11/07/21

Se o outro não é razoável, seja espiritual (2/2)

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.” Daniel 10.12      

      “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Isaías 6.5      

      “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava. E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.” Ezequiel 1.28b, 2.1      

      Seguindo com a reflexão “Se o outro não é razoável, seja espiritual”, algumas coisas sobre o plano espiritual e nossa relação com ele. A primeira coisa é a consciência de que não temos que orar por todas as pessoas, podemos sentir claramente Deus dizendo, “essa pessoa já está em minhas mãos, não ore mais por ela”, e isso pode ser final. Contudo, isso às vezes pode não ser um não definitivo de Deus, mas apenas uma primeira impressão nossa, em outras palavras Deus pode estar dizendo: “cuidado, esse assunto é mais sério que você acha que é, se quiser interceder por essa pessoa terá que se comprometer mais espiritualmente”. Deus é responsável, não nos chama para algo além de nossos limites e orar por uma causa pode nos colocar numa guerra espiritual séria, se for o caso nos dará sensibilidade do que isso envolve (Daniel 10).
      A segunda coisa é sobre o medo que uma experiência espiritual mais profunda pode nos fazer sentir. Quando adquirimos intimidade com Deus e depois com o plano espiritual, e correm sérios riscos quem se atreve a “entrar” no mundo espiritual sem autorização e proteção do Altíssimo, aprendemos que sentir medo nem sempre signifiva estarmos próximos do mal ou de algo perigoso para nós. A proximidade de Deus e de seus anjos de luz também causa medo, mas nesse caso não é terror, opressão, mas temor, que exige de nós respeito por nos aproximarmos de algo santo e poderoso. Isaías teve essa experiência (Isaías 6), Ezequiel teve (Ezequiel 1), profetas de Deus se sentiram desfalecidos quando o céu se abriu para eles e seres santíssimos se manifestaram, terrível é a presença dos servos do mais alto escalão do Onipotente. 
      Sobre o título desta reflexão, devemos ser sempre espirituais, com ou sem razoabilidade alheia, mas muitas vezes basta-nos calma para dialogarmos quando negociamos com alguém sensato. Com outros, contudo, é preciso discernimento para não entrarmos em polêmicas, e se houver um assunto importante para nós em jogo a oposição pode, sim, ter apoio espiritual do mal, e por isso deve ser confrontada no mesmo nível e com as mesmas armas. Uma das estratégias do mal é nos levar a lutar com ele no campo de batalha dele, escolhido por ele. Como amigos de Deus não precisamos nos rebaixar a isso, não devemos ser arrogantes, mas discernirmos quando isso está para acontecer para nos retirarmos e buscarmos a Deus, autorizando o Senhor a lutar por nós, com armas espirituais numa batalha igualmente espiritual. 
      Outra coisa sobre os seres espirituais do mal: eles não têm poder sobre o mundo físico, pelo menos não com facilidade, quando têm é em eventos menores e com autorização de homens, como as ocorrências fantasmagóricas, movimento de objetos, barulhos etc, onde se exige que homens autorizem “espíritos” para agirem. Na maioria das vezes seres das trevas só influenciam os seres humanos em seus pensamentos e sentimentos, os que vivem na luz de Deus sentirão desconforto nisso e porão o diabo para correr, o mal não prevalece sobre os filhos da luz. Contudo, aqueles que se entregam ao mal neste mundo, mantêm na mente raciocínios e intenções ruins, não buscam cura emocional e seguem doentes no espírito, esses dão legalidade aos espíritos maus, pois acham em suas influências empatia para suas maldades e vaidades.
      Nós evangélicos nos acostumamos com um estereótipo de pessoa endemoniada que pode não condizer com um tipo de obsessão do mal muito comum nos dias atuais, são pessoas que se você colocar a mão na cabeça e orar nada vai acontecer, ao contrário, elas poderão zombar de você e te porem para correr. Precisamos ser mais sábios nos dias de hoje, muitos cristãos continuam vivendo um cristianismo ultrapassado, muitas coisas não são hoje e não serão no futuro da maneira física e ao pé da letra como eles interpretam a Bíblia. O ser humano evoluiu intelectualmente e em sua relação com a espiritualidade, assim o mal não age e se manifesta de maneira tão simples e explícita. Nem todo “satanista” perde o controle de sua consciência e fica endemoniado, lançando-se ao chão e falando sacrilégios só com a visão da cruz. 
      É preciso oração em santidade e com a autoridade de Jesus para “expulsar demônios”, isso nunca vai mudar (Marcos 9.28-29), mas mesmo essa expulsão pode ser só temporária, para mudanças definitivas os “endemoniados” precisam escolher mudar. Numa libertação temporária as pessoas terão chance de decidir com mais clareza e justiça sobre uma causa que tem a ver com as nossas vidas, mas não é definitiva porque apesar de podermos afastar a influência espiritual das trevas, se depois as pessoas quiserem atrairão essa influência novamente para elas, no mundo espiritual semelhantes se atraem. Assim, se precisarmos novamente que as pessoas não nos prejudiquem, ou oramos o tempo todo por elas, ou tentamos aconselhá-las a mudarem de vida (Mateus 5.25), dessa forma serão melhores e não poderão mais nos fazer mal. 
      Entendamos corretamente esse assunto, do mal estamos protegidos sempre que andamos certo com Deus, assim não é porque temos um colega de trabalho, de escola ou um parente, que tem ligações mais fechadas com demônios, que estamos o tempo todo em perigo. O mundo espiritual tem espaços geográficos bem delimitados por Deus e os “seres espirituais” respeitam isso, desde que não invadamos seus limites. Mas o ponto dessa reflexão foi sermos orientados a fazer uma “oposição espiritual” contra uma pessoa com quem temos um assunto a resolver, assim, de algum jeito nosso “espaço” cruzou o “espaço” dessa pessoa, há interesses, ainda que materiais, em comum. O sábio é depois de resolvido o assunto, dando-nos Deus vitória em nossa causa, se a pessoa não se converteu a Deus, mantermos distância segura. 
      A verdade é que certas pessoas não dão abertura para diálogo razoável, por isso precisamos orar por elas à distância. A melhor espiritualidade é realizada em segredo, principalmente para interceder por pessoas que insistem em se colocarem como nossas opositoras, quem não entender isso será esbofeteado várias vezes, humilhado e injustiçado, sem forças para reagir. Por quê? Porque com certas pessoas não tem papo, e se acharmos que é possível, que como cristãos podemos resolver o problema com uma boa conversa, só estaremos alimentando ansiedade e até construindo doenças dentro de nós. Com certas pessoas não devemos ter mais boas expectativas, devemos ser educados e mantermos distância, ainda que em nossos momentos de oração lutemos por elas em amor esperando que elas escolham mudar. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 19/02/21

10/07/21

Se o outro não é razoável, seja espiritual (1/2)

      “Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo. Porquanto os meus inimigos retornaram, caíram e pereceram diante da tua face. Pois tu tens sustentado o meu direito e a minha causa; tu te assentaste no tribunal, julgando justamenteSalmos 9.2-4

      “Deus não revogará a sua ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos. Quanto menos lhe responderia eu, ou escolheria diante dele as minhas palavras! Porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.Jó 9.13-15

      “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Efésios 6.12

      Com muitas pessoas podemos chegar a um entendimento conversando, às vezes não é uma negociação fácil, mas é possível, e isso em áreas diversas, seja profissional, afetiva ou outra. Com outras pessoas não é necessário nem trabalho de negociação, há uma concordância fácil e justa para ambos os lados. Contudo, com algumas o diálogo é impossível, as pessoas parecem falar uma língua diferente da nossa, e por mais que tentemos conduzir as coisas para um campo de paz, elas são beligerantes, parece que se sentem sempre lesadas de alguma maneira por nós, sendo que isso não reflete de maneira alguma nossas intenções. Quando um lado não pode ser razoável é preciso que o outro seja mais que hábil, e em termos cristãos, seja espiritual, é preciso colocar o negócio nas mãos de Deus e pedir sua ação. 
      Em toda questão difícil, conforme a ótica espiritual do evangelho (e não da justiça material e ao pé da letra do antigo testamento) precisamos considerar dois entendimentos, um sob o nosso ponto de vista e um segundo sob o ponto de vista do outro. Por mais difícil que possa parecer, como cristãos temos que analisar o ponto de vista do outro avaliando a possibilidade do outro estar sendo duro conosco por causa de um erro nosso, não dele. O espiritual não vê um conflito como uma guerra, onde ele é a vítima inocente que precisa que Deus aja com seu poder a seu favor, dando ao outro o papel de inimigo, ele entende que todos somos em alguma instância opressores e oprimidos, como sempre falamos aqui, todos precisam da misericórdia de Deus e podem ser ajudados pelo amor do Altíssimo (Mateus 5.44). 
      Se nos sentimos oprimidos por alguém, olhemos antes para nós mesmos e nos avaliemos, verifiquemos se há algum motivo para merecermos tal opressão. Façamos isso antes de pedirmos mão pesada de Deus sobre os outros, entendamos o que precisamos mudar, onde devemos ser melhores para não recebermos opressão como efeito de atitude errada nossa. Isso é nos aproximarmos de Deus com humildade, sem nos acharmos com mais direitos que os outros por sermos vítimas ou mais ”chegados” do Senhor (e Deus quer ser amigo de todos, não só de nós). Mas mesmo que nos avaliemos como justos, não peçamos vingança, mas misericórdia do Senhor para os outros. Se estivermos errados, sejamos humildes, mas se estivermos certos, sejamos ainda mais humildes, sejamos sempre espirituais, só assim venceremos. 
      Esse posicionamento espiritual inicial sério é de suma importância para que ajamos de forma correta com os desarrazoados. Se o homem não pode contra o homem, Deus pode agir contra forças espirituais que podem estar influenciando o homem, e não contra o homem, já que nem Deus vai contra o livre arbítrio humano. Deus, contudo, só age em prol dos que chegam a ele do jeito certo. A ação de Deus é em sua origem espiritual e como consequência tem efeitos no plano material, toda ação espiritual interfere no material, seja benigna ou maligna. Quando pedimos uma interferência de Deus estamos entregando uma causa nas mãos dele para que ele aja de forma espiritual sobre agentes espirituais, que nós, seres encarnados, não temos como agir contra. Mas por que o conflito tem que ser levado a esse nível? 
      Nem todos que vivem vidas longe de Deus se colocam diretamente de forma injusta contra os outros. Quem não tem um nível moral adequado atrai para si seres espirituais que prejudicam sua vida privada, o prendem a vícios, mas esses seres não farão, necessariamente, mal aos outros, assim quem vive dessa forma pode precisar de oração por sua vida, mas não por prejudicar os outros. Mas existem pessoas que fazem o contrário, têm vidas morais adequadas, não são escravas de vícios, são boas cidadãs, mas alimentam dentro de si ódios, invejas, rancores, que atraem espíritos maléficos que potencializam assuntos internos não resolvidos e projetam isso nos outros, um desconforto espiritual pessoal que acaba descontando nos outros injustiças e intransigências. São por esses que podemos ser levados a lutar espiritualmente. 
      Quando alguém se coloca contra quem está com a vida em harmonia com Deus e cria um embate que não pode ser resolvido de forma racional, essa pessoa pode estar sob influência de espíritos malignos, que podem estar acentuando sua falta de razoabilidade, oprimindo seus sentimentos e convencendo sua mente sobre determinado posicionamento. Muitas vezes não temos ideia de quantas mentiras alguém que se afasta de Deus pode manter em sua alma, eis um ambiente perfeito para a atuação de “demônios”. Por essas pessoas podemos ser levados a fazer guerra espiritual, não contra elas, mas contra o mal que as oprime e que elas mesmas atraíram. Isso pode exigir de nós consagração e oração diferenciadas, para entendermos como alguém pode estar amarrado no fundo de um poço sob o peso de seres espirituais das trevas. 
      Nosso trabalho nessa guerra é clamar para que a luz mais alta e poderosa de Deus destrua as trevas e toque a consciência da pessoa, levando-a a sair de sua irrazoabilidade, isso não é algo fácil e rápido. Guerra espiritual se faz com santidade, autorização de Deus, mas também com amor, afinal de contas tem uma vida humana envolvida e sofrendo, não a de quem está lutando, mas a daquele por quem se está lutando. Se o homem não pedir Deus não age? Exato, Deus não age. Não basta dizermos que nossas vidas estão entregues nas mãos do Senhor, de forma protocolar e religiosa, é preciso um envolvimento maior nosso, e é assim não só para que uma questão material seja resolvida a nosso favor, mas para que cresçamos espiritualmente e alguém, justamente quem se colocou como nosso inimigo, seja libertado. 
      O problema não é o problema, mas a maneira como interagimos com ele, a solução não é algo posterior manifestado no plano físico, mas um posicionamento anterior no plano espiritual. A vontade de Deus talvez nem seja quebrar o coração de um teimoso para nos abençoar, mas abençoar o teimoso, levando-nos a lutar por ele. Parece uma “piada cósmica”, quem se coloca como nosso inimigo ter em nós o único amigo que lutará por ele, mas não é piada não, são os maravilhosos caminhos do Senhor usando-nos para abençoar os outros. Não pense que a recompensa será um aumento de salário, mas a vida de seu chefe libertada do mal, e como consequência seu coração estará quebrantado o suficiente para aumentar teu salário. Qual foi o maior ganho nesse exemplo, dinheiro ou um amigo? Lutemos por amigos e não nos faltará nada. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 19/02/21

09/07/21

Não é fácil ser bom

      “Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.I Pedro 4.8-10

       Não sei você, mas para mim não é fácil ser bom, eu preciso estar numa vigilância constante, me esforçar muito, para ser principalmente paciente, e consequentemente, amoroso, não conseguimos amar sem estarmos em paz e ter paz é não se incomodar com o mundo externo. Entretanto, se precisamos nos esforçar tanto para amar o outro, será que o problema está no outro ou em nós? Em nós, com certeza, mas como pode ser difícil nos controlarmos para sermos bons e não seres em conflito que perdem a paz por qualquer coisa. Sei que estou enganado, mas olhando de fora para algumas pessoas, elas me parecem tão controladas, tão benignas, demonstram tranquilidade com tanta facilidade, parece que nada, ou muito pouco, as desestabilizam, olhando de fora chego a invejá-las. 
      Mas como eu disse, sei que estou enganado, todos têm grandes conflitos internos, ninguém é perfeito, senão não estariam neste mundo em expiação, a diferença é que alguns escondem seus conflitos mais facilmente. Será que essa facilidade melhora as coisas? Talvez não, quem esconde melhor o problema tem a tendência de manter o problema sem solução por mais tempo, já que se os outros não sabem, parece que está tudo bem, nos preocupamos mais com aparência externa que com a verdade no interior. Não sei você, o ponto, contudo, é que eu enfrento uma batalha diária para deixar Deus brilhar em mim, para não ser estúpido com os outros, para não julgar mal, para ter paciência, para estar em paz e amar sempre com o amor sacrificial de Jesus, e essa luta me faz sofrer muito, meu Deus sabe. 
      Talvez, sentir que se está perdendo constantemente uma batalha tenha um lado bom, significa que continuamos combatendo, que não desistimos, já que muitos não perdem mais batalhas porque simplesmente pararam de lutar, perderam tantas vezes que concluíram que não valia mais a pena. Muitos, cansados de se humilharem e pedirem perdão, assumiram para si que o problema está nos outros, não neles, que se eles não têm paciência com os outros é porque os outros são insuportáveis, não são eles que são estúpidos. Isso parece estranho? Mas digamos a verdade, não é assim que na prática e com o tempo, nós e muita gente age, no meio familiar, com os irmãos na igreja, com os colegas de trabalho, no trânsito? Nos dias atuais, quando vivemos em constante pressão, paciência parece ser um luxo. 
      Como sabemos se isso ocorre conosco? Simples, respondendo a uma pergunta: há quanto tempo eu não peço perdão para alguém? Ou pelo menos, há quanto tempo eu não peço perdão a Deus pela falta de paciência que tenho com os outros? Isso é assumir que fomos deficientes no amor. Não basta pedir perdão a Deus por pecados mais explícitos e que cometemos sozinhos, em segredo, muitas vezes até nossa oração e assunções de pecados são feitas por orgulho, para nos sentirmos com a consciência tranquila, enquanto o principal que o evangelho manda, amar o próximo, não fazemos. Sim, é preciso uma batalha constante, não só por santidade moral e por disposição de justiça na área material, é preciso que lutemos pelo amor, ele será exaltado acima da fé na eternidade, ele cobre multidão de pecados. 
      Como nos ensina Pedro no texto inicial, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, todos podemos ser úteis aos outros de alguma maneira. Nem todos temos uma amabilidade fácil e leve no jeito de ser, a vida fez muitos de nós duros e mesmo um pouco frios, muitos de nós tivemos que achar um jeito para vivermos com o passado, com a dor e com a solidão. Mas o que tem o Espírito Santo com liberdade dentro de si, achará um jeito de servir, um jeito de ser bom, mesmo que seja escrevendo textos para pessoas que nunca vai conhecer (pelo menos neste mundo), como é o caso deste que vos escreve, ou orando nas madrugadas por pessoas que não fazem a mínima ideia do quanto são importantes para nós, do quanto nós as amamos e queremos para elas tudo o que há de melhor em Deus. 

08/07/21

Sofrimento merecido (?)

      “O estrangeiro, que está no meio de ti, se elevará muito sobre ti, e tu mais baixo descerás; ele te emprestará a ti, porém tu não emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenadoDeuteronômio 28.43-45

      Você admite os sofrimentos e injustiças que recebe como merecidos, que por conta de escolhas erradas e atitudes sem amor você merece o tratamento deselegante de muitos e as oportunidades ruins ou ausentes que você experimenta, por exemplo, em tua vida profissional? Em primeiro lugar, antes de refletirmos mais nessa questão e em sua resposta, vamos entender melhor sobre a que nos referimos com “merecer”. Este mundo é injusto, as pessoas são egoístas, e nisso estamos incluído, assim também somos injustos e egoístas, contudo, existem, sim, coisas que sofremos sem merecer. 
      Tem muita gente que sofre por causa da ganância e de preconceitos dos outros, que só pensam em si mesmos, que só querem receber e não querem dar ou servir os outros. Isso é verdade, assim muitas coisas não devemos simplesmente aceitar como coisas que merecemos ou que não podemos modificar, temos que reagir e superar, a partir de uma atitude honesta, corajosa e crédula que muitas realidades podem ser mudadas para melhor. Como sempre falo aqui, principalmente em relações afetivas, casamentos, namoros, famílias, violação e exploração não devem ser aceitas! 
      Contudo, a pergunta inicial se refere a algo mais profundo, que vai além do mal que os outros fazem a nós, se refere ao mal que nós mesmos fazemos, contra os outros e contra nós mesmos. Temos consciência que também somos maus, que também somos injustos, que também escolhemos mal? Ou em nome de nosso prazer achamos desculpas para fazermos qualquer coisa e pensamos que isso é legítimo porque temos direito à liberdade e a usufrutos? Um ser humano maduro avalia os outros mas também se avalia, é exigente com afeto recebido mas também é correto com o que dá aos outros.
      Digo agora algo aos mais velhos, aos que já tiveram oportunidades de errar e de acertar, aos que sabem discernir o mal dos outros do mal de si mesmos. Avaliar a vida de maneira geral no tempo, entender a grande maioria das dores que experimentamos como consequências de erros nossos e portanto merecidos, não erros dos outros, ainda que tenham sido erros que cometemos quando nos permitimos viver sob relações injustas e violentas, é atitude de profunda humildade espiritual, de assumirmos nossa parte na existência e de não jogarmos a culpa nos outros, na vida ou mesmo em Deus. 
      Procuramos sempre que possível analisar um tema sobre todas as perspectivas, assim enquanto é sábio verificarmos até que ponto não somos vítimas, mas merecedores do que recebemos neste mundo, também não é sábio dizermos que alguém sofre porque merece sofrer. Não julguemos porque não temos amor suficiente para sermos justos juizes, e porque não sabemos como cada um administra seu sofrimento ainda que merecido. Às vezes alguém que sofre por merecimento é mais feliz que alguém que agiu corretamente e por isso nos parece não ser merecedor de nenhum sofrimento ou injustiça. 
       Não gostamos, em sã consciência, de textos bíblicos como o inicial, que diz serei cauda e meu inimigo será cabeça, gostamos de ler o oposto, mas a verdade é que passamos grande parte de nossas vidas reais sendo mandados e oprimidos pelos outros, todos nós, de alguma maneira. Deve ser assim para que aprendamos o caminho da humildade, para sermos provados e então aprovados, e não estamos neste mundo por outro motivo. “Eu mereço grande parte das injustiças que sofro, se não pelo que fiz neste mundo por motivos que Deus sabe, e eu humildemente aceito isso, até o fim”.
      A palavra desta reflexão, assim como as últimas desta semana, são duras, mas palavras duras ditas pelo Senhor são orientações em amor. Elas não têm o objetivo de nos humilhar, mas de nos ensinar a viver corretamente, conhecendo a Deus e seguindo-o. Assim, sejamos humildes, aceitemos certas realidades, mas confiantes, Deus protege de maneira especial os humildes. “Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos. O que atenta prudentemente para o assunto achará o bem, e o que confia no Senhor será bem-aventurado” (Provérbios 16.19-20). 

07/07/21

Para onde a hipocrisia nos leva?

      “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.Apocalipse 3.15-16

      Quem convive por um tempo em igrejas cristãs, se for honesto, constatará hipocrisia, mas se for sincero verá que essa não existe só nas vidas dos outros, mas na dele também. Hipocrisia é dizer, mas não viver, mesmo crer e pregar a teoria, mas não conseguir pô-la em prática. A palavra de Deus que sai da boca de Deus por Jesus e chega a nós pelo Espírito Santo, sempre pode ser praticada, a não ser que não queiramos, já palavras de homens, mesmo contendo Bíblia e ditas de púlpitos, até podem ser vividas, mas só até um ponto. 
      Quem não vive não sabe e não deveria ensinar, e quem ouve esses falsos mestres fatalmente cairá na hipocrisia. A hipocrisia é o segundo de dois pecados, o primeiro é dar ouvidos a palavras erradas, o segundo é não assumir que essas palavras são erradas. O hipócrita, acima de tudo, quer agradar a homens mais que a Deus, quer aprovação de pessoas que são importantes para ele, morre de medo de ir contra a religião, e não pode admitir que não está conseguindo praticar aquilo que ela diz ser a vontade de Deus para sua vida. 
      Mas num determinado momento vemos que não somos só nós que não praticamos e mentimos a respeito disso, os outros também fazem o mesmo, nesse momento podemos nos revoltar, ver cair por terra um mundo no qual vivíamos e acreditávamos. Quando isso ocorre podemos ir para um de dois lados: ou largamos a fé mais pura e criamos um cristianismo conveniente, baseado em mágoa e ceticismo, ou então buscamos a Deus para saber o que ele de fato quer de nós. Ambas as escolhas nos colocarão em oposição à religião. 
      Existe uma terceira opção, que a maioria escolhe, é dizer que as coisas são assim mesmo, que ninguém é perfeito, que temos que aceitar as coisas dessa forma e que errados são os que se afastam das igrejas porque prestam mais atenção nas vidas alheias. Essa terceira opção na verdade é o álibi que muitos acham para serem hipócritas e viverem bem com hipócritas, eles não entendem que essa não é a vontade de Deus para ninguém. Esses não são sábios ou equilibrados, como podem se achar, mas os mornos do texto bíblico inicial. 
      Vencemos a hipocrisia com dois conhecimentos: primeiro desligando religião de Deus, segundo crendo que Deus tem mais para nós que a religião. O primeiro conhecimento é muito difícil de ser assimilado, principalmente na religião cristã com sede no Vaticano onde achamos pessoas que temem mais o papa que a Deus, só pensar que o que eles ouvem nos templos não é de Deus os faz sentir nas pernas as labaredas do inferno. Mas protestantes e evangélicos também têm esse terror, por isso muitos seguem hipócritas e infelizes. 
      O segundo conhecimento é o que separa meninos de homens, amigos de Deus de religiosos, ele é o fim da hipocrisia e o início de uma jornada rumo ao Altíssimo, onde a intimidade do Senhor é conhecida. O verdadeiro conhecimento de Deus é vida e na vida há prática de amor e santidade que religião não pode dar porque é conhecimento de homem, ainda que sobre Deus. Hipocrisia é inevitável, mas escolher o que seremos depois de constatá-la não é. O que escolhemos ser: hipócritas que temem a religião ou amigos do Altíssimo? 

06/07/21

Não traia um amigo

      “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?Tiago 4.4-5

      Quando pecamos, principalmente aqueles pecados mais secretos, que na maioria das vezes ninguém fica sabendo e que diretamente não prejudica a ninguém a não ser a nós mesmos, traímos um amigo, e isso, sim, de maneira objetiva e profunda, qual amigo é esse? O Espírito Santo. Sempre reafirmamos aqui que Deus, o Esprito Santo e Jesus (esse após ressurreição e ascensão), são espíritos, não homens físicos, e possuem qualidade morais superiores às dos homens. Dessa forma o Espírito Santo não se machuca, não se ira, não se afasta, mas nós, seres humanos encarnados, temos a percepção, em nossas almas limitadas pelos corpos físicos, que traímos o Espírito Santo quanto pecamos. Nos sentimos machucados, frios, distantes, e podemos até achar, como até escritores bíblicos acharam, que é Deus quem está ressentido conosco. 
      Isso nem tem tanta importância, o importante é sabermos que pecado tem um preço e que precisamos pagar esse preço. O preço não é algum tipo de trabalho para nos dar crédito para recebermos perdão, não, perdão é gratuito e o temos no momento em que o pedimos, o preço é adquirirmos e mantermos nossa sensibilidade moral. Morte espiritual nada mais é que frieza, insensibilidade afetiva, moral e espiritual, e muitos, ainda que bons cidadãos e mesmo bons cristãos, estão mortos. Mortos não fazemos amizades positivas, a não ser ligações com pares, outros mortos, insensíveis, escarnecedores das virtudes, maliciosos que não acreditam no perdão e em perdoados porque não pedem mais perdão e seguem não perdoados. Mortos não se importam em “machucar” o melhor amigo que podemos ter, o Espírito Santo de Deus. 
      Muda bastante nossa relação com Deus quando entendemos que o pecado não é algo que nos torna filhos piores, maridos piores, religiosos piores, não só isso, mas amigos piores, e não de qualquer ser, de Deus. Amizade é superior à relação entre patrão e empregado, entre general e soldado, entre senhor e servo, porque ela é uma relação entre iguais. Não, não somos iguais a Deus, ainda bem, ele é muito superior, em amor, santidade, poder e fidelidade, mas o Espírito Santo se coloca como nosso amigo, sempre disponível para nos aconselhar e consolar, então, quando pecamos, ele está ao nosso lado, assistindo-nos pecar. Se não sentimos vergonha fazendo algo errado na frente de alguém que nos ama e zela pela nossa saúde moral, então, algo muito errado está acontecendo conosco. Sejamos sensíveis e não traiamos um amigo. 

05/07/21

Nós confiamos em Deus!

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus. Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé.Salmos 20.7-8

      O salmista usa o argumento confiar em carros e cavalos num contexto de guerra física, onde esses veículos e esses animais conferem poder armamentista contra inimigos físicos. De fato carruagens de guerra e cavalos eram os equipamentos que permitam velocidade e proteção em conflitos de mil e quinhentos anos atrás, tê-los em quantidade com homens peritos em usá-los podia definir a vitória numa guerra. Contudo, o salmista, ciente disso, diz que confiar em Deus é melhor que confiar em carros e cavalos, ser autorizado por Deus para uma guerra, tendo Deus ao seu lado, confere mais capacidade de vitória que outros recursos, mesmos os mais atuais e tecnológicos.
      E nós, hoje em dia, em que guerras estamos envolvidos, e se estamos, quais são os instrumentos que os homens confiam para serem vitoriosos nessas guerras? Somos como qualquer homem, ainda que crendo em Deus, confiamos nas forças materiais, nas capacidades e ferramentas que os olhos podem ver, que as mãos podem construir e usar, que a ciência entrega? Ou de fato sabemos que um Deus espiritual e invisível é mais poderoso que qualquer coisa ou ser no universo? Os que não confiam em Deus encurvam-se e caem, ainda que bem preparados e mesmo bem intencionados, mas os que fazem menção do nome do Senhor se levantam, permanecem de pé e são vitoriosos para a glória de Deus. 
      Pode ter certeza que o rei Davi ia a guerras com ótimos carros, cavalos e cavaleiros, ele não desprezava a tecnologia de seu tempo, da mesma maneira nós hoje temos que ser sábios e esforçados, trabalharmos com a ciência do lado. Contudo, ainda que fazendo a nossa parte e com muita diligência, confiando a vitória no nome do Senhor, não no que temos ou fazemos, mesmo fazendo o melhor e tendo tudo que nos é possível. Ninguém seja insensato com a realidade física, com estudo, com trabalho, com ciência, mas também não seja cético com o mundo espiritual. Cavalos, carros, computadores, dinheiro, estudo, ciência, determinação física, tudo isso passará, Deus é espírito e é para sempre.