11/06/23

Implacável solidão do ser

      “Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia.Isaías 51.3

      Na vida, solidão se impõe. Os que ainda não sentiram ou ainda não aceitaram isso, aceitem, muitas vezes somos só nós e Deus, mais ninguém. Não adianta nos iludirmos, por mais amigos que tenhamos, por mais estável e correto que seja nosso casamento, apoiarmos nossa paz e nossa segurança em Deus é a única coisa que pode nos manter de pé. Sozinhos viemos, sozinhos sairemos, na eternidade espíritos não tem sexo, nem se casam, ainda que anjos de luz do Altíssimo possam nos ajudar sempre. Graças a Deus que temos o amigo Espírito Santo, sempre nos ouve, sempre nos responde, sempre com uma palavra simples, mas objetiva, exatamente o que precisamos ouvir para sermos consolados em nossas solidões. 
      “Maldito o homem que confia no homem e aparta o seu coração do Senhor” (Jeremias 17.5), sim, essa é uma sábia orientação da Bíblia. Mas calma, não confiar não significa que o outro seja alguém mal, pode só não ser o que realmente precisamos numa determinada situação, nem por não gostar de nós, só por ser limitado. Sentir-se sozinho e confiar em Deus, mas não guardar rancor contra as pessoas, é o jeito que agrada a Deus, e em muitos momentos Deus faz com que muitos corações se fechem para nós só para confiarmos nele da maneira especial que uma situação especial exige. Muitos têm casamentos bons, mas colocam seus cônjuges em posições de deuses, assim exigem de seres humanos favores que só Deus dá.
      Se não formos completos em Deus, não poderemos ser metade de ninguém, e às vezes até menos, dependendo do respeito próprio que tenhamos. Queira, se esforce e viva um casamento duradouro e feliz, mas não coloque todas as fichas, todos os sonhos de realização, numa aliança com seres humanos, não estou incentivando separação, mas relações afetivas mais leves, com Deus à frente. Mesmo o marido mais apaixonado e a mulher mais carinhosa não ajudarão num momento de solidão, que nos faz avaliar nossas vidas, quem fomos, quem somos, quem seremos. Teu marido, às vezes precisa mais de você como amiga, que como amante, e tua mulher pode necessitar às vezes mais de você como confidente, que como marido.
      É interessante como muitos estão em igrejas pedindo casamento, fazem um monte de sacrifício para acharem seus prometidos, quando no fundo querem um deus para adorar ou um brinquedo para controlar. Muitos acham que se casarem-se resolverão todos os seus problemas, enquanto que a realidade é que casamento não resolve problema, aumenta-o. É isso mesmo, viver a dois, numa relação madura onde dois são dois e não duas metades de um, como alguns dizem, dá trabalho. Há maravilhosas compensações, mas os que não forem tementes a Deus e perseverantes não ficarão muito tempo casados. Como as pessoas têm se separado hoje, ou porque querem beijar muitas bocas, e não só uma, ou por não aceitarem a realidade. 
      A verdade é que todos precisamos de um tempo para nos rever, há quanto tempo você não para e se olha no espelho? Separação em uma última instância pode ser a única solução, mas na maioria das vezes precisamos só nos amarmos mais para podermos amar mais os outros, e quem mais precisa de nosso melhor amor são nossos cônjuges. Precisamos ter um tempo só para nós, para pararmos, nos cuidarmos por dentro e por fora, respeitando a solidão implícita em todo ser. Essa solidão não deve ser a carne pedindo prazeres egoístas, mas o espírito sedento de Deus, e eu disse Deus, não igreja, essa às vezes mais atrapalha que ajuda. Não sofra mais que o necessário na solidão, mas use-a a teu favor, para ser alguém mais forte. 

10/06/23

Tristeza mata aos poucos

      “Compadece-te de mim, Senhor, porque estou angustiado; de tristeza se consomem os meus olhos, a minha alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem.
      Tornei-me objeto de deboche para todos os meus adversários, de espanto para os meus vizinhos e de horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de mim. Estou esquecido no coração deles, como morto; sou como vaso quebrado. Pois tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida.
      Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: "Tu és o meu Deus." Nas tuas mãos estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia. Não seja eu envergonhado, Senhor, pois te invoquei; envergonhados sejam os perversos, emudecidos na morte.” 
Salmos 31.9-17

      Um dos maiores males que pode acometer-nos é a tristeza, tristeza profunda é doença, a depressão, e essa é danosa tanto para a mente quanto para o corpo. O que nos deixa profundamente tristes? Decepção nos entristece, esperarmos uma atitude, uma palavra, uma atenção das pessoas e essas não darem o que esperamos. Primeiras decepções podem ser justificadas, afinal, acontecem quando ainda não conhecemos certas pessoas, contudo, uma decepção reincidente pode revelar muito mais sobre o decepcionado que sobre o que causa a decepção. Nos mantermos amigos, empregados, membros de igreja, namorados, em alianças que trazem decepções constantes não é saudável, mas são situações das quais podemos sair. 
      Casamento, contudo, é aliança onde deve, ou onde deveria, haver mais responsabilidade. Ainda que passemos anos namorando, conhecendo o companheiro, outros anos de casados mudam as pessoas, assim quem não nos decepcionava no início pode mudar e nos decepcionar depois. Mas nesse caso, amor maduro pode ajudar a adequar as mudanças, de modo que o casamento siga satisfatório e respeitoso a todos. Esposos e esposas nos decepcionam? Sim, assim como nós a eles. O tempo implacável traz à tona o que de fato somos, que pode ter ficado submerso por anos. Decepção em casamento pode nos entristecer bastante, pois sabemos que estamos numa aliança que se quebrada trará sérias consequências a nós e a outros. 
      Nos sentirmos impotentes para resolvermos problemas entristece-nos. Até que ponto devemos lutar? Até nossas últimas forças, isso é o que Deus espera dos que o temem, por isso permite lutas e dores para que sejamos desafiados a sermos melhores, mais santos, humildes e amorosos. Contudo, às vezes temos que parar, pensar e encerrar a luta, não para entregarmos a vitória a quem nos entristece, mas para sairmos de algo que a nada está levando. Mas que fique bem claro, aliança de casados, principalmente com filhos envolvidos, deve ser muito pensada para ser encerrada. Muitos hoje se separam por qualquer coisa, às vezes mais para seguirem solteiros e com liberdades que essa condição lhes permite. Deus sempre honra o fiel. 
      Como em tantas outras questões da vida, tristeza tem mais a ver com nós conosco, que com nós com os outros. Por outro lado, Deus sabe tudo e sempre, assim, o que orar e obedecer, não será presa de relação que no futuro pode decepcioná-lo além do que possa suportar. Aos sessenta e uns anos entendi que se tivesse tido mais paciência, se os outros tivessem tido mais paciência comigo, se tivesse havido perdão, ainda que para situações graves, eu e quem estava comigo teríamos amadurecido mais e depressa, perdido menos tempo e menos dinheiro. Mas quem escolhe certo quando é jovem? Quem sabe dar a volta em situações que o egoísmo o meteu? Sempre parece mais fácil quebrar alianças, que enfrentar decepção. 
      No texto bíblico inicial o salmista descreve em detalhes seu mundo emocional pesado pela tristeza. “Estou angustiado, de tristeza se consomem os meus olhos, a minha alma e o meu corpo, gasta-se a minha vida na tristeza, os meus anos, em gemidos, debilita-se a minha força, meus ossos se consomem”, são fortes as palavras. Tristeza mata aos poucos, o corpo, mas mais, mata a alma com corpo ainda vivo. Tristeza enfraquece nosso sistema imunológico, deixa-nos suscetíveis a doenças, simples resfriado torna-se pneumonia. Mas pior que a tristeza interior, que muitas vezes só nós sabemos, há a humilhação pública, que nos rouba qualquer direito a um sofrimento minimamente digno e a uma sobrevivência mais privada. 
      “Tornei-me objeto de deboche para todos os meus adversários, de espanto para os meus vizinhos e de horror para os meus conhecidos, os que me veem na rua fogem de mim, estou esquecido no coração deles, como morto, sou como vaso quebrado, pois tenho ouvido a murmuração de muitos, conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida”. Deus é amor, seu amor só é limitado pela verdade, só a verdade pode curar e permitir que nos movimentemos no amor de Deus para sua luz santa. Humilhações extremas são medidas extremas que Deus toma em uma situação extrema, a dureza persistente de coração. Tristeza sempre é provocada por nós, seja por errarmos, seja por permitirmos que os outros errem insistentemente conosco. 
      Entretanto, ainda que o salmista indigne-se diante de homens maus, que o fazem sofrer, ele não se vitimiza, reconhece sua parte de responsabilidade na situação, “por causa da minha iniquidade”, por isso pode fazer a última parte da oração. “Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: "Tu és o meu Deus." Nas tuas mãos estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia. Não seja eu envergonhado, Senhor, pois te invoquei; envergonhados sejam os perversos, emudecidos na morte.” A tristeza pode ser enorme, mas Deus é maior. Olhemos para Deus e ele nos tirará do fundo poço em que a tristeza nos lança. 

09/06/23

Calai-vos com os que se calam

      “Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choramRomanos 12.15

      Já refletimos aqui na passagem bíblica acima, mas desta vez gostaria de pensar nela de uma forma mais abrangente, que vai além da empatia que nosso amor cristão precisa ter com todos. Se a alegria de alguns e a tristeza de outros podem ser compartilhadas com pessoas generosas e amigas, que são empáticas com os sofrimentos alheios e não sentem inveja da alegria dos outros, outras disposições também podem pedir igual reação para que amor verdadeiro, não rancor, seja exercido. Calai-vos com os que se calam! Isso é respeitar, não sentimentos extremos e opostos que gritam por atenção, mas o direito que discretamente alguns pedem por silêncio e certo distanciamento, mas repito, é útil se feito por amor, não por rancor. 
      Alguns choram e não querem que você chore com eles, são tímidos demais para compartilharem fraquezas, para serem vistos fragilizados. Outros se alegram e não expressam isso facilmente, são reservados, não mostram a qualquer um aquilo que lhes faz felizes. Isso também é o orgulho protegendo algo importante para o orgulhoso, orgulhoso é sempre medroso. Algumas pessoas parecem simples, mas no fundo são complexas, nos mostram só a superfície, escondem com fortes mecanismos de defesa suas dores e suas alegrias mais fortes. Ainda que tenham muitos amigos e admiradores, porque não são egoístas, nunca levam o jogo para que seja sobre elas, pode não ser fácil ter acesso ao amor maior de gente reservada.
      Apaixonar-se por pessoa reservada não é fácil. Por orgulho, por timidez, por medo ou por insegurança, pessoa assim se esconde e se sentir-se ferida, não reagirá, se fechará mais, ainda que mantendo calma no rosto. Mas se apaixonar por gente que fala demais também não é fácil, contudo, pessoas extrovertidas, com temperamento oposto ao das reservadas, que dizem com facilidade o que pensam, podem atrair as reservadas. Opostos se complementam, entretanto haverá necessidade de amor paciente de ambos os lados para que a relação seja feliz. O reservado deve confiar no extrovertido e se abrir, mas o extrovertido deve ter cuidado com o que diz, e estar pronto para ouvir mesmo o que não é dito, não por palavras audíveis
      Se houver maturidade, relação afetiva entre opostos será satisfatória e eficiente, como aliança um terá uma capacidade que o outro não tem, o outro um entendimento que o primeiro não possui. Mas achar equilíbrio entre dois extremos não é fácil. Minha experiência como o lado falante é ter muito cuidado com o que digo, e principalmente, aprender a ouvir, contudo, se for necessário calar-me diante de alguém que se cala. Palavras dizem muito, mas o silêncio pode dizer mais, palavras externas só surtem efeito quando palavras internas foram ouvidas antes. Muitos não precisam ouvir, só de tempo para se ouvirem, ninguém convence ninguém, pode ajudar, mas não mudar, as palavras que nos transformam estão dentro de nós. 
      Há outro tipo de pessoa, que muitas vezes necessita de nosso silêncio, não são pessoas ligadas a nós em relações mais íntimas, como em namoro e casamento. Depois de nossa aliança com o Senhor, que é eterna, nossa aliança de casamento é a que mais deve ser duradoura, e o ideal seria durar enquanto estivermos neste mundo, contudo, outras alianças não precisam ser duradouras. Nessas não são compartilhadas tanta proximidade, tanto tempo, outras vidas, como filhos, assim, com certas pessoas, apesar de termos responsabilidade de amor como cristãos e de respeito como seres humanos, não temos responsabilidade de amizade. A muitos podemos amar, todos devemos respeitar, mas só será nosso amigo quem de fato desejar. 
      Realidade que muitos conhecem, a de parentes próximos, dos quais não conseguimos ser amigos, muitas vezes até irmãos de sangue. Temos que amá-los, orar por eles, tratá-los com o respeito que todo ser humano merece, mas por aquilo que eles mesmos permitem não devemos sofrer se não forem nossos amigos. Essas são relações que muitas vezes só podem existir se nos calarmos e nos distanciarmos, caso contrário não teremos disposição nem para irmos a festas e reuniões de pessoas que gostamos muito, e que esses parentes também gostam e frequentam. Calemo-nos com os que se calam, empatia sem rancor, sem o mais sutil desejo de vingança, só para não perdermos a paz com quem não nos quer assim tão próximos. 

08/06/23

O dia do Senhor será contra o soberbo

      “Porque o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido, e contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra todos os carvalhos de Basã; e contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros elevados; e contra toda a torre alta, e contra todo o muro fortificado; e contra todos os navios de Társis, e contra todas as pinturas desejáveis. E a arrogância do homem será humilhada, e a sua altivez se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia. E todos os ídolos desaparecerão totalmente.Isaías 2.12-18

      Não é fácil sermos humildes, mantermo-nos humildes é o trabalho mais difícil de se fazer, somos tentados o tempo todo pela arrogância, que flerta conosco tentando nos seduzir. Exaltar-se é achar que só oprimindo os outros pode-se ser feliz, ainda que seja uma opressão educada. Que valor usamos em jogo de poder para tentarmos nos exaltar sobre as pessoas? É o fato de sermos mais ricos materialmente, mais estudados e mais cultos, mais morais e religiosos, mais espirituais? Que poder as nações usam para prevalecerem no mundo, mesmo para que justifique invadirem outras nações? 
      O Líbano era rico por seus cedros, Basã por seus carvalhos, essas nações tinham riquezas naturais diferenciadas no passado. Outros se achavam melhores religiosos porque faziam sacrifícios em montes mais altos, como tantos que celebram missas e cultos em catedrais e templos antigos e luxuosos hoje. Outros tinham poder de defesa porque possuíam cidades fortificadas e muradas, com altas torres de vigia, como nações atualmente com frotas navais e aéreas, grande quantidade de armas, ogivas atômicas, vastos exércitos. Todo poder em que se confia, mais que em Deus, torna-se ídolo. 
      O profeta Isaías diz que a arrogância do homem será humilhada, só o Senhor será exaltado naquele dia. Quando será esse dia? Acontecerá em tempos diferentes, para pessoas diferentes e para propósitos diferentes de Deus. Em primeiro lugar Deus nos trata como indivíduos, no mundo Deus pode nos quebrar para que nos separemos da arrogância e nos casemos com ele. Esse quebrantamento é constante, interior e discreto para o humilde, mas pode ser extremo, exterior e público para o que insiste na altivez. Quem anda humilde nunca é humilhado, quem permanece de joelhos não é derrubado. 
      Mas todos serão quebrados na eternidade, quando a luz de Deus confrontar as pessoas, isso é o que podemos chamar de juízo. Quantidade de inferno está diretamente relacionada à quantidade de orgulho, e muitos estão orgulhosos mesmo como religiosos fiéis. O humilde tem certezas, mas em Deus e para Deus, não para se prevalecer sobre os outros, assim olha todos com paciência e misericórdia, não julgando nada. Quantidade de inferno está diretamente relacionada à quantidade de julgamento, de pré-conceitos, de certezas que arrogamos ter ou usar sem terem sido dadas e aprovadas por Deus. 
      Contudo, existirá um juízo cósmico, a Bíblia fala sobre ele, ainda que sob compreensões de homens antigos. Para esses homens, vulcões, tsunâmis, queda de meteoros, tempestades, furacões, não eram eventos explicados ou previsíveis, eram interpretados como ações poderosas de Deus para quebrar a arrogância dos inimigos. Mas haverá um quebrantamento planetário, digamos assim, sobre toda a matéria, contudo, esse demorará ainda um bom tempo para ocorrer, talvez nem devamos nos preocupar com ele. A nós importa mais um andar humilde hoje, para não termos surpresas depois. 
      Vigiemos, arrogância, mesmo a mais discreta e não verbalizada, é porta para outros males, discussões inúteis, ira, que nos conduzem para o modo inverso ao do servo amoroso. Vigiemos em primeiro lugar dentro de nós, em nossos pensamentos e sentimentos, não sejamos presunçosos, cobradores e condenadores. O altivo cega-se, assim não sabe por onde anda, perde direito à luz de Deus, e pode cair em armadilha sem saber. Humildade é ter os olhos espirituais sempre abertos, vendo em primeiro lugar Deus, o Altíssimo, depois a si mesmo como um igual aos outros, não como superior. 

07/06/23

Quando iguais se encontram

      “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia. Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons.Provérbios 15.1-3

      Muitas tragédias ocorrem no mundo porque duas pessoas com as mesmas características se confrontam. No trânsito, quando dois alterados, por álcool ou por algum estresse, se aproximam para lutarem por seus interesses, cada um vendo só seu lado e não o do outro, algo terrível pode ocorrer, desde brigas, às vezes com uso de armas, até acidentes fatais. Diz o ditado, “quando um não quer, dois não brigam”, mas quando dois querem, mesmo que ambos tenham certo nível de razão, grande violência, atingindo inocentes que nada têm a ver com o assunto, pode acontecer. Direitos, vivemos um momento no mundo onde todo mundo tem mais direitos que obrigações, principalmente por muitos se acharem com justos direitos. 
      Ser real conhecedor de Deus e obediente à sua vontade é quebrar o loop do mal, praticar o antagonismo evangélico, dar sem receber, se num confronto um agir assim, o mal exterior é evitado, ainda que o interior, dentro de quem quis exteriorizá-lo, dependa desse para ser anulado de vez. Muitos seguem, sem arrependerem-se, sem perdoarem, achando-se mais dignos de cobranças, porque se acham melhores por algum motivo. Muitos ricos se consideram melhores só por terem mais dinheiro e bens, muitos intelectuais, ainda que de forma mais polida, também possuem essa arrogância. Mas cristãos, e de uma forma ainda mais velada, podem se achar com mais direitos por acharem que seguem a Deus mais de perto. 
      Somos iguais a quem, aos humildes e pacificadores, ou aos briguentos, sempre cheios de razão, sempre com mais direitos, ainda que por nos sentirmos mais vítimas? Devemos procurar ser iguais ao Cristo homem, agirmos e reagirmos como ele agia e reagia, Jesus anulava o mal, ainda que lançado sobre ele não o tomava para si, não lhe dava acolhida. Mas mais que como exemplo de como temos que viver neste mundo para quebrarmos loops pessoais, Jesus quebrou um loop coletivo quando morreu, por isso recebeu de Deus o direito a uma posição espiritual exclusiva, que permite à humanidade ter perdão e paz com Deus. Cada vez que agimos ou reagimos nos perguntemos: com quem nos parecemos? Jesus faria assim? 
      O mundo está estranho, muitos com a violência à flor da pele, e existem motivos para isso, instabilidade geral, principalmente para se ganhar o pão de cada dia. Devemos tomar muito cuidado, ainda que numa discussão no trânsito o máximo que podemos fazer é reagir verbalmente, mesmo sem usar palavrões, muitos só precisam de um disparo emocional para dispararem armas e machucarem alguém. Precisamos perseverar para que a luz prevaleça sobre as trevas, e neste mundo, ainda que Deus esteja em todo lugar e sempre, sua luz só brilha quando é refletida nos filhos da luz e toca os filhos das trevas. A responsabilidade é do filho da luz, não do filho das trevas, de ser pacificador, paciente, controlado e misericordioso. 

06/06/23

Onde, quando e para quem

      “Também os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros.Salmos 119.24
      “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.II Timóteo 4.15

      Todos nós temos missões a desempenhar neste mundo, em maior ou menor instância nas três áreas principais de nossas vidas, afetiva, profissional e ministerial. Na área afetiva resolvemos necessidades sociais e nos associamos mais proximamente a outros indivíduos estabelecendo famílias. Na área profissional exercemos habilidades físicas e talentos intelectuais e artísticos para trocarmos trabalho por bens para sobrevivência material neste mundo. Na área ministerial interagimos com religiões, praticando o que aprendemos nos lugares onde escolhemos vivenciar espiritualidade. 
      Fazer aquilo que Deus tem para nós nessas áreas é o que pode nos fazer felizes, essa felicidade é o que dá forças para vivermos neste mundo, dá sentido, uma luz para olharmos e continuarmos vivos e ativos. Quem busca com todo o coração verá que o que faz em Deus dá prazer, não faz mal aos outros e ajuda as pessoas de uma maneira exclusiva, cada um de nós tem algo único para contribuir com o bem geral. Contudo, mesmo com consciência disso, precisamos saber onde fazer, quando fazer e com quem fazer, caso contrário mesmo um bem certo pode ser instrumento equivocado do mal. 
      Morremos por dentro quando não desempenhamos nossas missões, e muitos são presas de depressões e consequentes vícios, usados para obter prazer como fuga de tristezas, porque fogem de suas verdadeiras missões. Se não soubermos onde, quando e com quem fazer, poderemos não achar oportunidades para sermos úteis, não porque elas não existam, mas porque nós não tivemos paciência, persistência e sabedoria para saber onde, quando e com quem fazer. Esta reflexão é uma palavra de consolo: você pode ser feliz sendo você em Deus, só tem que saber onde, quando e com quem ser. 
      Ainda que tenhamos coisas formidáveis a serem ditas, não devemos falar às pessoas erradas, que não estão preparadas para ouvir o que temos a dizer. Ainda que façamos coisas singulares não devemos fazer em qualquer lugar, não é em todo lugar que o que fazemos de melhor é relevante. Ainda que saibamos onde e para quem compartilhar nosso melhor, devemos saber quando fazer, o momento certo é aquele em que Deus preparou as pessoas e as condições certas para que sejamos úteis em nossa máxima eficiência. Só querer não torna algo legítimo, é preciso saber onde, quando e com quem. 
      Há gente falando em bares com a cabeça entorpecida de álcool e tabaco o que deveria estar falando com a alma limpa em templos, são pastores fujões de suas chamadas. Há gente gritando em púlpitos o que deveria falar entre amigos em mesas de bar, são mulheres e homens carismáticos, mas sem chamadas ministeriais, e aqui não estou fazendo juízo de valor, seja com templos ou com bares, cada um tem seu momento. A verdade é que nossas missões são mais fortes que nós, se não as desempenhamos adequadamente seremos vistos como tolos inoportunos, sem noção e infelizes. 

05/06/23

Sem medo, rancor e culpa, quem somos?

      “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. Desvia de ti a falsidade da boca, e afasta de ti a perversidade dos lábios. Os teus olhos olhem para a frente, e as tuas pálpebras olhem direto diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem ordenados! Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal.Provérbios 4.23-27

      Se for retirado de nós o espaço ocupado por medos, rancores e culpas, o que é que fica? Restará menos espaço que o espaço retirado, restará mais espaço e ocupado com virtudes, ou só ficará o vazio? Posso começar esta provocação com outra pergunta: o que nos define? Luz, amor e paz, ou medos, rancores e culpas? Os que nos amam, não nossos inimigos de plantão, são os que podem dizer o que demonstramos ser. 
      Muitas vezes lutamos tanto por virtudes morais, passamos tanto tempo dedicados às nossas guerras interiores, que não olhamos no espelho e aceitamos o que na prática somos na maior parte do tempo. Somos uma coisa, podemos parecer ser outra coisa, os outros podem nos ver de outro jeito, eis três pontos de vista, mas tem um quarto, o de Deus. Só Deus vê nosso coração, só ele sabe quem realmente somos. 
      Quem está sempre de cara fechada pode parecer sempre descontente, quem reclama demais parecerá um eterno insatisfeito, quem fala demais em doença pode parecer sempre à beira da morte, quem chora o tempo todo pode parecer sempre infeliz. Mas reações externas de fato demonstram o que somos por dentro? Nem sempre, podem ser só mecanismos de defesa, ou então, sintomas de carência querendo atenção. 
      O ideal é haver coerência entre nosso mundo interior e como o compartilhamos com o mundo exterior, isso podemos conseguir só com o tempo, quando amadurecemos. Infelizmente muitas vezes o que nos define na sociedade é só medo, rancor e culpa, se tirar isso de nós, nada somos. Muitas vezes achamos lugar na dor, para mantê-la seguramos coisas ruins, que nos dão uma identidade para chamarmos de nossa.
      Para curar o medo, se perdoe e prossiga para a luz. Para curar o rancor, perdoe os outros e siga em amor. Para curar a culpa, aposse-se do perdão de Deus e fique em paz. Muitas vezes nossos rostos não são os mais abertos, nosso sorriso é contido, para dentro, a vida nos deixou marcas, carregamos a noite mais forte que o dia em nós, mas quem olhar nossos olhos verá, lá no fundo, nosso coração, esse está iluminado. 
      Se nosso coração estiver amolecido por lágrimas de verdadeiro arrependimento, a culpa dará lugar à paz que tem aquele que tem certeza que Deus se agrada de sua vida e está feliz com o que ele se tornou. Se nosso coração estiver confiando em Deus, e só nele, o medo não nos vencerá. Se nosso coração tiver encontrado o verdadeiro amor de Deus, não haverá espaço para nenhum rancor, só para o mais puro amor.