12/08/11

Perder para ganhar: a missão

"Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra. E assim os inimigos do homem serão os seus familiares”, Mateus 10:34-36 (sugiro a leitura do capítulo 10 inteiro do evangelho segundo Mateus).
      Não dá pra ficar bem com todo mundo, existem brigas que serão compradas naturalmente. Não se pode tomar uma posição séria na vida sem que alguns opositores se levantem e possam vir a se colocar como nossos inimigos. Usando um ditado popular, não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos.
      Os versículos acima são mais alguns, dentre outros, que nos colocam frente a um assunto de aparência polêmica, dentro do escopo bíblico. Veja que eu disse aparência, pois a Bíblia e o evangelho somente são escândalo para aqueles que não querem caminhar com Deus. Para entender o significado dos versículos 34 a 36 de Mateus 10, é necessário temor a Deus e oração, buscando a orientação do Espírito Santo. Se simplesmente se fizer uma interpretação ao pé da letra, pode-se chegar a um entendimento equivocado do evangelho, que promove e apoia violência e desavença.
       O capítulo 10 do evangelho segundo Mateus, começa descrevendo a viagem missionária para a qual Jesus enviou seus apóstolos. Mostra o que os apóstolos deveriam fazer, como, quando e com quem, pregando o evangelho. Além da ordem para os evangelistas daquele tempo, existe uma palavra profética para os evangelistas de todos os tempos.
      Os versículos 21 e 22, do mesmo capítulo, também falam sobre a divisão que o evangelho faria nas famílias, “E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”. Jesus ensina que a aceitação do evangelho seria algo pessoal, e que poderia haver diferença de opinião dentro de uma mesma família. Pai poderia aceitar o evangelho enquanto o filho não. Isso deve ter chocado a sociedade religiosa e patriarcal judaica da época. Mas Jesus deixa claro, que para aceitar o evangelho, a pessoa não poderia ter medo daqueles que não o aceitassem. Disso, dessa diferença, ocorreriam com certeza divergências.
      A Bíblia tem que ser entendida como um todo, um texto deve ser confrontado com outro, dentro do contexto histórico de cada um. Estudando com unção do Espírito Santo, não se encontra incoerências na Bíblia, sobre nenhum aspecto. O texto das bem-aventuranças (Mateus 5:1-12) dá a referência de perda, ele nos ensina que no caminhar com Jesus, deve-se perder neste mundo, para se ganhar no reino de Deus. Ele pode ser usado para contrapor a qualquer interpretação de ganho através de truculência e confronto belicoso, por meio do evangelho. Mas voltando ao texto do início deste estudo, para quem aceita o evangelho, certos confrontos são inevitáveis.
      Mas a questão não é fugir do confronto, mas como reagir a ele. É importante que entendamos que quem confronta um seguidor do verdadeiro evangelho não está confrontando o seguidor, mas quem esse está seguindo, Jesus Cristo, o Senhor do evangelho. Se a “briga” é com ele, então devemos saber dele como reagir ao confronto. O mesmo capítulo 10 de Mateus nos dá essa orientação, nos versículos 18 a 20: “E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós”.
      É importante também que entendamos esse texto, sem romantismo ou misticismo. Não que uma situação exatamente como a descrita acima não pode existir. Mas para a maioria de nós, nos tempos atuais, ser levada à presença de autoridades, pode ser simplesmente algo que aconteça dentro da nossa profissão, quando através de promoções profissionais, temos contato com gente importante do sistema deste mundo. A maneira como nos comportamos, o que dizemos, o nosso caráter, revelado nas posições que tomamos, podem estar servindo de testemunho para gente do alto escalão de empresas e instituições deste planeta. Nossa posição profissional pode estar sendo usada por Deus para que o evangelho seja compartilhado com gerentes, presidentes e políticos da nossa sociedade.
      Voltando a Mateus 10, Jesus dá uma palavra bem lúcida para os evangelistas. Se houvesse perseguição, o evangelista não teria que ficar impassível, aceitando a violência, mas ele deveria fugir e continuar a sua missão. “Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem”, versículo 23 do capítulo 10. Portanto, para quem segue a Jesus, de verdade, querer aceitação e honra neste mundo, é algo impossível. Se a gente ainda não aceitou isso, então estamos perdendo tempo.
      “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”, “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á”, Mateus 10:32 e 10:38-39. Bem, essa é a única e verdadeira missão daquele que segue a Jesus, que é filho de Deus. Muitas vezes um bom salário e uma posição de proeminência, terão que ser sacrificados em troca do testemunho de justiça e verdade que o filho de Deus deve dar para o mundo.
      E quanto a ter um emprego melhor, para ganhar mais dinheiro, então comprar mais coisas e pagar os cartões de crédito das dívidas? Se nós ainda não entendemos, é bom entendermos, isso é somente o pano de fundo, desculpas que Deus usa para que nós nos envolvamos com o mundo e então cumpramos a nossa missão. Tem que se perder para se ganhar.

11/08/11

Limites

Livro de Deuteronômio, capítulo 2, versículos 1-9, 13-19 e 24-25:

      “Então demos meia-volta e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como o Senhor me havia ordenado. E por muitos anos caminhamos em redor dos montes de Seir. Então o Senhor me disse: "Vocês já caminharam bastante tempo ao redor destas montanhas; agora andem para o norte.
      O povo de Israel tinha saído do Egito e após insistir no pecado de incredulidade e idolatria, Deus permitiu que o povo ficasse quarenta anos andando em círculos, sem chegar ao lugar de destino. Interessante que o povo passou um bom tempo andando próximo do monte Seir, onde habitava os descendentes de Esaú, parentes do povo de Israel, descendentes de Jacó, irmão de Esaú.
      E diga ao povo: Vocês estão passando pelo território de seus irmãos, os descendentes de Esaú, que vivem em Seir. Eles terão medo de vocês, mas tenham muito cuidado. Não os provoquem, pois não darei a vocês parte alguma da terra deles, nem mesmo o espaço de um pé. Já dei a Esaú a posse dos montes de Seir. Vocês lhes pagarão com prata a comida que comerem e a água que beberem".

      Israel fez o que muitas vezes nós fazemos, quando a coisa aperta, ao invés de procurar a ajuda de Deus, voltamos e olhamos para trás, procurando a ajuda dos parentes. Mas para quem já constituiu família, tem mulher e filhos, isso é um retrocesso. Como família Deus ordena que tenhamos a nossa independência e que busquemos o lugar que é nosso. O que é de nossos pais e sogros não nos pertence. Deus ordenou que nada tomasse dos descendentes de Esaú, mas que se precisasse de alguma coisa, o povo de Israel deveria comprar de Esaú.

      Pois o Senhor, o seu Deus, os tem abençoado em tudo o que vocês têm feito. Ele cuidou de vocês em sua jornada por este grande deserto. Nestes quarenta anos o Senhor, o seu Deus, tem estado com vocês, e não lhes tem faltado coisa alguma.

      Deus lembra que durante os quarenta anos que Israel passou no deserto, ele tinha cuidado do povo, nada lhes havia faltado, não seria diferente agora que estavam mais próximos de “parentes”.

      Assim, passamos ao largo de nossos irmãos, os descendentes de Esaú, que habitam em Seir. Saímos da rota da Arabá, de Elate e de Eziom-Geber. Voltamos e fomos pela rota do deserto de Moabe. Então o Senhor me disse: "Não perturbem os moabitas nem os provoquem à guerra, pois não darei a vocês parte alguma da terra deles, pois já entreguei a região de Ar aos descendentes de Ló".

      Israel precisou que Deus lhes chamasse a atenção para parar de andar em círculos, buscando a solução que para eles era mais fácil, no lugar de confiar em Deus e se por no caminho certo, de conquista da terra prometida. Então passaram pelos moabitas, que também eram parentes distantes dos israelitas. Nesse momento Deus tornou a exortar o povo, dizendo que nada deveria tirar dos moabitas, mas que deveriam seguir em frente.

      "Agora levantem-se! Atravessem o vale de Zerede". Assim atravessamos o vale. Passaram-se trinta e oito anos entre a época em que partimos de Cades-Barnéia, até quando atravessamos o vale de Zerede, até que pereceu do acampamento toda aquela geração de homens de guerra, conforme o Senhor lhes havia jurado. A mão do Senhor caiu sobre eles e por fim os eliminou completamente do acampamento. Depois que todos os guerreiros do povo tinham morrido,

      Os anos que o povo andou em círculos, vislumbrando uma Canaã errada, serviram para que Deus punisse a geração de homens incrédulos que não confiou que Deus os levaria, sãos e salvos, à terra prometida.

      o Senhor me disse: "Vocês estão prestes a passar pelo território de Moabe, pela região de Ar, e vão chegar perto da fronteira dos amonitas. Não sejam hostis a eles, pois não darei a vocês parte alguma da terra dos amonitas, pois eu a entreguei aos descendentes de Ló".

      Sobre os amonitas, Deus repete a orientação que deu sobre os descendentes de Esaú e moabitas, “não tomem nada deles, a terra deles não é de vocês”.

      "Vão agora e atravessem o ribeiro do Arnom. Vejam que eu entreguei em suas mãos Seom o amorreu, rei de Hesbom, e a terra dele. Comecem a ocupação, entrem em guerra contra ele. Hoje mesmo começarei a infundir pavor e medo de vocês em todos os povos  debaixo do céu. Quando ouvirem da fama de vocês, tremerão e ficarão angustiados".

      Finalmente, o povo de Israel, chegou à terra que Deus daria a ele. Se foi demorado para Israel, foi o tempo certo para Deus. Quando Israel chegou a sua terra, sua fama já tinha lhe antecedido, o medo fez com que Israel chegasse para lutar com um povo enfraquecido.
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      Deus põe limites nas coisas, não é tudo que é para ser nosso. Devemos aprender a enxergar esses limites, para não perdermos tempo lutando por algo que não é nosso, que Deus não nos deu. Aquilo que Deus nos deu, não custará nada para nós, a não ser obediência. Obedecendo a Deus, lutaremos uma batalha de vitória certa, contra um inimigo que já foi vencido antes mesmo que nós começássemos a lutar, Deus faz isso.
      Devemos entender que Deus não nos dá determinadas coisas porque elas são de outros. Não é somente nós, que somos amados por Deus, Deus ama a todos, e para cada um ele tem uma parte de prosperidade e de posse.
      Mas talvez você esteja vivendo uma situação em que parece estar fazendo tudo certo, está bem intencionado e vivendo de acordo com a vontade de Deus, nada pode te acusar. No entanto, está investindo num projeto, que Deus inclusive sabe que é uma necessidade legítima que você tem, mas o projeto absolutamente não vai pra frente, não funciona, não dá certo. Pode ser um emprego, relações sociais, aquisição de um bem, a coisa simplesmente não anda.
      Pode não estar andando, porque, apesar de você estar agindo com sinceridade, não é o que Deus tem pra você. De uma maneira talvez inconsciente, você está desobedecendo a Deus. Quando é assim, não adianta orar, se santificar, tomar todos os cuidados, não só isso, você não terá vitória no encaminhamento desse projeto. O mundo, a vida, mesmo a geografia, tem seus limites, Deus tem o lugar certo para cada um, só nesse lugar a batalha é viável e a vitória é certa.

10/08/11

Sobre respeito

      "Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: "Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? 
     "Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo.
      Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: "Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela". Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão.
        Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando com os mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele. Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: "Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou? " "Ninguém, Senhor", disse ela. Declarou Jesus: "Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado".
João 8:3-11  
         
      É fácil respeitar quem está por cima, que está se mostrando superior, por estar fazendo algo célebre, dizendo algo precioso, sendo uma pessoa notável. Todos nós, em algum momento, temos nossos quinze minutos de fama, conforme o artista pop Andy Warhol.
        Com a internet então, isso se tornou plenamente possível. Qualquer um, até este que vos escreve, pode criar um blog e falar aquilo que lhe vier à cabeça. Durante esses quinze minutos, todo mundo é obrigado a nos respeitar, como diria o Zagallo, “vão ter que me engolir”. Contudo, com a mesma facilidade que se sobe, pode-se descer, principalmente quando se sobe graças à arrogância e vaidade humanas.
      Difícil, quase impossível, é respeitar quem está por baixo, ou por ter tropeçado sozinho, ou por alguém ter puxado o seu tapete. Quando o camarada cai, e principalmente se ele for do tipo que quando estava por cima humilhou todo mundo, nós não achamos que devemos a ele respeito. Lembramos, em bom e alto som, o que ele fez de errado e até o que não fez, para nos alegrarmos com a sua queda. Afinal, quando o erro de alguém é declarado, o nosso erro fica escondido, e quanto maior for o erro do outro, maior pode ser o nosso, desde que seja menor que o do outro.
     Respeitar alguém é poupá-lo de críticas, que mostrem seus pontos fracos. Respeitar é salientar os pontos fortes de alguém e deixar o resto pra lá. Às vezes parece bem difícil achar o ponto forte de certas pessoas, nós, atrás de nossa ótica míope devido à nossa injustiça e dificuldade terrível para amar, incitados muitas vezes pela inveja e pelo rancor, só vemos os defeitos. 
        Mesmo que o bom senso esteja nos incomodando para dialogar com determinada pessoa, com respeito, dando credibilidade a ela, acreditando que ela tem pontos bons e que aquilo que ela faz é sincero, mesmo assim a gente procura e procura e não consegue achar nada de legal nela. Parece que estamos num deserto procurando uma pérola, é muito difícil, a gente chega a suar. Lutamos com a gente para não parecer falsos, mas nos sentimos muito desconfortáveis com a situação. Ocorre, é que com o arrogante, quando ele cai, a tendência natural do ser humano é jogar na cara dele o seu erro, superavaliar seus defeitos, de forma que qualquer coisa boa que ele tenha feito seja diminuída, melhor ainda, esquecida.
       Só o amor de Deus para que consigamos respeitar quem está por baixo. Não, não vou falar da experiência de Davi e Saul, o exemplo bíblico que representa com perfeição este assunto. Citando apenas por cima, acredito que ninguém mais que Davi conseguiu respeitar alguém que estava por baixo, e mais que isso, respeitar alguém que estava por baixo e que enquanto não admitia isso, sonegava do próprio Davi um direito que Deus já havia lhe dado, de ser rei no lugar de Saul. 
        Mas é muito difícil receber a ligação daquela pessoa, que te humilhou tanto, que foi injusta com você, que sempre lhe disse aquilo que pensava, sem qualquer respeito. É difícil ouvir dessa pessoa, pelo telefone, que agora ela está mal, passando por um problema muito grande, que está sozinha e que precisa da tua ajuda. O nosso sangue ferve nas veias com vontade de dar o troco. Contudo, o Espírito Santo, dentro de nós, fala mais alto, e orienta-nos a ter por essa pessoa, respeito. 
        Só Deus para olhar alguém e ver não o que ele é ou fez, mas o que ele pode ser e fará. Só Deus para nos respeitar num momento de total fragilidade, quando as nossas fraquezas estão totalmente expostas. Só Deus para nos fazer entender que nós não somos melhores que ninguém, que erramos tanto quanto os outros, que se não tomarmos cuidado, nós também podemos cair, e bem fundo. Só Deus para nos dar amor para que respeitemos as outras pessoas tanto quanto desejamos ser respeitados.
        Sobre a passagem bíblica no começo desta postagem, apenas um comentário, era tanto o respeito que Jesus tinha pela mulher que ele se quer fixou os olhos nela, para não humilhá-la mais. Não a acusou, apenas a orientou que mudasse de vida a partir daquele momento. Parece simples? Mas esse é o jeito amoroso que Deus tem para não humilhar ninguém.

Remindo o tempo

Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, Remindo o tempo; porquanto os dias são maus”, Efésios 5:15-16. Outra versão bíblica desses versículos diz: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus”.

      Na segunda versão acima, o verbo remir é traduzido com a expressão “aproveitando ao máximo cada oportunidade”. O dicionário explica remir como: redimir, resgatar, readquirir, libertar do cativeiro, do poder do inimigo, salvar, livrar das penas do inferno, expiar, libertar uma propriedade de um ônus pelo pagamento deste, etc.
      A lição é que o tempo não é justo, o tempo nesta vida, neste mundo. O tempo não é bom, não é grato, não é paciente. Ele é rápido, cobra o que não deu, e dá coisas ruins. O tempo é assim porque ele é um conceito totalmente ligado ao pecado. Envelhecemos porque pecamos, é o pecado, o mal, a carne que nos faz sentir a passagem do tempo.
      Deus não fica velho, e também sabe o que vai acontecer antes que aconteça. Na verdade o tempo de Deus é sempre agora, sempre presente. Isso é impossível se quer para o homem entender, quando mais experimentar. Quando formos transformados, e tivermos o mesmo corpo de Cristo, através do arrebatamento ou da morte do corpo, então experimentaremos esse conceito.
      Mas enquanto neste mundo, há necessidade de ser sábio, viver com prudência, a virtude que faz prever e procura evitar as inconveniências e os perigos, andando com cautela e precaução. O tempo precisa ser remido, não pode simplesmente deixar que ele passe e escape. Aproveitando cada oportunidade, diz a outra versão bíblica, e aproveitando para se fazer o bem, para se conquistar aquilo que Deus nos prometeu, nossa parte de vitória neste mundo.
      “Então temeram os marinheiros, e clamavam cada um ao seu deus, e lançaram ao mar as cargas, que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono. E o mestre do navio chegou-se a ele, e disse-lhe: Que tens, dorminhoco? Levanta-te, clama ao teu Deus; talvez assim ele se lembre de nós para que não pereçamos”. Jonas 1:5-6.
      Não durmamos como Jonas, mas nos coloquemos de pé, acordados, e aprendamos a viver, a remir o tempo, a ser sábio, aproveitando cada oportunidade para conquistar a terra prometida que Deus dá a cada um de nós.

09/08/11

Ordena justiça, Senhor!

Quem gera a maldade,
concebe sofrimento e dá à luz a desilusão.
Quem cava um buraco e o aprofunda 
cairá nessa armadilha que fez.
Sua maldade se voltará contra ele, 
sua violência cairá sobre a sua própria cabeça.

Salmos 7:14-16

Cantar ou voar? (conto)

Em uma floresta havia um pássaro. Ele voava como nenhum outro pássaro. Voava alto e não se cansava. Conseguia ir para muito longe e sempre podia voltar à sua origem, quando desejava. Por ter essa facilidade, ele pouco parava para conviver com os outros pássaros. Os outros ficavam por muito tempo nas árvores, cantando, alegrando os animais da floresta. Ele não tinha tempo para isso, queria voar, queria ser livre. Bem, era isso o que os animais achavam sobre ele, “ele ama a liberdade, não tem tempo para ficar aqui com a gente e cantar, orgulhoso, deve se achar melhor que nós”. Mas a verdade era outra, o pássaro simplesmente não conseguia cantar, por isso ele estava sempre em movimento. Ele não admitia isso, dizia que ficar lá parado, com os pássaros, só cantando, era muito chato, mas o que ele tinha era vergonha de que os pássaros soubessem que ele não podia cantar, por isso estava sempre voando para longe.
Uma noite, o eterno criador da natureza, da floresta, dos pássaros e de todos os animais, apareceu para ele em sonho e lhe perguntou: “Pede-me o que quiser e eu te darei, mas aviso, pensa bem no que vai me pedir, porque só terá direito a um pedido, e eu o realizarei exatamente do jeito que você me pedir”. Em sonho, o pássaro respondeu ao criador: “Eu quero cantar, quero muito, bem melhor que os outros pássaros, quero isso mais que tudo na vida”. O criador então lhe respondeu: “Continue dormindo em paz, pela manhã, quando acordar, terá o teu pedido respondido”.

Quando o pássaro acordou, ele caminhou até a ponta do galho em que dormia, onde outros pássaros costumavam ficar para cantar. Quando os pássaros o viram, eles disseram: “Olha quem está aqui, entre nós, o senhor liberdade, aquele que vive voando, se exibindo, que nunca fica em nosso meio, cantando com a gente”. O pássaro estava com muito medo, pensava no sonho que tinha tido. Os pássaros ficaram todos em silêncio, como que aguardando a sua resposta. Com a voz ainda trêmula ele começou a cantar, incrédulo, achou que não sairia nada, somente o barulho desafinado de sempre. Mas qual foi a sua surpresa quando ele percebeu que conseguia cantar, mais ainda, cantava muito bem. O criador de tudo tinha lhe concedido o desejo, agora ele podia cantar, e melhor do que todos. Os pássaros ficaram maravilhados com o canto dele, ficaram ouvindo-o com muita atenção. Não só eles, mas todos os animais da floresta vieram até a árvore onde ele estava e ficaram quietos, ouvindo seu recital.

        Algum tempo depois, os pássaros tiveram sede e fome, um a um foram levantando voo, buscando água e comida. Até que o pássaro ficou sozinho, ainda assim continuou cantando. Todavia, num determinado momento, ele também ficou com fome e sede. Quase que mecanicamente, sem pensar, ele se lançou do galho e abriu as asas. Contudo, para sua surpresa, ele não conseguia movimentar as asas para que elas pudessem fazê-lo voar. Ele ainda conseguiu, desajeitadamente, planar até o chão, por pouco não se machucou. Lá embaixo, sozinho, já que todos os animais tinham saído para fazer suas refeições, ele ainda tentou novamente voar. Tentou e tentou, mas nada, não conseguia voar. Andando então, ele pode, com muito esforço, obter comida, e chegar a um lago, para saciar sua sede.

O tempo passou e o pássaro percebeu que simplesmente não conseguia mais voar. Para facilitar sua vida, ele começou a dormir perto do lago. Comia o que achava por lá e o que os outros pássaros deixavam, como sobra de suas refeições. Mas mesmo assim, debilitado, naquele local impróprio, já que longe do alto das árvores os pássaros ficavam mais expostos aos animais que os caçavam, ele continuava a cantar, e como era belo seu canto. Os outros animais perceberam que ele estava preso naquele lugar, perto do lago, perceberam também que ele não voava mais. Tinham dó dele e o ajudavam, trazendo-lhe alimento. Assim foi a vida daquele pássaro por algum tempo.
Em uma noite, durante o sono, o criador de todas as coisas, veio falar com o pássaro, disse ele: “Por que está abatido pássaro?”, respondeu o pássaro: “Do que me adianta cantar tão bem, se eu não posso mais voar? Posso cantar, mais do que os outros pássaros, mas não consigo me alimentar, dependo do favor dos outros”. Então respondeu o criador: “Não se pode ter tudo o que se quer na vida, principalmente algo importante. Você voava mais que os outros pássaros, então pediu para cantar mais que os outros. O melhor é ter equilíbrio, não usar a liberdade para se afastar dos amigos, dos parentes, mas parar e cantar um pouco com eles, não o melhor canto do mundo, mas o suficiente para alegrar os animais. Liberdade demais rouba a alegria, alegria demais nos prende, e tira a liberdade”. O pássaro então perguntou: “E o que eu faço agora?”. Respondeu o criador: “Pare de cantar um pouco e aprenda a voar. Você não voará como voava antes, mas se for esforçado, com o tempo voará o suficiente para poder se alimentar, saciar tua sede, e ter a tua independência”.

O pássaro entendeu que não podia ter as duas coisas. Entendeu também que isso nem era necessário, o melhor era ter a dose certa de liberdade e de alegria, de solidão e de companhia, de sossego e de trabalho. Mas o mais importante que o pássaro aprendeu, foi que o que fazia com que ele quisesse voar melhor e cantar melhor, era somente vaidade. Essa vaidade não estava dando nada de bom para ele, só o deixava sozinho. Ela só o afastava dos outros pássaros, tornava-o arrogante. Com humildade e coragem, ele conseguiu achar o equilíbrio na vida.

"Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio." II Timóteo  1:7  

Que valor temos para ti assim?

É maravilhoso como as passagens bíblicas podem descrever com tanta clareza o estado emocional e espiritual que a gente se encontra. O salmo 39 falou muito comigo neste dia, quero compartilhá-lo com você.
       
         “Eu disse: Vigiarei a minha conduta e não pecarei em palavras; porei mordaça em minha boca enquanto os ímpios estiverem na minha presença. Enquanto me calei resignado, e me contive inutilmente, minha angústia aumentou. Meu coração ardia-me no peito e, enquanto eu meditava, o fogo aumentava; então comecei a dizer:

      Quantas vezes nos sentimos assim como o salmista. Emudecemos, perdemos a vontade de tomar qualquer iniciativa na vida. Perdemos a alegria, o desejo de se sociabilizar. Nos tornamos reclusos, sem vontade de viver, sem nenhum controle sobre os nossos pés, mãos e boca.

      “Mostra-me, Senhor, o fim da minha vida e o número dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou. Deste aos meus dias o comprimento de um palmo; a duração da minha vida é nada diante de ti. De fato, o homem não passa de um sopro. Sim, cada um vai e volta como a sombra. Em vão se agita, amontoando riqueza sem saber quem ficará com ela.”

      Do que adianta essa morte em vida? A vida é tão curta, faz-nos entender a nossa fragilidade e as vaidades do mundo.

      “Mas agora, Senhor, que hei de esperar? Minha esperança está em ti. Livra-me de todas as minhas transgressões; não faças de mim um motivo de zombaria dos tolos. Estou calado! Não posso abrir a boca, pois tu mesmo fizeste isso. Afasta de mim o teu açoite; fui vencido pelo golpe da tua mão. Tu repreendes e disciplinas o homem por causa do seu pecado; como traça destróis o que ele mais valoriza; de fato, o homem não passa de um sopro.”

      Quem é que nos cala senão o Senhor mesmo? Quando estamos fortes, achamos até que não precisamos de Deus, os dias começam a se passar e nós nem oramos mais, perdemos o temor. Achamos que a nossa força será para sempre e que nada e nem ninguém irá nos amordaçar. Falamos muito e com todo mundo, agitamos, saímos, rimos. Mas basta Deus levantar um dedo e a nossa força se vai. Aquilo que mais gostamos se torna tédio e fadiga. Por que Deus faz isso? Por causa do nosso pecado, e o pecado maior é se esquecer de Deus. Não, Deus não é uma autoridade obsessiva e controladora, que pune o homem para que esse continue sempre dependente dele. É a nossa índole que é fraca. As flores, árvores e pássaros, dependem de Deus para continuar vivos em todas as suas plenitudes. Contudo, nós nos esquecemos que precisamos muito de Deus e de toda a sua criação, das estações, da natureza, dos astros. Se tudo isso não funcionasse devidamente, a vida humana seria destruída, como uma formiga debaixo do pé de um homenzarrão. Deus apenas nos lembra isso, quando nos disciplina, traz à nossa lembrança a nossa fraqueza, a nossa finitude.

      “Ouve a minha oração, Senhor; escuta o meu grito de socorro; não sejas indiferente ao meu lamento. Pois sou para ti um estrangeiro, como foram todos os meus antepassados. Desvia de mim os teus olhos, para que eu volte a ter alegria, antes que eu me vá e deixe de existir.”

      Que valor temos para Deus se morrermos? O salmista recorre ao coração amoroso de Deus, lembra-lhe que desfalecido sua vida não terá sentido. Qual é o maior valor do homem se não adorar a Deus e compartilhar com os outros homens tudo o que Deus é e faz? Portanto, não pese mais sua mão sobre nós, Senhor, não porque não precisamos de correção, nós conhecemos a nossa natureza e sabemos que ela é teimosa e rebelde. Mas que valor teríamos mortos? Cesse tua disciplina e nos levante para te adorar.