21/03/24

Por que há diabo na Bíblia? (1/10)

      “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.Gênesis 3.1-5

      O texto inicial contém aquilo que a tradição judaico-cristã considera a primeira citação bíblica do diabo, ainda que nenhum de seus nomes conhecidos seja usado. No antigo testamento o termo diabo não é citado, o termo satanás é citado 14 vezes, só no livro de Jó, e outras 5 vezes em outros livros, já o termo lúcifer é citado uma vez (“estrela da alva” em Isaías 14.12), belial, outro termo atribuído ao diabo, aparece 12 vezes. Nessa estatística usei uma versão tradicional da Bíblia, mas o número pode variar de versão para versão, mas nessa diabo aparece só 32 vezes em todo o antigo testamento. Outras citações no antigo testamento ficam por conta dos nomes dos deuses das nações não israelitas, baal, baalim, astarote, quemós, milcom. 
      No novo testamento, menor no texto e no tempo que descreve, consta pelo menos o dobro de citações de termos usados para diabo. Por que existe um diabo na Bíblia? Porque existia um diabo na cabeça das pessoas que registraram a Bíblia, e pelo que parece mais na cabeça das pessoas do novo testamento que do antigo. O monoteísmo não unificou Deus, mas os seres espirituais do mal, assim foi criado o maniqueísmo, a luta de um único Deus contra um único diabo. Mas “autorizando” santos como intermediários entre seres humanos e Deus, o catolicismo dividiu Deus como os judeus do antigo testamento não faziam. O mal se tornou um, o bem, muitos, será que dessa forma o catolicismo não distanciou Deus e aproximou o diabo? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

20/03/24

Politeísmos e monoteísmo (3/3)

       “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.Efésios 4.4-7

     A grande contribuição que a religião dos israelitas dos tempos do antigo testamento entregou ao cristianismo e à humanidade, principalmente à ocidental, foi o monoteísmo. Mas seriam os santos católicos um retrocesso, uma volta ao politeísmo? Não, ainda que para muitos possa ser. Repetindo, o ponto não é a forma do objeto usado para focar fé e espiritualidade, mas a intenção dentro do coração do que foca. Na verdade sempre houve e sempre haverá politeísmo, assim como sempre houve e sempre haverá um Deus superior às potestades e aos principados espirituais, todos os seres que existem no plano espiritual, anjos, demônios, desencarnados, entidades, seja lá o nome que se dê, dentro ou fora da tradição judáica-cristã. 
      Quem muda é o ser humano, que com o upgrade da ciência denomina seres espirituais com nomes diferentes. Panteão greco-romano, santos católicos, almas de mortos, anjos e demônios, não seriam a mesma coisa? A lição a aprender é que a evolução científica e emocional do ser humano cria imagens mentais diferentes de seres espirituais reais. Não pense que eu não queira concluir esta reflexão, mas não devo, faltaria com respeito com muitos e escandalizaria outros, o que posso é dar meu testemunho. Conecto-me com o Deus Altíssimo por Jesus, experimento essa conexão, falando e ouvindo, pelo Espírito Santo. Se esses nomes estiverem na relação manteremos contato seguro com o bem e a verdade maiores.

19/03/24

Ídolos e santos, a mesma coisa? (2/3)

      “Portanto dize à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Contaminai-vos a vós mesmos a maneira de vossos pais? E vos prostituístes com as suas abominações? E, quando ofereceis os vossos dons, e fazeis passar os vossos filhos pelo fogo, não é certo que estais contaminados com todos os vossos ídolos, até este dia? E vós me consultaríeis, ó casa de Israel? Vivo eu, diz o Senhor Deus, que vós não me consultareis. E o que veio à vossa mente de modo algum sucederá, quando dizeis: Seremos como os gentios, como as outras famílias da terra, servindo ao madeiro e à pedra.Ezequiel 20.30-32

      Talvez o principal motivo de protestantes e evangélicos condenarem tanto católicos por usarem santos como intermediários entre eles e Deus, seja a visão dos outros deuses e de ídolos que lhes é passada pela história de Israel no antigo testamento. Mas ídolos do antigo testamento e santos católicos são a mesma coisa? A diferença não está na forma do objeto usado para focar fé e espiritualidade, mas na intenção do coração do que foca. Uma criança no interior da Sibéria, que nunca ouviu falar de Jesus e que não recebeu a construção de nenhuma mitologia da tradição judaico-cristã, não pode, num momento de dor e solidão, orar ao Deus verdadeiro? Pode, e poderá achá-lo mais que muito evangélico em templos no Brasil. 
      Pode-se argumentar: “essa ignorância ingênua é válida para quem não tem conhecimento, no Brasil católico de hoje, o Cristo é apresentado como único caminho, se católicos não trilham por ele é por rebeldia”. Não necessariamente, a fé de cada ser é algo pessoal e fechado, católicos genuínos não abandonam suas crenças tanto quanto evangélicos não largam. Quando se quer crer, se acha motivos, obtém-se provas que a crença funciona, evangélico não duvide das experiências de fé que católicos têm crendo em Maria. Mesmo os chamados pelos judeus de falsos deuses e ídolos vazios construídos por outros povos, podiam receber boa intenção e estabelecerem contato com Deus, não com o diabo. Deus sabe do coração de cada um. 

18/03/24

A todos fala de muitas formas (1/3)

      “Filhos dos homens, até quando convertereis a minha glória em infâmia? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira? Sabei, pois, que o Senhor separou para si aquele que é piedoso; o Senhor ouvirá quando eu clamar a ele.Salmos 4.2-3

      Por que achar que Deus fala comigo e não fala com o outro? Por que devo me considerar mais espiritual ou mais digno por crer diferentemente do outro? Por que, como protestante ou evangélico, devo pensar que eu falo com Deus, enquanto que outros, incluindo católicos, falam com o diabo? Até que ponto é agradável a Deus achar que porque uso os protocolos protestantes, orando só em nome de Jesus, tenho um acesso privilegiado a Deus, que aqueles que falam através de homens e mulheres falecidos, ainda que canonizados por uma secular instituição cristã, os santos, ou mesmo por outros nomes e entidades, não têm? Será que Deus funciona assim, quem ora por Cristo ele ouve, quem não ora ele simplesmente desconsidera? 
      Você, evangélico, que olha com certa repulsa católico rezar para santo, tem na prática mais devoção, fé, frutos de amor, santidade e justiça, que o católico? Muitos protestantes e evangélicos têm pecado contra Deus, não por não viverem do jeito certo, mas por condenarem o jeito de viver para Deus dos outros. Deus me chamou no cristianismo protestante, depois me mostrou a intimidade dos dons espirituais, por nada abro mão de Jesus e do Santo Espírito, mas também, e isso a duras penas, Deus me ensinou a não condenar ao inferno católicos e outros religiosos. Ainda que no meu ponto de vista muitos percam por não usarem o caminho reto e exclusivo do Cristo, Deus chama pessoas em religiões diferentes por sábias razões suas.

17/03/24

O engano se repete (2/2)

      “Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça? Então disse Jesus à multidão: Saístes, como para um salteador, com espadas e varapaus para me prender? Todos os dias me assentava junto de vós, ensinando no templo, e não me prendestes. Mas tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas. Então, todos os discípulos, deixando-o, fugiram.Mateus 26.53-56

      A igreja hoje comete engano semelhante ao que judeus cometeram quando Jesus homem veio. Os judeus interpretavam as profecias sobre a vinda de um messias como a vinda de um novo Davi, um rei liderando exércitos contra opressores de Israel, naquele momento, os romanos. Ao invés disso veio um homem comum, um professor, não um político ou militar, pregando amor aos inimigos. Hoje muitos evangélicos esperam uma segunda vinda equivocada do Cristo, e ainda que não esperem um messias físico liderando exércitos físicos, mas exércitos espirituais, creem que será uma vinda visível no plano físico, para fazer justiça contra inimigos, não só de Israel físico, mas do Israel espiritual, a igreja, “corpo de Cristo”. 
      Mesmo os apóstolos, selecionados dentre os discípulos, íntimos de Jesus, na maior prova não tiveram firmeza suficiente para enfrentar a situação corretamente. Penso que nos últimos anos o povo evangélico brasileiro, assim como outros cristãos, têm sido provados, mas infelizmente muitos têm sido reprovados nessa prova. O engano que existia, mas que restringia-se aos templos, veio a público quando um político se disse defensor da tradição judaico-cristã, ao invés de exercerem amor muitos preferiram usar espadas. Deve ser assim para que a verdade sobre o falso cristianismo venha à tona, que haja tempo para que arrependidos muitos possam provar o amor de Jesus, senão provarão a espada que eles próprios levantaram, oremos. 

16/03/24

Espada ou amor? (1/2)

      “Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e, o que não tem espada, venda a sua capa e compre-a; porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento.” 
Lucas 22.36-37
       “Então, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam. E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.
Mateus 26.50b-52

      As duas passagens acima, interpretadas ao pé da letra, vendo a Bíblia só como uma lista de leis morais, contradizem-se, numa Jesus parece mandar comprar espada para que fosse defendido dos que viriam aprisioná-lo, na outra ele recrimina o uso de espada para defendê-lo dos que o estavam aprisionando. Em Jesus nunca há contradição, já a religião cristã de homens neste mundo pode “forçar” a interpretação de muitos textos, para criar entendimentos que homens acham mais convenientes a seus propósitos egoístas e gananciosos. Sem o Espírito Santo o ser humano não tem equilíbrio e lucidez, é extremista, assim tanto pode achar na Bíblia argumento para usar armas e violência como para ser passivo e manipulado. 
      Quem com espada fere com espada é ferido, eis a lei de plantio e colheita, de causa e efeito, ou como prefiram chamá-la, novamente ensinada. O velho “olho por olho, dente por dente” pode dar uma sensação temporária de solução, mas é só vingança. O mal só é anulado pelo bem, a violência e a injustiça, pelo amor. Ao ser humano cabe amar, eis o principal ensino de Jesus, e não tenhamos dúvidas, o universo, instrumento de Deus, sempre faz justiça, mas do jeito e no tempo de Deus. A nós cabe anular o mal dentro de nós e crer em Deus, há propósito para tudo, há no final honra e crescimento espiritual para o que confia em Deus e em suas orientações, não em sua visão humana, limitada e materialista da existência.  
      

15/03/24

Mude porque há mais (4/4)

      “Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte, e aos teus tabernáculos. Então irei ao altar de Deus, a Deus, que é a minha grande alegria, e com harpa te louvarei, ó Deus, Deus meu.Salmos 43.3-4

      Alguns não mudam de opinião por crerem que já receberam o melhor de Deus para o homem. A jornada espiritual da existência possui várias armadilhas das trevas, e uso o termo por falta de outro melhor, nem acho que sejam armadilhas, só encruzilhadas para que aprendamos a fazer escolhas cada vez melhores. A 1ª está nas tradições familiares, a 2ª está na ciência, a 3ª está no desencanto e a 4ª está no medo do desconhecido. Nada há de errado nas bases morais e religiosas que recebemos de nossos pais, não se forem do bem, muito menos nada há de errado na ciência, pudera todos os seres humanos pudessem ser graduados e pós-graduados em alguma área, e mesmo o desencanto e o medo do desconhecido têm bons propósitos.
      Essas coisas são armadilhas quando se tornam zonas de conforto que nos fazem parar de caminhar, nos acomodarmos com algo que a princípio não é ruim ou mal, só fim de uma etapa. No desencanto é onde pode haver a grande iniciação espiritual, pois nele acordamos para muitas ilusões e mentiras. Contudo, é após termos nossas primeiras experiências de fé que somos confrontados com o desconhecido sem véu do Altíssimo. Apesar de iniciais, muitos podem passar toda a vida nessas experiências, achando-se religiosos maduros por isso. Mas esse início é momento de escolha, ou paramos na religião do mundo ou seguimos em direção aos conhecimentos mais profundos de Deus. Não pare, ainda há muito mais para saber e viver. 

Desafios para mudar,
reflexão em quatro partes
José Osório de Souza, 18/06/2022