sábado, março 23, 2024

Deus precisa do diabo? (3/10)

      “Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.6-7

      A premissa da teologia da tradição judáica-cristã, mais católica que judáica ou cristã, é a de uma eterna rivalidade entre dois polos. Dessa forma Deus é mostrado muito mais como Senhor dos exércitos, que sempre vence guerras aniquilando inimigos, que como Pai de amor, que redime a todos. Apesar do catolicismo ter alinhavado uma doutrina que tenta mixar o Cristo do evangelho de amor com o Senhor dos exércitos da velha aliança, se pararmos para pensar com cuidado isso é inviável, ou Deus é uma coisa ou é outra. Contudo, protestantes e evangélicos aceitam essa doutrina esquizofrênica como verdade, porque ela é razoável? Não, porque eles têm medo de pensar e pôr alguma dúvida nela, dúvida é do diabo, creem muitos.
      O Pai de amor não precisa do diabo, o Senhor dos exércitos, sim, não se pode ser vencedor glorioso em batalha sem ter oponente à altura. Luke Skywalker precisa de Darth Vader, ainda que esse seja seu pai, que ironia nessa ficção, mas com um mistério real. Se um deus precisa manter um mal eterno para ser deus, ele depende do mal, não é cem por cento poderoso e bom. Ou é fraco por não poder aniquilar o inimigo, ou é sádico que mantém criatura sua em infinito tormento. Um Deus cem por cento bom não precisa do diabo, seu amor é suficientemente poderoso para transformar todo mal em bem, ainda que demore uma eternidade, dando a todos sempre livre arbítrio. Se o diabo não existisse, será que muitos cristãos seriam cristãos? 

“Questões sobre o diabo”,
reflexão em dez partes
José Osório de Souza, 19/06/2022

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