sábado, outubro 31, 2020

31. Espiritualidade é mudança

Espiritualidade Cristã (parte 31/64)

      “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste: que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste.Salmos 8.3-5

      “Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.Salmos 22.9-10

      “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.Salmos 23.6

      Em algum momento de nossas vidas podemos dizer que somos de fato espirituais? Sim, não tão altos como Deus, mas no máxima que podemos atingir no plano físico. Essa espiritualidade é individual, e nem sempre será aquela que gostaríamos de ter ou que achamos que temos, e isso pode ser para menos ou para mais. Sonhos, erros, desilusões, dores, mas também paixões e amores, em trajetórias solitárias, coletivas, no mundo, nas igrejas, convertendo-se, desviando-se, voltando ao cristianismo, e às vezes ainda continuando desviados, enfim, a verdade pessoal de cada um sempre vence no final da vida, se mostra sem pudor e não se esconde mais. Ou é isso ou é o suicídio, que muitas vezes nem precisa dar cabo do corpo físico para existir, e como existem zumbis neste mundo. 
      No final da vida muitos se acharão no topo da espiritualidade, mas só fizeram manter o que eram no início, nunca de fato cresceram, ainda que se achem melhores que outros por verem em suas vidas uma curva sempre reta. Esses representam muitos religiosos, principalmente no cristianismo, gente com status social em suas comunidades, que nunca perderam uma batalha porque nunca entraram em uma. Venceram a guerra? Não, sequer dela participaram, foram só espectadores. Quem nada faz e só olha sempre tem mais tempo para criticar as vidas alheias, principalmente daqueles que se expõem e perdem muitas batalhas para ganharem a guerra final. Os medrosos especializam-se em chamar coragem de irresponsabilidade, e mesmo busca de felicidade verdadeira de fraqueza e vaidade. 
      É preciso coragem para perder, os orgulhosos, contudo, que não querem expor suas humanidades, acovardam-se, por nada lutam para nada perderem, mas assim também nada ganham, esses estão bem retratados na parábola dos talentos (Mateus 25.14-30). Muitos não entendem que o que mais identifica o ser humano são suas fragilidades, são elas que farão as escolham, já que quem está forte e satisfeito não precisa fazer nada, mas o sedento e faminto sai à procura de água e comida e enquanto não acha não descansa. Quem nega ou quer esconder seus limites nega a si mesmo como aquele que pode alimentar, não só o corpo, mas o espírito, o Santo Espírito de Deus, esse nunca se posicionará na espiritualidade do Altíssimo, esse não quer mudar, no fundo já se acha espiritual o suficiente. 
      Uma vez, ainda em minha juventude como cristão assíduo e trabalhador no ministério de uma igreja batista, ouvi alguém dizer, “as pessoas não mudam”, aquela afirmação vinha de alguém mais novo que eu, mas apesar de eu discordar, e discordo até hoje, e mesmo que eu não tenha entendido de forma consciente tudo que isso diz, me pareceu algo maduro, vindo de uma alma velha, que já tinha vivido muito e sabia das coisas dos homens mais do que eu. Até hoje eu insisto que as pessoas podem mudar, sim, e para melhor, e não devem desistir disso enquanto estiverem neste mundo, é essa persistência que nos dará direito à melhor eternidade de Deus. É o próprio Espírito Santo que nos empurra nisso, o tempo todo, isso é o que de fato significa estar vivo, querer evoluir, não se acomodar. 
      Vejo algo em minha vida hoje, vejo coisas, coisas que nunca mudaram, coisas que nem sempre me eram conscientes, mas que sempre estiveram dentro de mim. Entendo que o meu melhor já me habitava antes, quando eu era criança, adolescente, lutando dentro de mim, é esse melhor, que existe em todos nós, que Deus busca trazer à tona confrontando-nos com os homens, com o mundo e com o tempo. Nossa história tem o formato de uma onda senoidal que se inicia no alto, inclina-se até atingir seu ponto mais baixo e depois torna a subir até o ponto mais alto. Início e fim parecem iguais, mas não são, o que os diferencia? É a consciência. No início não temos consciência, assim o que muda não são nossos valores morais e entendimento espiritual, mas só a consciência do que de fato somos no espírito.
      O momento em nossas vidas em que mais perto estamos de Deus não é em nossa morte, ou próximos a ela, mas logo após nosso nascimento, nesse tempo estamos o mais perto da melhor eternidade de Deus, acabamos de nascer e em nós ainda habita inocência espiritual. A vida nos permite escolhas, e mesmo que sejam em áreas diferentes, profissional, afetiva, ministerial, todas colocam à prova uma escolha maior: estarmos ou não em Deus. Eu não disse sermos ou não religiosos, nem mesmo sermos ou não cristãos, mas estarmos ou não em Deus, em Deus só se pode estar através de Jesus. Viver é ter a chance de conhecer e permanecer em Cristo, e quem está no filho, está no pai, isso é ser espiritual e nisso está nosso melhor como seres humanos. Estar é Cristo é se arrepender do erro. 
      Arrepender-se não é mudar, mas aquele que de fato se arrepende quer mudança, ele sente profundamente a dor que é efeito de seu erro e resolve que não quer errar mais, para não ferir as pessoas, para não machucar a si mesmo, para não desagradar a Deus. Já o que se arrepende só superficialmente, se arrependerá algumas vezes e tornará a errar, o mesmo erro, então não se arrependerá mais, e para seguir com alguma integridade, ainda que enganosa, achará bons motivos para errar, assim como dará outros nomes para seus erros, que não pecados. Esses expuseram suas essências espirituais ao mundo, aos homens e ao tempo, e não tiveram coragem de amar mais ao Deus espiritual, preferiram adorar os seres espirituais rebeldes que estão por trás de todo ídolo, vaidade e ateísmo. 
      Quer uma definição (mais uma) para espiritualidade? Constante desejo de mudar para melhor. O espiritual não se contenta com um degrau, não dorme nele para desfrutar uma vitória, mas tem consciência que o topo é Deus, e que é preciso subir muito para alcançá-lo. Mas será que não é isso que dá graça à existência, o entendimento que sempre há algo novo para aprender e melhorar? Tenhamos cuidado, pois foi o desejo de alcançar o lugar mais alto depressa demais que foi usado pelo diabo para tentar o homem, quando lhe falou sobre o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no Éden. Não podemos ser Deus, mas podemos estar nele, por Jesus e através do Espírito Santo, esse é o caminho para uma transformação genuína que nos conduz à verdadeira espiritualidade.

      “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2.10-11  

      “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Coríntios 5.17

      As pessoas não mudam? Suas essências espirituais não, essas apenas têm a oportunidade de serem reveladas. No final de nossas vidas abrimos mão de concessões e máscaras e nos mostramos, pudera, não existem mais forças físicas em nós para mantermos personagens, a verdade é colocada na mesa, agrade a quem agradar. Quem sou eu de fato? O que resistirá em mim no final? Talvez Deus não cobre de ninguém altura espiritual, não aquela que coloca um mais alto ou mais baixo que outro, Deus não nos julga pelos outros, mas por nós mesmos, o quanto olhamos para ele para sermos nossos melhores. Deus julga pela coerência? Sim, mas não pela coerência que temos com religiões ou com os homens, mas com nós mesmos, com nossa cota de fé, nossa dose de iluminação.
       Nascemos com nossas virtudes espirituais, e ninguém pode tirá-las de nós, só nós mesmos, nós fazemos isso quando trocamos as virtudes por vaidades e prazeres com os mercadores de ilusões. Quem são esses mercadores? Os homens maus e os espíritos rebeldes, esses querem impedir que nasçamos espiritualmente, esse nascimento ocorre quando adquirimos consciência de nossas essências, que são divinas, que são da luz, que são do bem, que são do Deus altíssimo. Há muitos meios de se adquirir consciência espiritual, cristão, não se engane com relação a isso, mas em Jesus existe o meio mais direto e eficiente, queridos e sinceros amigos (e irmãos) de outras religiões, não se enganem em relação a isso. Por isso o novo nascimento é tão enfatizado no evangelho, não a reencarnação.
      Do que adianta reencarnar e reencarnar (se é que isso é possível) e não conhecer a Jesus como único salvador? É só prolongar a morte, é só eternizar o inferno, é só adorar os espíritos rebeldes, ainda que fazendo boas obras, levando justiça ao mundo e conservação ao planeta, mas não é ser um com o pai, o Deus altíssimo. Nele há céu, há eternidade de espiritualidade mais alta, há o objetivo mais elevado de todo ser criado à imagem de Deus, entender isso é adquirir a consciência mais iluminada, é achar o real sentido de nossas temporárias passagens por este mundo. Quem entende isso, no final de sua vida, atingiu a espiritualidade mais alta, entendeu o motivo de estar neste mundo. Infelizmente, muitos, andam e andam por esta terra e não libertam seus espíritos, porque não querem pagar os preços.
      É patético ver pessoas que tiveram as melhores oportunidades de adquirir consciência envelhecerem arrogantes, ainda que se achando cheias de conhecimentos, ainda que se vendo como quem enfim está pensando “fora da caixinha”, quando na verdade só buscaram motivos para se afastarem de Deus. Quem se afasta de Deus se afasta de si mesmo e dos outros, pelo menos dos homens realmente de bem, mas quem se afasta de Deus se aproxima da mentira. O que é a mentira? É tudo que nega, de alguma maneira, Deus. Pode ser explicitamente o diabo, pode ser o ateísmo materialista, podem ser objetivos morais e sociais altos, podem ser bandeiras ideológicas, e também pode ser acreditar em algum sectarismo cristão, a mentira também está dentro do que é denominado cristianismo. 
      Mas por que algumas pessoas parece que de fato não mudam? Porque usaram do direito ao livre arbítrio e preferiram não adquirir consciência, isso só é possível quando se amordaça o Espírito Santo, e meus caros e minhas caras, é preciso ser muito forte para isso. Quem pode lutar com Deus e vencer? Só o homem duro de coração. Por isso o céu é para os fracos, fracos não por cederem ao pecado, mas por se humilharem diante do Deus altíssimo, e isso nem é uma fraqueza, mas uma virtude, a lucidez de quem abre os olhos e enxerga as coisas espirituais como realmente são. Contudo, todos nós, todos, temos a arrogância equivocada de em algum momento de nossas vidas tentarmos lutar com Deus e prevalecer, e é o próprio Deus quem permite um confronto assim.
      Você já lutou com Deus? Isso a princípio não é algo ruim, é apenas o confronto honesto de nossas verdades com a verdade maior do Altíssimo, é preciso assumir algumas coisas para se colocar nesse confronto, ter certas convicções, se conhecer ao menos um pouco. Mas só isso já é ter alguma consciência que só será espiritualmente e plenamente adquirida se Deus vencer o confronto. Repito, só na verdade maior de Deus é que enxergamos nossas verdades, assim, infelizmente, quem “vence” Deus sai derrotado, enganado pela ideia de que sua maneira de ver e administrar a vida é melhor que a maneira de Deus. Mas algo pior pode acontecer, o derrotado pode crer na heresia de achar que sua maneira é a de Deus, quem luta com Deus e “vence” se torna um pequeno “Lúcifer”, um falso deus. 
      Por isso não julguemos mal a ninguém, e mesmo um bom julgamento deve ser feito com sabedoria, não sabemos em que ponto da curva alguém está, e obras muitas vezes podem não revelar espiritualidade, nem as boas e nem mesmo as outras. Aqui no plano físico somos todos escravos do tempo, assim tenhamos paciência com os outros, como Deus tem conosco, talvez alguém que nos parece enganado e duro na queda esteja só no último round de sua batalha para entender sua verdade pessoal, talvez falte pouco para que consciência espiritual seja adquirida, para que olhos e ouvidos sejam abertos, e a pessoa entenda o que é em Deus. Talvez as pessoas nunca mudem, e nem precisem mudar, mas só entender que são especiais, desde os seus nascimentos, e que só em Deus suas singularidades serão libertadas. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

sexta-feira, outubro 30, 2020

30. Espiritualidade para os olhos de Deus

Espiritualidade Cristã (parte 30/64)

      “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.I Samuel 16.7

      Somos seres que querem ser vistos, e se já era assim antes, muito mais agora que podemos compartilhar fotos e vídeos no Instagram, Whatsapp e outros espaços da internet, todos querem ser famosos, celebridades, ao menos nas fotos carregadas de filtros. Chegamos ao ridículo de que registrar uma festa é mais importante que a própria festa, assim quando vamos a uma ao invés de vermos gente usufruindo do momento estão todos tirando selfies e acompanhando as vidas alheias nas redes. Nunca parecer foi tão mais importante que ser, nunca aparência externa valeu mais que as virtudes interiores do coração, o diabo está conquistando o mundo, mas não matando cristãos e bem antes de mandar não cristãos para o inferno. O mal tem encarcerando todos numa vida artificial, a vida falsa da internet, isso pode ser o engodo mais eficiente do diabo para desviar o ser humano da espiritualidade. 
      Quando Deus mandou o profeta Samuel escolher um rei para Israel ele foi até Jesse que lhe apresentou sete filhos, ele deve ter feito isso de acordo com um critério dele de qual seria o filho melhor, assim começou por Eliabe. Foi para esse que Deus deu a Samuel a resposta do versículo inicial, mas ela servia para todos os sete filhos que Jesse apresentou, quando achou que esses eram seus melhores filhos. Davi nem estava nessa lista inicial, para Jesse talvez não fosse grande coisa, mas ele também estava ocupado, enquanto que ao que parece os outros sete irmãos não estavam. Mas ainda que seu pai não lhe desse valor, ainda que ele não estivesse no lugar certo fazendo a coisa certa (e com coisa errada me refiro a estar indisponível para a escolha, não por estar fazendo algo errado), ainda que não tivesse as características que podiam elenca-lo como um rei, ele foi escolhido. 
      Por quê? Porque “o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. Quando Deus tem algo pra nós, o homem pode gritar, fazer-se prevalecer, estar presente no lugar certo e melhor apresentado para algo, pode mesmo nos criticar, diminuir-nos, dizendo mentiras sobre nós, mas também revelando a muitos nossos erros, nosso passado, tentando roubar de nós nossa honra. Mas tudo isso não importa, Deus olha o coração, conhece o sincero do bem, o que não busca honra própria mas a dele, o que de fato está pronto para obedecer, seja qual for a dificuldade, o que já abriu mão de tudo pela verdade. Não tema o homem, os belos e poderosos Sauls, Deus usa os Davis, que podem ter muitos defeitos e limites, mas possuem um coração que agrada a Deus, e se os homens  não veem isso, Deus vê, confie em Deus. 
      Toda a lição da escolha de Davi que está em I Samuel 16 sem resume numa coisa, confiarmos no que Deus sabe sobre nós, não no que os homens sabem e veem. Isso é algo que exige de nós intimidade com Deus e fé, caso contrário desenvolveremos mágoas achando que Deus não liga para nós, não vê nosso esforço e nossa intenção, e que o homem, por sua vez, aparece mais que a gente, é mais visto. Pensamos assim quando damos valor a coisas que podem ser só aparências, e aparências que outros homens valorizam, assim a mágoa nasce quando damos valor para os olhos físicos dos homens, e não para os espirituais de Deus. Deus vê tudo, e mais, vê o que de fato interessa, ele não se deixa enganar com os teatros, com as exibições pirotécnicas, que nos dias atuais podem ser mostrados para todos os olhos e em tempo real nas redes sociais, vivemos um momento em que é fácil ser visto.
      “E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam, mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração“ (Lucas 2.18-19), Maria era discreta porque sabia que a vida de seu filho deveria ser discreta, o mais importante ele faria em sua morte, e isso era algo que teria um preço alto. Quem confia nos olhos do Senhor sabe que a vida não é fácil e deve ser levada com sabedoria, nunca confiando nos homens. O próprio Jesus pediu mais de uma vez a seus discípulos discrição sobre seu ministério, para que as coisas não acontecessem antes do tempo certo, e no seu caso, sua morte, “e, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos“ (Marcos 9.9), Jesus não confiava nos olhos humanos, “mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia“ (João 2.24).
      Quem nós queremos que veja nossa vida, nosso trabalho, nosso melhor, nossas virtudes? Os homens ou Deus? Queremos plateia, aplausos, holofotes, fama, tudo para aplacar alguma carência não resolvida? Ou queremos fazer a vontade de Deus? Só quem faz a vontade de Deus é feliz e abençoa os outros, quem quer os olhos dos homens sobre si poderá até fazer boas obras, ajudar os outros, escrever livros de auto ajuda, até ser famoso, mas só beneficiará a si mesmo, não os outros. Benefícios egoístas são sacos sem fundo, por mais que sejam cheios nunca será o suficiente, parecerão sempre vazios, confiemos nos olhos de Deus, que registra tudo que fazemos, para ele nada fica perdido ou esquecido, e no tempo certo nos recompensa. Para quem confia nos olhos de Deus fazer o bem é um fim em si mesmo, se é feliz pelo simples fato de se fazer, indiferente de reconhecimento ou fama. 
      Interessante que o mesmo homem que confiava nos olhos de Deus acabou cometendo seu pior pecado quando usou mal os próprios olhos (II Samuel 11). A história de Davi também nos ensina que onde se encontra nossa maior força está também nossa maior fraqueza, a ferramenta é uma só e é eficiente tanto para construir quanto para destruir. Sensibilidade espiritual natural pode ser um talento que alguns nascem com ela, se tiverem temor a Deus serão cristãos ungidos e cheios de dons espirituais, mas se não tiverem poderão procurar em outras religiões respostas para seus questionamentos espirituais, se tornando médiuns ou magos. Espiritualidade é algo sério, uma grande benção, mas também algo perigoso, produz um desejo profundo de seu ter comunhão com o mundo espiritual, mas nele não existem só Deus e anjos, seres espirituais rebeldes estão por lá, atentos aos curiosos descuidados. 
      Quem estuda o mal é estudado pelo mal, mas quem olha para Deus é protegido pelos olhos do altíssimo, seja como for não se sai ileso de uma experiência profundamente espiritual, conhecemos e somos conhecidos, e se for na luz do Senhor, crescemos e recebemos a verdadeira iluminação. “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido“ (I Coríntios 13.9-12), Paulo, sempre Paulo, nos fala por mistérios em muitos de seus textos, que tem olhos espirituais pode entender verdades profundas neles.
      Solidão, algo intrínseco em todo ser humano, por isso ele quer ser visto, isso lhe dá atenção, a sensação que está acompanhado, mas só uma vida realmente espiritual pode satisfazer essa solidão, porque a principal solidão que temos não é a que precisa da companhia de uma companheira, de um companheiro, de um amigo, de um pai, de um irmão, mas de Deus, é uma solidão espiritual, não só emocional ou social, necessidades espirituais se resolvem com soluções espirituais e com nada mais. Os olhos de Deus fazem de todos nós reis, como Davi? Mais que isso, como Jesus, um rei que veio para servir e não ser servido, e aí está o mistério, quem a todos serve acaba sendo servido pelo maior de todos, o próprio Deus. Assim, liberte-se dos outros homens, e também de todos os outros seres espirituais, olhe diretamente para o Deus Altíssimo e confie nele, ele nos basta e nunca nos desaponta. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

quinta-feira, outubro 29, 2020

29. Humildade: condição para libertação

Espiritualidade Cristã (parte 29/64)

      “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.Filipenses 2.5-11

      Humildade, realmente espiritual, não outra, que não pode ser substituída por nenhuma virtude, eis a chave para que tenhamos de fato libertação e paz, reflitamos nessa afirmação de seu fim para seu início. Libertação, todos nós precisamos de libertação de algum tipo de prisão, que nos tortura e não faz buscar algum tipo de vício para amenizar nossa dor. O que nos aprisiona? O mal que fizemos e que nos traz culpa, o mal que nos fizeram e que nos traz mágoa, o mal que imaginamos que poderá nos afligir e que nos traz ansiedade, o mal que pensamos que poderão nos fazer e que nos traz medo. Culpa, mágoa, ansiedade e medo, tudo isso nos deixa inseguros, inseguros ficamos fracos e somos aprisionados, aprisionados perdemos a liberdade de seguir em frente, construir, crescer e ter paz, à medida que buscamos prazeres falsos que nos satisfaçam, e que acabam se tornando vícios. 
      Nos transformamos em medos ambulantes, quem tem medo não ama e vê inimigos em todos, para anular isso até podemos tentar ser melhores pois nos sentimos mal, em dívida, assim procuramos largar os vícios da carne, sermos bons cidadãos, ajudar aqueles que estão em situação pior que a nossa. Podemos nos tornar caridosos assíduos em serviços sociais e religiosos, religiosos assíduos em cultos e trabalhos, crentes assíduos em jejuns e consagrações, mas ainda assim podemos não achar libertação e nem paz. Por quê? Porque podemos estar só tentando fugir do principal, substituir humildade espiritual por outras virtudes, e não é qualquer humildade, já que diante de homens podemos até parecer humildes, mas se somos ou não espiritualmente humildes só Deus sabe. Deus só nos liberta quando de fato somos humildes, e humildes não só na aparência, mas espiritualmente. 
      O que é humildade espiritual? É dobrar os joelhos para o nome de Jesus, como diz o texto inicial, e o mais maravilhoso é que aquele para o qual todos devem se dobrar ganhou essa posição porque deu o exemplo e se humilhou, assim recebe honra quem honra dá, recebe respeito, quem respeito dá. Quem tenta substituir humildade por outras virtudes o faz por vaidade, porque na verdade o que quer é receber aprovação de homens, e até de Deus ainda que do jeito errado, tentar receber algo que não se deu é impossível. Contudo, quem se humilha diante de Deus será honrado simplesmente porque não tem mais necessidade de honra, dessa forma mesmo na solidão e na clandestinidade se sentirá honrado e satisfeito. Para saciar a alma não basta tentar achar um alimento adequado, isso é impossível, primeiro porque a fome principal é espiritual, a solução é anular a fome.
      Só Jesus pode curar nossa necessidade de justiça própria que ainda que nos leve a ser bons religiosos nunca nos fará provar a verdadeira espiritualidade, só em Cristo somos humildes porque aceitá-lo como salvador implica em nos assumirmos como pecadores, sem direitos, que aceitam segui-lo sem exigências. O espiritualmente humilde em Cristo não se importa em ganhar porque já ganhou tudo, nem em perder porque sabe que nada tem valor, a não ser comunhão com o Altíssimo através de Jesus e pelo Espírito Santo. Essa é a cura para a fome principal de nossos seres. Somente humildes somos de fato espirituais em Deus, de outra forma poderemos até ter experiências espiritualistas e bem profundas, mas não com Deus e nem para a glória dele. Sigamos o exemplo de Cristo que se humilhou e recebeu de Deus a única honra que importa, que levaremos à eternidade e que nos fará de fato espirituais. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

quarta-feira, outubro 28, 2020

28. Humildade: único jeito de crescer

Espiritualidade Cristã (parte 28/64)

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céusMateus 5.3

      Sábio é querermos melhorar, não nos acomodarmos, mudarmos por dentro e não confiarmos na aparência, aparência pode ser enganadora. Aproveitemos bem nosso tempo neste plano físico, a vida encarnada é uma existência muito especial, uma oportunidade de mostrarmos nossa melhor essência e de construir a porta para a eternidade. Na verdade quem muda é humilde, não importando em que nível começou, os que tratam os pecadores com arrogância, que não lhes dão a chance de serem melhores, que os julgam pelo passado, além de descrerem do poder do perdão que há em Jesus, nunca experimentaram mudança em suas vidas, ainda que nunca tenham escandalizado ninguém. Esses não provam espiritualidade, mas só a carne, mesmo que ostentem aparências de virtudes. 
      Muitos, talvez, só tivessem que fazer uma escolha em suas vidas e não fizeram, escolherem ser humildes, eles nasceram com melhores possibilidades, com mais atenção, pelo menos mais que outros que tanto mal colheram e plantaram, mas ainda assim continuaram orgulhosos. Por medo de perder o que tinham não investiram em nada, foram tímidos, foram covardes, e timidez é só um outro nome para arrogância, não é virtude. A eternidade, contudo, revelará o nível de espiritualidade real que cada um de nós alcançou, não no início de nossas vidas, muitas vezes nem na maior parte delas, mas no final. Temos até o último instante aqui neste plano para mudarmos, os orgulhosos, contudo, poderão passar seus dias finais em UTIs, só para entenderem isso, só para escolherem ser espirituais. 
      A vida passa muito depressa, não deixemos para depois o que é mais importante. O mais importante para cada um de nós, que é algo pessoal e específico, sempre nos conduz à humildade, pois nos leva a pagar preços, a perder para ganhar, quem de fato foi atrás de sua verdade, de ser feliz teve que mudar, e quem mudou para melhor é humilde. Os que não querem pagar preços, que não querem perder, que são escravos dos outros, que se sentem obrigados a mostrar para os outros coerência e justiça dos outros, nunca serão quebrados para que precisem se reconstruir, assim nunca mudarão e não se sentirão na obrigação de serem humildes. Dentro de um coração arrogante tem um escravo, que por ser escravo agrada a muita gente, pode até ser honrado por muitos, mas é um escravo infeliz. 
      Uma pergunta precisamos fazer a nós mesmos: que tipo de pessoa eu sou? Eu sei, sou do tipo que errou muito, muitos ainda me julgam pelo meu passado. Mas como devo reagir a isso, levantar minha voz e dizer que Jesus me perdoou e ninguém tem o direito de me acusar? Não, devo ser humilde, e isso não é fácil, mas preciso confiar que quem me salvou e me perdoou também pode me defender, ele não precisa de meus argumentos. Esteja certo de uma coisa, causa deixada nas mãos de Deus com fé e em humildade Deus toma, e faz o melhor, ninguém duvide ou zombe disso. Terrível é cair nas mãos do Deus altíssimo, os acusadores dos lavados pelo sangue do cordeiro caem nesse juízo, sejam demônios ou homens.
      O texto inicial diz algo muito importante sobre humildade, os cidadãos do céu, um reino que começa na terra, nos corações dos homens, são humildes. A versão NVI desse texto, contudo, diz “bem-aventurados os pobres em espírito”, assim pode não ser tão fácil entender o que o escritor quis dizer com pobres nesse contexto, mas nesse caso pobre não é ter menos virtude espiritual, mas é ter mais à medida que não se dá importância a valores materiais. Todavia, o fato de termos menos condições econômicas não faz de nós, necessariamente, pessoas humildes, o que faz é nossa atitude de não confiar nessas condições para nos posicionarmos como melhores. O que nos faz melhores são as virtudes espirituais que aperfeiçoam nossa moralidade, quem tem essas virtudes não se coloca como superior aos outros. 
      O pobre de ou em espírito é humilde, abre mão de tudo aquilo que pode lhe dar aprovação humana ou status social através de valores de aparência externa, ele não se importa com essas medidas e pode achar felicidade e paz diretamente em Deus. Esse pobre não precisa provar nada a ninguém, se defender e muito menos acusar, a ele basta saber o que Deus pensa dele, fez e faz por ele. Em Deus ele sabe que não é pobre, que está perdoado, é cidadão do reino dos céus e é riquíssimo, isso é suficiente para que ele caminhe firme e de pé, sem orgulho, mas também sem medo, protegido contra as setas dos acusadores, protegido contra seu próprio passado ruim. Bom é ser humilde, ainda que por obrigação, mas todos os que provam a Deus de verdade se sentem obrigados, não por força, mas pelo Espírito, a serem humildes.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

terça-feira, outubro 27, 2020

27. Humildade: opção ou obrigação?

Espiritualidade Cristã (parte 27/64)

      Humildade talvez seja o efeito mais profundo da verdadeira espiritualidade, já que algumas virtudes podem ser aparentes e sentidas pelas pessoas, como um testemunho de santidade, atitudes e palavras realmente de amor, assim como uma disposição de constante tranquilidade e domínio próprio que transmite uma paz real. Contudo, humildade é algo muito mais sútil, a verdadeira se instala em nosso âmago, só Deus sabe de fato se somos ou não humildes, por outro lado, mesmo a ausência aparente de algumas virtudes, pode não indicar a ausência de um espírito  humilde. Já pensamos sobre humildade neste estudo, mas pela importância do assunto, vamos refletir um pouco mais nessa e nas duas próximas partes. 

       “Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe.Salmos 138.6

      Humildade, talvez seja a virtude mais difícil de se ter, e a mais delicada, facilmente se perde. Quem a tem? Só Deus conhece de fato os realmente humildes, já que nós, homens, podemos nos enganar sobre ela, a vermos em quem não a tem, muitos são dissimulados profissionais em emular virtudes, e não a enxergarmos em que a tem lá no fundo do coração, mesmo que seja um coração encapado por um jeito grosseiro de ser, no trato e nas palavras. A verdade é que nós, principalmente os cristãos com séculos de tradição católica hipócrita, criamos arquétipos de humildade, e parece que quando alguém foge desse arquétipo achamos que não é humilde. As pessoas, contudo, podem ser humildes por motivos diferentes.
      Alguns são humildes por opção, podem escolher isso. Esses são bons cidadãos, bons profissionais, bons cristãos, conseguem errar menos, fazem as melhores escolhas antes, têm bons empregos, bons casamentos, bons amigos e são considerados como membros fiéis em suas igrejas. “Mas como, esses parecem tão corretos e ainda assim podem escolher não serem humildes?” Exato, e justamente por serem tudo o que foi descrito, eles, lá em seus íntimos, em seus corações, de um jeito que só Deus sabe, podem não ser de fato humildes. Muitos pensam assim: “sempre fiz tudo certo, sou honrado por isso diante de meus semelhantes, não preciso me rebaixar para certas coisas, para certas pessoas, tenho direito ao meu orgulho”.
      Ouros, contudo, têm a obrigação de serem humildes, eles não têm outra saída para seguirem vivos. Esses fizeram tudo errado, pelo mal que lhes fizeram e pelo mal que eles quiseram fazer a si mesmos, fizeram alianças equivocadas e foram infiéis com elas, traíram e como efeito foram traídos. Dessa forma, para poderem ter ainda nesta vida um pouco de paz, uma segunda chance, ainda que tardia, alguma liberdade, ainda que na solidão, precisam tratar muitos com humildade, sem exigências, sem cobrar que ninguém os perdoe, mas firmados apenas no perdão de Deus e de si próprios. Esses entenderam que não podem confiar em si mesmos, e muito menos naqueles que sempre os verão como eram, não como são agora. 
      Existe um terceiro e um quarto tipo de pessoa. Um deles é aquele que mesmo tendo sido melhor e há mais tempo, é humilde, esse é o tipo mais raro de ser humano, o que sempre teve, mas ainda assim vive como se nunca tivesse tido, o que abre mão de valores pessoais, de aprovações humanas, para confiar em Deus e tratar com misericórdia a todos os homens, mesmos os mais pecadores, ainda que não precise de ninguém. O quarto tipo é o tipo mais triste, ainda que tenha errado, não aprendeu com os erros, e segue, errando mais e arrogante. Contudo, uma pergunta cabe aqui, sobre os dois primeiros tipos: quem é mais feliz? O que pouco errou, mas envelheceu arrogante, ou o que muito errou e aproximou-se da morte humilde?
      Para responder essa pergunta é preciso responder outra: para que serve essa vida, para que estamos neste mundo? Para sermos importantes materialmente, diante dos homens, ou para adquirirmos espiritualidade que agrade a Deus? Se for para nascer de um jeito, passar por juventude e maturidade e continuar igual, talvez nem importe se fomos sempre ruins ou bons aos olhos dos homens. É preciso evoluir, mudar, e todos, todos nós temos o que mudar, ninguém nasce pronto, ainda que num nível “espiritual” (moral) mais alto que outros. No que mudar, onde e quando mudar, cada um de nós sabe, ainda que mostremos para os outros uma aparência de integridade e excelência. Uma coisa é certa, para o que muito errou é muito mais difícil mudar, deixar o mal e fazer o bem, largar a infidelidade e ser fiel. 
      Os que erraram muito não têm escolha, se quiserem uma vida diferente terão que ser humildes, Deus, contudo, cuida de um jeito especial dos humildes, dos que não confiam em si mesmos, isso por não terem justiça própria para confiar, e confiarem em Cristo, que justificou os pecadores. Entretanto, cuidado, não acuse os que se refugiaram no perdão de Jesus, quem faz essa acusação não acusa o pecador, mas quem o perdoou. Infelizmente, muitos religiosos que conhecem o evangelho de trás para frente podem ainda nem terem se convertido, se acham cristãos por acharem que merecem ser. Quem acha que merece nunca foi de fato cristão, o fundamento do novo nascimento em Cristo está na assunção de que nada se merece, mas tudo se recebe pela graça de Deus, a humildade verdadeira começa aí, e daí ilumina-se para a espiritualidade.
      O texto inicial fala de uma dimensão interessante para discernir o humilde do soberbo, a distância. Enquanto o humilde se conhece quando se olha de perto, no coração, já que a humildade verdadeira pode ser simulada com aparência de falsa humildade, o soberbo se vê de longe, por quê? Porque ele gosta de ostentar, de se exibir, e muitas vezes mesmo virtudes falsificadas, que ele sabe que são importantes, mas não paga o preço para tê-las de fato. Deus conhece o soberbo de longe, ele é facilmente identificável porque quer aparecer, já o humilde é discreto, sábio, aprendeu a se recolher em si, ele sabe que muitas qualidades, ainda que genuínas, não podem ser valorizadas por todos, assim ele as guarda como seu tesouro mais valioso. O humilde, não se posta diante de homens porque confia em Deus, isso é espiritualidade cristã. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

segunda-feira, outubro 26, 2020

26. Espiritualidade exercida com sabedoria

Espiritualidade Cristã (parte 26/64)

      “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.Mateus 7.6 

      A espiritualidade nos dá acesso a conhecimentos divinos que salvam, curam e transformam o ser humano, mas será que basta saber, mesmo saber com um coração cheio de amor, para compartilhar esses conhecimentos? Para entender isso precisamos entender corretamente a metáfora “pérolas aos porcos”, o que ela significa? Significa coisas preciosas demais para quem não dá a essas coisas o devido valor, valor de coisas preciosas. Porcos podem comer quase que qualquer coisa, e quando são mal criados, no meio de sujeira e lixo, podem até comer pérolas, mas não saberão o valor delas, nem que elas não são para comer. 
      Podemos observar dois tipos de reações indevidas de quem não sabe o valor do que lhe é apresentado: rejeição e aceitação estúpida. A aceitação estúpida aparentemente não rejeita, mas também não recebe do jeito adequado. O texto acima fala da atitude de rejeição, de quem não reconhece o valor do que lhe está sendo ofertado e simplesmente pisa e destrói o presente, e mais, se volta contra os que lhe deram a oferta. Esse não entende nem o valor do que recebe nem a virtude de quem lhe dá, e pode reagir com violência.
      Contudo, atualmente existem muitos estúpidos que recebem o evangelho como recebem qualquer coisa, sem discernimento, eles até o “ingerem”, mas não usufruem de suas bênçãos mais profundas e facilmente se “livram“ dele para seguirem se alimentando de qualquer coisa, sejam bolotas ou pérolas. Mas por que alguns podem, além de despedaçarem o que recebem, voltarem-se contra os que deram? Entendamos pérolas nesta reflexão como simbologia para o conhecimento de Deus, e não existe nada mais precioso que a palavra do Senhor, que conduz à salvação, ao perdão, à cura e à paz eterna. 
      A culpa no coração orgulhoso cria mecanismos para desmerecer quem vive e ensina a simplicidade do evangelho, porque o orgulhoso quer álibis para permanecer como é, com as suas soluções, negando de qualquer maneira que suas soluções não resolvem, não lhe trazem paz. Dessa forma, quando compartilhamos a solução de Deus com o orgulhoso, ele não vê como solução de Deus, mas como a nossa, o orgulhoso não enxerga Deus, o mundo espiritual, mas homens e o plano físico, e para tirar a legitimidade de algo divino diz que é só mais um ponto de vista humano.
      Por ser orgulhoso, não quer admitir que outros têm uma solução melhor que a sua, ainda que com isso continue se sentindo culpado, e entenda como outros principalmente aqueles que causam a ele alguma insegurança, já que ele até pode aceitar soluções, mas de quem não ameace de alguma maneira a posição superior que ele quer mostrar que tem em seu grupo social. (Quer um exemplo disso? Não existe gente mais difícil de ser evangelizada que parentes, eles ouvirão estranhos na rua, mas não alguém com laços de sangue em comum). 
      A culpa no coração orgulhoso leva muitos a comprarem os produtos mais insanos possíveis para que o coração continue com culpa, na verdade o orgulhoso busca outros nomes para sua culpa, que não jogue sobre ele mesmo a responsabilidade por ela, mas nos outros. A preciosidade da pérola do evangelho está em mostrar a responsabilidade pessoal de cada um por seus erros e a objetividade com que se pode receber paz pelo perdão que existe no nome de Jesus. Dessa pérola todas as outras advém, salvo e sem culpa o homem pode então aprender mais pelo Santo Espírito.
      Todavia, com os porcos que comem de tudo, talvez seja com quem tenhamos que ter mais cuidado, “pérola” comida rapidamente é “descartada”, pois “pérola” não é para ser comida, mas para ser usada como joia preciosa, principalmente em momentos especiais, mantida segura para sempre. Por “comerem” e não guardarem do jeito certo é que tantos enchem igrejas atualmente, e ainda assim nunca conhecem profundamente a palavra do Deus Altíssimo, nunca crescem, e sempre são manipulados por homens. O evangelho atualmente, em muitos lugares, não é apresentado como “pérola”, mas como bolotas de porcos, essa é a terrível verdade. 
      Se você achou uma pérola do evangelho guarde-a para si, como seu bem mais precioso, você achou espiritualidade, se outros tiverem que vê-la que vejam a beleza que ela apresenta em sua vida, que vejam o efeito dela. Não tente dar uma pérola a qualquer um, de qualquer jeito, dê a tua pérola o devido respeito, seja espiritual, tenha-a como pérola divina, não como arma humana para dar a última palavra numa discussão. Caso contrário o estúpido poderá se voltar contra você e ainda desmerecer o evangelho, você só estará jogando fora, por ter feito algo no tempo errado, a oportunidade de alguém ser abençoado, e estará lançando aos porcos a espiritualidade de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

domingo, outubro 25, 2020

25. Espiritualidade exercida com amor

Espiritualidade Cristã (parte 25/64)

      “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Colossenses 4.6
 
      A verdadeira espiritualidade deve ser guardada como o bem mais precioso, assim não deve ser compartilhada de qualquer jeito, com qualquer um, em qualquer momento, principalmente quando é explicada de maneira mais profunda. Vivida, sim, precisamos vivê-la sempre e da melhor maneira possível, ainda que com cuidado, mas para falar sobre ela é preciso amor e sabedoria, isso porque não é todo mundo que está preparado para ela, e pior que isso, alguns podem usar um conhecimento nosso, adquirido a duras penas, para se promover, ou então, para odiar mais ainda o cristianismo à medida que entendem mal o que não estão preparados para saber. Algumas coisas é melhor que fiquem “ocultas”. 
      Ser espiritual é saber de certas coisas, sim, isso está correto, mas não basta saber. Em Deus as coisas funcionam de maneira diferente, não basta saber sobre ele ou poder dizer algo sobre sua palavra, é preciso ter ordem dele para manifestar isso aos outros. Quando ele manda ele nos prepara, senão será palavra de homem, não de Deus, e pior, palavra de homem dita em nome de Deus, o que agrava mais ainda o pecado. Para coisas de homens, basta saber que se tem direito de dizer, mas mesmo nisso se coisas certas forem ditas em tempo errado, no lugar errado ou para pessoas erradas, poderão funcionar mal, ainda que nesse caso, quem fala, fala por si, e assume responsabilidade pessoal por isso, nada tendo a ver com Deus. 
      A verdade é que o bem só é bem quando usado com bem, senão pode se tornar mal. Os tolos acham que basta saber, os estúpidos defendem legitimidade para o que têm a dizer na coragem que têm para dizer isso, mas coragem em si não confere legitimidade, pode ser apenas irresponsabilidade, falta de noção de quem fala o que pensa de forma errada. Qual é a forma certa de falar coisas certas? Em amor, o amor é o tempero adequado que dá equilíbrio à sabedoria, que torna mesmo a exortação mais insípida, salgada. O amor não humilha o exortado, nem exalta o exortador, mas glorifica o Deus de todas as virtudes buscando restaurar o exortado para Deus, não vencê-lo numa guerra pessoal e humana.
      Só sob ordem de Deus temos o amor certo para revelar a palavra dele, assim, se você entender que tem algo a dizer a alguém, se sentir que deseja ajudar alguém com uma orientação de sabedoria para uma área da vida, não necessariamente área espiritual, mas se perceber que não sentiu ainda amor suficiente para fazer isso de forma elegante, educada, espiritual, não faça, não ainda. Ore mais a Deus e espere que Deus propicie o momento certo, no tempo de Deus temos não só o que dizer, mas o modo certo de dizer, em amor ganhamos amigos consolados mesmo na exortação, e não fazemos inimigos humilhados com uma verdade dita de maneira insensível e egoísta para a qual eles não estavam preparados. 
      “Não toque em ferida que não possa curar”, orientação que um dia recebi e nunca mais me esqueci, e como nós evangélicos nos achamos tantas vezes donos da verdade e com capacidade diferenciada para resolver problemas alheios. Por outro lado, quem está sempre achando que pode resolver os problemas dos outros, grande parte das vezes não quer resolver os próprios problemas, já quem se conhece e se resolve em Deus age com paciência, com amor, com humildade, pois dá para os outros o que recebeu, e cada um só dá o que recebe, eis uma “economia” básica no universo. Quem recebe exortação dura e violenta dará isso aos outros, e nem se sentirá mal por agir assim, mas quem recebe amor dá amor e ganha mais amor.
      Quem não ama pode ser impelido a agir por inveja, e não se pode confiar em quem quer expressar espiritualidade, seja ensinando mistérios ou praticando caridade, com um coração invejoso. Inveja revela que alguém não se conhece, não se ama e deseja ser ou ter o que o outro é ou tem, assim a inveja até consegue bens e conhecimentos, mas falsos, porque o invejoso não busca para si, mas para o outro. O invejoso não vive para si, mas para impressionar o outro, assim nunca estará satisfeito, terá tudo mas não usufruirá de nada, por isso tudo o que acumula é falso. O coração do invejoso é o de um ladrão, que ainda que não manifeste isso roubando algo material, tem um desejo profundo de adquirir algo que não é dele. 
      Existem duas coisas difíceis de serem detectadas no coração humano, uma é boa, a humildade, sobre a qual refletiremos adiante, a outra é ruim, a inveja. É difícil de ser detectada porque o homem pode ser motivado a fazer coisas esplêndidas por ela, assim suas ações não refletem suas intenções. Como ser liberto dela? Pelo amor, o diabo invejou a Deus, por isso perdeu direitos, o que o fez ferramenta para testar no homem justamente a inveja, Adão e Eva provaram do fruto proibido porque queriam ter o mesmo conhecimento de Deus, invejaram a Deus ao invés de amá-lo. Quem vence inveja com amor entende um dos mistérios da espiritualidade mais elevada, e será servo. O servo, contudo, sempre é servido por Deus.  

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

sábado, outubro 24, 2020

24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor

Espiritualidade Cristã (parte 24/64)

      Uma experiência marcante com o Espírito Santo sempre gera em nós três coisas: santidade, humildade e amor. Se uma dessas coisas faltar, não é o Espírito de Deus quem agiu, não em sua plenitude. Essas virtudes abrangem todas as nossas relações, a santidade nos permite agradar a Deus, a humildade nos permite aceitar a nós mesmos e o amor nos permite respeitar os outros. Só o Espírito Santo de Deus habitando o espírito dos salvos através do perdão exclusivo e completo de Cristo, pode colocar o homem no mais alto nível espiritual, limpando sua alma e curando seu corpo. Precisamos entender isso e não aceitar falsificações de experiências espirituais, feitas por muitos que podem estar provando outras coisas, mas não de fato a unção do Espírito Santo de Deus. 
      Santidade é a primeira coisa que nossa alma sente como prioridade quando temos de fato um encontro com Deus, uma passagem bíblica que bem exemplifica isso é a do profeta Isaías, “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” (Isaías 6.1-5). 
      “Então disse eu, aí de mim”, essa é a reação de quem de fato se aproxima de Deus, esse sente medo, não por por recear algo mal, moralmente reprovável ou violento, mas por sentir-se indigno, como se fosse colocado diante de alguém famoso, rico, poderoso, mas com vestes inapropriadas, sem banho, com cabelos desarrumados, com a barba por fazer, ou se for mulher, sem maquiagem ou unhas feitas. Deus é muito mais nobre, poderoso e limpo que qualquer homem ou ser espiritual, assim o sentimento honesto de quem se aproxima dele é temor por se achar indigno, despreparado, em pecado. Hoje temos o sangue de Cristo que nos purifica de todo pecado, mas ainda assim muitos não se apossam disso e ousam tentar entrar na presença do Senhor de qualquer jeito, e muitas vezes só para impressionar os outros, para dizerem que entraram mesmo não sendo verdade.
      Humildade é o segundo efeito de quem encontra Deus, porque quando olhamos para Deus nos vemos e quando nos vemos de verdade, sem máscaras ou filtros, entendemos o quanto somos fracos, imperfeitos, dependentes da misericórdia do Senhor, necessitados de mudanças, de melhoras. Quando nos vemos como somos olhamos os outros diferentemente, não exigimos desses o que nem nós somos. A humildade nos leva a agir de uma outra forma com as pessoas, mas antes disso, ela nos dá paz, pois com ela podemos nos aceitar, sem exigir de nós o que não somos ou podemos, e amando nossas verdades pessoais sem vaidades. Só o humilde se aceita, se gosta, tem paz e pode então se relacionar melhor com os outros, essa é a verdadeira humildade que nasce só de um real encontro com Deus, onde nos humilhamos e clamamos por misericórdia e perdão.
      “O Senhor eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra“ (Salmos 147.6), humildade é um dos grandes mistérios espirituais, pois algo que a princípio pode parece que nos diminui no final acaba nos engrandecendo, isso porque abrimos mãos da referência errada e confiamos na referência certa. A errada é a do homem, nós mesmos ou os outros, o humilde abre mão de ser honrado pelo outros sendo aquilo que ele acha que vai agradar os outros ou a si mesmo. A referência certa é a referência de Deus, quando paramos de nos importar com o que os homens acham que é importante Deus nos revela o que é importante para ele, e nessa experiência nos sentimos muito bem, satisfeitos, úteis, completos, em paz, num orgulho pessoal que não sente necessidade de mostrar aos outros, mas que se sente feliz só por saber que Deus sabe e se importa. 
      A terceira experiência que temos quando vivenciamos um real encontro com Deus é o amor. Se pela santidade nos equalizamos com Deus e com a humildade nos aprumamos com nós mesmos, podemos, então, ver os outros como são e tratá-los como Deus quer os tratemos. Amor é dar ao outro o mesmo direito que queremos para nós, mas não de um jeito frio, como se fosse só obedecendo cegamente uma lei. O verdadeiro amor compungi-nos, move nossas estranhas, toca profundamente nossos sentimentos, nos faz querer abraçar alguém, física e emocionalmente, e assim, enternecidos, queremos que a pessoa seja honrada, ainda que isso signifique que nós não seremos. O amor não espera recompensa, se sacrifica em silêncio e entrega nas mãos de Deus, esperando dele e somente dele qualquer espécie de retorno, só após um encontro profundo com o Espírito Santo conseguimos amar. 
      “Então foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a face de JóE o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía“ (Jó 42.9-10), essa passagem de Jó é um dos registros mais reveladores sobre o amor na Bíblia, mostra o amor na prática, demonstrado por quem não podia fazer outra coisa a não ser amar, e que precisava receber nada melhor que amor sincero. Os “amigos” de Jó foram punidos por Deus por terem falado a Jó sobre Deus com uma falsa sabedoria, aquela que até usa Deus e sua palavra como argumentos, mas que por não ser em amor julga e condena. Contudo, ainda assim, aquele que vivia uma provação enorme de Deus, que tinha sofrido muito e perdido tudo, se deu ao trabalho de orar por falsos amigos. 
       Quem se lembra de amigos falsos quando está lá no fundo do poço? E muitas vezes depois que saímos do fundo ainda tentamos nos vingar dos que foram cruéis conosco, ainda que seja só com um desprezo discreto. Mas Jó orou, pois bem, Deus não só ouviu a oração como “mudou a sorte de Jó”, e não só o levantou, mas com honra dobrada em relação a tudo que ele tinha perdido. Contudo, tem algo que passa quase que desapercebido no último capítulo do livro de Jó, no final do versículo 9, “fizeram como o Senhor lhes dissera e o Senhor aceitou a face de Jó”, não podemos dizer com certeza se uma coisa tem relação direta com a outra. Contudo, será que podemos interpretar que o Senhor aceitou a face de Jó só depois que seus amigos ofereceram a Deus sacrifícios por seus pecados? Em seguida, aceito por Deus, Jó ora pelos amigos e o Senhor concretiza a bênção. 
      Se interpretarmos dessa maneira, parece-nos que a bênção de um vem pelo esclarecimento dos outros, e vice-versa, Jó é abençoado quando seus amigos se arrependem e seus amigos são abençoados quando Jó ora por eles. Somos muito materialistas, gostamos de interpretar a bênção maior que Jó teve com a provação que passou, como a multiplicação de seus bens, nos esquecemos da bênção maior, a “iluminação” que tanto ele como seus amigos tiveram com a experiência Essa “iluminação” proporcionou-lhes uma visão mais clara do porquê estarmos neste mundo, uma experiência que os tornou mais preparados, e mais que para viver no plano físico, para habitar a eternidade espiritual com Deus. Jó não só ficou mais rico, mas com certeza mais santo, mais humilde e mais amoroso, assim como seus amigos, esse é o propósito maior de Deus em todas as provações que permite que passemos. 
      Quando temos de fato um encontro com Deus essas três experiências transbordam de nossos corações, desejo de ser santo, humildade não fingida e amor sem concessões, quem não demonstrar isso depois de ter alguma experiência espiritual precisa rever suas referências de experiência espiritual, seu entendimento sobre dons do Espírito. Uma experiência profunda com e no Espírito Santo mexe com nossas emoções, mas é muito mais que isso, mexe com nosso espírito, e isso nos coloca num nível espiritual diferenciado, nos dá uma convicção mental, um esclarecimento intelectual que transcende o emocional. Uma experiência com o Santo Espírito não deixa nossos corpos “sem controle”, como acontece em experiências com espíritos ”estranhos”, somos curados psicológica e fisicamente quando temos uma experiência verdadeira, ela nos coloca de fato mais perto de Deus e de sua espiritualidade mais elevada. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

sexta-feira, outubro 23, 2020

23. O que Deus tem e o que não tem para nós

Espiritualidade Cristã (parte 23/64)

      “Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente. Sou como um prodígio para muitos, mas tu és o meu refúgio forte. Encha-se a minha boca do teu louvor e da tua glória todo o dia. Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força.” Salmos 71.5-9

      Ser espiritual é aceitar a espiritualidade de Deus, onde ela começa e onde ela termina para cada um de nós, assim, temos que aprender a ser felizes com o que o Senhor tem para nós e estarmos em paz com o que o Senhor não tem para nós. Eis o segredo de uma alma tranquila e de um corpo curado, satisfeitos em viver o plano de Deus. Para isso é preciso buscar a Deus com todo o coração para saber qual de fato é a sua vontade para as nossas vidas, seja na área afetiva, isso é na família, na área profissional, em nossa formação acadêmica e em orientação de emprego secular, ou na área ministerial, em nossas atividades dentro de igrejas. Somos corpo, alma e espírito, Deus nos fez assim e quer nos usar nessas três áreas no plano físico.
      É importante que se entenda que sob a ótica de Deus nenhuma dessas áreas tem prioridade sobre as outras, nossa missão maior neste mundo compreende as três áreas, ainda que a quantia de tempo que se possa usar para cada área possa variar de pessoa para pessoa, conforme o plano de Deus. Como já tantas vezes tenho dito aqui, o que trabalha mais em serviços ligados a uma igreja local não é mais espiritual que o que trabalha no mundo, o que leciona na E.B.D. não é mais espiritual que o que leciona numa escola pública ou particular, nem o que toca um instrumento em cultos não é mais espiritual que o que toca em festas e cerimônias, desde que faça debaixo do temor de Deus e para a glória dele.
      Depois que descobrimos o que Deus quer de nós, de verdade, sem ilusões ou medos, sejamos feliz nisso, não invejando o que Deus tem para os outros nem sendo relapsos com nossas responsabilidades, é claro, com equilíbrio, não idolatrando nada ainda que seja algo separado por Deus para nós. Quem idolatra, até coisas legítimas que são permitidas por Deus, amará mais as coisas e a si, e menos as pessoas e a Deus, nada deve ser idolatrado, nem serviços puramente espirituais. Muitos não são felizes com o que fazem para Deus porque não se descobriram em Deus, assim não têm uma visão correta do que são e do que podem fazer, ou acham que fazem demais, ou acham que fazem menos que deveriam.
      Se olhar por inteiro e se aceitar só é possível quando nos olhamos em Deus, Deus é o espelho, que nos revela à medida que andamos com ele, falamos com ele em oração, observamos a vida e verificamos os frutos, medindo até onde podemos ir sem pecar, ou o que precisamos fazer para não pecar. Se conhecer, contudo, não é uma tarefa rápida, levamos a vida inteira para isso, só o tempo para nos mostrar quem de fato somos, e se conhecer e se aceitar está diretamente ligado a ser feliz. Só achamos felicidade quando entendemos com humildade qual é nossa missão nessa vida, infelizmente podemos descobrir isso só na velhice, é mais que entender, é aceitar e aceitar do jeito certo. 
      Muitos acham que estão se esforçando em Deus para fazer mais e serem melhores, mas na verdade só estão lutando contra a vontade de Deus, e quando isso acontece nos violentamos e levamos infelicidade principalmente para aqueles próximos a nós. Muitos não entendem que menos pode ser mais quando é tudo no Senhor, aquele que faz a ferramenta é o que sabe a maneira mais eficiente de usá-la e Deus nos constrói por toda uma existência. É realmente feliz o que faz o que Deus quer ele faça, mas são necessários limites para saber e ter paz naquilo que não devemos fazer. Você sabe exatamente aquilo que Deus não quer que você faça? Sim, tem esse outro lado, saber o sim e aceitar o não.

      “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” Mateus 7.21-25

      Não entendamos aquilo que Deus não quer que façamos como coisas erradas, mas como coisas que mesmo que a princípio sejam certas, podem ser tornar más, por não serem a vontade de Deus para nós, e por fazermos na desobediência. Não basta ao cristão ter fé e força de vontade, é preciso comando de Deus, e muitos hoje em dia fazem um monte de coisas por fé e com força de vontade, contudo, sem comando de Deus. Isso inicialmente pode até funcionar, pode colaborar para que o evangelho seja pregado, e creia, mesmo esses equívocos Deus usa, principalmente quando não tem outro jeito. Mas em algum momento pode escandalizar o evangelho e prejudicar muito a obra de Deus. 
      Mesmo o bem, sem ordem de Deus, é mal. Por quê? Porque o que prega, mesmo uma visão da palavra do Senhor, mas sem ordem dele para isso, não conseguirá viver o que prega, não da maneira certa, a maneira de Deus. Assim esse tropeçará nas palavras e poderá escandalizar aqueles que creram em sua pregação. Preciso repetir Mateus 7, ele é citado com frequência no “Como o ar que respiro”, mas é porque ele é muito relevante para entendermos o falso evangelho que se prega atualmente. Dessa vez quero chamar a atenção para a segunda parte do texto, a que diz, “o que escuta estas minhas palavras e as pratica”. Por que ela segue na passagem a exortação sobre os falsos cristãos? 
      Porque os falsos até falam a verdade, mas não conseguem praticá-la, isso acontece porque não aceitam o não de Deus, não são humildes o suficiente para terem paz naquilo que não é para eles, e que eles desejam fazer, não para obedecer e louvar a Deus, mas por vaidade e ganância. Não, meus queridos, o verdadeiro evangelho é simples, mas “não” é fácil, justamente porque é simples, e muitos não aceitando essa simplicidade complicam as coisas para as próprias perdições. É simples porque não exige de nós mais do que somos de verdade, mas não é fácil porque precisamos entender e aceitar o que somos de verdade, somos porque Deus nos fez assim e nos fez assim para cumprirmos uma missão.
      Feliz com o que devemos fazer e em paz com o que não temos que fazer, simples assim, isso é ser prudente, é construir casa sobre rocha. Ah, meus queridos, muitos caem e são humilhados porque não acatam a vontade de Deus, querem ser o que não são e terem o que não estão preparados para ter, e ainda que trabalhem muito e sejam bons cidadãos, não têm humildade espiritual para acatar a orientação do pai que nos conhece e sabe o que é melhor para nós. Deus só quer que sejamos felizes e tenhamos paz, assim ouçamos sua voz mansa de pai, obedeçamos sua vontade. A tempestade se levanta contra todos, já está ocorrendo uma e bem forte, só sobre a rocha nos manteremos de pé até o fim. 
      Esta reflexão nos leva muito mais adiante, a entender o que é espiritualidade, o que é ser espiritual, como e quando devemos ser. Muitos ainda aliam espiritualidade as quatro paredes de templos religiosos, tanto para serem espirituais só dentro dos templos, quanto para levarem ao mundo certos conhecimentos que deveriam ser restritos as quatro paredes. “Então temos que ser diferentes, de um jeito dentro da igreja, e fora de outro?“ Não, não é isso. Primeiro ponto: Deus quer que sejamos o nosso melhor sempre e em todos os lugares. Segundo ponto: o efeito disso diante de todos são obras de justiça feitas em amor, não só palavras. Ponto três: falar disso com mais profundidade, contudo, só para quem Deus orienta.
      O equilíbrio que nos traz a felicidade do que Deus tem para nós e a paz com o que ele não tem, nos permite ser espirituais o tempo todo, não atores em púlpitos que tentam ser os que não são, ou frustrados em bares que não aceitam o que são. Esse equilíbrio também nos leva a respeitar limites, falar o que devemos no lugar melhor, e finalmente nos livra da hipocrisia, de pregar algo que não vivemos. Enfim, só entendendo nossa chamada podemos ser espirituais, para Deus, para nós mesmos, e para as pessoas que realmente interessam e o Senhor quer abençoar através de nossas vidas. Eu estou feliz e tenho paz? Pois se não sou feliz e não tenho paz ainda não entendi o que é ser cristão e muito menos sou espiritual.

      “Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” João 15.11

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

quinta-feira, outubro 22, 2020

22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior

Espiritualidade Cristã (parte 22/64)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.II Pedro 1.10-11

      A palavra vocação significa qualquer aptidão, gosto natural, disposição, talentos, chamamento de alguém para exercer certa função obrigatória ou para a posse de um direito. Como seres humanos temos aptidões naturais, que nos ajudam no exercício de uma profissão mais eficiente, como cristãos podemos receber dons espirituais, que nos ajudam a ter uma vida pessoal vitoriosa e a exercer um ministério mais profícuo, contudo, o sentido que Pedro deu no texto inicial à palavra pode ser algo que vá além disso. Qual a nossa principal vocação como seres eternos no universo? É voltarmos ao Altíssimo, contudo, neste mundo somos identidades diferentes e como tais cada um de nós chega a Deus e o agrada de uma maneira específica.
      Se você não consegue mostrar seu melhor falando, fique quieto, nem todos são chamados para falar, e não existe nenhum desmérito nisso. Como é difícil para muitos com essa vocação entenderem isso, e quando dizemos que alguns devem se calar nem é porque não falam bem ou não tenham coisas legítimas para dizer. Nesse caso, contudo, não nos referimos ao conteúdo, mas à forma, e para fazermos algo bem devemos saber o que fazer e como fazer, se soubermos o que dizer mas não dissermos do jeito certo, é melhor não falarmos. O jeito certo de fazer, para desempenhar qualquer função ou missão, é com amor. O amor tem paciência com os que sabem menos e humildade com os que sabem mais, no amor todos somos alunos. 
      Se você recebeu uma ordem da vida, cumpra-a, não alegue limitações, mas trabalhe nos aperfeiçoamentos, somos seres em constantes construções. Ninguém nasce pronto e também não estará pronto no final, assim quem espera melhorar para fazer algo, nunca fará, isso não é fazer de qualquer jeito nem ser irresponsável, mas ser diligente e simples. Aliás, as pessoas que mais mudam o mundo de forma positiva acham satisfação na simplicidade, ainda que sejam inteligentes e competentes acima da média, são simples para começar e terminar algo, sem melindres ou vaidades. Quem tem medo de errar nunca acertará, e podem ser necessários muitos erros, até que se descubra porque se veio ao mundo para então se fazer algo original.
      Por outro lado é preciso avaliar investimentos e lucros, e muitas vezes, sim, é preciso parar o que se está fazendo, às vezes por anos a fio, e fazer outra coisa. Eis uma virtude nobre, mudar de ideia, eis uma coragem ímpar, admitir mudança de ideia diante dos outros, eis algo que alegra a Deus, se colocar debaixo de sua luz. Muitos seguem errando e não acham forças para mudarem de rumo porque estão em trevas, intelectuais, emocionais, espirituais, assim não se conhecem, não se assumem, vivem de aparências, não são felizes e nunca experimentam de fato suas verdadeiras vocações. É triste ver gente assim, nos aperta o coração, queremos ajudar mas elas nos impedem, se forem tocadas, gritam e esperneiam, como crianças mimadas.
      Não ligue para esta terra, eis parte de um entendimento fundamental para conhecermos nossa vocação, que não é só para esse mundo, mas para o outro também. Não é para aqui, mas começa aqui, e viver aqui não é qualquer coisa, é experiência de suma importância que define radicalmente nossa existência eterna. Os que se acham ateus dão importância demais para este plano, os que se dizem cristãos dão importância de menos, a verdade está no equilíbrio, e eis um mistério espiritual, vislumbrar o Espírito com os pés bem firmes na terra. Alcançar a espiritualidade não é alienar-se do mundo, mas vencer nele e ainda assim não deixar que isso importe mais que os valores que levaremos para o outro mundo, só quem tem pode abrir mão. 
      A outra parte do entendimento fundamental é: não ligue para o tempo. Quando começamos a de fato a exercer nossa vocação? Não importa, quando nascemos de novo em Cristo e recebemos iluminação do Espírito Santo, Deus não vê as coisas assim e as coisas espirituais não funcionam assim. Por isso não devemos nos comparar com os outros, nos acharmos melhores porque acertamos a mais tempo, ou nós considerarmos inferiores porque erramos por mais tempo. Para muitos de nós dez anos de obediência às nossas vocações valerão mais que cinquenta anos de outros que pareciam desempenhar suas vocações e não o faziam. Últimos serão primeiros e primeiros serão últimos, mil anos como um dia e um dia como mil anos. 

      Pedro nos ensina coisas importantes em seu texto, “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis, porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno”. Três palavras chamam a atenção: firme, tropeço e reino, as três têm implicações diretas com vocação. Firme, isso nos lembra que a vida é uma luta persistente, não alcançamos e descansamos, e muito menos nos esforçamos e depois desistimos, na evolução espiritual, enquanto neste plano físico, não há parada, descanso ilimitado só na eternidade. Deus pode nos permitir períodos para que nos recuperemos, mas a luta não para, e fica na verdade cada vez mais sútil, à medida que o caminho se estreita. 
      Tropeço, quem estaciona tropeça e cai, ninguém consegue, no crescimento espiritual, ficar de pé e parado, só estamos de pé à medida que caminhamos. Muitos, pensando que já alcançaram tudo, podem cair em terríveis armadilhas do mal, porque se acharam no direito de parar e usufruir, não viemos ao mundo a passeio. Mas mais que isso, Pedro nos revela algo que muito evangélico, em sua “fé na fé”, não entende bem: “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno“. Desempenharmos nossa vocação de forma adequada nos dará direito à melhor eternidade com Deus, isso pode ir contra o pensamento que muitos têm de que lhes basta crer e ter uma vida moral civilizada. Não basta fazer, tem que fazer o mais certo. 
      Não basta pregar, tem que pregar no Espírito Santo, não basta trabalhar, tem que trabalhar naquilo que Deus mandou, não basta aparecer no mundo, tem que pagar o preço que Jesus pagou, não basta ser cristão, tem que ser espiritual, só somos quando conhecemos e exercemos nossa maior vocação como seres eternos, voltarmos ao criador. Quando morremos as vendas de nossos olhos espirituais caem para vermos o mundo espiritual como é, seremos atraídos por aquilo que levarmos conosco, se levarmos trevas, seremos infernizados pelos espíritos rebeldes das trevas, se levarmos luz, seremos abraçados pelo Esprito de luz do Altíssimo. Só em Jesus existe a luz que podemos levar conosco e que nos ligará eternamente ao Pai de toda luz.
      Meu querido e minha querida, não perca tempo tentando agradar os outros, tentando ganhar discussões, tentando prevalecer sobre quem não tem nada realmente de bom pra você, já que quem de fato pode te abençoar não exige nada de você, só sinceridade do bem. Temos algo maior para alcançar e levar desta vida, isso importa mais que viver para fazer dívidas e pagar dívidas. Se for preciso, pare tudo e reavalie tua história, tudo o que fez e conquistou até agora. Sim, pode ter sido muita coisa e a troco de trabalho honesto, não estou negando isso, mas será que valeu a pena? Você realmente sente que desempenhou tua vocação maior? Se morrer agora, deixará para quem ama o que mais importa e levará consigo de fato espiritualidade? 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

quarta-feira, outubro 21, 2020

21. Espiritualidade do profeta

Espiritualidade Cristã (parte 21/64)

      Muitos se consideram profetas, nas igrejas evangélicas atuais, mas a maioria não entende de fato o que era um profeta no antigo testamento, assim como não entendeu o que é profecia, hoje, sob o novo testamento. Nunca nos esqueçamos, Jesus, mais do que qualquer outro personagem bíblico, é nossa referência máxima de homem espiritual. No mundo atual, onde o ministério do Espírito Santo tem liberdade nas vidas de todos os convertidos, não há necessidade mais de profecias como as do antigo testamento, direcionadas a um povo e com o objetivo de trazer um povo desviado de volta a Deus. Na maior parte das vezes as palavras que o Espírito Santo entrega atualmente são palavras de consolo, não de condenação, as mais sérias só recebem os muito rebeldes, e quero crer que são excessões. 
      A experiência  com o Senhor, após a obra redentora de Cristo e a descida do Espírito Santo, é individual, ainda que nos reunamos em igrejas para compartilhar a fé, de acordo com afinidades e gostos doutrinários comuns. Se Deus precisa falar, ele fala ao coração do homem pelo seu Espírito, quanto ao mundo o Senhor fala pelo testemunho dos crentes, não por profetas no estilo bíblico, muitos que se colocam nessa função, seria mais prudente que os encaminhássemos para psicoterapia. No antigo testamento a religião autorizada por Deus era diferente, uma simbologia do cristianismo, as coisas eram físicas. Contudo, vidas de homens como Habacuque, nos ensinam muito até hoje, sobre sensibilidade espiritual, sobre lucidez para com a realidade e principalmente com respeito à espiritualidade cristã.

O peso que viu o profeta

      “Habacuque ou Habacuc é o livro bíblico cuja autoria é atribuída ao profeta de mesmo nome. Discute-se a data em que o livro foi escrito, havendo duas hipóteses:
- o livro foi escrito pouco antes da queda de Nínive em 612 AC; nessa hipótese, os opressores seriam os Assírios;
- o livro foi escrito entre a Batalha de Carquemis em 605 AC e o primeiro cerco a Jerusalém em 597 a.C.; nessa hipótese, os opressores seriam os caldeus. 
      Habacuque significa "abraço", e está incluso na subdivisão da Bíblia chamada de Profetas Menores, sendo um livro de apenas três capítulos. Provavelmente tenha sido escrito no século V a.C.. Habacuque nos sugere que observava a sociedade judaica a partir do Templo, onde possivelmente servia como levita, isto é cantor, ornamentador, prontificador do templo (ver Números 3:6-10). Podemos notar que o capítulo três de seu livro é uma canção, sendo que os últimos versos são considerados uma das maiores expressões de fé do Antigo Testamento. 
      O livro de Habacuque é diferente dos demais livros dos profetas em seu estilo literário, pois em momento algum há profecias contra esta ou aquela nação ou pessoa em particular, porém o que se pode ver é um diálogo entre o profeta e Deus. Entre seu texto há no capítulo dois a expressão: "O justo viverá da fé", que mais tarde inspiraria o apóstolo Paulo a escrever a mais teológica de suas cartas, a Carta aos Romanos, que posteriormente inspirou também Martinho Lutero na elaboração das 95 Teses "gatilho" da Reforma Protestante.”
Fonte: wikipedia 

      “O peso que viu o profeta Habacuque.”

      A palavra “peso”, usada na primeira frase, também pode ser traduzida como advertência ou sentença, e o texto é isso, uma veemente palavra profética chamando a atenção dos homens para a realidade. O profeta sentiu a seriedade do momento e clamou a Deus, nesse clamor o Espírito Santo teve liberdade para revelar a ele a profundidade da situação. Se alguém é frio ou acha na frieza proteção pessoal, não busque ser profeta, se alguém prefere ficar na sua, não se envolver, não tomar partido, não almeje ser boca de Deus. Para ser boca de Deus antes é preciso ter ouvidos espirituais acurados para ouvir a palavra de Deus, mas ser boca não seja sair proclamando o que se sabe de qualquer maneira, é preciso o mesmo cuidado que se teve para ouvir, para falar. Se Deus precisa corrigir um filho, isso é algo sério, devemos ter temor de Deus por isso, principalmente se estamos numa condição de mais iluminação onde podemos ver que alguém está errado e pode pagar um preço caro por isso. O fiel de Deus sente o peso da palavra do Senhor e treme, não se alegra com a queda do arrogante, nem com a vergonha do tolo, antes enxerga a situação, cala-se e espera, com respeito. 

      “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida.

      O conhecimento tem seu preço, a sensibilidade espiritual tem sua responsabilidade, Habacuque via uma situação errada que não se resolvia e sofria com isso, não era indiferente nem dizia, “o problema não é meu, se eles erraram que paguem o preço”. Ele sofria porque tinha sede de justiça, e o Espírito Santo clama dentro dos filhos de Deus por justiça, aqueles que de fato andam com Jesus não se alegram com a injustiça nem são displicentes, mas anseiam que as coisas se resolvam. Contudo, os profetas de Deus não fazem justiça com as próprias mãos, querem que as coisas se resolvam, mas do jeito certo, o jeito certo é o jeito de Deus, no tempo e no lugar certo. Deus pode agir por meios que podem ser impossíveis aos homens, mesmo desconhecidos por eles, mas quem tem os olhos espirituais abertos e vê que algo está errado, quando muitos falsos profetas veem que está tudo certo, clama a Deus por justiça. 

      “Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Horrível e terrível é; dela mesma sairá o seu juízo e a sua dignidade. E os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, e mais espertos do que os lobos à tarde; os seus cavaleiros espalham-se por toda parte; os seus cavaleiros virão de longe; voarão como águias que se apressam a devorar. Eles todos virão para fazer violência; os seus rostos buscarão o vento oriental, e reunirão os cativos como areia. E escarnecerão dos reis, e dos príncipes farão zombaria; eles se rirão de todas as fortalezas, porque amontoarão terra, e as tomarão. Então muda a sua mente, e seguirá, e se fará culpado, atribuindo este seu poder ao seu deus.

      Então Deus responde a Habacuque, aos que o buscam com todo o coração o Senhor sempre responde, e de forma maravilhosa, a solução de Deus pode vir de maneiras que nós sequer imaginamos. Ela pode nos surpreender porque Deus tem solução quando ninguém tem, ele é dono de tudo e de todos, todos os sistemas do plano físico e do plano espiritual estão em suas mãos, e ele os administra com equilíbrio. Algumas vezes para vencer um inimigo poderoso Deus levanta um inimigo mais poderoso ainda que domina o inimigo inicial e traz justiça à Terra, disciplinando os rebeldes. Enganam-se os que dividem os homens em bons e maus, ou mesmo os seres espirituais em anjos e demônios, como se uns obedecessem a Deus e os outros, não. 
      Existem diferenças nas índoles, diabos e demônios tiveram oportunidade de livre arbítrio e escolheram ser rebeldes, mas todos estão debaixo, de um jeito ou de outro, da soberania divina, alguns obedecendo ordens diretas, e outros, mesmo que através de atos cruéis, contribuindo para que a vontade final de Deus seja cumprida. As complexidades do universo são para terror dos ímpios, as “árvores cabalísticas da vida”, as hierarquias dos anjos, os rituais mágicos, tanto quanto os políticos corruptos e a burocracia dos estados, quem está em trevas tenta dominar tudo isso para conquistar seu espaço. Mas a vida é simples para os simples, direto ao Altíssimo, esse não teme babilônios, caldeus, gregos ou romanos, pois tem o todo poderoso ao seu lado. 
      O justo vive pela fé, quem busca, obedece e adora a Deus tem uma vida iluminada, quem está em Deus tem ao seu lado o tempo e todos os seres, homens ou anjos, e não precisa temer nem os poderes desse mundo, que por maiores que se apresentem são temporários. O arrogante, contudo, será vencido, não pelo simples que humilhou, mas por alguém mais arrogante que ele, apesar de aparentar-se forte e destemido, seu íntimo teme, pois sabe que existem outros com ele, injustos e egoístas. Já para o justo que crê a mão de Deus pode se apresentar de diversas maneiras, não para destruí-lo, mas para defendê-lo, assim ele não precisa se vingar ou dar a última palavra, basta crer, com temor a Deus e em silêncio. 

      “Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, meu Santo? Nós não morreremos. O Senhor, para juízo o puseste, e tu, ó Rocha, o fundaste para castigar. Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele? E por que farias os homens como os peixes do mar, como os répteis, que não têm quem os governe? Ele a todos levantará com o anzol, apanha-los-á com a sua rede, e os ajuntará na sua rede varredoura; por isso ele se alegrará e se regozijará. Por isso sacrificará à sua rede, e queimará incenso à sua varredoura; porque com elas engordou a sua porção, e engrossou a sua comida. Porventura por isso esvaziará a sua rede e não terá piedade de matar as nações continuamente?

      O profeta enxerga a verdade e pede que Deus aja, ele entende que se há sofrimento, é porque houve pecado, penso em quantos veem o Brasil como está hoje e ainda acham que está tudo certo, e quando digo tudo certo são evangélicos e protestantes que pensam que se há algum problema ele está no mundo, não neles. O julgamento do ímpio só ocorrerá no final ou após sua morte, Deus autorizou o homem a cuidar do mundo à sua maneira, o homem já entendeu que o mundo que é seu precisa ser cuidado melhor, por isso tanta preocupação com queima de florestas, com poluição de ar, rios e mares. A verdade é que os poderes deste mundo estão bem acordados quanto às suas responsabilidades com o planeta, quem não está acordado é o cristão quanto à sua vocação espiritual.
      O cristão é corrigido no mundo, não na eternidade, na eternidade ele estará no melhor de Deus, numa “posição” espiritual onde não haverá choro, dor, culpa, mágoas, lembranças ruins e nem medos, na luz de Deus só há o amor. Todavia, neste plano, o filho de Deus é disciplinado para que possa mudar de atitude, crescer, receber cura e libertação, experimentar perdão e justiça. Dessa forma, se o mundo, se o Brasil, passa por uma situação difícil, a responsabilidade pode ser do cristão, principalmente daquele que fugiu para dentro dos templos, para “curtir” cultos cheios de música ou cheios de estudos bíblicos técnicos, que não mudam suas práticas de vida, ficam encantados com a falsa unção, mas não são transformados e assim não são força de transformação na sociedade. 
      Quando Israel se desviou de Deus o mundo se desequilibrou, porque quem tinha a missão de iluminar o mundo estava em trevas. Por causa disso as nações, que já viviam em paz ainda distantes de Deus já que Deus respeita o livre arbítrio, entraram em guerra, conquistaram Israel e depois foram conquistadas por outras nações. É a serpente engolindo o próprio rabo, tudo porque quem deveria estar fazendo a coisa certa não estava. Não fazemos ideia do quanto as pessoas são prejudicadas quando desobedecemos o Senhor, ainda que fisicamente possamos não estar fazendo a elas nenhum mal. Deus age no mundo pelos seus fiéis profetas, isso não é algo só físico, que acontece quando uma palavra profética é entregue, é espiritual, quando alguém como Habacuque faz a oração do capítulo um de seu livro. 

Na torre de vigia

      “Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa.”

      O ofício do profeta, dedicar tempo para conhecer a vontade de Deus, apesar de ser mais adequado que se esteja bem física e emocionalmente, já que o trabalho de comunhão espiritual mais profunda exige que nossos sentidos e movimentos físicos estejam sadios, a tarefa é espiritual. É preciso que se esteja com o espírito lavado pelo sangue de Cristo, com a mente em paz, com a consciência limpa e com os sentimentos tranquilos e focados em Deus. 
      Nesse ofício o trabalho do homem é obedecer, é Deus quem chama o profeta, se limpar, é Cristo que purifica o profeta, e prestar atenção, é o Espírito Santo que fala, revela, ensina, mostra e toca. O que tiver real chamada de profeta entenderá as coisas espirituais porque é espiritual, ainda que tenha convicção de que é só um homem pecador como todos os outros, não é especial por ter recebido sua chamada, mas tem uma chamada especial porque é comissionada por Deus. O profeta de Deus ouve  e adora somente a Deus.

      “O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.”

      A palavra de Deus deve ficar clara para que os homens identifiquem sua origem, o profeta, portanto, não pode ser covarde ou confuso, ainda que muitos não o queiram ouvir e que ele deva ter muita sabedoria para saber com quem deve compartilhar as revelações que recebe, e ainda que muitos mereçam saber dos mistérios de Deus por códigos, para que mesmo que olhem não vejam, por terem corações endurecidos e arrogantes. Os simples e humildes, contudo, sempre entenderão a profecia, e na verdade nem necessitarão dela, profecia ocasional é para rebelde, o fiel tem consolo o tempo todo, pois se acertam com Deus antes que sejam necessárias disciplinas e exortações. 
      Entretanto, não se enganem os soberbos, Deus não se atrasa e nem falha, mesmo que confiem na curta glória do mundo que seus olhos veem, mesmo que duvidem da justiça por se acharem com créditos suficientes para serem aprovados por Deus, isso tem tempo certo para acabar. O justo, todavia, não se ilude com o momento, não se ilude com as vaidades, não se vende por nada, antes suporta em silêncio a injustiça e a incredulidade dos loucos e confia plenamente num Deus que mantém o equilíbrio do universo. Nenhum mal fica sem castigo e nenhum bem sem recompensa, mas só o poder do nome de Jesus anula o efeito espiritual do pecado, esse direito só tem o que crê no invisível. 
      Começamos a andar com Deus pela fé, então, vivenciamos as primeiras experiências, a paz que vem do perdão, as curas dos vícios mais sérios, o consolo da oração, a sabedoria da Bíblia, depois caminhamos com alguma facilidade, porque fé vira experiência que gera conhecimento e conhecimento mantêm-nos na vida eterna. Contudo, o conhecimento de Deus não para, o Espírito Santo está sempre nos desafiando a conhecer mais para viver com mais profundidade a vida eterna, assim, mais fé se faz necessário. Neste mundo sempre será assim, se sabemos não precisamos crer, mas só se cresce com mais conhecimento espiritual, assim, é preciso crer mais. O justo viverá pela fé até o fim de sua vida aqui. 

      “Assim como o vinho é enganoso, tampouco permanece o arrogante, cuja gananciosa boca se escancara como o sepulcro e é como a morte, que não se farta; ele ajunta para si todas as nações e congrega todos os povos. Não levantarão, pois, todos estes contra ele um provérbio, um dito zombador? Dirão: Ai daquele que acumula o que não é seu (até quando?), e daquele que a si mesmo se carrega de penhores! Não se levantarão de repente os teus credores? E não despertarão os que te hão de abalar? Tu lhes servirás de despojo. Visto como despojaste a muitas nações, todos os mais povos te despojarão a ti, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores. Ai daquele que ajunta em sua casa bens mal adquiridos, para pôr em lugar alto o seu ninho, a fim de livrar-se das garras do mal! Vergonha maquinaste para a tua casa; destruindo tu a muitos povos, pecaste contra a tua alma. Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento. Ai daquele que edifica a cidade com sangue e a fundamenta com iniquidade!”

      O homem que se afasta de Deus e assume sua situação, ainda se mantenha afastado, se torna um pária no mundo, escravo de vícios, usados por muitos e nunca tendo nada seu, mas o que se afasta e não se assume como tal prova do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, quer ser Deus e parte, sem medo, para conquistar o mundo e dominar os homens. Se para o primeiro tipo de homem há esperança de mudança de vida mais rápida, ainda que pague um alto preço por isso, para o segundo tipo a mudança pode ocorrer, se ocorrer, só no final, depois de ter gasto uma vida roubando, matando e sendo infeliz. 
      Não, não me refiro a roubo como algo explícito, socialmente ilegal, mas a algo que pode ser feito mesmo com trabalho honesto e muito esforço, quando um homem busca ter uma vida, ainda que certa para outros, não a vida que Deus tem como a melhor para ele. Quando se faz isso se rouba, não a Deus, mas a si mesmo, pois se usa o tempo que deveria ser usado para receber coisas certas para tentar comprar coisas erradas, ou melhor roubar. Quem faz isso sempre acaba, de alguma forma, matando os outros, pois não teve tempo para amar quem precisava, dar a eles atenção, vida, visto que gastou seu tempo amando a si mesmo. 
      O maior risco que corre o que se fortalece a troco de enfraquecer os outros e que acaba encontrando outros iguais a ele, quem rouba, acaba roubado, “os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mateus 26.52b), o mal atrai o mal. Como saber se alguém adquiriu poder nesse mundo do jeito legítimo? Não é pelas obras exteriores, essas até podem parecer boas, mas é pela intenção do coração, e essa só o tempo para revelar. O certo é que quem faz algo sem a aprovação de Deus está desprotegido, Deus protege os que se constróem em seu amor, porque esses adoram a ele, não a si mesmos, e abençoam os outros. 

      “Não vem do Senhor dos Exércitos que as nações labutem para o fogo e os povos se fatiguem em vão? Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.”

      O próprio Deus permite que o soberbo prossiga, insista em seu caminho, o Senhor faz isso esperando que ele um dia se arrependa? Sim, Deus ama sempre e sempre espera que o homem volte para ele, a porta do céu sempre, sempre está aberta, mas os que insistem em se fatigar com trabalho desnecessário, com guerras inventadas, para compensar uma insegurança que dinheiro, bens e aprovação humana não compensam, e que só uma vida humilde em Jesus pode curar, seguirá por muito tempo, antes que seja disciplinado. 
      Nesse tempo poderá achar que de fato está fazendo tudo certo, quando não está, só Deus sabe o tempo de cada um debaixo do Sol, o tempo de receber glória, o tempo de ser cobrado pela falsa glória que usurpou. Mas um dia a justiça vem, e como uma luz forte revela todas as intenções, mesmo as mais ocultas, o que se fez por inveja será conhecido, o que se acumulou para impressionar os homens será revelado, mas o que se buscou de todo o coração no Senhor, será honrado, nada e nem ninguém pode impedir isso. 

      “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro, misturando à bebida o seu furor, e que o embebeda para lhe contemplar as vergonhas! Serás farto de opróbrio em vez de honra; bebe tu também e exibe a tua incircuncisão; chegará a tua vez de tomares o cálice da mão direita do Senhor, e ignomínia cairá sobre a tua glória. Porque a violência contra o Líbano te cobrirá, e a destruição que fizeste dos animais ferozes te assombrará, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores.”

      As pessoas podem ser maquiavélicas, esconderem más intenções atrás mesmo de presentes e festas, só para dominarem os homens, alguns se surpreenderiam em saber o que muitos fazem para prevalecerem sobre os outros, para tentarem comprar as pessoas, para forçá-las a mostrar suas fraquezas e então humilhá-las. Quanta malícia pode haver na alma de seres humanos que por não terem paz em si mesmas com Deus, querem roubar a paz dos outros, enfraquecer e desmerecer para dominar e usar. 
      Por que mortes estúpidas em acidentes e no crime? Porque a vida pode cobrar num minuto estupidez acumulada em anos, exigir num instante as oportunidades que deu para alguém por anos neste mundo, e que a pessoa endurecida não aproveitou. Por que mortes demoradas e dolorosas em leitos de hospitais, na solidão em asilos? Porque pode ser preciso uma interrupção abrupta e extrema do corpo, para que o espírito pare e ache humildade para entender o que precisava ter feito para ser feliz, e não fez por toda uma vida.

      “Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum.”

      Muitos de nós não fazemos ideia de como existem ídolos neste mundo ocupando o papel de Deus, e ídolos com semelhança de Deus, falando coisas da Bíblia, adorados por gente que se diz cristã e seguidora do evangelho. São ídolos lindos, feitos com os materiais mais nobres, mais que ouro e prata, são ídolos ideológicos, criados e mantidos nas mentes das pessoas e construídos de intenções nobres, humanitarismos, preocupação com o meio ambiente, bandeiras de justiça social, igualdade, tolerância, religiosidade. Mas ainda assim, são ídolos, não Deus, e como tais, na hora final, quando a pessoa mais precisar, não poderão ajudá-la, salvá-la, consolá-la, curá-la, dar-lhe paz. O ídolo é um deus falso como falso é quem o adora. 

      “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” 

      Um dos versículo mais lindos da Bíblia, Habacuque 2.20, com poucas palavras o profeta expressa a nobreza e a majestade de Deus, assim como a reação que têm aqueles que de fato temem a Deus, o obedecem e o adoram, o silêncio contemplador. A alma precisa estar em silêncio para conhecer a Deus, não embriagada com as próprias e mesquinhas intenções, e nem ambiciosa para dominar e crescer diante dos homens, só o simples e humilde consegue calar a alma. Com a alma quieta e o espírito limpo a voz do Espírito Santo é clara para nos entregar o discernimento que nos permite entender todas as verdades, a nossa, as dos homens e a do Deus Altíssimo. 
      Profeta legítimo de Deus tem esse privilégio, mas não tente ele esperar de homens honra por isso, não nesse mundo, a ele basta cumprir sua missão com mais e mais cuidado, santo, com domínio próprio, sendo um dos luzeiros de Deus que justificarão no juízo os julgamentos divinos. Se alguém perguntar naquele dia derradeiro, “por que estou sendo condenado por algo que eu nem sabia que tinha que fazer?”, Deus responderá, “havia um profeta, bem perto de você, ele te alertou com profecias, com sonhos, e sempre esteve disponível para te aconselhar, mas você preferiu ouvir os falsos profetas, que diziam aquilo que você queria ouvir, não o que precisava ouvir”.  

Ainda que a figueira não floresça

      “Oração do profeta Habacuque sobre Sigionote. Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. Deus veio de Temã, e do monte de Parã o Santo. A sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor. E o resplendor se fez como a luz, raios brilhantes saíam da sua mão, e ali estava o esconderijo da sua força. Adiante dele ia a peste, e brasas ardentes saíam dos seus passos. Parou, e mediu a terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram esmiuçados; ou outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem. Vi as tendas de Cusã em aflição; tremiam as cortinas da terra de Midiã.”

      O capítulo três do livro do profeta Habacuque é um "sigionote", um tipo de canto poético ou elegia, assim esse texto é a letra de uma música antiga. Que palavra atual essa do profeta, não há nada que o cristianismo de hoje mais precise que um avivamento, contudo, e infelizmente, como esse termo foi corrompido no meio cristão, o sentido bíblico e mesmo o evangélico de algum tempo atrás, que significava de alguma maneira uma volta ao primeiro amor, ao cristianismo original, se tornou sinônimo de qualquer heresia que se pregue como novidade em muitos púlpitos, e que toca os corações não por ser de Deus, mas só por ser uma nova moda. 
      Quem acompanha a igreja cristã há algumas décadas, sabe como vieram e foram vários modismos, métodos, teologias, termos e conhecimentos, que eram só novidades passageiras para seduzir gente que ama modas, que quer a vaidade de achar que possui um conhecimento mais profundo que os outros, mas que não ama a Deus. Deus não precisa de moda, é o mesmo ontem, hoje e será eternamente, os mistérios ele revela aos que o amam e esses não usam desse conhecimento como vaidade. 
      Aviva tua obra, Senhor, mas a obra de Deus não são igrejas e ministérios de homens, é a ação direta do Esprito Santo na Terra sobre indivíduos, essa obra é avivada quando as pessoas tiram os olhos daquilo que lhes convém no plano físico e olham diretamente para Deus, por isso pode ser necessário que o cristianismo evangélico e protestante atual seja desconstruído, para que o nome de Deus seja de fato glorificado. Da Igreja Católica não adianta nem falar nada, ela se perdeu no abismo há séculos, mas que o Senhor tenha misericórdia de muitos católicos sinceros e que de fato querem Deus, apesar do catolicismo. 
      Após esse clamor, Habacuque contempla a majestade de Deus e teme, as forças da natureza são só metáforas do eterno poder espiritual de Deus, se uma tempestade, se chuvas fortes e ventos violentos, se a força das águas e explosões vulcânicas nos fazem tremer, muito mais a manifestação da ira de Deus sobre um homem que quer ser Deus e não teme ao Deus verdadeiro. 

      “Acaso é contra os rios, Senhor, que estás irado? É contra os ribeiros a tua ira, ou contra o mar o teu furor, visto que andas montado sobre os teus cavalos, e nos teus carros de salvação? Descoberto se movimentou o teu arco; os juramentos feitos às tribos foram uma palavra segura. Tu fendeste a terra com rios. Os montes te viram, e tremeram; a inundação das águas passou; o abismo deu a sua voz, levantou ao alto as suas mãos. O sol e a lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das tuas flechas, ao resplendor do relâmpago da tua lança. Com indignação marchaste pela terra, com ira trilhaste os gentios. Tu saíste para salvação do teu povo, para salvação do teu ungido; tu feriste a cabeça da casa do ímpio, descobrindo o alicerce até ao pescoço. Tu traspassaste com as suas próprias lanças a cabeça das suas vilas; eles me acometeram tempestuosos para me espalharem; alegravam-se, como se estivessem para devorar o pobre em segredo. Tu com os teus cavalos marchaste pelo mar, pela massa de grandes águas.”

      Sim, a natureza paga pelo pecado do homem, e ela responde a isso, viveremos tempos difíceis de agora em diante, todos seremos afetados, ninguém ficará impune, mesmo os justos, ainda que Deus os proteja do pior pela sua misericórdia. Mas não nos enganemos, ainda que a natureza se transforme e se revolte contra o egoísmo e a maldade do homem, desequilibrando o clima, secando os mares e queimando as matas, não é contra ela que Deus se ira. 
      Sobre Jesus foi lançada toda injustiça, assim quando cremos nele somos perdoados, porque ele levou sobre si nossos pecados, dessa forma Deus se “vingará” no final, não pelos justificados, não existe mais nação escolhida, mas um povo, de todas as nações, Deus derramará sobre os homens injustos a injustiça que fizeram e fazem contra o único justo, Cristo. Deus tomou sobre si o castigo para que pudesse lutar pelos justos, assim o final não será a guerra de homens bons contra homens maus, mas do rei Jesus contra todas as potestades de espíritos rebeldes. 
      Usei a palavra vingará entre aspas porque na verdade Deus não se vinga, não é assim que funcionam as coisas espirituais, mas o homem quando planta injustiça a injustiça ele colhe, e isso quem cobra é o universo, que está debaixo de leis eternas e imutáveis estabelecidas por Deus antes do início dos tempos. Por isso a natureza se revolve e exige, e com ela vêm pestes e guerras, sobre um homem que não foi humilde para buscar seu criador e muito menos será para fazer alianças com as criaturas para construir paz e justiça. 
      Ah, meus queridos e minhas queridas, o homem não tem ideia sobre com que está mexendo, ainda que ache que a solução seja tratar a natureza com respeito, ainda que ouça a sensatez da ciência, ele despreza o principal, seu próprio espírito, esse clama para voltar ao seu criador. Desse pecado nenhum cuidado com sustentabilidade, ecologia, e mesmo com justiça e igualdade social e tolerância, poderá salva-lo, só o nome do Cristo que ele desprezou e perseguiu.  

      “Ouvindo-o eu, o meu ventre se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim; no dia da angústia descansarei, quando subir contra o povo que invadirá com suas tropas. Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.”

      Habacuque expressa novamente seu temor, tem temor que tem sensibilidade espiritual, tem sensibilidade quem busca, acha, ouve e obedece a Deus, esse teme e treme, pois sabe que o universo geme por equilíbrio. Segue, então, o texto com uma das passagens mais lindas da Bíblia (versos 17 e18), dessas que reúnem poesia e espiritualidade, alma e espírito, expressados por um corpo machucado pela realidade que é conhecida somente por aquele que de fato é profeta de Deus. Será que somos espirituais de verdade para que ainda que nossos olhos físicos vejam uma Terra destruída, com um povo passando necessidades extremas, continuemos confiando em Deus e com muita alegria? 
      Como muitos evangélicos atualmente se acham preparados para o fim, acham conhecer bem a Bíblia, e nisso pensam ter o conhecimento espiritual mais profundo. Por outro lado, como pensam, hereticamente, que podem evitar o pior final com líderes políticos que defendam suas bandeiras, quanto equívoco, quanto equívoco. Não sei se temos olhos espirituais abertos o suficiente para nos darem luz diante das trevas que os olhos físicos verão, a verdade é que o que virá surpreenderá mesmo os que se acham os mais espirituais. 
      Mas os últimos tempos serão terríveis, o mundo enfrentará uma calamidade com colapsos em várias áreas ao mesmo tempo, como nunca enfrentou antes. Por isso Deus livrará alguns, não todos, pois muitos ainda que sejam filhos provarão a agonia final do planeta Terra, junto dos ímpios, dos ateus, dos materialistas, dos adoradores de Lúcifer e Satã, do enganados pelas falsas luzes de querubins e arcanjos caídos, de tantos que confiaram na ciência dos homens e nas tradições religiosas, mas não no Altíssimo. 
      Por isso nos acertemos enquanto há tempo, a nós e às nossa famílias, ainda que o fim possa demorar, é importante que nos preparemos sempre e em todos os tempos, para que a verdade do evangelho seja passada para as próximas gerações. Não olhemos para o homem, principalmente para aquele que se diz profeta de Deus quando é filho de Belial, Leviatã se levantará no final e tragará a todos, sem dó, porque recebeu de Deus autorização para isso, só os realmente lavados pelo sangue do cordeiro, que não se corromperam com prostituição espiritual e com as vaidades desse mundo serão poupados. 

      “O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. 
(Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda).

      Se o monte é alto, Deus nos coloca num lugar mais elevado. Se o inimigo é rápido, Deus nos faz mais velozes. Se o mar é profundo, Deus nos faz leves para flutuar. Se o louco nos afronta com mentiras, Deus nos dá a paz que têm os que guardam sua verdade no coração. É preciso conhecer toda a verdade para ver toda a realidade para assumir toda a dor e, então, poder provar toda a libertação de Deus, é preciso não ter medo para sentir temor e tremor diante do Altíssimo. Quem busca escapismos numa verdade pessoal inventada, construída num coração que um dia não aceitou o plano de Deus para sua vida, coloca-se acima da verdade de Deus e viverá uma ilusão, se achará forte, rápido, mas será baixo e pesado, por fim, afundará na própria arrogância, sozinho, preso numa cela dentro da própria mente.
      Habacuque era um homem espiritual, via o mundo de sua época, seu povo, as outras nações, via os justos e os injustos, mas se colocava acima disso tudo, numa torre de vigia, ele era livre, por isso via além do mal na Terra, no coração do inimigo poderoso, nas intenções das potestades dos seres espirituais rebeldes. Ele não era alguém diferente de outros de sua época, ou de mim e de você, devia ter seus limites, seus pecados, mas ele tinha uma comunhão diferenciada com Deus, Deus o atraia e ele se deixava atrair, por isso buscava coisas mais excelentes que os outros. Assim Deus o usou, para registrar coisas mais altas, que abençoam todos os que leem textos sagrados judaicos e cristãos por séculos, ainda que tenha escrito um livro pequeno, de somente três capítulos, porém, com palavras que nos abraçam de forma especial. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.