04/02/22

Infernos interiores (5/90)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” 
II Pedro 1.10-11

      Inferno e céu têm a ver com duas coisas: humildade do homem e amor de Deus. Deus sempre ama, mas o homem nem sempre é humilde. Trevas é ausência de humildade, inferno são as trevas de muitos seres arrogantes reunidos, não é um lugar, mas a reunião de consciências sem luz, que se negam caminhar para o amor de Deus. Não meus queridos, não nos basta viver um evangelho racional, cheio de argumentos, que nos dá abrigo em dogmas e teologias, que nos oferece explicações confortáveis. É preciso um comprometimento moral, que arranca do fundo dos nossos corações uma oração de quebrantamento, que persiste pelos anos, que não desiste mesmo que os homens nos desapontem, mesmo que as religiões sejam hipócritas, mesmo que as tentações da carne e do orgulho sejam avassaladoras. Céu se constrói. 
      A possibilidade de ver um inferno não eterno não nos faz mais frouxos com Deus, ao contrário, leva-nos a assumir mais ainda responsabilidades que são só nossas, de mais ninguém, essa é a ótica de adultos espirituais, não de crianças que só fazem o certo se o castigo for enorme. O mais adulto é fazer o certo ainda que não haja castigo, é deixar de fazer o errado ainda que não exista recompensa. O bem já é uma recompensa em si mesmo para os que veem a existência além do plano físico, mas uma eternidade espiritual. O tempo de sermos crianças que precisam de leis para nos mostrarem o que devemos fazer passou. Se o cristianismo no mundo tivesse entendido de fato o que o Cristo ensinou, o Espírito Santo já teria ensinado sobre isso, mas não entendeu, fechou os ouvidos para o mestre e seguiu infantil. 
      Duas lições importantes tiramos do texto inicial, a primeira é que o que nos protege de tropeços não é fazermos isso ou aquilo, muitas vezes só para termos aprovação de homens e mesmo de igrejas. O que nos protege é obedecermos a vocação e a eleição que Deus nos deu. Se tua vocação for ser um bom evangélico, seja-o, conheço crentes, de denominações variadas, que são seres humanos de qualidade por serem fiéis às doutrinas de suas igrejas, são assíduos nos cultos e abençoam muitos. Eles até podem crer numa eternidade “tradicional”, mas tenho certeza que são humildes e os humildes não serão surpreendidos na eternidade, não para pior, e muito provavelmente para melhor. Contudo, se você sente em Deus uma inclinação para ir além, e repito, se isso for vontade de Deus para você, você só será feliz se obedecer essa chamada. 
      A segunda lição que o texto inicial nos ensina está em “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno”, outra versão diz, “assim vocês estarão ricamente providos quando entrarem no Reino eterno” (NVI). Tenho a impressão, interpretando esse texto, que a melhor eternidade não será um céu único para todos, contudo, não é o espaço espiritual que poderá ser diferente, mas será o homem interior dos seres humanos que poderá variar, assim céu e inferno poderão ser, não lugares, mas posições espirituais interiores e individuais. A intenção deste texto não é achar na Bíblia apologia para teorias, não tenho interesse em forçar uma interpretação para provar algo. O propósito aqui é obedecer a voz do vivo Espírito Santo, nosso mestre maior, no qual não reside engano. Do que falo tenho certeza e autorização de Deus para dizer.
      Você com certeza já esteve num local que lhe parecia desconfortável, ainda que estivesse realizando-se lá uma festa, o ambiente parecia ruim porque você não estava bem, era seu interior que estava mal, não o lugar. Imagine um grupo de pessoas parecidas reunidas num mesmo lugar, angustiadas, desesperadas, remoídas em remorsos, sentindo-se sujas com vícios não resolvidos, pesadas com crimes e todo tipo de violência, pecados não perdoados e não esquecidos. Poderíamos chamar esse lugar de inferno, ainda que fosse um lindo jardim, com um vento calmo e fresco soprando, à beira de um lago de águas limpas. Sim, meus queridos, o inferno está dentro de nós, e o levamos para onde quer que formos. Deus não criaria um lugar assim, simplesmente porque não precisa criar, às pessoas bastam suas autoinflingidas penas.
      Não temamos o inferno, mas as coisas ruins não resolvidas acumuladas dentro de nós, não temamos o diabo, mas nos aproximemos do amor de Deus e nos sintamos satisfeitos. Ainda que se expulse os demônios, se a casa não for enchida com o Espírito de Deus o mal volta pior (Lucas 11.24-26), assim o perigo não está no mal, mas na ausência do bem, que deixa espaço livre para o mal. O inferno será eterno? Se você não tem fê para crer que não será, tudo bem, o cristianismo, ainda que limitado, conduz o mundo à Deus com essa doutrina há quase dois mil anos, Deus sabe o que faz. Contudo, creia num Deus de amor, não num Deus vingador, creia num Deus inclusivo, não num Deus que faz acepção de pessoas, creia num Deus maior que os dogmas, que ainda tem muito a revelar, assuma-se criança que pouco sabe e saberá mais. 

Esta é a 5ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

03/02/22

Crianças ou adultos? (4/90)

      “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” 
I Coríntios 13.11

      Você não diz a uma criança que ela deve olhar para os dois lados da rua antes de atravessar, você diz, não atravesse sem dar a mão para o pai, senão você será atropelada. Uma criança ainda não tem inteligência desenvolvida o suficiente para verificar a situação e fazer a melhor escolha, para ela, o medo de algo inflexível ocorrer, é o melhor ensino para livrá-la do pior. É verdade que se ela atravessar sem dar a mão para o pai ela será atropelada? Não de todo, há a possibilidade dela atravessar e, ainda que não olhe, nenhum carro esteja vindo e ela não sofra nada. Ela também pode ser uma criança com inteligência acima da média, que entenda que precisa olhar os dois lados, esperar ou não, e então atravessar, mas aí, ainda que tivesse consciência do que estivesse fazendo e de não sofrer nada com sua ação, ela poderia se vista pelos outros como uma criança desobediente.
      Essa metáfora não indica que a Bíblia minta, mas que é adequada aos homens dos tempos em que ela foi escrita, mesmo nela há ensinos antagônicos, sobre o amor, por exemplo, o antigo testamento nega amor aos inimigos, no evangelho é orientado a todos (Mateus 5.44). Se nós, como indivíduos, crescemos, melhoramos, adquirimos inteligência intelectual, porque isso não ocorreria com a humanidade? Não é óbvio, por tudo que temos visto da ciência, principalmente no século XX, que o homem tem se desenvolvido? E sobre os costumes sociais, sobre o casamento, sobre o papel de homem e de mulher, sobre os preconceitos com raça e sexualidade, não temos visto uma evolução desde o século XIX? Foi justamente para tentar negar, frear e controlar o desenvolvimento científico e social da humanidade, que a Igreja Católica tanto mal fez, tantos queimou nas fogueiras, torturou, enclausurou.
      Meus queridos, os ideais morais e espirituais nunca mudam, equivocam-se os que acham que textos como esse e outros, tanto do “Como o ar que respiro” como de outros autores, estão tentando defender o pecado e o diabo e desviar-se da Bíblia, do cristianismo, de Deus. Por este espaço eu defendo em alto, mas não mal educado som, que creio num Deus santíssimo, todo-poderoso, que enviou Jesus para que sejamos salvos à medida que praticamos seu amor, e crer em Jesus com salvador é só o primeiro passo para uma jornada em direção ao Deus altíssimo, onde está a luz mais clara de virtudes. Amo a Bíblia, é o texto religioso que por mais tempo tem iluminado a humanidade, com sabedorias eternas, na qual estão contidos mesmo mistérios que o homem atual, na média, não pode entender, nem viver. Contudo, existe amor divino num inferno eterno? Pense profundamente nisso, por favor.
      Quem você será na eternidade? Talvez exista a possibilidade de acordarmos na eternidade mentalmente da mesma maneira como saímos do mundo, apesar de com outra forma de corpo, composto de uma substância não material, seja lá qual for ela, semelhante àquela que Jesus tinha depois de ressuscitado, mas com o mesmo conteúdo moral que tínhamos antes da morte do corpo físico, com consciência, identidade e mesmo com limites. A Bíblia diz que depois da morte vem o juízo (Hebreus 9.27-28), não estamos negando isso, a questão é quanto dura a pena promulgada pelo juízo e a relação dessa com o amor divino. Talvez para muitos pode durar uma eternidade, mas talvez todos provaremos algum inferno, ainda que só por algumas horas. O que vai fazer com que isso varie? O aperfeiçoamento moral que fizemos com o nosso homem interior no mundo físico.
      Quem vigiou mais, buscou mais a Deus, se humilhou mais, praticou mais o evangelho verdadeiro, lutou mais contra suas capas e máscaras, não teve medo mesmo de parecer fraco e louco diante de homens, para agradar a Deus e deixá-lo aparecer e não o seu ego, esse poderá ir direto ao céu. Nosso melhor homem interior aparece fácil quando passamos a vida lutando para deixá-lo se manifestar, isso não mudará na eternidade. Contudo, os que viveram, ainda que no coração crendo em Deus, mas mantendo aparência de fortes, para não terem orgulho próprio riscado, para não mostrarem fraqueza, para pousarem-se sempre de vitoriosos e donos da verdade, esses terão certa dificuldade para serem humildes no pós-morte (Filipenses 2.9-11), quando todos teremos que nos curvar diante do Cristo, a manifestação mais plena de Deus no mundo, esses poderão provar “infernos”. 
      Não esperem aqui textos bíblicos que provem um ponto de vista, os que guiam suas vidas com Deus só naquilo que está explicitamente no cânone bíblico nem levem em conta esta reflexão. A crianças convém andarem de mãos dadas com seus pais, não tentarem fazer escolhas próprias, mas só seguirem as escolhas que outros fazem por elas. Isso está errado? De forma alguma, importa sermos coerentes com o que queremos acreditar e agradarmos a Deus nisso. Contudo, se a dúvida daquilo que você creu até hoje te encaminhar para uma vida mais santa, humilde e amorosa com o próximo, se novos questionamentos te fizerem um ser humano melhor, então, ouse. Mas faça isso conversando com Deus, buscando na paz e nos bons frutos autorização para aprender, e saiba, aos que estão preparados muito há para aprender, se o inferno pode não ser infinito, o céu é. 

Esta é a 4ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

02/02/22

O amor de Deus e o inferno (3/90)

      “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, mem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” 
Romanos 8.38-39

      Quem você será na eternidade? Vou fazer uma conjectura, que pode não bater com a doutrina cristã tradicional, assim peço que a princípio você a considere assim, como uma possibilidade, uma pergunta para você tentar responder. Será que imediatamente após morrerem no corpo, aqueles que têm a convicção que são novos nascidos por Cristo, se acharão como novos seres, com corpos diferentes, sem os limites de matéria, tempo e espaço, será que serão seu melhor homem interior? Será que já estarão livres de culpas, de medos, de dúvidas, de ansiedades, de dores, e gozarão imediatamente de uma disposição “emocional” de paz? A doutrina cristã tradicional, pelo menos a protestante e a evangélica, não a católica que levanta a possibilidade do purgatório, ensina que sim. Se for isso, bom e fácil para todos os que vão para o céu.
      Por outro lado, e não podemos nunca nos esquecer dos dois lados e do caráter implacável da doutrina das penas eternas, essa “transformação” imediata e definitiva é terrível para os que são condenados ao inferno, não haverá jamais oportunidade para arrependimento ou comunhão com o amor de Deus. Assim, o amor dito eterno e geral de Deus, na eternidade só existirá para o salvos, não para os condenados. Você já se perguntou como um Deus perfeito e imutável pode existir num determinado momento cósmico “partido”, com suas virtudes divididas? Como pode ele seguir existindo sabendo que seres que criou e que um dia amou, estão num sofrimento irremediável? E se considerarmos a doutrina da predestinação isso fica ainda mais sério, Deus sabia de antemão que estava criando uns para o céu e outros para o inferno.
      Isso deixa ainda mais estranho o conceito do amor divino, se no céu estarão os que ele ama, no inferno estarão os que ele odeia, conclusão lógica, não existe outra maneira de existir um lugar ou uma posição espiritual como o inferno, que não é criação do diabo já que esse nada cria, sem que admitamos que é consequência de uma disposição divina oposta ao amor. Então, outra pergunta se levanta: Deus pode odiar, ter um sentimento assim tão humano? Bem, se interpretarmos a Bíblia ao pé da letra, de forma atemporal e como palavra direta de Deus, não como registro de interpretações humanas conectadas à cultura e à moral de tempos passados, creremos que Deus não só odeia (Deuteronômio 12.31), como se arrepende (Gênesis 6.7) e se vinga, tanto de seu povo quanto dos inimigos de seu povo (Levíticos 26.25 e Números 31.3). 
      Pode-se argumentar, Deus odeia o pecado, não o pecador, mas isso seria mais um argumento para inferno eterno não existir, pois que diferença há entre a consciência do homem no mundo e na eternidade? Na eternidade não pode haver arrependimento? Depois de uns mil anos de inferno penso que os seres humanos teriam muita chance de se arrependerem, contudo, a doutrina cristã ensina que ainda nessa possibilidade não haverá perdão com direito à melhor eternidade do Senhor, à luz mais alta no amor de Deus (Lucas 12.58-59 abre uma possibilidade da pena ser longa, mas não infinita). Minha intenção aqui não é concluir por você, mas te fazer pensar no que você diz crer, não basta aceitarmos doutrina cristã como dogma, é preciso, como sempre dizemos aqui, reavaliarmos baseados no Espírito Santo e na sensatez. 
      Talvez só exista um jeito de entendermos a verdade maior de Deus, aceitando que a Bíblia é construção de homens, principalmente de religiosos judeus e católicos, e depois entendendo que o termo sem fim, aplicado às penas, não é adequado. Será que inferno não terá fim ou só existirá enquanto o homem não se arrepender? Mas aí levantamos a possibilidade de haver arrependimento na eternidade, isso a Bíblia não ensina, mas se existir, por que a Bíblia não ensinou? Há uma resposta: homens de Deus, não negamos isso, falaram a homens de seus tempos de acordo com entendimentos de Deus de seus tempos, e usando recursos de convencimento para conduzirem a Deus os homens de seus tempos. Homens são homens em qualquer tempo, limitados, nem Jesus homem disse tudo, e como homem respeitou os homens de seu tempo.

Esta é a 3ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

01/02/22

Nosso homem interior (2/90)

     “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” 
Efésios 3.14-19

      Quem você será na eternidade? Saber quem seremos não é tão difícil assim, talvez não seja o ideal de ser humano que aprendemos que temos que ser pelos púlpitos e pregadores, e que nunca conseguimos ser, mas poderá ser o melhor ser humano que conseguimos ser, ainda que interrompidos por momentos quando não somos. Quem já teve pelo menos um encontro real com Deus, e nisso somos confrontados com nossa natureza mais fraca, nisso imploramos por perdão, nisso alcançamos uma humildade real, nisso adoramos a Deus como ser espiritual mais alto, santo e poderoso, e nisso ganhamos uma misericórdia e um amor fáceis pelos outros, quem já experimentou isso viu o caminho melhor e mais rápido para o Senhor. Essa experiência nos marca e depois dela sabemos o melhor que podemos e temos que lutar para sermos. 
      Cristãos chamam essa experiência de conversão ou novo nascimento, o que ocorre nela é o que ensina Paulo no texto inicial, somos corroborados com poder pelo Espírito de Deus em nosso homem interior, Cristo passa a habitar pela fé em nossos corações e assim, arraigados e fundados em amor, podemos perfeitamente compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. Aproximar-se de Deus é colocar-se em seu amor, ser inundado por ele, é importante entendermos isso pois muitos querem se aproximar de Deus para possuírem poder para serem e terem, terem mais até que serem, e terem no mundo. Só o amor de Deus permite-nos ser nosso melhor moral, isso definirá nossa eternidade, o gérmen desse melhor está no que Paulo chama de homem interior, promessa de céu em todos nós. 
      Como você vê as pessoas? Como inimigas, opositoras, objetos de inveja, devedoras a você de atenção, de honra, de amor? Nossa vida no mundo é luta e dor, se não fosse assim não precisaríamos estar aqui, é isso que nos aprimora, e se precisamos ser aprimorados é porque não estamos prontos para a melhor eternidade com Deus. A eternidade, assim como o mundo material, tudo em fim, pertence a Deus, nesse universo ele atrai as pessoas para o seu amor, estejam elas onde e quando estiverem. Qual é a pior eternidade? É aquela em que as pessoas estão mais distantes do amor de Deus, não porque ele se afaste delas, mas porque as pessoas se afastam dele. No mundo ocorre o mesmo, Deus só entrega bênçãos do seu amor àqueles que querem, que escolhem estar próximos a ele. Os outros sofrem sozinhos por opção. 
      Quem tem uma experiência no amor de Deus vê as pessoas pelo olhar do amor de Deus, ainda que erre, que se enfraqueça, bastará uma oração para ser iluminado e enxerguar a si e aos outros pelos olhos de Deus. Na eternidade poderemos ser assim em todo o tempo, por isso Paulo enfatiza tanto a importância do amor (I Coríntios 13.13). Queridos, amor é mais que um sentimento, que aqui no mundo nos acostumamos a aliar com relação afetiva e sexo, é muito mais que isso. Deus ama o tempo todo, se ele deixasse de fazer isso por um segundo que fosse, o universo estaria em trevas terríveis e absolutas, haveria caos total. É o amor de Deus que mantém vivos, tanto seres humanos encarnados, como todos os espíritos e outros seres no plano espiritual. O amor de Deus é que move o universo para sua posição mais alta de luz e virtudes morais. 
      É difícil aceitar alguém que se diz cristão e membro de igreja e que não consegue amar as pessoas com o coração de Deus. Mesmo com as limitações afetivas que todos temos, na luta diária por sobrevivência, aceitar que um cristão não ache ao menos um instante do dia para ter um momento sincero e profundo de oração quando possa abençoar os outros em amor. Se temos o Santo Espírito em nós podemos receber e oferecer o amor de Deus, podemos dar liberdade ao nosso ser espiritual para ver o ser espiritual, que Paulo chama no texto acima de homem interior, dos outros. Sim, porque assim como nós temos dentro de nós, muitas vezes encapado por camadas e camadas de proteção que a dura realidade nos impôs, alguém puro, sincero, benigno, humilde, os outros também têm. Amar é poder ver o homem interior dos outros e sorrir. 
      Você consegue enxergar o homem interior dos outros, ou só enxerga capas e maquiagens? Quem não se conhece não pode conhecer os outros, só nos conhecemos quando conhecemos o Senhor, conhecer a Deus é experimentar o seu amor, esse nos transforma de dentro para fora. Como eu e você, muitos que aparentam “casca grossa”, certa estupidez, ou distanciamento, mesmo frieza, ou por outro lado emoções descontroladas, choram demais, riem demais, têm dentro deles um ser espiritual diferente desejoso de se manifestar. Viver neste mundo é uma oportunidade para que esse homem interior se manifeste. Alguns conseguem isso em menos tempo, muitos têm que ser humilhados para darem liberdade a esse ser, mas infelizmente, outros vivem e vivem e nunca deixam seu ser espiritual, sua verdade mais profunda, livre. 

Esta é a 2ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

31/01/22

Eternidade dentro de nós (1/90)

      Quem seremos na eternidade? Que qualidade moral teremos? Seremos perfeitos? Ou estaremos em lugares extremos, céu e inferno? Que graus deles nós mereceremos? Por quanto tempo? Serão únicos e definitivos para todos? São lugares externos ou disposições internas? Haverá possibilidade de arrependimento na eternidade? As penas são eternas ou só enquanto forem escolhidas para serem assim? Penas eternas e amor divino são mutuamente exclusivos? Um livro original em noventa partes sobre a eternidade, o inferno e o céu, reavaliando a doutrina das penas eternas da tradição cristã e confrontando-a com o amor de Deus. Segue a primeira parte. 

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” 
Mateus 13.43-44

      Quem você será na eternidade? Veja que a pergunta não foi, “onde você passará a eternidade”, uma pergunta bem comum em folhetos de evangelismo, mas quem você será. Isso foca, não num lugar externo, mas numa condição interior, só isso já faz uma reavaliação na doutrina sobre penas eternas da tradição cristã. A resposta a essa pergunta está fundamentada em dois mistérios, que precisam ser entendidos para que ela não seja baseada só sobre os entendimentos tradicionais da doutrina cristã. O primeiro responde “quem você será”. Seremos seres diferentes dos que somos hoje, assim, num piscar de olhos? Paulo diz em I Coríntios 15.51, “eis aqui vos digo um mistério: na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”, com certeza uma mudança haverá, mas onde, na forma ou no conteúdo? 
      O senso comum cristão entende que teremos a mesma forma externa em corpos físicos transformados, reconstruídos como foi o corpo de Jesus após a ressurreição. Jesus tinha capacidades que não tinha antes da morte, ele podia aparecer em locais (Lucas 24.36-37), podia parecer “diferente” de modo a nem ser reconhecido pelos que o conheciam antes da morte (Lucas 24.15-16), mas ele também podia ter a mesma aparência física de quando vivo, incluindo ter as marcas que lhe causou a crucificação, e podia até ingerir alimentos materiais (Lucas 24.38-43). O catolicismo construiu doutrinas sobre isso, o protestantismo mudou certas coisas, pero no mucho, religiões espiritualistas veem o corpo de Jesus eterno não como o material original transformado, mas como o espírito liberto e iluminado por sua qualidade moral. 
      Com relação à substância da qual será composto o nosso corpo na eternidade, existe uma interpretação um pouco diferente da cristã tradicional que penso casar mais com as leis naturais. Não será o corpo material que será transformado, já que esse depois da morte é decomposto, como é toda matéria orgânica, cujos átomos se misturam com a terra e outros elementos e participam do círculo eterno de vida e morte de toda a natureza, assim não poderão se juntar e compor de novo um corpo físico para ser transformado e adquirir novas capacidades espirituais eternas. O espírito do homem poderá se reunir por Jesus ao Espírito Santo e poderá ser um ser espiritual de luz (I João 3.2 e Romanos 8.16-18), a diferença das formas dos homens na eternidade será consequência da qualidade moral da essência espiritual que já os habita no mundo. 
      Por que a Bíblia diz que o corpo material de Jesus desapareceu? Não sabemos, aliás, como não fica claro muitos acontecimentos registrados na Bíblia, que por causa disso muitas superstições e misticismos foram construídos e usados principalmente pelo catolicismo. Contudo, o ponto desta reflexão não é sobre a constituição do nosso corpo na eternidade, digamos apenas que será um corpo não preso aos limites de matéria, do espaço e do tempo, será imperecível e livre para existir, ir e vir. O ponto aqui é a nossa qualidade moral na eternidade, sobre isso algo nos é ensinado quando a Bíblia diz que no céu não haverá sofrimento e no inferno esse sofrimento será eterno (Apocalipse 20.15, 21.3-4). O sofrimento não será efeito do nosso corpo queimar, mas da nossa consciência sofrer por pecados não assumidos, nem perdoados. 
      Lembra-se da segunda parte do título desta reflexão, “na eternidade”? Nela está o segundo mistério, mas “onde” está intrinsecamente ligado a “quem”, o primeiro mistério. A eternidade que reconheceremos fora de nós variará de acordo com quem somos dentro de nós, não é o lugar que muda, mas nossos olhos. No plano espiritual, os de espiritualidade superior serão mais belos, na eternidade beleza da forma estará diretamente ligada à qualidade do conteúdo. A aparência de nosso corpo espiritual estará relacionada à qualidade de nossa espiritualidade, à presença de virtudes morais, isso é o que nos fará estarmos numa melhor eternidade, iluminados e não entrevados, perto do amor de Deus, ou como dizem os cristãos, salvos no céu. Não entendeu? Vou explicar, mas já vou adiantando que irei além do senso comum cristão.
      Meus queridos, prestem atenção ao que é dito, analisem com seriedade e cuidado, não leiam só como dogma que conhecem e que tem que ser aceito por ser o que é ensinado em igrejas, sem crítica. A doutrina cristã tradicional divide a humanidade pós-morte em dois grupos (Mateus 25.31-33), um com seres superiores com direito à felicidade eterna, que poderão descansar e adorar a Deus, e outro de inferiores condenados a uma pena de sofrimento sem fim. Nessa doutrina os salvos, ainda que não tenham feito muita coisa, só crido, a exemplo do “bom” ladrão da cruz (Lucas 23.39-43), após a morte serão imediatamente transformados em seres com o mais alto grau de perfeição e de forma definitiva, repetindo, mesmo que no mundo tenham feito muitas coisas erradas, e ainda que tivessem se convertido em seus últimos instantes de vida. 
      Essa visão, que é a base do cristianismo, entrega a Jesus todo o trabalho para que o homem seja aperfeiçoado, e tira do homem uma necessidade mais extrema de esforço para querer e ser alguém melhor. Por outro lado, mesmo aqueles que foram bons cidadãos, bons maridos, bons pais, bons filhos, bons profissionais, que tenham até feito caridade real, ajudado pessoas e causas, mas não tenham crido em Cristo do jeito que o cristianismo protestante e evangélico ensina, poderão ser eternamente condenados a um sofrimento indescritível. Meus queridos, isso é muito, muito sério, muitos crentes podem até dizer, “mas eu não creio assim, penso que Deus salvará mesmo não evangélicos com uma vida correta”, tudo bem, eu acredito, mas saibam que a doutrina que o cristianismo prega não diz isso, ela é extrema, céu ou inferno! 

Esta é a 1ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

30/01/22

O amor anula preconceitos

      “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.Lucas 11.42
      “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.Tiago 2.8-9

      Leis, educação e ciência não mudam as pessoas, só o amor divino muda. Criar uma lei que exija que se respeite sexualidades não binárias, não muda o sentimento de muitos que acham que sexualidades não binárias são erradas, principalmente se esses se baseiam em princípios religiosos. Por mais absurdo que pareça, ainda no século XXI, há religiões que consideram pecado digno de punição a homosexualidade, e algumas punições não só na eternidade e imposta por um juízo divino, mas físicas, já e neste mundo. 
      Assistimos aterrorizados o Talibã voltar ao poder no Afeganistão, o motivo principal que a humanidade civilizada tem para isso é saber a forma como esse grupo político, militar e religioso, trata mulheres e pessoas do grupo LBGTQIA+. Esse grupo baseia-se em interpretações religiosas erradas do Alcorão (livro sagrado muçulmano de Maomé) para agir com tão cruel extremismo. Uma lei de países civilizados vai fazer com que eles mudem de ideia? Não, eles se consideram debaixo de ordem divina para agirem assim. 
      Muitos evangélicos não chegam a esse ponto, mas podem pensar de forma semelhante, e ainda que não queiram justiça violenta neste mundo, baseados no que entendem da Bíblia, creem que haverá punição extrema para pessoas que não se classificam como sexualidade heterossexual. Usam a célebre afirmativa, “Deus criou homem e mulher, e mais nada”, numa de muitas interpretações ao pé da letra de textos fora do contexto bíblico principal, que não dão prioridade à nova aliança do evangelho, mas ao velho testamento. 
      Mas o Gênesis, parte de um cânone que conta a história específica do atual povo judeu, também não diz que Deus criou, não de forma direta, e manteve relação como pai com povos africanos, do extremo oriente ou das Américas, por exemplo. Assim, será que Deus só ama os judeus? E trazendo isso para o contexto atual, só ama cristãos héteros? O Talibã é uma faceta preconceituosa da humanidade, e a culpa não é da religião, quem cria religiões são os homens, não Deus. Deus só entregou seu filho e ama todos igualmente. 
      Reavaliar preconceitos implica em reavaliar legitimidade de costumes e doutrinas que muitos dizem serem avalizados por Deus, assim para muitos a questão não é tratar as pessoas de maneira diferente, mas ter que desobedecer a Deus para isso. “Deus”, o mais forte dos álibis em mentes humanas fracas que preferem se esconder atrás de tradições religiosas, que conhecerem o Deus verdadeiro. Preferem dar frutos ruins que plantarem árvores diferentes, só porque certas árvores são plantadas tradicionalmente há séculos. 
      O preconceito tem aliada poderosa justamente em quem se diz inimiga maior de preconceitos, grande parte da mídia. Por não crer no Deus do evangelho, e isso porque se baseia no falso cristianismo praticado por muitos no mundo, deixa de compartilhar o único que pode anular os preconceitos. Desconectado espiritualmente do verdadeiro Deus, não pode haver amor que liberte de preconceitos. Ciência, leis e educação não conseguirão mudar o lugar onde os preconceitos existem, o coração do ser humano. 
      Os realmente espirituais, que de fato estão iluminados pela luz mais alta e pura do Altíssimo, aqueles que verdadeiramente amam no amor de Jesus, sem limites, sem vaidades, sem imposições, e sem a menor possibilidade de violência, conclamo-vos! Orem pelo mundo neste momento tão sério, mas também se levantem como indivíduos, não como grupos políticos e religiosos, que só são esconderijos para covardes e malucos, e pratiquem o amor. A luz pode parecer menor, mas um facho basta para iluminar muitas trevas. 

29/01/22

Amemos sempre!

      “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.I Coríntios 13.4-7

      Invejamos quando precisamos amar, temos ciúmes quando precisamos amar, usamos egoisticamente quando precisamos amar, odiamos e fantasiamos vinganças quando precisamos amar. Precisamos amar sempre, senão invejaremos, teremos ciúmes, usaremos, odiaremos e nos vingaremos. Amor não deve ser somente opção, reação, cura, mas ação, iniciativa, tratamento preventivo e vacina. Muitos se sentem fracos e até caem porque deixam para amar em última instância, aí pode ser tarde, e no mínimo será mais difícil. 
      Podemos dizer, “eu tenho muita dificuldade para amar certas pessoas, por mais que eu saiba que invejar é errado, que devo me alegrar com as vitórias e qualidades do outro, eu alimento invejas de alguns, e ainda que não verbalize isso nem para mim mesmo, transformo dentro de mim a inveja em ódio, em vingança, no desejo de que alguém de alguma maneira se dê mal e perca a pose”. Essa fala te representa? Se não representa, agradeça aos céus, você ama, não inveja, quer o bem das pessoas e é feliz com o que é e tem.
      Sou honesto, a fala me representa, e mesmo que eu saiba que certas coisas são erradas, que não queira senti-las, eu as sinto. A solução é uma atitude constante de humildade e amor, só assim achamos misericórdia, paciência e verdade para amar, o amor nos protege, utiliza nossas energias de forma positiva e construtiva. Nisso há, não só um convívio em paz com todos, mas paz interior em nós, que nos livra de medos e ansiedades, que nos permite estar em comunhão íntima com o Deus de luz, que ama sempre. 
      Não escolha amar, quando e a quem, nem tente se manter numa posição de indiferença, de distância, principalmente com algumas pessoas, ainda que tentando evitar sentimentos e reações negativas e destrutivas, mas não tomando a iniciativa do bem e da luz. Quem fica em cima do muro sempre cai para o lado errado, é preciso estar do lado certo e sempre, lutar pelo amor todos os dias, e aqueles que temos mais dificuldades para amar são justamente os que mais precisam de nosso amor, de nossas “boas energias”. 
      A dificuldade que temos com certas coisas é Deus nos chamando para fazer algo, e quando temos muito desconforto emocional com alguns é o Senhor nos chamando para amar esses de maneira diferenciada. Só acordamos para certas verdades na tormenta, visto que a calmaria leva à acomodação, assim tem que doer para tomarmos certas atitudes. Na falta do amor elevam-se disposições opostas, que parecem nos comer por dentro, mas é Deus nos alertando que algumas pessoas necessitam de uma atenção especial nossa. 
      A experiência descrita nesta reflexão pode acontecer principalmente com alguns parentes, que só vemos em certas ocasiões festivas, e nessas o desconforto pode ser tanto que temos vontade até de não ir a festas, ainda que sacrificando a convivência com muitas outras pessoas que amamos com facilidade e que temos prazer em estar perto. Não se lembre de alguém só no natal, ore ao menos ocasionalmente por ele, desejando coisas boas para todas as áreas de sua vida. Ame, a inveja não te vencerá e você será mais forte. 
      Amor genuíno se manifesta, cresce e se mantém com obras, não só com consciência e intenção, se desejar ter uma disposição real de amor só dentro de você, não conseguirá, não será amor forte suficiente para agir. Não estou dizendo que temos que chegar atropelando as pessoas, invadindo suas privacidades, aliás, podemos ter dificuldades para amar alguns justamente porque esses se mantêm distantes, em atitude que pode soar para os inseguros e carentes como arrogância e desprezo, ainda que seja só o jeito deles. 
      Essa prática de amor se fortalece em oração feita com todo o coração e com convicção mental. Se possível verbalize a bênção sobre o outro, e entenda que essa ênfase não é para Deus ouvir (e muito menos para os homens ouvirem), mas para você ouvir, ser curado e aprender que amar é modo de agir de espirituais. Como efeito você estabelecerá uma conexão íntima e forte com o mundo espiritual e permitirá que o Altíssimo libere sobre alguém luz e paz, em seus mistérios Deus usa homens para exercer amor.