Não para nós, mas em nós

      “Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações” Efésios 3.16-17a

      Deus não tem um sonho para nós, Deus tem um sonho em nós. Se sonharmos em ter coisas, ainda que trabalhando árdua e honestamente para isso e desejando isso com boas intenções e para fins corretos, se forem coisas fora de nós, Deus até pode nos dar, mas não é o sonho principal que o Senhor sonha para nós. O que Deus deseja para nós, que nos atrai em amor o tempo todo para termos, está dentro de nós, assim nem é para possuirmos algo, mas para sermos algo. Como viemos e como sairemos deste mundo? Sem contas em bancos, sem escrituras de imóveis, sem qualquer registro de propriedade ou títulos, cargos e funções em universidades e meios profissionais, nus chegamos e com só uma muda de roupa saímos. 

      A diferença entre como nascemos e como morremos deve estar em nossos espíritos, não em nossos corpos ou nos espaços geográficos que habitamos. “Meu sonho é me casar e ter casa própria”, sim, sempre citando Mateus 6.33, Deus pode permitir que você conquiste isso, mas isso não é o mais importante que ele quer te dar. Quem bate no peito, após ter trabalhado muito e ter conquistado alguma prosperidade neste mundo, achando que isso legitima aprovação de Deus para sua vida, pode estar bem equivocado, não que Deus não use ricos, mas isso não é para muitos. Empresários bem sucedidos geram empregos e mantêm a sociedade, mas mesmo esses devem realizar o sonho espiritual de Deus dentro deles de evolução moral.

Quando vontades harmonizam-se

      “Conceda-te o desejo do teu coração e leve a efeito todos os teus planos.” Salmos 20.4

      Quando queremos para nós, do fundo do nosso coração, a mesma coisa que Deus quer de melhor para nós, estamos a um passo, o último, de realizarmos o sonho que o Senhor tem para nossas vidas neste mundo. Um passo, contudo, apesar de curto na distância que percorrerá e no tempo que levaremos dando-o, pode demorar algum tempo para que recebamos autorização para dá-lo. No primeiro passo as ilusões caem por terra e descobrimos o que de fato deixa a paz que permanece. No segundo passo conhecemos a vontade de Deus para nós, esse conhecimento inicia-nos no caminho para o Altíssimo. Muitos até recebem a paz do Senhor, mas permanecem parados aí, não seguem em frente, focam no corpo e esquecem-se do espírito. 

      Após os dois passos iniciais podemos dar o terceiro, mas antes temos que esperar uma indicação clara de Deus. O que faremos não precisa ser importante para as outras pessoas, mas é muito importante para o Senhor e para nós. Todos temos sonhos, qual é o teu? É o mesmo sonho que Deus tem para você? O que é a vida? Não é a realização do sonho que nós e Deus sonhamos juntos, isso pode ocorrer só no final de nossas vidas, e para muitos nem acontece neste mundo. Enquanto tentamos achar a paz, conhecer a vontade de Deus e andar rumo ao Altíssimo, vivemos, nos relacionamos com as pessoas, estudamos, trabalhamos, ganhamos dinheiro, mas isso tudo não é o mais importante, é só a manutenção física. O sonho é espiritual.

Servo ou senhor? Não importa

      “Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre.” “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo” “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas.” Efésios 6.8, 5, 9

      Não vou questionar quem somos, mas como nos vemos, isso pode ser mais importante que quem realmente somos. Como nos vemos, como servos ou como senhores? Como presos de alguma maneira ou como livres? Na verdade não importa. Nos sentirmos livres ou presos é relativo, alguns estão amarrados a muitas coisas e sentem-se livres, têm tranquilidade, não se acham cobrados, ainda que sejam fiéis e honestos com seus compromissos. Outros, no mundo material, não estão presos a nada, possuem independência financeira, tiveram boas formações e puderam fazer escolhas profissionais melhores, contudo, ainda assim sentem-se presos, por isso são pesados e como se acham cobrados, cobram. 

      Ocorre que a liberdade mais profunda é espiritual, não é física ou emocional, assim se o esprito está livre, emoções e pensamentos também estão, não encarcerando o corpo físico e gerando doenças e males. Espírito livre não se importa com a posição que tem no mundo ou com como os homens o veem, importa-se com Deus. Não sofra se se vê como menor de alguma forma, isso é oportunidade para ser humilde. Quanto ao que se vê com algum poder, você tem a obrigação de ser humilde, mais recebeu e mais pode dar. Servo não inveje ou odeie o senhor, e senhor, não humilhe ou despreze o servo, cada um dará contas do que fez com o que recebeu, e cada um recebe na medida o que precisa para evoluir moralmente.

Elos de uma corrente

      “O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens.” “Ele é que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras. Não há rei que se salve com a grandeza dum exército, nem o homem valente se livra pela muita força.” “Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia; para lhes livrar as almas da morte, e para os conservar vivos na fome.” Salmos 33.13, 15-16, 18-19

      Se há algo que nos coloca na humildade é nos sentirmos como um ser humano no meio de incontáveis outros milhões de seres. Crianças e pessoas com problemas mentais, que ainda não são totalmente desenvolvidas, se acham o centro do mundo, e para crianças normais é assim que deve ser. Elas ainda dependem de auxílio e proteção de outros para viver e crescer, assim, a qualquer dor ou necessidade, gritam e choram pedindo socorro. Mas nós crescemos, precisamos crescer, e o crescimento mais maduro nos entrega humildade de ser só mais um ser, ainda que com capacidades e limites específicos e úteis. Já imaginou o plano espiritual, principalmente nestes tempos de epidemias e guerras, quantas almas estão por lá querendo atenção do Pai? 

      Pela doutrina cristã podemos ver eternidade só como céu e inferno, mas é mais que isso. Um importante político, uma artista famosa, um bilionário, são tão importantes lá quanto eu, você ou aquela criatura que nós, em nossa equivocada arrogância, achamos ser alguém menor. Um elo de uma corrente sem início e sem fim, mas se um elo quebrar toda a corrente, mesmo o elo mais distante, sente. Pelo menos deveria ser assim se conseguíssemos praticar amor como precisamos. Só o humilde consegue amar, pois sabe que não é um grande e independente elo, mas só um pequeno elo na corrente do Pai. Ainda assim Deus vê a todos, e atende o que o teme e espera em sua misericórdia, para livra-lo da morte e conserva-lo vivo na fome.

O Senhor está comigo

      “O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem.” Salmos 118.6

      Somos alimentados o tempo todo pelo medo, esse alimento não fornece vida e faz crescer, vampiriza-nos e nos torna zumbis. Medo faz ver o que não existe, ouvir o que não foi dito, temer o poder do fortalecido pelo mal, enxergar a nós mesmos como escravos de qualquer coisa, medo nos algema a mentiras. Essa visão distorcida de tudo é causada por um medo muitas vezes impressionado em nós ainda em nossas infâncias e adolescências. Não se engane com muitos que se postam como “fortões”, não só de forma violenta e mais explícita, mas também disfarçada com postura de coragem para empreender e trabalhar, esses podem ser os mais medrosos administrando medo do jeito errado, sem Deus e sem amor.

      Amor dá coragem, e o puro amor aprendemos em Deus, esse faz-nos ver a todos como são de fato, para levarmos a vida com humildade e temor a Deus. Deus dá coragem, não para empreendimentos irresponsáveis e egoístas, para amar, quando amamos, mesmo a pessoa que por algum motivo pode mais nos intimidar, e às vezes há motivos que só existem em nossas cabeças, não tememos. Medo pode ser algo profundo, quem o possui com intensidade não se livra dele de uma vez por todas, passa a ser característica que exerce limitação. Mas como já dissemos, certas limitações não são restrições, mas proteções contra nós mesmos, assim se tememos o tempo todo, confiemos em Deus sempre e estaremos livres de todo medo. 

Trabalhos e honras de cada um

       “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos. Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo.” Romanos 14.7-10

     Olhemos para nós mesmos e para Deus, quanto aos outros, os respeitemos e os abençoemos. Pecamos quando paramos a visão do jeito errado e nas coisas erradas, e nos usamos como referências para fazer julgamentos. Julgar bem até podemos, não sabermos de algo e imaginarmos algo bom sobre alguém, mas mesmo isso é incerto, além de ser algo difícil de fazermos. O mais comum é acharmos que o trabalho dos outros não é honesto, nem as honras que eles recebem por isso, legítimas. Aceitemos, ninguém é igual a ninguém, assim Deus entrega missões diferentes e permite glórias distintas, por isso a referência deve ser Deus no céu e Jesus homem na terra, com o Espírito Santo conectando obras com fé em amor. 

      Um não deve dizer, “aquele faz menos que eu, ganha mais e é um ocioso”, nem o outro deve dizer, “aquele faz mais que eu e é um tolo pois não tem as prioridades certas”. Deus sabe o que pode dar e o que pode pedir de cada um para que cada um seja provado, aprovado e use seu tempo neste mundo para o crescimento mais importante, o moral, consequentemente, espiritual. Contudo, o menos que se faz por ociosidade e o feito demais por incredulidade, no tempo de Deus será revelado, e tomara que seja aqui para que haja oportunidade de arrependimento e mudança. Se for lá acarretará em alguma instância de peso e tormento. Entretanto, o que olha para Deus, não para os homens, será poupado aqui e exaltado lá. 

O mal é óbvio

      “Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto.” Salmos 4.6

      Por mais que queira parecer sofisticado, por sempre ser vaidoso, o mal é óbvio. Malícia não é sabedoria, o mal rouba, não dá, e antes de bens e saúde, o conhecimento, sem conhecimento o ser não pode ter a inteligência mais alta, aquela que constrói e não destrói. O mau diz sempre a mesma coisa pois só existe uma coisa dentro dele, trevas, sem luz não sabe o que é, de onde veio nem para onde vai, mas julga e condena muitos. Quem quer tomar o papel de Deus se faz diabo e desse sabemos as intenções de longe, demônios que atormentam chegam antes ao discernimento do amigo do Deus de luz. Mas se o mal é óbvio, estúpido, vazio, morto, o bem, ainda que simples e reto, sempre surpreende com vida. 

      Surpreende o mau, que espera que todos ajam como ele age, surpreende o malicioso, que sempre tem uma conversa torta para tentar aliar a sua estupidez alguma sabedoria, surprendente o habitante das trevas, que acostumado a ter só a si mesmo como referência recebe a emanação de um facho de luz de Deus em sua existência. Mas para surpreender com o bem deve-se andar bem pertinho de Deus, ouvi-lo e obedecê-lo, e muitas vezes surpreender, não com um argumento melhor, mas com o silêncio, humilde e amoroso, não arrogante e frio. Jesus homem sempre surpreendia uma liderança religiosa israelita hipócrita que achava que podia tudo, mas que estava presa nas trevas. Jesus surpreendia porque sempre amava.