24/05/19

A pregação que de fato abençoa

      “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão.Amós 8.11-12

      Como é triste ver pregador ao púlpito usando truques de oratória tentando achar unção, assim ele repete o que algum dia até deve ter sido ungido, mas para outros, não para ele, no final ele falou e falou e não disse nada, um vazio paira no templo. Só abençoa quem é abençoado, a melhor bênção é a última e para o cristão que de fato anda com Cristo sua última bênção foi experimentada nas últimas vinte e quatro horas de sua vida. 
      Pregador, não tente achar a unção nas palavras, na retórica, no discurso, na história bíblica bem contada e dramatizada. A unção de Deus acha naturalmente o coração do simples, do benignamente sincero, de maneira que as palavras revelem mistérios espirituais sem ousarem isso, liberem unção verdadeira, sem que qualquer espécie de manipulição humana seja utilizada. Vida, contudo, só é pregada por quem vive, e o evangelho genuíno não precisa mais do que isso, porque ele e só ele é isso, vida. 
      Só Jesus dá vida eterna, paz, salva, perdoa, cura, quem experimenta isso todos os dias terá uma palavra renovada para pregar todos os dias, sem inventar moda ao púlpito, sem fazer uso de ranços pentecostais, de clichês pseudo-espirituais, mesmo de sacadas de hermenêutica, históricas, teológicas ou das línguas originais do cânone bíblico. A pregação que de fato abençoa é feita por quem vive de fato o evangelho, esse não precisa procurar a unção, é ela quem o procura e o acha, para a glória de Deus. 
      Pregação ungida glorifica o Senhor, testemunha do Senhor, não celebra a fé, mas o Deus em que a fé é posta. Temo, contudo, que a profecia do texto inicial de Amós esteja se cumprindo nos dias de hoje, os dias finais, quando a verdadeira palavra de Deus seja difícil de ser achada nos púlpitos. Oremos pelas igrejas, oremos pelos pastores, oremos pelos pregadores, mas acima de tudo não aceitemos falsificações, nem nos iludamos com truques, busquemos a pura e viva palavra do Senhor.

23/05/19

Fazer porque sabemos ou porque vivemos?

      “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.Mateus 7.24-25

      O que é mais sábio para exercer ministérios em igreja, fazer porque se sabe ou fazer porque se vive? Muitas vezes queremos desempenhar certas tarefas na igreja porque sabemos fazer (ou achamos que sabemos), porque temos as habilidades intelectuais e mesmo os talentos espirituais. Mas no reino de Deus fins nunca justificam os meios, às vezes queremos ser vasos da sala de estar, aqueles que aparecem mais, que qualquer visita pode ver, contudo com limites emocionais e sociais que expostos escandalizam as pessoas. 
      Assim, queremos pregar porque temos conhecimento, estudo, mesmo discernimento espiritual, mas não temos paciência para tratar as pessoas depois que descemos do lugar onde o púlpito se encontra, dessa forma nossa falta de amor desacredita nossa palavra. O mais sábio seria só abrirmos nossas bocas para ensinar depois de conseguirmos praticar comprovadamente aquilo que queremos ensinar, não antes, e enquanto isso sermos vasos mais discretos. 
      Talvez eu esteja falando só para mim, se for isso, alguém já está aprendendo algo, mas você, que gosta de ser vaso da linha de frente das igrejas, de pregar, de cantar, de tocar, de pegar o microfone e ser visto pela congregação, tenha cuidado. Sejamos sábios, com um enorme temor de Deus, querer e mesmo saber não justifica fazer, a melhor apresentação no local mais alto e visto dos templos não confere legitimidade a uma prática de vida sem qualidade íntima e social, em nossos relacionamentos com nós mesmos e com os outros.
      Sim, Deus perdoa o que o busca e não joga na face do homem seu pecado, mas as pessoas não são assim, elas precisam ser convencidas de que somos cristãos de verdade. Caso contrário seremos apenas falastrões, falsos, hipócritas, que adoram ouvir os sons de suas próprias vozes, mas que só envergonham o evangelho, se você sabe e tem certeza disso, espere mais um pouco, viva o que sabe e permita que seus atos falem antes e mais alto que suas palavras. 

22/05/19

Mentira

      “Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.João 8.42-45

      A mentira pode agradar nosso ego, nos proteger das realidades, da dor, mesmo nos dar alguma alegria por algum tempo, fazer com que nos sintamos importantes e donos da situação, mas ela é essencialmente, em todas as áreas e planos, uma ferramenta luciferiana, uma afronta a Deus, à medida que nega a verdade, relega-a a um segundo plano, rouba dela a importância. Deus é verdade, não religiões, não o cristianismo estabelecido no mundo, não os dogmas e doutrinas, por mais bem intencionados que sejam, dessa forma, negar a verdade, é negar a Deus.
      O “diabo”, seja ele quem for, e a que o aliemos, não é necessariamente o mal, no sentido de ser algo que prejudique alguém, seja no corpo, na alma ou no espírito, não de imediato, ele não é feio, nem burro, e seu plano mais alto é ajudar o homem a ser um ser humano melhor, justo com todos os outros homens, a ter um planeta melhor, sustentável e limpo. Contudo, o diabo é mentiroso à medida que quer fazer tudo isso do seu jeito, não sem Deus, não sem religião, visto que ele incentiva e respeita as religiões, o diabo é o pai das religiões, ele não as teme. 
      Para ele o ideal seria existir tantas religiões quanto são os seres humanos no planeta Terra, ainda que saiba que é muito mais fácil dominar manadas sem individualidades debaixo de uma mesma crença. Em última instância o diabo nega Jesus, pois Cristo, não o cristianismo ou as religiões, é o único que estabelece uma comunhão direta entre os homens e o Deus altíssimo. A essência da mentira está em negar a Jesus, não ensinos bíblicos, não as boas obras, não o amor, não a caridade, não a evolução espiritual humana, não um planeta melhor administrado.
      É justamente por isso que o Diabo tem levantado tanto atualmente a bandeira da ecologia, da proteção da vida natural, porque ele só tem um mundo em que possa interferir, este aqui, o do plano físico. O reino do Diabo só pode ser experimentado, ainda que só por um momento no tempo, no planeta Terra, isso só acontece porque o homen, em seu livre arbítrio permitido temporariamente por Deus, autoriza que o diabo tenha espaço. Quem dá poder para o diabo na Terra é o ser humano. É o homem, achando prazer na mentira e tentando se esconder da verdade, que permite que o plano original do diabo se realize. 
      Não nos iludamos com o Diabo, não nos enganemos com suas astúcias, seu plano maior foi colocado em prática ainda no jardim do Éden, ele se manteve focado nesse plano por toda a história da humanidade e o tem revelado em detalhes para um maior número de pessoas, e não só para iniciados em ordens secretas, desde o século XIX. A chamada nova era baseia-a mais do que tudo num ser humano equilibrado, tolerante e num planeta com mais qualidade de vida que perdure, o Diabo quer criar o paraíso na Terra e ser seu deus, quem tem olhos para ver sabe disso. 
      Assim, perseveremos na verdade, perseveremos em Deus, e em mais ninguém, tenhamos cuidado mesmo com religiões, igrejas e pastores, ainda que devamos perseverar em viver em igrejas e debaixo de pastores, mas olhemos para o alto. Que Jesus seja adorado e enfatizado, pregado e obedecido. Na Terra o Espírito Santo revela a verdade, revela Jesus, revela Deus. Que toda mentira seja tirada de nossos corações, mesmo que doa no início é o único jeito da verdade ser vivida, só na verdade existe vida, fora dela só existe morte e mentira. 

21/05/19

Verbalize tua gratidão

      “E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” Colossenses 3.14-17

      Às vezes, tudo que alguém, bem próximo da gente, precisa ouvir é “muito obrigado”, muitas vezes até vivemos com gratidão, com respeito por aqueles que nos ajudam, mas por algum tipo de timidez, simplesmente não transformamos isso em palavras. Palavras podem ser vazias? Falsas? Sim, atitudes têm mais importância, contudo, como palavras podem abençoar, curar, entregar felicidade. Assim, principalmente para aqueles realmente próximos, para os quais a roda viva da vida pode nos levar a pensar que o que fazem por nós não é mais que mera obrigação, para esses paremos um momento e verbalizemos nossa gratidão. Digamos a esses em alto e bom som: muito obrigado por tudo o que você fez por mim, por tudo o que você é para mim, eu hoje sou melhor porque você escolheu entrar em minha vida e ficar, não por obrigação, não por favor, mas por amor. Um coração agradecido sempre encontra misericórdia, acha paz, ganha a atenção de Deus a tempo e com abundância.

20/05/19

A base de construção sustentável

       “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalteI Pedro 5.6

     É triste, mas certas pessoas, quando as vemos numa situação difícil, e queremos ajudar, o máximo que podemos fazer é ficar longe e orar por elas. Por causa do orgulho, elas constroem em volta de si mesmas muralhas, que nos impedem de nos aproximarmos delas em momentos assim. São pessoas até que boas, amigáveis, mas que se mantém assim baseadas em mentiras, assim quando a realidade mostra a verdade delas, elas se escondem. Sabemos que muitas vezes nós mesmos já passamos por situações assim, e que a duras penas aprendemos que uma vida íntegra que se mantém assim no tempo, forte e resistente às surpresas deste mundo, às instabilidades dos sistemas humanos, à injustiça do homem e às astúcias do diabo, é porque foi construída sobre uma base firme e incorruptível. 
      Que base é essa? Um coração quebrantado que se entrega a Deus sem mentiras, sem vaidades, e que mesmo pagando altos preços sociais, mesmo vergonha diante de amigos e familiares, escolheu o caminho da verdade, a verdade que coloca Deus e a nós mesmos nos lugares certos. Sempre há tempo de voltar e corrigir, ainda que mentiras mantidas por muito tempo criem estruturas tão grandes quanto falsas, e quanto maiores mais trabalho teremos para destruí-las para que o terreno seja limpo e uma nova, melhor e verdadeira construção, coerente com o que somos e com o que Deus quer de nós, seja então construída. Mas não há outro jeito para que sejamos felizes e tenhamos paz, quebrantamento é a única base para uma construção de vida sustentável e resistente ao tempo. 

      “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam, se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” Salmos 127.1

19/05/19

Três justos

      “Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, se rebelando gravemente, então estenderei a minha mão contra ela, e lhe quebrarei o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e cortarei dela homens e animais. Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas as suas almas, diz o Senhor Deus.

      Se eu fizer passar pela terra as feras selvagens, e elas a desfilharem de modo que fique desolada, e ninguém possa passar por ela por causa das feras; E estes três homens estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem a filhos nem a filhas livrariam; eles só ficariam livres, e a terra seria assolada. Ou, se eu trouxer a espada sobre aquela terra, e disser: Espada, passa pela terra; e eu cortar dela homens e animais; Ainda que aqueles três homens estivessem nela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem filhos nem filhas livrariam, mas somente eles ficariam livres.

      Ou, se eu enviar a peste sobre aquela terra, e derramar o meu furor sobre ela com sangue, para cortar dela homens e animais, Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem um filho nem uma filha eles livrariam, mas somente eles livrariam as suas próprias almas pela sua justiça. Porque assim diz o Senhor Deus: Quanto mais, se eu enviar os meus quatro maus juízos, a espada, a fome, as feras, e a peste, contra Jerusalém, para cortar dela homens e feras?” 

Ezequiel 14.13-21


     No post de ontem refletimos sobre os quatro juízos da passagem de Ezequiel, pensemos agora sobre os três nomes citados, Noé, Daniel e Jó, o que tem de especial esses três homens para aparecerem no texto? Sem fazermos os chamados estudos bíblicos tradicionais que não representam estilo deste espaço, o que nos vem rapidamente à cabeça quando pensamos nesses homens? Noé foi primeiramente símbolo de um homem fiel e obstinado, em seu tempo, sem a unção da nova aliança, sem o Espírito de amor do evangelho, não vejo Noé como um homen afável, misericordioso, um homem prático e focado não podia ser assim. Fiel porque se manteve obediente a Deus mesmo quando ninguém mais era, obstinado porque mesmo consciente do juízo de Deus que viria sobre a sua terra, não olhou ao redor, mas manteve-se fiel ao seu chamado, construir a arca. Mas para aquela missão Deus não precisava de um servo afável, misericordioso ou mesmo evangelizador, os homens já tinham tido oportunidade de arrependimento, agora seriam punidos, sem dó. Noé era o homem que Deus precisava em seu tempo, pronto para um propósito que Deus tinha que realizar naquele momento, duro, mas fiel, atento à voz de Deus, mas pragmático com relação aos homens, se não fosse assim não teria “estômago” para suportar dentro da arca o sofrimento que a humanidade estava passando do lado de fora. Será que Deus acha em nós os homens que ele precisa pra o momento em que vivemos? Ou estamos deslocados no tempo, vivendo de passado ou sonhando com futuros ilusórios? Deus também achou em Daniel o homem que precisava para o momento, numa condição diferente da de Noé. 


      Daniel era um escravo de luxo, digamos assim, e é preciso ressaltar um ponto, geralmente quando vemos sobre escravos na Bíblia temos a tendência de aliar a ideia da escravatura de africanos, que foi usada em larga escala para suprir mão de obra na lavoura do Brasil e do mundo. Esses conceitos de escravo não são iguais, no caso do Brasil, mais moderno, os escravos faziam, via de regra, o serviço mais braçal e duro na terra, ainda que alguns fossem usados dentro das casas dos senhores de engenho para trabalhos domésticos. Esses escravos não tinham nenhum direito, eram coisas, posses que podiam ser usadas em transações comerciais e outros usos sem nenhum escrúpulo. Importante dizer também que a sociedade da época e mesmo a religião, consideravam o negro “menos” humano, por isso havia legitimidade de tratá-lo como coisa. Já nas sociedades clássicas, grega, romana, e nos tempos bíblicos, os escravos eram espólio de guerra, isso é, os perdedores nas mãos dos vencedores num embate, ou aqueles que se endividavam e não podiam mais pagar suas dívidas. Assim, eles não tinham certos direitos sociais, de ir e vir, de participação política, mas podiam desempenhar atividades em várias áreas profissionais, incluindo algumas bem nobres.

      Esse era o caso de Daniel, era escravo na corte do rei Nabucodonosor, rei da Babilônia, que havia vencido Judá em batalha e levado seu povo em cativeiro. Lemos em Daniel 1, versos 3 ao 6, “E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes, Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei. E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias”, assim Daniel era um jovem especial que seria usado em tarefas especiais, que seria tratado de forma especial, mas que ainda assim era um escravo. Diferente de Noé, que recebeu um missão de Deus e só precisou manter-se fiel a Deus para cumprir a missão, sem ter que dar muita atenção aos homens, e não estou dizendo com isso que a missão de Noé foi menos difícil, Daniel estava numa situação ruim que não mudaria, seu cativeiro e de seu povo. 

     Ele seria provado várias vezes, seja com privilégios, seja com privações, seja com honras, seja com calúnias, para que não ficasse confortável com a situação de escravo de luxo e continuasse fiel a Deus. Daniel foi fiel, mas outro adjetivo que o define é sensível, diferente da obstinação dura de Noé. Sensível suficiente para desvendar mistérios espirituais, só João o evangelista recebeu de Deus mais revelações que Daniel, não só sobre seu povo, mas como sobre todo o mundo e para tempos futuros. Foi através de sua sensibilidade espiritual que Daniel foi ganhando a confiança da monarquia babilônica e conquistando posições políticas importantes. Com Daniel aprendemos que às vezes, o homem que Deus quer que sejamos, é alguém que mantenha-se fiel, vivo e sensível mesmo numa situação que temos certeza que não mudará para melhor a curto prazo, aliás, eis outra característica de Daniel, visão espiritual longa, por isso Deus revelou a ele tantos mistérios sobre o futuro. Enquanto Noé foi o homem do presente, Daniel foi o homem do futuro, e Jó, o terceiro nome do texto inicial, quem foi ele? Para fecharmos a simbologia com perfeição, Jó foi o homem do passado, e isso por vários motivos, e num bom sentido.


      Estudiosos dizem que o personagem Jó é muito antigo, e que seu livro pode ter sido escrito por Moisés, antes mesmo de Gênesis, eis uma característica que faz de Jó um homem do passado. Contudo, o passado vitorioso e próspero com certeza foi o que mais foi revivido por Jó durante sua tentação, uma situação onde perdeu tudo, e que uma pergunta lhe era feita constantemente: o que ele fez de errado para estar naquela terrível situação? Ele buscava respostas no passado e lá ele não achava motivos para ter recebido da vida uma mão tão pesada. A mesma coisa ocorre com qualquer um de nós quando passamos um sofrimento ou temos uma surpresa ruim, seja num acidente, numa enfermidade, numa grande perda, nos perguntamos, o que fizemos de errado no passado para estarmos colhendo no presente mal tão terrível? Onde estava a resposta para Jó?

      A resposta seria dada, mas não à pergunta feita inicialmente por Jó e por seus amigos, Deus muitas vezes não nos responde, não porque ele não tem resposta ou porque não estamos preparados para ela, mas porque estamos fazendo a pergunta errada. A pergunta que Deus queria responder não era, “por que sofremos?”, mas, “quem nós somos de verdade?”, com ou sem sofrimento. A resposta para essa questão também está no passado, o homem que Deus quer achar em nós é o homem que teme não as dificuldades e surpresas do futuro, ou que confia no que é e possui no presente, mas no Deus poderoso e mais que antigo que tudo, infinito na verdade, que a tudo criou e sustenta aqueles que confiam nele. 

      Alguns instantes antes da tribulação de Jó, talvez ele achasse que sua vida já estava completa, que já era momento de um descanso final, ele já era velho e tinha uma vida e uma família bem estabelecidas. Mas ainda não era o momento de usufruir de uma velhice em Deus, sua pior luta ainda seria experimentada, e ele sairia dela finalmente um homem não só envelhecido, mas amadurecido. Enquanto a luta de Noé era só com ele mesmo, visto que sabia o que Deus queria dele e como deveria agir com as pessoas, a luta de Daniel era com os homens, com seus deuses e maldades, mas a luta de Jó era diretamente com Deus, conhecer melhor o Deus que ele achava que conhecia, como consequência desse conhecimento ele se conheceria melhor também. Noé, fiel e obstinado, o homem do presente, Daniel, fiel e sensível, o homem do futuro, e Jó, fiel mas ainda uma criança na sabedoria, diante da antiguidade infinidade de Deus, Jó o homem que devia entender melhor o passado. 

      É importante que saibamos que homem Deus quer que sejamos no tempo em que estamos vivendo, se é o homem o do presente, o do futuro ou o do passado, todos são adequados, se estiverem vivendo no momento certo. O do presente obedece prontamente sem perder tempo. O do futuro sabe que muitos problemas não serão resolvidos aqui e agora, mas ainda assim permanece fiel e é sensível para saber e entender os mistérios do futuro. O do passado olha para Deus, conhece-o em profundidade e assim se conhece melhor também, não se fiando no tempo, em sua criancice, mas no altíssimo, o velho de muitos dias sobre o qual só conhecemos a face direita. A outra face permanece sempre misteriosa, para nos mostrar que sempre seremos menos que Deus e nunca saberemos tudo sobre ele, como dizem estudiosos de mistérios ocultos.

18/05/19

Quatro juízos

      “Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, se rebelando gravemente, então estenderei a minha mão contra ela, e lhe quebrarei o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e cortarei dela homens e animais. Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas as suas almas, diz o Senhor Deus.

      Se eu fizer passar pela terra as feras selvagens, e elas a desfilharem de modo que fique desolada, e ninguém possa passar por ela por causa das feras; E estes três homens estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem a filhos nem a filhas livrariam; eles só ficariam livres, e a terra seria assolada. Ou, se eu trouxer a espada sobre aquela terra, e disser: Espada, passa pela terra; e eu cortar dela homens e animais; Ainda que aqueles três homens estivessem nela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem filhos nem filhas livrariam, mas somente eles ficariam livres.

      Ou, se eu enviar a peste sobre aquela terra, e derramar o meu furor sobre ela com sangue, para cortar dela homens e animais, Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Deus, que nem um filho nem uma filha eles livrariam, mas somente eles livrariam as suas próprias almas pela sua justiça. Porque assim diz o Senhor Deus: Quanto mais, se eu enviar os meus quatro maus juízos, a espada, a fome, as feras, e a peste, contra Jerusalém, para cortar dela homens e feras?” 

Ezequiel 14.13-21

 

      Esta reflexão se divide em duas partes, em primeiro lugar vamos pensar um pouco sobre os quatros juízos que Deus lançava sobre um povo que se rebelava contra ele: fome, feras, espada e peste. Em segundo lugar, no post de amanhã, refletiremos sobre os três homens citados, Noé, Daniel e Jó, os três justos. Na ordem do texto, os juízos começam pela fome, bem, ela acontece na falta de alimentos, alimentos faltam quando a natureza deixa de colaborar com a agricultura e com a pecuária, assim se falta chuva, se há seca, ou se chove demais ou há muito frio, a plantação e os animais sofrem, consequentemente o alimento para os seres humanos também ficará escasso. No contexto histórico do texto bíblico, naquela geografia, onde havia muitos animais selvagens livres, se faltasse alimento para os homens, faltaria também para eles, suas presas naturais poderiam ter sucumbido, assim, atacar os seres humanos, seria uma opção para encontrar alimentação, pelo menos para os animais carnívoros. Um povo fraco, sem alimentação e atacado por feras, seria presa fácil da espada de nações inimigas, que se aproveitariam da situação. Por último, mais enfraquecido ainda, depois de estarem mal alimentados e cercados e assolados por animais e inimigos, o povo poderia adoecer facilmente devido à sua debilidade e ser afligido por pestes. 

      Não sabemos se as coisas poderiam acontecer assim, mas existe uma probabilidade bem grande de que o colapso que um povo rebelde podia experimentar ser nada mais que uma reação em cadeia, que teve início no desequilíbrio das estações, da chuva e da temperatura. Contra animais, inimigos ou doenças, o povo até podia ter se livrado, pelo menos se acontecesse um de cada vez, mas quem pode lutar contra condições climáticas? Hoje sabemos que a natureza não se desequilibra por nada, isso acontece quando o homem desrespeita terras e águas, um povo que se rebela contra Deus, perde o respeito pelo Altíssimo, perde o respeito pelos seus semelhantes como também perde o respeito pela natureza, assim todos os juízos de Deus poderiam ter sido consequências de um desrespeito do homem pela natureza, que acabou desestruturando toda a sociedade, seja na área climática, humana, econômica ou política.

      Acredito que o raciocínio acima seja bem pertinente para os tempos em que vivemos, e mesmo que alguns não creiam em Deus ou nos seus juízos, poderão ser convencidos pelo caos que pode se instalar quando simplesmente o homem desrespeita a natureza. Esta reflexão não um discurso ateu e materialista disfarçado, não estou querendo dizer que as coisas podem ter causas naturais sem que exista uma força espiritual superior do bem que aja e que conduza o universo a sua vontade. Também não defendo que Deus é uma força espiritual superior independente que faz isso ou aquilo, sempre de forma sobrenatural e milagrosa, desrespeitando a natureza. O sábio entenderá que é isso tudo junto, Deus é superior, criador e Senhor, ele manifestou o universo e estabeleceu suas leis, físicas e espirituais, mas ele não pode ir contra si mesmo, da mesma forma que os eventos universais não ocorrem do nada e em pouco tempo. Se o homem está vivendo uma fase ruim é porque desobedeceu um lei criada por Deus no início dos tempos mais antigos, lei imutável.

      Tudo é efeito de uma causa, tanto o mal quanto o bem, se há harmonia com aquilo que Deus nos revela pelo seu Espírito Santo e pela sua palavra escrita, ou pelo menos aquilo que a tradição judaica-cristã considera palavra escrita legítima, tudo correrá bem, natureza, universo e seres espirituais colaborarão para que o homem que está sincronizado com Deus ande em liberdade e prosperidade. O texto revela isso, quem de fato quer entender os mistérios e ver mais que a superfície, mas a profundidade dos universos, verá um Deus incognoscível na essência mas percebido na beleza da criação material, ainda que um manifesto do divino só numa fina camada perecível e ilusória. Ah, se o cristão fosse além do catolicismo que o protestante evangélico insiste em dizer que não participa, mas que ainda lhe serve de amarras, não na forma da construção, mas no material que serve de fundamento. A cela católica é mais sofisticada, cheia de símbolos, de detalhes barrocos e clássicos, a cela protestante é mais moderna, minimalista, sem tantos enfeites ou memórias, mas ainda assim ambas são celas construídas basicamente dos mesmos materiais, tijolos e cimento, ou tradições e medo.