segunda-feira, janeiro 31, 2022

Eternidade dentro de nós (1/90)

      Quem seremos na eternidade? Que qualidade moral teremos? Seremos perfeitos? Ou estaremos em lugares extremos, céu e inferno? Que graus deles nós mereceremos? Por quanto tempo? Serão únicos e definitivos para todos? São lugares externos ou disposições internas? Haverá possibilidade de arrependimento na eternidade? As penas são eternas ou só enquanto forem escolhidas para serem assim? Penas eternas e amor divino são mutuamente exclusivos? Um livro original em noventa partes sobre a eternidade, o inferno e o céu, reavaliando a doutrina das penas eternas da tradição cristã e confrontando-a com o amor de Deus. Segue a primeira parte. 

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” 
Mateus 13.43-44

      Quem você será na eternidade? Veja que a pergunta não foi, “onde você passará a eternidade”, uma pergunta bem comum em folhetos de evangelismo, mas quem você será. Isso foca, não num lugar externo, mas numa condição interior, só isso já faz uma reavaliação na doutrina sobre penas eternas da tradição cristã. A resposta a essa pergunta está fundamentada em dois mistérios, que precisam ser entendidos para que ela não seja baseada só sobre os entendimentos tradicionais da doutrina cristã. O primeiro responde “quem você será”. Seremos seres diferentes dos que somos hoje, assim, num piscar de olhos? Paulo diz em I Coríntios 15.51, “eis aqui vos digo um mistério: na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”, com certeza uma mudança haverá, mas onde, na forma ou no conteúdo? 
      O senso comum cristão entende que teremos a mesma forma externa em corpos físicos transformados, reconstruídos como foi o corpo de Jesus após a ressurreição. Jesus tinha capacidades que não tinha antes da morte, ele podia aparecer em locais (Lucas 24.36-37), podia parecer “diferente” de modo a nem ser reconhecido pelos que o conheciam antes da morte (Lucas 24.15-16), mas ele também podia ter a mesma aparência física de quando vivo, incluindo ter as marcas que lhe causou a crucificação, e podia até ingerir alimentos materiais (Lucas 24.38-43). O catolicismo construiu doutrinas sobre isso, o protestantismo mudou certas coisas, pero no mucho, religiões espiritualistas veem o corpo de Jesus eterno não como o material original transformado, mas como o espírito liberto e iluminado por sua qualidade moral. 
      Com relação à substância da qual será composto o nosso corpo na eternidade, existe uma interpretação um pouco diferente da cristã tradicional que penso casar mais com as leis naturais. Não será o corpo material que será transformado, já que esse depois da morte é decomposto, como é toda matéria orgânica, cujos átomos se misturam com a terra e outros elementos e participam do círculo eterno de vida e morte de toda a natureza, assim não poderão se juntar e compor de novo um corpo físico para ser transformado e adquirir novas capacidades espirituais eternas. O espírito do homem poderá se reunir por Jesus ao Espírito Santo e poderá ser um ser espiritual de luz (I João 3.2 e Romanos 8.16-18), a diferença das formas dos homens na eternidade será consequência da qualidade moral da essência espiritual que já os habita no mundo. 
      Por que a Bíblia diz que o corpo material de Jesus desapareceu? Não sabemos, aliás, como não fica claro muitos acontecimentos registrados na Bíblia, que por causa disso muitas superstições e misticismos foram construídos e usados principalmente pelo catolicismo. Contudo, o ponto desta reflexão não é sobre a constituição do nosso corpo na eternidade, digamos apenas que será um corpo não preso aos limites de matéria, do espaço e do tempo, será imperecível e livre para existir, ir e vir. O ponto aqui é a nossa qualidade moral na eternidade, sobre isso algo nos é ensinado quando a Bíblia diz que no céu não haverá sofrimento e no inferno esse sofrimento será eterno (Apocalipse 20.15, 21.3-4). O sofrimento não será efeito do nosso corpo queimar, mas da nossa consciência sofrer por pecados não assumidos, nem perdoados. 
      Lembra-se da segunda parte do título desta reflexão, “na eternidade”? Nela está o segundo mistério, mas “onde” está intrinsecamente ligado a “quem”, o primeiro mistério. A eternidade que reconheceremos fora de nós variará de acordo com quem somos dentro de nós, não é o lugar que muda, mas nossos olhos. No plano espiritual, os de espiritualidade superior serão mais belos, na eternidade beleza da forma estará diretamente ligada à qualidade do conteúdo. A aparência de nosso corpo espiritual estará relacionada à qualidade de nossa espiritualidade, à presença de virtudes morais, isso é o que nos fará estarmos numa melhor eternidade, iluminados e não entrevados, perto do amor de Deus, ou como dizem os cristãos, salvos no céu. Não entendeu? Vou explicar, mas já vou adiantando que irei além do senso comum cristão.
      Meus queridos, prestem atenção ao que é dito, analisem com seriedade e cuidado, não leiam só como dogma que conhecem e que tem que ser aceito por ser o que é ensinado em igrejas, sem crítica. A doutrina cristã tradicional divide a humanidade pós-morte em dois grupos (Mateus 25.31-33), um com seres superiores com direito à felicidade eterna, que poderão descansar e adorar a Deus, e outro de inferiores condenados a uma pena de sofrimento sem fim. Nessa doutrina os salvos, ainda que não tenham feito muita coisa, só crido, a exemplo do “bom” ladrão da cruz (Lucas 23.39-43), após a morte serão imediatamente transformados em seres com o mais alto grau de perfeição e de forma definitiva, repetindo, mesmo que no mundo tenham feito muitas coisas erradas, e ainda que tivessem se convertido em seus últimos instantes de vida. 
      Essa visão, que é a base do cristianismo, entrega a Jesus todo o trabalho para que o homem seja aperfeiçoado, e tira do homem uma necessidade mais extrema de esforço para querer e ser alguém melhor. Por outro lado, mesmo aqueles que foram bons cidadãos, bons maridos, bons pais, bons filhos, bons profissionais, que tenham até feito caridade real, ajudado pessoas e causas, mas não tenham crido em Cristo do jeito que o cristianismo protestante e evangélico ensina, poderão ser eternamente condenados a um sofrimento indescritível. Meus queridos, isso é muito, muito sério, muitos crentes podem até dizer, “mas eu não creio assim, penso que Deus salvará mesmo não evangélicos com uma vida correta”, tudo bem, eu acredito, mas saibam que a doutrina que o cristianismo prega não diz isso, ela é extrema, céu ou inferno! 

Esta é a 1ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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