Não temos controle de nada

      “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta quanto sou frágil. Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é como nada diante de ti; na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade. Na verdade, todo homem anda numa vã aparência; na verdade, em vão se inquietam; amontoam riquezas, e não sabem quem as levará. Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti.” Salmos 39.4-7

      O título desta reflexão foi extremo, já que no nosso dia a dia até temos o controle sobre as coisas, ou achamos que temos, por alguns instantes na roda viva da vida. Mas a realidade é que por mais que nos preparemos, por mais que nos guardemos, por mais que nos organizemos, por mais que vivamos de maneira sensata, contemplando tantas variáveis, ainda assim, a vida foi, é e sempre será uma grande surpresa para nós, reles seres humanos. Ninguém pense o contrário, mesmo que até o momento tudo pareça estar correndo bem, só o tempo para nos mostrar o quanto frágeis e impotentes todos nós somos. Se ainda não mostrou, aguarde, mostrará. 

      Mas e a “lei da causalidade”, o karma, ou princípio de causa e efeito, ela não nos dá alguma segurança? Sim dá, mas muitas vezes não em curto prazo, e isso simplesmente porque nós nunca conseguimos contemplar todas as possibilidades, as variações nesta vida são infinitas, só o Infinito para sabê-las, e nós somos somente finitos. O paradoxo, contudo, é que os que mais querem controlar suas vidas e as dos outros, são os que menos acham necessário confiar suas existências nas mãos do Deus infinito. Esses que mais se preocupam em ter bons efeitos, que mais procuram produzir boas causas, são os que mais se surpreendem e se frustram. 

      Quanto ao simples, que sabe que nada é neste mundo, que se entende pequeno diante de tantas variáveis, que sabe que constante, só o Infinito, esse colherá boas surpresas, maiores e melhores até que merece ou permitiu, porque ele confia na grande causa, a graça de Deus, que tudo controla. É triste ver o arrogante, que se preparou tanto, mas que nunca colocou Deus na equação, fatalmente surpreender-se quando as coisas não saem como eles planejaram, é muito triste. Até queríamos alertá-los, mas eles se fecharam, nos chamaram de religiosos, de ignorantes, assim o tempo passou e o deus deles não os ajudou, colheram mal porque na verdade nunca plantaram bem. 

      Infelizmente para muitos, o “universo” precisa mostrar isso de forma trágica, não como uma força cruel e injusta, mas somente para que entendam como realmente as coisa funcionam nos vários planos da existência. Sim, a existência não compreende só a matéria, aliás nosso tempo como matéria é ínfimo, comparado ao nosso tempo como só espírito e corpo especial. O plano espiritual é tão ou mais importante que o plano físico, e o plano emocional, no meio disso, que conecta e administra tudo, tem muita relevância. Assim, fazer as coisas darem certo implica em tratar bem todos esses três planos, com equilíbrio e amor, essa disposição balanceada está diretamente ligada a sermos cada vez mais surpreendidos pelo bem, e cada vez menos pelo mal.

Pai, eu te amo

      “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” Salmos 42.1-2a

      Pai, eu te amo, minha alma suspira por ti, na madrugada te busco e sinto, de todo o coração, um amor inexplicável pelo Senhor. Não, não dependo de religião, não mais, de ritos, de ser parte de um coletivo fervoroso, liderado por um líder carismático e acompanhado por músicos, para te adorar. Minha alma te adora naturalmente e eu sei que é o teu Espírito que me conduz a isso, não meus valores espirituais, sei que não os tenho. Eu queria dizer como disse Jó, pode tirar tudo de mim que ainda te amarei, mas tu sabes que não tenho essa força, por pouca falta meu espírito se derreteria e cairia sobre a terra, sem alegria, sem esperança. 

      Mas eu sei que tu me conheces, me amas e me entende, e aceita meu amor, como ele é, como eu sou, e eu só sei que te amo, confio em ti, e só em ti acho descanso e consolo. Eu te adoro Jesus, porque só tu mereces a adoração do homem, ninguém mais, por mais sábios que sejam os religiosos, os filósofos, os profetas e tantos homens de Deus, não podem ser adorados, o Senhor pode, e te adorar me faz bem, me coloca no centro da vontade de Deus, me faz melhor, e me revela tudo o que eu preciso saber para ser feliz e fazer feliz. Pai, eu só sei que te amo, aceita, o meu amor, tão imperfeito, às vezes infiel, mas muito, muito sincero.

      “Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.” João 21.17

A simplicidade do Evangelho

      Uma das belezas do Evangelho é compartilhar ensinamentos profundos de maneira simples, ensinamentos que mesmo muitos cristãos não entendem a completa extensão e consequências deles, que filosofias e esoterismos denominam mistérios, arcanos eternos, Jesus os dá de uma forma que todos sempre podem entender. Jesus orienta o caminho para o objetivo mais nobre, para o lugar mais próximo da presença em amor do Altíssimo, com poucas palavras, sem longos processos, e muitas vezes usando alegorias poéticas, lindíssimas, que um ser humano de qualquer parte do mundo e de qualquer tempo pode entender com facilidade.

      Já conheci muitas filosofias e reflexões espirituais, li palavras maravilhosas de várias linhas místicas, mesmo as guardadas pelo ocultismo, e creiam em mim, tais textos não falam bobagens ou heresias, são interpretações lúcidas do universo, do ser humano, da natureza e do mundo espiritual, e se soubermos ler veremos que muitas delas não contradizem o Evangelho. Contudo, nenhuma palavra nos apresenta o acesso a Deus, à paz e ao perdão, de forma tão direta, descomplicada, pessoal e eficiente, nenhuma palavra mostra Jesus como o verbo de Deus que salva o homem. 

      Assim quando Cristo diz “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.” em Mateus 7.7, Jesus não explica as entrelinhas do ensino, que na insistência conhecemos melhor não só a Deus, mas principalmente a nós mesmos, que provamos nossas intenções em querer algo, que aprimoramos nosso caráter e nosso espírito antes de ter a resposta de um pedido muitas vezes só sobre o plano material. Jesus só diz peça e se não receber peça de novo, isso qualquer criança entende, mesmo que a profundeza do Evangelho não seja para crianças, pelo menos não para crianças espirituais. 

      Mas talvez a verdade sobre a porta para o Evangelho seja Lucas 18.16-17, “Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele.”, talvez a vida não seja assim tão complicada, talvez não precise ser tão complicada, talvez a grande chave para entendermos o cosmos seja algo simples, tão simples que nós, homens arrogantes, complicados e que queremos ser mestres, não vemos e está bem na nossa cara.

A verdade sempre vem à tona

      “Na verdade, não serão confundidos os que esperam em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa. Faze-me saber os teus caminhos, Senhor; ensina-me as tuas veredas. Guia-me na tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia.” Salmos 25.3-5

      A verdade é leve, mesmo que nem sempre aprazível aos olhos, por isso sempre aparece e pode ser vista por todos, assim, tenhamos cuidado com o que lançamos no mar da existência. As mentiras não nos defenderão, não nos honrarão, podem ser vistas por um curto espaço de tempo, mas logo afundam e se escondem, como se esconde tudo o que é mal e egoista. O mal sempre foge da luz. Mas a verdade sempre vem à tona, e não pode ser escondida, não por muito tempo, seja ela qual for, sobre o bem que fazemos mesmo sem saber, ou sobre o mal que executamos e desejamos esconder.

      Os que guardam na privacidade o bem, que vencem a vaidade e que sabem que o bem já é uma honra em si mesmo, não precisam se preocupar com recompensas, elas são inevitáveis, brotam de sementes bem plantadas, vencem a terra e lançam na luz as belas flores das virtudes. Mas os que escondem a mentira com mais mentiras, pois a mentira também dá frutos, até bonitos de se ver, mas amargos e mortais se provados, esses dissimulados morrerão envenenados pelas próprias palavras, tropeçarão nas próprias pernas, ou ficarão insanos de vez, acreditando solitariamente nas próprias mentiras. Qual é a tua verdade, de verdade?? 

Sinta-se bem com o bem

      “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade); Aprovando o que é agradável ao Senhor.” Efésios 5.8-10

      Quando nos sentimos bem com o bem, horas parecem minutos, o riso é fácil, o amor, natural, e as amizades crescem e frutificam, numa manhã fresca e clara de primavera onde tudo está no tamanho certo e nada incomoda ninguém. Você se sente bem com o bem? Ou vê maldade em tudo, desconfia de todos, está sempre na defensiva contra inimigos constantes? O bem cria-se e guarda-se no coração que depois inunda olhos, ouvidos, bocas, corpos  e almas, solidificando uma disposição de benignidade, com sabedoria, sim, mas sem malícia. O malicioso tem no tempo um inimigo, segundos parecem dias e nunca se sente bem na luz, antes procura as trevas para ser cúmplice do mal, pesado e envelhecido. O sábio busca a luz e acha nela prazer, torna-se mais que amigo do tempo, aliado dele, deixando mais leve e renovada a vida daqueles que dele se aproximam e também amam o bem e a luz.

A iniciativa é sempre de Deus

      “Mas os meus inimigos estão vivos e são fortes, e os que sem causa me odeiam se multiplicam. Os que dão mal pelo bem são meus adversários, porquanto eu sigo o que é bom. Não me desampares, Senhor, meu Deus, não te alongues de mim. Apressa-te em meu auxílio, Senhor, minha salvação.” Salmos 38.19-22

      Muitos dizem, “eu busco ao Senhor e ele me atende”, outros falam, “Deus vê a minha fé e me recompensa”, bem, eu acredito que muitos que dizem isso são sinceros, e acima de tudo, fazem o que todos os seres humanos deveriam fazer, buscam o Senhor e creem nele. Contudo, nestes meus tantos anos de caminhada com Jesus, provando sua misericórdia, vendo provas incontestáveis de sua atuação em minha vida, me protegendo, me dando novas oportunidades e cuidando de mim com muito carinho, eu preciso reafirmar uma coisa. A iniciativa é de Deus, não minha, quando eu busco o faço porque o Espírito Santo me buscou primeiro e me deu forças e desejo para buscar a Deus e crer nele. Assim, cuidado, não arrogue ninguém espiritualidade, não se engane ninguém achando que mantendo forte sua fé terá sempre do Senhor um retorno cabível, isso pode parecer intimidade com Deus, mas só é para os imaturos. Os maduros são humildes, sabem que nada são, e que mesmo uma forte convicção emocional e racional, não move Deus, é Deus quem se move em nossa direção e isso por nada que possamos dar a ele, nem pela nossa fé, mas pelo seu único e eterno amor. A iniciativa é sempre de Deus!

Valorizar e ser valorizado

      “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” Mateus 7.12

      Muitas vezes nos sentimos desvalorizados pelas pessoas não porque as pessoas de fato nos desvalorizem, pelos não todas, e principalmente não as que mais importam de fato para nós. Esse sentimento é só um reflexo, um eco, agimos assim com os outros e acabamos nos convencendo que todos agem assim com a gente. O segredo não é mudar os outros, exigir essa mudança dos outros, mas mudar a nós mesmos. Quando valorizamos os outros, quando, no desconhecimento, damos aos outros o benefício da dúvida, a possibilidade de serem bons, de estarem certos, de terem agido, mesmo num assunto insignificante, de maneira correta mudamos nosso homem interior, agregamos bondade e generosidade a ele e nos colocamos numa disposição de vida na luz. Com os olhos espirituais voltados para a luz não nos será difícil achar quem nos queira bem, quem nos valorize, e assim nos sentirmos respeitados, amados e valorizados. Queiramos o bem para os outros e o bem voltará naturalmente para nós, não sempre, mas o suficiente para sermos felizes.