Perder-se ou achar-se? (2/7)

      “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.25-27

      Muitos estão se perdendo e acham que estão se achando, outros se perdem para poderem se achar. Achar nossa vocação maior neste vida é encontrar o equilíbrio entre segurar e abrir mão, entre aventurar-se no desconhecido e ser fiel a princípios. Não acharemos texto bíblico com as considerações desta reflexão, não palavras diretas. Os ensinos de Paulo, por exemplo, são objetivos, fé em Cristo para se obter salvação eterna, mantendo-se santo neste mundo, mas as nuanças do ser humano moderno, com o conhecimento emocional que a ciência trouxe, não são contempladas por alguém do século um, ainda que um singular homem de Deus. Hoje, conhecer a Deus é mais que obedecer uma lista de leis, requer escolhas profundas e constantes checagens entre teoria e prática. 

Para achar a vocação (1/7)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” II Pedro 1.10-11

      Qual é a nossa vocação espiritual nesta vida? Por ser espiritual não é definida por nós, pelos homens ou pelo mundo, mas por Deus, sendo de Deus vai além de nossas vidas aqui, tem propósito moral, não material. Assim, ainda que nasçamos com aptidões e talentos, ainda que adquiramos experiências e capacitações na família e na academia, nossas profissões não definem nossas vocações. Muitos, por fazerem bem uma coisa, acham que suas vocações são para serem prósperos aqui, assim empreendem no mundo e se tornam profissionais reconhecidos. Mas a vocação espiritual pode ser justamente abrir mais de vocações materiais que os homens veem, para aperfeiçoar algo invisível e eterno que será revelado depois.

Amor anula vingança

      “E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas.” Marcos 11.25-26

      Vingança, quando cola é difícil sair, principalmente se nos sentimos vítimas de ações imerecidas. Mas quando merecemos achamos justificativas para não merecermos, de modo que nós sejamos os oprimidos e os outros os opressores. Podemos nem exteriorizar a vingança, ela pode ficar escondida no fundo do nosso coração, mas existe à medida que torcermos, mesmo que discretamente, para que de alguma forma quem nos feriu se dê mal. Não é fácil anular intenção vingativa, pode ser luta constante, principalmente a rancorosos crônicos, vingança não se vence tentando esquecê-la, mas amando. Se formos humildes e misericordiosos, o amor ganha espaço em nossas almas e se torna maior que a vingança até que ela suma.

Não desista, falta pouco

      “Com o puro te mostras puro; mas com o perverso te mostras rígido. E o povo aflito livras; mas teus olhos são contra os altivos, e tu os abaterás. Porque tu, Senhor, és a minha lâmpada; e o Senhor ilumina as minhas trevas.” II Samuel 22.27-29

      Não desista, os outros vão desistir, de muitas coisas, inclusive de você, vão desistir de perdoar, de crer, de buscar a Deus. Ainda que se esforcem ainda mais para ganhar o mundo e os homens, deixarão morrer as almas, serão corpos coloridos e ativos por fora, mas cinzas e amortecidos por dentro. Mas não desista, de abrir mão do ego e da vaidade, mesmo quando isso te fizer ser esquecido e desconsiderado pelo homem, não desista de se redimir, mesmo que todos achem que você não tem mais jeito. Não desista de ser humilde, não exija nem cobre, ainda que busque o ideal de santidade e de amor do Altíssimo, não desista de acreditar. Ninguém que confia em Deus de todo o coração termina seus dias sem honra ainda neste mundo. 

Alimente o espírito

      “Jesus respondeu-lhes, e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou.” João 6.26-27

      Muitos acham que Deus age quando temos fé ou tomamos alguma atitude, mas pondo a ação do Senhor como dependente de uma força do homem. Deus não depende do homem, mas ama o ser humano e deseja que esse seja melhor, não neste e para este mundo, mas nas virtudes morais e para a eternidade espiritual. Assim, na passagem de João 6.17-21 Deus age, não porque os discípulos tiveram uma mudança de mente que desencadeou o poder de Deus, mas porque os discípulos aprenderam o que o Senhor queria lhes ensinar com o acontecimento. Deus não precisa de nenhuma potência nossa, mas aguarda que nossa fraqueza seja assumida, para nos mostrar que a existência é bem mais que saciar o corpo, é vivificar o espírito.

Começa na mente

      “E, entrando no barco, atravessaram o mar em direção a Cafarnaum; e era já escuro, e ainda Jesus não tinha chegado ao pé deles. E o mar se levantou, porque um grande vento assoprava. E, tendo navegado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram a Jesus, andando sobre o mar e aproximando-se do barco; e temeram. Mas ele lhes disse: Sou eu, não temais. Então eles de boa mente o receberam no barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.” João 6.17-21

      Quando estamos com olhos e ouvidos espirituais mal calibrados, ocupados com o problema, mais que com solução de Deus, podemos confundir até a solução de Deus com outra coisa. O mar estava com fortes movimentos, um grande vento assoprava e os discípulos estavam sem a presença física, portanto naquele momento, visível, de Deus. Mas será que Deus não estava com eles? Claro que estava, sendo assim, se precisassem de ajuda, enviaria Jesus, ainda que de forma milagrosa, andando sobre as águas. Contudo, o medo era maior e vendo Jesus temeram, achando que fosse um fantasma ou outra coisa, mas era a solução de Deus. Quando a mente mudou, Deus agiu e o problema foi resolvido. 

Não basta querer ser

      “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.” Salmos 24.3-5

      Quando estamos na presença de Deus tudo muda, referências de prazer e de dor, dificuldades para amar, aflições do mundo. Tudo apequena-se sob o santo monte do Senhor, posição espiritual altíssima que o Santo Espírito nos coloca quando nos atrai para sair do pecado e estar perto de Deus. Mas e depois? Depois queremos ser melhores, não pecar mais, não odiar mais, não temer mais, não trocar a paz por coisas às vezes tão menores. Contudo, a vida precisa seguir, e é então que temos que fazer nossa parte, Deus já fez a dele, proporcionou-nos um novo estado de consciência, a esperança onde havia angústia e desânimo. Compete-nos agora segurar experiência espiritual no corpo físico, orando e vigiando para não mais pecar. Não basta querermos ser, devemos ser.