24/03/24

E se o diabo não existisse? (4/10)

      “Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” Mateus 15.17-19

      Alguns dizem que uma das melhores táticas do diabo é convencer as pessoas que ele não existe, concordo com isso. O diabo existe! É real o suficiente para fazer muito estrago nas cabeças e nas vidas das pessoas. Entretanto, a questão é: que estética formal ele tem e que armas ele usa? Isso é muito variável e subjetivo. Por incrível que pareça uma figura que algumas pessoas chamam de Deus dentro delas, pode na prática estar fazendo mais papel do diabo em suas vidas. Quando se crê num “Deus” prepotente, cobrador e punidor, se crê mais na dor que um ser poderoso causa se for desobedecido que propriamente no ser e em seu amor. Muitos respondem, “você está fazendo apologia a um “Deus” que por amor aceita o pecado”. 
      Não estou! Quem quer viver em pecado não busca a Deus, se busca, não acha, e se acha não consegue continuar perto dele. Deus não faz sofrer quem lhe desobedece, é o desobediente que não quer assumir seu erro e deixá-lo que se afasta de Deus. Longe de Deus há inferno, simples assim, e há a companhia de seres, físicos ou espirituais, que também querem ficar longe de Deus, seres que podemos chamar de demônios, também simples assim. Deus nunca deixa de ser santo, assim como nunca deixa de amar e atrair o ser humano, mas só fica perto de Deus, num “céu”, quem se santifica e ama, novamente digo, simples assim! Que papel tem um ser que permanece por muito tempo mau, um “diabo”, nisso? Prejudica só a si mesmo.

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

23/03/24

Deus precisa do diabo? (3/10)

      “Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.6-7

      A premissa da teologia da tradição judáica-cristã, mais católica que judáica ou cristã, é a de uma eterna rivalidade entre dois polos. Dessa forma Deus é mostrado muito mais como Senhor dos exércitos, que sempre vence guerras aniquilando inimigos, que como Pai de amor, que redime a todos. Apesar do catolicismo ter alinhavado uma doutrina que tenta mixar o Cristo do evangelho de amor com o Senhor dos exércitos da velha aliança, se pararmos para pensar com cuidado isso é inviável, ou Deus é uma coisa ou é outra. Contudo, protestantes e evangélicos aceitam essa doutrina esquizofrênica como verdade, porque ela é razoável? Não, porque eles têm medo de pensar e pôr alguma dúvida nela, dúvida é do diabo, creem muitos.
      O Pai de amor não precisa do diabo, o Senhor dos exércitos, sim, não se pode ser vencedor glorioso em batalha sem ter oponente à altura. Luke Skywalker precisa de Darth Vader, ainda que esse seja seu pai, que ironia nessa ficção, mas com um mistério real. Se um deus precisa manter um mal eterno para ser deus, ele depende do mal, não é cem por cento poderoso e bom. Ou é fraco por não poder aniquilar o inimigo, ou é sádico que mantém criatura sua em infinito tormento. Um Deus cem por cento bom não precisa do diabo, seu amor é suficientemente poderoso para transformar todo mal em bem, ainda que demore uma eternidade, dando a todos sempre livre arbítrio. Se o diabo não existisse, será que muitos cristãos seriam cristãos? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

22/03/24

Confortável maniqueísmo (2/10)

      “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.Apocalipse 20.10

      O versículo acima é a última citação bíblica sobre o diabo, pela teologia cristã tradicional revela um dos eventos terminais da história da humanidade. Creio que ele tem um ensino importante de Deus para o ser humano, mas não penso que seja o ensino da velha e confortável interpretação maniqueísta da Bíblia. Essa entende que o mal do universo está centrado num único ser espiritual, que se não nasceu mau escolheu sê-lo e isso não mudará mais. Ainda que o ser humano tenha livre arbítrio para escolher em que lado quer ficar, se do lado do bem ou do mal, assim, se do lado de Deus ou do diabo, e se escolher o lado do diabo terá o mesmo e eterno fim que ele, o diabo e seus demônios não têm direito a livre arbítrio, não mais. 
      Esse entendimento cria, mantém e empodera o mal quase que com potências iguais a Deus, quase, já que no final ele perde. Católicos e evangélicos aceitam isso como dogma, e questionar isso, mesmo na menor instância, é se colocar do lado do diabo. Esse dogma mantém-se vivo pelo medo do diabo, já que mesmo quem não tem aquela comunhão mais profunda e gratificante com Deus, permanecerá vendo as coisas desse jeito com medo de sofrer as penas reservadas por esse Deus ao diabo. Assim caminha a cristandade, com pouca fé em Deus, mas com muito medo do diabo. Você já se questionou até que ponto se diz cristão e crê na Bíblia, não porque tem paz e vitória com isso, mas porque tem medo de duvidar disso? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

21/03/24

Por que há diabo na Bíblia? (1/10)

      “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.Gênesis 3.1-5

      O texto inicial contém aquilo que a tradição judaico-cristã considera a primeira citação bíblica do diabo, ainda que nenhum de seus nomes conhecidos seja usado. No antigo testamento o termo diabo não é citado, o termo satanás é citado 14 vezes, só no livro de Jó, e outras 5 vezes em outros livros, já o termo lúcifer é citado uma vez (“estrela da alva” em Isaías 14.12), belial, outro termo atribuído ao diabo, aparece 12 vezes. Nessa estatística usei uma versão tradicional da Bíblia, mas o número pode variar de versão para versão, mas nessa diabo aparece só 32 vezes em todo o antigo testamento. Outras citações no antigo testamento ficam por conta dos nomes dos deuses das nações não israelitas, baal, baalim, astarote, quemós, milcom. 
      No novo testamento, menor no texto e no tempo que descreve, consta pelo menos o dobro de citações de termos usados para diabo. Por que existe um diabo na Bíblia? Porque existia um diabo na cabeça das pessoas que registraram a Bíblia, e pelo que parece mais na cabeça das pessoas do novo testamento que do antigo. O monoteísmo não unificou Deus, mas os seres espirituais do mal, assim foi criado o maniqueísmo, a luta de um único Deus contra um único diabo. Mas “autorizando” santos como intermediários entre seres humanos e Deus, o catolicismo dividiu Deus como os judeus do antigo testamento não faziam. O mal se tornou um, o bem, muitos, será que dessa forma o catolicismo não distanciou Deus e aproximou o diabo? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

20/03/24

Politeísmos e monoteísmo (3/3)

       “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.Efésios 4.4-7

     A grande contribuição que a religião dos israelitas dos tempos do antigo testamento entregou ao cristianismo e à humanidade, principalmente à ocidental, foi o monoteísmo. Mas seriam os santos católicos um retrocesso, uma volta ao politeísmo? Não, ainda que para muitos possa ser. Repetindo, o ponto não é a forma do objeto usado para focar fé e espiritualidade, mas a intenção dentro do coração do que foca. Na verdade sempre houve e sempre haverá politeísmo, assim como sempre houve e sempre haverá um Deus superior às potestades e aos principados espirituais, todos os seres que existem no plano espiritual, anjos, demônios, desencarnados, entidades, seja lá o nome que se dê, dentro ou fora da tradição judáica-cristã. 
      Quem muda é o ser humano, que com o upgrade da ciência denomina seres espirituais com nomes diferentes. Panteão greco-romano, santos católicos, almas de mortos, anjos e demônios, não seriam a mesma coisa? A lição a aprender é que a evolução científica e emocional do ser humano cria imagens mentais diferentes de seres espirituais reais. Não pense que eu não queira concluir esta reflexão, mas não devo, faltaria com respeito com muitos e escandalizaria outros, o que posso é dar meu testemunho. Conecto-me com o Deus Altíssimo por Jesus, experimento essa conexão, falando e ouvindo, pelo Espírito Santo. Se esses nomes estiverem na relação manteremos contato seguro com o bem e a verdade maiores.

19/03/24

Ídolos e santos, a mesma coisa? (2/3)

      “Portanto dize à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Contaminai-vos a vós mesmos a maneira de vossos pais? E vos prostituístes com as suas abominações? E, quando ofereceis os vossos dons, e fazeis passar os vossos filhos pelo fogo, não é certo que estais contaminados com todos os vossos ídolos, até este dia? E vós me consultaríeis, ó casa de Israel? Vivo eu, diz o Senhor Deus, que vós não me consultareis. E o que veio à vossa mente de modo algum sucederá, quando dizeis: Seremos como os gentios, como as outras famílias da terra, servindo ao madeiro e à pedra.Ezequiel 20.30-32

      Talvez o principal motivo de protestantes e evangélicos condenarem tanto católicos por usarem santos como intermediários entre eles e Deus, seja a visão dos outros deuses e de ídolos que lhes é passada pela história de Israel no antigo testamento. Mas ídolos do antigo testamento e santos católicos são a mesma coisa? A diferença não está na forma do objeto usado para focar fé e espiritualidade, mas na intenção do coração do que foca. Uma criança no interior da Sibéria, que nunca ouviu falar de Jesus e que não recebeu a construção de nenhuma mitologia da tradição judaico-cristã, não pode, num momento de dor e solidão, orar ao Deus verdadeiro? Pode, e poderá achá-lo mais que muito evangélico em templos no Brasil. 
      Pode-se argumentar: “essa ignorância ingênua é válida para quem não tem conhecimento, no Brasil católico de hoje, o Cristo é apresentado como único caminho, se católicos não trilham por ele é por rebeldia”. Não necessariamente, a fé de cada ser é algo pessoal e fechado, católicos genuínos não abandonam suas crenças tanto quanto evangélicos não largam. Quando se quer crer, se acha motivos, obtém-se provas que a crença funciona, evangélico não duvide das experiências de fé que católicos têm crendo em Maria. Mesmo os chamados pelos judeus de falsos deuses e ídolos vazios construídos por outros povos, podiam receber boa intenção e estabelecerem contato com Deus, não com o diabo. Deus sabe do coração de cada um. 

18/03/24

A todos fala de muitas formas (1/3)

      “Filhos dos homens, até quando convertereis a minha glória em infâmia? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira? Sabei, pois, que o Senhor separou para si aquele que é piedoso; o Senhor ouvirá quando eu clamar a ele.Salmos 4.2-3

      Por que achar que Deus fala comigo e não fala com o outro? Por que devo me considerar mais espiritual ou mais digno por crer diferentemente do outro? Por que, como protestante ou evangélico, devo pensar que eu falo com Deus, enquanto que outros, incluindo católicos, falam com o diabo? Até que ponto é agradável a Deus achar que porque uso os protocolos protestantes, orando só em nome de Jesus, tenho um acesso privilegiado a Deus, que aqueles que falam através de homens e mulheres falecidos, ainda que canonizados por uma secular instituição cristã, os santos, ou mesmo por outros nomes e entidades, não têm? Será que Deus funciona assim, quem ora por Cristo ele ouve, quem não ora ele simplesmente desconsidera? 
      Você, evangélico, que olha com certa repulsa católico rezar para santo, tem na prática mais devoção, fé, frutos de amor, santidade e justiça, que o católico? Muitos protestantes e evangélicos têm pecado contra Deus, não por não viverem do jeito certo, mas por condenarem o jeito de viver para Deus dos outros. Deus me chamou no cristianismo protestante, depois me mostrou a intimidade dos dons espirituais, por nada abro mão de Jesus e do Santo Espírito, mas também, e isso a duras penas, Deus me ensinou a não condenar ao inferno católicos e outros religiosos. Ainda que no meu ponto de vista muitos percam por não usarem o caminho reto e exclusivo do Cristo, Deus chama pessoas em religiões diferentes por sábias razões suas.