Cuide-se e Deus cuidará de você

      “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.” Apocalipse 22.11-12

      “Sou feliz deixando a vida me levar”, seguindo o verso de um samba, é assim que muitos vivem, e à medida que vivem agradecem a Deus pelas experiências, sim, não são ateus muitos que caminham pelo mundo. Mas até que ponto pessoas que vivem assim experimentam o melhor de Deus para suas vidas? Frequentemente uso o termo “melhor de Deus”, porque tudo é de Deus e Deus está em todos os lugares, até nos “infernos”, lugares exteriores onde se reúnem, por afinidade e semelhança de intenção, aqueles que carregam dentro de si os verdadeiros infernos, os interiores. A grande maioria das pessoas assume fé em Deus e até frequenta atividades religiosas, mas isso não significa que prova o melhor de Deus. 

      Existir é trabalhar, trabalhar é superar desconfortos para se obter algo, se não há dor não é trabalho, e sem trabalho não se tem direito a algo bom. Muitos trabalham no plano físico, estudam, se esforçam física e intelectualmente, saem da cama pela manhã, enfrentam limites do corpo e injustiças do mundo para terem direito a uma remuneração financeira, contudo, muitos acham que é só isso, ainda que sejam religiosos. Progresso espiritual e aquisição de virtudes morais também precisam de trabalho, de que se pague um preço, que se supere a dor de dizer não aos prazeres mais fáceis do corpo. Quando nos damos a esse trabalho, Deus é autorizado a fazer sua melhor parte por nós naquilo que não podemos fazer.

Com quem nos sentimos bem?

      “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos” II Coríntios 4.7-10

       “Me sinto bem com pessoas do bem!”. Será que de fato podemos fazer essa afirmação? Não estou dizendo que temos que desprezar alguns, o evangelho não ensina isso, sua orientação é para amarmos a todos, especialmente os que se põem como nossos opositores. Mas os que são da luz devem sentir uma comunhão especial com os que são da luz, de maneira alguma ficarem à vontade com os que mantêm trevas dentro de si. Se há malícia, difamação, julgamento mau, deve causar algum desconforto naqueles que amam a Deus e andam perto dele, que faz com que esses estejam mais cuidadosos, vigilantes, não com a mesma liberdade para se expressar, que teriam na presença dos sinceros do bem e da luz.

      Isso não é fácil, todos nós queremos aprovação das pessoas, e para recebermos isso podemos nos “vender”, aceitarmos coisas que não concordamos e que não fazem que nos sintamos bem, só para termos amigos por perto. Por outro lado, nos posicionarmos moralmente exige conexão íntima com Deus, que nem sempre estamos exercendo, e o mal pode nos surpreender. Podemos passar muito tempo vigiando, mas num descuido, sermos pegos por um comentário malicioso que acha em nós aprovação, não a coragem para nos colocarmos como amigos de Deus. Só persistência fará que sejamos por fora o que somos por dentro, sem hipocrisia ou falso moralismo, com coerência e satisfeitos por agradarmos a Deus. 

Leve tua cruz até o fim

      “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.” Mateus 10.38

      Se nossa luta neste mundo, além daquela para a sobrevivência material, a luta para praticarmos valores morais, nunca nos dá descanso, a única forma de termos paz é sermos humildes e aceitarmos essa luta. Podemos trabalhar por décadas, para adquirirmos um imóvel, criarmos os filhos e fazermos um pé de meia, para termos um plano de saúde e descanso num final digno de vida, mas para o espírito não há aposentadoria. Apesar de não haver, muitos querem essa aposentadoria, e nem no final, ainda na juventude. Enfadam-se com o errar e pedir perdão, não administram corretamente a culpa, são orgulhosos para admitirem que são eles que devem mudar, não o universo, e não entendem o objetivo principal da vida. 

      É preciso humildade para ser feliz, sem humildade não há paciência, sem paciência não amamos, e sem amor estamos sozinhos, ou só na companhia de amargos, que não querem compartilhar amor, mas nos usar para prazeres egoístas. Quantas coisas se faz para não se levar uma cruz, e a cruz que de fato Deus dá não é pesada, tem o peso certo, para nos fazer melhores, livres e felizes, preparando-nos para a eternidade. Só na eternidade nos desvencilharemos das cruzes, não antes, assim, fraquezas que nunca conseguimos vencer totalmente, tendências que sempre nos humilham, aceitemos com humildade. Isso faz nossa paz depender de Deus, não só de nós, dependentes de Deus olhamos para o alto, nosso objetivo, não para outros lugares. 

Quem dá vida é o Espírito

      “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” Romanos 8.13

      Há coisas que não mudam neste mundo e não irão mudar até nosso último instante de existência aqui, com nossos espíritos presos a corpos físicos. Tudo sempre tenderá e finalmente se renderá à morte. Isso não é motivo para nos entregarmos à tristeza ou para desistirmos de praticar valores morais, ao contrário, somos desafiados a querer e praticar o melhor da vida aqui todos os dias. O desafio vai além de nos mantermos sãos e capazes de vencer o mundo material e sobrevivermos, física e emocionalmente, como seres sociais, administrando o planeta, o desafio é bem mais que material. O desafio é espiritual e quem nos faz é Deus, quando nos coloca aqui em rápidas passagens para sermos provados e aprovados.

      Só há um jeito de superarmos o antagonismo entre a morte inexorável do corpo e essência eterna do espírito, que se opõem o tempo todo e pedem de nós um trabalho constante, além do físico, moral. O jeito é o Espírito Santo do Altíssimo liberado à humanidade pela obra redentora de Jesus Cristo, assim a luta não é para impedir a carne de prevalecer, mas para deixar o esprito ser livre pelo Espírito de Deus. Quem luta contra os desejos do corpo e os males do mundo sozinho não alcançará vitória, mas quem luta para deixar livre o Espírito Santo no seu espírito será vitorioso, pois está em harmonia com a vontade daquele que criou o ser humano, espírito e corpo, o pôs no mundo e tem um propósito com tudo isso. 

Deus nunca se afasta de nós

      “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir.” Isaías 59.1

      Se quando nosso estado emocional muda perdemos a noção de liberdade, também nos sentimos desligados de Deus, assim nossa percepção de estarmos num céu ou num inferno modifica com a velocidade de nossa inconstância sentimental. Ainda que um sentimento de vazio nos avassale, que acreditemos piamente que estamos perdidos e sozinhos, Deus nunca se afasta de nós, contudo, depende de nós, com humildade e fé, nos conectarmos mentalmente com ele. Nessa conexão somos iluminados espiritualmente e nossos sentimentos mudam, mas isso é só consequência em nós de um trabalho mental que fazemos. Deus não muda de posição por causa disso, somos nós que mentalmente nos elevamos. 

      Uma armadilha que o mal usa constantemente para nos prender mais a ele, é, depois que caímos e nos sentimos culpados, tentar nos convencer que Deus se afastou de nós, que nunca mais se aproximará. Isso é mentira, Deus nunca muda, ainda que nossos sentimentos e pensamentos mudem, mas se foi a gente que se afastou também somos nós que devemos de novo nos aproximar. Graças a Deus que seu amor nos ajuda nisso, um passo esforçado e pela fé que damos em sua direção, basta para que ele nos abrace e nos dê forças para dar os outros nove passos, parecendo-nos até que ele mudou de posição. Importa é sabermos que Deus está sempre perto e pronto para nos ajudar, assim não percamos tempo com mentiras do mal.

Liberdade pra quem sabe ser livre

      “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.” João 17.15

      A verdadeira liberdade provam, não os que querem ser livres, mas os que sabem, esses não precisam de grandes espaços para serem livres, lhes basta os pequenos. O espírito não precisa mais que isso para se elevar e libertar-se. Somos livres numa oração sincera do bem, que não precisa nem de palavras ou de um lugar consagrado por homens, só necessita de um olhar, não para baixo, nem para os lados, mas para o alto. A melhor oração só precisa de uma conexão reta e direta com o Altíssimo, a encontrará com mais facilidade os que se elevarem pelo Santo Espírito até Jesus e se colocarem diante do trono de Deus. Ser livre é poder buscar a Deus, achá-lo e seguir neste mundo em paz, em santidade e em amor.

      Se a liberdade maior é espiritual, por outro lado, pela graça de Deus, não precisamos deixar a matéria para achá-lá, por Cristo podemos prová-la mesmo aqui. Nessa liberdade somos libertos do mal, ainda presos a corpos mortais, o que encarcera é o mal, mal é tudo que afasta de Deus. Nem todo aparente bem é de Deus, mas Deus é sempre o bem maior. Todos querem ser livres, mas será que todos sabem ser livres, estão prontos para a liberdade, ou só querem fazer o que lhes dá prazer sem se responsabilizarem pelas consequências? A verdadeira liberdade nunca é irresponsável ou infantil, saber ser livre é ser responsável e maduro, num amor que a ninguém lesa, mas a todos abençoa e conduz a Deus.

Somos livres em Cristo

      “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” João 8:36

      Liberdade, tão festejada e desejada, principalmente no mundo atual, como é difícil ser realmente vivida. Por pouca coisa, uma lembrança, uma palavra de alguém, a possibilidade de ter que enfrentar algo desconhecido, a expectativa de algo que achamos ser maior ou melhor que nós, tudo isso nos encarcera no medo e na insegurança e nos rouba a liberdade. O motivo principal é tentarmos achar liberdade na matéria, no mundo, nos homens, no que é visível e tocável, enfim, em coisas que não existem e nunca existirão para serem livres. Como algo que nasce para morrer, para durar menos de cem anos, pode sequer ter a mais distante ideia do que é ser livre? Esse conhecimento só o espírito possui. 

      Neste planeta estamos encarcerados, todos nós, seja em pobres casebres ou em luxuosas mansões, apertados em transportes coletivos indo e vindo de uma dia duro de trabalho, ou sozinhos, num espaçoso e sofisticado carro, com ar condicionado, viajando a passeio para algum lugar paradisíaco. Qualquer um, em qualquer lugar ou condição, cultural ou financeira, está encarcerado, um espírito eterno dentro de um corpo perecível. Se quem pode ser livre é só o espírito, a liberdade maior só é achada na fé e em Deus, não na ciência ou na mente humana. Os que são humildes, e só esses, que se quebrantam diante do Senhor e o buscam com todo o coração, serão livres de verdade, além desta existência.