz continuem na luz, por esses quem lutam são os anjos de luz do Deus da luz mais alta, e por isso não precisam lutar ou se justificar, mas só confiar em Deus. Deixe o outro ser outro, quanto a você, seja diferente, seja o que Deus quer que você seja e permaneça bem tranquilo. 

terça-feira, julho 27, 2021

Volubilidade humana

      “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Eu dizia na minha prosperidade: Não vacilarei jamais. Tu, Senhor, pelo teu favor fizeste forte a minha montanha; tu encobriste o teu rosto, e fiquei perturbado.Salmos 30.5-7

      Nos achamos poderosos, inabaláveis, mesmo que saibamos que como cristãos é o Senhor quem nos sustenta, basta uma boa emoção, um acontecimento de vitória no plano físico, um dinheiro a mais na conta para nos colocarmos sobre um lugar alto e nos acharmos superiores. Contudo, basta que alguém nos pegue desprevenidos com uma crítica, basta um pensamento se soltar e sujar nossa intenção, basta uma mágoa pesar e nos prender ao passado, que sentimos Deus encobrir seu rosto para nós. Nossa fé apequena-se, nossa esperança sobe como fumaça e some, perdemos o prazer até das coisas mais básicas da vida e nossa alegria se converte em perturbação. Frágeis seres que somos. 
      Isso ocorre porque Deus está irado conosco? Apesar dessa ser a interpretação do salmista de acordo com a visão de homem e de mundo de seu tempo, não existe ira em Deus, e nem precisa, basta que não olhemos para Deus por um instante que nos sentiremos severamente punidos pela providência, sozinhos no universo. Podemos até pensar, “estava tudo indo tão bem, por que fui fraquejar? Deus se esqueceu de mim?”. Se nos afastamos de Deus ele se afasta de nós, e basta que ele faça isso por um milionésimo de segundo para sermos abatidos. Ele faz isso para que entendamos como funciona a existência, que é essencialmente espiritual, mesmo estando nós no mundo. 
      Depende de nós deixarmos-nos ser atraídos pelo amor do Senhor à sua luz mais alta para que tudo faça sentido. Mas ainda que nos sintamos sob a “ira” do todo-poderoso, essa dura só um instante, ainda que nós a retenhamos por uma noite, se na manhã seguinte buscarmos a Deus com humildade, aceitando nossa pequenez e nossa dependência dele, acharemos consolo e esperança para prosseguirmos. Deus não se afasta para sempre de ninguém, mas precisamos aprender a não confiar só em nossos sentimentos, mas pela fé confiarmos em Deus antes. Isso dá trabalho, nos leva a orar mais, a nos consagrarmos, mas nos amadurece e depois deixa em nossos sentimentos um prazer sem igual. 

segunda-feira, julho 26, 2021

Vigia e espera

      “Antecipei o cair da noite, e clamei; esperei na tua palavra. Os meus olhos anteciparam as vigílias da noite, para meditar na tua palavra.Salmos 119.147-148

      Só estarmos em paz não nos autoriza a fazer imediatamente alguma coisa, precisamos estar em paz para discernir a voz de Deus, que pode nos mandar fazer algo ou não. O trabalho espiritual do homem não é fazer algo sempre, mas ouvir a voz de Deus sempre e obedecer, mesmo se a ordem for só “vigia e espera”, enquanto aguardamos somos renovados e Deus faz aquilo que não nos compete fazer. Esse trabalho não se refere às nossas necessidades diárias de sobrevivência no mundo, que são passageiras, ao nosso desempenho profissional, coisas que exigem de nós uma constância, ainda que estejamos desanimados, e nesse caso a graça do Senhor poderá nos fortalecer se por ela clamarmos. 
      Contudo, com relação à vida de intercessão, trabalho que todo cristão é chamado a fazer em maior ou menor instância, precisamos ter sabedoria. Esse não depende só de nossas forças e iniciativas, mas do ambiente do plano espiritual, onde existem e atuam potências e intenções que muitas vezes para nós são desconhecidas. Vida de oração não é só pedir e agradecer pelo recebido no plano material, mas é vigiar pela obra do Senhor na Terra, que pretende que todos se salvem e que conta conosco como colaboradores. Vigiar e estar disponível para Deus por algo que vai além da luta pessoal que fazemos pela sobrevivência material nossa e de nossa família é o que de fato define nossa espiritualidade. 
      Alguém pode dizer, “mas o que eu tenho a ver com a salvação do planeta? já não me basta a salvação minha e de minha família?”. Sim, é verdade que muitos se conseguirem salvar a si mesmos já estará muito bom, mas Deus tem mais para nós, principalmente nestes tempos em que vivemos, no Brasil e no mundo, onde uma tragédia mundial assola a todos, a pandemia do Corona vírus. Hoje a humanidade precisa e muito de ajuda, desempregados precisam de comida, mas de oração todos precisamos e nessa tarefa só nos basta vocação e obediência. Todos podemos ser usados por Deus para iluminar espiritualmente as pessoas. Assim, vigia e espera, mas não pare de abençoar em oração a todos neste mundo. 

domingo, julho 25, 2021

Para frente e para o alto

      “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mimprossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.Filipenses 3.13-14

      Olhemos para frente, que o passado ruim não nos algeme pela culpa, que o bom não nos acorrente pela nostalgia, convencendo-nos que temos que nos conformar com o que já aconteceu. Todos os passados podem nos levar a crer que não podemos ser melhores, são armas de morte do mundo, dos homens e da matéria. Fé que o melhor está por vir é instrumento da vida espiritual eterna, que nos conduz a trabalhar mais e sempre, quem nos atrai é o Altíssimo, quem nos fortalece é o Espírito Santo, quem nos ensina é Jesus. Não percamos um só instante entristecendo-nos com o que passou.

sábado, julho 24, 2021

Ser grato todo dia

      “Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos carrega de benefícios; o Deus que é a nossa salvação.Salmos 68:19 

      No final do dia, antes de dormirmos, como avaliamos nossas vidas? Vemos a providência constante de Deus e por isso somos humildemente gratos, ou procuramos culpados pelas nossas insatisfações? Quem procura acha o que procura achar, simples, se procurarmos problemas na vida os acharemos às pencas, e ainda que não existam nós os elucubraremos, aliás, somos especialistas nisso. Mas para problemas que focamos como desculpas para não confiarmos em Deus e não sermos felizes, porque na infelicidade pode haver identidade doentia mas útil, achamos culpados sempre nos outros, não em nós mesmos. Essa atitude não nos traz qualquer benefício, só torna-nos mais rancorosos, solitários e doentes.
      Contudo, achar coisas pelas quais agradecer, motivos para sorrir, momentos para sermos felizes, ainda que em meio às lutas comuns a todos os seres lúcidos e honestos, traz a nós a luz mais alta de Deus. Iluminados iluminam, abraçam, perdoam, deixam a existência leve, constróem pontes, não muros. Isso também não significa fechar os olhos para o mal e para injustiça, quem age assim não é lúcido ou não é honesto, mas louco ou desonesto, e esses não sofrem porque não podem ou não querem ver. Que “lanterna” usamos para vasculhar nossos dias, aquelas com luzes imperfeitas do egoísmo e da vaidade, ou a do Espírito Santo? Deus sempre acha o bem e o homem de bem sempre acha a Deus. 
      Esse positivismo sadio e espiritual precisa se refletir em nossas conversas com as pessoas, em nossas postagens na internet, em nossos comentários em posts e em mensagens no Whatsapp, isso também é testemunhar a luz no mundo, e não só falar de coisas religiosas em templos e reuniões cristãs com os “irmãos”. Precisamos anexar ao nosso modo de vida uma disposição de gratidão e temor a Deus, eis a ferramenta da luz contra as narrativas de ódio tão em moda atualmente, ao invés de perdermos tempo com política e polêmicas, coisas desse mundo que nesse mundo ficarão e que não seguirão conosco para a eternidade. Louvemos mais a Deus e critiquemos menos os homens, todos os dias. 

sexta-feira, julho 23, 2021

Tempos de mudança

      “E, chegando-se os fariseus e os saduceus, para o tentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu. Mas ele, respondendo, disse-lhes: Quando é chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro. E, pela manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis discernir a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos? Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. E, deixando-os, retirou-se.Mateus 16.1-4  

      Tempos difíceis, tempos diferentes, tempos que não foram previstos, tempos de conflitos, tempos de morte, de muitas mortes, tempos tristes, tempos que a realidade se impõem sem cera, sem dó, tempos de Deus? Sempre, tempos de trevas? Para quem se revolta indevidamente, para quem não confia na justiça divina, mas tempo de iluminação, para quem se humilha, que entende o tempo como de mudança, mudança que foi desprezada numa falsa estabilidade, mas mudou, como nós temos que mudar. Se o céu fechado e a ventania não avisam o tolo para ficar em casa, o temporal acabará avisando-o, mas talvez tarde demais, discernamos as mudanças a tempo de estarmos protegidos por Deus. 

quinta-feira, julho 22, 2021

A certeza que me faz prosseguir

      “Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei. Farta-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.Salmos 91.14-16

      Que o Senhor nunca fecha a porta para mim, que nunca desiste de me chamar, que me atrai o tempo todo para a perspectiva mais bonita, mais clara, mais virtuosa, mais produtiva da existência, que sua luz mais alta nunca, nunca cessa de brilhar, que nessa luz há o prazer maior, espiritual, que supera toda dor, toda culpa, todo medo, toda injustiça humana, que o Senhor é Deus, não homem, assim não muda e não cria ou retém qualquer espécie de mal, de trevas, de rancor ou de vingança, a certeza disso tudo é que me faz prosseguir em paz. Que adianta bens e honra no mundo e estar fora da casa de Deus? Melhor ser pobre e desconhecido, mas íntimo do Senhor. 

quarta-feira, julho 21, 2021

Se não der trabalho, não é amor real

      “E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento.Lucas 7.37-38

      Se não der trabalho cavarmos buracos profundos, retirando terra e pedras, a ponto de vermos nossas mãos sangrando, se não exigir busca persistente dentro de nós, de intenção sincera, de benignidade sem falsidade, de generosidade verdadeira, se não levar às lágrimas, não só nossos olhos, mas nossos corações, se não nos compungir e não conduzir nossos espíritos a irradiar a luz mais pura, se isso tudo não acontecer não é amor, contudo, se for amor não será abençoado só quem se ama, mas quem ama, e dessa experiência sairão pessoas melhores. Um coração partido por ter buscado o amor, é melhor que um coração inteiro, mas duro e cheio de dor, que nunca se deu ao trabalho de amar. Deixa o vaso se quebrar, só assim o óleo pode derramar…

terça-feira, julho 20, 2021

Sigamos em frente!

      “O homem de grande indignação deve sofrer o dano; porque se tu o livrares ainda terás de tornar a fazê-lo. Ouve o conselho, e recebe a correção, para que no fim sejas sábio.Provérbios 19.19-20

      Algumas coisas não podem ser mudadas, não mais, assim só nos resta suportar suas consequências, humildes, calados, em paz, porque ainda que certos erros que cometemos não possam mais ser anulados, principalmente na cabeça de algumas pessoas, e legitimamente por irresponsabilidades nossas, ainda assim, se buscarmos a Deus e nele confiarmos ele nos perdoará e nos dará forças para seguirmos em paz, construindo coisas novas e tendo de outras pessoas o respeito e o afeto que precisamos para ser felizes até o final. Na humilhação fui formado, na humildade achei a paz, permaneci quebrantado, guardado e suprido pelo Pai. 

segunda-feira, julho 19, 2021

Não desistamos de amar…

       “Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, o meu próprio. E exultarão os meus rins, quando os teus lábios falarem coisas retas.Provérbios 23.15-16

     “Te procurei, aos prantos, para te amar, mas você se escondeu, dentro de você, só mostrou uma máscara dura e irônica, que eu sempre tive certeza que não era você. Aguardo pela eternidade, a iluminada eternidade espiritual, para a qual você será atraída, e então, no amor de Deus, poderei finalmente te ver e te abraçar, você de verdade, tua melhor versão, doce, feminina, delicada, tranquila, em paz, como toda alma livre e curada é, ainda que tenha se escondido por anos dentro da ilusão tóxica da matéria”. O que se entrega por amor achará os braços de Deus abertos para acolhê-lo, ainda que aquele pelo qual se entregou lhe feche o coração, não desistamos de amar. 

domingo, julho 18, 2021

Corra até o final

      “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.I Coríntios 9.24-27

      O corredor, que já percorreu uma longa jornada, não para dez metros antes do final para apreciar a paisagem, para namorar, para fazer um lanche, para descansar. Não, ainda que esteja cansado, tirará de dentro de si as últimas forças, o último suspiro, esquecerá das dores nas pernas e pés, mesmo da sede, e terminará a corrida, afinal, falta-lhe tão pouco. Esta palavra é para todos, jovens, maduros, velhos, que estão lutando por algo, que estão se esforçando para alcançar um objetivo, superando limites próprios assim como tantas adversidades dos homens e do mundo. 
      Não desista nunca, se é algo bom, digno, justo, se há paz e a ninguém prejudica, é de Deus, seja um diploma, um emprego, uma promoção, um casamento, e principalmente a libertação de um vício. Mas se os que estão iniciando não devem desistir, mais ainda os mais velhos, principalmente em suas caminhadas espirituais com Deus. Quando a paixão passa, quando o corpo cansa, ainda temos o Espírito Santo, e ele sempre renova nosso espírito, esse não precisa envelhecer, ao contrário, pode tornar-se mais vivo e mais iluminado à medida que conhece e obedece a Deus.
      Aquele que persiste em Deus, quando parece que não tem mais forças, descobrirá não o fim, mas um novo começo, mas repito, experimentará isso se persistir em Deus. O que faz o “milagre” (e veja que coloquei a palavra entre aspas) não é a matéria, a persistência humana, mesmo a boa intenção, mas o Espírito de Deus, é ele que nos leva em direção ao altíssimo, numa jornada espiritual, que independe das forças do corpo físico. O trabalho do homem é descobrir como dar liberdade a esse Espírito, ainda vivendo em sua existência no mundo aprisionado a um corpo.
      O milagre é o homem descobrir isso, não o que ele pode fazer depois que descobre, o milagre é a causa, não o efeito, é a fé, não o mover da montanha, é a fonte, não a água, é a água, não o vaso, é o vaso, não a mão. O milagre desconstrói o óbvio e surpreende, só corre até o final o que aprende a se surpreender, a desacreditar, não para se perder, mas para se achar. Deus se agrada dos que descansando nele se inquietam, não para produzirem ansiedade e consequente fuga em prazeres do corpo, mas para conhecerem mais a ele em espírito e em verdade, eis o final da corrida. 
      Muitos desistem quase no final porque depois de passarem a vida tentando mover montanhas se esgotam, fazem de tudo para achar fé para isso, mas não entendem que quem tem fé não precisa mover montanhas. Para que mover montanhas? Para provar a si mesmo que tem fé, ou pior, para mostrar para os outros que tem? Quem acha a fé maior lhe bastará o mínimo neste mundo para estar em paz, não se preocupará com aparências e conhecerá mais a Deus. Quem assim procede não precisa de milagres, já provou o maior deles, esse terá forças para finalizar a corrida. 

sábado, julho 17, 2021

A quem temerei?

      “Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria. Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e inquirir no seu templo. Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; por-me-á sobre uma rocha.Salmos 27.3-5

      É difícil fazer uma seleção de textos bíblicos favoritos que não contenha muitas passagens de Salmos. Davi e os outros salmistas fizeram registros formidáveis nesse livro, quando arte musical e poética se misturam com intimidade espiritual com o Senhor pedras preciosas são criadas, palavras simples e atemporais que falam diretamente aos nossos corações, sem perder tempo em nossos raciocínios. De um salmo que contém textos memoráveis como “o Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?” (v.1a) e “quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá” (v.10), separei os três versículos iniciais para uma reflexão.
      O salmista começa o texto inicial falando sobre a realidade de seu tempo e sobre um perigo de seu tempo, mais difíceis de serem experimentados hoje por pessoas que vivem em países civilizados, ele fala sobre o risco de vida que se tem em meio a uma guerra. “Ainda que um exército me cercasse”, mas mesmo que não provemos isso de maneira física, com certeza provamos na área emocional. Quantas vezes não nos sentimos cercados e sozinhos, ainda que no ambiente profissional, acadêmico ou mesmo numa reunião familiar? Para muitos dos homens do mundo moderno a guerra não é física, mas psicológica, ainda que a nossa percepção seja semelhante. 
      O salmista diz “ainda que a guerra se levantasse contra mim”, podemos não estar numa guerra física, mas nossa alma sente-se assim frequentemente, com inimigos nos atacando por todos os lados. A vitória que o salmista experimentou nós também podemos experimentar, ainda que nosso inimigo não seja exterior, e nossas cabeças podem imaginar, criar, alimentar opositores tão ou até mais fortes que os que existem no mundo exterior. Mas o que importa, se nos sentimos mal, o mal existe e precisa ser vencido. O salmista segue em sua visão, mas se lermos sem nos atermos acharemos que o que ele pede nada tem a ver com exércitos, inimigos e guerra.
      “Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei, que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida”, o que tem a ver a casa do Senhor com guerra? O que exatamente é a casa do Senhor? O refúgio da guerra, a proteção contra os inimigos o salmista diz achar na casa do Senhor, mas será que essa casa era o templo de Jerusalém? Davi podia fugir dos inimigos, esconder-se para sempre no templo e vencer a batalha? Não, a casa do Senhor que o salmista se refere não é o templo, mas a presença íntima e alta de Deus, que se alcança com oração e consagração. O salmista podia até ir ao templo, mas para orar, não para se proteger dentro da construção física desse.
      Se para uma guerra física, com espadas, lanças e flechas materiais, o salmista achava proteção na presença de Deus, quanto mais nós hoje, seres de um tempo onde a vida é muito mais mental que material, psicológica que física. Paulo disse que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6.12). Contra esses inimigos não se luta com metralhadora, mas com vida de oração, por ela entramos na casa do Senhor, “para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu templo”. 
      “No dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão no oculto do seu tabernáculo me esconderá, por-me-á sobre uma rocha”, ah, os mistérios escondidos nessas palavras. O refúgio não está fora de nós, mas dentro, não está nos homens, em políticos que se dizem do lado dos cristãos, em igrejas fortes, em pastores carismáticos, em alianças com religião, o refúgio maior é espiritual, acessamos com vida de oração que alcança as regiões celestiais mais altas em Cristo. Quem se esconde nesse tabernáculo protege-se de todos, sejam inimigos desse mundo, sejam do outro, quem posiciona o espírito no Altíssimo tem os pés numa rocha e não temerá ninguém. 
      Quantas vezes andamos trôpegos, com a cabeça pesada, instalando doenças que depois darão trabalho para curar (quando conseguimos curar), porque não paramos e contemplamos a formosura do Senhor. Quem tem um encontro com Deus sai apaixonado. “Ver” a Deus não só nos limpa moralmente, nos dá uma paz singular, mas nos oferece uma experiência estética prazeirosa. Além de tudo, Deus é lindo, sim, meus queridos, a sabedoria do Senhor, sua emanação de luz, é linda, mais que qualquer coisa ou ser do universo, a beleza de Deus faz todo o resto menor, dores e amores, passado e futuro, ficam menos importantes. Quem se apaixona por Deus nada teme. 

sexta-feira, julho 16, 2021

Cuidado ou descuidado?

      “Nos muitos cuidados que dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma.Salmos 94.19

      Se há remorso demais, houve cuidado de menos, a culpa segue a falta de vigilância, quem abre o coração para qualquer um estará sempre só em busca de companhia. Quem anda sem sabedoria, achando que pode tudo e sempre, não perceberá a cilada, não verá a vala, cairá e nem saberá onde. Os fracos devem se fortalecer em Deus e não no espelho, os sensíveis devem ter mais respeito com a sensibilidade alheia, senão não será sensibilidade, mas melindre. Os que se machucam com facilidade devem machucar menos os outros, os que gostam de falar devem estar preparados para ouvir bastante. 
      Como medimos, somos medidos, o que damos, recebemos, o que buscamos, achamos. Quem fala e gosta de qualquer jeito ouvirá o que não quer e se aliará a falsos. No cuidado persistente há paz e graça, mas cuidado não só de si, também dos outros. Proteger as pessoas de nós mesmos é responsabilidade nossa, não dos outros. Se todos pensam nos outros ninguém é esquecido. Quem quer ter razão sempre não vê a razão óbvia do outro. Se duvidamos de tudo que seja também de nossas dúvidas, certo sempre só Deus. Quem descuida de si para cuidar do outro é cuidado pela providência. 

quinta-feira, julho 15, 2021

O jovem e o velho

      “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuvaEclesiastes 12.1-2

      O jovem pode mas não sabe, o velho sabe mas não pode, ditado antigo sobre o antagonismo que existe entre a força física e força moral. Quantos de nós, mais velhos, já pensamos, “ah, se eu tivesse a vitalidade da juventude com a cabeça que tenho hoje”, e não é só para desfrutar de prazeres físicos, mas para fazer escolhas melhores em muitas áreas. Nesta curta passagem neste mundo, presos a corpos materiais, força física e força moral parecem ser mutuamente exclusivas, não se consegue ter as duas simultaneamente, mas isso tem um objetivo, nossa vida aqui deve nos preparar para a vida além.
      Morrer neste mundo nos permite nascer para o outro, envelhecer é o fim de um momento e o início de outro, muito mais duradouro. Por isso a providência divina leva-nos a nos libertarmos da matéria e priorizarmos o espírito, diminuindo nossa força física e nos fazendo focar na moral. Queremos forças para sermos livres, mas qual é a liberdade melhor, a do corpo, a da alma ou a do espírito? O certo é que o liberto espiritualmente o é mesmo tendo o corpo aprisionado, envelhecido, limitado, o velho que anda com Deus sabe e pode, porque sabe o melhor da vida, não a vida deste mundo, a eterna. 

quarta-feira, julho 14, 2021

Sincero e sincero

      “A sinceridade dos íntegros os guiará, mas a perversidade dos aleivosos os destruirá.Provérbios 11.3

      Sinceridade é mostrar o que se sente e se pensa com lisura, a palavra sincero pode ter origem num antigo hábito de passar cera nas esculturas em mármore para esconder as imperfeições, assim “sem cera”, sem esconder nada. Mas sinceridade por si só não é uma virtude, exibir insegurança e maldade com honestidade, usando o álibi de que se procede assim porque se é sincero, e achar que isso é virtude, é uma engano, não é útil, não é virtude, é irresponsabilidade estúpida. Nem toda verdade deve ser mostrada. 
      Alguns fariam melhor se esconderem e se acertarem antes de saírem por aí jogando má sinceridade na cara dos outros. O sincero que a Bíblia se refere é o sincero do bem, que mesmo com limites deseja acertar, ser alguém do bem e obedecer a Deus, esse sincero prefere calar que falar, agir que discursar, agradar a Deus que aos homens, e não usa nem essa intenção melhor para desrespeitar os outros. O sincero foca em Deus, mas ama os homens, pois sua verdade é boa e se harmoniza com a verdade do Altíssimo.

terça-feira, julho 13, 2021

Ilusão e esperança

      “Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas.Hebreus 6.11-12

      Ilusão, como toda paixão, é passageira, também é passageira a esperança, mas ilusão não é esperança. Esperança, apesar de poder ser sobre algo difícil, se realiza pois espera uma verdade, deixa algo benigno e concreto no final, ainda que seja só em áreas subjetivas como a emocional e a moral. Já ilusão, ao término, deixa amargas memórias, um vazio que antes era preenchido por uma mentira. Que tipo de seres somos, iludidos ou esperançosos? Esperamos a realização de uma fantasia ou da vontade de Deus? 
      Ainda que coloquemos Deus na história podemos estar apenas iludidos, e outros, mesmo que nem creiam em Deus, têm esperanças legítimas que se realizarão um dia. Melhor, contudo, é poder esperar em Deus, nisso não há dor, nem mentira, mas harmonia com os planos do Altíssimo que sempre sabe quando e o que faz. Só se desilude quem se ilude, mas quem espera sempre alcança, dizem os ditados, façamos nossa parte e esperemos o melhor em Deus, ser feliz neste mundo é administrar a espera no tempo.  

segunda-feira, julho 12, 2021

Sabedoria e malícia

      “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.Tiago 1.5

      Sabedoria é diferente de malícia! O tempo, irremediavelmente, traz experiências, essas tornam algumas pessoas sábias e outras maliciosas, isso depende de como se assimila e se resolve as experiências. O que busca temor a Deus vê as coisas sob o ponto de vista mais alto e é sábio. O que se isola e se afasta de Deus vê as coisas sob o ponto de vista humano e mundano e se torna malicioso. O malicioso envaidece-se com o que acha saber, o sábio é humilde e sabe que nada sabe.
      A malícia pretende lucro e prazer pessoal, é inteligência usada pelo egoísmo, projeta fora o mal que existe dentro. O malicioso usa decepções e agressões que sofreu para prender os homens ao passado e a seus erros, espera o pior pois não crê em mudanças interiores, é um armazém de rancores e invejas. O sábio tem fé e esperança, sabe perdoar, dá aos outros uma nova chance, não mata antes do tempo e não condena para sempre, cultiva ainda no mundo o céu dentro de si. 

domingo, julho 11, 2021

Se o outro não é razoável, seja espiritual (2/2)

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.” Daniel 10.12      

      “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Isaías 6.5      

      “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava. E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.” Ezequiel 1.28b, 2.1      

      Seguindo com a reflexão “Se o outro não é razoável, seja espiritual”, algumas coisas sobre o plano espiritual e nossa relação com ele. A primeira coisa é a consciência de que não temos que orar por todas as pessoas, podemos sentir claramente Deus dizendo, “essa pessoa já está em minhas mãos, não ore mais por ela”, e isso pode ser final. Contudo, isso às vezes pode não ser um não definitivo de Deus, mas apenas uma primeira impressão nossa, em outras palavras Deus pode estar dizendo: “cuidado, esse assunto é mais sério que você acha que é, se quiser interceder por essa pessoa terá que se comprometer mais espiritualmente”. Deus é responsável, não nos chama para algo além de nossos limites e orar por uma causa pode nos colocar numa guerra espiritual séria, se for o caso nos dará sensibilidade do que isso envolve (Daniel 10).
      A segunda coisa é sobre o medo que uma experiência espiritual mais profunda pode nos fazer sentir. Quando adquirimos intimidade com Deus e depois com o plano espiritual, e correm sérios riscos quem se atreve a “entrar” no mundo espiritual sem autorização e proteção do Altíssimo, aprendemos que sentir medo nem sempre signifiva estarmos próximos do mal ou de algo perigoso para nós. A proximidade de Deus e de seus anjos de luz também causa medo, mas nesse caso não é terror, opressão, mas temor, que exige de nós respeito por nos aproximarmos de algo santo e poderoso. Isaías teve essa experiência (Isaías 6), Ezequiel teve (Ezequiel 1), profetas de Deus se sentiram desfalecidos quando o céu se abriu para eles e seres santíssimos se manifestaram, terrível é a presença dos servos do mais alto escalão do Onipotente. 
      Sobre o título desta reflexão, devemos ser sempre espirituais, com ou sem razoabilidade alheia, mas muitas vezes basta-nos calma para dialogarmos quando negociamos com alguém sensato. Com outros, contudo, é preciso discernimento para não entrarmos em polêmicas, e se houver um assunto importante para nós em jogo a oposição pode, sim, ter apoio espiritual do mal, e por isso deve ser confrontada no mesmo nível e com as mesmas armas. Uma das estratégias do mal é nos levar a lutar com ele no campo de batalha dele, escolhido por ele. Como amigos de Deus não precisamos nos rebaixar a isso, não devemos ser arrogantes, mas discernirmos quando isso está para acontecer para nos retirarmos e buscarmos a Deus, autorizando o Senhor a lutar por nós, com armas espirituais numa batalha igualmente espiritual. 
      Outra coisa sobre os seres espirituais do mal: eles não têm poder sobre o mundo físico, pelo menos não com facilidade, quando têm é em eventos menores e com autorização de homens, como as ocorrências fantasmagóricas, movimento de objetos, barulhos etc, onde se exige que homens autorizem “espíritos” para agirem. Na maioria das vezes seres das trevas só influenciam os seres humanos em seus pensamentos e sentimentos, os que vivem na luz de Deus sentirão desconforto nisso e porão o diabo para correr, o mal não prevalece sobre os filhos da luz. Contudo, aqueles que se entregam ao mal neste mundo, mantêm na mente raciocínios e intenções ruins, não buscam cura emocional e seguem doentes no espírito, esses dão legalidade aos espíritos maus, pois acham em suas influências empatia para suas maldades e vaidades.
      Nós evangélicos nos acostumamos com um estereótipo de pessoa endemoniada que pode não condizer com um tipo de obsessão do mal muito comum nos dias atuais, são pessoas que se você colocar a mão na cabeça e orar nada vai acontecer, ao contrário, elas poderão zombar de você e te porem para correr. Precisamos ser mais sábios nos dias de hoje, muitos cristãos continuam vivendo um cristianismo ultrapassado, muitas coisas não são hoje e não serão no futuro da maneira física e ao pé da letra como eles interpretam a Bíblia. O ser humano evoluiu intelectualmente e em sua relação com a espiritualidade, assim o mal não age e se manifesta de maneira tão simples e explícita. Nem todo “satanista” perde o controle de sua consciência e fica endemoniado, lançando-se ao chão e falando sacrilégios só com a visão da cruz. 
      É preciso oração em santidade e com a autoridade de Jesus para “expulsar demônios”, isso nunca vai mudar (Marcos 9.28-29), mas mesmo essa expulsão pode ser só temporária, para mudanças definitivas os “endemoniados” precisam escolher mudar. Numa libertação temporária as pessoas terão chance de decidir com mais clareza e justiça sobre uma causa que tem a ver com as nossas vidas, mas não é definitiva porque apesar de podermos afastar a influência espiritual das trevas, se depois as pessoas quiserem atrairão essa influência novamente para elas, no mundo espiritual semelhantes se atraem. Assim, se precisarmos novamente que as pessoas não nos prejudiquem, ou oramos o tempo todo por elas, ou tentamos aconselhá-las a mudarem de vida (Mateus 5.25), dessa forma serão melhores e não poderão mais nos fazer mal. 
      Entendamos corretamente esse assunto, do mal estamos protegidos sempre que andamos certo com Deus, assim não é porque temos um colega de trabalho, de escola ou um parente, que tem ligações mais fechadas com demônios, que estamos o tempo todo em perigo. O mundo espiritual tem espaços geográficos bem delimitados por Deus e os “seres espirituais” respeitam isso, desde que não invadamos seus limites. Mas o ponto dessa reflexão foi sermos orientados a fazer uma “oposição espiritual” contra uma pessoa com quem temos um assunto a resolver, assim, de algum jeito nosso “espaço” cruzou o “espaço” dessa pessoa, há interesses, ainda que materiais, em comum. O sábio é depois de resolvido o assunto, dando-nos Deus vitória em nossa causa, se a pessoa não se converteu a Deus, mantermos distância segura. 
      A verdade é que certas pessoas não dão abertura para diálogo razoável, por isso precisamos orar por elas à distância. A melhor espiritualidade é realizada em segredo, principalmente para interceder por pessoas que insistem em se colocarem como nossas opositoras, quem não entender isso será esbofeteado várias vezes, humilhado e injustiçado, sem forças para reagir. Por quê? Porque com certas pessoas não tem papo, e se acharmos que é possível, que como cristãos podemos resolver o problema com uma boa conversa, só estaremos alimentando ansiedade e até construindo doenças dentro de nós. Com certas pessoas não devemos ter mais boas expectativas, devemos ser educados e mantermos distância, ainda que em nossos momentos de oração lutemos por elas em amor esperando que elas escolham mudar. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 19/02/21

sábado, julho 10, 2021

Se o outro não é razoável, seja espiritual (1/2)

      “Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo. Porquanto os meus inimigos retornaram, caíram e pereceram diante da tua face. Pois tu tens sustentado o meu direito e a minha causa; tu te assentaste no tribunal, julgando justamenteSalmos 9.2-4

      “Deus não revogará a sua ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos. Quanto menos lhe responderia eu, ou escolheria diante dele as minhas palavras! Porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.Jó 9.13-15

      “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Efésios 6.12

      Com muitas pessoas podemos chegar a um entendimento conversando, às vezes não é uma negociação fácil, mas é possível, e isso em áreas diversas, seja profissional, afetiva ou outra. Com outras pessoas não é necessário nem trabalho de negociação, há uma concordância fácil e justa para ambos os lados. Contudo, com algumas o diálogo é impossível, as pessoas parecem falar uma língua diferente da nossa, e por mais que tentemos conduzir as coisas para um campo de paz, elas são beligerantes, parece que se sentem sempre lesadas de alguma maneira por nós, sendo que isso não reflete de maneira alguma nossas intenções. Quando um lado não pode ser razoável é preciso que o outro seja mais que hábil, e em termos cristãos, seja espiritual, é preciso colocar o negócio nas mãos de Deus e pedir sua ação. 
      Em toda questão difícil, conforme a ótica espiritual do evangelho (e não da justiça material e ao pé da letra do antigo testamento) precisamos considerar dois entendimentos, um sob o nosso ponto de vista e um segundo sob o ponto de vista do outro. Por mais difícil que possa parecer, como cristãos temos que analisar o ponto de vista do outro avaliando a possibilidade do outro estar sendo duro conosco por causa de um erro nosso, não dele. O espiritual não vê um conflito como uma guerra, onde ele é a vítima inocente que precisa que Deus aja com seu poder a seu favor, dando ao outro o papel de inimigo, ele entende que todos somos em alguma instância opressores e oprimidos, como sempre falamos aqui, todos precisam da misericórdia de Deus e podem ser ajudados pelo amor do Altíssimo (Mateus 5.44). 
      Se nos sentimos oprimidos por alguém, olhemos antes para nós mesmos e nos avaliemos, verifiquemos se há algum motivo para merecermos tal opressão. Façamos isso antes de pedirmos mão pesada de Deus sobre os outros, entendamos o que precisamos mudar, onde devemos ser melhores para não recebermos opressão como efeito de atitude errada nossa. Isso é nos aproximarmos de Deus com humildade, sem nos acharmos com mais direitos que os outros por sermos vítimas ou mais ”chegados” do Senhor (e Deus quer ser amigo de todos, não só de nós). Mas mesmo que nos avaliemos como justos, não peçamos vingança, mas misericórdia do Senhor para os outros. Se estivermos errados, sejamos humildes, mas se estivermos certos, sejamos ainda mais humildes, sejamos sempre espirituais, só assim venceremos. 
      Esse posicionamento espiritual inicial sério é de suma importância para que ajamos de forma correta com os desarrazoados. Se o homem não pode contra o homem, Deus pode agir contra forças espirituais que podem estar influenciando o homem, e não contra o homem, já que nem Deus vai contra o livre arbítrio humano. Deus, contudo, só age em prol dos que chegam a ele do jeito certo. A ação de Deus é em sua origem espiritual e como consequência tem efeitos no plano material, toda ação espiritual interfere no material, seja benigna ou maligna. Quando pedimos uma interferência de Deus estamos entregando uma causa nas mãos dele para que ele aja de forma espiritual sobre agentes espirituais, que nós, seres encarnados, não temos como agir contra. Mas por que o conflito tem que ser levado a esse nível? 
      Nem todos que vivem vidas longe de Deus se colocam diretamente de forma injusta contra os outros. Quem não tem um nível moral adequado atrai para si seres espirituais que prejudicam sua vida privada, o prendem a vícios, mas esses seres não farão, necessariamente, mal aos outros, assim quem vive dessa forma pode precisar de oração por sua vida, mas não por prejudicar os outros. Mas existem pessoas que fazem o contrário, têm vidas morais adequadas, não são escravas de vícios, são boas cidadãs, mas alimentam dentro de si ódios, invejas, rancores, que atraem espíritos maléficos que potencializam assuntos internos não resolvidos e projetam isso nos outros, um desconforto espiritual pessoal que acaba descontando nos outros injustiças e intransigências. São por esses que podemos ser levados a lutar espiritualmente. 
      Quando alguém se coloca contra quem está com a vida em harmonia com Deus e cria um embate que não pode ser resolvido de forma racional, essa pessoa pode estar sob influência de espíritos malignos, que podem estar acentuando sua falta de razoabilidade, oprimindo seus sentimentos e convencendo sua mente sobre determinado posicionamento. Muitas vezes não temos ideia de quantas mentiras alguém que se afasta de Deus pode manter em sua alma, eis um ambiente perfeito para a atuação de “demônios”. Por essas pessoas podemos ser levados a fazer guerra espiritual, não contra elas, mas contra o mal que as oprime e que elas mesmas atraíram. Isso pode exigir de nós consagração e oração diferenciadas, para entendermos como alguém pode estar amarrado no fundo de um poço sob o peso de seres espirituais das trevas. 
      Nosso trabalho nessa guerra é clamar para que a luz mais alta e poderosa de Deus destrua as trevas e toque a consciência da pessoa, levando-a a sair de sua irrazoabilidade, isso não é algo fácil e rápido. Guerra espiritual se faz com santidade, autorização de Deus, mas também com amor, afinal de contas tem uma vida humana envolvida e sofrendo, não a de quem está lutando, mas a daquele por quem se está lutando. Se o homem não pedir Deus não age? Exato, Deus não age. Não basta dizermos que nossas vidas estão entregues nas mãos do Senhor, de forma protocolar e religiosa, é preciso um envolvimento maior nosso, e é assim não só para que uma questão material seja resolvida a nosso favor, mas para que cresçamos espiritualmente e alguém, justamente quem se colocou como nosso inimigo, seja libertado. 
      O problema não é o problema, mas a maneira como interagimos com ele, a solução não é algo posterior manifestado no plano físico, mas um posicionamento anterior no plano espiritual. A vontade de Deus talvez nem seja quebrar o coração de um teimoso para nos abençoar, mas abençoar o teimoso, levando-nos a lutar por ele. Parece uma “piada cósmica”, quem se coloca como nosso inimigo ter em nós o único amigo que lutará por ele, mas não é piada não, são os maravilhosos caminhos do Senhor usando-nos para abençoar os outros. Não pense que a recompensa será um aumento de salário, mas a vida de seu chefe libertada do mal, e como consequência seu coração estará quebrantado o suficiente para aumentar teu salário. Qual foi o maior ganho nesse exemplo, dinheiro ou um amigo? Lutemos por amigos e não nos faltará nada. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 19/02/21

sexta-feira, julho 09, 2021

Não é fácil ser bom

      “Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.I Pedro 4.8-10

       Não sei você, mas para mim não é fácil ser bom, eu preciso estar numa vigilância constante, me esforçar muito, para ser principalmente paciente, e consequentemente, amoroso, não conseguimos amar sem estarmos em paz e ter paz é não se incomodar com o mundo externo. Entretanto, se precisamos nos esforçar tanto para amar o outro, será que o problema está no outro ou em nós? Em nós, com certeza, mas como pode ser difícil nos controlarmos para sermos bons e não seres em conflito que perdem a paz por qualquer coisa. Sei que estou enganado, mas olhando de fora para algumas pessoas, elas me parecem tão controladas, tão benignas, demonstram tranquilidade com tanta facilidade, parece que nada, ou muito pouco, as desestabilizam, olhando de fora chego a invejá-las. 
      Mas como eu disse, sei que estou enganado, todos têm grandes conflitos internos, ninguém é perfeito, senão não estariam neste mundo em expiação, a diferença é que alguns escondem seus conflitos mais facilmente. Será que essa facilidade melhora as coisas? Talvez não, quem esconde melhor o problema tem a tendência de manter o problema sem solução por mais tempo, já que se os outros não sabem, parece que está tudo bem, nos preocupamos mais com aparência externa que com a verdade no interior. Não sei você, o ponto, contudo, é que eu enfrento uma batalha diária para deixar Deus brilhar em mim, para não ser estúpido com os outros, para não julgar mal, para ter paciência, para estar em paz e amar sempre com o amor sacrificial de Jesus, e essa luta me faz sofrer muito, meu Deus sabe. 
      Talvez, sentir que se está perdendo constantemente uma batalha tenha um lado bom, significa que continuamos combatendo, que não desistimos, já que muitos não perdem mais batalhas porque simplesmente pararam de lutar, perderam tantas vezes que concluíram que não valia mais a pena. Muitos, cansados de se humilharem e pedirem perdão, assumiram para si que o problema está nos outros, não neles, que se eles não têm paciência com os outros é porque os outros são insuportáveis, não são eles que são estúpidos. Isso parece estranho? Mas digamos a verdade, não é assim que na prática e com o tempo, nós e muita gente age, no meio familiar, com os irmãos na igreja, com os colegas de trabalho, no trânsito? Nos dias atuais, quando vivemos em constante pressão, paciência parece ser um luxo. 
      Como sabemos se isso ocorre conosco? Simples, respondendo a uma pergunta: há quanto tempo eu não peço perdão para alguém? Ou pelo menos, há quanto tempo eu não peço perdão a Deus pela falta de paciência que tenho com os outros? Isso é assumir que fomos deficientes no amor. Não basta pedir perdão a Deus por pecados mais explícitos e que cometemos sozinhos, em segredo, muitas vezes até nossa oração e assunções de pecados são feitas por orgulho, para nos sentirmos com a consciência tranquila, enquanto o principal que o evangelho manda, amar o próximo, não fazemos. Sim, é preciso uma batalha constante, não só por santidade moral e por disposição de justiça na área material, é preciso que lutemos pelo amor, ele será exaltado acima da fé na eternidade, ele cobre multidão de pecados. 
      Como nos ensina Pedro no texto inicial, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, todos podemos ser úteis aos outros de alguma maneira. Nem todos temos uma amabilidade fácil e leve no jeito de ser, a vida fez muitos de nós duros e mesmo um pouco frios, muitos de nós tivemos que achar um jeito para vivermos com o passado, com a dor e com a solidão. Mas o que tem o Espírito Santo com liberdade dentro de si, achará um jeito de servir, um jeito de ser bom, mesmo que seja escrevendo textos para pessoas que nunca vai conhecer (pelo menos neste mundo), como é o caso deste que vos escreve, ou orando nas madrugadas por pessoas que não fazem a mínima ideia do quanto são importantes para nós, do quanto nós as amamos e queremos para elas tudo o que há de melhor em Deus. 

quinta-feira, julho 08, 2021

Sofrimento merecido (?)

      “O estrangeiro, que está no meio de ti, se elevará muito sobre ti, e tu mais baixo descerás; ele te emprestará a ti, porém tu não emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenadoDeuteronômio 28.43-45

      Você admite os sofrimentos e injustiças que recebe como merecidos, que por conta de escolhas erradas e atitudes sem amor você merece o tratamento deselegante de muitos e as oportunidades ruins ou ausentes que você experimenta, por exemplo, em tua vida profissional? Em primeiro lugar, antes de refletirmos mais nessa questão e em sua resposta, vamos entender melhor sobre a que nos referimos com “merecer”. Este mundo é injusto, as pessoas são egoístas, e nisso estamos incluído, assim também somos injustos e egoístas, contudo, existem, sim, coisas que sofremos sem merecer. 
      Tem muita gente que sofre por causa da ganância e de preconceitos dos outros, que só pensam em si mesmos, que só querem receber e não querem dar ou servir os outros. Isso é verdade, assim muitas coisas não devemos simplesmente aceitar como coisas que merecemos ou que não podemos modificar, temos que reagir e superar, a partir de uma atitude honesta, corajosa e crédula que muitas realidades podem ser mudadas para melhor. Como sempre falo aqui, principalmente em relações afetivas, casamentos, namoros, famílias, violação e exploração não devem ser aceitas! 
      Contudo, a pergunta inicial se refere a algo mais profundo, que vai além do mal que os outros fazem a nós, se refere ao mal que nós mesmos fazemos, contra os outros e contra nós mesmos. Temos consciência que também somos maus, que também somos injustos, que também escolhemos mal? Ou em nome de nosso prazer achamos desculpas para fazermos qualquer coisa e pensamos que isso é legítimo porque temos direito à liberdade e a usufrutos? Um ser humano maduro avalia os outros mas também se avalia, é exigente com afeto recebido mas também é correto com o que dá aos outros.
      Digo agora algo aos mais velhos, aos que já tiveram oportunidades de errar e de acertar, aos que sabem discernir o mal dos outros do mal de si mesmos. Avaliar a vida de maneira geral no tempo, entender a grande maioria das dores que experimentamos como consequências de erros nossos e portanto merecidos, não erros dos outros, ainda que tenham sido erros que cometemos quando nos permitimos viver sob relações injustas e violentas, é atitude de profunda humildade espiritual, de assumirmos nossa parte na existência e de não jogarmos a culpa nos outros, na vida ou mesmo em Deus. 
      Procuramos sempre que possível analisar um tema sobre todas as perspectivas, assim enquanto é sábio verificarmos até que ponto não somos vítimas, mas merecedores do que recebemos neste mundo, também não é sábio dizermos que alguém sofre porque merece sofrer. Não julguemos porque não temos amor suficiente para sermos justos juizes, e porque não sabemos como cada um administra seu sofrimento ainda que merecido. Às vezes alguém que sofre por merecimento é mais feliz que alguém que agiu corretamente e por isso nos parece não ser merecedor de nenhum sofrimento ou injustiça. 
       Não gostamos, em sã consciência, de textos bíblicos como o inicial, que diz serei cauda e meu inimigo será cabeça, gostamos de ler o oposto, mas a verdade é que passamos grande parte de nossas vidas reais sendo mandados e oprimidos pelos outros, todos nós, de alguma maneira. Deve ser assim para que aprendamos o caminho da humildade, para sermos provados e então aprovados, e não estamos neste mundo por outro motivo. “Eu mereço grande parte das injustiças que sofro, se não pelo que fiz neste mundo por motivos que Deus sabe, e eu humildemente aceito isso, até o fim”.
      A palavra desta reflexão, assim como as últimas desta semana, são duras, mas palavras duras ditas pelo Senhor são orientações em amor. Elas não têm o objetivo de nos humilhar, mas de nos ensinar a viver corretamente, conhecendo a Deus e seguindo-o. Assim, sejamos humildes, aceitemos certas realidades, mas confiantes, Deus protege de maneira especial os humildes. “Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos. O que atenta prudentemente para o assunto achará o bem, e o que confia no Senhor será bem-aventurado” (Provérbios 16.19-20). 

quarta-feira, julho 07, 2021

Para onde a hipocrisia nos leva?

      “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.Apocalipse 3.15-16

      Quem convive por um tempo em igrejas cristãs, se for honesto, constatará hipocrisia, mas se for sincero verá que essa não existe só nas vidas dos outros, mas na dele também. Hipocrisia é dizer, mas não viver, mesmo crer e pregar a teoria, mas não conseguir pô-la em prática. A palavra de Deus que sai da boca de Deus por Jesus e chega a nós pelo Espírito Santo, sempre pode ser praticada, a não ser que não queiramos, já palavras de homens, mesmo contendo Bíblia e ditas de púlpitos, até podem ser vividas, mas só até um ponto. 
      Quem não vive não sabe e não deveria ensinar, e quem ouve esses falsos mestres fatalmente cairá na hipocrisia. A hipocrisia é o segundo de dois pecados, o primeiro é dar ouvidos a palavras erradas, o segundo é não assumir que essas palavras são erradas. O hipócrita, acima de tudo, quer agradar a homens mais que a Deus, quer aprovação de pessoas que são importantes para ele, morre de medo de ir contra a religião, e não pode admitir que não está conseguindo praticar aquilo que ela diz ser a vontade de Deus para sua vida. 
      Mas num determinado momento vemos que não somos só nós que não praticamos e mentimos a respeito disso, os outros também fazem o mesmo, nesse momento podemos nos revoltar, ver cair por terra um mundo no qual vivíamos e acreditávamos. Quando isso ocorre podemos ir para um de dois lados: ou largamos a fé mais pura e criamos um cristianismo conveniente, baseado em mágoa e ceticismo, ou então buscamos a Deus para saber o que ele de fato quer de nós. Ambas as escolhas nos colocarão em oposição à religião. 
      Existe uma terceira opção, que a maioria escolhe, é dizer que as coisas são assim mesmo, que ninguém é perfeito, que temos que aceitar as coisas dessa forma e que errados são os que se afastam das igrejas porque prestam mais atenção nas vidas alheias. Essa terceira opção na verdade é o álibi que muitos acham para serem hipócritas e viverem bem com hipócritas, eles não entendem que essa não é a vontade de Deus para ninguém. Esses não são sábios ou equilibrados, como podem se achar, mas os mornos do texto bíblico inicial. 
      Vencemos a hipocrisia com dois conhecimentos: primeiro desligando religião de Deus, segundo crendo que Deus tem mais para nós que a religião. O primeiro conhecimento é muito difícil de ser assimilado, principalmente na religião cristã com sede no Vaticano onde achamos pessoas que temem mais o papa que a Deus, só pensar que o que eles ouvem nos templos não é de Deus os faz sentir nas pernas as labaredas do inferno. Mas protestantes e evangélicos também têm esse terror, por isso muitos seguem hipócritas e infelizes. 
      O segundo conhecimento é o que separa meninos de homens, amigos de Deus de religiosos, ele é o fim da hipocrisia e o início de uma jornada rumo ao Altíssimo, onde a intimidade do Senhor é conhecida. O verdadeiro conhecimento de Deus é vida e na vida há prática de amor e santidade que religião não pode dar porque é conhecimento de homem, ainda que sobre Deus. Hipocrisia é inevitável, mas escolher o que seremos depois de constatá-la não é. O que escolhemos ser: hipócritas que temem a religião ou amigos do Altíssimo? 

terça-feira, julho 06, 2021

Não traia um amigo

      “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?Tiago 4.4-5

      Quando pecamos, principalmente aqueles pecados mais secretos, que na maioria das vezes ninguém fica sabendo e que diretamente não prejudica a ninguém a não ser a nós mesmos, traímos um amigo, e isso, sim, de maneira objetiva e profunda, qual amigo é esse? O Espírito Santo. Sempre reafirmamos aqui que Deus, o Esprito Santo e Jesus (esse após ressurreição e ascensão), são espíritos, não homens físicos, e possuem qualidade morais superiores às dos homens. Dessa forma o Espírito Santo não se machuca, não se ira, não se afasta, mas nós, seres humanos encarnados, temos a percepção, em nossas almas limitadas pelos corpos físicos, que traímos o Espírito Santo quanto pecamos. Nos sentimos machucados, frios, distantes, e podemos até achar, como até escritores bíblicos acharam, que é Deus quem está ressentido conosco. 
      Isso nem tem tanta importância, o importante é sabermos que pecado tem um preço e que precisamos pagar esse preço. O preço não é algum tipo de trabalho para nos dar crédito para recebermos perdão, não, perdão é gratuito e o temos no momento em que o pedimos, o preço é adquirirmos e mantermos nossa sensibilidade moral. Morte espiritual nada mais é que frieza, insensibilidade afetiva, moral e espiritual, e muitos, ainda que bons cidadãos e mesmo bons cristãos, estão mortos. Mortos não fazemos amizades positivas, a não ser ligações com pares, outros mortos, insensíveis, escarnecedores das virtudes, maliciosos que não acreditam no perdão e em perdoados porque não pedem mais perdão e seguem não perdoados. Mortos não se importam em “machucar” o melhor amigo que podemos ter, o Espírito Santo de Deus. 
      Muda bastante nossa relação com Deus quando entendemos que o pecado não é algo que nos torna filhos piores, maridos piores, religiosos piores, não só isso, mas amigos piores, e não de qualquer ser, de Deus. Amizade é superior à relação entre patrão e empregado, entre general e soldado, entre senhor e servo, porque ela é uma relação entre iguais. Não, não somos iguais a Deus, ainda bem, ele é muito superior, em amor, santidade, poder e fidelidade, mas o Espírito Santo se coloca como nosso amigo, sempre disponível para nos aconselhar e consolar, então, quando pecamos, ele está ao nosso lado, assistindo-nos pecar. Se não sentimos vergonha fazendo algo errado na frente de alguém que nos ama e zela pela nossa saúde moral, então, algo muito errado está acontecendo conosco. Sejamos sensíveis e não traiamos um amigo. 

segunda-feira, julho 05, 2021

Nós confiamos em Deus!

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus. Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé.Salmos 20.7-8

      O salmista usa o argumento confiar em carros e cavalos num contexto de guerra física, onde esses veículos e esses animais conferem poder armamentista contra inimigos físicos. De fato carruagens de guerra e cavalos eram os equipamentos que permitam velocidade e proteção em conflitos de mil e quinhentos anos atrás, tê-los em quantidade com homens peritos em usá-los podia definir a vitória numa guerra. Contudo, o salmista, ciente disso, diz que confiar em Deus é melhor que confiar em carros e cavalos, ser autorizado por Deus para uma guerra, tendo Deus ao seu lado, confere mais capacidade de vitória que outros recursos, mesmos os mais atuais e tecnológicos.
      E nós, hoje em dia, em que guerras estamos envolvidos, e se estamos, quais são os instrumentos que os homens confiam para serem vitoriosos nessas guerras? Somos como qualquer homem, ainda que crendo em Deus, confiamos nas forças materiais, nas capacidades e ferramentas que os olhos podem ver, que as mãos podem construir e usar, que a ciência entrega? Ou de fato sabemos que um Deus espiritual e invisível é mais poderoso que qualquer coisa ou ser no universo? Os que não confiam em Deus encurvam-se e caem, ainda que bem preparados e mesmo bem intencionados, mas os que fazem menção do nome do Senhor se levantam, permanecem de pé e são vitoriosos para a glória de Deus. 
      Pode ter certeza que o rei Davi ia a guerras com ótimos carros, cavalos e cavaleiros, ele não desprezava a tecnologia de seu tempo, da mesma maneira nós hoje temos que ser sábios e esforçados, trabalharmos com a ciência do lado. Contudo, ainda que fazendo a nossa parte e com muita diligência, confiando a vitória no nome do Senhor, não no que temos ou fazemos, mesmo fazendo o melhor e tendo tudo que nos é possível. Ninguém seja insensato com a realidade física, com estudo, com trabalho, com ciência, mas também não seja cético com o mundo espiritual. Cavalos, carros, computadores, dinheiro, estudo, ciência, determinação física, tudo isso passará, Deus é espírito e é para sempre. 

domingo, julho 04, 2021

Carne e espírito (2/2)

      “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Atos 2.44-47

      Antes de seguirmos com a segunda parte da reflexão sobre carne e espírito, uma nota sobre a igreja primitiva de Atos. Muitos de nós, quando lemos o texto acima, pensamos achar o ideal máximo de vida cristã no mundo, concluindo os primeiros relatos do livro de Atos sobre a descida do Espírito Santo, a primeira pregação, os primeiros convertidos, enfim, a inauguração da igreja no mundo. Naquele momento, achar que uma vida comunitária, sem apegos materiais, dando prioridade ao espírito, fosse o final da vontade de Deus para os seus no mundo, podia ser algo até natural, afinal ninguém nasce adulto, passa-se por infância. O tempo registrado nos primeiros capítulos de Atos é justamente isso, a infância da igreja.
      Esse ideal, quase comunista, que recentemente provamos (anos 1960 e 1970), quando o movimento hippie de contracultura influenciou até o cristianismo, pode parecer um ápice espiritual cristão, mas é só infantilidade, parte de muitos equívocos que os primeiros cristãos tinham, incluindo a crença que a segunda vinda de Cristo era próxima (vede exortações de Paulo em II Tessalonicenses 2). Inocência tem seu tempo, mas mantida indefinidamente é prejudicial, todo o modo de vida descrito em Atos 2.44-47, principalmente as relações com bens materiais, não constitui caminho de espiritualidade mais alta para nós hoje, e crendo que é, seitas são criadas enganando muitos e alguns até à morte (vede Ramo Davidiano e Jim Jones).
      Existem dois tipos de meio termo entre os extremos da carne e do espírito, um é o das pessoas em conflito. Essas pessoas são materialistas, mas sentem-se culpadas por isso, o senso comum cristão as chama de carnais, mas elas podem até buscar espiritualidade em religião, ainda que experimentem constante guerra contra o pecado. Nesse meio termo se acha grande parte das pessoas atuais, gente que precisa viver a realidade, trabalhar para ganhar a vida, assim não podem se dar ao luxo de serem monges em retiro, e não são essa espécie de religioso simplesmente porque são pessoas normais e sadias, que querem ter relacionamentos afetivos, casarem-se, terem filhos, e nisso também, por si só, não há nada de errado. 
      O outro tipo de meio termo é o de pessoas equilibradas, que é o meio termo mais correto porque não nega a realidade deste mundo ao mesmo tempo que se prepara para a realidade do outro mundo. Alguns podem achar que é mais fácil ser espiritual se isolando, pode até ser, se isso for vontade de Deus, e a vontade de Deus para cada ser só Deus e o ser sabem, não podemos julgar ninguém. Contudo, se é difícil controlar certas coisas podendo usufruir delas, quanto mais tentando se abster totalmente delas, sendo mais claro, se é difícil, por exemplo, ao casado ser fiel, quanto mais ao solteiro. Mas a satisfação não está em ser solteiro ou ser casado, mas em estar em paz em Deus, e nisso é preciso equilíbrio entre corpo e alma. 
     Alimentar conflitos gasta energia, viver em guerra enfraquece ambos os lados, o segredo é deixar que dois lados distintos vivam, mas cada um no seu tempo e no seu lugar, sem que um lado guerreie contra o outro, mesmo porque em se tratando de corpo e espírito um lado só se livrará do outro após a morte. Ser guiado pelo espírito não é matar a carne, mas respeitá-la, e assim usar o corpo como templo do espírito, não como seu caixão mortuário. Um corpo debilitado não será instrumento eficiente para que o espírito brilhe, quanto mais vivo e mais limpo o corpo, mais forte é o fogo do espírito neste mundo. Viemos a este mundo justamente para achar o equilíbrio entre os dois princípios, não para que um anule o outro. 
      Neste mundo, a vitória do espírito não está na morte da carne, assim como a vitória da carne não está na morte do espírito, existem pessoas desenvolvendo espiritualidade, tendo comunhão com o mundo espiritual e ainda assim sendo pessoas carnais, por outro lado tem muitos tentando matar as inclinações da carne e ainda assim não sendo espirituais. Neste mundo, repito, a carne está no desequilíbrio, tanto pendendo para um como para outro extremo, o espírito não anula ninguém, convive com tudo em harmonia pois respeita o momento do homem encarnado. Cuidado com quem vive o tempo todo em igrejas tanto quanto com quem não sai de bares, esses estilos de vida podem ser aparentemente diferentes, mas são ambos prejudiciais. 

Leia na postagem de ontem 
a 1ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

sábado, julho 03, 2021

Carne e espírito (1/2)

      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.Gálatas 5.16-18

      O ensino inicial de Paulo é correto, porém, pode ser mal interpretado, muitos entendem por ele que existe uma guerra, de igual por igual, entre os apetites do corpo e as virtudes espirituais, mas não é bem assim, não para quem tem alguma lucidez moral. O que ocorre não é bem uma batalha, mas a tentativa de dois sistemas distintos viverem ao mesmo tempo, o material e o espiritual, e neste mundo ambos possuem direitos de existirem. Deus foi cruel colocando na Terra sistemas antagônicos em um único ser? Não, não fez isso por crueldade, os desígnios divinos são bem mais altos, mas resumindo, esse é o único jeito que o ser humano tem para evoluir, tanto como organismos físicos, como espíritos eternos. 
      Algumas óticas religiosas propõem extremismos, a negação de todo desejo do corpo como único meio de atingir a espiritualidade mais alta, assim há monges e outros religiosos no hinduísmo, no budismo, no catolicismo, e mesmo em seitas evangélicas, onde castidade, regimes alimentares, jejuns constantes, exercícios físicos, abstinência de bens, uso de hábitos comuns ou mesmo de quase nenhuma roupa, enfim, o desligamento completo de vaidades para se ter vidas dedicadas exclusivamente a servir os necessitados, ou mais, viver em constante meditação, em exílio em locais retirados. Isso, contudo, não representa necessariamente a espiritualidade mais alta de Deus, pelo menos não é uma regra geral, para todos. 
      Os materialistas mais extremados, por sua vez, que não são aqueles que muitos cristãos chamam de carnais, já que não são seres humanos perdidos nos prazeres do corpo, ao contrário, podem ter vidas tão disciplinadas como as dos monges, não se ocupam em crer e conhecer aquilo que se refere à espiritualidade. Eles objetivam o mundo físico, a conservação do planeta, a boa qualidade de vida, suas causas estão em moda no mundo atual e constróem muito da agenda da chamada esquerda nova, e são esquerda mais por se oporem aos preconceitos e misticismos da tradição judaica-cristã que por serem marxistas ortodoxos. Eles têm como guia supremo a ciência, e nisso, em si, também nada tem de errado. 
      Se todos os seres humanos vivessem o ideal de espiritualidade que alguns creem ser o mais correto, o mundo não desenvolveria, os espaços não seriam povoados, a ciência, como consequência do crescimento populacional, não evoluiria para controlar o meio ambiente e produzir alimentos e outros recursos com mais eficiência. Isso é importante só para o corpo? Não, a preocupação da ciência em criar e manter um planeta melhor para as gerações futuras, faz com que avós e pais abençoem filhos e netos, já que isso cria condições para uma vida com menos preocupações com sobrevivência do corpo e injustiças sociais, o que permite sobrar tempo para ocupar-se com lazer, com artes e principalmente, com espiritualidade. 
      É importante que entendamos que o termo carne na Bíblia não se refere necessariamente ao corpo físico, apesar da inteligência moral e intelectual dos tempos bíblicos achar que se referia. Carne é tudo aquilo que nos afasta de um Deus Altíssimo que é puramente espiritual, assim os espíritos do mal, apesar de serem espirituais em suas constituições, são carnais em suas índoles. Já o homem neste mundo, ainda que encarnado, como Jesus foi, pode dar prioridade às virtudes morais superiores que o aproximam do Deus espiritual, e assim, ainda que num corpo físico, administrando necessidades físicas, ser espiritual. A carne não está necessariamente no corpo, nem a espiritualidade obrigatoriamente no espírito. 
      “Se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”, a lei é a primeira aliança que Deus fez com o homem através de Moisés, e ela é simples, quem obedece vive e quem não obedece morre, não necessariamente no corpo, mas no espírito, a segunda morte, visto colocar o ser distante de Deus. Mas quem consegue ser espiritual sozinho, sem a ajuda do Espírito Santo? Ninguém, por isso entendemos hoje que a lei evidencia a morte, mas não entrega vida. Temos vida por Jesus que nos dá de seu Espírito, esse nos atrai a Deus, se nos deixarmos ser guiados por ele, guia que se faz por uma voz mansa e clara em nossos corações, que nos conduz em vitória sobre a passageira carne e rumo à vida espiritual eterna. 

Leia na postagem de amanhã 
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

sexta-feira, julho 02, 2021

Paranoia, não! Sabedoria, sim

      “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios.Salmos 141.3

      Muitas vezes agimos por conveniência, achamos que algo é melhor só porque apoia nossas atitudes. O tímido, que fala menos, buscará em textos bíblicos, que aprovam falar pouco, aprovação para seu temperamento, já os falantes e que tomam iniciativa, acharão no ensino que incentiva a voluntariedade e a sinceridade aprovação para o seu jeito. Quem está certo? Quem obedece a Deus em cada assunto específico, não usando uma conveniência para se proteger, nem uma lei para agir sempre de um jeito sem se dar ao trabalho de buscar discernimento na razão e na oração
      Meu jeito natural de ser é falar muito e ser impulsivo, muitas vezes sem pensar muito antes, pago um preço caro por isso. O lado bom disso é que como sou rápido para tolices também o sou para obedecer a Deus, enfim, não sou insensível, mas tenho uma sensibilidade que precisa ser bem administrada. Nesse meu modo de ser tenho a tendência de achar que as coisas precisam ser ditas para serem resolvidas, que as bênçãos devem ser compartilhadas para que Deus receba o louvor, que a revelação, mesmo de problemas pessoais, pode ajudar outros com problemas semelhantes.
      Perdoe-me por ser pessoal nesta reflexão, mas se eu não fosse assim esse blog não existiria, e tomara que ele esteja abençoando de alguma forma alguém. Contudo, tenho mudado meu jeito nos últimos tempos, e eis o ponto deste texto, tenho entendido que é melhor falar menos, mesmo quando tenho razão ou que seja sobre uma coisa boa, e isso, não por qualquer tipo de paranoia, mas por sabedoria. O sábio não teme as trevas, por não poder ver onde está, ele está na luz, pode ver tudo com clareza e por isso toma cuidado com o que fala, faz e para onde anda, ele não tem malícia mas sabedoria. 
       Se para coisas ruins, erros, tropeços, é bem recomendado que depois de assumidos e perdoados fiquem só entre nós e Deus, já que as pessoas tendem a ter uma opinião fixa sobre nós, muitas vezes usando o nosso pior como referência, não acreditando que podemos mudar e para melhor, para coisas boas, bênçãos recebidas, vícios vencidos, também pode ser mais guardar segredo. Que os outros saibam quem somos por nossas ações no dia a dia, não por revelações verbais, entretanto, tem um motivo mais sério de porque é sábio mantermos certas coisas só entre nós e Deus. 
      “O cão é sujo”, você já deve ter ouvido essa frase, não gosto muito de usá-la pois não gosto de ficar pondo culpa de tudo no diabo, contudo, muitos seres, humanos e espirituais, podem fazer o papel do “cão”. O “diabo” em nossas vidas são todos os que se colocam como acusadores, julgadores e condenadores, e esses não veem nossa fé em Jesus e nossas boas obras no caminho da redenção, eles apenas querem achar motivos, sejam eles quais forem, para nos caluniar e prejudicar. Cuidado, paranoia não é sabedoria, não confundamos as coisas, mas que esse tipo de “diabo” existe, existe.
      Somos, contudo, vítimas de armadilhas que nós mesmos fazemos, na carência de querermos atenção, de recebermos aprovação das pessoas, de construirmos alianças, para não estarmos sozinhos e sermos parte de algo maior que nos proteja, podemos confiar em pessoas erradas, falar demais e entregarmos nossos tesouros a falsos amigos (veja sobre Ezequias em Isaías 39). Não tenho dúvida que se nossa intenção for pura e em Deus estamos livres e nada precisamos temer, mas estejamos vigilantes, nossa maior alegria é sermos agradáveis a Deus, ainda que ninguém saiba mais nada sobre nós. 

quinta-feira, julho 01, 2021

Quem cobra do homem não recebe de Deus

      “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.Mateus 6.1-2

      Não basta fazer o bem, é preciso esperar recompensa por isso só de Deus, não daquele para o qual se fez o bem. Quem faz o bem para alguém, mas depois cobra desse alguém o bem feito, não receberá recompensa de Deus, e pode até receber de homens, mas será um pagamento amargo, fruto do que se fez sem amor. Esse é o ensino contido no texto inicial, tenho certeza que você já sabe dele, mas dentro desse assunto gostaria de chamar a atenção para algo mais fundo, que muitas vezes acontece em nossas vidas e nós não nos damos conta. Ser espiritual é entender a vida no mundo como oportunidades para crescer, para ir além da obrigação, para ir além de nós mesmos, para servirmos o próximo e agradarmos a Deus.
      Isso requer sacrifícios, não com dor, mas com gratidão, numa satisfação madura e de fato espiritual, quem adquire essa alegria, mesmo numa situação de esforço a mais, cresce espiritualmente. Você já teve experiência de ter que fazer algo que sabia que não precisava fazer porque não era obrigação sua,  mas tinha que fazer porque uma terceira pessoa, que tinha obrigação de fazer, não estava fazendo? Em algo assim a gente acaba fazendo, mas se sentindo mal, dizendo que o outro é um folgado, que por não nos ajudar fez nossa cruz ser mais pesada. Quando isso ocorre, fazemos, mas podemos ficar aguardando o momento certo para nos vingarmos, para exigir da terceira pessoa nosso esforço a mais. 
      Que honra há em fazer algo que não nos custe nada? E se fazemos algo contrariados é, para nós, o mesmo que não fazer, ainda que outros sejam beneficiados. Contudo, num sacrifício feito com amor e humildade, encontramos uma honra que Deus quer nos dar, aproveitando uma oportunidade criada pelo Senhor em nossas vidas para crescermos. Se Deus quer nos dar uma honra é porque precisamos dela, isso nada tem a ver com quem desfruta do que fazemos, nem com o que deixou de nos ajudar a fazer, isso tem a ver conosco. Não somos melhores por ajudarmos um necessitado, nem por trabalharmos por um folgado, mas porque obedecemos a Deus, se é que para Deus e em Deus nós de fato vivemos e nos alegramos.