20/02/20

Mesquinhez humana

      “Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos. Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos. Regozijai-vos sempre.” I Tessalonicenses 5.14-16

      É triste como a maioria de nós perde boa parte do tempo brigando por bobagens, principalmente nas famílias, entre cônjuges, como arrumamos encrenca por coisas pequenas, eu estou enganado com relação a isso? Sou só eu que erro assim? Acho que não. Mas a verdade é que muitas vezes nos achamos fortes, inteligentes, espirituais, mas ainda assim nos ocupamos mais com mesquinharias que com coisas realmente importantes, ainda que sejam problemas, problemas de fato grandes cuja solução pode fazer bem a muita gente e por mais tempo. 
      Ocorre é que a maioria de nós se desestabiliza facilmente, ainda que se veja diferente, importante, por pouca coisa perde a paz. Se alguém, que consideramos menor, que se ocupa com coisas que para nós são coisas pequenas, se esse alguém nos incomoda com facilidade, com seu modo de ser, de falar, de reagir e agir, então nós não somos tão grandes assim, somos tão pequenos quando aqueles que nos desestabilizam. Se um “inimigo” nos vence é porque tem pelo menos a mesma força que nós, a mesma inteligência, as mesmas habilidades. 
      Essa disposição constante de animosidade pode se tornar um vício, tão frequente que acabamos nos acostumando com ele, nem o percebemos mais. No ceio familiar quem sofre com isso são os filhos, que convivendo com tanta neurose acabam ficando neuróticos também. Essa crítica alheia obsessiva tem várias caras, exigência demasiada de perfeição, baixa auto-confiança, pessimismo exacerbado, enfim, exigir-se demais de nós que acaba fazendo com que exijamos demais dos outros um grau de qualidade tão irreal quanto desnecessário, perfeito só Deus. 
      Seja mental ou espiritual essa disposição cria um clima opressivo, onde se perde o prazer das pequenas alegrias, se esquece da vida simples e suficiente, tudo sempre parece um grande tribunal com um juiz prepotente e frio que vê as pessoas como máquinas frias que devem funcionar sempre perfeitamente, não como seres humanos limitados e falíveis. Como tem gente nessa prisão, que foi criada assim e que por não conseguir se libertar disso cria seus filhos também assim, numa bola de neve ladeira abaixo, crescendo e machucando todos os que acha pelo caminho. 
      Vícios não são fáceis de serem largados, mas isso pode ser feito, com vontade. O primeiro passo é assumir que o problema existe, pedir perdão e tomar diante de nós mesmos, de Deus e das pessoas, uma decisão de mudança. A decisão deve ser em primeiro lugar mental, uma convicção firme de mudança, se ela for verdadeira tocará o nosso coração, os nossos sentimentos e entenderemos que a vida é melhor sem o vício, que ocupar o tempo todo com mesquinhez, brigar por qualquer coisa não é bom, não leva à nada. Se vigiarmos nessa decisão teremos vitória.

19/02/20

Carentes ou indiferentes?

      “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Marcos 12.29-31

      Algumas pessoas se apaixonam por nós rápida e demasiadamente, mas não se iluda com elas, rapidamente se apaixonarão demasiadamente também por outros. Outras pessoas nos desprezam sem nos darem a chance de sermos melhores conhecidos, mas não se iluda também com essas, elas desprezam quase que a todos. Nos relacionando com ambos os tipos de pessoas, o problema não está em nós, necessariamente, mas nelas, são elas que são volúveis ou frias, isso não significa que não possamos nos relacionar com elas, mas significa que não devemos levar tais pessoas tão a sério, temos que tomar cuidado e não nos iludirmos com elas. 
      É fácil, contudo, criticar os outros, mas e quanto a nós, somos extremistas assim, gostamos muito facilmente ou nos distanciamos sem critério? Todos temos tendências obsessivas, no extremo sempre há um abrigo mais rápido que no centro, nos faz procurar leis e obedecer sem ter que pensar muito, gostar sempre ou desprezar o tempo todo dá menos trabalho que achar um equilíbrio nos relacionamentos. Mas extremos são sempre falsos, ninguém gosta de todo mundo ou consegue manter isso sempre. Veja que não me refiro a amar, como cristãos devemos amar a todos, e em Deus isso é possível, ainda que não gostemos de todos. 
      Por outro lado, ninguém é assim tão diferente que não consiga achar em quem quer seja um ponto de empatia, algo em comum que permita uma afeição. Esse extremo também conduz à falsidade porque na verdade só é uma zona de conforto para aqueles que se sentem magoados demais e têm medo de gostar de novo de alguém e serem feridos. Carentes ou indiferentes, o que somos? No fundo as duas disposições podem ser experiências de uma mesma pessoa, uma é consequência da outra, quem amou sem equilíbrio acaba magoado e então despreza de forma extrema para não sofrer novamente, mas o problema não está nos outros, não o problema que pode ser resolvido, esse está em nós.
      Todavia, uma situação terrível pode acontecer, os extremos podem atraírem-se, assim quem ama sem razoabilidade acaba se apaixonando por quem despreza sem qualquer pudor, nisso cria-se uma relação sado-masoquista que pode durar muito tempo e fazer sofrer muita gente. Num lado está alguém que por amar qualquer um acaba amando quem não o ama, no outro lado está alguém que por desprezar a todos, acha no que ama sem critério uma relação fácil e que não exige esforço. Em Deus há cura tanto para os carentes, quanto para os indiferentes, em Deus há equilíbrio e libertação de obsessões, porque no conhecimento de Deus nós nos conhecemos melhor e nos conhecendo aprendemos a gostar do que de fato nos faz bem. 
      Escolhas erradas só refletem um auto desconhecimento, quem não se conhece escolherá para si coisas erradas, ou só ilusórias, que até dão momentos de prazer, mas que não resistem ao tempo e à vida. Mas falta de escolha em gente que diz falsamente, “estou bem sozinho e não preciso de ninguém”, também é sinal de ausência de auto conhecimento, já que ninguém (ou raramente) é auto suficiente, pelo menos não sempre. Todos precisamos de alguém e alguém sempre existe para fazer alguém feliz neste mundo, por mais que esse alguém seja “diferente”. O segredo é sempre o mesmo, humildade, para conhecer a Deus, a si mesmo e depois um outro ser humano, também humilde que nos fará de fato felizes. 

18/02/20

Todos precisamos de ajuda

      “Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará.Provérbios 9.8 

      Todos nós precisamos de ajuda, mas nem todos nós podemos receber ajuda num determinado momento. Alguns não podem ser ajudados porque ainda não estão preparados para a ajuda, assim perdemos energia em ajudá-los assim como nos arriscamos a ganhar deles inimizades. Outros passaram do tempo de serem auxiliados, aconselhados, até já foram ajudamos, mas não ouviram os conselhos, assim se insistirmos só perderemos tempo.
      O homem paciente e humilde vigia, espera o melhor momento, e quando recebe de Deus ordem, obedece, prontamente, pois aquele que pode ajudar e não ajuda se faz tão rebelde quanto aquele que ouve o bom conselho e não o segue. Mas se agimos no tempo certo, no tempo de Deus, pois Deus mais que todos quer ajudar as pessoas, se fazemos isso receberemos do ajudado afeto e respeito duradouros, pois ele se faz sábio e seguirá o conselho. 
      Sendo a ajuda do cristão não uma palavra ou um bem dele, mas uma graça de Deus, que ele mesmo recebeu em experiência ou mesmo materialmente do Senhor, o que o filho de Deus pode dar não é dele, é de Deus, ele é apenas um mordomo das riquezas divinas. Assim, ajudar quem não pode ser ajudado, quem ainda precisa passar por disciplina de Deus para aprender certas coisas ou que já passou por essa disciplina e não aprendeu, é gastar desnecessariamente o que se recebeu de Deus, é dar “pérolas aos porcos”. 
      Deus não deve ser “vendido” (usando uma palavra ruim, admito) a qualquer preço, antes sua provisão é cara, ainda que quando oferecida seja gratuita, ela custou a vida de seu filho, Jesus. Assim tenhamos cuidado em às vezes querer ajudar só para nos exibirmos como espirituais, como sábios ou como bem financeiramente, repetindo, vaidade espiritual também é vaidade, e a pior delas pois usa o nome de Deus. 
      Por outro lado, se hoje podemos ajudar, amanhã poderá ser nós quem precisa de ajuda, assim plantemos para colher, mas sempre pedindo orientação de Deus sobre como ser bênção nas vidas das pessoas. Isso não é complicar a caridade, mas temer a Deus, visto que o ditado “fazer bem sem ver a quem” não é assim de todo sábio, o amor só é limitado pela justiça, e a justiça deve ser ungida com amor, para que ambos sejam perfeitos em Deus e úteis ao Senhor. 

17/02/20

Amigos que sempre teremos...

      “E Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma. E Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si, e a deu a Davi, como também as suas vestes, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto.I Samuel 18.3-4

      Muitas vezes, só depois dos anos passarem e das memórias se reanimarem, é que entendemos que tivemos bons momentos com amigos especiais e que não os aproveitamos suficientemente. O tempo tem um efeito colateral positivo nos corações dos homens de bem, ele apaga as coisas ruins e salienta as boas, as ruins que no presente parecem com tons tão fortes ficam transparentes, e as boas ganharão lindas e vivas cores nas paredes de nossas memórias no futuro. Mas isso também nos faz pensar que poucas pessoas são inteiramente más, e mesmo essas parecem más só para os nossos pontos de vista, a maioria tem lados legais e interessantes, essas só necessitam de um pouco mais do nosso trabalho, do nosso amor, amor que nem sempre queremos nos dar ao trabalho de exercer. 
      O conselho sobre isso é aquele, conhecido por todos, mas sempre impossível de vivermos: aproveite o bom momento da melhor maneira possível, ele não existirá de novo. Essa verdade aprendemos com o tempo, mas com o tempo as oportunidades da vida, por vários motivos, apesar de poderem ser escolhidas por nós com mais lucidez, escasseiam-se. Contudo, será que de fato o passado é sempre melhor depois? Nem sei, sei que o filtro dos seres humanos de bom coração permite achar sempre um lado bom nas coisas e pessoas depois que o tempo passa. Assim podemos analisar a vida, aprender e tentar não repetir mais o egoísmo, a injustiça, o mau julgamento, a impaciência, a crueldade, que não mora fora, nos outros ou nos demônios, mas dentro de nós, e que portanto podemos vencer se quisermos. 
      Por que compartilhei o texto inicial? Porque ele fala de uma grande amizade, entre Jônatas e Davi, não vou contar a história inteira, basta lembrar que Jônatas era filho de Saul, que se tornou o principal inimigo de Davi, o rei de Israel que Deus depôs por ter desobedecido ao Senhor e que Davi foi colocado por Deus em seu lugar. O principal que temos de saber dessa história é que a deposição de Saul de seu reinado e a posse de fato de Davi como rei não ocorreu de forma imediata, assim Saul sabia que não era mais rei mas insistia no reinado à medida que perseguia Davi. Esse por sua vez sabia que era o novo rei empossado por Deus, mas que teve que esperar humildemente e sem cometer qualquer atentado contra a vida de Saul, enquanto esse injustamente tentava matá-lo. Davi foi fiel a Deus e a seus princípios, mas Jônatas foi fiel ao amigo. 
      Em toda essa história, desde os momentos iniciais quando Davi era um líder dos exércitos do rei Saul, até a posse real de Davi, a amizade de Jônatas foi sempre constante, isso nos ensina que o verdadeiro e maior amigo o é em meio às guerras, mesmo enquanto os poderosos dizem o contrário, tentam matar aquele que se ama o amigo permanece fiel. Amigo não se é por segundas intenções, não porque é o mais correto politicamente, não porque é bom ser amigo dos famosos e honrados pelos outros, mas ainda que todos digam o contrário de alguém, permanecemos amigos dele, porque o amamos e vemos nele algo que talvez ninguém mais veja. Bem, me lembrei desse texto quando refletia inicialmente sobre os amigos especiais que tivemos e que agora talvez o tempo e a distância nos impeçam de usufruir mais de suas amizades. 

16/02/20

Liberdade para conhecer a verdade

      “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempoI Pedro 1.3-5

      O texto diz que fomos “feitos” de novo, assim algo antigo deixou de existir e algo novo veio à vida, isso mostra a excelência da obra que o Espírito Santo opera em nós pela nossa conversão a Cristo, isso mostra o poder da obra de redenção de Jesus que se encerra com sua ressurreição, nenhum outro fundador de religião fez isso, por isso o diferencial de Cristo como salvador da humanidade. Essa salvação, assim como as honras que advêm dela, são eternas e incorruptíveis, não podem ser alteradas, envelhecidas ou perdidas, o que Deus faz é para sempre. 
      O que foi achado em Cristo não precisa temer se perder, aquele que Deus chama, Deus guarda, ninguém o toma de suas mãos e nunca se perde, aquele que é de Deus tem em si o Espírito Santo, que o guia, que o ensina, que o ilumina, que o liberta, que o consola, que o mantém sob a proteção do altíssimo. Muitas vezes nós não temos ideia da qualidade da aliança que Deus faz conosco, ele é fiel, a nós, mas principalmente a si mesmo, à sua palavra, os abraçados por Deus em Jesus passam a fazer parte dele, assim ele não pode negar a si mesmo, se os chama não os lança fora.

      “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” Romanos 8.14-16 

      Deus é vivo e independente, não é uma criação subjetiva da mente e do coração humano, nisso ele nos guia, privilégio que os ainda não nascidos em Jesus não têm, ainda que também sejam amados por Deus e mesmo que recebam dele alguma orientação. Mas só o de fato convertido ao evangelho possui uma ligação íntima e imutável com Deus pelo seu Espírito e no nome de Jesus. O vivo Espírito Santo clama dentro de nós não por falsos deuses, não por entidades espirituais do mal, nem por anjos, mas pelo Deus único verdadeiro e altíssimo, que testifica com o nosso espírito que somos de fato filhos de Deus.
      Essa segurança nos dá liberdade, a mais verdadeira, profunda e abrangente liberdade, e isso é algo que muitos cristãos não entendem, se entendessem não se colocariam como presas de religião, manipulados por líderes humanos, prisioneiros de tradições. Quem não pode se perder está livre, para ir onde deseja, e quem tem o Espírito Santo é atraído por Deus para ir ao melhor lugar, ao conhecimento do santíssimo e altíssimo. Contudo, como sempre dizemos, liberdade e conhecimento têm seus preços, e Deus sabe que muitos não estão preparados para isso.
      Ah, se os cristãos soubessem, se católicos, protestantes e evangélicos soubessem, o que Deus quer ensinar a seus filhos, os mistérios que ele quer revelar, as verdades eternas sobre o universo, sobre o mundo e sobre o plano espiritual. Infelizmente muitos não querem Deus, ainda que gritem e cantem que o desejam, na verdade só buscam escapismos religiosos e emocionais que os livrem da culpa e do medo. A maioria dos cristãos só toca a superfície daquilo que podem ter no Espírito Santo, por Jesus e de Deus, mas ainda assim, Deus, em sua misericórdia, respeita o livre arbítrio, os limites da fé de cada um de nós.

15/02/20

Molas, pregos e parafusos

      “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.I Coríntios 9.22

      O texto inicial não se aplica precisamente a esta reflexão, mas fala de uma característica de Paulo que mesmo que em outras situações é bom termos, essa característica é adaptabilidade. Paulo usava essa característica para a mais nobre das causas, pregar o evangelho e salvar vidas, contudo, o cristão aprende que se adaptar a cada situação de maneira a agir da melhor forma, naquilo que mais agrada a Deus e o amadurece, é sábio. Não devemos ser inflexíveis, nem estarmos acorrentados a um modo de pensar, mudar de opinião não é sinal de fraqueza mas de força, desde que seja o Espírito Santo ensinando-nos coisas mais excelentes, mas vamos à reflexão.
      Molas, quando pressionadas, encurtam-se e depois naturalmente alargam-se, sem invadir o que a pressionou ou aquilo em que elas se apoiam, elas atingem seus extremos mas não invadem nada e no final do processo permanecem as mesmas. Pregos absorvem a força do que os pressionou e invadem o que os apoia, isso é feito de modo direto, num processo mais rápido mas também mais fácil de ser desfeito desde que o que usou de força para pressionar use força semelhante para arrancá-los. Parafusos funcionam semelhantemente aos pregos, mas o ideal é que não sejam batidos mas girados, isso leva mais tempo, mas permite que penetrem aquilo em que estão apoiados e se prendam de maneira mais segura que os pregos, já se forem só batidos funcionam como pregos, mas oferecem mais resistência que os os pregos, desse jeito impróprio poderão ser arrancados mais facilmente mas irão contra suas naturezas. 
     Como dito outras vezes, nenhuma metáfora é perfeita, só as parábolas de Jesus eram. Um princípio hermético diz “tanto em cima quanto embaixo” (ou “assim na terra como no céu”?), isso nos leva a procurar metáforas do mundo espiritual no mundo físico, mas também nos permite achar simbologias das existências humanas no funcionamento de outras coisas, mesmo em objetos inanimados. Assim, podemos interpretar pessoas e suas reações com a vida como por exemplo molas pregos e parafusos. Como nos comportamos diante de situações que temos que enfrentar? Ou, como Deus tem que nos fazer reagir para que interajamos com certas situações de modo mais eficiente? Somos “molas”, “pregos” ou ”parafusos”? 
      Alguns são flexíveis, e em certas situações é necessário que assim sejamos, como molas, absorvermos certos ataques e anulá-los, sem descarregar em inocentes ou em nós mesmos reações negativas daquilo que outros nos fizeram. Mas espiritualmente só podemos ser “molas”, isso é, anular um mal sem desejar vingança, ou ficar magoado, vivendo em Deus, entregando a ele a injustiça que recebemos, perdoando e seguindo em paz, e não tomando para nós um mal que não é nosso. Alguns, todavia, são “molas” na hora errada, usam muitas vezes uma característica natural de não reagir para desprezar as pessoas, a realidade, e serem irresponsáveis, covardes e insensíveis. 
      Alguns são “pregos”, o lado bom disso é que rapidamente tomam uma atitude, obedecem diligentemente, o lado ruim é que podem ser rápidos também para reagirem ao mal, são voláteis e passionais, não pensando muito antes de agir, seja para o bem, seja para o mal. Outros, contudo, são “parafusos”, reagem mas só se forem tratados com jeitinho, isso também tem um lado bom e um lado ruim. O lado bom é que pensam um pouco antes de agir, mas o lado mal é que com a conversa certa podem ser com convencidos a fazerem qualquer coisa, esse são racionais, mais que os “pregos”, mas isso não os faz imunes às más influências, só mais lentos. 
      Isso nos ensina que mesmo qualidades podem virar defeitos se não as administrarmos da maneira correta. O melhor é ser cada coisa na situação mais adequada, o humilde vence suas fraquezas e adquire fortalezas que a princípio não tem, sabe ser “mola”, sabe ser “prego” e sabe ser “parafuso”. Se for melhor recebe o impacto e não reage, se for necessário obedece prontamente e se for preciso pensa antes de tomar uma atitude e faz a melhor escolha. E você, o que tem sido, “mola”, “prego” ou “parafuso”? Tem sido cada um no momento melhor, tem se adaptado, ou pensa que é de um jeito e vai morrer assim? 

14/02/20

Há de se amadurecer...

      “Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz.Salmos 37.37

      O fim do sincero e reto é a paz, o fim, ainda que comecemos com lutas, com erros, com dor, se somos de fato sinceros do bem, e não só sinceros, e retos em Deus, querendo andar e andando no caminho estreito e direto do Senhor, chegaremos em um bom lugar, não será em vão o passado difícil. Que ponto de chegada é melhor que a paz? Não as riquezas materiais, não a aprovação dos homens, mas a paz com aqueles que amamos e que nos amam de verdade.

      Há de se ter certo envelhecimento nos cantos dos olhos, marcas de expressão na face, um sorriso resumido enquanto se olha para o lado procurando o passado, há de se ter mesmo alguma amargura, um resquício de dor, um cuidado antes de responder, um pensar antes, mas há de se achar paz na vida, sabedoria em tudo e em todos, demonstrando que se viveu e que se amadureceu. 
      Há de se rir menos e chorar menos, pois rir e chorar sempre e exageradamente não é verdade, mas fuga insana da realidade, há de se achar equilíbrio e indulgência, que entende as pessoas e não as inveja ou despreza, há de se ver antes e integralmente antes de medir os outros, e se o fizer será para procurar algo de bom, um ponto de luz às vezes em vidas tão enegrecidas. 
      Há de se ter misericórdia com todos, a mesma que se deseja para si de tantos, há de se ter paciência com as diferenças, respeito com os iguais, pois os semelhantes são os que mais nos incomodam, não os diferentes, por refletirem a queima roupa o que na verdade somos nós, há de se aprender a amar, pelo menos um pouco, no fim da vida, ainda que nunca se tenha sido amado como se queria. 
      Há de se evoluir se buscou-se a limpeza da casa, das roupas, da alma, do Sol, há de se caminhar para o Sol, ainda que se ame a Lua e se faça dela companheira tão fiel e complacente, há de se melhorar com o tempo, não piorar, há de se tornar mais humilde, não dono da verdade, há de se tornar ouvinte, não mestre equivocado que só ensina a si mesmo e ainda assim nunca aprende. 
      Há de se achar em Deus um amigo, não um juiz, de se começar a conhecer os mistérios, escondidos das crianças e dos arrogantes, há de se preferir o silêncio, e não as congregações, a contemplação, e não a encenação, a realidade, não a ilusão, há de se perder o medo da solidão, da desaprovação  humana, há de se achar graça diante do altíssimo e se ver liberto de vícios antigos e egoístas.