08/06/21

O que você quer com Deus? (4/8)

      “Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.Mateus 19.21

      De verdade, o que você quer com Deus? Essa talvez seja a pergunta mais feita aqui no “Como o ar que respiro”. A primeira coisa que temos que saber é que mantermos uma religião, por si só, nada significa, assistirmos cultos com frequência, educarmos filhos debaixo de uma doutrina, isso não nos faz melhores que ninguém. Ao contrário, sabermos mais pode nos fazer ainda mais culpados, caso não vivamos o que sabemos, de quem muito sabe, mais é cobrado. Isso tem que ser repetido à exaustão, pois só entendendo isso as pessoas poderão diferenciar Deus de religião. 
      A religião, por mais encantadora que seja a palavra, por mais animado que seja o louvor, por mais afetuosos que sejam os amigos que fazemos em templos confortáveis e organizados, um dia cansa. Paixão sempre acaba, mesmo paixão por igreja e religião, e quem se aprofunda na religião que se prontifica a crer e conhecer também achará nela enfado, se de fato o único e verdadeiro Deus não estiver sempre à frente, chamando e dando forças para se praticar o que ele ensina. Toda religião, incluindo as cristãs, não oferecem todo o caminho para se chegar a Deus, e eu disse religião, não Jesus. 
      Quem quiser verdadeiramente provar que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, um dia terá que tomar uma decisão, seguir em uma busca pessoal e solitária. Isso é para todos? É, mas nem todos estão preparados para isso ou pagam os preços para isso. Para muitos é melhor que permaneçam bem quietinhos dentro dos templos, religiosamente repetindo cultos, rituais e liturgias, cantando “belos” louvores, dando dízimos. Eles não serão totalmente felizes assim, mas correrão menos riscos, para muitos do estágio espiritual atual da humanidade, só a eternidade para entenderem certas coisas. 
      Uma grande maioria não vai além, não faz certos questionamentos, não duvida de certas tradições, porque tem medo, e alguns já se acham tão em falta não conseguindo obedecer o que a religião lhes orienta, que pensam que só piorariam suas situações duvidando do que padres, pastores e reverendos ensinam. Muitos desses, contudo, não percebem que não questionarem tradições ultrapassadas é o motivo pelo qual eles não conseguem praticar ensinos equivocados, assim o medo alimenta a mentira que mantém uma vida hipócrita e infeliz, conveniente só para líderes enganadores. 
      Mas não queira mudar os outros ou a religião quando na verdade é você que não quer mudar de vida. Se não pode ser fiel no pouco, muito menos o será no muito, se não quer praticar o evangelho básico de Jesus, nem queira saber mais sobre o mundo espiritual, termine o curso primário antes de fazer o superior. O Senhor é bondoso o suficiente para ensinar crianças como crianças, misericordioso o suficiente para tratar jovens como jovens, e sério o suficiente para conduzir adultos como adultos, tudo no tempo certo de cada indivíduo, ainda que o evangelho seja simples, amar a Deus e ao próximo. 

4ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

07/06/21

As coisas não são bem o que parecem ser (3/8)

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.I Coríntios 13.12

      Cristãos protestantes e evangélicos, um apocalipse com batalhas épicas é uma interpretação mitológica da Bíblia, não será assim, da mesma maneira como o mundo e o homem não foram criados em seis dias de vinte e quatro horas. Teólogos e líderes cristãos, onde foi que o cristianismo oficial conseguiu chegar no mundo, mantendo tradições de homens, que se tiveram uma utilidade adequada para Deus no passado já não têm mais e há algum tempo? Deus não mudou, mas o homem sim, e pode saber mais, se quiser, se parar de querer uma religião só para ser próspero no mundo. 
      Infelizmente, se o que Jesus ensinou, há quase dois mil anos, não foi entendido até hoje, e só isso já bastaria para conduzir o homem a Deus, quanto mais as revelações espirituais do final do século XIX, essas ainda são demonizadas por muitos e mistificadas por outros. Contudo, o que Jesus fez e ensinou basta para que qualquer ser humano, se de fato for bem intencionado, chegue a todos os mistérios de Deus, respondendo não só a questões intelectuais como também resolvendo-se moralmente. O evangelho original é para todos e sempre, ninguém se engane sobre isso. 
      Todavia, não se revoltem, cristãos, nem se alegrem, inimigos do cristianismo, o engano não está só nas igrejas que representam o cristianismo oficial, as outras religiões também caem na armadilha da arrogância, que leva todo ser humano a se achar, principalmente na área religiosa, melhor que os outros. Ainda que Jesus seja especial e único em relação a todas as religiões, e isso nunca negaremos, Deus também se revela nas outras religiões, em todas elas. Mas onde há o homem há o engano, e também há Deus, sempre amando pacientemente a todos. 
      Alguns creem e não vivem, outros vivem e não creem, alguns sabem e não falam, outros falam e não sabem, alguns sofrem e ainda assim têm semblantes serenos, outros usufruem tudo o que podem e se fazem de sofredores. Muitos são injustiçados e não reclamam, outros reclamam de barriga bem cheia, alguns têm paz mesmo sem terem nada que lhes garanta o porvir, outros têm uma falsa paz baseada no egoísmo. Em alguns Deus vê humildade mesmo sobre a rudeza, em outros a arrogância é clara ainda que sob comportamento erudito ou religioso.
      As coisas não são bem o que parecem ser, principalmente se nos basearmos no cômodo ensino da religião, que só quer manipular homens para manter poder no mundo. É preciso coragem para acharmos o que Deus tem, não para as religiões, mas para cada um de nós. Por isso a perda que Jesus ensinou, necessária para que o ganho melhor seja alcançado, hoje tem mais a ver com sair da cela das religiões e voarmos para a liberdade do Altíssimo, que nos abstermos de excessos de prazeres físicos. Talvez abrir mão do ego, hoje, não seja mais deixar o mundo e entrar numa igreja, mas deixar a igreja para estar com Deus... 

3ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

06/06/21

Peixes num aquário (2/8)

      “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.Mateus 10.16

      O “mal”, que muitos ainda não entenderam o que realmente é, achou novas maneiras de agir através de caminhos que o próprio homem criou, a tecnologia e a globalização, para invadir, conquistar e destruir. Isso ocorre a despeito de muitos, ainda que testemunhem uma nova era, continuarem achando que ainda estão vivendo no passado. Parece que o “mal” moderniza-se, evolui, enquanto o “bem” mantém-se atrasado, achando que manter tradições humanas faz dele mais forte, o “bem” não vê que lhe foi armada uma armadilha e ele caiu, como um peixe num aquário. 
      Mas não foi o bem que caiu numa armadilha, foi a arrogância humana, o bem verdadeiro não se engana, não se enfraquece jamais, não se aprisiona num aquário. E Deus com isso? Deus nada tem a ver com isso, ele permanece no mais alto lugar espiritual, emanando sua luz e atraindo os humildes. Pela ciência já entendemos que o ser humano mudou o suficiente para reavaliar suas crenças e ver além, não mais como criança, mas como adulto, a ciência contempla a matéria, mas o método científico, ferramenta usada para fazer ciência, pode ser usado também para as coisas do espírito. 
      O homem já aprendeu a ver além da aparência, a identificar inimigos além do mundo exterior, a entender o erro moral além de ações físicas, mas na íntima intenção emocional. A base disso não foi ensinada pela ciência, a partir do século XIX, mas pela espiritualidade de Jesus desde o século I. Pelo evangelho o homem entendeu que não basta uma religião de sacrifícios com morte e sangue para acessar a graça divina para obter uma vitória também com derramamento de sangue contra homens de carne e sangue iguais a ele. Jesus ensinou há quase dois mil anos que a guerra é espiritual. 
      O inimigo do homem é ele mesmo, a batalha se dá em seu interior, o mal não é algo físico e grande, mas pequeno, que pode ser alojado e disfarçado dentro do ser humano. Se é isso, se já temos condições intelectuais de entender isso, por que muitos cristãos ainda insistem em ler o mundo e a existência como liam os israelitas no antigo testamento? Por que evangélicos querem poder político no Brasil para ter uma nação cristã física, quando Jesus ensinou que seu reino é o dos céus, não na Terra? Essa é a armadilha que prende um peixe que entrou no aquário por vontade própria, não por coação.
      Por que crentes enchem templos e se entopem de fé para pedirem milagres materiais, não mudanças de caráter para serem humildes e caridosos? Por que continuam interpretando a Bíblia ao pé da letra, negando não só a ciência, mas o Espírito Santo que dentro deles pode ensinar muito mais que sabiam escritores bíblicos de milênios atrás? Por que protestantes que criticam tanto católicos, insistem em cometer os mesmos erros que esses, crendo num “Deus” que nada faz pelos que sofrem sem merecer? Dentro do aquário acha-se que não se pode ir além das paredes de vidro, que permitem ver, mas não permitem tocar. 

2ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osório de Souza, 21/01/21

05/06/21

Onde estão nossos inimigos? (1/8)

      “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor.Cantares  2.15

      Século XXI, os computadores diminuíram de tamanho, baixaram de preço, estão presentes em aparelhos domésticos, TVs, telefones, carros, que ligados a uma rede mundial de comunicação muito rápida colocam o planeta numa relação íntima, pessoal e em tempo real. Hoje todos os seres humanos podem ser produtores e espectadores, música e outras artes, indiferentemente se as pessoas têm ou não talentos e experiências especiais nisso, são compartilhadas por qualquer um, tendo como protagonista ele mesmo. 
      O mundo moderno trouxe um novo conceito de deidades, de super heróis, de celebridades, todos têm direito a tudo sempre, para ser e ter basta querer, desde que se possua um pequeno aparelho na mão, o espírito foi substituído por um celular, que tem o poder de unir, desunir, trazer e levar, transformando solidão em festa, tristeza em prazer, vazio em qualquer coisa. Eis uma faceta do tempo em que vivemos, está disponível para todo mundo? Não, ainda existe necessidade do básico para muitos e desrespeito com grande parte da população.
      Guerras seculares persistem, extremismos religiosos ganham adeptos, em ideologias distintas, a união global possível se antagoniza a conflitos que antes nem existiam, a liberdade que as rodovias virtuais permitem só armam o ser humano de mais ferramentas para prender e matar, não só os corpos, mas ideias e reputações. O que sempre existiu mas estava escondido em famílias, cidades e países, agora é revelado em mensagens no Twitter, em imagens no Instagram e em vídeos no Youtube, a “porcaria” não foi inventada, só veio à tona.
      Como uma metáfora dessa nova realidade, um vírus, microscópico e que estava escondido como tantas pessoas na mediocridade de seus lares, antes de poderem se manifestar no Whatsapp, conquista mais espaços que aqueles conquistados por mísseis teleguiados ligados a satélites ao redor do globo terrestre. Especialistas dizem que o Sars-Cov-2 (o vírus Corona que causou a Covid 19) não é o primeiro vírus e não será o último, só inaugurou uma era de doenças que mudou o mundo, mutações desse assim com novos surgirão. 
      A despeito de outros inimigos exteriores e mais convencionais, o vírus destrói de dentro para fora, outra metáfora dos tempos modernos, semelhante aos celulares, um tipo de possessão individual que desconsidera fronteiras e ataca pessoas diretamente. Enquanto tantos temiam uma terceira grande guerra mundial, com exércitos e armas destruindo cidades e invadindo países, ocorre outra coisa, o indivíduo sendo subjugado, não por inimigos grandiosos e exteriores de nações, mas por pequenas entidades, um celular ou um vírus. 

1ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osório de Souza, 21/01/21

04/06/21

Paciência (2/2)

      “Na vossa paciência possuí as vossas almas.” Lucas 21.19

      Creio que só entendemos o que é paciência e sua real eficácia quando a vivenciamos não como um sofrimento, um preço a se pagar, por exemplo, para suportar uma pessoa que nos incomoda. Se é sofrida não é paciência, é só uma resiliência humana, que também tem sua utilidade, mas que é finita e inútil, visto que é criada e mantida só pelo homem, não por alguém com o espírito em comunhão com o Espírito de Deus. Ter esse entendimento é questão de vida real com Deus, de oração e confiança.
      Paciência é lapidação da alma que a princípio é bruta e cheia de irregularidades, por isso funciona mal, com dor e instabilidade, contudo, quando a alma adquire paciência se torna um globo perfeito, consegue funcionar com facilidade e estabilidade. Muitos funcionam, mas por não terem paciência sofrem desnecessariamente como fazem sofrer aqueles com os quais não têm paciência, e muitos, por não terem humildade para lapidarem a alma, dizem que o problema não é sua falta de paciência, mas os outros. 
      Deus nunca engana ninguém, principalmente aqueles que o buscam e entregam a ele suas vidas, esses sempre serão confrontados para que aprendam a ser pacientes, paciência é óleo puro e perfumado que cura. Assim, meu querido, entenda certo, se você deu autorização a Deus para que ele cuide de você, em algum momento você terá que passar pela matéria paciência e ser aprovado, senão perderá tempo, repetindo e repetindo a mesma matéria até que aprenda a ser paciente, consigo mesmo, com os outros e com Deus. 
      Paciência não é só mais uma virtude, é o retirar de uma venda que nos permite enxergar todas as outras virtudes. Sem paciência não amamos, não conseguimos perdoar, não conseguimos esperar a ação de Deus e nos apressamos, julgando e agindo conforme achamos melhor, fazendo justiça com as próprias mãos e impedindo Deus de agir. Mas ao mesmo tempo que ela é causa primal é efeito final, quando experimentamos as virtudes adquirimos mais paciência, pois aprendemos que vale a pena esperar em Deus. 
      Negar-se ser paciencioso, contudo, é algo muito sério, muitos conquistam muito na vida, valores materiais e morais, mas por não aprenderem a lição da paciência, que acima de tudo não deseja morte antes do tempo, terão que ser fisicamente e até psicologicamente imobilizados, por uma enfermidade, seja numa cadeira de rodas ou num leito de hospital, para que não partam antes de aprenderem a lição. Cuidado, aquele que se nega ser paciente, o universo tem seus meios e ninguém pode fugir de aprender a esperar. 

03/06/21

Paciência (1/2)

      “Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima.Tiago 5.8

      Adquirir paciência também é um trabalho espiritual, e talvez um dos mais difíceis, pois só se adquire paciência esperando, e muitas vezes esperando sem poder fazer nada. Como é mais fácil para o homem sentir-se bem quando tem algo para fazer, nessa situação ele louva a Deus ainda que no fundo de seu coração ache que tem prosperidade porque está trabalhando, e assim acha que isso é fruto de seu esforço físico pessoal, não de sua vigilância espiritual. Deus fica pequeno quando o homem se vê grande. 
      Muitos passam anos se enganando dessa maneira, se achando bons cidadãos, religiosos fiéis, mas na verdade estão longe de Deus, também pudera, podem trabalhar e receber os frutos disso, para que intimidade com o Senhor? Para que ter paciência com os outros? Aliás, quem está fazendo e fazendo se dá o direito de exigir do outro a mesma coisa, julgando quem não faz como ocioso e menos que ele, ainda que não conheça o motivo real do outro não fazer. Quando o homem se acha grande, se acha deus. 
      Eu tenho muita dificuldade para ser paciente, em minha vida isso causou muita dor, nascida de atitudes feitas na ansiedade, sem esperar o momento mais adequado. Se é difícil esperar fazendo, trabalhando dez horas por dia, nos relacionando com as pessoas, muito mais difícil é esperar tendo que fazer menos que o necessário, e nesses tempos de pandemia e de poucas oportunidades de emprego esperar com a virtude paciência é trabalho duro, mas necessário aos que querem crescer espiritualmente. 
      Sobre o texto inicial, abro parênteses para a ideia que os cristãos do primeiro século tinham sobre a segunda vinda de Jesus, achavam que estava próxima. Isso é um erro, não só temporal já que não está próxima nem de nós hoje, como de entendimento sobre como ou onde será essa segunda vinda, se no plano físico ou no plano espiritual, sim, porque muitos entendem que não será no mundo, mas só no céu. Mas isso é assunto para outra reflexão, a lição principal é estarmos sempre preparados, fecho parênteses. 
       A verdadeira paciência mantém uma vigilância espiritual constante e só temos forças para fazer essa vigilância quando amamos a Deus. Quem ama não quer desapontar, trair, desagradar, e faz isso não por medo, e em se tratando de Deus não por temer um juízo eterno, um inferno. O amor é justamente o oposto do medo, o medo afasta, o amor aproxima, e quem está protegido debaixo das asas do Altíssimo está imerso em amor, não está ansioso por nada e assim pode esperar do jeito certo, em paz. 

02/06/21

A malícia e a retidão

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Algumas pessoas estão acostumadas a usar indiretas, têm sempre “papos tortos”, quando falam conosco têm sempre alguma crítica a alguém, e mesmo falando diretamente conosco, parecem esconder algo, querem aparentar que nos aprovam, mas estão sempre querendo confrontar nossas atitudes, nossas palavras, nossas intenções. É gente incrédula, que por ter parado de buscar a Deus (ou talvez por nunca ter de fato buscado), que por não estar resolvida no Senhor, duvida que muitos possam ter uma comunhão sincera com Deus. Quem não crê em Deus, não crê em si mesmo e não crê nos outros. Essas pessoas adquiriram na vida a malícia, não a sabedoria, e o mais triste é que muitas se acham cristãs. Filho de Deus de verdade não dá indiretas, ou fala sem receio e em amor o que pensa ou se cala com temor. 
      Os jovens usam o termo “papo reto”, esse termo tem um sentido semelhante ao termo reto citado na Bíblia, significa falar a verdade sem rodeios, mas falar com respeito, não sentir a necessidade de ser malicioso, usando afirmações dúbias, que parecem ter sempre um segundo e escondido sentido. Quando usamos de indiretas o fazemos por termos medo de dizer a verdade, e isso acontece ou porque aquilo que achamos ser verdade na verdade não é, antes é uma avaliação injusta, uma crítica destrutiva, ou porque ainda que seja uma verdade não temos amor e respeito suficientes de Deus para dizê-la sem machucar o outro. Ser espiritual não é só dizer e fazer a coisa certa, mas também dizer e fazer do jeito certo, no tempo certo, agir assim, por mais duro que seja, constrói, nunca destrói ou fere alguém. 
      Jesus falava muitas vezes por parábolas, mas sua intenção não era maliciosa, ao contrário, a simbologia tinha como objetivo tanto explicitar melhor um ensino, através de uma analogia, quanto proteger aqueles que ainda não estavam preparados para certos mistérios, Jesus era sábio, reto e muito amoroso. Com algumas pessoas às vezes Deus nos orienta a falar com simbologias, não sermos diretos, não para enganá-las ou criticá-las, mas para que a exortação entregue não seja de pronto descartada por elas, caso fosse mais explícita, ficando assim em suas mentes para que depois, sozinhas, elas possam refletir melhor e, quem sabe, mudarem de vida. O amor de Deus é sábio, não é malicioso, é educado, e sempre espera mudança de atitude para melhor, respeitando o livre arbítrio dos homens e seus tempos. 
      “A malícia matará o ímpio e os que odeiam o justo serão punidos” (Salmos 34.21), “as palavras da sua boca são malícia e engano, deixou de entender e de fazer o bem” (Salmos 36.3). A malícia cega justamente aquele que acha que tem mais visão que os outros, o malicioso é um sábio do mal, conhece as fraquezas do homem, mas não acredita que em Deus os homens possam mudar e serem bons. Malícia separa, não une, pois o malicioso, achando-se astuto, sempre desconfia, sempre vê no outro aquilo que há nele, malícia que quer levar vantagem. O malicioso é ladrão e homicida, rouba a honra e mata a reputação, ele sempre tem como inimigo aquele que é o oposto dele, o justo, que possui justamente aquilo que ele não tem, sabedoria genuína, por isso a voz do justo em seus ouvidos lhe deixa tão desconfortável. 
      “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Salmos 51.10), “seja reto o meu coração nos teus estatutos, para que não seja confundido” (Salmos 119.80). O reto teme a Deus, anda com Deus, ama a Deus, por isso tem a luz do Altíssimo sobre si, retidão é luz que protege da confusão, o reto sabe de onde veio, onde está e para onde vai, sabe quem foi e quem é, por isso é misericordioso e generoso com o próximo. O reto não se sente melhor que ninguém, não se acha sábio, pode até se achar menor, mas por se ver assim confia e se satisfaz no Senhor, por isso tem uma sabedoria simples e natural, manifestada até no silêncio. O malicioso querendo manter o que tem e ganhar mais perderá tudo, já o reto, que nada pensa ter além do Senhor, verá sua felicidade expandida, aqui e no céu.