31/01/22

Eternidade dentro de nós (1/90)

      Quem seremos na eternidade? Que qualidade moral teremos? Seremos perfeitos? Ou estaremos em lugares extremos, céu e inferno? Que graus deles nós mereceremos? Por quanto tempo? Serão únicos e definitivos para todos? São lugares externos ou disposições internas? Haverá possibilidade de arrependimento na eternidade? As penas são eternas ou só enquanto forem escolhidas para serem assim? Penas eternas e amor divino são mutuamente exclusivos? Um livro original em noventa partes sobre a eternidade, o inferno e o céu, reavaliando a doutrina das penas eternas da tradição cristã e confrontando-a com o amor de Deus. Segue a primeira parte. 

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” 
Mateus 13.43-44

      Quem você será na eternidade? Veja que a pergunta não foi, “onde você passará a eternidade”, uma pergunta bem comum em folhetos de evangelismo, mas quem você será. Isso foca, não num lugar externo, mas numa condição interior, só isso já faz uma reavaliação na doutrina sobre penas eternas da tradição cristã. A resposta a essa pergunta está fundamentada em dois mistérios, que precisam ser entendidos para que ela não seja baseada só sobre os entendimentos tradicionais da doutrina cristã. O primeiro responde “quem você será”. Seremos seres diferentes dos que somos hoje, assim, num piscar de olhos? Paulo diz em I Coríntios 15.51, “eis aqui vos digo um mistério: na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”, com certeza uma mudança haverá, mas onde, na forma ou no conteúdo? 
      O senso comum cristão entende que teremos a mesma forma externa em corpos físicos transformados, reconstruídos como foi o corpo de Jesus após a ressurreição. Jesus tinha capacidades que não tinha antes da morte, ele podia aparecer em locais (Lucas 24.36-37), podia parecer “diferente” de modo a nem ser reconhecido pelos que o conheciam antes da morte (Lucas 24.15-16), mas ele também podia ter a mesma aparência física de quando vivo, incluindo ter as marcas que lhe causou a crucificação, e podia até ingerir alimentos materiais (Lucas 24.38-43). O catolicismo construiu doutrinas sobre isso, o protestantismo mudou certas coisas, pero no mucho, religiões espiritualistas veem o corpo de Jesus eterno não como o material original transformado, mas como o espírito liberto e iluminado por sua qualidade moral. 
      Com relação à substância da qual será composto o nosso corpo na eternidade, existe uma interpretação um pouco diferente da cristã tradicional que penso casar mais com as leis naturais. Não será o corpo material que será transformado, já que esse depois da morte é decomposto, como é toda matéria orgânica, cujos átomos se misturam com a terra e outros elementos e participam do círculo eterno de vida e morte de toda a natureza, assim não poderão se juntar e compor de novo um corpo físico para ser transformado e adquirir novas capacidades espirituais eternas. O espírito do homem poderá se reunir por Jesus ao Espírito Santo e poderá ser um ser espiritual de luz (I João 3.2 e Romanos 8.16-18), a diferença das formas dos homens na eternidade será consequência da qualidade moral da essência espiritual que já os habita no mundo. 
      Por que a Bíblia diz que o corpo material de Jesus desapareceu? Não sabemos, aliás, como não fica claro muitos acontecimentos registrados na Bíblia, que por causa disso muitas superstições e misticismos foram construídos e usados principalmente pelo catolicismo. Contudo, o ponto desta reflexão não é sobre a constituição do nosso corpo na eternidade, digamos apenas que será um corpo não preso aos limites de matéria, do espaço e do tempo, será imperecível e livre para existir, ir e vir. O ponto aqui é a nossa qualidade moral na eternidade, sobre isso algo nos é ensinado quando a Bíblia diz que no céu não haverá sofrimento e no inferno esse sofrimento será eterno (Apocalipse 20.15, 21.3-4). O sofrimento não será efeito do nosso corpo queimar, mas da nossa consciência sofrer por pecados não assumidos, nem perdoados. 
      Lembra-se da segunda parte do título desta reflexão, “na eternidade”? Nela está o segundo mistério, mas “onde” está intrinsecamente ligado a “quem”, o primeiro mistério. A eternidade que reconheceremos fora de nós variará de acordo com quem somos dentro de nós, não é o lugar que muda, mas nossos olhos. No plano espiritual, os de espiritualidade superior serão mais belos, na eternidade beleza da forma estará diretamente ligada à qualidade do conteúdo. A aparência de nosso corpo espiritual estará relacionada à qualidade de nossa espiritualidade, à presença de virtudes morais, isso é o que nos fará estarmos numa melhor eternidade, iluminados e não entrevados, perto do amor de Deus, ou como dizem os cristãos, salvos no céu. Não entendeu? Vou explicar, mas já vou adiantando que irei além do senso comum cristão.
      Meus queridos, prestem atenção ao que é dito, analisem com seriedade e cuidado, não leiam só como dogma que conhecem e que tem que ser aceito por ser o que é ensinado em igrejas, sem crítica. A doutrina cristã tradicional divide a humanidade pós-morte em dois grupos (Mateus 25.31-33), um com seres superiores com direito à felicidade eterna, que poderão descansar e adorar a Deus, e outro de inferiores condenados a uma pena de sofrimento sem fim. Nessa doutrina os salvos, ainda que não tenham feito muita coisa, só crido, a exemplo do “bom” ladrão da cruz (Lucas 23.39-43), após a morte serão imediatamente transformados em seres com o mais alto grau de perfeição e de forma definitiva, repetindo, mesmo que no mundo tenham feito muitas coisas erradas, e ainda que tivessem se convertido em seus últimos instantes de vida. 
      Essa visão, que é a base do cristianismo, entrega a Jesus todo o trabalho para que o homem seja aperfeiçoado, e tira do homem uma necessidade mais extrema de esforço para querer e ser alguém melhor. Por outro lado, mesmo aqueles que foram bons cidadãos, bons maridos, bons pais, bons filhos, bons profissionais, que tenham até feito caridade real, ajudado pessoas e causas, mas não tenham crido em Cristo do jeito que o cristianismo protestante e evangélico ensina, poderão ser eternamente condenados a um sofrimento indescritível. Meus queridos, isso é muito, muito sério, muitos crentes podem até dizer, “mas eu não creio assim, penso que Deus salvará mesmo não evangélicos com uma vida correta”, tudo bem, eu acredito, mas saibam que a doutrina que o cristianismo prega não diz isso, ela é extrema, céu ou inferno! 

Esta é a 1ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

30/01/22

O amor anula preconceitos

      “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.Lucas 11.42
      “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.Tiago 2.8-9

      Leis, educação e ciência não mudam as pessoas, só o amor divino muda. Criar uma lei que exija que se respeite sexualidades não binárias, não muda o sentimento de muitos que acham que sexualidades não binárias são erradas, principalmente se esses se baseiam em princípios religiosos. Por mais absurdo que pareça, ainda no século XXI, há religiões que consideram pecado digno de punição a homosexualidade, e algumas punições não só na eternidade e imposta por um juízo divino, mas físicas, já e neste mundo. 
      Assistimos aterrorizados o Talibã voltar ao poder no Afeganistão, o motivo principal que a humanidade civilizada tem para isso é saber a forma como esse grupo político, militar e religioso, trata mulheres e pessoas do grupo LBGTQIA+. Esse grupo baseia-se em interpretações religiosas erradas do Alcorão (livro sagrado muçulmano de Maomé) para agir com tão cruel extremismo. Uma lei de países civilizados vai fazer com que eles mudem de ideia? Não, eles se consideram debaixo de ordem divina para agirem assim. 
      Muitos evangélicos não chegam a esse ponto, mas podem pensar de forma semelhante, e ainda que não queiram justiça violenta neste mundo, baseados no que entendem da Bíblia, creem que haverá punição extrema para pessoas que não se classificam como sexualidade heterossexual. Usam a célebre afirmativa, “Deus criou homem e mulher, e mais nada”, numa de muitas interpretações ao pé da letra de textos fora do contexto bíblico principal, que não dão prioridade à nova aliança do evangelho, mas ao velho testamento. 
      Mas o Gênesis, parte de um cânone que conta a história específica do atual povo judeu, também não diz que Deus criou, não de forma direta, e manteve relação como pai com povos africanos, do extremo oriente ou das Américas, por exemplo. Assim, será que Deus só ama os judeus? E trazendo isso para o contexto atual, só ama cristãos héteros? O Talibã é uma faceta preconceituosa da humanidade, e a culpa não é da religião, quem cria religiões são os homens, não Deus. Deus só entregou seu filho e ama todos igualmente. 
      Reavaliar preconceitos implica em reavaliar legitimidade de costumes e doutrinas que muitos dizem serem avalizados por Deus, assim para muitos a questão não é tratar as pessoas de maneira diferente, mas ter que desobedecer a Deus para isso. “Deus”, o mais forte dos álibis em mentes humanas fracas que preferem se esconder atrás de tradições religiosas, que conhecerem o Deus verdadeiro. Preferem dar frutos ruins que plantarem árvores diferentes, só porque certas árvores são plantadas tradicionalmente há séculos. 
      O preconceito tem aliada poderosa justamente em quem se diz inimiga maior de preconceitos, grande parte da mídia. Por não crer no Deus do evangelho, e isso porque se baseia no falso cristianismo praticado por muitos no mundo, deixa de compartilhar o único que pode anular os preconceitos. Desconectado espiritualmente do verdadeiro Deus, não pode haver amor que liberte de preconceitos. Ciência, leis e educação não conseguirão mudar o lugar onde os preconceitos existem, o coração do ser humano. 
      Os realmente espirituais, que de fato estão iluminados pela luz mais alta e pura do Altíssimo, aqueles que verdadeiramente amam no amor de Jesus, sem limites, sem vaidades, sem imposições, e sem a menor possibilidade de violência, conclamo-vos! Orem pelo mundo neste momento tão sério, mas também se levantem como indivíduos, não como grupos políticos e religiosos, que só são esconderijos para covardes e malucos, e pratiquem o amor. A luz pode parecer menor, mas um facho basta para iluminar muitas trevas. 

29/01/22

Amemos sempre!

      “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.I Coríntios 13.4-7

      Invejamos quando precisamos amar, temos ciúmes quando precisamos amar, usamos egoisticamente quando precisamos amar, odiamos e fantasiamos vinganças quando precisamos amar. Precisamos amar sempre, senão invejaremos, teremos ciúmes, usaremos, odiaremos e nos vingaremos. Amor não deve ser somente opção, reação, cura, mas ação, iniciativa, tratamento preventivo e vacina. Muitos se sentem fracos e até caem porque deixam para amar em última instância, aí pode ser tarde, e no mínimo será mais difícil. 
      Podemos dizer, “eu tenho muita dificuldade para amar certas pessoas, por mais que eu saiba que invejar é errado, que devo me alegrar com as vitórias e qualidades do outro, eu alimento invejas de alguns, e ainda que não verbalize isso nem para mim mesmo, transformo dentro de mim a inveja em ódio, em vingança, no desejo de que alguém de alguma maneira se dê mal e perca a pose”. Essa fala te representa? Se não representa, agradeça aos céus, você ama, não inveja, quer o bem das pessoas e é feliz com o que é e tem.
      Sou honesto, a fala me representa, e mesmo que eu saiba que certas coisas são erradas, que não queira senti-las, eu as sinto. A solução é uma atitude constante de humildade e amor, só assim achamos misericórdia, paciência e verdade para amar, o amor nos protege, utiliza nossas energias de forma positiva e construtiva. Nisso há, não só um convívio em paz com todos, mas paz interior em nós, que nos livra de medos e ansiedades, que nos permite estar em comunhão íntima com o Deus de luz, que ama sempre. 
      Não escolha amar, quando e a quem, nem tente se manter numa posição de indiferença, de distância, principalmente com algumas pessoas, ainda que tentando evitar sentimentos e reações negativas e destrutivas, mas não tomando a iniciativa do bem e da luz. Quem fica em cima do muro sempre cai para o lado errado, é preciso estar do lado certo e sempre, lutar pelo amor todos os dias, e aqueles que temos mais dificuldades para amar são justamente os que mais precisam de nosso amor, de nossas “boas energias”. 
      A dificuldade que temos com certas coisas é Deus nos chamando para fazer algo, e quando temos muito desconforto emocional com alguns é o Senhor nos chamando para amar esses de maneira diferenciada. Só acordamos para certas verdades na tormenta, visto que a calmaria leva à acomodação, assim tem que doer para tomarmos certas atitudes. Na falta do amor elevam-se disposições opostas, que parecem nos comer por dentro, mas é Deus nos alertando que algumas pessoas necessitam de uma atenção especial nossa. 
      A experiência descrita nesta reflexão pode acontecer principalmente com alguns parentes, que só vemos em certas ocasiões festivas, e nessas o desconforto pode ser tanto que temos vontade até de não ir a festas, ainda que sacrificando a convivência com muitas outras pessoas que amamos com facilidade e que temos prazer em estar perto. Não se lembre de alguém só no natal, ore ao menos ocasionalmente por ele, desejando coisas boas para todas as áreas de sua vida. Ame, a inveja não te vencerá e você será mais forte. 
      Amor genuíno se manifesta, cresce e se mantém com obras, não só com consciência e intenção, se desejar ter uma disposição real de amor só dentro de você, não conseguirá, não será amor forte suficiente para agir. Não estou dizendo que temos que chegar atropelando as pessoas, invadindo suas privacidades, aliás, podemos ter dificuldades para amar alguns justamente porque esses se mantêm distantes, em atitude que pode soar para os inseguros e carentes como arrogância e desprezo, ainda que seja só o jeito deles. 
      Essa prática de amor se fortalece em oração feita com todo o coração e com convicção mental. Se possível verbalize a bênção sobre o outro, e entenda que essa ênfase não é para Deus ouvir (e muito menos para os homens ouvirem), mas para você ouvir, ser curado e aprender que amar é modo de agir de espirituais. Como efeito você estabelecerá uma conexão íntima e forte com o mundo espiritual e permitirá que o Altíssimo libere sobre alguém luz e paz, em seus mistérios Deus usa homens para exercer amor. 

28/01/22

Fora do amor não há salvação

      “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.I João 4.7-8

      Se você quiser praticar o amor, do fundo do teu coração, com obras, mais que só com palavras e intenções, você achará a Deus, ainda que inicie esse caminho fora de qualquer religião. Contudo, se quiser praticar uma religião, mesmo uma cristã ou evangélica, ainda que sendo assíduo em cultos e conhecedor de doutrina e de Bíblia, mas não se dispor a pagar os preços para amar de verdade, não conhecerá a Deus, não de forma profunda e madura, e mesmo se for só superficialmente, esse “amor” não resistirá ao tempo. 
      O caminho do amor sempre leva a Jesus, não é um caminho fácil, ainda que possa ser mais direto que o da religião. Amor implica em humildade e paciência para ser servo, dar sem pedir algo em troca. Os que o buscam se colocarão naturalmente na luz mais alta de Deus, ainda que a princípio sejam descrentes, materialistas, céticos, porque quem ama se coloca espiritualmente na posição melhor. Nesse princípio é preciso entender amor como algo essencialmente espiritual, tendo como início e fim Deus pela porta Jesus. 
      Religião como construção humana põe o homem em posições mundanas, com referências humanas, aprende de homens para mostrar a homens. O “amor” da religião começa e acaba no mundo, não sai do plano físico, é no máximo posicionamento político e educação social, dá para receber algo em troca, mesmo que seja só status de bom religioso. Isso não significa que não haja homens exercendo o verdadeiro amor em religiões, onde a palavra de Deus é dita, por mais corrompido que seja o lugar, Deus é ensinado.
      Deus sempre atende quem o busca, seja onde for que estiver, assim atende também os que estão fora de igrejas. O ponto desta reflexão não é criticar religião, mas enfatizar o poder do amor, na verdade o amor é a verdadeira religião e fora dele não há salvação, Jesus homem era amor, e como Deus é a porta que conduz ao Deus de amor. Quem descobre o verdadeiro amor acha a Deus é quem acha Deus consegue viver dentro de religiões com a intenção certa, com os olhos abertos, com espírito de servo, com o puro amor de Cristo. 
      “Qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”, o texto diz qualquer, não o cristão que ama, ou o religioso que ama. Muitos querem posar marketing do fruto sem serem árvores adequadas, não se ama só porque se é evangélico de carteirinha, porque se coloca socialmente como membro de igreja, e consequentemente não se é nascido de Deus ou se conhece a Deus só por isso, mas por amar. Assim, há muitos nascidos de Deus e amigos íntimos de Jesus fora de igrejas cristãs, simplesmente porque amam. 
      Muitos evangélicos dizem que essa ênfase no amor, que leva não cristãos a dizerem que cristãos negam a Cristo quando limitam o amor, é álibi para negar pecado, juízo, condenação e inferno, que esse amor impede as pessoas de serem santas e irem para o céu. Quanto equívoco há nesses evangélicos. O verdadeiro amor não afasta, aproxima, quem quer viver errado não vem para o amor de Deus, porque nesse há luz que revela o pecado. Deus é amor, e de um jeito que muitos evangélicos se surpreenderão na eternidade. 

27/01/22

Não odeie nem o odiável

      “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todos os pecados.Provérbios 10.12

      Quem é pior, quem se torna odiável ou quem odeia o odiável? Muitos dirão que o que faz o mal tem motivos legítimos para ser odiado, não há nada de errado em odiar quem faz males. Com os que cometem crueldades, com os que fazem os seres humanos sofrerem, seja do jeito que for, devemos nos incomodar, mas cuidado, se lançamos ódio demais sobre esses devemos também nos preocupar com nós mesmos. Algo de errado acontece com quem se revolta demais com os outros, com os que tornam essa revolta algo pessoal, ainda que seja contra alguém totalmente desconhecido. 
      Muitas vezes o ódio faz mais mal a quem odeia que a quem é odiado, já que quem é odiado pode não ser merecedor dele ou nem ter noção dele, mas quem odeia retém ódio e sabe disso. Não sei você, mas eu às vezes me pego distribuindo revoltas para tudo quanto é lado, podem até ser contra pessoas que merecem repúdio. Mas até que ponto é rejeição do mal, e é ódio reprimido e mal resolvido em mim que desabafo lançando contra os outros? Às vezes parece que andamos caçando gente para ser odiada só para termos motivos para odiar, ou pior, para nos sentirmos melhores que alguém. 
      A polarização política no Brasil tem servido para isso, para que as pessoas direcionem ódio reprimido, não odeiam mais o estuprador ou o serial killer, isso já não basta, odeiam alguém com um posicionamento político diferente. Sim, muitos políticos, de ambos os lados, merecem nosso repúdio, mas acreditar em qualquer fake news só por nos dar motivo para odiar mostra problemas em nós, antes que nos outros. A verdade é que ninguém merece ódio, pena, sim, intercessão, sim, distância educada, em muitos casos, não ser votado em eleições no caso de políticos, com certeza, mas não ódio.
      Se ninguém merece ódio de ninguém tão pouco de cristãos, infelizmente num evangelho desviado que já considerava legítimo odiar o diabo e seus demônios, assim como pedir a Deus vingança sobre os inimigos, aliando os que não são de religião evangélica, como espíritas e outros, ao mal e portanto indignos de respeito, muitos cristãos têm se posicionado em um dos polos políticos no Brasil e servido a narrativas de ódio. Num mundo que fala tanto em direitos e respeito a diferenças, antagonicamente o ódio também está em moda, equilíbrio só é exigido do outro, não de si mesmo. 
      Sendo bem explícito, você não tem que adorar o Lula ou o Bolsonaro, mas com certeza não deve perder tempo odiando-os, divulgando postagens na internet para destruí-los, isso não é cristão, nem espiritual. Espirituais envolvem-se minimamente com este mundo e sua política, ainda que sejam responsáveis, trabalhadores e produtivos, eles não tentam mudar o que não pode e nem precisa ser mudado. Energia gasta odiando falta para amar, amar a todos? Sim, de algum jeito, mas especialmente alguns, os quais são nossa missão amar, já com relação ao ódio, ninguém tem como missão odiar. 

26/01/22

Por amor a verdade espera

      “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos moços como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza.I Timóteo 5.1-2

      Até a verdade dita na hora errada ou do jeito errado pode ser falta de amor. O amor nem sempre fala, mesmo a verdade, cala, esperando o momento melhor para ser verdadeiro. Deus sabe de toda a verdade, sobre todos, mas não fica jogando-a nos rostos das pessoas o tempo todo. Por isso o silêncio de Deus não é falta ou distância, não é o vazio ou a morte, mas também é expressão de seu amor, manifesta-se para que sejamos protegidos de nós mesmos, de nossas próprias verdades, que podem doer se ditas em tempo inadequado. Deus não mente, não pode fazer isso nem para que nos sintamos melhor, assim ele só se cala. 
      A verdade é a realidade, ela nem precisaria ser dita, ela é o que somos, contudo, nem sempre o que fazemos e falamos reflete o que somos de fato, por isso soamos falsos muitas vezes, por isso o que fazemos e falamos dão em nada, ou pelo menos em nada de bom. Estarmos na presença de Deus é estarmos sob a luz moral mais clara, essa luz naturalmente revela a verdade, quem busca a Deus de todo o coração percebe suas mentiras, entende-as e sente-se desejoso de deixá-las. Eis outra característica do amor de Deus, ele não só mostra nossos erros, mas também nos chama e dá-nos forças para deixá-los, com muita paciência.
      Paciência não explica, cala e espera, mas sorri, com a alma. Deus está muitas vezes olhando-nos assim, calado, mas sorrindo, e como é maravilhoso esse sorriso, é luz que entende e abraça, silenciosamente. Muitas vezes o que as pessoas mais precisam é só do nosso sorriso quieto, que lhes dá a chance de pensarem, de se avaliarem, de aceitarem seus erros e desejarem se acertar, sem que alguém precise jogar em suas caras seus erros, sem que alguém precise humilhá-las. Por amor até a verdade espera, porque na maioria das vezes não precisamos que nos digam que estamos errados, sabemos quando estamos errados.
      Espíritos malignos e muitos homens gostam de nos acusar, não precisamos de mais gente nos acusando, só precisamos de um pouco de silêncio para respirarmos fundo e assumirmos nossas verdades. Assim não tenhamos pressa para dizer verdades sobre os outros para os outros, sobre nós, sim, sejamos diligentes para assumirmos nossas verdades e nos desculparmos por nossas mentiras. Mas mesmo isso façamos sob orientação de Deus, e Deus sabe se abrirmos nossos corações e escancararmos nossas verdades será conveniente, às vezes é melhor nos acertarmos com Deus, entregarmos os outros em suas mãos e só.

25/01/22

Descansa, ouça e obedeça

      “Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.Jeremias 31.3

      Bem intencionados, muitos me ensinavam, quando comecei no evangelho, que devia ter vida de oração e de leitura bíblica disciplinada, deveria falar com o Senhor e estudar a Bíblia todos os dias, assim como ser assíduo nos cultos da igreja. Lembro-me de adquirir aqueles livretos de meditações diárias que vinham com uma devocional por dia do ano, aprendi muito da Bíblia assim. Como eu disse, sei que a intenção era a melhor, e para novatos na fé estipular metas e horários pode ser útil para que esses se acostumem com uma vida com Deus. 
      Contudo, tenho entendido que Deus nos chama para sua presença mais íntima quando é preciso, assim, ouvir a chamada de Deus para orar e depois ouvir o que ele tem a dizer, é mais importante até que orar de forma metódica e repetitiva. Mas calma, não entenda errado, isso não significa que não temos que tomar a iniciativa, que basta-nos esperar a iniciativa de Deus. Na verdade, para quem atingiu certa maturidade é assim mesmo que funciona, mas só tem direito a isso quem vigia o tempo todo e está sempre disponível para obedecer. 
      O sábio é buscarmos a presença mais próxima do Senhor pelo menos uma vez no dia, deixando com Deus querer ou não nos dar um encontro diferenciado, muitas vezes bastará, de forma objetiva, um agradecimento e a entrega de nossas vidas e daqueles mais próximos a nós nas mãos de Deus. Acredite, falar pouco, mas com fé e com sentimento, pode dar mais resultado que ficar querendo saber o que Deus não quer dizer, além do mais Deus nos conhece e sabe quando estamos preparados para experiências mais profundas. 
      Eu procuro estar sempre atento a Deus e quando sinto ele me chamando para orar tento responder o mais depressa possível. Se não estiver em casa, procuro um lugar reservado e ouço o que o Senhor quer me falar, seja me orientando a interceder por algo, seja ouvindo uma resposta ou uma revelação, seja adorando seu nome pelo simples fato dele ser Deus. Faço isso mesmo estando em frente à TV no meio de um filme, desligo tudo e obedeço, às vezes Deus não chama duas vezes, se perdemos uma oportunidade não teremos outra.
      Sabemos que Deus nos chama para orar quando sentimos sua presença de maneira diferenciada, é como um “puxão que nos atrai para cima” e que lança sobre nós uma clareza espiritual, achamos forças mesmo estando antes desfalecidos, e para os que permitiram manifestação de dons espirituais a boca pode se encher de “línguas estranhas”. (Aproveitando a oportunidade, “convertidos” recebem dons no momento que se convertem e são selados com o Espírito Santo, mas os dons só se manifestam se a mente for liberada).
      Deus é luz e poder e nos chama assim, iluminando-nos e ungindo-nos, dessa forma quando oramos porque Deus nos chamou para isso temos vontade e forças para orar, isso é espiritual e suplanta mesmo limites físicos. Isaías 40.30-31 expressa com exatidão como nos sentimos quando fazemos algo obedecendo uma palavra de Deus: “os jovens se cansarão e se fatigarão e os moços certamente cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias, correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão.