26/10/19

Vítimas?

      De todos os tipos de teimosos, que insistem em não querer mudar de vida, em resolver de fato seus problemas, os que se fazem de vítimas são os piores. É gente tão complicada que muitas vezes é melhor nem se aproximar, se de fato não tivermos orientação de Deus para isso, podemos acabar sendo tratados como agressores, e não como amigos. Os que se fazem de vítimas têm a habilidade de inverter a situação, interpretam as coisas ao contrário da verdade, sempre se tornam vítimas, e os outros, agressores, eu sei disso, joguei esse jogo desleal por muito tempo em minha vida. Joguei porque tinha motivos, não justificações, mas explicações, já que de fato fui vítima de agressor por muito tempo, e também é assim com muitos que se fazem de vítimas, eles de fato foram vítima em algum momento. 
      Essa realidade é a que dá aos auto-vitimizados legitimidade para continuarem se colocando como injustiçados, como perseguidos, como pobres vítimas, contudo, diante de Deus, isso não basta pra que ninguém tenha justificativas para se colocarem o tempo todo como coitados, para não assumirem seus erros, e principalmente, não é motivo para tratar os outros injustamente. Por os maiores agressores foram as maiores vítimas, mas vítimas que não se resolveram em Deus, infelizmente, o meio das igrejas cristãs está repleto de gente que achou na vitimização uma cama, se deitou nela e nunca mais se levantou. Não temos culpa de alguém dizer que não servimos pra nada, mas somos culpados por passar toda uma vida acreditando nessa mentira.
      Deus não quer isso pra ninguém e a todos dá condições de virar o jogo e vencer a violência que sofreram e lhes impôs uma condição inicial de vítimas, basta que queiram e creiam. Contudo, uma condição instalada por muito tempo, mesmo que ruim, pode se constituir em identidade, forte, que define a pessoa, que lhe dá motivos, ainda, que mórbidos, para viver. A grande vantagem desse estilo doentio de vida é que compensa os próprios erros, nada que se faça é pior que o que a eles foi feito, assim tem-se desculpa para errar, e quando alguém é magoado diz-se a si mesmo, “me magoaram muito mais que isso, é frescura”. Os insensíveis são justamente as grandes vítimas, sofreram tanto que não acham mais legitimidade no sofrimento alheio.
      Contudo, se é preciso humildade para se assumir que se agrediu alguém, e então buscar, receber e se apossar de perdão, é preciso muito mais humildade para deixar de se por como vítima, isso porque a vítima já se considera humilde o suficiente. O começo do processo de cura é perdoar o agressor original, isso não significa ter de conviver de perto com ele, aliás muitas vezes é preciso se afastar e muito. Mas mais que distância física, é preciso distância emocional, tirar de vez o agressor do coração, perdoá-lo, deixá-lo ir, para sempre. Quando isso é feito, o mal é anulado na raiz e o sentimento de vitimização começa a perder o sentido, torna-se menor, desnecessário.
      Depois é preciso construir em si mesmo uma identidade sadia, suficiente, forte, não precisa ser alguém obsessivamente grande, mas equilibrado, o suficiente para produzir uma vida independente, responsável, liberto do passado e sem necessidade de prender outras pessoas em cárceres como novos agressores. É preciso se libertar do vício da auto-vitimização que a partir do primeiro agressor sempre tinha a necessidade de criar novos. Para muitos o agressor é algo muito grande, maior até que Deus, mas esse agressor só pode ser destronado com perdão, não com violência. Muitos passam a vida assim, colecionado agressores, substituem pai ou mãe por marido ou esposa, marido ou esposa por outros maridos ou esposas, por chefes, por pastores e assim vai.
      Nessa libertação a pessoa aprende a tomar iniciativas de fato positivas, pois o que se faz de vitima sempre exige que os outros façam por ele, que os outros o beneficiem de algum maneira, achando-se no direito de podem permanecer passivos só “curtindo” a dor a auto-comiseração. Por último devemos admitir que como outros nos agridem, nós também agredimos a outros, e muitas vezes de maneira absolutamente injusta, cega, só por mera vingança. Aliás, no coração do auto-vitimizado nasce todo tipo de mal, vingança, inveja, ódio, mentira, que ele não chama de agressões, mas de dores com bons motivos para existirem. Um dos principais males de se auto-vitimizar, todavia, é não conseguir entender e experimentar a salvação de Jesus, só Jesus foi vítima de verdade até o fim, e o foi para nos salvar. 
      Na verdade o que se auto-vitimiza não sente de fato a necessidade de redenção, ainda que ame frequentar cultos e missas, que seja um religioso devotado, que tenha empatia com o cristianismo, principalmente com aquele que celebra o Cristo homem sofredor na cruz, mais que o Cristo Deus ressuscitado e salvador. Sim, as duas coisas são facetas do verdadeiro evangelho, mas o que se arrepende e se vê como pecador vivencia e celebra o Cristo Deus Salvador eterno, pois sabe que sem ele não tem cura, não tem perdão, não tem paz. Não posso encerrar esta reflexão sem compartilhar o texto de Isaías 53, onde o profeta prediz em detalhes o sofrimento da obra messiânica de Cristo e nos fala sobre toda a dor de uma verdadeira vítima. 

      “Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. 
      Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” 
Isaías 53.2-7

25/10/19

O maior dos arrependimentos

      "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento." Eclesiastes 12.1

      Sirvamos a Deus o quanto podemos na juventude e enquanto temos forças, porque na velhice as forças se vão, os arrependimentos vêm. O maior deles, que teremos mais dificuldades para conviver se tememos a Deus de fato, é o de não termos aproveitado nosso melhor tempo fazendo a melhor de todas as coisas, servir a Deus. Arrependimento melhor é o que é um efeito por algo que não fizemos mas que podemos usar usar como causa para fazermos algo, nós seres humanos somos orgulhosos e temos necessidade de pagar as coisas, mesmo o perdão de Deus não queremos receber de graça, e isso tem um lado positivo.
      Contudo, arrepender-se por ter feito algo errado e receber o perdão de Deus, porque Deus sempre perdoa os que o buscam, mas não ter novamente a chance de fazer a coisa certa, exige de nós muito mais fé e resignação, principalmente na velhice quando as oportunidades se tornam escassas. É na velhice que nossa fé é mais provada, que nossas verdades vêm à tona e são reveladas aos homens, é na velhice que as máscaras caem e ficamos emocionalmente nus diante do mundo. Ninguém pense que se safará disso, assim, enquanto pode, esforce-se, e muito, não meça trabalho para desempenhar seu melhor. 
      Principalmente na juventude temos a paixão, sim, uma energia até certo ponto indomável, mas que pode nos levar a obsessões construtivas, ao mesmo tempo que pode nos dar forças para nos apossarmos da esperança que existe uma nova chance a cada esquina da vida que nos limpa das coisas destrutivas que fizemos obsessivamente. Mas com o tempo a paixão se esfria, pelo menos a interação dela com o plano físico, com à matéria, com o nosso corpo, apagar-se de vez isso nunca acontece, não com a maioria das pessoas. Mesmo velhos, ainda mantemos a chama da paixão acesa, só se torna mais difícil realizá-la. 
      Temos, todavia, uma vantagem na velhice, aprendemos a discernir paixão da carne da paixão acesa pelo Espírito Santo que é muito mais sútil e que respeita nossa vontade, à medida que só se realiza se permitirmos. Nesse aspecto, a velhice pode ser a melhor idade porque nela qualidade é valorizada acima da quantidade, e se tivermos ainda alguma força física, poderemos realizar ainda algumas coisas, e quiçá, as melhores de nossa existência neste mundo. Quais coisas? Aconselhar, monitorar, liderar os mais jovens, seremos enfim humildes mestres, e acredite, essa é a vontade do Senhor para todos, a maturidade.

24/10/19

Graça nos faz sorrir

      “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” II Coríntios 12.9-10

      Saindo um pouco da lição mais conhecida do texto acima, que um grande servo de Deus aprendeu quando recebeu de Deus um não a uma oração que fez pedindo que fosse livrado de uma fraqueza que o envergonhava tanto, penso um pouco mais na palavra graça. Com relação a Deus significa algo que ele nos dá sem pedir nada em troca, nossa salvação em Cristo é a maior das graças do Senhor. Com relação aos homens é algo que recebemos e pelo qual não precisamos pagar nada, ganhar um sorteio é algo que alegra qualquer um. Mas graça também significa algo que nos faz sorrir mesmo sem termos ganho nada objetivo, rimos só pela graça. 
      Algo engraçado nos leva a gargalhadas, na vida isso geralmente ocorre quando vemos alguém sendo surpreendido por algo, que faz com que a pessoa perca o rumo, pare de fazer algo que parecia normal porque algo inusitado aconteceu, alguém tropeçando, geralmente nos faz rir. Mas as coisas que bebês e crianças inocentes dizem e fazem também nos fazem rir, e esse não é um riso causado porque alguém sofreu algo, é só o jeito diferente que algo foi feito ou dito. Isso deixa o inocente feliz, visto que achou empatia por algo que estava fazendo, foi louvado mesmo que só por nos ter feito sorrir. A graça de Deus nos basta, e deveria bastar não só para que aceitemos com resignação uma coisa que não tem solução, na maioria das vezes algo não tão bom, mas deveria ir além. 
      De fato deveríamos nos sentir felizes, gratos, com um sorriso de orelha a orelha, só por saber que ainda que tenhamos fraquezas e limites com os quais teremos de conviver até o fim, temos a graça de Deus para nos equilibrar, nos suprir, a graça que cuida de nós e compensa tudo o que nos falta. A falta, o limite, na verdade são oportunidades, oportunidades para experimentarmos mais a maravilhosa graça do pai, assim, que bom que somos defeituosos, humanos, tem um Deus poderoso que nos sustenta, que nos ama, um Deus gracioso. O apóstolo Paulo foi além, não só aceitou o não de Deus e o seu limite, não só glorificou a Deus por sua graça, mas se sentiu honrado por ser o que era, talvez porque enfim entendeu e aceitou o que era. Ele aprendeu que era forte quando era fraco. 
      Quando aceitamos o que somos, paramos de lutar com nós mesmos, e isso, só isso, já nos faz mais fortes, porque deixa mais tempo e energia sobrando para que possamos fazer o que realmente importa, servir a de Deus. Se for o teu caso, pare de lutar, se já orou, aceite a vontade de Deus, apenas siga, dependendo da graça de Deus, de mais nada, é só isso que Deus espera para poder abrir a porta que você tanto bate, que aceite o teu limite. Quando isso acontecer, parará de fazer e deixará que Deus faça, afinal de quem é tua vida? Você não a entregou a Deus? Então aceite que ele a aceitou, e do jeito que é, com todas as fraquezas, aliás Deus não precisa mais que isso. O resto ele fará, de graça, de modo que você possa compartilhar essa graça com outros que não têm nada para dar, apenas esperam que a graça de Deus se manifeste e os salve. 

23/10/19

Buscar a Deus deveria ser um fim em si mesmo (Parte 2)

      “O Senhor, pois, tornou a chamar a Samuel terceira vez, e ele se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então entendeu Eli que o Senhor chamava o jovem. Por isso Eli disse a Samuel: Vai deitar-te e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Então Samuel foi e se deitou no seu lugar. Então veio o Senhor, e pôs-se ali, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.I Samuel 3.8-10

      Você busca a Deus para pedir a ele uma bênção? Saiba que só o fato de você buscar a Deus já é uma bênção em si, quem faz isso de coração nem se importa se a resposta será um sim ou um não, a esse basta estar em comunhão com o pai e abrir para ele o coração. Terrível é passarmos por uma luta e não termos ânimo para orar ao Senhor, não termos fé de que Deus possa nos ajudar, não termos esperança que de algum jeito Deus vai nos ouvir e vir em nosso socorro. Contudo, muitas vezes nos acostumamos tanto a pedir coisas ao Senhor em oração que não vemos que orar já é uma bênção sem medida, é prova que o Espírito Santo está nos atraindo à presença do pai, é provar que o pai nos chama de filhos. 
      Não pensemos nunca que buscamos a Deus porque somos crentes, porque somos servos fieis, porque somos pessoas espirituais tementes ao altíssimo, não temos nenhum crédito por nos aproximarmos de Deus, o crédito é só de Deus. É Deus quem nos atrai, e sempre com uma voz mansa, porque a voz mais poderosa do Senhor não se manifesta em meio a uma tormenta, num brado ao estilo do filme “Os dez mandamentos” de Cecil. B. DeMille (1956), com uma trilha sonora grandiosa e sinfônica ao fundo, na verdade a trilha sonora preferida de Deus é o silêncio, além do mais quando estamos com a alma torturada berros não nos atraem, nos assustam ainda mais. 
      O Senhor, contudo, o Senhor Deus verdadeiro e único Deus, é sempre elegante e suave, simplesmente porque ele não precisa gritar, mas também porque nos respeita, nos conhece, nos trata com um delicado amor. É nessa fineza que o altíssimo nos atrai à sua presença e nos chama a buscá-lo, e isso é A bênção maior, o que advém disso é mera consequência, é a vontade de Deus se manifestando aos predestinados a ouvirem sua voz sempre que ele chama. Quanto tempo teremos que sofrer, por quantas lutas teremos que passar, quantas decepções teremos que experimentar, quantos nãos teremos que receber para entender isso? Para entender que Deus só quer que paremos tudo e o escutemos? 
      Ao profeta Samuel bastou uma terceira chamada, e ainda jovem aprendeu a ouvir a voz de Deus. “Fala, porque o teu servo ouve”, só isso, parar e ouvir a Deus, sem pedir e pedir, sem barganhar fé por bens materiais, apenas conhecer a sabedoria do Senhor, receber seu consolo, aprender sobre justiça com o justo dos justos, a ser santo com o santo dos santos, para então poder caminhar por esse mundo tão difícil em paz, estudando, trabalhando, fazendo alianças com gente de bem e sendo fiel a elas, enfim, sendo cristão como foi Cristo, produzindo uma igreja cristã pura, o mais parecida possível com aquela que morará eternamente com Deus no céu. 
      Se procedermos assim o mundo provará um Deus poderoso, não por dar coisas, mas por transformar vidas de verdade, o mundo conhecerá um Senhor espiritual, não por realizar milagres materiais, mas por gerar virtudes nos corações. É desse Deus que precisamos e ele existe, nos espera, aguarda que parecemos de pedir coisas desse mundo e busquemos em primeiro lugar o seu reino. Buscar a Deus deveria ser um fim em si mesmo, buscar só por estar com ele, mais nada. Os sábios que amadurecem com o tempo e não se amarguram com ele entendem isso, esses provam a mais preciosa das delícias, simplesmente estar na presença de Deus, como Enoque, que por isso nem morreu, foi arrebatado em vida. 

22/10/19

Buscar a Deus deveria ser um fim em si mesmo (Parte 1)

      “Mas ele lhes respondeu, e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas; Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra. Os ninivitas ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas.Mateus 12.39-41

      Buscar a Deus deveria ser um fim em si mesmo, aceitá-lo, adorá-lo, conhecê-lo já nos deveria bastar, e não só como contemplação passiva, mas isso deveria ser o suficiente para que quiséssemos agrada-lo e servi-lo, pelo simples fato de estarmos em sua presença. Contudo, como as pessoas usam a fé para conseguir de Deus alguma coisa, como buscam a Deus com segundas intenções, como acreditam que se Deus não fizer um milagre físico ele não é Deus, aliás, pregam e buscam Deus só por isso, porque tem poder para manifestar bênção no plano físico. 
      Eu me pego assim muitas vezes, quando surge um problema, quando tenho que decidir sobre algo que me dará um retorno material, penso, “preciso buscar a Deus, preciso PEDIR isso a ele”, como se Deus fosse um caixa de banco e nós, correntistas com um crédito imenso a ser descontado (ainda que eu use a obra de Cristo como direito para que eu tenha esse crédito). Sim, o crédito existe, em se tratando de perdão espiritual, mas quando cresceremos, deixaremos de ser filhos meninos e mimados, que só buscam a Deus para obter retornos materiais? 
      Vender um Deus todo-poderoso que faz milagres, todavia, é produto bom e muitos querem vendê-lo, obviamente para ficarem com os lucros dessa venda e usarem em benefício próprio, neste mundo. Assim, muitos, ao invés de serem usado por Deus, usam a Deus, e vá alguém dizer algo contra esses, eles dirão que estamos nos levantando não contra eles, mas contra o todo-poderoso. Deus faz proezas, eu não tenho dúvidas disso, já provei várias, em todas as áreas de minha vida, mas faz porque andamos com ele, ainda que muitas vezes peçamos coisas erradas e nos momentos errados. 
      Deus dá pela misericórdia, por seu amor, já que se fosse esperar que nós estivéssemos prontos para receber nunca daria, ou teria que esperar muito tempo. Mas nós não suportaríamos esperar, assim Deus planejou no início dos tempos nos dar tudo o que precisamos, se soubéssemos mesmo disso, ou se se confiássemos nisso, pois ainda que saibamos não conseguimos confiar, não pediríamos nada, apenas contemplaríamos sua presença, em adoração e depois faríamos tudo para agradá-lo com uma vida virtuosa enquanto fazemos a nossa parte neste mundo trabalhando. 
      O texto inicial é revelador, “uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas”, Jesus não se referia a Jonas, mas a ele, ele não era só um homem que morreria, mas Deus que ressuscitaria, essa é a grande sacada do evangelho, o que diferencia o cristianismo de qualquer religião. Uma geração má e adúltera, egoísta e hedonista, infantil e materialista, isso somos nós, todos nós, você e eu! Estamos encarnados e temos muita dificuldade para entender as virtudes espirituais, ainda que saibamos que na carne vivemos menos de cem anos, e no espírito toda a eternidade. 

21/10/19

O consolo do meu Deus

      “Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita; e te digo: Não temas, eu te ajudo. Não temas, tu verme de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu redentor é o Santo de Israel.Isaías 41.13-14

      Algo que nada pode substituir, que nenhuma religião, que nenhum conhecimento mágico, que nenhuma filosofia pode dar, é o consolo pleno, no tempo certo e afetuoso de um Deus que é pai. As religiões podem até nos confortar afetivamente, mas muitas crenças não são em Deus, mas em ídolos, em homens e mulheres mortos, em imaginações que trabalham muito mais as carências com soluções psicológicos que com realidade espiritual. 
      Outras experiências ocultistas podem oferecer explicações de mistérios, mesmo revelações do outro plano, contatos com entidades, mesmo uma realidade espiritual, mas tudo coberto de complicados rituais, que se não forem feitos do jeito e no tempo corretos podem virar o feitiço contra o feiticeiro. Filosofias, por outro lado, podem trazer algum alento intelectual, baseadas na ciência, na racionalidade, na matéria, mas são frias respostas do vazio da alma que nega a Deus, ainda que razoáveis e lógicas. 
      Só Deus dá aquele consolo que enche nossa alma de alegria, no exato momento que precisamos e que s que não temos mais ninguém e nem nada para nos ajudar, e isso de uma forma humana, pessoal, paternal, como o abraço puro e sincero de mãe. Deus é maravilhoso por isso, o capítulo 41 de Isaías é um desses consolos, que por mais que a gente leia, que por mais que nos preguem, que por mais que ouvimos e lemos, sempre soará como uma brisa fresca, limpa e nova, que nos levanta e nos faz seguir em paz. 
      “Não temas porque eu o Senhor tomo pela mão a você, que se sente tão pequeno, fraco, desprezado, injustiçado, você que se sente um pequeno verme dentro de uma goiaba, insignificante, não temas, eu, Deus, sou teu redentor, mais ninguém, estou vivo, atento e nunca te deixarei“. Por isso amamos ao Senhor, por isso Jesus é tão especial, por isso quem começa a andar com Cristo pode passar por muitas provas, mas nunca desistirá de segui-lo. 

20/10/19

O poder pertence a Deus

      “Grandes homens não buscam o poder, o poder é colocado sobre eles”, ouvi essa frase num filme, como é verdade. Num momento quando todos buscam empoderamento (palavra da moda), quando a agenda anti-Cristo quer empoderar o indivíduo para tirar o poder de Deus, perde-se o conceito de ter por merecer, e afirma-se o ter simplesmente pelo querer. Não estamos dizendo que as pessoas não devam lutar por direitos e que não devam usufruir deles com liberdade, principalmente algumas minorias que foram tão escravizadas e impedidas por séculos de serem livres e terem os mesmo direitos que outras maiorias. Contudo, é perigoso dar poderes excessivos às crianças, passando por cima de pais, a afro-descendentes, passando por cima de estudo e trabalho justo, dar poderes a outros que podem de fato nem serem capazes de administrarem seus direitos visto que podem ser limitados mesmo por doenças mentais. 
      Sábio é temer a Deus e saber que mesmo que façamos nossa parte, mesmo que a sociedade seja mais justa, mesmo que o mundo seja mais tolerante, muitas potências não devemos receber de graça, por algum direito especial, todos são especiais e se todos são, ninguém é. Conceder um direito especial a alguém porque é minoria pode, em muitos casos, não ser tolerante, mas preconceituoso às avessas, visto que enfatizamos algo que faz de alguém diferente da maioria do contexto para dar a ele algo facilitado. Ser tolerante e não agir com preconceito é tratar a todos de maneira igual, assim qualquer espécie de cota é preconceito às avessas, que acaba sendo preconceito do mesmo jeito, pois a pessoa adquire um direito não por esforços próprios em um sistema igualitário, mas simplesmente porque é diferente. Se é diferente não é igual, se alguém é tratado como não igual então está sofrendo preconceito, ainda que esteja aparentemente sendo protegido por isso. 
      O poder não é tomado, não num sistema justo (ainda que utópico em muitos casos), ele é dado aos merecedores, contudo, a maior das honras é receber algo não dos homens, esses podem ser sempre de alguma maneira convenientes, falsos, manipuladores. A honra maior é receber poder de Deus, e não me refiro a poder espiritual, esse Deus dá igualmente a todos, me refiro a poder intelectual, social, financeiro. Mesmo nas igrejas, células em que o evangelho deveria mandar, orientar, honrar, devemos esperar que o poder social nos seja dado por Deus, enquanto isso devemos andar em simplicidade e humildade, sem segundas intenções ou vaidades. Tantos almejam os púlpitos, principalmente nas pentecostais e neo-pentecostais onde o acesso é mais fácil, e para isso fazem de tudo para terem um microfone na mão, serem ouvidos e aplaudidos.
      Nas igrejas protestantes tradicionais existe um filtro de preparo acadêmico estabelecido que só autoriza acesso ao púlpito aos realmente preparados intelectualmente em faculdades e seminários, e não estou dizendo aqui que isso é melhor ou pior, é apenas diferente. Quantos, contudo, em todos os lugares, buscam um poder que não lhes é legítimo, que não merecem, que Deus não lhes quer dar. Que bom seria estarmos trabalhando, cuidando de nossas vidas, como os apóstolos, cada um no seu ofício, e Jesus nos ver e nos chamar, colocar sobre nós um poder, uma autoridade, uma missão, porque ele viu não em nossos discursos públicos, mas em nossas vidas privadas, em nossos corações, que estávamos preparados para receber tal potência. Que bom seria que nos sentíssemos surpreendidos nesse momento, e não andarmos amargos e nos sentindo injustiçados por não ganharmos dos homens o poder que achamos que merecemos. Na verdade, as melhores honras só ganham os que se acham absolutamente indignos delas.