terça-feira, maio 31, 2022

Vinte anos de ensaio, vinte minutos de show (2/2)

      “Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o Senhor a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente. Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou Deus com ele, dizendo: Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações; e não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto; e te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti” Gênesis 17.1-6

      Algo que me chama a atenção nas vidas de Abraão e Moisés (Êxodo 7.7) é a idade na qual eles, enfim, estavam preparados para servirem aos propósitos da providência divina, não eram nem um pouco novos, aliás, para os padrões atuais, eram bem idosos. Isso antagoniza com a ideia que equivocadamente temos de achar que a vida tem que se resolver rapidamente, se isso não acontece nos frustramos, desistimos e ficamos, qual crianças mimadas, desejando a morte. A morte chega para dois tipos de pessoas, para as que a merecem e para as que já gastaram todas as oportunidades que podiam ter para cumprirem suas missões. Não entendemos que muitas vezes o que chamamos de fim é só o novo e talvez o mais importante começo. 
      Não desista, talvez você esteja precisando só de um upgrade para cumprir tua missão, crer sem ver, receber novo nome e entender que ser amigo de Deus é melhor que ser amigo do mundo, como Abraão. Há um símbolo importante em receber novo nome, isso é uma das promessas aos salvos descrita no livro de Apocalipse (2.17). Espiritualmente nome é posição espiritual cuja mudança implica em aquisição de novos direitos espirituais, quando Abrão teve o nome mudado para Abraão foi colocado como “pai de muitas nações”. Só pela fé um homem de quase cem anos, sem filhos e com uma esposa de noventa anos (Gênesis 17.17), podia receber de Deus tal posição, mas ele creu e isso valeu para que nações e reis viessem a existir. 
      Não somos máquinas com datas de validade, somos filhos de Deus, se um celular a partir de um modelo não pode mais receber atualizações de sistema operacional, para nós não há limites se Deus quiser e puder agir. Deus sempre quer, mas nós precisamos autorizar, nem Deus vai contra nosso livre arbítrio, e muitos de nós só escolhem obedecer já envelhecidos. Contudo, bem-aventurados os que ainda que idosos, podem ser instrumentos do plano divino, para cumprirem suas missões de servir os homens. Por outro lado, tempo nada significa para Deus, ele nos usa com vinte anos ou com sessenta. Não faz diferença ele ter que esperar quarenta anos para estarmos prontos para uma missão, Deus não se cansa de esperar por nós, nunca. 
      Neste mundo, presos a corpo físicos, sofremos justamente por nos importarmos demais com o tempo, é claro que parte desse sofrimento é legítima, envelhecemos, adoecemos, ficamos mais frágeis e nossos corpos doem e nos limitam. Mas grande parte do nosso sofrimento, e que pode ser responsável por fragilizar nossos corpos, é sofrimento pelo orgulho, nos comparamos com outras pessoas e achamos que elas aproveitaram o tempo melhor que nós. Nos esquecemos do fato das pessoas virem a esse mundo com especificações diferentes dadas por Deus, portanto com provações diferentes, e consequentemente com oportunidades de configurações, updates e upgrades diferentes, assim sendo, tendo missões distintas. 
      Aceitarmos que não somos e não precisamos ser iguais a outras pessoas é vital para termos paz, assim, não precisamos nos sentir cobrados por ninguém, não se estivermos em comunhão com Deus. Se um parente é financeiramente mais bem sucedido que nós, que importa, se um colega tem mais facilidade para estudar e por isso é mais promovido profissionalmente que nós, que importa, se um irmão prega ou canta melhor que nós, que importa. Importa é descobrirmos em Deus quem somos, trabalharmos, com coragem e fé, para sermos melhores e melhores principalmente moral e espiritualmente, mais amorosos, mais justos, mais santos. Importa obedecermos e agradarmos a Deus, que nos fez e sabe o que temos que fazer e ser.
      Se puder leia os textos bíblicos com as histórias de Abraão e de Moisés, mas as histórias de Jó, José, Rute e Davi também são interessantes para entendermos quantas coisas e por quanto tempo o ser humano precisa passar para ser burilado pela vida e pelo mundo para estar pronto para uma missão. A regra é que a vida é longa e desconhecida, por tentar abreviá-la ou achar que pode ser previsível, é que muitos vivem sem nunca viverem, e permanecem só como figurantes da própria história, nunca experimentando o próprio protagonismo. Mas sempre há tempo, enquanto estamos por aqui, e muitas vezes só depois de vinte anos de ensaio, é que o palco se ilumina para que façamos vinte minutos de um show que mudará muitas vidas.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

segunda-feira, maio 30, 2022

Especificações, configurações, updates e upgrades (1/2)

      “E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.” Tiago 2.23

      Updates e upgrades aperfeiçoam o processamento e disponibilizam novos recursos nas configurações, corrigindo e otimizando o funcionamento de softwares, sem que mudem as especificações originais do hardware, procedimentos que aprendemos a administrar para usar com eficiência computadores, tabletes e celulares. Eles também se aplicam às nossas jornadas neste mundo, ainda que sejamos superiores a máquinas, um exemplo disso foi a vida do patriarca Abrão. Era um bom homem, rico, casado, mas que fez uma aliança com Deus, teve o nome mudado para Abraão, entendeu o que é acreditar sem ver, e foi chamado amigo de Deus, eis alguém que passou por um processo de mudanças para cumprir um objetivo. 
      Devemos reconhecer e aceitar nossas especificações, elas nos acompanham por toda a vida, são nossa identidade, diferencia-las de configurações e melhorias é imprescindível para exercermos o que podemos fazer de melhor e sermos felizes com isso. Especificações tem a ver com vocações, dons, talentos naturais, que nascem conosco, facilidades que temos no desempenho de muitas coisas que independem de fatores externos ou do tempo. É claro que educação, formação e experiência aperfeiçoam nossas especificações de fábrica, mas não as modificam radicalmente. Muito de nossa felicidade está relacionado a gostar do que somos e sermos o que gostamos, numa sinceridade que é humilde e não é negligente ou invejosa. 
      Temos que conhecer nossas configurações e ajustá-las para que sejamos mais eficientes. Quando compramos um celular, lá naquele ícone com uma circunferência dentada, parecendo uma engrenagem, acessamos diversos parâmetros, eles nos permitem customizar o aparelho, deixá-lo mais confortável a nossas necessidades e preferências. Como seres humanos também podemos fazer escolhas, de atividades, de companhias sociais e de lugares, onde podemos ser mais eficientes. Todos não podem fazer tudo e bem, assim temos que aceitar especificações, mas podemos ajustar nossas vidas para que elas funcionem melhor, configurando nossas interações com nós mesmos, com as pessoas, com o espaço e com o tempo.
      Especificações não podem ser mudadas, mesmo com as melhores configurações, mas podermos fazer escolhas nos melhoram, ainda serão ajustes ao que sempre fomos, mas podem trazer à tona recursos que nem sabíamos que tínhamos. Essas escolhas podem ser pequenas ou grandes alterações, simples atualizações (updates) para nos adaptar a mudanças, ou extensas aquisições de recursos (upgrades), que utilizarão com mais eficiência nossas características originais. É preciso coragem, trabalho e fé para fazermos, não só ajustes de configurações, mas updates e upgrades, e só em Deus nos é possível entender e pôr em prática características importantes, que muitos passam a vida sem saber que as possuem. 
      Nascemos com especificações, na infância e juventude recebemos criação familiar e estudos que fazem updates nelas, mas é só na maturidade que aprendemos a ajustar nossas configurações para sermos mais eficientes. Contudo, com coragem, trabalho e fé, podemos receber em Deus grandes upgrades, que nos farão achar até que somos equipamentos diferentes dos originais, mas são só aquisições de conhecimentos que farão emergir aquilo que somos de melhor. As escolhas durante todas essas fases são provações, que nos melhoram como seres humanos, mas usar tudo isso para servir os outros são nossas missões. Só teremos jornadas completas se formos aprovados nas provações e cumprirmos nossas missões. 
      Todas essas simbologias usadas aqui significam que estamos presos a limites e destinos? Sim, mas isso não torna a vida menos surpreendente e instigante, pelo simples fato que não sabemos, pelos menos a princípio, quais são nossos limites e destinos. A aventura de viver é justamente testar, descobrir e vivenciar esses parâmetros, e muitos passam toda uma existência e nunca entendem isso. O desconhecimento de limites e destinos é propósito de Deus que nos leva a trabalhar, com coragem e fé, para que descubramos como ser felizes como seres humanos e úteis nas vidas de outros seres humanos. Não somos máquinas insensíveis, sofremos e nos alegramos, nos entediamos e nos apaixonamos, assim nos definimos.
 
Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

domingo, maio 29, 2022

Forte é quem pode dar vida

      “Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.Salmos 130.4

      Quem é mais forte, quem dá a morte ou quem dá a vida? Quem faz morrer vence o outro, anula de vez um opositor, mas quem vence pelo ódio sempre terá novas pessoas para odiar. Quem faz viver, mesmo o que merece morrer, vence o outro e a si mesmo, e fechará a porta para ter novos opositores, pelo menos de sua parte. Vence a si mesmo porque supera sua vontade de matar, seu ódio, a insegurança de achar que só a morte de um opositor dará cabo a riscos para sua vida. Mas quem dá a vida vence também o outro, porque dá a oportunidade de um inimigo se tornar um amigo, grato por ter recebido misericórdia, não condenação, a vida, não a morte.
      Tantas vezes somos fortes para matar, mas não para dar vida, matamos não só corpos com tiros e facadas, mas também almas com palavras, e mesmo com sentimentos silenciosos, sem que ninguém saiba, podemos matar as pessoas dentro de nós. Mas essa é a maior mentira da violência, da vingança, do desabafo que achamos que temos direito de fazer verbalmente contra alguém que achamos que nos prejudicou, vencer o mal com o mal. Mal não anula mal, só o multiplica, só o bem anula o mal e cria mais bem, na exteriorização do mal não existe força, mas fraqueza, só o bem nos torna mais fortes, ser forte pode ser não fazer nada. 
      “O que despreza o seu próximo carece de entendimento, mas o homem entendido se mantém calado” (Provérbios 11.12), não fazer nada não é desprezar alguém, aí ainda que pareça reação de alguém superior é só arrogância, arrogância é se achar tão melhor que não precisa reagir a pessoas que considera inferiores. Mas o arrogante não aparentará superioridade para sempre, em algum momento será traído pelo ódio e pela insegurança que tentou esconder dentro de si e será revelado. Só o amor cala em paz a vingança, dando a vida, não a morte, Jesus não suportou injustiça por arrogância, mas por amor, ainda que soubesse que era filho de Deus
      Quem dá vida quando podia dar a morte, ainda que não seja amado será temido, e um temor muito mais legítimo que o que se tem pelo que mata, pois é temor da luz, não das trevas. As trevas amedrontam mas atraem os que querem permanecer nelas para um confronto ainda mais violento, já a luz causa temor e afasta os que querem continuar nas trevas. A luz vence silenciosamente e sem agredir pois ela dá liberdade para a presença de Deus, o Senhor da luz, que luta pelos que amam a vida, não a morte, pelos que perdoam e não respondem mal com mal. Vencer a morte é vencer primeiro a nós mesmos, para depois podermos dar ao outro a vida. 

sábado, maio 28, 2022

Não brinque com pecado

      “Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.João 5.14

      Brincar com o “pecado” é reincidir nele depois de ter noção que ele é errado e prejudica a nós e aos outros. Coloquei entre aspas porque nesta reflexão “pecado” pode representar vários tipos de erros que seres humanos, cristãos ou não, cometem. Alguns sabem que jogar lixo na rua é errado, mais ainda estando próximos a lixeiras, mas fazem, outros sabem que comer demais prejudica sua saúde, mas continuam comendo sem controle, outros já entenderam que trair o cônjuge machuca a si e ao outro, mas não cessam as traições. Citei três tipos distintos de “pecados”, um social, um físico e outro moral, qual é o meu?
      O pior tipo de irresponsabilidade é ter uma vida de pecado, principalmente na área sexual e conjugal, e usar o púlpito, e nem digo ir de vez em quando à frente do templo para falar alguma coisa, mas para pregar, tendo título oficial de pastor, pregador ou outro. Que escândalo, esses que não abrem mão da vaidade de serem vistos e aplaudidos por muitos, causarão quando seu pecado vier a público, que vergonha para o evangelho, mas também que preço caro pagarão. Brincar com o pecado, não levá-lo a sério e ainda posar de cristão, de “ungido”, de celebridade gospel seja na palavra ou na música, tem preço alto e doloroso.
      Com 62 anos de vida (45 de convertido) já vi muitos pagarem preços amargos por terem brincado com pecado, principalmente por terem sido irresponsáveis com chamadas ministeriais. De vergonha pública e destruição de famílias, a doenças terríveis, mortes por acidentes estúpidos e mesmo suicídios, isso porque muitos que passaram a vida como pastores não conhecem outro meio de sobrevivência, não só social como profissional, perder tudo isso pode ser algo que não dá para ser encarado. Não foi Deus que se vingou, Deus não se vinga, foram as leis divinas do universo cobrando efeitos ruins de causas ruins. 
      É preciso repetir aqui algo: as pessoas, principalmente protestantes, não entendem como Deus trabalha nas vidas dos seres humanos. Muitos cristãos acham que quando alguém vem para uma igreja, se batiza, tem seu nome no rol, e mais ainda, quando faz seminário e se torna pastor ou reverendo, a vida dessa pessoa é transformada como que num passe de mágica. Acham que essa pessoa já está pronta e nunca mais pecará, pelo menos aqueles pecados que tais consideram os maiores (como se pecado tivesse tamanho). Deus pode até trabalhar assim em algumas vidas, mas não em todas, cada pessoa tem história exclusiva. 
      O que Deus tem para as pessoas só saberemos quando elas partirem deste mundo, até lá a “temporada” de reformas, desconstruções e reconstruções, está aberta. Infelizmente, por não entenderem isso é que muitos pastores persistem em esconder assuntos que sabem que destruirão suas carreiras, persistindo na hipocrisia, consequentemente dando um alimento contaminado às ovelhas, mas principalmente, não resolvendo-se. Penso que o pecado pior nem é o pecado em si, e pecado todos nós cometemos, mas é esconder o pecado, isso impede Deus de trabalhar, aumenta o pecado pela mentira e perde-se tempo. 
      Divórcio? Às vezes causado porque o homem ou a mulher nem heterossexuais são? É algo muito triste, dolorido para as famílias envolvidas e mais ainda para filhos se houver, mas é melhor que a hipocrisia. A verdade é sempre melhor, nela Deus pode agir, reconstruir, mas para enfrentá-la há de se ter humildade e coragem. Grandes erros ocorrem por causa de grandes teimosias que existem por causa de grandes orgulhos, a revelação desses implicará em enormes humilhações, que desencadearão mudanças extremas. Mas ninguém se sinta só nisso, muitos precisam disso, mais gente que achamos, ainda que não assuma.
      O que leva à hipocrisia é achar que a vida tem que se resolver depressa, que tem que dar certo de cara, que não se pode errar. Muitos protestantes veem a vida assim, como veem de forma errada suas denominações e suas igrejas, considerando-as pedaços do céu, onde os que pisam não podem mais cometer grandes pecados, isso é arrogância. Isso é menos comum em igrejas pentecostais, que por receberem público com menor poder aquisitivo e pior formação cultural e estrutura familiar, em outras palavras, gente com perfil da maioria dos brasileiros atuais, são mais complacentes com quedas e reerguidas humanas. 
      Mas nas chamadas igrejas protestantes tradicionais, sem generalizar, o falso moralismo pode ser maior, por isso doenças psicológicas e até suicídios de líderes podem ocorrer. Novamente nos deparamos com o questionamento alarmante: que evangelho está sendo pregado nas igrejas cristãs? Aquele que dá novas oportunidades em amor aos humildes, ou o falso, que exige vida religiosa de aparências? Pecado é pecado em qualquer lugar e para todos, não deve ser suportado, mas cura para ele nem sempre é rápida e milagrosa, pode ser um longo processo no tempo, realizado no amor de Deus, e se possível, dos homens. 

sexta-feira, maio 27, 2022

Se não for algo espiritual, não diga

      “E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais; Porque eles vos profetizam falsamente em meu nome; não os enviei, diz o Senhor. Porque assim diz o Senhor: certamente que passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.Jeremias 29.7-10

      Se não há um jeito espiritual de se dizer algo é porque não é para ser dito. Para ser espiritual não basta ser verdade ou dizer com convicção, deve ser manifestado com amor e em santidade. Muitas vezes não conseguimos achar amor para dizer algo, ou não mantemos a santidade quando dizemos, e pode nem ser por estarmos em pecado, mas por estarmos ultrapassando limites e desobedecendo a Deus, ainda que tenhamos algo útil a dizer. Pode ser melhor só orarmos a Deus e intercedermos por alguém, vigiando em amor e santidade, que fazer justiça com as próprias mãos sem amor e perdendo a paz. 
     Antes de tentarmos acertar os outros devemos nos acertar, quando estamos certos diante de Deus somos espirituais e na verdadeira espiritualidade há amor e santidade reais. Contudo, alguns de nós têm chamadas específicas ou são confrontados com pessoas específicas, e nisso não somos chamados para sair atirando verdades nas caras dos outros, mas para orarmos pelos outros, em contrição, humildade e muito amor. Essa é uma chamada poderosa e necessária, ainda que invisível aos olhos de homens, que só honram aquilo que veem. O que trabalha com discrição é abençoado pelo Deus invisível.
      A passagem inicial de Jeremias é uma orientação que Deus dá a um povo que terá que passar por setenta anos de disciplina, situação que não será mudada por nada. Contudo, ainda nessa situação inexorável o povo podia ser feliz e devia orar, ao invés de cair numa disposição depressiva que desiste da vida diante do opressor implacável. Por quem deveria interceder? Pelo opressor. Num mundo atual onde as pessoas não querem pagar preços, não querem sofrer e acham que fé em heresias pode livra-las de toda dor, essa orientação pode não ser entendida por muitos que se dizem cristãos. 
      Eis uma situação onde a verdade não pode ser dita porque quem pode dizê-la está numa posição ilegítima, o povo de Deus sendo escravo de um povo que não teme a Deus. Ainda que seja nação escolhida, Israel não deveria ter qualquer disposição altiva, deveria aprender, agora a duras penas, o caminho da humildade. É mais útil para nós hoje tirarmos uma lição dessa passagem interpretando o cativeiro não como uma fase da vida, mas como toda nossa existência neste mundo, vendo assim entendemos que nascemos em cativeiro e seguiremos cativos até a morte. Cativos de homens? Não, de nós mesmos.
      Se vermos a vida assim entenderemos como podemos ser espirituais, desfrutar de amor e santidade, e como devemos manifestar essa espiritualidade, com humildade e esperando aprovação só de Deus. Se não for espiritual, não diga, o silêncio cabe aos cativos, não do pecado e dos vícios, mas do corpo material, os que assim se colocam são libertos no espírito e como tais têm privilégios espirituais. Não tentemos ganhar e manter glórias neste mundo, isso é uma ilusão, não queiramos dar a última palavra nem prevalecermos sobre os homens de alguma maneira, vivamos para Deus, calando e orando. 
      Quem tiver alguma lucidez perceberá que a orientação desta reflexão vai contra a ordem que impera no mundo atual, que é: diga o que pensa, sem medo e a todos, imponha seus direitos, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará e neste mundo” (dói meu coração ver essa palavra de Jesus sendo tão mal usada). Ah, meus queridos, este mundo sempre será um cativeiro e só conquista a liberdade maior quem entende e assume isso, quem se prepara para a existência na melhor eternidade com Deus, onde poderemos ser espirituais e dizer, com todo amor e na mais alta santidade, coisas hoje inefáveis.

quinta-feira, maio 26, 2022

Livrando-nos do medo (2/2)

      “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.II Coríntios 5.17

      Alguns podem dizer que o que estamos falando aqui é inútil, só “frescura”, esses até têm experiências semelhantes, mas as ignoram. Contudo, precisamos entender que traumas podem nos impedir de conhecer muitas verdades, nos tornam medrosos, limitam nossas jornadas e nos fazem infelizes. Uma das melhores definições de nossas existências neste mundo, é que elas são passageiras estadias num hospital para se experimentar cura, não só do corpo e da mente, mas antes disso do espírito. Negar doença, busca por cura e oportunidade de ser curado é negar a vida, é fugir da razão de ser.
      Muitos fazem isso, são orgulhosos, se acham sãos e fortes, mas são só covardes negando a vida, por isso tantos acham que chorar é sinal de fraqueza, outros choram por qualquer coisa, alguns não acham graça em coisas simples e boas, outros riem de desgraças. Isso tudo são sentimentos viciados precisando de resgate, espíritos doentes necessitando de tratamento. Não podemos ver ou tocar nossos espíritos, mas podemos notar mentes transtornadas, percepções distorcidas e órgãos e membros doentes em nossos corpos, a qualidade de nossos espíritos se reflete nisso tudo.
      Medo é sistema de alerta contra perigo, assim não é errado por si só, mas nem sempre ele nos alerta contra perigos reais, muitas vezes é medo de riscos imaginários, justamente por causa de lembranças onde experiências ruins foram aliadas a sons, imagens, cheiros etc. Vencemos o medo errado com fé em Deus, não somente sozinhos, sim, é preciso determinação pessoal, mas não é só isso que resolve, como diz a psicologia materialista. Fé no Deus verdadeiro nos dá não só proteção contra males, que não temos nem noção que existem, também nos dá conhecimento de verdades espirituais.
      Essas verdades podem nos mostrar aquilo que de fato temos que nos manter longe, e do que podemos nos aproximar sem receio, ainda que a princípio sintamos medo. O desconhecido sempre nos causa temor, mesmo o desconhecido benigno de Deus, e nesse caso o medo não é para nos afastar de algo para sempre, mas só aviso que temos que nos preparar melhor, respeitando nossas limitações assim como os misteriosos caminhos de Deus. Na Bíblia muitos sentiram um temor terrível quando confrontados com seres espirituais do bem (leia mais post “Cegos sob o Sol”).
      É quase normal, para a maioria de nós, ter medo do mundo espiritual, afinal, a tradição judaica-cristã nos criou para ter esse medo. É mais fácil para quem quer controlar as pessoas e impedi-las de saber certas coisas, aliar perigo a essas coisas, assim, por medo, ninguém se aproxima delas. Mas será que temos de fato que temer certas coisas? Elas realmente implicam em perigos? É verdade que coisas podem nos pôr em risco, se não soubermos tratá-las, crianças podem ser criadas com medo já que elas ainda não estão prontas para separar o que é e o que não é perigoso. 
      Mas se nem crianças hoje são criadas pelo medo, por que religiões querem criar homens medrosos? Não podemos voltar no tempo, mas podemos resgatar nossos sentimentos, sabermos quando algo é bom e com o qual podemos nos alegrar, assim como discernirmos quando algo é ruim, não para nos sentirmos apavorados, mas só para nos afastarmos dele. O mais importante é nos libertarmos das mentiras que nossos próprios sentimentos podem nos contar, conseguimos isso reeducando nossos sentimentos à medida que caminhamos com Deus, só sua luz pode nos iluminar e nos curar. 
      Quando algo me amedronta eu pergunto objetivamente a Deus se devo parar ou seguir, muitas vezes não é um “diabo” me afrontando, mas apenas um “anjo” guardando uma porta. Nesse caso se eu pedir com cuidado Deus me preparará, isso pode demorar algum tempo, mas depois Deus abrirá a porta, então, serei libertado do medo. Tenho essa experiência principalmente em áreas de conhecimento do mundo espiritual. Mas mesmo em áreas morais precisamos de resgate, já que nela somos criados no meio cristão com falsos moralismos e muitos preconceitos, que nos causam falsos medos. 
      Como sentimentos podem ser resgatados? Substituindo lembranças de experiências ruins por novas e boas experiências, cujas lembranças falarão mais alto que as antigas. A melhor experiência é conhecer a Deus, depois a nós mesmos, então amarmos os outros e sermos amados do jeito certo, sem violências e egoísmos. Resgate de sentimentos é trabalho de uma vida, ainda que na “conversão” entendamos o que Deus quer de nós, não mudamos num instante. Devemos nos lembrar que em Jesus somos novas criaturas todos os dias, porque nos esquecemos disso todos os dias. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza 

quarta-feira, maio 25, 2022

Resgate de sentimentos (1/2)

      “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.Jeremias 17.9-10

      Tem algo em nós que precisa de redenção, nossos sentimentos. Sensações, sons, cheiros, imagens e demais percepções de nossos sentidos, que para alguns podem trazer sentimentos agradáveis, porque de fato são coisas boas, para outros podem trazer sensações ruins. Isso acontece porque em algum momento de nossas vidas, mais provavelmente em nossas infâncias, quando nossas identidades foram formadas, coisas ruins ocorreram enquanto percebíamos essas coisas, dessa forma tal percepção ficou ligada dentro de nós a coisas que fazem com que nos sintamos mal. 
      Vamos supor que na infância uma pessoa tenha recebido a informação que morte e enterro são coisas ruins. Essa pessoa pode até ter experimentado algum tipo de violência em um evento envolvendo morte ou enterro, violência verbal, física, psicológica, ou ter tido uma morte específica que a traumatizou, enfim, em sua cabeça ficou gravado que morte e enterro não são coisas agradáveis. Não que essas coisas sejam agradáveis, mas podemos educar as crianças com sabedoria, de modo que mesmo coisas difíceis e dolorosas elas possam enfrentar com calma.
      Junto disso, que pode ser no momento do trauma ou num momento posterior, a pessoa foi levada a um enterro e percebeu no local um determinado cheiro, pode ser cheiro de comida de um restaurante próximo, de tinta fresca de um lugar acabado de ser pintado, pode mesmo ser o aroma de flores. A mente humana é especialista em conectar pontos, memorizar para depois ser mais fácil achar significado. O que importa no exemplo é que morte e enterro ficaram marcados na cabeça da pessoa como coisas ruins, assim um tal cheiro fará com que ela se lembre disso e sinta-se mal. 
      Pois bem, anos depois, mesmo num ambiente alegre, de festa, se a pessoa perceber o mesmo cheiro se sentirá mal, sua memória se lembrará daquele ambiente de enterro, do lugar onde um morto foi velado. Veja que o problema não é o enterro ou a morte, por mais tristes que sejam essas coisas, também não está no cheiro, poderia ser até o aroma de um suave perfume. O problema foi a informação que registrou-se na cabeça da pessoa, que morte e enterro são coisas ruins, a mente aliará morte e enterro a um cheiro e esse cheiro não será agradável e a fará sentir-se mal.
      Usei o exemplo de coisas que não são as normalmente mais alegres do mundo, mas poderia até ser algo bom, você poderia ter sofrido algum tipo de violência numa festa de casamento, ou ter sido convencido de alguma maneira que festa de casamento é algo ruim. Pois bem, se anos depois, num lugar totalmente diferente, ouvir uma música que ouviu na festa de casamento, você poderia se sentir mal, além de não se sentir bem em qualquer festa de casamento, com ou sem a música, e aí mesmo que não se toque a música você poderá até imaginá-la e ouvi-la. 
      Traumas ficam especificados em nós, um determinado evento será a memória registrada, ainda que tenhamos ido a outros eventos semelhantes, dessa forma além do cheiro, do som, as imagens desse evento virão à nossa mente, juntos do mal estar. Isso não é uma regra, pessoas diferentes podem ser traumatizadas por coisas diferentes, algo que para um poderá gerar um trauma, para outro não fará diferença, e até poderá gerar um sentimento oposto. O ser humano é complexo, e Deus permite provas diversas para que pessoas distintas sejam aprovadas diferentemente. 
      Resgate de sentimentos, eis o ponto desta reflexão, isso é necessário e possível, Deus pode nos ajudar nessa redenção, mas isso não é algo fácil e rápido. O assunto deste texto não é teórico para mim, é experiência prática, e penso que ele pode ajudar as pessoas, contudo, é minha responsabilidade dizer que não sou psicólogo, assim, se tiver um problema sério relacionado ao que refletimos aqui ou se conhecer alguém que tenha, procure um profissional da área médica. Sejamos humildes, alguns problemas não podemos e nem precisamos resolver sozinhos. 
      Esta é a primeira parte da reflexão, a pergunta foi feita, na segunda parte seguirá uma possível resposta. Mas para você não encerrar a leitura sem um ensino, reflita no texto bíblico inicial, enganoso é o coração, diz ele. Não podemos confiar cegamente nas emoções, precisamos confirma-las através de oração persistente, permitindo que o Senhor esquadrinhe nosso coração e prove nossos rins, e coração e rins referem-se aos sentimentos. O que busca a Deus sentirá paz, conhecerá a vontade do Senhor, não só as imaginações de sua alma, e não se sentirá confuso. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

terça-feira, maio 24, 2022

Agrade-se Deus conosco

      “O Senhor teu Deus está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo.Sofonias 3:17 

      Não existe coisa mais agradável de ouvir que Deus falando que está feliz com nossas vidas, que se agrada dos nossos caminhos. Talvez seja porque não ouvimos isso de homens, e muitas vezes daqueles cuja opinião é mais importante para nós. Penso que é impossível saber dessa aprovação de Deus e não ficar satisfeito, de maneira tal que toda mágoa, toda cobrança, toda inveja e toda insegurança apequenem-se. Estarmos satisfeitos com Deus resolve as outras insatisfações, e com efeito cura todo desamor, sabermos que Deus está feliz com nossas vidas nos deixa livres para amar a todos com pureza e com a paciência, algo que tantos necessitam com muita urgência. 
      Por outro lado, o motivo de muitos cobrarem tanto de homens, de parentes, de irmãos, de amigos, é achar que suas vidas não agradam ao Pai maior, muitas vezes de maneira inconsciente. Contudo, muitos conscientemente não acham que a opinião de Deus sobre eles realmente importa, ainda que se digam cristãos, se importam mais com o que os homens pensam. Homens, incluindo muitos religiosos, julgam pela aparência e pelos títulos, se valores materiais não são exibidos as pessoas são menosprezadas. Deus nos avalia pela espiritualidade, pelas virtudes morais que praticamos, tanto faz para ele dinheiro, bens e posições que mostramos aos homens neste mundo.
      Quando Deus se alegra ele sorri e seu sorriso é a luz espiritual mais alta sendo intensamente emanada sobre nossas vidas e daqueles debaixo de nossa cobertura de oração. A luz de Deus nos salva, nos arrebata das intenções e planos dos maus, mas ela também nos renova em amor. Ser renovado é ser refeito e enquanto no mundo e em corpos físicos nós precisamos de reconstruções constantes, visto que facilmente, e muitas vezes sem motivo aparente, nos entristecemos e nos vemos caídos. A alegria do Senhor é nossa força, nossa vida, nossa esperança, a certeza que Deus não está distante e indiferente, mas perto, atento e ativo, agradando-se dos humildes que o temem. 
      “Quando te sentires totalmente satisfeito só por saber que Deus te conhece e agrada-se de ti, estão serás realmente feliz, pois tua felicidade não dependerá do mundo, mas só de Deus. Quando te satisfazeres com essa felicidade, então, mistérios encobertos a muitos te serão revelados, conhecimentos que materialistas e ocultistas desejam, mas não acham, porque os querem só para se exibirem diante de homens. A palavra de Deus é vida, quem a acha a guarda, como ao tesouro mais caro e raro, e cala, não tem mais necessidade de aparentar, pois já conseguiu ser e ser para Deus, para mais ninguém. Ninguém saberá disso, só Deus, e isso não importará.

segunda-feira, maio 23, 2022

Não desista!

      “E não nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo faremos a colheita, se não desanimarmos.Gálatas 6.9

      Não desista de fazer o bem.
      Não desista de ser a paz.
      Não desista de clamar por justiça.
      Não desista de chamar pecado pelo nome.
      Não desista de pedir perdão.
      Não desista de dar novas oportunidades. 
      Não desista de crer que alguém pode melhorar.
      Não desista de amar.
      Não desista de ser paciente.
      Não desista de ser simples.
      Não desista de não ser malicioso.
      Não desista de não julgar.
      Não desista de orar.
      Não desista de crer.
      Não desista de viver. 
      Não desista de trabalhar.
      Não desista de olhar o Sol.
      Não desista de ver a Lua.
      Não desista de esperar pela chuva.
      Não desista de apreciar as flores.
      Não desista de ensinar as crianças.
      Não desista de seus filhos.
      Não desista de seu cônjuge.
      Não desista de seus pais.
      Não desista de seus irmãos.
      Não desista de você. 
      Não desista de não mudar.
      Não desista de mudar se preciso. 
      Não desista de questionar.
      Não desista de buscar respostas.
      Não desista de querer o que parece impossível.
      Não desista de se contentar com o mínimo.
      Não desista de ser feliz.
      Não desista do céu. 
      Não desista de Deus. 

domingo, maio 22, 2022

Rodas quadradas?

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus.Salmos 20.7

      Vou iniciar esta reflexão contando uma estória, nem é uma parábola, e mais uma fábula, digamos assim, e bem hipotética. Há muito tempo atrás, numa terra imaginária, quando as primeiras carroças foram utilizadas e camelos, jumentos, cavalos, bois e outros animais eram força motriz para elas, usava-se rodas, mas não eram redondas, eram quadradas. Parece engraçado? Você já vai entender. Essas rodas tinham utilidade, ajudavam os veículos a se movimentarem, mas eram duras, lentas, giravam aos solavancos. 
      Com o tempo, pelo desgaste, as rodas quadradas perdiam os ângulos e ficavam arredondadas, contudo, quando isso acontecia as rodas eram descartadas e por novas rodas, quadradas, eram trocadas. Usar rodas quadradas nem era escolha do povo, era obedecer ordem do rei, e quem usasse rodas de outros formatos era punido, afinal, só havia uma fábrica de rodas e essa pertencia ao rei. Essa fábula parece inverossímil, ridícula, impossível? Pois é, mas é assim que a humanidade se comporta com muitas religiões. 
      O ser humano, usando mal a característica de adaptabilidade, facilmente se acomoda, assim se alguém que ele considera importante diz algo, ele obedece, nem se importa se as rodas da carroça são quadradas. Se artistas, ricos, políticos e reis são formadores de opinião, mais peso tem a palavra de líderes religiosos, afinal ensinam sobre uma maneira de se ter provisão, proteção e aprovação de uma divindade, assim como um jeito de passar a eternidade no paraíso. Para não precisar pensar, o homem paga outros para isso. 
      Aprofundado-se mais na estória inicial, o problema não estava só nas rodas quadradas serem o tipo de roda que as pessoas tinham que usar no início, se fosse isso com o tempo elas perceberiam que tal formato não era eficiente e procurariam usar formatos melhores. Poderiam mudar para pentagonais, depois hexagonais, só nessas mudanças os solavancos já seriam menos acentuados. Contudo, o rei era dono da fábrica de rodas quadradas, lucrava com elas, e não queria ninguém tendo ideias melhores que a sua. 
      O cristianismo estabelecido no mundo não só dogmatizou entendimentos sobre Deus, o diabo, Jesus, salvação e a eternidade, que ainda que fossem ideias superficiais poderiam ser o início necessário para que depois o homem seguisse sozinho e conhecesse mais das verdades que esses princípios contêm. Esse falso cristianismo proibiu o crescimento, e mais, se alguém pensasse diferente seria excomungado, expulso do rol ou pior. Deve-se usar rodas quadradas sempre, afinal, instituições religiosas lucram com elas.
      Andar com Deus é algo tão poderoso que ainda que comece restrito, se há vontade do ser humano, conduz a conhecimentos espirituais profundos, e isso de maneira natural, como as rodas quadradas que com o tempo, pelo desgaste, se arredondam. Mas nesse momento o homem deve ter coragem para assumir que o que começou limitado tornou-se melhor e não deve ser descartado, mas usado para seguir em frente. Ele não precisa comprar novas rodas quadradas, nem temer o rei, pode usar as mais eficientes rodas redondas.
      Ainda que religiões queiram nos obrigar a comprar rodas quadradas, nosso trabalho de vida com Deus arredondará as rodas, não são líderes religiosos que fazem isso, somos nós e Deus. Mas tem mais, depois que as rodas arredondadas se desgastarem muito, nós mesmos podemos fabricar novas rodas, agora redondas, não quadradas. Trabalho gera conhecimento e conhecimento propicia liberdade (Gálatas 5.1). Qual a melhor religião? A tua para você, a minha para mim, a do outro para o outro, todos conectados a Deus. 
      O melhor é que muitos conheçam o Cristo real, só ele pode nos dar gratuitamente rodas de fogo que se movem em todas as direções e dimensões, que nunca se desgastam e que se renovam eternamente. Contudo, é preciso coragem para nos libertarmos da posição cômoda de religiões, da prepotência de papas, bispos, padres, pastores, apóstolos e outros tantos. Todos esses devem ser respeitados e podem nos ensinar muito, mas não para sempre, assim como não devem ser de forma alguma temidos, temer, só a Deus. 

sábado, maio 21, 2022

Movendo-se pelo Espírito

      “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; e quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
      “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo. Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.” 
      “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 
      “O Espírito do Senhor é sobre mim pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”. 
      E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.”
Lucas 4.1-2,13-21

      Os primeiros quinze versículos do capítulo quatro do evangelho de Lucas (assim como Mateus 4.1-11) descrevem a tentação que Jesus sofreu antes de iniciar seu ministério, já refletimos várias vezes sobre as três tentações finais que o Diabo fez a Jesus (em especial cito a postagem “Três testes para a espiritualidade”). Desta vez não me atentarei aos três testes, que ao contrário do que muitos pensam não foi a tentação, mas só o final dela, feitos pelo diabo após quarenta dias de outros testes que a Bíblia não descreve o que foram exatamente. Depois disso, quando Jesus já estava fisicamente fragilizado, é que as três tentações finais foram feitas, o uso de textos bíblicos mostra como o diabo pode ser ardiloso. 
      O ponto desta vez são os registros feitos no capítulo quatro do evangelho de Lucas sobre o Espírito Santo. Jesus foi batizado por João Batista, esse exercia seu ministério próximo ao rio Jordão (Lucas 3.3), por isso o texto diz que Jesus voltou do Jordão, quando isso aconteceu já estava “cheio” do Espírito Santo, que desceu sobre ele em forma de pomba durante o batismo (Lucas 3.22). Depois pelo Espírito foi conduzido ao deserto para ser tentado e pelo mesmo Espírito voltou à Galiléia onde efetivamente iniciou seu ministério. Jesus era judeu, sua profissão era professor das escrituras religiosas judaicas, uma atividade desenvolvida nas “igrejas” judaicas (sinagogas), nisso vemos que a obra do Cristo iniciou focada nos judeus. 
      “Veio para o que era seu e os seus não o receberam, mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome” (João 1.11-12). Por esse texto do evangelho de João entendemos que o plano original era um redentor para os judeus, não que Deus não quisesse salvar os gentios, mas talvez, depois de salvos, caberia aos judeus a obra de evangelização das outras nações. Contudo, os judeus no papel de sua liderança religiosa, não aceitaram a Jesus, o perseguiram e o crucificaram, ainda que muitos tenham sido abençoados pelo Cristo. Quando negamos um favor de Deus o favor passa para outro, Deus não desperdiça dádivas, a chuva que ele lança sempre alcança a terra certa.
      Pergunto até que ponto os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, entendem de fato a ação e a relevância do Espírito Santo. Mesmo carismáticos e pentecostais, que provam a liberação dos dons espirituais em seu emocional, será que sabem de fato como funciona a obra do Espírito Santo e a provam de forma realmente plena? Os textos bíblicos não deixam de testificar sobre a importância do Espírito Santo na vida de Jesus homem, e isso segue no livro de Atos, nas cartas e em Apocalipse, ele não é um conceito subjetivo, só um estado emocional, mas um ser ativo e decisivo. Sendo uma “pessoa” podemos dialogar com ele, falarmos e sermos ouvidos, assim como ouvirmos quando ele fala, de forma objetiva.
      O meio que essa comunicação se estabelece é mental, não é fisico, se vemos ou ouvimos é em nossa mente, que depois pode refletir nos outros sentidos. Mas apesar de ser mental não é mera imaginação humana, isso precisa ficar claro, senão podemos confundir qualquer delírio ou alucinação com experiência espiritual. Eis-me aqui de novo tentando explicar o inexplicável, que só entende quem experimenta em primeira mão, mas que as palavras sirvam para despertarem alguns, na dúvida nasce a curiosidade e essa pode levar a novas descobertas. Em se tratando do Espírito Santo o provam os que Deus permite e que estão preparados, à vontade de Deus que acha a vontade do homem em sintonia muita coisa é possível. 
      Jesus tinha uma relação íntima com o Espírito Santo, e como homem precisou ter, senão não teria forças para desempenhar sua missão. Nossa missão não é tão grande, é mais pessoal, apesar de todos sermos chamados para servir a todos, mas precisamos do Espírito Santo igualmente, contudo, existem falsificadores do poder espiritual de Deus. Muitos pregam e constróem ministérios gigantescos só com a “unção do mundo”, a mesma energia que artistas, músicos e cantores usam para encantarem estádios cheios de fãs e outros locais de espetáculos. Essa tal “unção do mundo” é o emocional humano apaixonado e focado, o Espírito Santo também mexe e muito com nossos sentimentos, mas isso é efeito de sua ação. 
      Os falsificadores da unção do Espírito Santo insuflam o emocional pela carne, não com uma comunhão santa com Deus, por isso tantos pregadores famosos acabam sendo descobertos como viciados principalmente em sexo. Severa é a mão da justiça sobre os que colocam palavras santas em livros sujos, com os que usam o nome de Jesus em templos impuros, que se dizem servos de Deus quando só servem a si próprios, grande é o pecado desses. Jesus teve a unção mais poderosa que esse planeta já viu porque servia a Deus o pai, não a si mesmo, e isso para salvar os outros, mesmo tendo que pagar com a própria vida. Por isso ele se movia perfeitamente no Espírito Santo e o Espírito Santo se movia livremente por ele. 
      Se a velha aliança é a Lei de Deus no mundo recebida por Moisés, a nova aliança é o Espírito de Deus no mundo autorizado pela obra de Jesus. E quanto a nós, até que ponto temos com o Espírito Santo a interação que podemos ter? Ele tem liberdade em nós ou limita-se a agir quando deixamos, quando não estamos agindo em prol de nossos interesses, de nossos prazeres egoistas, de nossas vaidades e maldades? Jesus não foi só um exemplo, um ideal distante e impossível de ser vivido, Jesus foi o inaugurador de uma era, a era do Espírito Santo na Terra nos corações dos homens. A promessa a seguir, feita no antigo testamento (Jeremias 31.34) e dita como cumprida no novo testamento, só é possível pelo Espírito Santo:

      “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.” Hebreus 8.10-11

sexta-feira, maio 20, 2022

Cegos sob o Sol

      “E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo; e tinha na sua mão um livrinho aberto. E pós o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra; e clamou com grande voz, como quando ruge um leão; e, havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes. E, quando os sete trovões acabaram de emitir as suas vozes, eu ia escrever; mas ouvi uma voz do céu, que me dizia: Sela o que os sete trovões emitiram, e não o escrevas.Apocalipse 10.1-4

      Se fecharmos os olhos e mirarmos o Sol, ao meio-dia, num céu limpo, sem nuvens, nossas pálpebras ficarão aquecidas e brilhantes, perceberemos uma cor alaranjada, quase vermelha, mas não veremos o Sol. Neste mundo, presos a corpos físicos, é assim nossa experiência com Deus, ainda que nos preparemos moralmente, nos coloquemos racionalmente em sua direção e nos concentremos em ver sua face espiritual, enxergaremos só contornos embasados, nossa carne funcionará como grosso filtro, que nos impedirá de ver o outro mundo. Obviamente estou usando metáforas, comparando coisas espirituais com materiais.
      Existe algo que permeia as reflexões deste blog, principalmente nos últimos tempos, não é experiência exclusiva, mas é algo que tem crescido em minha vida com Deus, ainda que saiba que tenho essa vocação desde criança e que ganhou relevância com minha conversão ao cristianismo na adolescência. É uma experiência sensorial com o Espírito Santo, que conhece a vontade de Deus através dos dons espirituais interagindo com os sentidos físicos, audição, visão, tato. Não se escandalize, isso não é desvio doutrinário nem está fora da Bíblia, é vivência tanto de homens de Deus do antigo testamento quanto do novo. 
      Homens do antigo testamento registraram fortes experiências com Deus, Moisés falava com Deus face a face (Êxodo 33.11), Sansão adquiria força física com a unção do Espírito (Juízes 16.28), Davi era tomado pela glória de Deus de forma poderosa (I Samuel 16.13), Ezequiel foi transportado fisicamente pelo Espírito (Ezequiel 8.3), Daniel viu um ser espiritual fantástico (Daniel 10.5-7). Mas personagens do novo testamento também tiveram íntimas experiências espirituais, Pedro, João e Tiago viram Jesus transfigurado com os espíritos de Moisés e de Elias (Lucas 9.28-36), Paulo foi arrebatado ao “terceiro” céu (II Coríntios 12.1-4).
      A Igreja Católica tratou de podar os galhos que se alcancem ao Sol, queria manter a árvore nanica, dentro de suntuosa catedral, mas sobrevivendo só com os raios, ainda que do astro rei, filtrados por multicoloridos vitrais. O que já era limitado tornou-se mais restrito, os que quisessem aprender sobre Deus que ouvissem os sacerdotes, não a voz viva do Espírito Santo. Essa voz poderia dar lugar a subjetividades e liberdades que tornariam impossível ao homem dominar homens, mesmo usando o nome de Jesus. Mas o nome do Filho tem poder em si mesmo, quem o ouve, esteja onde estiver, pode se achegar ao Pai.
      As trevas podem ser contidas, a luz, não, a mentira tem existência breve, a verdade é perenal, a vaidade brilha por um início de noite, a humildade resplandece dias e dias mesmo com o Sol a pino. Luz, verdade e humildade são simpáticas aos raios mais claros de Deus, o Espírito Santo vive e atrai os homens a Deus, religiões e matéria não podem detê-lo. Aproxima-se o tempo quando, antagonizada pela incredulidade materialista que ela mesma alimentou e pelo diabo e o inferno que ela mesma inventou, a falsa igreja cristã será derribada, cairá como caem os impérios autoritários no mundo, babilônias que tentam tocar o céu.
      Os limites para interagirmos de forma mais plena com Deus, não nos são impostos pelo pai como punição ou por algum capricho seu, eles nos protegem e nos incentivam para que cresçamos. Por desígnios que só Deus sabe importa-nos viver por algum tempo num mundo material, mas com um desejo intrínseco do mundo espiritual, e ainda que não possamos sequer provar fisicamente que o plano espiritual existe, sabemos que dele viemos e para ele voltaremos. Pela fé quase vemos a Deus, mas não conseguimos segurar essa experiência, por mais que ela nos impressione, logo dela nos esquecemos, e seguimos assim. 
      Fitarmos o Sol, mesmo com os olhos fechados, se ficarmos demais nessa posição poderemos até ter a visão prejudicada quando abrirmos os olhos e tentarmos ver a terra. No mundo a experiência espiritual deve ser temporária, temos que estar lúcidos para administrar a sobrevivência do corpo físico. Contudo, como é prazeroso mirar o Sol, sentir seu calor nas pálpebras, ver que seja só um esboço da realidade, porque a vida material no mundo é que é a ilusão. A existência na Terra é só o sonho de uma noite curta, do qual nossos espíritos anseiam por acordar, para despertarem por Jesus, no dia eterno de paz e do amor do Altíssimo.

quinta-feira, maio 19, 2022

Não precisamos mover montanhas

      “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas.Habacuque 3.17-19

      Não é a primeira vez que medito nesse texto bíblico e não será a última, uma das passagens mais poéticas da Bíblia. “Ainda que falte tudo eu me alegrarei”: podemos de fato vivenciar isso? Duas coisas são necessárias para vivermos a experiência de Habacuque, e a primeira delas não é boa: uma grande e difícil necessidade, uma montanha a ser ultrapassada. Só adquire uma grande fé quem precisa exercer uma grande fé para vencer um grande problema, caso contrário se permanece crendo o minimamente possível já que isso basta para viver e seguir vivendo. 
      Cuidado, quem pede a Deus por fé que mova montanhas (Marcos 11.23), esse na verdade está pedindo que uma montanha esteja entre ele e suas necessidades, uma montanha que nada pode anular, a não ser a fé adequada. Nós seres humanos nos prendemos à quantidade mais que à qualidade, quantidade é aparente, pode ser exibida mais facilmente aos outros, nossas vaidades gostam de ter, mas mais para parecer do que para usufruir. Por isso muitos querem poder, mais que dinheiro, poder dá-nos mais que posse de coisas, dá-nos controle sobre pessoas. 
      Podemos achar que mover montanhas pode mostrar a nós mesmos e aos outros que somos espirituais, mas também podemos querer fé assim para termos acesso a coisas materiais sem termos que nos esforçar por isso. Mas existem montanhas, e essas são as mais importantes, que não pedimos, Deus simplesmente as autoriza em nossas vidas, e se ele faz isso é porque sabe que podemos com elas. Mas podemos para fazê-las sumir, do nada, como por magia, só por fé? Nem sempre, às vezes é para darmos a volta, ou subirmos e descermos, trabalhando mais e crescendo no tempo. 
      A experiência de Habacuque parece-nos ter sido essa, uma montanha havia em sua vida, para a qual Deus não lhe deu fé para mover, mas fé para esperar, e eis uma terceira forma de encararmos grandes problemas. Algumas dificuldade não desaparecem num instante, após uma oração de fé, mas Deus também não nos orienta a pôr pés na estrada para subirmos, descermos, ou darmos a volta, o Senhor simplesmente manda-nos esperar. Nada que o profeta fizesse faria a figueira florescer, a vide dar fruto, as ovelhas voltarem, mas ainda assim ele estaria feliz. 
      Talvez a montanha do profeta não fosse a falta de coisas, mas a falta de alegria, muitas vezes só nos livramos da tristeza quando nos encontramos numa situação onde isso não faz diferença. Muitas vezes fazemos chantagem, ainda que inconscientemente, com a vida e mesmo com Deus, queremos exibir nossa tristeza como um troféu, deixando claro que a culpa dela existir não é nossa, assim nos colocando como vítimas. Nesse equívoco jogamos em Deus e na vida a responsabilidade para mudar nossos destinos, já que achamos que foram eles, não nós, a causa de nossas tristezas. 
      Essa montanha só desaparece quando aprendemos a ser felizes com o que somos e temos de verdade, e eis a segunda coisa necessária para vivenciarmos a experiência de Habacuque, aprender a viver com o mínimo. Uma lição difícil, mas que nos coloca num nível espiritual de maturidade, pois desapega-nos da matéria e das aparências e nos leva a valorizar a essência espiritual, qualidade mais que quantidade. Por isso o profeta pôde dizer “eu me alegrarei no Senhor… o Senhor Deus é a minha força… me fará andar sobre as minhas alturas”.
      Quem é feliz com o mínimo é leve, não precisa mover a montanha, rodea-la por baixo, ou escala-la e depois descê-la, muito menos aguardar passivamente, mas pode flutuar e passar. No mundo material? Não, no espiritual, faz isso dentro de si, e ninguém precisa ver, só Deus. As montanhas mais importantes que Deus autoriza em nossas vidas necessitarão da fé maior, essa fé não faz montanhas se moverem, faz nossos espíritos se moverem. Eis o mistério que Habacuque conhecia, por isso ainda que lhe faltasse tudo no mundo ele era feliz e grato a Deus. 

quarta-feira, maio 18, 2022

O humilde acha o amor (2/2)

      “Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor.” Sofonias 3.12

      Os seres humanos não encontram a humildade da mesma maneira, alguns precisam ganhar para achá-la, outros precisam perder, generalizar dizendo que a pobreza conduz à humildade não é correto. Contudo, com certeza o homem acha com mais facilidade a humildade na falta, simplesmente porque nessa condição ele não tem outra maneira para ser feliz, caso contrário permanecerá revoltado contra tudo podendo ser levado à violência e à criminalidade. Mas muitos são humildes na abastança, e nesses, onde a humildade não é obrigação, mas opção, é que ela pode ser útil para muitos. 
      O que pouco tem e é humilde abençoa a si mesmo, principalmente na área material, mas o rico humilde pode ser instrumento de benefício material para muita gente, e ainda assim não sentir-se maior por isso, se for humilde só se verá como instrumento do amor de Deus. Infelizmente a maioria de nós não está preparada para ser rica, por isso, se desejarmos de fato agradar a Deus e servir o próximo, o Senhor terá que nos manter com rédeas curtas, com pouco e sempre dependentes dele. O Senhor, todavia, pode não ter outra opção que não nos empobrecer, para sermos humildes e acharmos seu amor. 
      A humildade verdadeira deixa alegria no coração do homem, não é virtude experimentada com tristeza, ainda que o trabalho inicial para achá-la seja de aceitação de erros e limitações e isso, sim, pode nos levar a certa contrição. Mas a tristeza inicial, se correta, se sincera, se com o objetivo de se apresentar ao verdadeiro Deus com respeito e temor, é só para assentar nossa alma, tranquilizar nossas ansiedades, controlar nossos egoísmos, curar nossas invejas e vaidades, depois o ser se alegra. Por quê? Porque vê que está na luz do Altíssimo e consegue enxergar toda a verdade sobre si mesmo.
      Ao homem de bem a verdade alegra, ele sabe que orgulho é engano, e ainda que dê algum prazer é só por um pouco, por isso quem de fato quer a presença de Deus vem para a luz para achar a humildade pessoal. Quem não quer inventa desculpas, até religiosas, para manter arrogância e malícia, esses não têm paz de fato, não se permitem ser tocados pelo amor de Deus. O humilde quer ser mais humilde, pois a luz fica cada vez mais clara e revela mais sobre ele, o arrogante se exalta nas trevas, sobrecarrega-se de trabalhos, tenta inutilmente criar uma falsa luz, querendo ofuscar a luz do Altíssimo.
      Há pessoas que passam a vida levantando-se e caindo, e achando que caem por causa das injustiças do mundo ou mesmo pelas ciladas do diabo, não entendem que quem as está derrubando é o próprio Deus. Com que propósito? Para que aprendam a ser humildes. Muitos são fortes na queda, se acham mais virtuosos por isso, e portanto mais merecedores de honras, quando na verdade são só rebeldes arrogantes. Por que alguns têm que passar finais de vidas em longos períodos internados em hospitais, sofrendo antes de morrer? Para achar a humildade e experimentar o amor de Deus.
      Muitos levaram a vida fugindo do amor de Deus, e quem foge do amor de Deus foge também do amor das pessoas, portanto são solitários e amargos. Fizeram isso por não quererem se mostrar como humildes aos homens, humildade implica em não ter a aparência de glória que o mundo admira, o status social, os bens, o frequentar restaurantes e hotéis chiques, o uso de roupas caras, a posse de carros luxuosos. Abrir mão de tudo isso não é fácil, e muitos conseguem viver sem abrir mão e resolvendo em suas cabeças que são bons cristãos, ainda que baseados no que tentam ter sem a aprovação de Deus. 
      Nisso a tal “teologia da prosperidade” ganha adeptos, teto para rebeldes arrogantes e materialistas, não para os humildes e espirituais. Então temos que nos contentar com pouco? Sim, se esse for o plano de Deus para nossas vidas, e isso não é ter uma vida material indigna, mas é só aprender a ser feliz com menos. Ah, meus queridos, quando vamos entender que isso não nos faz menores, mas maiores. Maiores no reino de Deus! Mas isso é para quem busca a glória do reino de Deus, quanto aos que querem a glória do mundo, terão que viver sem paz e sem amor, temendo a morte ainda que ricos.  

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

terça-feira, maio 17, 2022

O amor acha o humilde (1/2)

      “Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe.Salmos 138.6

      Quando o amor de Deus encontra a nossa humildade a paz é estabelecida, o caminho para a vida eterna se abre e entendemos o motivo maior da existência. É algo misterioso, como seres humanos não podemos dizer quem toma a iniciativa em primeiro lugar, o mais correto seria dizer que ambos, o ser humano e Deus, fazem isso ao mesmo tempo. Procurando ser espiritual e conforme a visão do cristianismo tradicional poderíamos dizer que a iniciativa é de Deus, Jesus homem foi isso, uma iniciativa de Deus para fazer algo que os seres humanos não poderiam fazer, dar um meio e um exemplo. 
      Mas se verificarmos que Jesus não veio milhares de anos antes, em algum momento da história logo após o pecado original mítico do primeiro casal no Éden, entenderemos que foi necessária alguma iniciativa do ser humano, preparando-o intelectual, moral e espiritualmente, para receber a iniciativa de Deus em Cristo. O cristianismo tradicional coloca responsabilidade demais em Deus e tira responsabilidade do homem, enfatiza a graça e a fé e diminui o valor de obras e trabalho moral. Sim, Deus pode tudo, mas só realiza tudo quando o ser humano faz por merecer, através de fé e obras.
      A nós neste mundo não compete entender certas coisas, principalmente porque isso não tem utilidade, se fosse para nós entendermos teríamos condições para isso e isso seria útil de alguma forma (e penso que quando for útil teremos condições). O que nos compete? Humildade, e uma das faces da humildade é aceitar limites, principalmente os físicos, emocionais e intelectuais, dessa forma, os que envolvem diretamente nossa vivência no mundo material. Existem limites espirituais neste mundo? Sim, mas menos que muitos pensam, mas também desde que se tenha humildade. 
      Quem quer se aproximar do plano espiritual já tem no mínimo noção que ele existe, e que se relacionar com ele é algo importante, portanto já possui alguma espiritualidade, não é ateu ou materialista, mas essa espiritualidade não é necessariamente a melhor. A melhor espiritualidade deseja Deus, seu amor, sua paz, sua vida, não só responder curiosidades sobre o mundo dos espíritos e entidades ou fazer alguma espécie de troca de favores com o mundo espiritual, para essa boa espiritualidade é imprescindível a humildade. É muito importante entendermos isso: falta de humildade nos afasta de Deus. 
      O humilde ainda que tenha acabado de pecar, busca a Deus, ainda que esteja emocionalmente confuso, persiste em buscar a Deus, e mesmo que esteja bem materialmente e afetivamente, procura a presença de Deus, sabendo que ela é melhor, é perene, e que as outras satisfações ou falta delas, são temporárias. O humilde teme a Deus em todas as situações e respeita todos os seres, humanos e espirituais, não quer usar nem desprezar ninguém, mas amar e servir. Essa humildade acha o amor de Deus e experimenta paz, então, põe-se no caminho do Espírito que conduz a Jesus onde há vida eterna. 
      A coisa mais poderosa e importante do universo ocorre quando um ser humano humilde se encontra com o amor de Deus, há uma explosão de luz que consola imediatamente o ser estabelecendo uma paz única. Esse encontro, que é espiritual, pode, contudo, não ser fácil, isso por causa da matéria, do nosso corpo físico, dos nossos limites. O ser humano deve persistir para achar dentro de si a humildade mais sincera e verdadeira, como quem procura uma pepita de ouro em meio a rochas mais duras. Mas imediatamente após achar será tocado pelo amor do Altíssimo e tudo o mais mudará
     Ainda que o Senhor é excelso, ainda que esteja numa posição espiritual alta de santidade impar e de poder soberano, ele atenta para o humilde, mesmo que a mente do Senhor esteja distante, muito mais que imaginamos, suas mãos estão próximas do humilde (perdoem as simbologias dos termos mente e mãos), mas ao soberbo conhece-o de longe, do arrogante tanto a mente quanto as mãos do Senhor estão distantes. Isso não impede Deus (com sua mente) de conhecer o arrogante, de amá-lo e de aguardar pacientemente que ele se torne humilde e se deixe tocar por suas mãos amorosas. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

segunda-feira, maio 16, 2022

Pecar é fácil, se arrepender, não

      “De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” 
      “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.” 
Tiago 4.1-4, 7-10

      O contexto do texto bíblico inicial é simples e direto: pecado. Quantas vezes nos vemos sem vontade de orar, sem prazer em buscar a Deus, nos achando mesmo sem fé? Em situações assim nossas cabeças podem fazer longas viagens, tentando achar o motivo de nosso intenso desânimo, mas a razão é uma só: pecado. O que é pecado? Você e eu sabemos muito bem o que é, tudo que nos afasta de Deus. O texto começa justamente fazendo a pergunta cuja resposta explica o motivo de nos vermos muitas vezes sem disposição para sermos espirituais, “de onde vêm as guerras e pelejas entre vós?”, a resposta é, “não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?”. 
      Não adianta inventar moda, nos afastamos da luz de Deus quando pecamos, pecamos porque gostamos de pecar, ninguém peca porque é ruim, mas porque é prazeroso, ninguém bebe, usa drogas ou comete adultério porque é desagradável, mas porque agrada o corpo. A mesma coisa com iras e invejas, agredimos com ações ou palavras e expressamos desejo pelas coisas dos outros porque é gostoso, melhor que reprimir é desabafar. Isso que estou dizendo parece óbvio, mas mesmo inconscientemente muitas vezes nos portamos negando isso, somos amigos do mundo e inimigos de Deus, por isso demoramos para assumir o pecado, confessa-lo, deixá-lo, e só então termos vitórias em tantas coisas. 
      Acontece o que o texto descreve, “cobiçais e nada tendes, matais e sois invejosos e nada podeis alcançar”, a questão é simples, só um prazer pode ocupar nossas almas de cada vez, se adquirimos o prazer do corpo não há espaço para termos o prazer do espírito, nossa alma não comporta os dois ao mesmo tempo. Mas o pecado, mesmo depois que seu passageiro prazer passa, ainda permanecerá ocupando nossa alma enquanto não for devidamente tratado, tratar o pecado, contudo, pode não ser tão rápido como foi adquirir o prazer que ele entrega. O texto diz “senti as vossas misérias e lamentai e chorai”, é preciso esforço paciente para limpar nosso interior para que o Santo Espírito esteja à vontade nele. 
      Uma vez impressionado pelo pecado nosso mundo interior inverte os valores, para mudar isso temos que nos convencer que a paz que o pecado deu é enganosa, tem que haver libertação de vício, vício dá mais que prazer temporário, cria um caminho errado para o prazer, é esse hábito que tem que ser desfeito dentro de nós. Por isso o texto diz “converta-se o vosso riso em pranto e o vosso gozo em tristeza”, temos que inverter a “chavinha”, sentir profundamente o pecado e buscar intensamente uma nova disposição mental. Se isso não ocorrer nosso arrependimento será só de boca para fora, não nos convencerá e não permitirá que tenhamos uma experiência espiritual real que nos dê a paz maior.
      “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós, alimpai as mãos, pecadores e vós de duplo ânimo”, isso resume o ensino. Se nos sentimos distantes não é porque Deus se afastou, mas porque nós nos afastamos, Deus nunca se afasta de alguém. Nos purifiquemos, com profundidade e intensidade, com lágrimas, não com alegria ou frieza. Contudo, aprendamos com a lição, duplo ânimo (a N.V.I. diz mente dividida, a versão Nova Almeida Atualizada, indecisos) é característica de homem imaturo, que acha que pode ficar pulando de um lado para outro, que não leva a sério o tempo de sua passagem no mundo, nem a Deus e seu plano para nos fazer seres humanos que amem e pratiquem virtudes eternas. 

domingo, maio 15, 2022

Deus não precisa de luvas

      “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Quebrantarei a Assíria na minha terra, e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte deles e a sua carga se desvie dos seus ombros. Este é o propósito que foi determinado sobre toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?Isaías 14.24-27

      Deus não precisa de luvas, mas os homens criam luvas para Deus, as religiões. Quando muitos acham terem acesso à palavra direta de Deus têm apenas adaptações, interpretações, não é a mão pura de Deus, mas algo que fica entre a mão e os homens. Uma mão pode ser usada com luva, mas com limites, a pele não está diretamente em contato com o que é manipulado, é o material da luva que está e esse não tem a sensibilidade e a flexibilidade da mão. Deus não precisa de intermediários para tocar os homens, nem os homens precisam de algo que lhes adapte o toque de Deus, mas são os próprios homens que criam luvas. 
      O problema mais sério, contudo, talvez nem seja a criação e o uso de luvas, mas as luvas não terem noção que são luvas, se acharem as próprias mãos, ou pior, até melhores que as mãos. Que as religiões ainda que comecem puras se degeneram com o tempo, isso é fato, e ocorre com todas, ninguém se iluda. O cristianismo, ainda que fundado sobre Jesus, revelação e redenção mais plenas do Altíssimo, também se corrompeu. O protestantismo não purificou o catolicismo a ponto da mão pura de Deus ser apresentada ao homem, ele apenas limpou uma surrada e suja luva, deixando-a menos grosseira, mas ainda uma luva. 
      Como as luvas são criadas? Devagar, como parte do processo de degeneração da religião original, mas o que gera a primeira versão de uma, ainda fina, é a institucionalização da fé. O cristianismo é a crença que mais gerou luvas justamente por ser a crença que pode experimentar a ação mais alta de Deus. Quando os homens viram que Jesus era um “produto” muito bom, que povos e reis se convertiam a ele, eles foram tentados e sucumbiram, quiseram lucrar com isso. Se afastaram de Deus e dessa forma não tiveram mais direito à mão, então criaram uma religião, com o mesmo formato, com função semelhante, mas só luva. 
      A luva por si só, ainda que seja de fios de prata, cravejada com esmeraldas, aparentemente até mais bela que uma mão, é vazia, não tem vida. Em sua misericórdia Deus até veste certas luvas e as usa para abençoar os homens, ainda que de luvas ele aja com limites, não seus, mas da fé de homens que não creem puramente nele, que não querem a mão, só a luva. Contudo certas luvas, apesar de terem o formato perfeito de uma mão genuína, não podem ser mais minimamente usadas por Deus, no lugar do Santo Espírito manipula tais luvas espíritos malignos e enganadores, que dizem ser Deus, mas são seres imitadores. 
      Os homens se acostumam com luvas, com o toque delas, com suas pomposas aparências, e muitos ao verem a mão de Deus a menosprezam, duvidam que seja mais poderosa que a luva. Felizmente outros, que com boa sinceridade procuraram nas luvas a Deus, percebem com o tempo a ineficácia das luvas, que elas são obras de homens, que ainda que se pareçam com a mão de Deus não os abençoa como eles precisam, assim passam a clamar pela mão viva e maravilhosa do Senhor. Deus é paciente, amou e ajudou no que pôde, mesmo dentro de limitadas luvas, mas sorri quando o homem desperta e o deseja mais que religião. 

sábado, maio 14, 2022

Acalma-te e serás instruído

      “Na vossa paciência, possuí a vossa alma.(Almeida Revista e Corrigida)
      “É pela perseverança que vocês ganharão a sua alma.” (Nova Almeida Atualizada)
      “É perseverando que vocês obterão a vida.(Nova Versão Internacional)
Lucas 21.19

      Acalmar nossos sentimentos e pensamentos, eis um trabalho importante para que tenhamos uma oração de nível mais elevado. Todos chegam diante de Deus, na maior parte das vezes, ansiosos, angustiados, preocupados, com questões principalmente da área material a serem resolvidas. Deus, pai de amor, recebe a todos e estejam do jeito que estiverem, assim mesmo o alterado pela dor o Senhor ouve pacientemente. Depois de entregarmos nossas causas nas mãos de Deus ele as toma, não precisamos ficar repetindo e repetindo uma oração, contudo, podemos fazer isso quando ainda não convencemos, não a Deus, mas a nós mesmos que Deus nos ouviu, recebeu nossos pedidos e fará, no momento melhor, sua boa vontade.
      Na realidade material Deus realiza sua vontade através de nosso trabalho e do trabalho dos outros, podemos provar o sobrenatural aos nossos olhos através do natural que ainda não conhecemos, por isso chamamos milagroso. Impossível é só algo que ainda não foi feito ou que não sabemos que pode ser feito, “mágica” Deus nunca faz porque ele não precisa fazer. Nossa oração espiritual interfere nisso? Sim, positivamente de maneiras que hoje ainda não podemos entender como, incluindo anular impedimentos espirituais do mal para que algo material se realize no plano físico. Tudo isso é o primeiro momento de oração e o efeito disso deve ser paz em nossas almas, para que então possamos ter o segundo momento. 
      Precisamos entender como nós seres humanos funcionamos: somos seres duplos, corpo físico e essência espiritual, assim, ainda que racionalmente, baseados em experiências anteriores, saibamos que Deus ouve e responde, nossos sentimentos podem persistir na ansiedade e na angústia, impedindo-nos de sentir paz. Por que paz é importante? Porque ela é escudo contra o pecado e porta para ouvir a voz de Deus. Em paz não precisamos de prazeres na carne para anular a dor, assim não recorremos a vícios. Mas só em paz teremos acalmado todo aquele universo interior em nossas mentes e sentimentos, que nos agita, nos confunde e que nos impede de ouvir a suave voz do Espírito Santo. Oração certa é a que nos conduz a uma profunda paz. 
      A maioria de nós, na maior parte das vezes, tem experiência de oração só de nível inicial, falamos e falamos e até experimentamos paz, mas quando ela chega paramos de orar. Por isso até temos resposta para nossas orações, mas uma paz mais profunda, que fica e que nos fortalece contra o pecado, não temos. Nosso espírito precisa convencer nosso corpo, isso deve ser feito todos os dias porque nosso corpo tem “memória fraca” e muda o tempo todo. À medida que envelhecemos, quando adoecemos e mesmo nas mudanças de humor que experimentamos, tristezas, alegrias, dúvidas, certezas, tédios, anseios, nosso corpo é agitado e nisso não retém a paz, o que atrapalha nosso espírito na comunhão com o Espírito de Deus.
      Para entendermos melhor isso basta verificar o costume que temos de fechar os olhos ao orar, ou de preferirmos lugares com menos luminosidade, o objetivo é diminuir as distrações materiais para que as coisas espirituais sejam percebidas com mais facilidade e clareza. Entretanto, em corpos agitados ou torturados por alguma preocupação ou culpa, não haverá ambiente tranquilo ou com ausência de distrações materiais que lhes dê foco e paz. Por isso antes temos que nos colocar em Deus, pedirmos perdão, nos apossarmos do perdão e entregarmos nossas vidas a ele, para depois acalmarmos nossos sentimentos e pensamentos, permitindo que nossos espíritos tenham o controle e ouçam a voz do Santo Espírito de Deus.
      Evangélicos não menosprezem outros religiosos, como budistas e hinduístas, ou mesmo praticantes de ioga só como benefícios emocionais e físicos, quem se acalma pode ouvir o mundo espiritual, e se escolher, pode ouvir o Deus de amor e ser guiado no caminho de luz e paz. Não são as palavras, as rezas, as orações usando essa ou aquela linguagem religiosa, que tocam o coração do Altíssimo, mas a intenção espiritual pura e benigna. Paz real só se experimenta em Deus, e muitos, ainda que cantando a paz, pregando a paz, idolatrando a paz, não a vivem de fato, porque falam de Deus, até pregam Deus, mas não o experimentam de fato. A presença mais santa e verdadeira de Deus sempre traz paz ao ser humano, sem discriminação.  
      Nosso espírito pode até estar pronto, mas se nosso corpo não estiver impedirá nosso espírito de ouvir e entender a voz do Senhor. Isso não é algo que Deus nos impõe neste mundo para nos fazer sofrer, mas para nos fazer crescer. É no constante trabalho de acalmarmos nossos corpos, nossos pensamentos e sentimentos, para que entremos em sintonia com o Espírito Santo e em sincronia com a vontade de Deus, que construímos em nós o céu, aquilo que poderemos ser de melhor na eternidade. Ninguém se engane achando que crer superficialmente e ter a mínima comunhão com Deus, serão suficientes para ter o céu, que só ser cristão e ter fé, ainda que tenha vivido um inferno neste mundo, bastará para ter direito à paz eterna. 
      Acalma-te e serás instruído, ouvi o Espírito Santo me dizendo em meu último período de oração, isso depois de ter colocado minha vida em ordem, pedido perdão, intercedido pela família, enfim, ter seguido o protocolo inicial, e ainda assim estar sem a melhor paz. Ter paz dá trabalho, entendamos isso, e o trabalho que nos traz os melhores benefícios é o espiritual, muitos querendo substituir esse trabalho pelo físico conquistam tudo na vida menos paz. Que se trabalhe no mundo, mas também em oração, que se converse com Deus e nele confie, mas que se ouça a voz do Senhor, que se tenha ânimo e energia para viver, mas também a paz que acalma todo o ser e permite que se aprenda os conhecimentos mais profundos de Deus. 
      No mundo se diz que conhecimento é poder, que quem detém a informação tem controle, a internet tem mostrado a relevância disso, governantes políticos têm sido eleitos difundindo e manipulando a informação, ainda que seja fake news. Mas em se tratando de conhecimento espiritual de Deus, informação é vida, quem tem uma experiência profunda de oração, que vence a ansiedade e a dor, que alcança a paz e então pode ouvir a voz do Espírito Santo, não sairá só informado, com curiosidades intelectuais satisfeitas, mas vivificado, fortalecido. Notará o efeito dessa experiência horas, dias depois, e entenderá que comunhão com Deus permite mais que respostas materiais, que nunca são o suficiente, mas duradoura paz espiritual. 
      O que queremos de fato ganhar, quando buscamos a Deus? Coisas no mundo, posição diante de homens, ou nossas almas? Ganha a alma quem resiste no tempo, ainda que não se importe com ele, quem vence o corpo, ainda que produtivo nele o máximo que puder, num paradoxo de pegar e largar, onde se vive a realidade do plano material, sem medos ou ilusões, mas se abre mão dela para ter paz. Muitos não têm paz porque não pagam o preço por ela, e o preço é desprender-se de vaidades e prazeres, de aparências e poderes, para ser bonito por dentro e abraçado pelo todo-poderoso. Acalma-te e serás instruído, como essa palavra me consolou, me mostra o caminho a seguir para agradar a Deus, ser feliz e fazer felizes os outros. 

sexta-feira, maio 13, 2022

Genuíno profeta de Deus hoje!

      “Portanto assim diz o Senhor: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles. E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles, diz o Senhor. E arrebatar-te-ei da mão dos malignos, e livrar-te-ei da mão dos fortes.Jeremias 15.19-21

      O homem espiritual discerne orgulho de sabedoria, sabe que não deve tomar a iniciativa com certas pessoas não por ser orgulhoso ou medroso, o que é a mesma coisa (o orgulhoso geralmente é um medroso disfarçado), mas porque é mais sábio, mais útil, e sendo assim, porque entende que Deus lhe dá essa orientação. Quem teme a Deus e quer viver o evangelho de amor algumas vezes pode se angustiar, sabe que é virtude do humilde tomar a iniciativa para estar em paz com o arrogante, essa é a regra, mas sente de Deus que em determinadas situações não deve se aproximar ou buscar diálogo, assim fica num dilema. 
      Quem não tem muito compromisso com o evangelho de amor não se sente em dificuldades numa situação dessa, se alguém lhe desagrada ele simplesmente se afasta, ou, então, toma a iniciativa e agride. Contudo, para o espiritual às vezes é preciso mais coragem para não fazer uma coisa do que para fazer, principalmente se o que pode ser feito é algo certo. O texto “não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (Mateus 7.6) é a orientação evangélica mais direta para uma situação onde o menos é mais (espiritual). 
      O texto bíblico inicial, numa lida rápida, parece conter um antagonismo, primeiro diz “se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim”, dando a entender que uma iniciativa deve ser tomada, mas depois diz, “tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles”, então, podemos entender que uma iniciativa não deve ser tomada. Afinal, devemos voltar ou não? Quem volta a Deus e diante dele se humilha, não precisa voltar para o homem e ser humilhado, muitos precisam ir a homens porque não vão a Deus. Mas a frase “se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca” dá a condição para que haja honra de Deus. 
      Não nos esqueçamos que o contexto da passagem é de chamada profética de um homem, eis uma missão que hoje muitos dizem ter e que outros, mesmo sinceramente, gostariam de ter. Contudo, ser profeta não é algo fácil nem prazeroso, e nos tempos atuais Deus chama a atenção de homens diferentes e de maneiras diferentes, assim o arquétipo de profeta bíblico não é aplicado. Para ser boca de Deus é preciso ter boca limpa, é o que é exortado em “apartares o precioso do vil”, muitos querem ser profetas, mas com o coração cheio de ódio, preconceitos e vaidades, poderão ser profetas de outros deuses, não do Altíssimo. 
      “E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles”, além de coragem para confiar em Deus, não se preocupar com que os homens pensam, e ter pureza de intenções, atos e palavras, o profeta deve estar preparado para perseguições. Mas entendamos bem, não é porque somos perseguidos que somos profetas, muitas vezes somos odiados pelos homens porque somos seres indigestos, mal educados, grossos, sem amor, ainda que achando que podemos ser tudo isso porque estamos dizendo “palavras proféticas”. 
      O texto é claro quando diz sobre a origem da perseguição legítima, o próprio Deus, “EU te porei contra este povo”, mas diz mais, “como forte muro de bronze”, se Deus nos coloca em um confronto ele nos fortalece para passarmos por ele. “Pelejarão contra ti mas não prevalecerão”, que promessa que o profeta recebe, deve ser a palavra em que ele confie quando estiver no meio do ataque mais mentiroso e cruel dos que não querem ouvir a genuína palavra de Deus que ele está entregando. Tenhamos cuidado em almejar tal missão, muitos foram taxados de loucos e endemoniados e outros viveram na pobreza para serem profetas.
      Por outro lado, Deus não chama profetas por serem os seres mais eruditos e diplomáticos que existem, se fossem isso não dariam profetas adequados. Resistir à oposição e à descrença requer certa dureza, com os duros é preciso ser duro, ferro com ferro se afia. Elias, Jeremias, João Batista e outros, não eram os homens mais afáveis que existiam. Contudo, o maior de todos os profetas, Jesus, era puro amor, boca de doces palavras, modelo de ser virtuoso, talvez porque sua obra fosse única, precisava se revelar em ações. O que ele disse não era especificamente para o seu tempo, naquele momento ele só tinha que ser obediente.
      Jesus estabeleceu novo modelo de “profeta”, a urgência profética não é mais para uma nação no mundo hoje, mas para todos e para a eternidade. Por mais que aprendamos com os profetas do antigo testamento até João Batista no novo testamento, devemos focar em Jesus como exemplo, essa é a vontade mais alta de Deus. Em Jesus é onde as palavras iniciais de Jeremias mais se aplicam, ele teve coragem para confiar em Deus e não se preocupou com que os homens pensavam dele, tinha pureza de intenções, atos e palavras, e estava preparado para ser perseguido e até à morte. Queremos ser profetas? Nos miremos em Cristo.