25/01/24

É só o carro, o motorista está bem

      “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.II Coríntios 4.17-18

      Quando estamos bem financeiramente, adquirimos veículos novos, de preferência zero quilômetro, e quando passa algum tempo o trocamos por um mais novo, nem dá tempo do carro envelhecer e dar problemas mais sérios de manutenção. Quando a situação está mais difícil, ficamos por anos com o mesmo carro, teremos que gastar com consertos e ainda que em ordem nunca será como novo. Nosso corpo físico é o carro que Deus nos dá para passarmos um tempo no mundo, o motorista dele é nosso espírito. Na juventude, enquanto o corpo se renova, nem nos preocupamos com problemas de saúde, mas por volta dos quarenta anos a renovação cessa, o envelhecimento começa, doenças vêm e podem ser fatais. 
      Quanto ao nosso espírito, esse não envelhece, mas precisa se adequar a um corpo envelhecido e doente, dirigir “carro ruim” eis nosso maior desafio espiritual. Ainda que tomando todos os cuidados que a ciência oferece, é preciso aceitar que a morte é certa, nosso corpo não funcionará perfeitamente para sempre, mas isso não é só aceitar doenças e limitações que nos farão dependentes de muitos remédios. Além do corpo físico, nosso emocional também fica debilitado, assim sofremos tristezas e desânimos que não experimentávamos antes. Se um problema não pode ser resolvido, ele também não deve ser aumentado, e aceitar com humildade e em paz limites é o que não transforma um problema em mais de um. 
      O motorista está bem, e pode estar ainda melhor que quando o carro era novo, se nós envelhecemos amadurecendo em Deus, aceitemos isso. Infelizmente é no final da vida que o universo faz as cobranças mais duras, justamente quando o carro mal consegue ir ao supermercado nos levar às compras semanais. Deus autoriza isso para que ainda neste mundo possamos aprender coisas que não poderemos aprender na eternidade, lá haverá avaliação e recompensa, mas só do que levarmos daqui para lá. Desânimos e tristezas podem ser superados com descanso, um passeio, com uma conversa positiva com quem nos ama, com um bom livro, um bom filme, e é claro com vida de oração e disposição humilde e temente a Deus.

24/01/24

Paz e luz aos idosos

      “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.II Coríntios 4.16

      Quem tem parentes próximos e queridos idosos, sabe o que é levar boas palavras a eles, de esperança, de ânimo, de paz, principalmente em se tratando de pais, que muitos de nós têm questões não resolvidas, ou não bem resolvidas. Mas quando pais chegam em certa idade, não é mais momento de tentarmos resolver problemas com eles, como mais jovens devemos nos resolver sozinhos e com Deus. Aos idosos precisamos levar palavras de vida, não de morte, de perdão, de amizade, de afeto, nunca de acusação, cobrança ou condenação. Idosos estão no limite de suas forças físicas, e em quase igual instância nas forças emocionais, isso se já não estiverem de fato com  alguma degeneração mental severa. 
      Mas e o espírito, aquela essência humana eterna que resistirá à morte do corpo e que será confrontado com a luz do Altíssimo? Esse não morre e não envelhece, ainda que possa estar enfermo e necessitado de tratamento. Cura para o espírito humano é proximidade de Deus, simples assim, e isso não é necessariamente religião. Muitos passam a vida perto de religião, mas distantes de Deus. Deus emana luz onde há trevas, chama para a vida onde há morte, permite consolo onde há tormento. Deus é força para o desanimado, companhia para o solitário, água fresca e pura para o cansado pelo deserto do mundo dos homens. Aos velhos devemos levar sempre bem, iluminação, serenidade.
      O espírito nunca se cansa, assim pode aprender mesmo no envelhecimento do corpo, e creiam, ele aprende, mesmo que muitas pessoas disfarcem isso ou não admitam. Por isso a melhor oportunidade para as pessoas se aproximarem de Deus é na velhice, cabe aos mais jovens, com paciência e muito respeito, principalmente com os costumes religiosos que muitos passaram a vida mantendo, falar de Deus, mas falar do Deus de amor e do céu, não “outro”. Com o tempo, todos adquirem consciência de quem são e das escolhas erradas que fizeram, assim não adianta falar de juízo e condenação a velhos, mas de oportunidade para escolher o caminho da humildade e de conciliação com a justiça. 

23/01/24

Fé vence água e fogo

      “Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.Isaías 43.1-2

      O capítulo quarenta e três de Isaías é conhecido, um daqueles textos que amamos ouvir quando estamos numa grande luta, onde nosso emocional acha-se fragilizado e confuso. Há as promessas de Deus, se ele chamou, ele protege, somos queridos por Deus, essa é a parte que gostamos de ouvir. Mas também há duas situações extremas descritas pelo Espírito Santo, que podem exigir de nós mais que nos consolarmos com palavras positivas. Podem ser interpretadas ao pé da letra, principalmente para o homem do tempo de Isaías, mas podemos entender metaforicamente, nesse caso a passagem ganha mais atemporalidade e relevância. Nem água e nem fogo prejudicarão o Israel de Deus, assim diz Isaías.
      Água, o primeiro elemento, não fere necessariamente o lado de fora do corpo físico, mas pode penetrar o interior do ser humano e rapidamente matá-lo por afogamento, ainda que não deixe marcas externas no corpo. Outro elemento, o fogo, lesa rápida e severamente, e ainda que só o lado de fora do corpo, causa sofrimento mesmo que não se aprofunde e não leve à morte, quem sobrevive a ele fica marcado pelo resto da vida. No mundo podemos passar por dores assim, ambas são terríveis, tanto água como fogo podem ser símbolos de lutas emocionais que nos fazem perder o chão, dominam o ambiente, roubam-nos referências e certezas, nos invadem. Só pela fé superamos a morte e a dor por água e por fogo.
      Como ter fé se falta-nos ar para respirar e permanecermos vivos? Como mantermos a confiança em Deus se algo leva dor a todo o nosso ser, enfraquecendo-nos e marcando-nos? Pela fé. O que é fé? É ver o invisível, ouvir o intocável, acreditar no que ainda não aconteceu. Essa fé vem de dentro para fora, assim não baseia-se no que nossas emoções percebem, mas numa convicção que não precisa ter explicação ou embasamento intelectual, só foco no Altíssimo, esperando em paz, independente de qualquer coisa. Por que fé é tão exigida de nós por Deus? Porque não sabemos de tudo e não temos poder sobre tudo, assim fé leva-nos ver a existência além da matéria e de nós, mas como vida espiritual e eterna.

22/01/24

Estreito é o caminho

      “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.Mateus 7.13-14

      Estreito é o caminho que conduz ao Altíssimo e fica mais estreito à medida que andamos nele. Contudo, o caminho e a maneira como Deus estreita um caminho varia de pessoa para pessoa, não são coisas iguais para todos. Como Deus tem estreitado teu caminho? Você tem aceitado isso em paz? Ou o caminho até estreitou-se num momento, mas depois você não gostou do modo como Deus fazia as coisas e voltou para um caminho mais confortável para você? Podemos experimentar caminhos largos de várias maneiras, nos apetites do corpo, na imoralidade, mas também nas lúcidas orientações da ciência e mesmo em religião. Esses caminhos podem até parecer bons, mas de um jeito ou de outro não conduzem ao melhor de Deus. 
      Ninguém se engane achando que sendo fiel a uma religião, principalmente se for cristã, estará no estreito caminho da salvação. Ainda que Deus use as religiões, o estreitamento do caminho sempre pede de nós um relacionamento pessoal, íntimo e direto com ele. Andar num caminho largo não é perder-se em devassidões, sensualidades e vícios, não necessariamente, é simplesmente dizer não a uma nova prova de Deus, e seremos provados até nosso último instante neste mundo. Para uns o estreitamento que Deus permite pode ser ter que trabalhar mais, para outros ter que viver materialmente com menos, ainda que trabalhando mais, para outros pode ser enfrentar uma enfermidade, física ou psicológica, sem cura.  
      Para outros pode ser o isolamento, onde não se tem mais aprovação e companhia de pares. Por que é diferente? Porque uns precisam aprender a priorizar virtudes morais e conexão espiritual com Deus ainda que mais pobres, outros ainda que sem os holofotes dos palcos, outros sem a pujança que lhes fazia célebres no meio dos homens. Enfim, o Senhor diminui a força e a glória do homem para que esse dependa da força de Deus e dê glórias só a ele. Os arrogantes inventarão desculpas para permanecerem num caminho mais confortável, afinal, não querem abrir mão de tudo que adquiriram diante de homens. Já os humildes sofrerão com o estreitamento do caminho, mas se submeterão à vontade de Deus e acharão paz.

21/01/24

Tempo de Deus

      “Deus fez tudo formoso no seu devido tempo. Também pôs a eternidade no coração do ser humano, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim.Nova Almeida Atualizada 
      “Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez.N.V.I.
  Eclesiastes 3.11

      Estejamos contentes enquanto Deus estiver nos usando, e quando não nos usar mais, sejamos humildes para aceitar isso em paz e santidade. Primeiro vencemos o cansaço do corpo, a dureza do mundo e o egoísmo do homem para conquistar o que Deus tem para nós, depois aceitamos os limites do corpo, a ilusão do mundo e a injustiça do homem para aprendermos a ser felizes pelo que somos, não pelo que temos. Deus respeita o nosso tempo, assim devemos respeitar o dele, nos dá coisas não tão úteis, digamos assim, quando somos infantis demais para pedir coisas realmente úteis. Mas nós precisamos aceitar o não que nos dá, quando nos nega algo por saber que já estamos crescidos o suficiente para aceitar isso.
      Os primeiros onze versículos de Eclesiastes 3 são dos mais conhecidos da Bíblia, resumindo eles dizem “Deus fez tudo formoso no seu devido tempo”, mas o versículo acima diz algo especial sobre esse ensino. “Pôs a eternidade no coração do ser humano, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim”, eis o paradoxo que define nossa existência no mundo e que no impulsiona a aprender a lição principal que estamos aqui para aprender. Nosso espírito diz uma coisa, mas nossa mente, limitada pelo nosso corpo, diz outra, ainda assim tentamos conciliar espírito e corpo. Muitos preferem negar o grito da eternidade em seus corações, tentam viver dando ouvidos só a suas mentes e a seus corpos. 
      “O Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21b), não é fácil dizer isso e ficar em paz, só os que veem a existência além da matéria, do visível e da morte conseguem, esses aceitam a eternidade que lhes habita e confiam em Deus. O melhor tempo de Deus para nós neste mundo é quando ele, enfim, pode nos falar de forma clara, além da religião, além da ciência, além do que sabemos, lutamos para saber e temos tanto orgulho em saber. Que esse tempo nos encontre humildes o suficiente para recebermos a verdade maior sobre nossas vidas em paz. Infelizmente muitos, arrogando estarem prontos para a eternidade por causa de suas obras, sofrem no final quando são confrontados com a verdade. 

20/01/24

Cuidado com os “amigos de Jó”

      “Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: "Convertam-se a mim de todo o coração; com jejuns, com choro e com pranto. Rasguem o coração, e não as suas roupas." Convertam-se ao Senhor, seu Deus, porque ele é bondoso e compassivo, tardio em irar-se e grande em misericórdia, e muda de ideia quanto ao mal que havia anunciado.Joel 2.12-13

      “Eliú disse ainda: "Você acha que é justo dizer: ‘A minha justiça é maior do que a de Deus’? Porque você diz: ‘De que me serviria ela? Que proveito tenho, se eu não pecar?’ Eu darei a resposta a você e aos seus amigos também. Olhe para o céu e veja; contemple as altas nuvens acima de você." "Se você peca, que mal causa a Deus? Se as suas transgressões se multiplicam, que prejuízo isso poderia trazer a ele? Se você é justo, o que está dando a ele ou o que ele recebe da sua mão? A sua impiedade só pode fazer mal ao homem; e a sua justiça só pode dar proveito ao filho do homem."Jó 35.1-8

      Temos que ter certo cuidado ao ler o livro de Jó, boa parte dele são discursos de amigos que tratam a causa de Jó incorretamente. Eu sou seletivo para usar textos de Jó como palavra bíblica inicial aqui, podem não ser bem entendidos. Esse livro, que é um dos mais importantes e atemporais textos da Bíblia, possivelmente relatando, pelas mãos de Moisés, a história de um dos personagens mais antigos do cânone, talvez contemporâneo ou anterior a Abraão, deve ser lido por inteiro para compreendermos sua lição principal. As palavras dos amigos de Jó, ainda que citando Deus e entendimentos sobre o caráter e ações de Deus, não possuem um viés correto, mas isso fazia parte da provação de Jó autorizada pelo próprio Deus. 
      Algo que nos prova muito como cristãos é sermos atacados com a própria Bíblia, Jesus foi tentado assim por Satanás. Se não tivermos confiança maior em Deus poderemos nos perder da fé, principalmente se já estivermos em situação extrema de perdas materiais e afetivas como estava Jó. Jó não perdeu o temor a Deus quando lhe foram tirados bens e afetos, mas seus falsos amigos queriam tirar-lhe isso. No texto acima, Eliú parece defender Deus e atacar Jó, pessoas assim parecem conhecer Deus e a nós, mas não aproximam os seres humanos de Deus, os afastam dele. “Amigos de Jó” são arrogantes, não abrem portas por amor, trancam portas pela hipocrisia, como se ninguém fosse digno de passar por elas, só eles.
      Não que Jó estivesse certo, tanto que o Senhor o estava tratando, mas o Deus do evangelho não fala pelas vozes de falsos religiosos, essas só têm um propósito, fazer-nos desistir da fé. São vozes perigosas pois não negam Deus, nem muitas de suas virtudes, mas negam a iniciativa constante e eterna de amor do Senhor. “Deus é bom, mas se você errar não terá mais direito à sua bênção”, assim fala um “amigo de Jó”, que pode tanto ser humano como espírito. Isso não é verdade! Ao humilde, Deus acha, ainda que discipline e lhe permita privações, sempre dá consolo e esperança para que aguarde o tempo de honra com dignidade. Jó aprendeu mais sobre Deus e sobre si no final, após suportar sua prova e não dar ouvidos a falsos amigos.

19/01/24

Santidade, arma de Deus

      “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza.Tiago 4.7-9

      Quando oramos a Deus, precisando e pedindo dele uma ação ativa e mais combativa, contra algum perigo ou algum mal que tememos e que pode estar atacando nossas vidas, podemos ter a percepção mental e emocional que Deus vence atacando e usando, ainda que espirituais, armas, que ferem e matam. Sim, podemos ter esse entendimento, afinal somos imperfeitos e Deus em seu amor perfeito nos atende ainda assim, mas na verdade, espiritualmente não é bem isso que acontece. A arma que Deus usa no plano espiritual é sua santidade, quando pedimos sua proteção ele emana sobre nós sua luz, essa é uma expansão do caráter perfeitamente santo do Altíssimo, cercados por essa luz estamos protegidos do mal. 
      Isso ocorre porque o mal é a negação da santidade do Senhor na qual reside todo o bem, bem e mal não podem ocupar o mesmo “espaço”, no mal há trevas porque não há o melhor de Deus, luz e trevas são mutuamente exclusivas. Dessa forma Deus não destrói os seres que estão fazendo o mal, mas os expulsa de um lugar para outro, Deus nunca destrói nenhum ser, mas pode reprimir suas ações. Podemos dizer que ele aniquila o mal, as trevas, de um determinado lugar, o lugar onde estão aqueles que confiam nele e clamam a ele por proteção e paz, começando pelo interior desses. Nós também temos essa arma, santos somos fortes e intocáveis pelo mal, as trevas fogem de nós pois não acham dentro de nós simpatia e aprovação. 
      Duas potências divinas movem o universo, o amor atrai os humildes, a santidade repele os arrogantes. Nisso se cria dois espaços, luz e trevas, ou céu e inferno, nisso somos vencedores por Cristo em Deus, ou derrotados pela ação santa e amorosa do Espírito Santo, dos anjos e de outos seres espirituais de luz do Altíssimo. Infelizmente muitos, mal educados pelo catolicismo, têm uma ideia errada de santidade, mais aparente que interior, mais para ser exibida aos homens que para nos aproximar de Deus. Por isso, para muitos, santidade lembra mais morte que vida, contemplação que trabalho. Libertemo-nos de preconceitos e tradições, e provemos o poder da santidade de Deus, só nela há iluminação, liberdade e vitória.