Dever de ser santo

      “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” Efésios 4.22-24

      Todos nós temos uma tendência, quanto mais fazemos certo, mais nos achamos no direito de fazer o errado. Até trabalhamos árdua e honestamente, adquirimos prosperidade material e honra entre os homens, mas por causa disso nos achamos no direito de termos vida moral inadequada, de fugirmos em vícios, de trairmos companheiros com os quais temos alianças afetivas. Quando o corpo se cansa esquece-se da dor da alma, perde o controle de qualidade, a urgência de vigilância moral, sente-se à vontade para pecar. Por isso trabalho que permite dignidade também pode ser vaidade, por isso Deus limita muitos, não para serem humilhados, mas para serem humildes e perseverarem em primeiro lugar no amor e na santidade. 

Quem precisa ser convencido?

      “Há alguns que falam como que espada penetrante, mas a língua dos sábios é saúde. O lábio da verdade permanece para sempre, mas a língua da falsidade, dura por um só momento. No coração dos que maquinam o mal há engano, mas os que aconselham a paz têm alegria. Nenhum agravo sobrevirá ao justo, mas os ímpios ficam cheios de problemas.” Provérbios 12.18-21

      Não estamos no mundo para convencer as pessoas, nem a Deus, mas a nós mesmos. Deus nos conhece, o que somos, o que podemos ser e o que seremos. As pessoas são limitadas para nos conhecerem, muitas nos julgam mal, outras nos amam e nos aceitam mesmo quando estamos errados, sempre verão coisas boas em nós. E quanto a nós, o que pensamos sobre nós? Na eternidade seremos avaliados pela verdade, no mundo essa verdade pode ser melhorada, mas só se conhecermos a verdade inicial, a aceitarmos para então aperfeiçoa-la. Muitos não aceitam o que são, vivem mentiras, na eternidade terão surpresas ruins, aqui tentaram convencer os outros sobre um lado bom que queriam ter, mas não assumiram para si o lado ruim.

Longe do falso

      “Aquele que murmura do seu próximo às escondidas, eu o destruirei; aquele que tem olhar altivo e coração soberbo, não suportarei. Os meus olhos estarão sobre os fiéis da terra, para que se assentem comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá.” Salmos 101.5-6

      Quem fala na primeira pessoa no salmo acima não é Deus, é o autor do salmo, um homem. Mas não é um homem qualquer, é alguém que é aprovado por Deus, portanto com direito legítimo de registrar as palavras acima. As palavras são extremas, será que temos vida para dizê-las? O salmista diz que destruirá o que fala mal de alguém por trás, que não suporta altivos e soberbos, antes, busca os fiéis e os retos para estarem com ele. No espírito do evangelho de amor de Jesus, não podemos usar o salmo ao pé da letra, mas podemos aprender com o princípio que ele ensina. Se somos aprovados por Deus, ainda que devamos amar a todos, não temos que gostar de todos. Você não precisa odiar alguém, mas fique bem longe do falso. 

Quando tudo tiver sido feito…

      “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” Romanos 8.18

      Chega um momento, quando todos os erros foram cometidos e perdoados, quando todas as chances foram usadas e todos os sonhos foram entregues, quando as prioridades foram conhecidas e a escolha certa foi feita. Nesse momento estamos em paz, sem exigências, nem cobranças, só uma espera confiante que Deus abrirá a porta certa quando achar melhor. A porta, então, se abre, a honra chega, mas não temos vaidade para expô-la aos homens, não nos iludimos mais com eles. Na maravilhosa sala de mistério que entramos, conhecemos os seres que sempre quisemos ser, que fazem o bem como recompensa por si só. Quando tudo tiver sido feito, provamos algum céu na Terra e começamos a entender a melhor eternidade.

Esforcemo-nos até o fim!

      “Esforçai-vos, e ele fortalecerá o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.” Salmos 31.24 

      Devo me esforçar enquanto espero me formar na faculdade? Devo me esforçar enquanto espero ser selecionado num bom emprego? Devo me esforçar até achar uma companheira ou um companheiro adequado para ter uma aliança afetiva? Devo me esforçar enquanto espero meu filho crescer, se formar e ter independência econômica? Não, devo me esforçar sempre, até o final, enquanto espero a avaliação que terei de Deus na eternidade por tudo que me esforcei para ser alguém moralmente melhor no mundo. Viver é esperar, não por segurança material, mas por aprovação espiritual e eterna de Deus, para esse esforço não há descanso, quanto mais nos esforçamos para sermos melhores, mais Deus nos fortalece para isso. 

No final, a glória!

      “Todavia estou de contínuo contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita. Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás na glória.” Salmos 73.23-24

      A versão NVI diz, “contudo, sempre estou contigo; tomas a minha mão direita e me susténs, tu me diriges com o teu conselho, e depois me receberás com honras”, não podemos afirmar que o salmista tenha usado a palavra glória no sentido de uma melhor eternidade. Contudo, podemos dizer que se andamos com Deus na Terra, no céu seguiremos nesse caminho, mas com a recompensa de sermos graduados com o que de melhor perseveramos no Terra. O que mais somos no mundo será nossa plenitude na eternidade, assim, ainda que tenhamos tido quedas e que alegria e paz tenham sido difíceis de serem seguradas, se nossa persistência em sermos santos, humildes e amorosos tiver sido maior, nossa posição será de honra e glória. 

Após perder tudo…

      “Pois eis que os que se alongam de ti, perecerão; tu tens destruído todos aqueles que se desviam de ti. Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor Deus, para anunciar todas as tuas obras.” Salmos 73.27-28

      O lado positivo de perdermos tudo é que depois, a mínima coisa que ganhamos, recebemos com muita gratidão e profunda humildade. Mas isso ocorre se perdermos tudo tiver nos ensinado a lição melhor, que Deus deve ser início, meio e fim de nossas vidas, caso contrário só seremos derrotados amargos, tentando ter tudo do jeito errado e para fins errados. Quem entrega sua vida nas mãos de Deus, quem autoriza-o a mostrar-lhe o melhor caminho, o da vida eterna, poderá ter que perder tudo para andar nesse caminho. Depois disso não se faz mais exigências, a ninguém se cobra e por nada, mas se faz o que se pode e se é grato pelo que recebe. Quando pouco é suficiente, vemos Deus em tudo e temos a paz que não se vai.