sábado, janeiro 30, 2021

“Não me deixes confundido”

      “Guarda a minha alma, e livra-me; não me deixes confundido, porquanto confio em ti. Guardem-me a sinceridade e a retidão, porquanto espero em ti.Salmos 25.20-21

      Todos nós podemos nos confundir, ficarmos em dúvida sobre alguma coisa, sobre qual direção tomar, sobre qual opção escolher, não saber discernir quem está com a verdade. Pensaremos em confusão nesta reflexão como a dificuldade de se decidir sobre algo, e não em já estar numa condição errada e por isso estar confuso, assim, numa situação onde podemos buscar a Deus, refletir melhor, então, saber como sair da confusão. Tentar definir confusão já é impossível, senão não seria confusão, na confusão perdemos as referências, não sabemos o que fazer, o que sentir, o que pensar, o que falar, é ausência de ordem.
      Como sair da confusão, já que quando estamos nela por mais que tentemos e queiramos não achamos as palavras, o sentimento, uma oração que defina nossa agonia e a entregue nas mãos de Deus? Na confusão muitas coisas ao mesmo tempo circulam em nossas cabeças, sons, imagens, emoções, e nada parece certo o suficiente para se assentar e permitir que tenhamos controle. Quando seguramos uma coisa outra surge e foge, quando pegamos essa outra coisa a primeira nos escapa, e assim vai, nossa visão falha, nossos ouvidos se atordoam, nossa alma pesa, nos sentimos cansados e ao mesmo tempo agitados. 
      Algo que pode nos deixar muito confusos é ver que um assunto, que até pouco tempo conduzíamos de uma maneira, com a certeza que fazíamos do jeito certo e que por isso nos deixava em paz, simplesmente muda de tom, o certo fica errado, o errado parece certo, e o que nos dava satisfação agora nos tortura. A confusão é perigosa pois o que começa com um dilema mental pode nos levar a pecados reais e sérios, principalmente para buscarmos um prazer que anule a angústia que a confusão traz, por isso é importante identificá-la e buscar solução para ela, entendendo que ela está dentro de nós e não fora. 
      Sim, dentro de nós, e se não entendermos isso a tempo poderemos colocar a culpa da confusão em pessoas e situações que nada têm a ver com o problema. Silenciar a alma, é o início da saída, e fazer isso diante de Deus, parar de fazer força para achar a solução e deixar que a solução de Deus se assente em nossa mente, calmamente, silenciosamente. O Espírito Santo nunca nos deixa, mas muitas vezes, depois de provarmos sua manifestação de uma maneira, podemos achar que podemos recriar essa manifestação, com as nossas forças, tentar achar nas respostas antigas uma solução para a nova pergunta. 
      Uma característica do Espírito Santo é que ele se renova como as águas vivas de um rio, assim não adianta tentarmos usar memórias para recriar seu agir, mesmo que sejam memórias espirituais, sua presença deve ser viva e fresca para ser verdadeira e eficaz. A saída de uma posição de confusão começa no nada, se pensamentos e sentimentos vêm num turbilhão, nos calemos, deixemos que eles venham e que depois sigam, para longe de nós. Fazemos isso parando de resistir, não nos importando, tornando as paredes mentais mais e mais finas até que sumam, assim nossa cabeça não prenderá a confusão e ela partirá.
      Depois é segurar a serenidade e ouvir a voz de Deus, após uma grande confusão podemos receber uma iluminação diferenciada do Senhor, um novo conhecimento que nos levará a um novo patamar de vida espiritual, mas é importante parar tudo e de fato ouvir o que o Espírito Santo diz, para depois obedecer. Se não houver obediência a confusão voltará, e obediência pode ser difícil, principalmente quando exige de nós uma mudança radical de percurso. Confusão nos cansa mental e fisicamente, assim é preciso descansar e não exigir nada de nós, só o silêncio que tem fome e sede da viva palavra de Deus. 
      O texto inicial diz “guardem-me a sinceridade e a retidão”, livramento da confusão está ensinado aí. Sinceridade é não ser falso, mas não só isso, é ser sincero do bem e para o bem, ter um desejo verdadeiro e maior de viver as virtudes de Deus, não se apegar à vaidade de querer ser, mesmo que espiritual, só para ser melhor que os outros ou para dominar sobre esses. O sincero do bem tem um coração reto em direção a Deus, para conhecê-lo, obedecê-lo e adorá-lo, assim é guardado da confusão pela sinceridade e pela retidão de um espírito que não se refugia na mentira, mas ama a verdade e não a teme.
     Você já observou como existem pessoas que quando interagem com a gente têm um olhar oblíquo? Elas conversam conosco, mas mantêm os olhos enviesados, com a mente em outras coisas, falam, mas não revelam suas verdadeiras intenções. Suas dores criaram nelas pesados preconceitos que as deixaram incrédulas, entendem sempre outras coisas naquilo que falamos, não acreditam em nós por mais sinceros e retos que sejamos. Pessoas assim são difíceis de se conhecer, são profundas, pois têm sérias vivências acumuladas, mas por se protegerem demais são inatingíveis, não são sinceras e não podem ser retas. 
      Só pode experimentar uma sinceridade de fato do bem e um espírito reto quem confia de todo o coração em Deus, esse achará a luz, que o livrará da confusão porque o Deus em quem confia estará próximo dele e não permitirá que fique amarrado a dúvidas e ao caos. Quem confia conhece e obedece, assim, por mais que a confusão pareça grande e forte, confie em Deus, ame a Deus, não só com a mente, mas com os sentimentos, não só intelectualmente, mas apaixonadamente. Nessa interação de mente e coração com Deus, movendo-se pela fé no Espírito Santo, achamos a unção que nos alimenta.
      Alimentados temos a certeza que estamos agradando ao Senhor. O que é estarmos confusos senão termos dúvidas se estamos ou não agradando a Deus? Filhos querem agradar o pai, e a certeza que estão conseguindo fazer isso é luz que nos protege de toda confusão. Se o problema é grande, Deus é maior, se a confusão prende nossos pés num lamaçal, onde até nos movemos, mas não nos desprendemos, enquanto nossa cabeça gira sem achar tranquilidade,  o Senhor é Altíssimo e nos faz voar, firma nossos pés num caminho seguro e ilumina nossa mente com a sabedoria mais pura e verdadeira que nos dá vida eterna.

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