domingo, julho 11, 2021

Se o outro não é razoável, seja espiritual (2/2)

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.” Daniel 10.12      

      “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Isaías 6.5      

      “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava. E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.” Ezequiel 1.28b, 2.1      

      Seguindo com a reflexão “Se o outro não é razoável, seja espiritual”, algumas coisas sobre o plano espiritual e nossa relação com ele. A primeira coisa é a consciência de que não temos que orar por todas as pessoas, podemos sentir claramente Deus dizendo, “essa pessoa já está em minhas mãos, não ore mais por ela”, e isso pode ser final. Contudo, isso às vezes pode não ser um não definitivo de Deus, mas apenas uma primeira impressão nossa, em outras palavras Deus pode estar dizendo: “cuidado, esse assunto é mais sério que você acha que é, se quiser interceder por essa pessoa terá que se comprometer mais espiritualmente”. Deus é responsável, não nos chama para algo além de nossos limites e orar por uma causa pode nos colocar numa guerra espiritual séria, se for o caso nos dará sensibilidade do que isso envolve (Daniel 10).
      A segunda coisa é sobre o medo que uma experiência espiritual mais profunda pode nos fazer sentir. Quando adquirimos intimidade com Deus e depois com o plano espiritual, e correm sérios riscos quem se atreve a “entrar” no mundo espiritual sem autorização e proteção do Altíssimo, aprendemos que sentir medo nem sempre signifiva estarmos próximos do mal ou de algo perigoso para nós. A proximidade de Deus e de seus anjos de luz também causa medo, mas nesse caso não é terror, opressão, mas temor, que exige de nós respeito por nos aproximarmos de algo santo e poderoso. Isaías teve essa experiência (Isaías 6), Ezequiel teve (Ezequiel 1), profetas de Deus se sentiram desfalecidos quando o céu se abriu para eles e seres santíssimos se manifestaram, terrível é a presença dos servos do mais alto escalão do Onipotente. 
      Sobre o título desta reflexão, devemos ser sempre espirituais, com ou sem razoabilidade alheia, mas muitas vezes basta-nos calma para dialogarmos quando negociamos com alguém sensato. Com outros, contudo, é preciso discernimento para não entrarmos em polêmicas, e se houver um assunto importante para nós em jogo a oposição pode, sim, ter apoio espiritual do mal, e por isso deve ser confrontada no mesmo nível e com as mesmas armas. Uma das estratégias do mal é nos levar a lutar com ele no campo de batalha dele, escolhido por ele. Como amigos de Deus não precisamos nos rebaixar a isso, não devemos ser arrogantes, mas discernirmos quando isso está para acontecer para nos retirarmos e buscarmos a Deus, autorizando o Senhor a lutar por nós, com armas espirituais numa batalha igualmente espiritual. 
      Outra coisa sobre os seres espirituais do mal: eles não têm poder sobre o mundo físico, pelo menos não com facilidade, quando têm é em eventos menores e com autorização de homens, como as ocorrências fantasmagóricas, movimento de objetos, barulhos etc, onde se exige que homens autorizem “espíritos” para agirem. Na maioria das vezes seres das trevas só influenciam os seres humanos em seus pensamentos e sentimentos, os que vivem na luz de Deus sentirão desconforto nisso e porão o diabo para correr, o mal não prevalece sobre os filhos da luz. Contudo, aqueles que se entregam ao mal neste mundo, mantêm na mente raciocínios e intenções ruins, não buscam cura emocional e seguem doentes no espírito, esses dão legalidade aos espíritos maus, pois acham em suas influências empatia para suas maldades e vaidades.
      Nós evangélicos nos acostumamos com um estereótipo de pessoa endemoniada que pode não condizer com um tipo de obsessão do mal muito comum nos dias atuais, são pessoas que se você colocar a mão na cabeça e orar nada vai acontecer, ao contrário, elas poderão zombar de você e te porem para correr. Precisamos ser mais sábios nos dias de hoje, muitos cristãos continuam vivendo um cristianismo ultrapassado, muitas coisas não são hoje e não serão no futuro da maneira física e ao pé da letra como eles interpretam a Bíblia. O ser humano evoluiu intelectualmente e em sua relação com a espiritualidade, assim o mal não age e se manifesta de maneira tão simples e explícita. Nem todo “satanista” perde o controle de sua consciência e fica endemoniado, lançando-se ao chão e falando sacrilégios só com a visão da cruz. 
      É preciso oração em santidade e com a autoridade de Jesus para “expulsar demônios”, isso nunca vai mudar (Marcos 9.28-29), mas mesmo essa expulsão pode ser só temporária, para mudanças definitivas os “endemoniados” precisam escolher mudar. Numa libertação temporária as pessoas terão chance de decidir com mais clareza e justiça sobre uma causa que tem a ver com as nossas vidas, mas não é definitiva porque apesar de podermos afastar a influência espiritual das trevas, se depois as pessoas quiserem atrairão essa influência novamente para elas, no mundo espiritual semelhantes se atraem. Assim, se precisarmos novamente que as pessoas não nos prejudiquem, ou oramos o tempo todo por elas, ou tentamos aconselhá-las a mudarem de vida (Mateus 5.25), dessa forma serão melhores e não poderão mais nos fazer mal. 
      Entendamos corretamente esse assunto, do mal estamos protegidos sempre que andamos certo com Deus, assim não é porque temos um colega de trabalho, de escola ou um parente, que tem ligações mais fechadas com demônios, que estamos o tempo todo em perigo. O mundo espiritual tem espaços geográficos bem delimitados por Deus e os “seres espirituais” respeitam isso, desde que não invadamos seus limites. Mas o ponto dessa reflexão foi sermos orientados a fazer uma “oposição espiritual” contra uma pessoa com quem temos um assunto a resolver, assim, de algum jeito nosso “espaço” cruzou o “espaço” dessa pessoa, há interesses, ainda que materiais, em comum. O sábio é depois de resolvido o assunto, dando-nos Deus vitória em nossa causa, se a pessoa não se converteu a Deus, mantermos distância segura. 
      A verdade é que certas pessoas não dão abertura para diálogo razoável, por isso precisamos orar por elas à distância. A melhor espiritualidade é realizada em segredo, principalmente para interceder por pessoas que insistem em se colocarem como nossas opositoras, quem não entender isso será esbofeteado várias vezes, humilhado e injustiçado, sem forças para reagir. Por quê? Porque com certas pessoas não tem papo, e se acharmos que é possível, que como cristãos podemos resolver o problema com uma boa conversa, só estaremos alimentando ansiedade e até construindo doenças dentro de nós. Com certas pessoas não devemos ter mais boas expectativas, devemos ser educados e mantermos distância, ainda que em nossos momentos de oração lutemos por elas em amor esperando que elas escolham mudar. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 19/02/21

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