22/03/22

Pão da Vida (51/90)

      “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
  João 6.57-58

      Faça o que tem que fazer agora e da melhor maneira, não deixe para depois, nem faça de qualquer jeito. O homem que teme ao Senhor conseguirá sincronizar sua vida com a vontade de Deus, de forma que consiga fazer o seu melhor dentro do plano perfeito do Altíssimo. Achar no coração forças para trabalhar com a força de Deus, faz do homem instrumento de luz que destrói toda treva. A luz, a força, o amor e a justiça de Deus, são eternos e constantes, o ser humano, contudo, neste mundo, sempre tende à morte, ainda que seu espírito possa viver eternamente em Deus, seu corpo físico tem roteiro com começo, meio e fim. A única certeza que temos na vida é que um dia vamos morrer. 
      No jovem existe uma energia natural, efeito de elementos de seu corpo que estão funcionando no apogeu, que são potencializados por um emocional ainda não profundamente impressionado por culpa e dor. Isso conduz à impulsividade que tanto leva a irresponsabilidades quanto a empreendimentos audaciosos. Com o tempo o corpo cansa e o emocional pesa, filtros são criados, mecanismos que tentam impedir que novas culpas e dores se instalem. Isso diminui a velocidade da caminhada e freia a aventura de viver, mas não ocorre na mesma velocidade com todos. Alguns parecem velhos ainda em corpos jovens, e outros, mesmo envelhecidos no corpo, mantêm uma energia jovial na alma.
      Que não cheguemos no final com o arrependimento de não termos feito algumas coisas. Arrependidos de termos feito outras coisas, isso sim, e isso pode nem ser um problema, mas só consequências de quem ao menos tentou viver. O que vier ao teu coração de bom, faça-o, sem timidez, seja um projeto profissional, seja um contato amistoso com alguém, seja um pedido de desculpas, seja uma declaração de amor a quem divide com mais proximidade o curto tempo neste mundo com você. Não se canse de perdoar, de mudar de opinião, de amar, de ler e aprender, não se canse de se transformar para melhor. Vá a pé, se não conseguir vá de bicicleta, se não puder vá de ônibus, mas mova-se, em frente.
      Quando não puder se mover mais, ore mais, para fazer isso só precisa calar a mente, acalmar o coração e abrir ouvidos e olhos espirituais, e eis um trabalho tão maravilhoso quanto necessário, principalmente nos dias atuais, orar. Essa é a última aventura do homem, que ainda que o tenha acompanhado por toda a vida, pode ser instrumento poderoso nas mãos do Espírito Santo no final da jornada humana. Se o corpo cansa, o espírito se renova e se prepara para o melhor que está depois do último suspiro do invólucro material que encapsula a alma. A jornada é sem fim e será de ressurreição para a vida eterna, se o ser tiver comido e bebido, no mundo, do corpo e do sangue do Cristo, eis um mistério. 
      No texto bíblico de Salomão, no final desta reflexão, há sabedoria e poesia, mas não é exatamente isso que o homem é chamado a viver no mundo? A vida não pode ser só fascinação pela paixão dos sentidos do corpo, que encanta-se com a poesia, mas também é inviável para ser só sabedoria espiritual. O desafio está na conciliação de ambos, corpo e alma. A chave do mistério da vida eterna é revelada no texto de João, também no final desta reflexão, que aos olhos desatentos pode parecer descrição de um ato de canibalismo. Não é, é uma experiência plenamente espiritual, de comunhão profunda com tudo que Jesus é. Temos nos alimentado do pão da vida ou apenas celebrado religiosamente o que ele é? 
      Por que Jesus usou simbologia tão forte? Porque se a interação do homem com Jesus não for assim, de integrar de tal maneira, não só ensinos morais evangélicos, mas também a pessoa espiritual do Cristo ao seu ser, o homem não provará tudo que Deus revelou pela obra de seu filho. Jesus é uma manifestação única e poderosa do mundo espiritual, nenhum outro fundador de religião, profeta, sábio, que já pisou o planeta Terra, se compara ao Cristo. Só Jesus é a pão da vida que liberta da morte, mas pão é para ser comido, não só admirado. Infelizmente é isso que muitas religiões cristãs ensinam, com medo dos homens saberem a verdade, a olhar de longe, mas a não provar, como se ensina a crianças.
      Interessante que a Igreja Católica, que defende a eucaristia como um dos sete sacramentos, como algo que vai além da simbologia da ceia protestante, mas como a presença real do Cristo nos elementos, é justamente a denominação cristã que mais impede os homens de comerem do verdadeiro pão da vida. Como? Não ensinando sobre a relevância do Espírito Santo sobre dogmas, teologias, sacramentos e ritos de instituições humanas. Alimentar-se do pão da vida que Jesus se referiu, é possuir e dar liberdade para que o Santo Espírito limpe, ensine, cure e console, é ter uma experiência pessoal e íntima com o Deus vivo, é ser iluminado pelo conhecimento mais elevado do Deus altíssimo. 
      Quem você será na eternidade? Será um espírito vivo, limpo e livre para subir para o amor de Deus, o céu em Jesus, mas isso se tiver se alimentado no mundo com o pão da vida. Se não tiver comido desse pão estará morto, ainda que tenha passado uma vida admirando e cultuando o pão, morto espiritualmente já terá a semente do inferno dentro de você e não experimentará a ressurreição. Quem morre no corpo com o espírito alimentado pelo pão da vida, ressuscitará instantaneamente na eternidade, é promessa de Jesus, mas quem morre sem nunca ter tido coragem e fé de provar desse pão, já está infernizado pela segunda morte, e isso simplesmente não vai mudar, só se manifestar com mais liberdade.    

—————#—————

      “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva; no dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas; e as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.” 
Eclesiastes 12.1-4
      “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.” 
João 6.54-58

Esta é a 51ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

21/03/22

O que você quer como vencedor? (50/90)

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.
Mateus 16.27

      Nas últimas oito partes da reflexão “Quem você será na eternidade?”, vimos as sete promessas que Deus faz no início do livro Apocalipse aos que vencerem, aos que finalmente, quando estiverem no plano espiritual, tiverem direito ao céu. Mas e você, diga com sinceridade a si mesmo, tendo esse direito, o que você quer como vencedor? Quem você quer ser na eternidade? O que você acha que receberá pelo Cristo no céu? Cada um de nós desejará aquilo que mais deu valor na sociedade e em igrejas. O que podemos esperar na eternidade de Deus não será nada diferente daquilo que desejamos que Deus nos desse no mundo, que pedimos a ele como nossas prioridades, ainda que no plano material e com referências físicas. O que mais fomos na prática, é o que somos de verdade, e isso é o que levaremos para o plano espiritual. 
      “Não quero nada, o que vier, está bom”, essa resposta pode parecer até sensata, mas pode demonstrar um estado de depressão espiritual, de alguém que pode ser membro de igreja há algum tempo, conhecer a Bíblia, ser um cristão reconhecido e equilibrado, mas já desapaixonado pelo evangelho. Tem muita gente assim, até com um sorriso no rosto, mas com um coração frio. Gente que não teve coragem para fazer as melhores escolhas, assim fez as escolhas medianas, as que não colocavam em risco as aprovações humanas que tinha, mas que também não traziam junto grandes desafios. Todo grande desafio traz perdas, mas também traz ganhos ainda maiores, contudo, é preciso coragem para aceitá-lo, senão seremos só joguetes em mãos alheias, e como existem mãos alheias que acham saber o que é melhor para as vidas dos outros. 
      “Quero o que não tive aqui”, essa talvez seja a pior resposta, vinda de alguém insatisfeito, ainda que se ache bom crente. Se o que construímos em nosso homem interior for um ser espiritual incompleto, é esse que levaremos à eternidade, nem mais, nem menos. Essa resposta pode conter o desejo de se querer ser mais do que realmente se é, e que se precisa ser, assim, o medíocre desejará fama, o pobre, riqueza, e ainda que entenda que no céu não haverá necessidade de bens materiais, desejará proeminência espiritual, vendo espiritualidade como vaidade. Como há pessoas em igrejas que por não terem status no mundo, na área profissional ou na intelectual, querem pregar mais, cantar mais, aparecerem mais, e não por terem chamadas para isso. Ainda que esse equívoco siga com elas à eternidade, céu não é lugar para vaidades. 
      Mas a resposta “quero o que não tive aqui” pode conter algo pior que vaidade, e que também caminha junto do vaidoso, a vingança. Meus queridos, como há gente em igreja evangélica atualmente querendo ir à forra, querendo vingança sobre quem a humilhou. Eis uma doença na igreja evangélica atual, gente que por se sentir vítima, se acha no direito de pedir a Deus vingança. Infelizmente isso não se restringe às igrejas, uma vitimização geral, apoiada pela mídia, cai sobre a sociedade. Atualmente há causas legítimas a serem exigidas por vítimas reais, injustiças e preconceitos históricos que precisam ser corrigidos urgentemente. Entretanto, muitos militam errado e ao invés de buscarem justiça sobre opressores, querem só poder para serem novos opressores. Cristãos como falsas vítimas desejarão um céu para se imporem sobre outros.
      Esses esquecem-se que o céu é “lugar”, acima de tudo, para humildes, e eis aí dois conceitos que a sociedade atual não consegue conciliar, não ser vítima e ser humilde. Muitos cristãos têm ainda mais dificuldade para fazer essa conciliação, quando são empoderados por pregadores que dizem que eles podem tudo se crerem. Pastores gananciosos querem ovelhas prósperas para que essas dizimem mais, não porque esse seja o ideal de vida de Deus para elas no mundo, e não é, não para todas. Mas sob essa bandeira muitos se colocam como vítimas dos ricos, não aprendendo sobre a necessidade de serem humildes, e não conseguindo entender que uma coisa nada tem a ver com a outra. É possível ser próspero e humilde, se tivermos a humildade de aceitar a vontade de Deus para nossas vidas, que pode ser não sermos ricos. 
      “Quero o que Deus tem para mim”, essa é a resposta mais sábia, e se querem saber, os sábios sabem exatamente o que Deus tem para eles. Eles guardam isso no coração, não exibem para ninguém, mas não pensam de si mesmos nem menos e nem mais do que são, não possuem falsa humildade, mas também não têm nenhuma apego a vaidades. Eles descobriram o segredo da paz que permanece ainda no mundo, e paz que fica é aquela que não depende de homens, nem de aparências. Sábios entendem o valor do saber e calar, do não ter e se sentir totalmente satisfeito. Será que é isso que queremos ser na eternidade, o que de fato somos, seguros que conseguimos chegar a ser tudo o que Deus tinha para nós na existência encarnada no mundo material? Quem chega a isso morre em paz, parte tranquilo e deixa atrás de si legados de honra. 

Esta é a 50ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

20/03/22

Co-herdeiros no trono (49/90)

      “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono.
Apocalipse 3:21

      João evangelista parece mostrar o céu de forma gradativa nas sete promessas de Apocalipse. Depois de ser alimentado com alimento exclusivo (árvore da vida e maná escondido), ser livrado do dano da segunda morte, receber novo nome (pedra branca), administrar o plano espiritual (reger as nações), vestir novas vestes e ser um com Deus (coluna do templo e nova Jerusalém), o que vencer se assentará no trono com Jesus, a promessa mais elevada Agora não haverá só diferenciação do ser em relação aos outros, mas o que vencer estará no mesmo nível que o Cristo. Co-herdeiros de Cristo é termo citado em outros textos, por Paulo (Romanos 8.17) e por Jesus (João 14.1-6), quando diz que os salvos estarão no mesmo lugar que ele.
      O mais importante é que Jesus não se coloca como superior, mas no mesmo nível dos que vencem, novamente não interpretemos “trono” como um lugar num castelo, onde o líder supremo é visitado e venerado por súditos. A Bíblia sob os olhos de homens antigos vê poder e espiritualidade sempre de forma estática, chega-se a um final, alguns vencem e outros perdem. Os que vencem, imperam, os que perdem, servem, de maneira que posições sejam definitivas. Isso com certeza era o ideal de civilização dos que viviam para a guerra, construíam e mantinham impérios fazendo guerras e vencendo inimigos. Cristãos, quando vamos entender que não somos mais assim e por isso a Bíblia precisa ser reavaliada? Quando?! 
      O evangelho de Jesus não vê assim a existência humana, por ele as pessoas podem errar e podem se corrigir, nada é definitivo, assim quem está por baixo hoje pode subir, e quem está por cima, se não tomar cuidado, pode cair (I Coríntios 10.12). Como interpretaríamos hoje o lugar de uma pessoa importante? Mesmo que ainda existam reis, tronos e castelos, como na Grã-bretanha e na Espanha, esse conceito hoje é mais folclórico que de fato levado a sério, excetuando logicamente por britânicos e espanhóis. Para o senso comum atual, alguém poderoso é rico ou famoso, não relacionamos isso necessariamente a poder político herdado por sangue real, o que confere status quo é dinheiro e fama, principalmente pela vida virtual. 
      Mas “tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (I Coríntios 10.11), que palavra reveladora é essa de Paulo, cabe tão bem a tanta coisa que lemos na Bíblia, não só na velha aliança de Israel em relação à nova aliança da igreja. Deus sempre falou (e fala, e falará ainda por um bom tempo), com figuras aos homens, como a crianças, e mesmo que muitos escritores bíblicos soubessem de mais coisas, o que eu pessoalmente não acredito, e se for isso só em raras situações já que só Jesus homem de fato conhecia todos os mistérios e o significado de todas as simbologias e parábolas, mesmo que homens conhecessem os mistérios eles usaram figuras.
      Por que foi, é e será assim? Por amor, um amor que é paciente, que não se priva de dialogar mesmo com quem entende muito pouco ou quase nada do que é dito. Ah, meus queridos, como existem tanto materialistas como espiritualistas que olham cristãos tradicionais com jactância, achando-se superiores, com mais informações, sejam da ciência ou de suas experiências espirituais mais profundas. Mas esses pequeninos que são muitos cristãos, conhecem o principal pelo amor de Deus, podem não conhecer detalhes, mas experimentam o mais importante. Esses fazem parte do grupo de seres humanos chamados de vencedores, que receberão todas as promessas feitas no livro de Apocalipse aos anjos das sete igrejas. 

Esta é a 49ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

19/03/22

Coluna do templo e Nova Jerusalém (48/90)

      “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.
Apocalipse 3:12

      As simbologias que João usa no texto bíblico inicial são de construção física e delimitação geográfica, coluna no templo e cidade de Jerusalém. A que espiritualmente ele se refere? Haverá mesmo uma cidade e um templo, construídos de pedras e metais preciosos, com dimensões específicas, com paredes, teto, janelas e portas? No livro de Apocalipse João está sempre transportando revelações espirituais, que via, ouvia e sentia em seu espírito ungido com o Espírito de Deus, para referências físicas que ele conhecia como homem de seu tempo. Chama-nos a atenção Jesus dizer que o vencedor será parte de uma construção, coluna no templo de Deus, pondo os vencedores numa posição de íntima comunhão com Deus. 
      Deus constrói o céu com os espíritos dos vencedores? O templo parece ser sustentado por esses seres espirituais, visto Jesus dizer que os que vencessem seriam colunas da construção. Estaremos dentro de um templo ou seremos o próprio templo? Mas não é isso que já ocorre no mundo com os salvos, são templos individuais do Espírito Santo? (I Coríntios 6.19). Num céu em que muitos salvos viverão juntos, onde estará a luz mais alta de Deus, tendo seus corpos espirituais transformados e numa interação plena com Deus, Deus viverá em todos e todos em Deus, por dentro e por fora. Procede João dizer que os vencedores serão colunas num templo, não só habitarão um espaço, mas serão o próprio espaço, e um espaço espiritual. 
      O termo nova Jerusalém deixa muito claro que o uso de um conceito material conhecido é importante para que homens de um tempo entendam e aceitem conceitos espirituais. Ao judeu do século I, Jerusalém é sua cidade mais importante, a capital de seu reino, o orgulho maior do povo israelita, o lugar onde deve estar o templo, centro de sua religião. É mais que uma região geográfica, é a embaixada de Deus na Terra, testemunho para a humanidade que Deus existe, é todo-poderoso, escolheu um povo para ser seu e cuida desse povo. Não existe maneira mais fácil de um judeu entender a importância de um lugar na eternidade que usando o nome de um lugar importante para ele, para um judeu o céu é uma Jerusalém nova.
      Mas que importância tem isso para um japonês, por exemplo? Esse não vê relevância em Jerusalém, muitos menos vê numa nova Jerusalém. Mas a Bíblia não é um livro de judeus escrito para judeus? Sim, mas ainda assim Deus a usa para falar com todos os povos. Escrita por judeus para cristãos judeus ou ainda que gentios, conhecedores da antiga religião dos hebreus. Isso é relevante para entendermos o quanto da religião judaica está contida na Bíblia, assim aceitarmos que muitos símbolos existentes nela existem porque foram interpretados por judeus. Pode-se argumentar: mas são símbolos de uma nação escolhida por Deus desde o início para testemunhar dele ao mundo, é o mundo que tem que se adaptar a isso.
      Sim, mas ainda assim são símbolos e judeus. Sendo símbolos, não podem ser interpretados ao pé da letra, como construções de pedras, tijolos, cimento etc. Mas tudo bem, não sejamos tão extremistas, se um cristão mais simples, sincero em sua fé, espera no céu morar numa cidade luxuosa, condição que nunca teve na Terra, Deus, o pai de amor, aceita isso e respeita. Temos que fazer alguma imagem mental, isso nos dá esperança, nos resolve, ainda que seja só um portal de uma realidade espiritual. Entretanto, precisamos aceitar que num momento onde existem seres libertos de espaço, tempo e matéria, as coisas serão diferentes dos símbolos que mentalizamos no mundo material presos à cultura, religião, inteligência e gostos pessoais.
      João revela-nos que Jesus escreverá o nome de Deus, o nome da cidade de Deus, assim como o novo nome dele, Jesus, sobre os que vencerem. Isso deixa claro a importância da simbologia “nome” no entendimento que João teve da revelação. Entendamos nome, não como uma identificação escrita ou verbal, como uma maneira de chamar alguém, como já dissemos quando refletimos sobre o nome na pedra branca que os vencedores receberão. O nome é mais que uma simples diferenciação de alguém no meio da multidão, que uma identificação, é a própria identidade, a posição e a qualidade moral e espiritual que os seres terão na eternidade, nome que na verdade já existe, mas escondido em nosso homem interior
      Essa qualificação é justa, porque é dada pelo próprio Cristo que nos conhece por dentro, é o nosso homem interior aperfeiçoado no plano físico que será considerado por Jesus. Essa qualificação é exclusiva, pois todos os seres são especiais para Deus, ele não ama ninguém de forma distinta. Contudo, a qualificação poderá ser diferenciada, colocando seres em alturas diferentes, ainda que isso não poderá ser usado por ninguém como vaidade. Paulo cita algo que pode ser base para isso, o conceito do galardão (I Coríntios 3.12-16), muitos serão salvos, mas o galardão poderá variar. Só na eternidade será manifestado o “nome” do nosso espírito, não o que achamos ter baseados em nossas passagens no mundo, mas o eterno. 
      Há uma chave espiritual para um mistério nesta reflexão, como há em muitos conhecimentos profundos da Bíblia escondidos sob a forma de simbologias e parábolas. O nome escondido diz respeito ao nosso espírito, que é eterno, sem começo e sem fim, não limitado à nossa vida encarnada no mundo no presente. Quem somos de fato, homens e mulheres com nomes, documentos, residências, graus educacionais, profissões, estado civil, religião, contas em bancos, tudo isso hoje no mundo? Será que é só isso, uma existência que nos define? Talvez, e estamos dizendo, talvez, se fosse só isso nosso nome na eternidade seria o mesmo que temos hoje, talvez não haveria necessidade de recebermos novos e melhores nomes... 

Esta é a 48ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

18/03/22

Vestes brancas e Livro da vida (47/90)

      “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
Apocalipse 3:5

      Vestes brancas, João transporta o entendimento de uma posição espiritual, de uma condição moral, que ele com certeza discerniu em sua comunhão com o Espírito Santo, para referências materiais e externas. Penso que dessa vez ele não fez um transporte muito diferente daquele que faríamos hoje, se recebêssemos a mesma revelação. Branco, claro, alvo, tem a ver com santidade, com pureza moral, com elevação espiritual, com proximidade da luz, ele deve ter visto vestidos, a roupa típica de sua época. Talvez hoje, como homens ocidentais, víssemos camisas e calças, mas também de uma brancura singular, impedindo-nos de identificar detalhes, numa luz tão clara que deixariam desconfortáveis os olhos espirituais. 
      A cor branca tem uma característica, se juntarmos todas as cores, nas proporções adequadas, nenhuma se sobressairá, todas se transformarão em branca, isso nos diz algo sobre a luz da espiritualidade mais alta. O branco que vemos em várias passagens bíblicas quando se refere a visões, por exemplo de Ezequiel e Daniel, ao céu, aos anjos e a outros seres, à transfiguração de Jesus mais as aparições de Moisés e Elias, é a transferência para o plano físico de uma virtude espiritual, nossos olhos (espirituais) vêm o branco, mas na realidade o que existe é santidade. Santidade por sua vez não é só abstinência de prazeres físicos, isso é mais bons hábitos alimentares e equilíbrio sexual que outra coisa, alguém pode ter isso e não ser santo. 
      Santidade é ausência ou presença? Se a cor branca é mistura de todas as cores, então, ela é presença, não se é santo por se deixar de fazer as coisas, de se sentir as coisas, de se pensar, de se fazer as coisas, mas se alcança santidade tendo noção de tudo e usando tudo na proporção certa. O branco da santidade não é espaço vazio, mas espaço preenchido com equilíbrio. Não se aprende a ser santo retirando-se para o alto de uma montanha e evitando convívio com a realidade, com as pessoas, com as tentações, mas convivendo-se com tudo isso e não sendo contaminado por excessos. Se não fosse assim, não precisaríamos encarnar no mundo, aprendermos a fazer escolhas que nos aperfeiçoam, agradarmos a Deus e amarmos o próximo. 
      Não podemos ser crianças para sempre, uma criança não é santa, só é inocente, não escolhe não errar, só não aprendeu ainda a errar, assim faz a única coisa que sabe fazer. Quando amadurecer emocional e fisicamente poderá errar por escolha própria e terá responsabilidade por isso, portanto perderá a paz que só será reencontrada no reconhecimento do erro e numa prática de boa vida moral. Isso só se consegue plenamente em comunhão com Deus. Só temos forças para sermos santos respondendo sim à atração que o amor de Deus nos faz para sua santidade, isso nos dá direito às vestes brancas que os vencedores receberão de Jesus na eternidade, isso nos confere alvura espiritual ímpar, o objetivo maior de Deus para todos nós. 
      João também cita o livro da vida, termo que aparece muito no livro de Apocalipse, mas que Paulo usa só uma vez, em Filipenses 4.3. Seria um documento divino onde estão listados os nomes dos que venceram? João também diz que os que vencerem seriam confessados por Jesus diante de Deus e de seus anjos. Jesus tem um papel único na humanidade do nosso planeta, mostrou o caminho de salvação, mas também será o responsável por identificar quem é quem na eternidade, separar ovelhas de bodes (Mateus 25.32), salvos de condenados. O “céu” será uma posição elevada onde Cristo passou a habitar, depois que partiu da Terra no século um, mas Jesus pode ser o próprio “céu”, aguardando ser completado por cada um de nós.
      “O que vencer de maneira nenhuma riscarei seu nome do livro da vida”, se nos lembrássemos disso quando desanimamos, quando por coisas tão pequenas perdemos a paz. Diante de Deus no plano espiritual, o vencedor será identificado por Jesus no livro da vida, nada e nem ninguém pode tirar nosso nome desse livro. Se caminhamos persistentemente em santidade e em amor podemos ter certeza disso, usando essa certeza, não para nos protegermos de irresponsabilidades, mas para nos fortalecermos e sermos fiéis até o fim de nossas jornadas no mundo. “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11.25). Creia, ninguém está definitivamente morto, a vida é eterna, a morte, não é! 

Esta é a 47ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

17/03/22

Poder sobre as nações (46/90)

      “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as naçõese com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai.
Apocalipse 2:26-27

      Antes de iniciarmos a reflexão, algo precisa ser dito. Nós, evangélicos e protestantes, nos acostumamos tanto a ler a Bíblia, que na maioria das vezes não prestamos atenção ao que lemos, aceitamos como dogmas, não questionamos porque cremos que é a palavra de Deus, e só. Hoje temos muitas versões de Bíblia disponíveis em livrarias, e interessantes para serem usadas como consultas secundárias são as versões em linguagem de hoje. É bom usarmos com cuidado, e o ideal é consultarmos mais de uma versão, mas o principal é entendermos de fato as palavras que lemos. 
      Das promessas feitas “ao que vencer”, a do texto bíblico inicial, pode ser a mais difícil de ser entendida hoje, justamente por parecer a mais simples, se interpretada ao pé da letra. Para um homem do primeiro século, debaixo da opressão romana, e como judeu, ainda próximo da realidade do israelita do velho testamento, o que mais representaria uma vitória definitiva? Não seria uma posição militar, política e social, superior, não de oprimido, mas de opressor? Não só como um mero administrador, mas como um juiz que faz cumprir penas, “quebrando as nações como vasos de barro”
     Pois é, essa é a visão de mundo de João, o evangelista, escritor do livro das revelações, a visão de justiça, a visão de vitória, a visão de eternidade, a visão de Deus que ele tinha. Será que entendemos realmente o quanto isso se opõe ao Deus de amor ensinado por Jesus? Você acredita que por crer no Cristo terá o direito de castigar aqueles que não creem? Ou você não acredita, não entende o texto do Apocalipse, mas também não se importa muito com isso. Se for esse o caso, você não está levando a sério a Bíblia, que é ensinada a você como sendo palavra infalível de Deus. 
      Agora, se não for, se houver partes que precisam ser reavaliadas, entendendo diferentemente daquilo que a tradição cristã ensina, então devem haver “verdades” que não são bem o que você acha que são, ainda que estejam na Bíblia. Eu não brinco com a Bíblia, ou ela é, ou não é, não varro para baixo do tapete questões que teólogos chamam de polêmicas, só para não assumir que a Bíblia não é coesa. Será que o que queremos pelo evangelho no mundo hoje, é vingança sobre inimigos, oprimirmos opressores, aqueles que odeiam o cristianismo e são injustos com os cristãos? 
      O evangelho ensina-nos perdoarmos inimigos, orarmos por eles e estendermos a mão para restaurá-los. Se é assim aqui, por que seria diferente na eternidade? O Deus que oprime nações inimigas é o “Deus” do antigo testamento, que João ainda tinha na memória, já que ainda vivia num mundo oprimido por um poderoso império. Se você acha que não existe incoerência nisso, fique em tua crença, mas eu penso que há, principalmente se considerarmos o nível moral do homem civilizado atual, que não aceita mais o modus operandi guerras, como meio das nações se manterem.  
      Mas o mistério que João viu, a relevância que temos que entender hoje e que não pode ser esquecida, ainda que João, autor de Apocalipse, tenha feito um registro coerente com o homem de seu tempo, é que o que vencer fará algum tipo de trabalho, uma administração ativa, no plano espiritual, não para oprimir, mas seguindo o evangelho, para orientar e abençoar. Esse é o conceito eterno que Deus quer nos ensinar por trás da história antiga e da mitologia. Assim, os que no mundo foram injustiçados, desempenharão na eternidade papel de liderança sobre os que foram injustos.
      Esse conhecimento não deve alimentar em nós vingança infantil e carnal, mas madura responsabilidade em humildade e temor. Se essa promessa “ao que vencer” é a que pode ser mais mal interpretada se lida ao pé da letra, é a que pode revelar um dos maiores mistérios da eternidade. Lá não será um lugar só para descanso e adoração, o que muitos que não conhecem a renovadora unção do Espírito Santo podem interpretar como algo tedioso e sem graça. O trabalho espiritual é eterno, irmãos e irmãs cristãs, o que mudará é a qualidade desse trabalho, de físico para espiritual. 

Esta é a 46ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

16/03/22

Maná escondido e Pedra branca (45/90)

      “Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.
Apocalipse 2:17b

     O que é o maná escondido? Para entendermos temos que saber a importância que teve o maná material original para a nação de Israel no antigo testamento, quando fugia dos egípcios, no meio do deserto, sem água e sem comida. A resposta é simples: foi uma provisão especial de um Deus que pode fazer aquilo que parece impossível aos olhos humanos. O que vencer provará mais que um prazer, e no plano espiritual prazer tem um conceito diferente, não é egoísta e passageiro como no plano físico, o que vencer será alimentado com um alimento especial. 
      Esse alimento será diferente de tudo que o ser humano provou no mundo, não é material, e é melhor mesmo que a unção do Espírito Santo que provamos encarnados, já que o corpo nunca pode perceber e reter toda a relevância que possui uma experiência de plenitude no Espírito de Deus. No plano espiritual, prazer é vida, é qualidade moral, é proximidade da luz mais alta de Deus, são as virtudes do Senhor. No plano espiritual teremos prazer na paz, na santidade, no amor, tudo isso é eterno e incorruptível, não será parcial, mas pleno, dentro e fora de nós. 
      Justamente por muitos não conseguirem no mundo desvencilharem-se dos apetites do corpo, retendo assim carnalidade em seus homens interiores, e consequentemente construindo infernos dentro de si, é que enfrentarão a continuidade desses infernos na eternidade. Se no mundo podemos fugir de Deus nos prazeres do corpo, na eternidade não haverá corpo para escaparmos. O único prazer será estar no amor de Deus para o qual nos decidimos encarnados no mundo, caso contrário, lá só restará a tortura de desejar algo que não se pode ter. Eis uma definição de inferno.  
      Temos tentado insistentemente definir o inferno neste estudo, porque muitos cristãos preguiçosamente aceitam o inferno como dor infinita causada por agente externo. Crer que é Deus quem põe fogo num lugar e lança lá os que considera culpados, de uma certa forma joga a responsabilidade toda em Deus. Coloca o Senhor como uma potência vingativa e capaz de criar e manter um lugar eterno e terrível, mas não é bem assim. O inferno é interior e construído pelos homens, vivenciado no mundo, ainda que aqui os homens tenham meios de anestesiarem a dor infernal. 
      Sobre pedra branca, a primeira coisa que temos que entender é que lugar, objetos e nomes, que no plano físico se referem a coisas físicas, dentro de dimensões físicas, são apenas simbologias para outras referências no plano espiritual. Lugares, por exemplo, podemos entender como posições morais, saindo da dimensão horizontal e indo para a vertical, assim menos moralidade é região inferior, é trevas, mais moralidade é região superior, é luz. Deus é a luz mais elevada. Todo o plano físico, suas leis e seus valores no tempo, são símbolos do plano espiritual. 
      Nome, por sua vez, não é uma denominação, usada para chamar alguém, mas uma graduação e também moral, que coloca a pessoa numa altura espiritual, espiritualidade tem a ver com posição e identificação. O interessante é o texto dizer que ninguém sabe o nome a não ser quem recebe, isso denota uma condição de ausência de vaidades, de não carência de se impor sobre os outros, mas é uma satisfação que se contenta por saber e saber que Deus sabe, mais nada. Nome espiritual define nossa identidade essencial como espírito eterno, é isso que é a pedra branca. 

Esta é a 45ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021