30/05/21

Melhor ser aprovado que ser atendido

      “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva.II Coríntios 10.17-18

      Certa vez orei sobre algo importante, para o qual necessitava de uma resposta urgente e positiva, contudo, permanecia com o coração angustiado. A princípio achei que me sentia mal porque Deus tinha respondido com um não ou com um espere, mas na verdade Deus ainda não tinha respondido, me faltava estar na condição certa para receber a resposta. Deus não respondia, mas o problema não estava nele, nunca está, estava em mim. Quando insisti na oração entendi o que me faltava para orar certo, então, a resposta veio, não sua realização no mundo exterior, essa só aconteceria tempos depois, mas a resposta veio no meu interior enquanto eu orava. Recebi um sentimento forte e gostoso, como se algo invisível tivesse ricocheteado no Altíssimo e voltado para mim, enfim, eu tinha feito a oração que Deus queria ouvir. 
      Deus sempre deseja nos abençoar, Deus sempre quer nos dar o que pedimos, ele é pai e pai quer a felicidade do filho. Contudo, mais que nos mimar respondendo sempre sim ele quer que cresçamos espiritualmente, só isso nos dará as melhores coisas, aquelas que seguirão conosco depois que sairmos do plano físico e continuarão em nós pela eternidade. Para adquirirmos esses bens mais nobres precisamos nos conhecer, o que queremos de fato ter e ser, e nós seres humanos somos especialistas em tentarmos nos enganar, aos outros homens e mesmo a Deus. Uma comunhão profunda com Deus nos dá esse conhecimento, e quando o alcançamos Deus se alegra conosco e nos aprova, é essa aprovação que retorna como um sentimento bom e duradouro, se Deus responde sempre temos paz, seja qual for a resposta. 
      A melhor coisa que podemos receber de Deus é sua aprovação, ter o pedido de uma oração aprovado é melhor até que receber o que foi pedido, porque o que foi pedido pode acabar, pode ser só algo material, temporário, mas a aprovação nos informa que aprendemos a pedir coisas certas e do jeito certo, isso é para sempre. Ah, se entendêssemos que tantas coisas, para as quais damos tanta importância nesta vida, pelas quais sofremos tanto, são só desculpas que Deus usa para nos dar coisas mais importantes, para provar nossas intenções e aperfeiçoar nosso homem interior. Ah, se entendêssemos quanta dor construímos por coisas menores, por vaidades e orgulhos, seríamos felizes assim como faríamos os outros felizes mais fácil e rapidamente. Se isso acontecesse entenderíamos que orar não é pedir, mas viver. 
      Todavia, ocorre algo paradoxal quando atingimos um nível de intimidade com Deus, recebemos menos, mas isso ocorre porque também pedimos menos, e não fazemos isso porque temos menos fé, é o contrário. Muitos acham que ser espiritual é ter a fé que move montanhas, e por se ter isso pode-se ter prosperidade material, mas será que vemos isso no Cristo encarnado? Jesus tinha pouco porque pedia pouco, porque precisava de pouco, assim atingiu uma espiritualidade onde tudo o que pedia a Deus era aprovado, pois só pedia as coisas certas. O contrário disso é pedir um monte de coisas em todo o tempo, nunca estar satisfeito e ter muitos pedidos desaprovados, ainda que alguém vivendo assim ache que pede porque tem fé e é espiritual, na verdade é imaturo, não é espiritual e é bastante desaprovado por Deus. 
      O texto inicial é respeitado por muitos, muitos cristãos dizem que ele é a chave de uma vida realmente espiritual, contudo, muitos não o entendem certo. Negar a si mesmo e deixar que Deus apareça, isso não é uma maneira de viver fazendo-se de coitado, privando a carne com a carne, isso cria gente insana, ainda que disfarçada de religiosa, e não de fato seres humanos espirituais. Espiritualidade genuína traz vida que vence a carne, já a falsa mortifica a carne sem, contudo, vivificar o espírito. O aprovado por Deus não se vangloria pelo que recebe, mas pelo que dá, não tem sua paz baseada em pedidos atendidos, em ser servido, mas em servir, ele não age como criança que pensa que agrada o pai porque esse lhe dá tudo o que ele pede. Ele entendeu que ser aprovado no espiritual é melhor que ser atendido no material. 

29/05/21

Quatro respostas à oração

      “E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.Lucas 22.41-44

      Dizemos que existem três respostas para uma oração, sim, não e espere, mas nesta reflexão adicionaremos uma quarta resposta: nenhuma. Podemos fazer uma oração a Deus e não sentirmos dele qualquer uma das três respostas, mas uma quarta, resposta nenhuma, e nenhuma resposta também é resposta, que deve ser avaliada para que possamos entender a vontade de Deus para nós em um assunto. Penso que o sim e o não são respostas igualmente benéficas, pelo menos para o cristão maduro, e essas respostas podem ser sentidas quase que de maneira imediata, logo após fazermos o pedido a Deus. Quem aprendeu a orar e tem intimidade com o Senhor sabe discernir, muito mais por sentimentos que ouvindo palavras, Deus respondendo, esse sabe que Deus é vivo e nunca procrastina. 
      Aliás, é importante que frisemos esse ponto sobre a objetividade do Senhor. Deus é espirito, se relaciona com os homens neste mundo de forma espiritual, não são olhos, ouvidos e outros sentidos do corpo que o percebem, mas o espírito do homem. Aprender sobre essa comunicação pode ser difícil para os materialistas, mas o meio de realizá-la é um só, a fé, quem não crê não anda com Deus. Apesar do homem poder usar imaginação para fins diversos, recreação, arte, para criar situações mentais e emocionais, que muitas vezes nunca se realizarão na realidade, a imaginação é o início de uma experiência de fé. Visualizamos na mente e sentimos com o coração para depois levarmos à presença de Deus, declarando que precisamos de tal coisa, e que temos convicção que se ele quiser poderá nos dar. 
      A comunicação espiritual se realiza principalmente através desse mundo interior que o homem pode criar e que pode permanecer secreto de todos os outros homens, só conhecido por Deus e reconhecido por ele como possível de se tornar real. Torna-se real se for a “vontade” de Deus e sendo tal é sempre boa para o homem, mas essa comunicação deve ser devidamente estabelecida para Deus “responder”. Não basta que algo seja bom e seja vontade possível de Deus, mas deve ser solicitado de forma correta, com fé, a fé nos coloca em comunicação com Deus que reage de forma perceptível, retorna à alma humana como um sentimento poderoso que lhe dá consciência imediata que sua oração foi respondida. Foi isso que dizemos quando falamos que o sim e o não são sentidos quase que instantaneamente. 
      Mas entendamos uma coisa, Deus abençoa todos os seres humanos, ainda que alguém busque algo sem fé, mesmo sem acreditar nem que Deus exista e que responde orações, esses, se estiverem vivendo vidas justas, terão boas respostas em seus empreendimentos. A diferença é que esses não estabelecem comunhão espiritual com Deus e vivem só materialmente, na eternidade isso lhes será devidamente cobrado. Estabelecer comunhão com Deus implica não só em pedir e receber, mas em vivenciar as virtudes do Senhor, principalmente sua santidade. Ninguém que queira conhecer mais a Deus pode receber dele algo sem estar preparado para isso, com coração limpo e pronto para adorá-lo, isso não beneficia o homem só materialmente, mas espiritualmente, dando-lhe virtudes que o acompanharão eternamente. 
      Se estivermos preparados, se orarmos com fé e a resposta de Deus não for sim ou não, então ela pode ser espere, essa é a resposta mais difícil de se entender porque pode ser confundida com a quarta resposta, a resposta nenhuma. Quando Deus manda esperar podemos até parar de orar, mas certos que ele só realizará o pedido no plano físico no futuro, nisso temos paz, contudo, muitos acham que devem aguardar a resposta sim quando na verdade não entenderam que Deus ainda não lhes respondeu. Quando Deus fala ele é claro e objetivo, não fica dúvidas, e a consequência disso é que temos paz, ainda que seja um não e mesmo que seja um espere. Contudo, quando não sentimos nenhuma resposta permanecemos aflitos, nada é pior que não saber a vontade de Deus para nossas vidas, isso acontece quando nos falta santidade e fé. 
      O texto inicial é o registro, talvez, da oração mais difícil que já foi feita, e sabe qual foi a resposta de Deus a uma oração feita pelo próprio Cristo? Foi não, e mesmo o Cristo teve que insistir para aceitá-la. Se Jesus teve um pedido negado, que diríamos nós, mas estejamos tranquilos, de nenhum ser humano será pedida a prova que foi solicitada do Cristo, prova que ele teve que vencer, não por ele, mas por todos nós. Só entendemos de fato o que é a vida cristã quando recebemos um não de Deus e administramos isso da maneira certa, mas estejamos em paz também com isso, Deus sabe de nossa dor, e mesmo em seu não ele nos envia consolo. Contudo, é melhor um não de Deus que um sim do mundo, do nosso ego, dos ardilosos caminhos do mal, no não de Deus pode até haver dor no início, mas no final haverá honra.  

28/05/21

Tempo de silêncio (2/2)

      “Jesus, porém, guardava silêncio.” Mateus 26.63a

      O silêncio, de quem ouve e não responde, permite que quem falou pense melhor no que disse, leva esse a entender que quem o ouve não é seu inimigo, não está usando de armas semelhantes para responder, contudo, usando o silêncio como fruto do amor é preciso paciência. Não é fácil nos calarmos diante de alguém que depois que deixamos claro que pensamos diferentemente dele segue, muitas vezes baixando o nível da conversa, tentando nos destruir. Quando uma pessoa não consegue destruir os nossos argumentos, ela tenta destruir a nós, deixa para lá o motivo inicial da conversa e parte para procurar em nossas vidas pontos fracos, ou pontos que ela acha que sejam fracos, para nos diminuir. 
      O que busca a Deus sempre acha nele respostas claras e sensatas para tudo, ainda que elas sejam simplesmente “eu não sei sobre esse assunto”, ou “não tenho posicionamento a respeito disso”, e não tem nada de errado com essas respostas, ninguém precisa saber tudo. Contudo, não podemos nos sentir menores por termos os argumentos que temos, ainda que isso não seja motivo para estacionarmos já que devemos orar mais tanto quanto nos informar mais para saber como procedermos sabiamente num mundo moderno tão cheio de artimanhas de semânticas. Todavia, que tenhamos paz no que somos e no que sabemos, é isso que nos protege de entrar em polêmicas que podem acabar em violência. 
      Só conseguimos calar nossas bocas quando estamos em paz, quando já dissemos tudo o que tínhamos a dizer a Deus, quando achamos todas as respostas que precisávamos no Senhor, quando estamos satisfeitos espiritualmente. Caso contrário procuraremos nos homens o que não buscamos em Deus, defenderemos ideologias humanas, acharemos na política a e na religião bandeiras que deem sentido às nossas vidas e nos tornaremos discípulos, não de Jesus, mas do resto, das forças espirituais do mal, dos homens e de nós mesmos. Se calar assim não significa se alienar, mas significa entender a condição humana com equilíbrio, pondo Deus em primeiro lugar e sentindo-se  totalmente feliz nisso. 
      Sinto no Espírito Santo que o momento atual no mundo, e especialmente no Brasil, é de silêncio, é de calar, e vejam que isso vai contra não só ao que a mídia diz, como contra o que diz uma grande maioria de evangélicos e protestantes, que sentando-se na cadeira chamada “direita” política achou hoje um lugar confortável, para impor em nosso país aquilo que acha ser o cristianismo. Muitos cristãos, pensando que enfim podem levantar a voz e lutar pelo que acreditam, e ainda mais tendo um “presidente” a seu favor, não percebem que estão fazendo o jogo do mal, engajando-se numa guerra que não é deles e que até o momento só tinha um lado, mas para haver uma guerra é preciso dois lados beligerantes. 
      O Brasil passou décadas com uma voz forte arregimentando os pobres materialmente e os não pobres mas equivocados intelectualmente, essa voz é a da chamava “esquerda” política, quando uso termos entre aspas um dos motivos e o termo poder não ter atualmente o significado que teve, esquerda não significa, hoje, seguidores do marxismo, comunistas, a coisa não é mais bem assim. Há algum tempo, a tal da direita, com o passado da ditadura militar ainda fresco, se calava, sentindo-se culpada, mas nada melhor que o tempo para fazer do mau o bom e do bom o mal. O ser humano se esquece depressa ao mesmo tempo que se adapta, assim o tempo levantou uma direita adormecida e forneceu ao embate dois lados. 
      Essa não é uma guerra santa, Deus nada tem a ver com ela, está mais para uma jihadi, e penso que isso possa ser uma estratégia do mal (das últimas? depende do “ponto de vista”) para desviar cristãos de Cristo, usando como argumentos para convencê-los uma Bíblia mal interpretada. Quanto aos que estão buscando ao Senhor de todo o coração, nesse momento tão difícil, sigam em silêncio, que isso possa ajudar os que se desviam dentro de igrejas e seguindo pastores manipuladores e gananciosos a pensarem melhor em suas agendas de ódio. A guerra que o Senhor quer que lutemos se vence como Jesus venceu, calando e morrendo neste mundo como indivíduos, pois o reino de Deus nunca foi e nem será aqui.  

Leia na postagem de ontem 
a primeira parte desta reflexão.

27/05/21

Tempo de silêncio (1/2)

      “Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração.Lucas 2.19

      Dentro do princípio de que a melhor pessoa para ajudar uma pessoa é a própria pessoa, é preciso entender como funciona o eco das palavras que dizemos e que volta para nós. Jesus era equilibrado, vivia num pleno autocontrole constante, assim sabia quando dizer e quando calar, e quando dizia não era para compensar alguma autoestima baixa, uma insegurança ou qualquer necessidade de vaidade para se impor sobre os homens. Jesus entendia a importância de colocar Deus em seu devido lugar, esperando dele uma ordem, obedecendo essa ordem em amor, dependendo só da aprovação dele para essa atitude, de maneira que o nome de Deus fosse louvado como origem, meio e fim de tudo que fazia. 
      Isso, contudo, não ocorre conosco, falamos demais por orgulho, nos calamos muito por medo, exigimos dos outros o que nós não vivemos, queremos que as pessoas pensem como nós pensamos só para termos seus apoios para nossas tolas opiniões. Não percebemos que muito do que dizemos para os outros não é para os outros, mas para nós mesmos, que toda a argumentação que construímos e despejamos sobre outros não é porque acreditamos em algo como sendo bom e queremos beneficiar os outros com isso, é outra coisa. Mal resolvidos em Deus e consequentemente em nós mesmos, falamos porque não estamos convencidos do que falamos, e quem queremos convencer somos nós mesmos. 
      Cientes disso precisamos nos resolver em Deus e pararmos de ser profetas de ideologias humanas, de posições políticas de homens, de religiões terrenas, de teorias da conspiração que nada mais são que enganos, não nasceram na sabedoria e na providência do Senhor e não concorrerão para que o melhor seja feito no mundo e abençoem os homens. A política, a economia, os governos, e mesmo a ciência, não podem fazer justiça no planeta, não sem que se equilibrem com as verdades espirituais divinas, e essas, repito, não estão ligadas necessariamente a instituições religiosas, assim todo discurso em prol dessas bandeiras, se Deus não estiver no lugar certo, é inútil e só honra homens diante de homens.  
      O que fazer diante de tantas opiniões nas bocas das pessoas e nas redes sociais da internet, legitimadas atualmente pelo doutrinamento da mídia que tenta fazer de cada indivíduo um deus, negando o único e verdadeiro Deus? Nada, deixemos as pessoas falarem, aos que negam a ciência, deixemos que neguem, aos que se acham cavaleiros do apocalipse, deixemos que sejam, aos que se consideram donos de uma lucidez baseadas em fatos, ainda que achem seus fatos só nos lugares que lhes convém, deixemos que se achem melhores e donos da verdade. Que suas palavras batam em nós, ecoem de volta para esses que tanto falam, sem alteração em seus conteúdos originais, e que depois fiquem neles. 
      Se nós respondermos, e às vezes pegos de surpresa podemos responder errado, o que vai ficar nas cabeças dos tolos são as nossas respostas, isso lhes dará mais munição para seguirem argumentando e consequentemente pensando como pensam. Guerras intelectuais não se ganha com contra-argumentação, pelo menos não se ganha quando a retórica que nos lançaram deixou de ser diálogo e se tornou arma de guerra tentando mudar o que pensamos. Quando não há concordância pelo menos um lado deve se calar. O ideal seria ambos os lados se calarem, entenderem que estão diante de pontos de vista diferentes, que isso não pode ser mudado e que para que haja amizade o assunto deve ser posto de lado.  
      Precisamos saber quando parar e respeitar o que o outro pensa, ainda que seja o oposto do que pensamos, isso é sábio para todos os seres humanos que querem viver de maneira civilizada e em harmonia com os demais. Contudo, para os cristãos, essa orientação é ainda mais seria, já que eles dizem ter suas vidas entregues nas mãos de Deus, dizem seguir ao mestre Jesus, dizem ter dentro deles o Esprito Santo, assim eles dizem viver debaixo de uma verdade maior, que não é a deles, mas do Altíssimo. Bem, Deus não precisa de advogados, mas pode usar os pequenos e simples como testemunhas de sua sabedoria e bondade, desde que esses não tomem o seu lugar, querendo vencer embates ideológicos com os tolos. 

Leia na postagem de amanhã 
a segunda parte desta reflexão.

26/05/21

Ansiedade: mundo mental X mundo real

      “Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?Lucas 12.26

      Alguns dizem, “estou ansioso porque estou esperando o fim de algo ruim que está acontecendo”, outros dizem, “estou ansioso porque aguardo algo bom para acontecer”, outros ainda podem dizer, “estou ansioso pois nada acontece”. Ansiedade é um mal em si mesmo, independe de acontecer ou de não acontecer algo, muitas pessoas estando numa situação confortável e sem problemas maiores ainda assim estão ansiosas, pelo quê? Nem elas sabem direito, assim, o que tem um problema e fica ansioso adiciona a um problema outro, a ansiedade. Podemos ter várias provas que nos levem ao crescimento espiritual, mas muitas vezes, depois de termos sido aprovados tantas vezes, ainda nos resta ansiedades a vencer. 
      A ansiedade é causa de grande parte de enfermidades, sejam físicas ou emocionais, cria um grande número de consumidores para farmácias assim como para restaurantes e bares, já que para tentar anulá-la muitos se entopem de remédios, comidas e bebidas. Nosso organismo até suporta os excessos por um tempo, mas na velhice é quando o ultrapassar de limites pode nos levar ao sofrimento de tantas doenças e finalmente a mortes antes do tempo. Por que tanta dor, tanta angústia? Porque as pessoas não vencem da maneira correta a ansiedade, que muitas vezes não nasce no corpo, como deficiência no funcionamento de algum órgão, o que pode ser corrigido com orientação médica, mas nasce na alma.
      O ansioso não lida com o tempo de forma correta, amarra o passado, adianta o futuro, sem ser feliz no presente, é “viajante do tempo” que não acha satisfação em sua realidade, voador mental que não consegue por os pés no chão e caminhar. A alma se cura com paz que vem de autocontrole, autocontrole se adquire com meditação, com uma mudança mental de comportamento. A mente nos coloca em contato com o mundo espiritual e quem tem essa porta aberta sem controle é influenciado por “forças” e “intenções” de vários níveis, e nem todas são benignas. Só a voz de Deus em nossas almas pode de fato nos dar a paz que precisamos para seguir com a vida sob controle, vencendo ansiedade ou apesar dela. 
      O ansioso alimenta uma incoerência dentro de si, à medida que se preocupa demais com coisas que ele não tem controle e que gastam seu tempo e sua energia, assim não vive as coisas que realmente importam, que ele pode controlar, que ele pode fazer de forma proativa dentro de seus limites. Nossa mente é poderosa, ansiedade é um trabalho mental e pode dar a enganosa impressão de que fazemos algo produtivo, mas é uma mentira. Ansiedade nos tende à alienação, nosso mundo mental não é necessariamente o nosso mundo real, e se esses forem muito diferentes e por muito tempo, se não se harmonizarem, produziremos ansiedade que pode levar-nos à insanidade, impedindo-nos de separar fantasia de realidade. 
      Não há nada de errado em sofrermos com o passado, desde que esse sofrimento nos leve a assumir humildemente nossos erros, para depois tomarmos posse de perdão, principalmente de Deus e de nós mesmos. Também não existe nada de errado em nos preocuparmos com o futuro, desde que a preocupação nos leve a fazer o que podemos no presente, em obras, para construirmos um futuro melhor, e o que não podemos entregarmos nas mãos de Deus e nele confiarmos. A ansiedade pode ser início de algo bom, mas deve ter fim com atitudes realistas e práticas e com confiança em Deus, o que não podemos é nos acostumarmos com ela, mantendo-a viva como um bicho de estimação dentro de nós. 

25/05/21

Vitória contra a intenção maligna

      “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor.Isaías 54.17

      Quando nos sentimos inferiorizados, atacados, acuados, usamos nossas armas para contra-atacar, o que faz de algo uma arma não é a coisa em si, mas a intenção de como ela é usada. Se dermos uma maçã para um esfomeado, a maçã será um alimento, mas se mesmo para alguém faminto jogarmos a maçã com força, ela será usada como arma, poderá machucar o esfomeado, assim não será algo bom, mas ruim. O problema, nesse exemplo, não está na maçã, mas na intenção de quem a lançou, dessa forma muitas coisas podem ser usadas por aquele que se sente em desvantagem, ainda que não exista um perigo real, mas só uma paranoia em sua cabeça e falta de confiança em Deus. 
      Uma pessoa sem instrução, com a mente doente e com o coração cheio de violência, pode usar uma faca, um revólver, ou qualquer objeto, mesmo o carro que estiver dirigindo, como arma para machucar alguém, basta que se sinta em algum tipo de desvantagem. Contudo, um doutor, com títulos acadêmicos, com muito conhecimento e cultura, se se sentir inferiorizado e por orgulho não tiver humildade suficiente para aceitar isso em paz, poderá usar sua posição profissional, mesmo palavras, não de baixo calão mas sofisticadas, para criar uma argumentação que de alguma maneira, não fisicamente mas verbalmente, ataque e fira aquele que ele sente que o acuou. 
      Se o mal é um só, muitas podem ser as armas que ele utiliza, algumas bem sutis, outras mesmo repletas de conceitos religiosos, morais, cristãos, não são as palavras, as ideologias, nem as “teologias”, mas as intenções do coração. Se não houver amor, haverá o intuito de agredir alguém, de destruir, de humilhar alguém, com ódio, com violência, e isso bastará para que algo seja ferramenta do mal, não instrumento do bem. Por isso o silêncio é, não a arma, mas o escudo mais poderoso, além de não usarmos em vão coisas, palavras ou atitudes que deveríamos usar só para o bem, em nosso silêncio autorizamos Deus a agir por nós. Quando Deus age toda arma é anulada. 
      Temos que tomar cuidado, pois algumas vezes, mesmo sem a intenção, podemos tocar pontos nevrálgicos das pessoas, podemos colocar o dedo em feridas abertas e recebermos um ataque de surpresa. Numa situação assim as pessoas não resolvidas em Deus podem usar qualquer coisa como armas, e em seus descontroles elas podem ser ouvidos fáceis de acusadores espirituais, esses são especialistas em saber quais são nossos pontos fracos, nossas feridas. Assim, o que começou numa certa inocência de nossa parte pode acabar em “guerra campal”, nesse caso somos nós que temos que ter a humildade de não contra-atacarmos, mas esperarmos em silêncio em Deus. 

24/05/21

Vitória merecida

      “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nomeFilipenses 2.5-9

      A vitória não está em vencer um conflito, mas em merecer ser vencedor. Muitos vencem porque se colocam de forma injusta sobre oponentes mais fracos que eles, e assim têm vitórias fáceis, alguns, ainda que sejam mais fracos, vencem por possuírem algum tipo de merecimento, outros, contudo, nem precisam lutar para terem vitórias, eles as merecem por confiarem não em si mesmos, mas em Deus. Que tipo de vencedores somos nós? Em que espécie de embates nos envolvemos? Quem são nossos oponentes? Merecemos as vitórias que temos? Dar a palavra final numa discussão é vitória?
      Existem vários tipos de violência, mas a mais cruel é aquela que é feita contra alguém mais fraco, não só fisicamente, mas também intelectualmente. Estupros contra vulneráveis são crimes hediondos, existe um embate, existe uma vitória, mas do mal e cruel contra alguém que é submetido a algo a despeito de sua vontade contrária. Mas também existem violências intelectuais, humilhar alguém com argumentos e ideologias, principalmente se o humilhado não tiver o mesmo nível de conhecimento, isso é obter um tipo de prevalecimento injusto, não é uma vitória honrosa, portanto não é merecida. 
      Como sempre, Jesus nos dá o exemplo da maior vitória de todas, e justamente essa ele não obteve ordenando que milhares de anjos destruíssem seus inimigos, mas a teve entregando-se à morte, calado e humilde. Mas durante toda sua jornada, ainda que sempre conhecesse os melhores argumentos, ele nunca humilhou alguém com palavras, em situações bem sérias ele preferiu calar-se que diminuir alguém. A mulher adúltera pega em pecado e trazida a ele por religiosos (João 8.1-11) é o exemplo mais lindo disso, ainda que tivesse a lei a seu favor não a usou para se prevalecer diante de homens. 
      Muitos entram em conflitos e se perguntarmos a eles por que entraram, eles responderão, “entrei porque podia, era o mais forte, tinha os argumentos melhores”, isso são valores humanos que obtém vitórias em embates humanos, Deus não trabalha assim. Aqueles que confiam em Deus e a ele querem agradar, vencem sempre, não lutando, não por serem os mais fortes, mas porque Deus luta por eles. Isso não significa que quem teme a Deus é omisso, covarde ou vagabundo, ao contrário, eles desempenham muitos trabalhos, e o principal deles é o de crerem em Deus, sim, manter a fé é trabalho honrado.