segunda-feira, janeiro 31, 2022

Eternidade dentro de nós (1/90)

      Quem seremos na eternidade? Que qualidade moral teremos? Seremos perfeitos? Ou estaremos em lugares extremos, céu e inferno? Que graus deles nós mereceremos? Por quanto tempo? Serão únicos e definitivos para todos? São lugares externos ou disposições internas? Haverá possibilidade de arrependimento na eternidade? As penas são eternas ou só enquanto forem escolhidas para serem assim? Penas eternas e amor divino são mutuamente exclusivos? Um livro original em noventa partes sobre a eternidade, o inferno e o céu, reavaliando a doutrina das penas eternas da tradição cristã e confrontando-a com o amor de Deus. Segue a primeira parte. 

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” 
Mateus 13.43-44

      Quem você será na eternidade? Veja que a pergunta não foi, “onde você passará a eternidade”, uma pergunta bem comum em folhetos de evangelismo, mas quem você será. Isso foca, não num lugar externo, mas numa condição interior, só isso já faz uma reavaliação na doutrina sobre penas eternas da tradição cristã. A resposta a essa pergunta está fundamentada em dois mistérios, que precisam ser entendidos para que ela não seja baseada só sobre os entendimentos tradicionais da doutrina cristã. O primeiro responde “quem você será”. Seremos seres diferentes dos que somos hoje, assim, num piscar de olhos? Paulo diz em I Coríntios 15.51, “eis aqui vos digo um mistério: na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”, com certeza uma mudança haverá, mas onde, na forma ou no conteúdo? 
      O senso comum cristão entende que teremos a mesma forma externa em corpos físicos transformados, reconstruídos como foi o corpo de Jesus após a ressurreição. Jesus tinha capacidades que não tinha antes da morte, ele podia aparecer em locais (Lucas 24.36-37), podia parecer “diferente” de modo a nem ser reconhecido pelos que o conheciam antes da morte (Lucas 24.15-16), mas ele também podia ter a mesma aparência física de quando vivo, incluindo ter as marcas que lhe causou a crucificação, e podia até ingerir alimentos materiais (Lucas 24.38-43). O catolicismo construiu doutrinas sobre isso, o protestantismo mudou certas coisas, pero no mucho, religiões espiritualistas veem o corpo de Jesus eterno não como o material original transformado, mas como o espírito liberto e iluminado por sua qualidade moral. 
      Com relação à substância da qual será composto o nosso corpo na eternidade, existe uma interpretação um pouco diferente da cristã tradicional que penso casar mais com as leis naturais. Não será o corpo material que será transformado, já que esse depois da morte é decomposto, como é toda matéria orgânica, cujos átomos se misturam com a terra e outros elementos e participam do círculo eterno de vida e morte de toda a natureza, assim não poderão se juntar e compor de novo um corpo físico para ser transformado e adquirir novas capacidades espirituais eternas. O espírito do homem poderá se reunir por Jesus ao Espírito Santo e poderá ser um ser espiritual de luz (I João 3.2 e Romanos 8.16-18), a diferença das formas dos homens na eternidade será consequência da qualidade moral da essência espiritual que já os habita no mundo. 
      Por que a Bíblia diz que o corpo material de Jesus desapareceu? Não sabemos, aliás, como não fica claro muitos acontecimentos registrados na Bíblia, que por causa disso muitas superstições e misticismos foram construídos e usados principalmente pelo catolicismo. Contudo, o ponto desta reflexão não é sobre a constituição do nosso corpo na eternidade, digamos apenas que será um corpo não preso aos limites de matéria, do espaço e do tempo, será imperecível e livre para existir, ir e vir. O ponto aqui é a nossa qualidade moral na eternidade, sobre isso algo nos é ensinado quando a Bíblia diz que no céu não haverá sofrimento e no inferno esse sofrimento será eterno (Apocalipse 20.15, 21.3-4). O sofrimento não será efeito do nosso corpo queimar, mas da nossa consciência sofrer por pecados não assumidos, nem perdoados. 
      Lembra-se da segunda parte do título desta reflexão, “na eternidade”? Nela está o segundo mistério, mas “onde” está intrinsecamente ligado a “quem”, o primeiro mistério. A eternidade que reconheceremos fora de nós variará de acordo com quem somos dentro de nós, não é o lugar que muda, mas nossos olhos. No plano espiritual, os de espiritualidade superior serão mais belos, na eternidade beleza da forma estará diretamente ligada à qualidade do conteúdo. A aparência de nosso corpo espiritual estará relacionada à qualidade de nossa espiritualidade, à presença de virtudes morais, isso é o que nos fará estarmos numa melhor eternidade, iluminados e não entrevados, perto do amor de Deus, ou como dizem os cristãos, salvos no céu. Não entendeu? Vou explicar, mas já vou adiantando que irei além do senso comum cristão.
      Meus queridos, prestem atenção ao que é dito, analisem com seriedade e cuidado, não leiam só como dogma que conhecem e que tem que ser aceito por ser o que é ensinado em igrejas, sem crítica. A doutrina cristã tradicional divide a humanidade pós-morte em dois grupos (Mateus 25.31-33), um com seres superiores com direito à felicidade eterna, que poderão descansar e adorar a Deus, e outro de inferiores condenados a uma pena de sofrimento sem fim. Nessa doutrina os salvos, ainda que não tenham feito muita coisa, só crido, a exemplo do “bom” ladrão da cruz (Lucas 23.39-43), após a morte serão imediatamente transformados em seres com o mais alto grau de perfeição e de forma definitiva, repetindo, mesmo que no mundo tenham feito muitas coisas erradas, e ainda que tivessem se convertido em seus últimos instantes de vida. 
      Essa visão, que é a base do cristianismo, entrega a Jesus todo o trabalho para que o homem seja aperfeiçoado, e tira do homem uma necessidade mais extrema de esforço para querer e ser alguém melhor. Por outro lado, mesmo aqueles que foram bons cidadãos, bons maridos, bons pais, bons filhos, bons profissionais, que tenham até feito caridade real, ajudado pessoas e causas, mas não tenham crido em Cristo do jeito que o cristianismo protestante e evangélico ensina, poderão ser eternamente condenados a um sofrimento indescritível. Meus queridos, isso é muito, muito sério, muitos crentes podem até dizer, “mas eu não creio assim, penso que Deus salvará mesmo não evangélicos com uma vida correta”, tudo bem, eu acredito, mas saibam que a doutrina que o cristianismo prega não diz isso, ela é extrema, céu ou inferno! 

Esta é a 1ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

domingo, janeiro 30, 2022

O amor anula preconceitos

      “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.Lucas 11.42
      “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.Tiago 2.8-9

      Leis, educação e ciência não mudam as pessoas, só o amor divino muda. Criar uma lei que exija que se respeite sexualidades não binárias, não muda o sentimento de muitos que acham que sexualidades não binárias são erradas, principalmente se esses se baseiam em princípios religiosos. Por mais absurdo que pareça, ainda no século XXI, há religiões que consideram pecado digno de punição a homosexualidade, e algumas punições não só na eternidade e imposta por um juízo divino, mas físicas, já e neste mundo. 
      Assistimos aterrorizados o Talibã voltar ao poder no Afeganistão, o motivo principal que a humanidade civilizada tem para isso é saber a forma como esse grupo político, militar e religioso, trata mulheres e pessoas do grupo LBGTQIA+. Esse grupo baseia-se em interpretações religiosas erradas do Alcorão (livro sagrado muçulmano de Maomé) para agir com tão cruel extremismo. Uma lei de países civilizados vai fazer com que eles mudem de ideia? Não, eles se consideram debaixo de ordem divina para agirem assim. 
      Muitos evangélicos não chegam a esse ponto, mas podem pensar de forma semelhante, e ainda que não queiram justiça violenta neste mundo, baseados no que entendem da Bíblia, creem que haverá punição extrema para pessoas que não se classificam como sexualidade heterossexual. Usam a célebre afirmativa, “Deus criou homem e mulher, e mais nada”, numa de muitas interpretações ao pé da letra de textos fora do contexto bíblico principal, que não dão prioridade à nova aliança do evangelho, mas ao velho testamento. 
      Mas o Gênesis, parte de um cânone que conta a história específica do atual povo judeu, também não diz que Deus criou, não de forma direta, e manteve relação como pai com povos africanos, do extremo oriente ou das Américas, por exemplo. Assim, será que Deus só ama os judeus? E trazendo isso para o contexto atual, só ama cristãos héteros? O Talibã é uma faceta preconceituosa da humanidade, e a culpa não é da religião, quem cria religiões são os homens, não Deus. Deus só entregou seu filho e ama todos igualmente. 
      Reavaliar preconceitos implica em reavaliar legitimidade de costumes e doutrinas que muitos dizem serem avalizados por Deus, assim para muitos a questão não é tratar as pessoas de maneira diferente, mas ter que desobedecer a Deus para isso. “Deus”, o mais forte dos álibis em mentes humanas fracas que preferem se esconder atrás de tradições religiosas, que conhecerem o Deus verdadeiro. Preferem dar frutos ruins que plantarem árvores diferentes, só porque certas árvores são plantadas tradicionalmente há séculos. 
      O preconceito tem aliada poderosa justamente em quem se diz inimiga maior de preconceitos, grande parte da mídia. Por não crer no Deus do evangelho, e isso porque se baseia no falso cristianismo praticado por muitos no mundo, deixa de compartilhar o único que pode anular os preconceitos. Desconectado espiritualmente do verdadeiro Deus, não pode haver amor que liberte de preconceitos. Ciência, leis e educação não conseguirão mudar o lugar onde os preconceitos existem, o coração do ser humano. 
      Os realmente espirituais, que de fato estão iluminados pela luz mais alta e pura do Altíssimo, aqueles que verdadeiramente amam no amor de Jesus, sem limites, sem vaidades, sem imposições, e sem a menor possibilidade de violência, conclamo-vos! Orem pelo mundo neste momento tão sério, mas também se levantem como indivíduos, não como grupos políticos e religiosos, que só são esconderijos para covardes e malucos, e pratiquem o amor. A luz pode parecer menor, mas um facho basta para iluminar muitas trevas. 

sábado, janeiro 29, 2022

Amemos sempre!

      “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.I Coríntios 13.4-7

      Invejamos quando precisamos amar, temos ciúmes quando precisamos amar, usamos egoisticamente quando precisamos amar, odiamos e fantasiamos vinganças quando precisamos amar. Precisamos amar sempre, senão invejaremos, teremos ciúmes, usaremos, odiaremos e nos vingaremos. Amor não deve ser somente opção, reação, cura, mas ação, iniciativa, tratamento preventivo e vacina. Muitos se sentem fracos e até caem porque deixam para amar em última instância, aí pode ser tarde, e no mínimo será mais difícil. 
      Podemos dizer, “eu tenho muita dificuldade para amar certas pessoas, por mais que eu saiba que invejar é errado, que devo me alegrar com as vitórias e qualidades do outro, eu alimento invejas de alguns, e ainda que não verbalize isso nem para mim mesmo, transformo dentro de mim a inveja em ódio, em vingança, no desejo de que alguém de alguma maneira se dê mal e perca a pose”. Essa fala te representa? Se não representa, agradeça aos céus, você ama, não inveja, quer o bem das pessoas e é feliz com o que é e tem.
      Sou honesto, a fala me representa, e mesmo que eu saiba que certas coisas são erradas, que não queira senti-las, eu as sinto. A solução é uma atitude constante de humildade e amor, só assim achamos misericórdia, paciência e verdade para amar, o amor nos protege, utiliza nossas energias de forma positiva e construtiva. Nisso há, não só um convívio em paz com todos, mas paz interior em nós, que nos livra de medos e ansiedades, que nos permite estar em comunhão íntima com o Deus de luz, que ama sempre. 
      Não escolha amar, quando e a quem, nem tente se manter numa posição de indiferença, de distância, principalmente com algumas pessoas, ainda que tentando evitar sentimentos e reações negativas e destrutivas, mas não tomando a iniciativa do bem e da luz. Quem fica em cima do muro sempre cai para o lado errado, é preciso estar do lado certo e sempre, lutar pelo amor todos os dias, e aqueles que temos mais dificuldades para amar são justamente os que mais precisam de nosso amor, de nossas “boas energias”. 
      A dificuldade que temos com certas coisas é Deus nos chamando para fazer algo, e quando temos muito desconforto emocional com alguns é o Senhor nos chamando para amar esses de maneira diferenciada. Só acordamos para certas verdades na tormenta, visto que a calmaria leva à acomodação, assim tem que doer para tomarmos certas atitudes. Na falta do amor elevam-se disposições opostas, que parecem nos comer por dentro, mas é Deus nos alertando que algumas pessoas necessitam de uma atenção especial nossa. 
      A experiência descrita nesta reflexão pode acontecer principalmente com alguns parentes, que só vemos em certas ocasiões festivas, e nessas o desconforto pode ser tanto que temos vontade até de não ir a festas, ainda que sacrificando a convivência com muitas outras pessoas que amamos com facilidade e que temos prazer em estar perto. Não se lembre de alguém só no natal, ore ao menos ocasionalmente por ele, desejando coisas boas para todas as áreas de sua vida. Ame, a inveja não te vencerá e você será mais forte. 
      Amor genuíno se manifesta, cresce e se mantém com obras, não só com consciência e intenção, se desejar ter uma disposição real de amor só dentro de você, não conseguirá, não será amor forte suficiente para agir. Não estou dizendo que temos que chegar atropelando as pessoas, invadindo suas privacidades, aliás, podemos ter dificuldades para amar alguns justamente porque esses se mantêm distantes, em atitude que pode soar para os inseguros e carentes como arrogância e desprezo, ainda que seja só o jeito deles. 
      Essa prática de amor se fortalece em oração feita com todo o coração e com convicção mental. Se possível verbalize a bênção sobre o outro, e entenda que essa ênfase não é para Deus ouvir (e muito menos para os homens ouvirem), mas para você ouvir, ser curado e aprender que amar é modo de agir de espirituais. Como efeito você estabelecerá uma conexão íntima e forte com o mundo espiritual e permitirá que o Altíssimo libere sobre alguém luz e paz, em seus mistérios Deus usa homens para exercer amor. 

sexta-feira, janeiro 28, 2022

Fora do amor não há salvação

      “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.I João 4.7-8

      Se você quiser praticar o amor, do fundo do teu coração, com obras, mais que só com palavras e intenções, você achará a Deus, ainda que inicie esse caminho fora de qualquer religião. Contudo, se quiser praticar uma religião, mesmo uma cristã ou evangélica, ainda que sendo assíduo em cultos e conhecedor de doutrina e de Bíblia, mas não se dispor a pagar os preços para amar de verdade, não conhecerá a Deus, não de forma profunda e madura, e mesmo se for só superficialmente, esse “amor” não resistirá ao tempo. 
      O caminho do amor sempre leva a Jesus, não é um caminho fácil, ainda que possa ser mais direto que o da religião. Amor implica em humildade e paciência para ser servo, dar sem pedir algo em troca. Os que o buscam se colocarão naturalmente na luz mais alta de Deus, ainda que a princípio sejam descrentes, materialistas, céticos, porque quem ama se coloca espiritualmente na posição melhor. Nesse princípio é preciso entender amor como algo essencialmente espiritual, tendo como início e fim Deus pela porta Jesus. 
      Religião como construção humana põe o homem em posições mundanas, com referências humanas, aprende de homens para mostrar a homens. O “amor” da religião começa e acaba no mundo, não sai do plano físico, é no máximo posicionamento político e educação social, dá para receber algo em troca, mesmo que seja só status de bom religioso. Isso não significa que não haja homens exercendo o verdadeiro amor em religiões, onde a palavra de Deus é dita, por mais corrompido que seja o lugar, Deus é ensinado.
      Deus sempre atende quem o busca, seja onde for que estiver, assim atende também os que estão fora de igrejas. O ponto desta reflexão não é criticar religião, mas enfatizar o poder do amor, na verdade o amor é a verdadeira religião e fora dele não há salvação, Jesus homem era amor, e como Deus é a porta que conduz ao Deus de amor. Quem descobre o verdadeiro amor acha a Deus é quem acha Deus consegue viver dentro de religiões com a intenção certa, com os olhos abertos, com espírito de servo, com o puro amor de Cristo. 
      “Qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”, o texto diz qualquer, não o cristão que ama, ou o religioso que ama. Muitos querem posar marketing do fruto sem serem árvores adequadas, não se ama só porque se é evangélico de carteirinha, porque se coloca socialmente como membro de igreja, e consequentemente não se é nascido de Deus ou se conhece a Deus só por isso, mas por amar. Assim, há muitos nascidos de Deus e amigos íntimos de Jesus fora de igrejas cristãs, simplesmente porque amam. 
      Muitos evangélicos dizem que essa ênfase no amor, que leva não cristãos a dizerem que cristãos negam a Cristo quando limitam o amor, é álibi para negar pecado, juízo, condenação e inferno, que esse amor impede as pessoas de serem santas e irem para o céu. Quanto equívoco há nesses evangélicos. O verdadeiro amor não afasta, aproxima, quem quer viver errado não vem para o amor de Deus, porque nesse há luz que revela o pecado. Deus é amor, e de um jeito que muitos evangélicos se surpreenderão na eternidade. 

quinta-feira, janeiro 27, 2022

Não odeie nem o odiável

      “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todos os pecados.Provérbios 10.12

      Quem é pior, quem se torna odiável ou quem odeia o odiável? Muitos dirão que o que faz o mal tem motivos legítimos para ser odiado, não há nada de errado em odiar quem faz males. Com os que cometem crueldades, com os que fazem os seres humanos sofrerem, seja do jeito que for, devemos nos incomodar, mas cuidado, se lançamos ódio demais sobre esses devemos também nos preocupar com nós mesmos. Algo de errado acontece com quem se revolta demais com os outros, com os que tornam essa revolta algo pessoal, ainda que seja contra alguém totalmente desconhecido. 
      Muitas vezes o ódio faz mais mal a quem odeia que a quem é odiado, já que quem é odiado pode não ser merecedor dele ou nem ter noção dele, mas quem odeia retém ódio e sabe disso. Não sei você, mas eu às vezes me pego distribuindo revoltas para tudo quanto é lado, podem até ser contra pessoas que merecem repúdio. Mas até que ponto é rejeição do mal, e é ódio reprimido e mal resolvido em mim que desabafo lançando contra os outros? Às vezes parece que andamos caçando gente para ser odiada só para termos motivos para odiar, ou pior, para nos sentirmos melhores que alguém. 
      A polarização política no Brasil tem servido para isso, para que as pessoas direcionem ódio reprimido, não odeiam mais o estuprador ou o serial killer, isso já não basta, odeiam alguém com um posicionamento político diferente. Sim, muitos políticos, de ambos os lados, merecem nosso repúdio, mas acreditar em qualquer fake news só por nos dar motivo para odiar mostra problemas em nós, antes que nos outros. A verdade é que ninguém merece ódio, pena, sim, intercessão, sim, distância educada, em muitos casos, não ser votado em eleições no caso de políticos, com certeza, mas não ódio.
      Se ninguém merece ódio de ninguém tão pouco de cristãos, infelizmente num evangelho desviado que já considerava legítimo odiar o diabo e seus demônios, assim como pedir a Deus vingança sobre os inimigos, aliando os que não são de religião evangélica, como espíritas e outros, ao mal e portanto indignos de respeito, muitos cristãos têm se posicionado em um dos polos políticos no Brasil e servido a narrativas de ódio. Num mundo que fala tanto em direitos e respeito a diferenças, antagonicamente o ódio também está em moda, equilíbrio só é exigido do outro, não de si mesmo. 
      Sendo bem explícito, você não tem que adorar o Lula ou o Bolsonaro, mas com certeza não deve perder tempo odiando-os, divulgando postagens na internet para destruí-los, isso não é cristão, nem espiritual. Espirituais envolvem-se minimamente com este mundo e sua política, ainda que sejam responsáveis, trabalhadores e produtivos, eles não tentam mudar o que não pode e nem precisa ser mudado. Energia gasta odiando falta para amar, amar a todos? Sim, de algum jeito, mas especialmente alguns, os quais são nossa missão amar, já com relação ao ódio, ninguém tem como missão odiar. 

quarta-feira, janeiro 26, 2022

Por amor a verdade espera

      “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos moços como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza.I Timóteo 5.1-2

      Até a verdade dita na hora errada ou do jeito errado pode ser falta de amor. O amor nem sempre fala, mesmo a verdade, cala, esperando o momento melhor para ser verdadeiro. Deus sabe de toda a verdade, sobre todos, mas não fica jogando-a nos rostos das pessoas o tempo todo. Por isso o silêncio de Deus não é falta ou distância, não é o vazio ou a morte, mas também é expressão de seu amor, manifesta-se para que sejamos protegidos de nós mesmos, de nossas próprias verdades, que podem doer se ditas em tempo inadequado. Deus não mente, não pode fazer isso nem para que nos sintamos melhor, assim ele só se cala. 
      A verdade é a realidade, ela nem precisaria ser dita, ela é o que somos, contudo, nem sempre o que fazemos e falamos reflete o que somos de fato, por isso soamos falsos muitas vezes, por isso o que fazemos e falamos dão em nada, ou pelo menos em nada de bom. Estarmos na presença de Deus é estarmos sob a luz moral mais clara, essa luz naturalmente revela a verdade, quem busca a Deus de todo o coração percebe suas mentiras, entende-as e sente-se desejoso de deixá-las. Eis outra característica do amor de Deus, ele não só mostra nossos erros, mas também nos chama e dá-nos forças para deixá-los, com muita paciência.
      Paciência não explica, cala e espera, mas sorri, com a alma. Deus está muitas vezes olhando-nos assim, calado, mas sorrindo, e como é maravilhoso esse sorriso, é luz que entende e abraça, silenciosamente. Muitas vezes o que as pessoas mais precisam é só do nosso sorriso quieto, que lhes dá a chance de pensarem, de se avaliarem, de aceitarem seus erros e desejarem se acertar, sem que alguém precise jogar em suas caras seus erros, sem que alguém precise humilhá-las. Por amor até a verdade espera, porque na maioria das vezes não precisamos que nos digam que estamos errados, sabemos quando estamos errados.
      Espíritos malignos e muitos homens gostam de nos acusar, não precisamos de mais gente nos acusando, só precisamos de um pouco de silêncio para respirarmos fundo e assumirmos nossas verdades. Assim não tenhamos pressa para dizer verdades sobre os outros para os outros, sobre nós, sim, sejamos diligentes para assumirmos nossas verdades e nos desculparmos por nossas mentiras. Mas mesmo isso façamos sob orientação de Deus, e Deus sabe se abrirmos nossos corações e escancararmos nossas verdades será conveniente, às vezes é melhor nos acertarmos com Deus, entregarmos os outros em suas mãos e só.

terça-feira, janeiro 25, 2022

Descansa, ouça e obedeça

      “Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.Jeremias 31.3

      Bem intencionados, muitos me ensinavam, quando comecei no evangelho, que devia ter vida de oração e de leitura bíblica disciplinada, deveria falar com o Senhor e estudar a Bíblia todos os dias, assim como ser assíduo nos cultos da igreja. Lembro-me de adquirir aqueles livretos de meditações diárias que vinham com uma devocional por dia do ano, aprendi muito da Bíblia assim. Como eu disse, sei que a intenção era a melhor, e para novatos na fé estipular metas e horários pode ser útil para que esses se acostumem com uma vida com Deus. 
      Contudo, tenho entendido que Deus nos chama para sua presença mais íntima quando é preciso, assim, ouvir a chamada de Deus para orar e depois ouvir o que ele tem a dizer, é mais importante até que orar de forma metódica e repetitiva. Mas calma, não entenda errado, isso não significa que não temos que tomar a iniciativa, que basta-nos esperar a iniciativa de Deus. Na verdade, para quem atingiu certa maturidade é assim mesmo que funciona, mas só tem direito a isso quem vigia o tempo todo e está sempre disponível para obedecer. 
      O sábio é buscarmos a presença mais próxima do Senhor pelo menos uma vez no dia, deixando com Deus querer ou não nos dar um encontro diferenciado, muitas vezes bastará, de forma objetiva, um agradecimento e a entrega de nossas vidas e daqueles mais próximos a nós nas mãos de Deus. Acredite, falar pouco, mas com fé e com sentimento, pode dar mais resultado que ficar querendo saber o que Deus não quer dizer, além do mais Deus nos conhece e sabe quando estamos preparados para experiências mais profundas. 
      Eu procuro estar sempre atento a Deus e quando sinto ele me chamando para orar tento responder o mais depressa possível. Se não estiver em casa, procuro um lugar reservado e ouço o que o Senhor quer me falar, seja me orientando a interceder por algo, seja ouvindo uma resposta ou uma revelação, seja adorando seu nome pelo simples fato dele ser Deus. Faço isso mesmo estando em frente à TV no meio de um filme, desligo tudo e obedeço, às vezes Deus não chama duas vezes, se perdemos uma oportunidade não teremos outra.
      Sabemos que Deus nos chama para orar quando sentimos sua presença de maneira diferenciada, é como um “puxão que nos atrai para cima” e que lança sobre nós uma clareza espiritual, achamos forças mesmo estando antes desfalecidos, e para os que permitiram manifestação de dons espirituais a boca pode se encher de “línguas estranhas”. (Aproveitando a oportunidade, “convertidos” recebem dons no momento que se convertem e são selados com o Espírito Santo, mas os dons só se manifestam se a mente for liberada).
      Deus é luz e poder e nos chama assim, iluminando-nos e ungindo-nos, dessa forma quando oramos porque Deus nos chamou para isso temos vontade e forças para orar, isso é espiritual e suplanta mesmo limites físicos. Isaías 40.30-31 expressa com exatidão como nos sentimos quando fazemos algo obedecendo uma palavra de Deus: “os jovens se cansarão e se fatigarão e os moços certamente cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias, correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão.

segunda-feira, janeiro 24, 2022

A verdade merece consolo

      “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração. Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próximoSalmos 15.1-3

      O único consolo que nos cura e permanece é o consolo de Deus, esse, contudo, só provamos depois que conhecemos e aceitamos toda a verdade sobre nossas vidas, sobres o Senhor, sobre aqueles que convivem conosco, e sobre aqueles que por algum motivo dependemos. Não provaremos o consolo de Deus se nos refugiarmos na mentira, na inveja, no rancor, nas coisas ruins que nos levam a pôr a culpa de nossos problemas nos outros, e a promovermos os defeitos dos outros para escondermos os nossos. Contudo, vivermos a verdade do jeito certo pode não ser algo fácil e nem agradável, requer de nós a humildade, da qual podermos passar muito tempo de nossas vidas tentando fugir. 
      O metal só é purificado quando exposto à alta temperatura, quando as impurezas podem ser separadas dele, só depois ele poderá receber água que o fará voltar à sua temperatura normal, se ele receber água antes só limpará sua superfície externa, não purificará seu interior. Assim somos nós, a verdade pode elevar nossa temperatura, fazer com que nos sintamos desestruturados, desconstruídos, quase desfalecidos, ela não nos deixa confortáveis, mas é a única maneira de sermos purificados. Só depois disso, Deus, o pai de amor, pode derramar seu Espírito sobre nós, a água limpa e fresca, que nos equilibra emocionalmente com paz e nos consola totalmente, agora moral e espiritualmente purificados. 
      Podemos buscar o consolo sem termos assumido toda a verdade, e quando é assim sentimos que oramos a Deus e ele parece não nos responder, Deus sempre responde, mas nem sempre do jeito que queremos, que achamos melhor. O Espírito de Deus não convive com a mentira, e se estamos nos baseando em alguma mentira a “temperatura” aumentará até que ela seja extraída. Por outro lado “não matemos o mensageiro”, Deus pode usar pessoas pelas quais talvez não tenhamos muita simpatia para nos confrontar com alguma verdade, assim não nos revoltemos contra elas, não as difamemos nem desejemos mal a elas, tentando destruí-las já que não podemos destruir a verdade que elas entregam.
      Aceite a alta temperatura humildemente, como mão de Deus tornando-te melhor, ainda que doa, e a verdade sempre dói, mas depois disso, tenha certeza, uma vez aprovado Deus te consolará de maneira singular. Achará a paz, o direito de habitar no tabernáculo de Deus, o santo monte, um lugar espiritual altíssimo onde Deus abriga os verdadeiros. Três virtudes habitam com o Altíssimo, de onde a luz mais forte emana: o amor, a santidade e a verdade, elas se completam, uma não pode existir sem a outra. Somos santos sendo verdadeiros, amamos sendo santos, somos verdadeiros sendo santos e amorosos, do perfeito vínculo dessas três virtudes brotam paz e justiça, o consolo de Deus. 

domingo, janeiro 23, 2022

A verdade, nada mais

      “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumprirá o desejo dos que o temem; ouvirá o seu clamor, e os salvará.Salmos 145.18-19

      O ser humano é hábil em inverter as coisas para se beneficiar, mas essa inversão, mesmo que com aparência de algo bom, nada mais é que uma mentira. Eu, você, todos nós, temos medo da verdade, por isso mentimos muito, afinal, mentir é mais fácil, mais agradável, nos protege principalmente de nós mesmos, da nossa verdade. Temos a tendência de exagerar em nossas qualidades, ou mesmo de inventa-las, e de diminuir nossos defeitos, e ainda que os citemos tentamos dar a eles um viés de virtude, de sinceridade.
      Diz-se, que quando questionadas sobre seus defeitos em entrevistas de emprego, o que muitas pessoas respondem é que são perfeccionistas, exigentes demais com elas mesmas e com os outros, mesmo idealistas. Mas isso é só um jeito conveniente de se dizer que se é chato, inseguro e prepotente, quem é humilde convive bem com sua humanidade limitada, com as dos outros, e sempre é educado. Enfim, isso só são mentiras que contamos a nós mesmos e aos outros. Convencem? A ninguém, só faz perder tempo. 
      Temer a verdade nada mais é que querer colher honra antes do tempo, por isso encontra-se na mentira um jeito mais rápido de se receber reconhecimento. Quem não tem paciência não ama, quem não se mostra como é, o faz por medo e quem tem medo não ama, quem não se aceita, mesmo ainda em construção, a ser melhorado, não ama a si e quem não se ama não pode amar o outro. Interessante como medo, mentira, falta de paciência e incapacidade de amar estão relacionados. O que resolve isso? Achar paz na verdade. 
      Não basta se achar povo de Deus, frequentar igreja, obedecer costumes evangélicos, é preciso prática de misericórdia que acha santidade e a vive, que conhece mais e mais a Deus. Só a verdade resiste ao tempo, palavras falsas, não, só a verdade nos faz puros o suficiente para sermos templos do Espírito Santo, podendo receber a luz do Altíssimo e refleti-la aos homens. Ser purificado pela verdade não é processo rápido, podemos passar uma vida submetidos às provações para que mentiras sejam purgadas.
      Este que escreve também mente, admitir minha verdade não é fácil, mas eu assumo isso e faço do fundo do coração a oração: “Senhor, sei que é difícil, mas eu quero a verdade, somente ela, nada mais que ela, assim, ajuda-me a entender a verdade, a aceitá-la e a vivê-la, pagando o preço que for preciso, sei que nisso está tua luz mais alta e só nela há vida eterna e sentido para existir”. Se entendermos de fato tudo que implica assumirmos nossas verdades veremos que é difícil fazer uma oração assim, mas é necessário. 
      A verdade é escudo contra todo tipo de mal, quando a dizemos não há mais argumentos, acusações, não que possam nos atingir, a não ser que sejam argumentos mentirosos e acusações falsas, e esses não atingem quem está protegido pelo escudo da verdade. Dizer a verdade pode nos colocar numa posição frágil, onde os maus poderão nos atacar com facilidade, mas a verdade nos dá o escudo de Deus e protegidos por esse, ainda que os maus achem que estão nos destruindo, não estão, porque são só armas da mentira. 
      Usar o escudo da verdade ensina a ter paciência, a confiar no Senhor do tempo que na hora certa honra os verdadeiros. Se você estiver errado? Admita. Se não tiver condições de construir algo? Aceite, mas não minta, melhor não fazer nada que mentir. Contudo, humilhe-se diante do Deus da verdade, peça a ele forças e oportunidades para construir uma boa reputação, onde você não precisará mentir para ser reconhecido como ser humano do bem. Deus pode nos construir, mas a base para isso só a verdade pode dar. 
      Que verdade você esconde? Que não é tão feliz no casamento como queria? Que não é tão competente na área profissional como precisaria? Que não é tão espiritual, tão virtuoso, como se esforça em aparentar na igreja? Que não é tão amoroso com teus filhos como eles precisariam que você fosse? Que não tem tanta paciência com parentes, pais, sogros, irmãos, cunhados, como deveria ter como cristão? Mentiras são respostas a cobranças erradas, já que a cobrança certa, a de Deus, nada pede de nós além da verdade. 

sábado, janeiro 22, 2022

Ao nada não se reage

      “Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor.Lamentações 3.26

      O bem está sempre em movimento, atraído pelo amor de Deus para sua luz mais alta, o que conecta a Deus é o movimento, movimento é vida. O mal está na ausência de movimento ativo, quem não se move espiritualmente para Deus, ainda que não esteja fazendo um mal, está desligado de Deus, em disposição de morte. Parado se cai, move-se passivamente para baixo e para longe de Deus. Com o bem se interage, quem está ligado a Deus pergunta a Deus e ele responde, com o mal não se interage porque ele é nada, ausência de movimento e de Deus, e para nada não precisa haver reação. 
      Jesus ficava em silêncio muitas vezes quando seus opositores, os maus líderes religiosos de sua época, o inquiriam, ele não fazia isso por displicência ou soberba, mas porque ao nada não se reage. Não há sentido em perder tempo com o mal, com nada, responder ao mal, à malícia, às segundas intenções, à inveja, à ira, é perder tempo, é dialogar com o vazio, é enfadar-se à toa. Assim precisa ser com aqueles que hoje querem ser espirituais, discernirem o que se move para Deus e o que está parado, diferenciar vida de morte, luz de trevas, bem do mal, e ser útil para Deus reagindo ou não.
      Muitas vezes nos vemos em situações onde ofensas, acusações, injustiças e impropérios nos são direcionados e ficamos indignados, nessa indignação diante de palavras e atitudes descabidas, tentamos achar uma maneira de reagir à altura e não conseguimos. Isso nos deixa cansados, angustiados, podendo até fazer com que nos achemos, por não encontrarmos contra-argumentação, os errados na história, mas na verdade não achamos resposta porque não existe resposta, não uma resposta espiritual. Nesses casos o certo é não reagirmos, nada respondermos, permanecermos em silêncio.
      Quando o mal nos deixa sem reação ele nos coloca em xeque-mate e alcança seu intuito, parar nosso movimento em direção a Deus, e acredite, aqueles que se colocam como instrumentos do mal, sejam seres humanos ou espíritos, são mestres em aplicarem essa jogada, são mais astutos que os filhos da luz, são maliciosos, não sábios. A tristeza adora companhia, o mal não quer ficar só em sua morte, desligado de Deus, passivo espiritualmente, ele quer que outros fiquem com ele, pessoas erradas querem a companhia de pares que apoiem suas escolhas erradas para se sentirem vivas.
      Por várias vezes a Bíblia nos orienta ficarmos em silêncio, seja diante de opositores, diante do pecado alheio ou diante de tempos difíceis, como os atuais em que vivemos. Mas no mundo de hoje, onde todos têm opinião sobre tudo, se acham no direito de gritar essas opiniões e na presunção de acreditarem que suas opiniões são mais legítimas que as demais, nunca foi tão difícil ficar em silêncio e ser espiritual. Entretanto, talvez nunca tenha sido tão necessário mostrar o Deus verdadeiro ao mundo, de forma realmente espiritual para glorificar ao Senhor, não nossos egos vaidosos (Amos 5.13). 
      Deus aparece como luz nas trevas, silenciosamente, de forma espiritual, não material, o que se move para ele o faz de maneira simples, leve, quase imperceptível. A vida pulsa por si só, mas ainda que chacoalhemos um cadáver, que o submetamos a eletrochoques, que o amarremos a fios e o movimentemos como um marionete, ele não terá vida e toda demonstração de ânimo será falsa. Como vemos zumbis hoje, dentro de igrejas, defendendo ideologias, fazendo e acontecendo, mas mortos, parados em direção a Deus, não acham virtude no silêncio sábio, mas fraqueza, e por isso morrem. 
      Muitos permanecem em silêncio para encobrirem seus erros, se falarem terão que mentir, mas o que se move em Deus fica em silêncio diante de um ataque do mal para guardar a verdade, que não deve ser compartilhada com qualquer um e de qualquer jeito, simplesmente porque isso para nada serve. Quem não está preparado não entende, não é o argumento que convence alguém, mas todo um processo de vida com Deus que prepara a pessoa, então, quando a verdade for dita, o preparado naturalmente receberá e entenderá. Não cabe ao homem convencer outro homem, só a si mesmo.  
      Não se pode fugir de Deus, Deus está em todos os lugares, assim, resistir a Deus é parar, por isso dizemos que alguém que está possuído pelo mal está amarrado, sem liberdade de se mover espiritualmente para Deus. Todos nós já experimentamos momentos em que nos vemos confusos, sem sabermos o que fazer, em situações assim nos sentimos amarrados. Podemos até buscar fuga em algum ativismo ou prazer do corpo para tentarmos nos esquecer de nossa condição, mas enquanto não nos resolvermos com Deus e seguirmos para ele, estaremos parados e longe do melhor do Altíssimo. 
      Ter um encontro maravilhoso e marcante com Deus em oração é nos colocarmos em movimento espiritual para as mais altas regiões celestes (Salmos 121.1-2), nisso temos libertação das preocupações e sofrimentos do mundo, do mal dos outros e de nossas culpas. O mais formidável disso é que nos movemos espiritualmente, isso impacta nossa mente e nossos sentimentos independentemente do nosso corpo físico, assim mesmo presos a um leito ou a um cárcere, podemos alcançar a paz maior. Isso nos transporta, nos desamarra e nos dá forças para guardarmos silêncio diante do mal.

sexta-feira, janeiro 21, 2022

Prazer e identidade

      “Também os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros.Salmos 119.24
      “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.João 13.15

      Na minha ótica, já disse várias vezes que o papel de drogas ilícitas, maconha e cocaína por exemplo, é oferecer um prazer que anule uma dor insuportável. Talvez eu veja as coisas assim porque sempre tive uma luta muito grande contra a dor da alma, que a princípio não conseguia anular com vida com Deus, nem com os pecados mais convencionais e menos danosos, digamos assim, sexo, bebidas alcoólicas e outros prazeres mais lícitos do mundo. É certo que enfrentei sérias consequências na vida conjugal e profissional por causa disso, mas nunca recorri à maconha, cocaína e tabagismo. 
      Deus usou efeitos vergonhosos de más escolhas que fiz a princípio para anular a dor. Falsos cristãos, mais interessados em condenar que em curar, não ajudaram, e concordo que corroborados em sua falta de amor pela meu distanciamento. Mas como alguém que sempre viveu submerso pode saber que está afogado? Exigiram de mim lucidez que eu não tinha, que só obtive à medida que me esforcei sozinho, colocando a cabeça para fora, entendendo minha situação e permitindo que a mão de Deus me levasse à terra firme. Lutas solitárias têm um benefício, nos ensinam a confiar só em Deus. 
      Mas voltemos ao assunto, ninguém começa a usar drogas porque é ruim, usa porque é bom, incentivar jovens a não usarem drogas argumentando que elas são ruins é mentiroso e ineficiente. A solução, para não recorrer a prazer ilícito, ou que depois se torna vício, sendo, então, consumido não para se ter prazer e anular dor inicial, mas para anular a dor da abstinência do que viciou, é curar a dor inicial, aquela que fomentou o primeiro uso de droga. Quem tem dor da alma bem administrada, ainda que prove drogas uma vez, não se viciará, e isso não é incentivo para se provar uma única vez drogas.
      Contudo, muitos jovens usam drogas não só pelo prazer que elas dão ajudando a viver com uma dor terrível de alma, usam pela identidade que ela confere, sim, drogado tem uma identidade, de descolado e de poderoso. O drogado não se sente menos por ser drogado, mas mais, não só pela sensação de capacitação que a droga oferece, mas por lhe entregar um estilo de vida, jeito de falar, de andar, de se portar, de ouvir música, ele se sente um super homem, enquanto os outros são vistos como trouxas, otários, caretas. Por isso o drogado não se esconde, mas exibe com orgulho sua identidade alterada.
      No passado jovens já se escondiam na identidade alterada de drogado, aqueles sem caráter fortalecido para enfrentarem as consequências de vícios, já que droga ocupa o tempo e usa a força que as pessoas deveriam usar para estudar e trabalhar. Nos últimos tempos, contudo, isso tem se tornado mais comum, hoje todo mundo quer ter uma identidade descolada, isso parece até mais importante que simplesmente usufruir do relaxamento e da euforia que as drogas injetam no corpo e na mente. Ninguém quer ser normal, querem aparentar-se no controle, assim, parecer drogado está na moda, é chique.
      Por que essa obsessão atual por querer se parecer o que não se é, de se ter vergonha de ser visto como alguém bom e manso, de achar que ser humilde e santo são sintomas de fraqueza? Hoje é bonito ser feio e é feio ser bonito, e me refiro à beleza moral interior, não à aparência do corpo. Enquanto o corpo parece vagar sem rumo, enquanto o olhar malicioso olha algo que ninguém mais vê, enquanto as palavras são codificadas por gírias, para deixar claro que se está acima da realidade, não se importando com o que os outros pensam, o espírito está em trevas, feio, intimidado, fugitivo, atormentado. 
      Precisamos ser justos, essa busca de identidade no caos, no sujo, no alienado, não representa todo mundo, tem o outro lado. Nesse lado estão os de poder aquisitivo um pouco mais alto, que zelam pela saúde física e mental, que buscam na ioga serenidade e auto-controle, mas penso que esses são até mais alienados e mimados que os pseudo-drogados, e se consideram sinceramente superiores. Onde fica o exemplo de Jesus homem nisso tudo? Esse exemplo parece antiquado e falso, desconstruído como foi por um catolicismo e um protestantismo hipócritas e materialistas. Cristo hoje parece feio.
      Prazer na palavra recebida diretamente do Santo Espírito e identidade baseada no exemplo de Jesus homem, isso protege de ilusões da carne e da falta de amor do mundo. Até hoje luto contra as satisfações artificiais e passageiras da matéria, entendi que pessoas com problemas extremos precisam, não como escolha, mas como obrigação, de soluções extremas. Se outros podem ser dar ao luxo de terem comunhão espiritual com Deus até um ponto, pessoas como eu, viciáveis e escapistas, não, a nós só resta ter intimidade profunda com o Senhor, mas nós temos um privilégio, unção singular de Deus. 

quinta-feira, janeiro 20, 2022

Sopro de Deus!

      “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” Gênesis 2.7

      “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo.” Gálatas 4.4-7

      “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.João 17.21

      Já abordamos aqui ser amigo de Deus e não só soldado dele, e sobre ser íntimo de Deus e não só vitorioso em guerras físicas, desta vez vamos nos aprofundar na essência espiritual que todo ser humano tem e que o conecta com Deus. Se fôssemos só seres com o objetivo de nos aproximarmos de Deus para sermos melhores, nossa existência já teria sentido, mas só isso seria solitário e bem mais difícil de ser feito. Como filhos temos uma parte de Deus em nós, aliás nossa parte principal e eterna, o fôlego de Deus. 
      É o nosso espírito que consegue se comunicar com o Deus Altíssimo através do Espírito Santo enviado por Jesus. Jesus é início e fim, é começo pois enviou o Espírito Santo e é fim pois é a porta mais alta que recebe nosso espírito nas “asas” do Espírito Santo e o coloca nas regiões espirituais mais altas. O Espírito Santo vem à terra, toma nossa intenção e a leva a Jesus, a porta direta para Deus, acima de potestades, principados e outras potências e seres espirituais, existe um mistério muito importante nesse processo. 
      Negar a Deus não é negar algo fora de nós, é negar nossa essência, nossa razão de existir, o fôlego de vida que nos habita suspira pelo Espírito Santo, precisa dele para viver, se negamos essa vocação intrínseca morremos. Conhecer a Deus e seguir em sua direção não é só questão de opção, ainda que Deus respeite nossas escolhas contrárias a ele, também não é fraqueza de ignorantes e manipulados, mas é aceitar e viver aquilo que temos de mais profundo dentro de nós, a vida eterna. Nossa vocação maior é espiritual. 
      O trabalho mais nobre que o ser humano pode fazer, que o evoluirá para seu mais alto potencial, é não fazer nenhum trabalho. O paradoxo espiritual é deixar livre a essência interior que naturalmente deseja Deus e é atraída pelo amor de Deus. Tudo que pesa e amarra nos deixa parados espiritualmente e nos separa de Deus, espiritualidade nada mais é que leveza moral e emocional que se move para o Altíssimo sem amarras, deixando para trás toda ilusão da matéria e de seus prazeres, egoísmo, vaidades e maldades. 
      Contudo, o trabalho de permitir elevar-se o espírito não é algo fácil, na verdade é o trabalho mais difícil que existe, justamente por ser o mais simples, eis novamente o paradoxo que só entende quem busca humildemente o Senhor com todo o coração, o conhece e o segue. Aumentar a sensação de culpa, tentando mantê-la na alma por mais tempo possível, é uma falsa espiritualidade que muitos criam para tentarem provar a si mesmos e aos outros que ainda que pequem não gostam disso, isso só gera hipocrisia e peso. 
      Muitos provam infernos, não por odiarem o rei, mas por ser acharem mais reais que o rei. Muitos acreditam em Deus, mas por não conseguirem vivenciar sua vontade infringem a si mesmos remorsos infindáveis, não percebem que isso também é vaidade, é trabalho em vão. Deixemos a culpa como a uma mochila pesada que apesar de podermos ter levado por anos não faz parte de nós. Sermos simples para executarmos isso nos dá a paz que nos fortalece para não fazermos as coisas erradas e fazermos as certas. 
      Os autores bíblicos usaram vários termos na tentativa de definirem a relação seres humanos com Deus, criatura com criador, filho com pai, servo com senhor, amigo com amigo, como sempre, mistérios espirituais são difíceis de serem entendidos com conceitos do plano material, porque são espirituais. A verdade é que todos os seres estão ligados uns aos outros e a Deus, seja no plano material com limites, seja mais plenamente no espiritual. Viver esse mistério no Espírito Santo é se entender no universo e ser útil. 

Esta reflexão é uma resposta
à reflexão anterior, se puder leia-a
para entendimento melhor do assunto.
José Osório de Souza, 16/07/2021

quarta-feira, janeiro 19, 2022

Criatura, filho, servo ou amigo?

       “E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.Gênesis 1.27

     “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.João 1.12-13

      “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.Romanos 6.20-22

      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” João 15.15

      Qual a nossa ligação com Deus? A teologia tradicional protestante trata todos como criaturas de Deus, mas filhos só os convertidos por Cristo, o catolicismo leva isso ainda mais a sério batizando bebês para que esses deixem o paganismo e sejam cristãos o mais rapidamente possível. O espiritismo e outras religiões são menos radicais, creem que todos são criaturas e são filhos de Deus, indiferente se servem ou se são amigos de Deus, com uma relação mais próxima das boas obras. 
      Os evangélicos gostam de usar o termo servo para diferenciar do simples filho, para eles o servo é um cristão mais consagrado que trabalha com mais esmero nos ministérios das igrejas evangélicas. Jesus disse que não chamaria seus seguidores de servos, ensinou que ainda que servos sejam obedientes a ele, não conhecem sua vontade com mais profundidade. Ele chamaria os homens de seus amigos, amizade essa que é possível não por qualquer religiosidade, mas pelo evangelho. 
      Numa relação de pai e filho existem coisas que não existem em relações de senhor e servo e de general e soldado. Por mais útil que possa ser comparar Deus a um senhor e os homens que trabalham para ele a servos, ou Deus a um general que lidera os homens que o obedecem como soldados numa guerra, a obediência de um filho a um pai envolve afeto. Não precisamos gostar, sermos mais próximos ou mesmo passar momentos de lazer com chefes, sejam empresariais ou militares.
      Nós servimos a patrões e capitães enquanto desempenhando uma tarefa, depois nos afastamos deles, mesmo que sirvamos com eficiência profissional eles podem nem nos conhecer intimamente ou terem características pessoais em comum conosco, eles só precisam de nossas habilidades e capacidades como funcionários e subalternos militares. Não é assim a relação de filho e pai, ela pode ter eficiência, mas nela existe uma parte afetiva forte assim como semelhanças mais profundas.
      A diferença é que um filho tem em sua estrutura os mesmos elementos que existem no pai, senão físicos, carne e sangue, semelhanças faciais e de outras partes do corpo, mas também e principalmente elementos emocionais, adquiridos por anos numa criação próxima, compartilhando o mesmo lar, a mesma casa, o mesmo estilo de vida, os mesmos sonhos e lutas. Um filho é um pedaço do pai, e repito, muito mais emocionalmente que fisicamente, é uma extensão dele, mesmo que negue isso.  
      “E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.” (Mateus 26.72-74). Pedro tentou convencer os homens que não tinha ligação com o Cristo, mas seu jeito o denunciou, quem anda com Deus é marcado para sempre. 
      Somos tudo, criaturas que nascem inferiores e que tendem à superioridade, só Deus é incriado. Somos filhos, ligados a Deus pelo amor, isso não é frio e “científico”, mas encharcado de carinho e cumplicidade. Somos servos, o trabalho mais nobre do ser é servir, a Deus e aos outros seres, é assim sempre e também será na eternidade, quanto mais superior é o ser mais deve servir. Somos amigos, íntimos de um Deus que por mais alto que seja nos trata como semelhntes e nos revela seus mistérios. 

Esta reflexão faz uma pergunta,
se puder leia a próxima reflexão, 
onde concluiremos o assunto. 
José Osório de Souza, 16/07/2921

terça-feira, janeiro 18, 2022

Pôs meus pés sobre uma rocha

      “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no Senhor.Salmos 40.1-3

      Um daqueles salmos onde o autor usa com primazia metáforas da natureza para descrever um ambiente emocional interior. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, isso é perfeito, pelo menos para mim, como me sinto tantas vezes nessa situação, diante de certas pessoas, tendo que enfrentar uma decisão, ou mesmo superar um passado que já pensava ter superado. Não achamos o chão, isso significa não conseguirmos ver referências que nos mantenham firmes, tudo parece rodar, se mover, nos esquecemos quem somos e o que conquistamos até então. 
      Como sempre, só nos resta orarmos a Deus, com muita humildade, com todo o coração e cheios de fé, pedindo que ele nos dê a mão, nos ponha de pé e nos firme sobre sua palavra, uma promessa de esperança. O que ocorre depois é simplesmente uma mudança de olhar, nos desprendemos do chão movediço, do charco de lodo, que no meio da luta parecia envolver tudo, e olhamos para o Deus Altíssimo. Achamos o ar, liberdade para respirarmos, perdão para darmos aos outros, forças para superarmos os ataques injustos do homem egoísta e falso, voltamos a viver, achamos de novo a paz. 
      No final de provas assim o louvor ganha legitimidade, fica novo, pois o Espírito Santo tem facilidade para descer, nos tocar e nos levar para o alto, o caminho espiritual para Deus fica desimpedido. O chão, antes um lago horrível, se transforma numa rocha, confiável, nos lembramos de quem somos, do que trabalhamos para ser o que somos, tomamos posse do que já nos foi dado e obtemos um bem precioso. Esse bem é um testemunho verdadeiro de uma experiência profunda com o Senhor, esse testemunho poderá ajudar a outros, cumprirá nosso propósito no mundo, sermos luzeiros. 
      Se as pessoas precisam de nossa paciência, se nós mesmos necessitamos de tempo para digerirmos as coisas e fazermos as melhores escolhas, Deus também necessita de nossa paciência, não por alguma limitação dele, mas por limitações de outras variáveis do universo que ele pode estar esperando resolverem-se para nos responder. É a isso que o salmista se refere quando diz “esperei com paciência no Senhor e ele se inclinou para mim”. Você tem tido paciência com Deus ou fica exigindo que ele resolva as coisas imediatamente, quando você pede? Ter paciência é ato de amor verdadeiro.

segunda-feira, janeiro 17, 2022

Não há virtude na ansiedade

      “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.Filipenses 4.6-7

      O ansioso deseja uma coisa que ainda não aconteceu, mas acreditando que algo ruim pode ocorrer. Já o esperançoso também aguarda algo, mas na certeza que as coisas de algum jeito vão dar certo. Ansiedade só se transforma em esperança quando temos uma experiência viva com Deus em oração, onde conseguimos entregar algo, abrindo mão de querer ter controle sobre as coisas, confiando que Deus tem a posse do que entregamos e fará o melhor.
      Essa transformação requer consciência racional, mas também experiência emocional, e ambas só são possíveis com profunda comunhão espiritual em Deus. Disso assenta-se em nós a paz maior, que nos protege das acusações dos maliciosos e do ceticismo dos que não temem ao Senhor. Você sempre tem direito à paz, não se esqueça disso, assim não permita que situações ou pessoas construam contingências desnecessárias em você. 
      Ansiedade não alia trabalho a alguém, não há vantagens em andar ansioso, nos mostrarmos ansiosos não exibe para os outros que somos pessoas responsáveis, esforçadas, ocupadas, ansiedade não é virtude, não se ganha horas extras sendo ansioso. Ansiedade é oração que não foi feita, é doença construída em nossos corpos e mentes, é vaidade e incredulidade, é ver o problema maior que Deus, portanto, confiar em ídolo vazio, não no Senhor. 
      Muitos de nós, talvez a maioria, são ansiosos crônicos, disso nascem vícios buscados para que prazeres fáceis anulem a dor da ansiedade. Se todos devem ter vidas diárias de oração, muito mais os ansiosos, que podem transformar pequenos problemas em torturantes sofrimentos. O ansioso aguça sua criatividade de forma negativa, vive mais no plano imaginário e mental que no físico e real, a esse só experiência espiritual com Deus traz cura e paz. 

domingo, janeiro 16, 2022

Abrir mão da coisa certa

      “Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos. O Senhor conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.Salmos 37.17-19

      Em algumas situações, por mais que queiram e mesmo que se esforcem, muitos não conseguem mudar suas vidas, aceitar isso com humildade, seguindo com honestidade, principalmente quando o que tem que ser aceito é na área financeira, pode levar as pessoas a crescerem espiritualmente. Ainda que possa ser, não resiliência legítima, mas só aceitação passiva de uma situação onde se acomoda a ela, podemos crescer quando aprendemos a viver com a falta de algumas coisas. Mas e aquilo que temos e merecemos ter, conseguimos administrar bem, possuindo ou abrindo mão de possuir? 
      Com o que recebemos sem merecermos podemos nem nos sentir na responsabilidade de administrar, e isso em nada pode contribuir para nosso crescimento, ganhar uma fortuna em loteria pode até nos prejudicar e nos fazer piores que éramos antes de ganhar, o que fácil vem, fácil vai. Mas ter algo sabendo que se merece de alguma maneira, seja por se ter trabalhado para ter, ou por se ter recebido como herança e na herança há o mérito de se ser ligado legitimamente a alguém que tem algo, ter que abrir mão disso depois pode amadurecer muito mais que só aceitar uma situação de falta. 
      Citei a condição de herança porque um não tem culpa de nascer rico, como não tem culpa outro de nascer pobre, e tentem explicar a justiça de Deus diante disso, cristãos, baseados em sua doutrina tradicional. Tenho certa dificuldade de explicar isso assim, mas esse não é o ponto desta reflexão, o ponto é que indiferente do que recebemos podemos crescer espiritualmente neste mundo. O que não podemos é nos achar melhores, desconsiderando quem não tem, ou piores, odiando quem tem, a todos cabe humildade e ajudar quem não tem, e sempre há alguém que tem menos que nós. 
      A verdade é que quantidade não importa, todos podemos abrir mão de algo para que aprendamos a viver com menos, a não vangloriar-nos pelo que temos, para que cedamos um direito nosso por amor a alguém que precisa mais que nós. Quem dá nove partes de dez dá tanto quanto quem dá noventa partes de cem, mas quem dá uma parte de uma dá muito mais. Não somos avaliados espiritualmente baseados em aparência no mundo, em riquezas materiais, naquilo que a maioria dos homens considera muito ou valoroso, mas nas virtudes morais que nos permitem ser humildes e amorosos. 
      Muitos abrem mão de tempo de amar para trabalharem mais e serem prósperos materialmente, quando cresceriam mais espiritualmente se contentassem-se com menos, podendo trabalhar menos e amar mais. Outros são ociosos, têm tempo de sobra para amar e não amam, porque no excesso material sempre há dolo e negligência, mas deixando de trabalhar não beneficiam materialmente os que dizem amar. É tudo muito relativo, só Deus sabe o que alguém tem que abrir mão para crescer, se do excesso ou da falta, se de fazer ou de não fazer, se de reter ou de conceder, se de falar ou de calar.
      Não julguemos ninguém, mas não façamos as coisas para sermos vistos por homens, o excesso material sempre tem razão de existir na vaidade e no egoísmo, nos preocupemos com o que Deus pensa de nós, com o que ele quer de nós. Cada um de nós veio a este mundo com uma prova principal, ainda que muitas coisas aconteçam a nós, muitas perdas e muitos ganhos, existe uma coisa que nos é pedida que definirá toda nossa eternidade. Descobrir que coisa é essa, aceitá-la com humildade e vivê-la com temor a Deus, é o que nos dá o crescimento espiritual que nos acompanhará no outro mundo. 
      Tantos fazendo e acontecendo na vida, outros sofrendo e reclamando de homens, mas sempre fugindo dessa prova principal, assim têm existências inúteis, ainda que com tipos distintos de excessos. “Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos… não serão envergonhados nos dias maus”, o que adianta se esforçar sem confiar em Deus? Dias maus chegam a todos, nesses dias uns não terão mais forças, porque se esforçaram no momento errado, outros acharão forças e paz quando muitos não acharem, porque confiam em Deus em todos os momentos e a ele são gratos.

sábado, janeiro 15, 2022

Hobby, estilo de vida ou trabalho?

      “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.II Timóteo 4.5

      Como você desempenha suas atividades religiosas, a oração, o estudo bíblico, os cultos: como hobby, como estilo de vida ou como trabalho? Alguns exercem religiosidade como hobby, gostam de ir a cultos e outras reuniões, sentem-se bem nessas atividades, têm respondidas questões importantes nelas. Esses apreciam o convívio social que essas atividades proporcionam, a sensação de pertencimento a algo maior, serem aprovados por um grupo, terem cúmplices, querem Deus, mas amam as pessoas que falam o que eles querem ouvir sobre Deus. Esses separam as coisas, têm outras vidas em outros lugares, usam uma sala de seus corações para religião, mas não ocupam a casa inteira com ela, por pouca coisa se mudam de igreja.
      Muitos têm nas atividades religiosas um estilo de vida, são os mais assíduos em cultos e conhecem profundamente suas doutrinas. Geralmente foram criados em igrejas, têm uma tradição familiar em suas crenças, se não se agruparem nos templos suas vidas não terão sentido, se pudessem viveriam dentro de igrejas, suas religiões são o único jeito que aceitam para viver e as aceitam sem críticas. Não dependem de opinião alheia para serem o que são e crerem no que creem, todavia, como amam extremamente algo, podem não gostar com mesma intensidade de outras coisas, mesmo que não externem isso e sejam educados com todos. Ligados à religião de homens, creem nela como a verdadeira e para mudar o mundo. 
      Outros exercem religião como trabalhadores profissionais, não precisam sentir para fazer, fazem porque é preciso, liderança de igreja é a que mais vê vida religiosa assim. Mas eles não são só líderes remunerados, há outros profissionais nas igrejas, que se sentem bem servindo, mesmo que não ganhem nada por isso, abrem e fecham templos, participam de vigílias em horários e lugares mais difíceis. Os hobistas saem e voltam, os “estilo de vida” são, digamos assim, meio alienados, mas os profissionais são a base de trabalho dos ministérios e a ligação desses com o mundo. A diferença entre eles e os outros é que são pragmáticos, têm noção que suas religiões não são perfeitas, e são mais politicamente corretos com outras religiões. 
      Você se identificou com alguma das análises? Sabe qual é o tipo mais correto? Na verdade os três, um pouco de cada um. Muitos precisam ver religião como algo socialmente sadio, não como um deus, mas como um meio para conhecer a Deus, e sempre achando algo bom, que faça bem, e se não fizer, que se mude, não de Deus, mas de templo, de igreja, mesmo de religião. Muitos precisam descobrir a felicidade que é ter na vida com Deus um estilo de vida, ao invés de ter isso na vida de bares, da noite, da bebida e das relações afetivas rápidas, mas novamente, não estilo de vida religiosa, mas de amizade com Deus, de forma natural. Outros, contudo, precisam entender a utilidade de trabalhar, não para uma religião, mas em Deus. 
      O que me levou a esta reflexão foi a experiência de vida com Deus como trabalho, e entenda certo, não com frieza, não no mau sentido de trabalho religioso profissional, que leva muitos a usar ministério como empresa com fins lucrativos materiais. Também não me refiro ao trabalho pela sobrevivência no mundo, que pode não precisar de qualidade moral, só de força física e preparo intelectual. Há um meio termo, e muitos são sustentados por Deus e de maneiras diversas para alimentarem os espíritos humanos com o pão da vida. Esses não ganham de igreja salário para desempenharem atividades em tempo integral, nem são reconhecidos como obreiros por homens, mas trabalham em segredo, servindo diretamente ao Senhor. 
      Deus chama muitos para esse trabalho direto, mesmo entre os que têm profissões seculares, entregando horas diárias para empresas para ganharem o suficiente para terem vidas dignas no mundo. O trabalho espiritual legítimo não depende de quantidade, mas de qualidade e fidelidade, quem é chamado para fazê-lo deverá estar disponível, não necessariamente para uma igreja ou para líderes cristãos, mas para o Espírito Santo de Deus. Os que têm essa chamada sentem uma inclinação forte, clara e em amor para ajudar os outros, mesmo que seja só intercedendo em oração. Apesar disso ter que ser encarado como trabalho, não é algo frio, mas vivido no calor do fogo do Espírito Santo e feito com humildade, de um jeito ou de outro. 
      Tenha religião como um hobby, tenha a amizade com Deus como estilo de vida, mas tenha o amor com que deve tratar os outros, ajudando-os, orando por eles, abençoando-os, como um trabalho, que deve ser feito todos os dias, pela fé, independente de como você se sente. Isso não é fazer a obra de Deus de qualquer jeito, mas é se esforçar para estar de pé, crente, mesmo com as lutas do mundo, com as injustiças dos homens, com as inconstâncias de nossas almas, mesmo com pecados do dia a dia (assumidos e perdoados), para ser instrumento do Espírito Santo para ser luz do Altíssimo no universo. Hobby pode ser vivido às vezes, estilo de vida é algo natural, mas trabalho é duro, e se não fizermos, ninguém fará por nós. 
      Que ninguém se escandalize ao ler que religião deve ser hobby, nisso, como sempre fazemos aqui no “Como o ar que respiro”, separamos religião de Deus. O ideal seria que nossas religiões e nossas igrejas representassem perfeitamente a vontade de Deus para os homens, no mundo e na eternidade, mas a história do cristianismo já provou que isso não acontece. Não é por isso que não devemos participar de igrejas, nem é por isso que não podemos descobrir o maravilhoso estilo de vida de Jesus, mas de um jeito ou outro todos somos chamados para trabalhar em Deus pelo próximo. Esse trabalho, mais que qualquer outra atividade, remunerada ou não, é o que leva os homens a crescerem e serem felizes, sentindo-se úteis no universo.

sexta-feira, janeiro 14, 2022

Poucas palavras

      “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.” I João 4.8-9

      Tudo que tem que ser explicado demais é porque não é para ser explicado, a verdade maior é sempre fácil de ser dita, ainda que se refira a conhecimentos profundos. Explicações verbais são manifestações da matéria, o plano espiritual não precisa delas, o Espírito Santo não se comunica com quantidade de detalhes repetitivos, mas com uma única emanação de luz do Altíssimo. Somos nós, humanos encarnados, que sentindo essa manifestação espiritual tentamos expressá-la com nossa pobre e vaidosa semântica. Deus é amor! A explicação completa do que Deus é está nessas três palavras, e a manifestação física desse amor está no Cristo homem, João diz isso de maneira econômica e espiritual. 
      Você já deve ter tido a experiência de se relacionar com algumas pessoas, de se esforçar para ser amigo delas, mas de repente, por uma bobagem, ver a relação se acabar. Alguma coisa é dita e não é entendida, ou melhor é mal entendida, e depois, por mais que você tente explicar não tem jeito, as pessoas insistem em que entenderam outra coisa, que elas estão certas e que o errado é você. Aos meus sessenta e dois anos, eu tenho um certo pressentimento sobre algumas pessoas, é como se algo me dissesse, “cuidado, não insista, por mais que você tente isso um dia vai dar ruim, e o problema não é você, nem sofra com isso”. Não que sejamos perfeitos, mas com alguns nem perfeição basta.
      A verdade é que ninguém sabe o que vai nas cabeças das pessoas, as expectativas que elas têm sobre nós e as ideias que elas fazem sobre elas mesmas, só Deus. Muitos de nós nos levamos a sério demais, nos damos valores que não temos e que nem precisamos ter, e eu me incluo nesses. Assim, muitas vezes nos pegamos tentando convencer a nós mesmos, e por isso dizendo aos outros tantas palavras, tantas justificativas, tantos motivos para sermos isso e não sermos aquilo. Temos que ser seres humanos do bem e o bem é simples, não precisa de muitas explicações, só de amor. Deus teria todas as explicações do mundo para nos dar, mas ele amou, entregou seu filho para morrer, simples assim. 
      Quando temos uma experiência verdadeira com o Espírito Santo encontramos a paz, e muitas vezes numa situação que a princípio achávamos impossível ser resolvida, isso acontece porque recebemos de Deus uma palavra. Seja lendo a Bíblia, seja ouvindo uma pregação, seja em oração, a palavra de Deus é sempre simples, uma pequena frase, mas que nos faz ver a luz no fim do túnel. Se é numa pregação, às vezes de mais de uma hora de duração, uma frase que o pregador disser ficará em nossas mentes, porque essa era a palavra que Deus tinha para nós no meio do extenso discurso do homem, e pessoas diferentes poderão ser abençoadas por palavras diferentes de uma mesma pregação. 
      Deus não joga conversa fora, quando ele fala algo acontece, cumpre um propósito, e faz isso com poucas palavras, mas nem tudo que o homem diz, ainda que usando a Bíblia e citando Deus, é palavra do Espírito Santo. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12), lindo esse versículo, comparando a palavra de Deus a uma espada afiada e precisa, que discerne intenções, verdade de mentira. Contudo, muitos cristãos não vivenciam o privilégio de poderem receber essa palavra quando precisam.
      Que nível de maturidade atingimos em nossa relação com Deus? Que grau de intimidade temos com o Senhor em nossas orações? Aprendemos a ouvir a voz do Espírito Santo? O Senhor pode nos falar pelas pregações de homens de Deus e pelo maravilhoso cânone bíblico, mas o consolador enviado por Jesus é a palavra viva de Deus conosco o tempo todo. Viver em oração, como nos orienta Paulo em Efésios 6.18, não é só louvar e pedir, é ouvir, e para isso é preciso calar todos os discursos que muitas vezes amamos dizer a nós mesmos. A semântica de Deus não é explicação ou som, é ação, é poder, é vida, e é simples e direta, como um raio puro de Sol que cai sobre nós após uma fria tempestade. 

quinta-feira, janeiro 13, 2022

A bênção vem do desconhecido

      “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão. Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro. Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome.
      Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo teu nome, pus o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses. Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
  Isaías 45.1-7

      Muitas vezes duvidamos porque não fazemos ideia de quem Deus pode usar para nos dar uma bênção. Num momento em que Israel estava aprisionado pelo povo babilônico, Deus levanta um povo estranho e mais poderoso para libertar Israel. A chamada de Ciro é peculiar, o Senhor lhe diz, “te cingirei, ainda que tu não me conheças”, “dar-te-ei os tesouros escondidos… para que saibas que eu sou o Senhor… que te chama pelo teu nome”. 
      Maravilhoso como Deus capacita o que chama para um trabalho, e não se engane, Deus chama quem e quando ele quer. “Tomo pela mão direita para abater as nações diante de sua face… irei adiante de ti e endireitarei os caminhos tortuosos”, Deus chama e prepara o caminho do chamado antes desse começar a caminhar, Deus, Senhor do tempo e dos destinos.
      O trabalho pode ser duro, mas mandado por Deus tem objetivo poderoso, semelhante à chamada de Ciro, Deus sempre nos chama para libertar os homens, de um jeito ou de outro. Às vezes, também como Ciro, homens com os quais nem temos uma ligação direta, às vezes verdadeiros desconhecidos para nós. Mas também como com Ciro, Deus nos prepara antes assim como aqueles que temos que ajudar, de maneira que destinos diferentes se cruzem e o nome do Senhor seja exaltado. 
      Quem precisa da libertação, como no caso de Israel, pode não ter ideia de que Deus pode levantar um desconhecido, mais forte que aquele que o oprime, para que seja libertado, mas Ciro era o homem certo para vencer Babilônia. Deus sempre tem o homem certo para anular as forças das Babilônias que nos oprimem, confie nisso, se não vemos isso é porque não sabemos tudo. 
      O final do texto bíblico inicial é fantástico, “eu sou o Senhor e não há outro, eu formo a luz e crio as trevas, eu faço a paz e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas”, mistérios poderosos são revelados, ainda que sob a ótica temporal de Isaías, um profeta dos tempos antigos. O diabo não cria o mal, os homens não produzem as guerras, mas mesmo o mal e as guerras podem ser instrumentos de Deus para abençoar os quem temem seu nome. 
      Nada acontece sem a permissão do Senhor e tudo está previsto em seus planos, assim como será útil, na maravilhosa máquina cósmica do universo, para que a vontade de Deus seja feita, abençoando quem precisa, disciplinando quem necessita e punindo quem merece, num equilíbrio perfeito. Não duvide, Deus está preparando um Ciro específico para você, ainda que você não o conheça. 

quarta-feira, janeiro 12, 2022

“Escudo do bem” (2/2)

      “Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém.” II Pedro 3.17-18

      O poder é perigoso e quando se diz representante do bem é duplamente perigoso. Sem Deus o ser humano é inviável para administrar poder, assim muito menos será possível a ele exercer poder para o bem de todos. Se isso não é possível, muito menos é ser representante do Deus de poder e do bem no mundo. O homem já foi mais honesto, ainda que mais bruto era menos hipócrita, e vivemos um momento especial de hipocrisia no mundo, do politicamente correto utópico e chato. Não se pode mudar o mundo sem mudar o espírito humano, e esse só Deus, o verdadeiro escudo do bem, muda.
     Pode-se argumentar, o que há de errado em usar o “escudo do bem”, esse não é defensor de causas legítimas? Sim, as causas são legítimas, mas a intenção que leva muitos a usá-las não é boa. Primeiro porque muitas empresas adotaram essas causas só para serem aceitas por aqueles que se consideram os novos sacerdotes de uma nova religião, ciência e meio acadêmico. Ciência tem muita relevância, é bênção de Deus, mas não para substituir Deus e os valores espirituais, esses são referências que não fazem parte da competência científica, que pode tratar da matéria, não do espírito. 
      O meio acadêmico, que antigamente era dominado pelo cristianismo católico e já há algum tempo é dominado pela “esquerda”, tem formado os jovens para acreditarem que podem mudar o mundo (sem Deus). Assim os que se iniciam nas empresas já vêm com a “cabeça feita” assim, só o tempo para lhes ensinar que o mundo não funciona dessa maneira, mas até isso acontecer teremos um momento no mundo onde a nova religião ganha adeptos. Os publicitários só fazem se aproveitar desse momento, para vender a equivocados é preciso dar importância a equívocos, depois aliar produtos a esses.
      A internet e as redes sociais têm papel importantíssimo no estabelecimento do poder e na divulgação do “escudo do bem”, redes sociais são supranacionais, não pertencem a nenhuma nação, ainda que seus donos pertençam, coletam dados e distribuem informações para todo o globo. Mas a internet não é isenta, direciona as pessoas para aquilo que convém aos donos das páginas e sites, nos convence sobre necessidades que pouco antes nem sabíamos que existiam. Mas ela é meio para todos, ciência, ensino, empresas, publicidade, seja de esquerda, seja de direita, seja do centro. 
      Em segundo lugar, causas são boas e intenções não são, porque a relevância de muitas causas acha lugar nas pessoas de fora para dentro, de homens para o homem, e não de dentro para fora, do espírito humano para o Espírito de Deus. Muitos não sabem e muitos que sabem não assumem, mas o “escudo do bem” tem sido uma obrigação para empresas existirem e lucrarem, assim como para pessoas terem empregos e mantê-los, ainda que muitas não concordem com os “escudos”. A curto prazo isso é positivo? Sim, e necessário. A médio prazo isso terá eficiência? Sim, para surpreza de muitos. 
      Mas a longo prazo, como sempre no mundo, novos modismos surgirão e mesmo liberdade e respeito, se não forem virtudes espirituais no interior do homem, cederão lugares a outras coisas. O “diabo” cansou de ser mal, os seres humanos não acreditam mais, não a maioria, no pan (se puder leia matéria no link) católico medieval, um ser vermelho, de chifres, rabo e cascos. Por outro lado muitos homens não querem o verdadeiro Deus, mas colocam em seu lugar algo mais light, que lhes dê liberdade, respeito, serenidade, que os ajude a ter uma vida mais duradoura e de qualidade e a conservar o planeta.
      Não sejamos enganados pelos “escudos do bem” que publicitários e empresários têm usado para vender seus produtos. Por mais benignas que sejam as intenções, não se sustentarão sem o verdadeiro Deus. O “diabo”, como construção humana, e não o ser espiritual genuíno, tem sido modificado pelos séculos, assim fica um alerta. Que cristãos, arrogantemente achando-se com mais discernimento espiritual que os outros, não façam guerra contra um “diabo” que não existe mais, se é que algum dia existiu, enquanto são manipulados por um “diabo” mais inteligente, da internet e dentro de suas igrejas.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

terça-feira, janeiro 11, 2022

“Escudo do bem” (1/2)

      “Senhor julgará os povos; julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, e conforme a integridade que há em mim. Tenha já fim a malícia dos ímpios; mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas os corações e os rins. O meu escudo é de Deus, que salva os retos de coração.Salmos 7.8-10

      O poder é perigoso e quando se diz representante do bem é duplamente perigoso. O homem ter poder no mundo é ter controle sobre outros homens, levá-los a fazer algo, antigamente isso era feito de forma beligerante, com guerras que conquistavam e faziam os perdedores escravos. Atualmente o ser humano, fantasiado de civilizado, usa meios menos violentos, mas que no final têm o mesmo objetivo, permitir que alguns tirem proveito de muitos. O capitalismo é a guerra hoje usada para conquistar, para que ele estabeleça poder precisa convencer as pessoas a comprarem coisas e ideias.
      Poder hoje está relacionado à manipulação das massas para consumirem, a humanidade, contudo, está numa fase dois do capitalismo. Aos produtos não bastam mais resolverem problemas imediatos, saciar fome e sede, vestir pessoas, ajudar em serviços domésticos e profissionais, levar pessoas a lugares, eles precisam ser sustentáveis, não prejudicar meio ambiente e saúde das pessoas assim como não restringir direitos. Tudo deve estar disponível para todos, sem preconceitos, por isso tem sido aliado à programação de TV, assim como à venda de serviços e produtos, causas sociais e humanitárias. 
      Usar causas do bem como argumento de convencimento de venda é o que chamaremos aqui de “escudo do bem”, entenda que há certa ironia nisso. A informação é uma arma importante do poder do capitalismo no mundo atual, usada para veicular esse escudo. A ciência legitimiza a informação, o meio educacional a ensina, as empresas a usam e a publicidade convence a sociedade que ela é boa, o poder é estabelecido por esses quatro braços. Os políticos servem a esse poder, a internet, a alma virtual do mundo real, transmite essa informação. Não há bem para todos nesse poder, só lucros para alguns, não há verdade, só conveniências. 
      Tanto os de esquerda quanto os de direita usam “escudos do bem”. Os que se dizem de esquerda, que têm maior apoio de professores, jornalistas e publicitários, constróem o tal “escudo do bem” dizendo-se representantes da ecologia, das diversidades e das minorias. Os que se dizem de direita têm tal escudo construído com os valores da tradição judaica-cristã, mas tudo é só o mal usando meios para seduzir e se aproveitar das pessoas, vendendo e obtendo lucros. Essa reflexão pode parecer uma visão pessimista e incrédula da realidade atual, mas não é, assim como não é só a deste que vos escreve.
      Aquilo que na “era anterior” era papel do cristianismo, principalmente do católico, agora, na chamada nova era, é papel da mídia e da publicidade, parece que o cristianismo não fez direito sua tarefa e outros usurparam seu lugar. Podemos argumentar que quando era papel da religião o objetivo era espiritual, e que agora, sendo de empresários e políticos, o objetivo é material, mas não é bem assim. Poder neste mundo sempre tem objetivos materiais. Ocorre que antes só a religião se sentia no direito de lutar por certas causas, agora outros se acham nesse direito. (Se tornaram as novas religiões?)
      A verdade é que o poder e o bem pertencem a Deus, qualquer um, religião ou outro, que se disser dono dele é usurpador, e ainda que acredite sinceramente que possa desempenhar poder e bem com justiça, se não for mau, será louco. Tivemos os dois tipos nos últimos anos na função política principal do nosso país, primeiro um pilantra e depois um insano. Pilantra porque roubou, louco porque acredita ser representante de Deus, não que alguém não possa ser as duas coisas, mas o pilantra tenta enganar os outros e sabe disso, enquanto que o louco tenta enganar os outros e a si mesmo.
      Tempos difíceis vivemos, os corações escondem a mentira lá no fundo, ainda que com fotos felizes na internet, com palavras de ordem em manifestações, engajados em lutas sociais, munidos da modernidade. Querem liberdade, mas para libertinagens, defendem as religiões, mas não amam a Deus, querem direito de serem o que querem ser, mas são todos iguais e não percebem. Nunca o bem esteve tão confuso, fantasiado de modismos, por isso nunca foi tão importante buscarmos com todo o coração o Deus verdadeiro, o único que nos livra de toda confusão dos falsos “escudos do bem”.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.