A palavra secular significa mundano, profano, temporal,
secularismos são coisas, costumes, disposições mundanas, profanas, relativas ao
tempo desse mundo (a esse século, por isso secularismo). Um secularismo não é
necessariamente algo ligado aos desejos carnais, aos apetites do corpo, às
obras da carne, citadas em Gálatas 5.19-21:
“As obras da carne são evidentes, a saber: imoralidade, impureza e
indecência; idolatria e feitiçaria; inimizades, rivalidades e ciúmes; ira,
ambição egoísta, discórdias, partidarismo e inveja; bebedeiras, orgias e coisas
semelhantes a essas, contra as quais vos previno, como já vos preveni antes: Os
que as praticam não herdarão o reino de Deus.”.
Podemos encontrar pessoas diluídas em secularismos vivendo uma
vida aparentemente “santa”, limpa, livre, mas isso só acontece a princípio, se
não tem Deus, certamente perderá o controle, será sujo pelo pecado, se afastará
das coisas boas e certas. Isso porque essas obras são consequências de uma
disposição pecaminosa para a qual Deus mesmo entrega aqueles que se afastam
dele. Secularismos seriam causas, não consequências, como diz-nos Romanos 1.28:
“Assim, por haver rejeitado o
conhecimento de Deus, foram entregues pelo próprio Deus a uma mentalidade
condenável para fazerem coisas que não convêm”.
O grande perigo dos secularismos é que eles vêm disfarçados de
valores religiosos, e como tais, invadem de maneira sutil a igreja. Como já foi
dito em outra reflexão (“Jesus,
o único intercessor”), quando Deus é afastado da comunhão, quando ele morre
nos corações dos homens, são enfatizados o culto às coisas, às pessoas e aos lugares.
A devoção cega a qualquer princípio, e não à pessoa de Deus, mesmo que esse
princípio tenha vindo originalmente de Deus, mesmo que seja religioso, pode ser
um secularismo, que se preserva quando é transformado em tradição. Como tal,
não traz vida, libertação, transformação, mas apenas esconde a morte. O que é
morrer? É afastar-se de Deus, mesmo estando vive o corpo, já que viver é
conhecer a Deus: “E a vida eterna é esta:
que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste.”
(João 17.3).
Vida espiritual não é fazer parte de uma igreja, obedecer
princípios éticos de uma religião dita cristã (ou outra qualquer), não é ser
bom e praticar o bem, não é só isso. Viver espiritualmente é caminhar com Jesus
conhecendo-o, tendo comunhão com ele, diálogo, ouvindo-o e falando com ele,
numa amizade eterna. Essa comunhão pessoal com Deus tem como consequência uma
comunhão, em amor e humildade, com as outras pessoas, e uma ligação santa e
frutífera com uma igreja verdadeira de Jesus.
Como também já dissemos na outra reflexão citada acima, os
secularismos entram na igreja de maneira sutil porque parecem coisas
espirituais. O que é mais próximo das coisas espirituais que as artes e a
filosofia? Elas parecem estar num nível mais alto que as coisas
tradicionalmente entendidas como carnais. Verbalizar uma reflexão profunda
sobre a existência, mesmo que ela pouco tenha a ver com os ensinamentos de Jesus,
parece muito mais espiritual que se embriagar com vinho. Apreciar a
sofisticação de uma sinfonia, o virtuosismo de um violinista, parece muito mais
espiritual que fazer uma orgia. Repetindo, por parecerem espirituais, os
secularismos podem invadir a igreja de maneira sutil.
Os secularismos são maneiras enganosamente elevadas e mesmo puras,
de afastarem-se de Deus aqueles que arrogantemente se acham superiores,
refinados, cultos. Mas na prática levarão o homem para o mesmo lugar, para as
obras da carne descritas em Gálatas 5.19-21 já que é Deus quem entrega tais homens
a tais obras, como diz Romanos 1.28-32.
Entristeço-me ao ver que muitos, afastados de Deus e sem coragem
de assumir isso, tornam reuniões sociais e clubes fechados, em igrejas, fazem
de filosofias e literatura, sua Bíblia, e encontram nas bebidas e nos banquetes,
“unção” e alegria. Esses nem louvam mais o Senhor, não oram mais pedindo
milagres, já que em suas jactâncias, se acham superiores, experientes, melhores,
em posição de a tudo julgar e por ninguém serem julgados.
O secularismo não é mal que sofre aquele que nunca conheceu o
Evangelho, o não convertido, mas ele aflige o desviado, aquele que experimentou
Jesus como salvador, mas se afastou dele porque não quis abrir mão dos valores
humanos, da religião do ego. Mas se os secularismos podem se confundir com os
valores espirituais, como podemos discerni-los? Bem, nada resiste ao tempo, o
que é mal, falso, que não é de Deus, sempre é revelado e revelado mostra a vida
perdida que o desviado realmente tem. Contudo, mesmo que a máscara fique sobre
a vida do desviado por algum tempo, esse não pode dar frutos, já que sem Deus não
existe frutos espirituais. O secularizado pode falar e falar, e falar bem,
mesmo conhecer a Bíblia, toda ela, mas ele não pode viver os ensinamentos de
Deus, já que seu coração está inchado com o seu próprio orgulho e não cheio do
Espírito Santo.
Contudo, mesmo aquele que está longe de Deus e não admite, pode provar uma vida de prosperidade material, de proeminência nesse mundo, e isso por muito tempo. O sol paira sobre justos e injustos, como diz o livro de Eclesiastes, com trabalho, seja ele honesto ou mesmo não tão honesto assim, o homem terá sua honra nessa vida. Mas isso não significa que ele esteja fazendo a vontade de Deus, provando a vida realmente abundante que o Senhor planejou para o homem no calvário. Não nos enganemos com as coisas externas, visíveis, os secularismos fornecem maneiras bem sofisticadas de maquilar a vida das pessoas de maneira que o errado pareça certo, que a perdição pareça vitória.
Prefira o bom e velho Evangelho, que por ser bom, tornou-se velho,
mas que ainda pode renovar os homens, lhes dar novidade de vida, nascer de novo
todos os dias dentro daqueles que preferem a palavra pura e quente que é a
verdade, ao invés dos ensinamentos mornos e fermentados do secularismo, que não
trazem nenhum proveito. Mesmo que possamos aprender muito com a literatura desse
mundo, com as filosofias, com as artes, elas não podem e não devem substituir a
unção que Deus nos dá através do Espírito Santo, quando lavados pelo sangue do
cordeiro, nos colocamos totalmente disponíveis aos pés do Senhor.