04/02/21

Reaja como orienta Deus

      “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.Mateus 5.39-41

      Obedeça a Deus, mesmo que pareça difícil, sempre que Deus manda não é impossível de obedecer, se procurarmos com calma no Esprito forças para isso. Se Deus está orientando você a se calar diante de uma afronta, a abaixar a cabeça diante de uma injustiça, a não responder diante das palavras acusadoras e mentirosas do homem mal e arrogante, obedeça, não se afaste, não fuja, não resista. 
      Deus sabe até onde temos que suportar em humildade, assim como até onde alguém pode se posicionar de forma violenta contra a sua justiça, sim, a justiça de Deus, não a nossa. Se alguém afronta um filho sincero do Senhor não é o filho que é afrontado, mas Deus, e se for assim, se o filho não fizer justiça com as próprias mãos, se não cobrar do homem mal um preço por tê-lo suportado, Deus fará justiça. 
      Como é maravilhosa a paz que temos quando sabemos que fizemos o que tínhamos que fazer, quando temos a convicção que oferecemos, debaixo de ordem de Deus, ambas as faces para serem esbofeteadas, e que então não é mais preciso sofrer, mas só confiar no justo Deus. Não nos sentimos em falta ou culpados, ainda que o injusto tente nos atormentar, fizemos a nossa parte e agora Deus fará a dele. 
      Entretanto, entendamos bem o texto inicial, só devemos não resistir ao mal quando Deus mandar, e se tivermos que resistir não é reagindo com igual violência, mas nos afastando. Se fizermos isso seremos usados por Deus, não só aprenderemos sobre ser humilde e amar os que nos odeiam, mas também seremos instrumentos de justiça na vida de alguém que teve oportunidade para ser justo e não foi. 
      Não é fácil permanecermos serenos enquanto somos caluniados, desrespeitados, e de maneira alguma devemos fazer isso sem sentir orientação clara do Senhor para tal. Muitas vezes o mais sábio é ao sinal da primeira intenção de agressão cairmos fora, não reagirmos mas também não oferecermos sequer uma face, ser cristão não é ser bobo ou insensível, mas obedecer a Deus com propósito específico. 
      Vemos exemplos de reações diferentes na vida do Cristo encarnado, algumas vezes Jesus reagia de maneira enfática, outras vezes de forma mais discreta, com parábolas, outras vezes, ainda, permanecendo no local mas em silêncio, e ainda outras vezes fugindo e evitando pessoas, lugares e cidades. No final de sua vida ele simplesmente se entregou, não deu só a outra face, mas todo seu ser, como sacrifico mortal. 

03/02/21

Utilizado ou utilizando?

      “O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem.Salmos 49.20

      Eis um versículo que não tem entendimento fácil, se você passou os olhos rapidamente por ele, por favor, leia de novo, com calma e pense um pouco antes de seguir com a leitura da reflexão. O versículo fala de um homem que está em honra, não é do homem sem honra, mas do que está usufruindo um prestígio, um reconhecimento, esse homem pode, ainda assim, ser semelhante a um ser irracional e que perece, sem ter algo que o proteja. A chave para entendermos o texto está na frase, não tem entendimento, assim não adianta ter honra se não se tem entendimento. O que isso quer dizer? 
      A resposta está em todo o contexto do Salmo 49, o texto fala de homens que confiam no que construíram nesse mundo e não em Deus, que se gloriam nas riquezas e no dinheiro acumulado, mas não no Senhor. Sim, esses estão em honra, e não são necessariamente pessoas desonestas e injustas, podem ter trabalhado e muito para conquistarem o que possuem. Mas a honra deles só valerá no plano físico se eles não tiverem entendimento, que entendimento é esse? O mais puro e verdadeiro entendimento espiritual, que nada mais é que conhecer a Deus, nele confiar e a ele adorar. 
      Essa reflexão nos leva a uma outra pergunta: para que estamos no mundo, para sermos úteis, para sermos utilizados, e isso não por homens mas por Deus, ou para utilizarmos, os homens e mesmo a religião, para benefício próprio? A resposta a essa pergunta pode definir as existências de todos os seres humanos neste plano, em outras palavras, somos servos ou queremos ser servidos? Servo que não serve para nada serve, e como cristãos somos chamados para servir. Quem só quer utilizar e não ser útil colhe honra que não plantou, para esse um dia a conta chega e ainda neste mundo.
      Por outro lado, o homem que tem entendimento, que teme a Deus, que se humilha perante o Senhor e busca a cada dia ser alguém melhor interiormente, não sairá deste plano físico de qualquer jeito, estupidamente, na hora errada e do jeito errado. Esse foi útil nas mãos do Senhor, buscou ser utilizado por Deus acima de outras coisas, mesmo perdendo diante dos homens, sua vida teve sentido, assim sua morte será honrada. Às vezes pode ser melhor perder tudo aqui, mas a tempo de ganhar a aprovação de Deus, para que adquiramos o entendimento que nos entrega vida que nunca perece.

02/02/21

Que rede te prende?

      “Os meus olhos estão continuamente no Senhor, pois ele tirará os meus pés da rede.Salmos 25.15
      “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragarI Pedro 5.8
      “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.” I Coríntios 10.12

      Uma lição que tenho vivenciado no últimos tempos, que já compartilhei aqui em outras reflexões, é sobre vigilância mental. O pecado não nasce nos órgãos e membros abaixo do pescoço, adultério não começa nos órgãos genitais, mas na cabeça, ela é a porta para entrada de bênçãos e de males, que gera a intenção e que comanda o corpo para praticar. Vigiar essa porta é de suma importância para quem quer de fato ser espiritual, vencer o pecado, ter a paz que permanece e que é escudo contra o acusador, seja ele humano ou espiritual, os egoísmos e as vaidades deste mundo. Focar os olhos espirituais o tempo todo no Senhor, de manhã até a noite, e não se desviar disso, é vencer o pecado antes mesmo dele ser gerado. 
      Se a tentação aparecer, mesmo longe, olhemos para Deus, e isso é importante, “não cutucar o leão com vara curta”, o leão é o diabo, buscando a quem tragar, dele temos que manter distância. Muitos caem por puro desleixo, por confiarem demais em si mesmos, por não levarem a sério certos limites, por acharem que são fortes o suficiente, mesmo usando fé em Deus como desculpa para serem insensatos. Fé que não se move no Espírito Santo, mas só na alma humana, não é fé genuína, é irresponsabilidade, é insanidade, e alguns perdem a cabeça na boca do leão por essa displicência. Quem vigia não cai em armadilha, não é enredado, e existem muitas redes por aí, mais sofisticadas quanto mais sábios forem os filhos de Deus. 
      Os tolos nem precisam de redes, tropeçam nas próprias pernas por causa de suas arrogâncias, mas quem está de pé, cuidado para não cair. Para os sábios também são armadas redes, e essas são sutis e complexas, se eles não manterem os olhos fixos em Deus podem ser presos. A rede pode ser algo explícito, que tira de nós a liberdade física, como falta de dinheiro, uma enfermidade, um acidente que debilite o corpo, mas também pode ser algo mais subjetivo, um medo, uma tristeza, um vício secreto, que nos rouba a paz e a vontade de viver. Tenhamos muito cuidado, porque para cada um de nós existe a rede certa, no nosso “número”, para nos prender caso percamos a humildade e deixemos de olhar para o Senhor. 

01/02/21

Humilde ou humilhado?

      “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalteI Pedro 5.6

      Na vida existem muitos momentos nos quais temos que ser ainda mais humildes, quando devemos dar a outra face, quando a resposta e a ira devem ser contidas e devemos só ouvir em silêncio. São momentos para aceitarmos a injustiça, mas também, algumas vezes, para admitirmos que erramos e pedirmos perdão, mesmo publicamente, o Esprito Santo sempre nos mostrará quando isso é necessário e para isso nos dará forças. Contudo, existem momentos em que devemos simplesmente abaixar a cabeça e tomar outra direção, também em silêncio, também na humildade, mas para irmos para longe de quem nos humilha, ou mesmo longe da vergonha que passamos por causa de erros nossos. Esses não são momentos de receber disciplina, mas de recomeçar e deixar para lá o que muitas vezes não tem solução, neles o Espírito Santo também nos orientará e nos dará forças para vivê-los.
      O humilde não é humilhado, e quem se quebranta diante de Deus é guardado por Deus de uma vergonha maior, assim busque ao Senhor e ache discernimento, mas tenha coragem em Deus. Abaixar a cabeça e tomar outra direção, longe da humilhação, não como fuga, mas como um novo caminho que Deus mostra, pode não ser fácil, pode exigir que nos desprendamos de coisas que construímos e que não fazem mais sentido. Contudo, se realmente for a vontade de Deus, o Senhor te reconstruirá, isso não será rápido, mas tenha certeza, o que se reconstrói humildemente em Deus se torna alguém melhor, melhor até que o que era antes da humilhação. Não tenha medo de mudar de rumo, nem de pedir desculpas, por mais difícil que pareça, Deus é com os humildes e resiste aos soberbos, Deus luta pelos humildes que se arrependem e pelos que não lutam por causa própria, mas pela sua.

31/01/21

Não se iluda com o sucesso

      “Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz.Salmos 37.11

      Há um tempo atrás o sucesso iludia levando a grande maioria das pessoas a idolatrar quem tinha fama, aqueles que vendiam muitos álbuns em vinil, que enchiam teatros e estádios, que tocavam muito no rádio, que apareciam na TV. De um tempo para cá, a internet, o celular e as redes sociais iludem uma grande maioria que quer ser sucesso, recebendo mais curtidas numa foto ou num vídeo, tendo mais inscrições no Instagram ou no Youtube, mesmo que não tenha talentos diferenciados, quer fama por ser qualquer coisa, ou só o que é. 
      De um jeito ou de outro, sucesso neste mundo é ilusão, nada é para sempre e mesmo a pessoa mais talentosa e competente não merece adoração exagerada, merece admiração, aplausos, isso sim, mas não adoração. O fato é que muitos começaram a aliar vida bem sucedida com aprovação de homens, com a quantidade de aplausos e não necessariamente com a qualidade de quem aplaude. Essa sede de sucesso não precisa almejar patamares homéricos para existir e ser prejudicial, pode acontecer mesmo em grupos sociais menores.
      O ser humano pode ser obcecado por sucesso em seu meio profissional, na cidade em que reside, na igreja que é membro e mesmo em sua família, o fato é que relacionar fama à felicidade é um engano que pode se transformar numa grande armadilha. Muitos só se manifestam para ascenderem socialmente, não se contentam em serem comuns, querem ser admirados como deuses, por isso buscam equivocadamente a política, a riqueza, liderança em igrejas ou simplesmente serem o cara mais bem-sucedido no meio de sua parentela. 
      Quem não adora a Deus quer ser adorado como deus, os grandes anjos antigos caíram por causa disso, e o casal mítico Adão e Eva também foram vencidos por essa tentação. Isso não significa que não podemos merecer honras por sermos bons seres humanos neste mundo, uma remuneração profissional melhor e mesmo aplausos numa apresentação artística, mas o sábio é procurar ser bom, fazer algo com excelência para abençoar os outros, não para elevar o ego. Quem tem essa consciência poderá até ter fama mas não será iludido pelo sucesso. 
      Divulgando música, equipamentos musicais e softwares musicais na internet, eu vejo alguns aparecendo, não para promoverem uma ferramenta que ajude as pessoas, mas para se promoverem. Assim alguns acabam até fazendo sucesso, mas logo param e não deixam muita coisa positiva no meio, outros nem chegam a começar, trabalham um pouquinho e como veem que a fama não vem, desistem. Tudo na vida é muito trabalho, mesmo sucesso por intenção errada, mas o que trabalha em Deus, mesmo sem adquirir fama, achou o tesouro melhor. 
      O tesouro melhor é ser aprovado por Deus, o resto não importa, ainda que produzamos com muito trabalho um produto que nos faça reconhecidos, ou, ainda que trabalhando certo, nossa fama seja menor que a de outros que produzem um produto inferior. Cada um é confrontado de um jeito com o crescimento espiritual, quem decide isso é Deus, alguns crescerão administrando fama, outros administrando a falta dela, cada um considerará sucesso aquilo que seu nível espiritual entende que é, todos, porém, de alguma forma, colhem o que plantam. 

30/01/21

“Não me deixes confundido”

      “Guarda a minha alma, e livra-me; não me deixes confundido, porquanto confio em ti. Guardem-me a sinceridade e a retidão, porquanto espero em ti.Salmos 25.20-21

      Todos nós podemos nos confundir, ficarmos em dúvida sobre alguma coisa, sobre qual direção tomar, sobre qual opção escolher, não saber discernir quem está com a verdade. Pensaremos em confusão nesta reflexão como a dificuldade de se decidir sobre algo, e não em já estar numa condição errada e por isso estar confuso, assim, numa situação onde podemos buscar a Deus, refletir melhor, então, saber como sair da confusão. Tentar definir confusão já é impossível, senão não seria confusão, na confusão perdemos as referências, não sabemos o que fazer, o que sentir, o que pensar, o que falar, é ausência de ordem.
      Como sair da confusão, já que quando estamos nela por mais que tentemos e queiramos não achamos as palavras, o sentimento, uma oração que defina nossa agonia e a entregue nas mãos de Deus? Na confusão muitas coisas ao mesmo tempo circulam em nossas cabeças, sons, imagens, emoções, e nada parece certo o suficiente para se assentar e permitir que tenhamos controle. Quando seguramos uma coisa outra surge e foge, quando pegamos essa outra coisa a primeira nos escapa, e assim vai, nossa visão falha, nossos ouvidos se atordoam, nossa alma pesa, nos sentimos cansados e ao mesmo tempo agitados. 
      Algo que pode nos deixar muito confusos é ver que um assunto, que até pouco tempo conduzíamos de uma maneira, com a certeza que fazíamos do jeito certo e que por isso nos deixava em paz, simplesmente muda de tom, o certo fica errado, o errado parece certo, e o que nos dava satisfação agora nos tortura. A confusão é perigosa pois o que começa com um dilema mental pode nos levar a pecados reais e sérios, principalmente para buscarmos um prazer que anule a angústia que a confusão traz, por isso é importante identificá-la e buscar solução para ela, entendendo que ela está dentro de nós e não fora. 
      Sim, dentro de nós, e se não entendermos isso a tempo poderemos colocar a culpa da confusão em pessoas e situações que nada têm a ver com o problema. Silenciar a alma, é o início da saída, e fazer isso diante de Deus, parar de fazer força para achar a solução e deixar que a solução de Deus se assente em nossa mente, calmamente, silenciosamente. O Espírito Santo nunca nos deixa, mas muitas vezes, depois de provarmos sua manifestação de uma maneira, podemos achar que podemos recriar essa manifestação, com as nossas forças, tentar achar nas respostas antigas uma solução para a nova pergunta. 
      Uma característica do Espírito Santo é que ele se renova como as águas vivas de um rio, assim não adianta tentarmos usar memórias para recriar seu agir, mesmo que sejam memórias espirituais, sua presença deve ser viva e fresca para ser verdadeira e eficaz. A saída de uma posição de confusão começa no nada, se pensamentos e sentimentos vêm num turbilhão, nos calemos, deixemos que eles venham e que depois sigam, para longe de nós. Fazemos isso parando de resistir, não nos importando, tornando as paredes mentais mais e mais finas até que sumam, assim nossa cabeça não prenderá a confusão e ela partirá.
      Depois é segurar a serenidade e ouvir a voz de Deus, após uma grande confusão podemos receber uma iluminação diferenciada do Senhor, um novo conhecimento que nos levará a um novo patamar de vida espiritual, mas é importante parar tudo e de fato ouvir o que o Espírito Santo diz, para depois obedecer. Se não houver obediência a confusão voltará, e obediência pode ser difícil, principalmente quando exige de nós uma mudança radical de percurso. Confusão nos cansa mental e fisicamente, assim é preciso descansar e não exigir nada de nós, só o silêncio que tem fome e sede da viva palavra de Deus. 
      O texto inicial diz “guardem-me a sinceridade e a retidão”, livramento da confusão está ensinado aí. Sinceridade é não ser falso, mas não só isso, é ser sincero do bem e para o bem, ter um desejo verdadeiro e maior de viver as virtudes de Deus, não se apegar à vaidade de querer ser, mesmo que espiritual, só para ser melhor que os outros ou para dominar sobre esses. O sincero do bem tem um coração reto em direção a Deus, para conhecê-lo, obedecê-lo e adorá-lo, assim é guardado da confusão pela sinceridade e pela retidão de um espírito que não se refugia na mentira, mas ama a verdade e não a teme.
     Você já observou como existem pessoas que quando interagem com a gente têm um olhar oblíquo? Elas conversam conosco, mas mantêm os olhos enviesados, com a mente em outras coisas, falam, mas não revelam suas verdadeiras intenções. Suas dores criaram nelas pesados preconceitos que as deixaram incrédulas, entendem sempre outras coisas naquilo que falamos, não acreditam em nós por mais sinceros e retos que sejamos. Pessoas assim são difíceis de se conhecer, são profundas, pois têm sérias vivências acumuladas, mas por se protegerem demais são inatingíveis, não são sinceras e não podem ser retas. 
      Só pode experimentar uma sinceridade de fato do bem e um espírito reto quem confia de todo o coração em Deus, esse achará a luz, que o livrará da confusão porque o Deus em quem confia estará próximo dele e não permitirá que fique amarrado a dúvidas e ao caos. Quem confia conhece e obedece, assim, por mais que a confusão pareça grande e forte, confie em Deus, ame a Deus, não só com a mente, mas com os sentimentos, não só intelectualmente, mas apaixonadamente. Nessa interação de mente e coração com Deus, movendo-se pela fé no Espírito Santo, achamos a unção que nos alimenta.
      Alimentados temos a certeza que estamos agradando ao Senhor. O que é estarmos confusos senão termos dúvidas se estamos ou não agradando a Deus? Filhos querem agradar o pai, e a certeza que estão conseguindo fazer isso é luz que nos protege de toda confusão. Se o problema é grande, Deus é maior, se a confusão prende nossos pés num lamaçal, onde até nos movemos, mas não nos desprendemos, enquanto nossa cabeça gira sem achar tranquilidade,  o Senhor é Altíssimo e nos faz voar, firma nossos pés num caminho seguro e ilumina nossa mente com a sabedoria mais pura e verdadeira que nos dá vida eterna.

29/01/21

Como se livrar da culpa

      “Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar. E os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue. E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo de um oleiro, para sepultura dos estrangeiros. Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Campo de Sangue.Mateus 27.3-8

      Sentimento de culpa, ao lado de ansiedade, são as raízes de tantas enfermidades, emocionais e físicas, a culpa, em especial, pode ser invocada por motivos diversos, alguns legítimos outros não. O culpado sente que devia ter feito algo certo e deixou de fazer, ou que não devia ter feito algo errado e fez, por isso se sente em dívida, consigo mesmo e com os outros. Mas só existem dois jeitos de não nos sentirmos culpados, ou não tendo culpa ou pedindo perdão pelo que nos culpa, parece simples, mas ainda assim as pessoas insistem em seguirem com culpa, muitas vezes por anos.
      A culpa em si não é algo ruim, é um sistema de alarme, que em pessoas bem resolvidas deve funcionar quando algo errado foi feito, assim pode-se ter consciência e consertar as coisas. Contudo, não é tão simples assim, por dois motivos: pode ser interessante para muitos de nós nos mantermos numa condição de vítima, assim como não ser interessante para muitos de nós assumirmos coisas que nos mostram como agressores. Querer ser vítima quando não se é ou não se assumir agressor quando se é, isso joga sobre nossas almas um terrível sentimento de culpa, que pode nos adoecer e até nos matar. 
      Se não fizemos nada de errado não há motivo para nos sentirmos culpados, a não ser que queiramos mostrar para os outros que somos culpados, e muitas vezes, para que as pessoas vejam em nós pessoas sensíveis e diligentes, que fazem as coisas certas a tempo, exageramos no personagem de vítima. Mas se é exagero, é falso, e se é falso é mentira, a mentira nunca protege, não em médio e longo prazo, um dia ela é revelada e a verdade sobre nós é revelada. Por que queremos nos mostrar como vítimas, nos proteger numa mentira, encenar uma farsa, mesmo que nos debilite numa área? 
      Para impedir que as pessoas saibam a verdade sobre nós em outra área, que somos agressores, nos torturarmos por culpas inventadas pode ser melhor que assumirmos a dor de culpas reais. A vítima, mesmo errada, está fragilizada e o frágil precisa de ajuda, de compreensão, não de condenação, como é o caso do agressor. Tem gente que se vitimiza quando sofre um acidente e tem o carro danificado, dizendo que foi culpa sua não ter feito um seguro, quando na verdade a culpa é sua, não pelo seguro, mas por ter dirigido de maneira irresponsável, assim troca-se uma culpa por outra mais conveniente. 
      A falsa vítima nunca assume seu verdadeiro erro, mas de alguma maneira inventa uma história onde ela possa colocar a culpa em outro ou substituir um erro que a mostra como agressora por um que a fragiliza como vítima. O grande questionamento que fazemos nesta reflexão: até que ponto amamos a verdade acima de tudo? Se nada fizemos a verdade é que não precisamos nos fazer de vítimas, nem para esconder um outro erro, e se fizemos algo de errado devemos assumir isso e buscar perdão, de nós mesmos, das pessoas e de Deus, isso é resolver a vida na luz, o resto é trevas, é mentira, é culpa. 
      Judas Iscariotes sentiu culpa por seu erro, se colocou como vítima diante dos sacerdotes e tentou resolver, do seu jeito, a questão, devolvendo o dinheiro que tinha ganho pela traição. Contudo, quando sua solução equivocada, que lhe trouxe remorso mas não arrependimento real, não lhe deu paz, ele tomou a decisão derradeira que tomam os que não podem viver com uma enorme culpa, tirou a própria vida. Cuidado, dinheiro de sangue cobra um preço caro, a vida do que o ganhou, quem planta o mal, colhe a dor, quem teima na mentira, colhe a solidão, quem segue com culpa, colhe a morte.