07/07/21

Para onde a hipocrisia nos leva?

      “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.Apocalipse 3.15-16

      Quem convive por um tempo em igrejas cristãs, se for honesto, constatará hipocrisia, mas se for sincero verá que essa não existe só nas vidas dos outros, mas na dele também. Hipocrisia é dizer, mas não viver, mesmo crer e pregar a teoria, mas não conseguir pô-la em prática. A palavra de Deus que sai da boca de Deus por Jesus e chega a nós pelo Espírito Santo, sempre pode ser praticada, a não ser que não queiramos, já palavras de homens, mesmo contendo Bíblia e ditas de púlpitos, até podem ser vividas, mas só até um ponto. 
      Quem não vive não sabe e não deveria ensinar, e quem ouve esses falsos mestres fatalmente cairá na hipocrisia. A hipocrisia é o segundo de dois pecados, o primeiro é dar ouvidos a palavras erradas, o segundo é não assumir que essas palavras são erradas. O hipócrita, acima de tudo, quer agradar a homens mais que a Deus, quer aprovação de pessoas que são importantes para ele, morre de medo de ir contra a religião, e não pode admitir que não está conseguindo praticar aquilo que ela diz ser a vontade de Deus para sua vida. 
      Mas num determinado momento vemos que não somos só nós que não praticamos e mentimos a respeito disso, os outros também fazem o mesmo, nesse momento podemos nos revoltar, ver cair por terra um mundo no qual vivíamos e acreditávamos. Quando isso ocorre podemos ir para um de dois lados: ou largamos a fé mais pura e criamos um cristianismo conveniente, baseado em mágoa e ceticismo, ou então buscamos a Deus para saber o que ele de fato quer de nós. Ambas as escolhas nos colocarão em oposição à religião. 
      Existe uma terceira opção, que a maioria escolhe, é dizer que as coisas são assim mesmo, que ninguém é perfeito, que temos que aceitar as coisas dessa forma e que errados são os que se afastam das igrejas porque prestam mais atenção nas vidas alheias. Essa terceira opção na verdade é o álibi que muitos acham para serem hipócritas e viverem bem com hipócritas, eles não entendem que essa não é a vontade de Deus para ninguém. Esses não são sábios ou equilibrados, como podem se achar, mas os mornos do texto bíblico inicial. 
      Vencemos a hipocrisia com dois conhecimentos: primeiro desligando religião de Deus, segundo crendo que Deus tem mais para nós que a religião. O primeiro conhecimento é muito difícil de ser assimilado, principalmente na religião cristã com sede no Vaticano onde achamos pessoas que temem mais o papa que a Deus, só pensar que o que eles ouvem nos templos não é de Deus os faz sentir nas pernas as labaredas do inferno. Mas protestantes e evangélicos também têm esse terror, por isso muitos seguem hipócritas e infelizes. 
      O segundo conhecimento é o que separa meninos de homens, amigos de Deus de religiosos, ele é o fim da hipocrisia e o início de uma jornada rumo ao Altíssimo, onde a intimidade do Senhor é conhecida. O verdadeiro conhecimento de Deus é vida e na vida há prática de amor e santidade que religião não pode dar porque é conhecimento de homem, ainda que sobre Deus. Hipocrisia é inevitável, mas escolher o que seremos depois de constatá-la não é. O que escolhemos ser: hipócritas que temem a religião ou amigos do Altíssimo? 

06/07/21

Não traia um amigo

      “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?Tiago 4.4-5

      Quando pecamos, principalmente aqueles pecados mais secretos, que na maioria das vezes ninguém fica sabendo e que diretamente não prejudica a ninguém a não ser a nós mesmos, traímos um amigo, e isso, sim, de maneira objetiva e profunda, qual amigo é esse? O Espírito Santo. Sempre reafirmamos aqui que Deus, o Esprito Santo e Jesus (esse após ressurreição e ascensão), são espíritos, não homens físicos, e possuem qualidade morais superiores às dos homens. Dessa forma o Espírito Santo não se machuca, não se ira, não se afasta, mas nós, seres humanos encarnados, temos a percepção, em nossas almas limitadas pelos corpos físicos, que traímos o Espírito Santo quanto pecamos. Nos sentimos machucados, frios, distantes, e podemos até achar, como até escritores bíblicos acharam, que é Deus quem está ressentido conosco. 
      Isso nem tem tanta importância, o importante é sabermos que pecado tem um preço e que precisamos pagar esse preço. O preço não é algum tipo de trabalho para nos dar crédito para recebermos perdão, não, perdão é gratuito e o temos no momento em que o pedimos, o preço é adquirirmos e mantermos nossa sensibilidade moral. Morte espiritual nada mais é que frieza, insensibilidade afetiva, moral e espiritual, e muitos, ainda que bons cidadãos e mesmo bons cristãos, estão mortos. Mortos não fazemos amizades positivas, a não ser ligações com pares, outros mortos, insensíveis, escarnecedores das virtudes, maliciosos que não acreditam no perdão e em perdoados porque não pedem mais perdão e seguem não perdoados. Mortos não se importam em “machucar” o melhor amigo que podemos ter, o Espírito Santo de Deus. 
      Muda bastante nossa relação com Deus quando entendemos que o pecado não é algo que nos torna filhos piores, maridos piores, religiosos piores, não só isso, mas amigos piores, e não de qualquer ser, de Deus. Amizade é superior à relação entre patrão e empregado, entre general e soldado, entre senhor e servo, porque ela é uma relação entre iguais. Não, não somos iguais a Deus, ainda bem, ele é muito superior, em amor, santidade, poder e fidelidade, mas o Espírito Santo se coloca como nosso amigo, sempre disponível para nos aconselhar e consolar, então, quando pecamos, ele está ao nosso lado, assistindo-nos pecar. Se não sentimos vergonha fazendo algo errado na frente de alguém que nos ama e zela pela nossa saúde moral, então, algo muito errado está acontecendo conosco. Sejamos sensíveis e não traiamos um amigo. 

05/07/21

Nós confiamos em Deus!

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus. Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé.Salmos 20.7-8

      O salmista usa o argumento confiar em carros e cavalos num contexto de guerra física, onde esses veículos e esses animais conferem poder armamentista contra inimigos físicos. De fato carruagens de guerra e cavalos eram os equipamentos que permitam velocidade e proteção em conflitos de mil e quinhentos anos atrás, tê-los em quantidade com homens peritos em usá-los podia definir a vitória numa guerra. Contudo, o salmista, ciente disso, diz que confiar em Deus é melhor que confiar em carros e cavalos, ser autorizado por Deus para uma guerra, tendo Deus ao seu lado, confere mais capacidade de vitória que outros recursos, mesmos os mais atuais e tecnológicos.
      E nós, hoje em dia, em que guerras estamos envolvidos, e se estamos, quais são os instrumentos que os homens confiam para serem vitoriosos nessas guerras? Somos como qualquer homem, ainda que crendo em Deus, confiamos nas forças materiais, nas capacidades e ferramentas que os olhos podem ver, que as mãos podem construir e usar, que a ciência entrega? Ou de fato sabemos que um Deus espiritual e invisível é mais poderoso que qualquer coisa ou ser no universo? Os que não confiam em Deus encurvam-se e caem, ainda que bem preparados e mesmo bem intencionados, mas os que fazem menção do nome do Senhor se levantam, permanecem de pé e são vitoriosos para a glória de Deus. 
      Pode ter certeza que o rei Davi ia a guerras com ótimos carros, cavalos e cavaleiros, ele não desprezava a tecnologia de seu tempo, da mesma maneira nós hoje temos que ser sábios e esforçados, trabalharmos com a ciência do lado. Contudo, ainda que fazendo a nossa parte e com muita diligência, confiando a vitória no nome do Senhor, não no que temos ou fazemos, mesmo fazendo o melhor e tendo tudo que nos é possível. Ninguém seja insensato com a realidade física, com estudo, com trabalho, com ciência, mas também não seja cético com o mundo espiritual. Cavalos, carros, computadores, dinheiro, estudo, ciência, determinação física, tudo isso passará, Deus é espírito e é para sempre. 

04/07/21

Carne e espírito (2/2)

      “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Atos 2.44-47

      Antes de seguirmos com a segunda parte da reflexão sobre carne e espírito, uma nota sobre a igreja primitiva de Atos. Muitos de nós, quando lemos o texto acima, pensamos achar o ideal máximo de vida cristã no mundo, concluindo os primeiros relatos do livro de Atos sobre a descida do Espírito Santo, a primeira pregação, os primeiros convertidos, enfim, a inauguração da igreja no mundo. Naquele momento, achar que uma vida comunitária, sem apegos materiais, dando prioridade ao espírito, fosse o final da vontade de Deus para os seus no mundo, podia ser algo até natural, afinal ninguém nasce adulto, passa-se por infância. O tempo registrado nos primeiros capítulos de Atos é justamente isso, a infância da igreja.
      Esse ideal, quase comunista, que recentemente provamos (anos 1960 e 1970), quando o movimento hippie de contracultura influenciou até o cristianismo, pode parecer um ápice espiritual cristão, mas é só infantilidade, parte de muitos equívocos que os primeiros cristãos tinham, incluindo a crença que a segunda vinda de Cristo era próxima (vede exortações de Paulo em II Tessalonicenses 2). Inocência tem seu tempo, mas mantida indefinidamente é prejudicial, todo o modo de vida descrito em Atos 2.44-47, principalmente as relações com bens materiais, não constitui caminho de espiritualidade mais alta para nós hoje, e crendo que é, seitas são criadas enganando muitos e alguns até à morte (vede Ramo Davidiano e Jim Jones).
      Existem dois tipos de meio termo entre os extremos da carne e do espírito, um é o das pessoas em conflito. Essas pessoas são materialistas, mas sentem-se culpadas por isso, o senso comum cristão as chama de carnais, mas elas podem até buscar espiritualidade em religião, ainda que experimentem constante guerra contra o pecado. Nesse meio termo se acha grande parte das pessoas atuais, gente que precisa viver a realidade, trabalhar para ganhar a vida, assim não podem se dar ao luxo de serem monges em retiro, e não são essa espécie de religioso simplesmente porque são pessoas normais e sadias, que querem ter relacionamentos afetivos, casarem-se, terem filhos, e nisso também, por si só, não há nada de errado. 
      O outro tipo de meio termo é o de pessoas equilibradas, que é o meio termo mais correto porque não nega a realidade deste mundo ao mesmo tempo que se prepara para a realidade do outro mundo. Alguns podem achar que é mais fácil ser espiritual se isolando, pode até ser, se isso for vontade de Deus, e a vontade de Deus para cada ser só Deus e o ser sabem, não podemos julgar ninguém. Contudo, se é difícil controlar certas coisas podendo usufruir delas, quanto mais tentando se abster totalmente delas, sendo mais claro, se é difícil, por exemplo, ao casado ser fiel, quanto mais ao solteiro. Mas a satisfação não está em ser solteiro ou ser casado, mas em estar em paz em Deus, e nisso é preciso equilíbrio entre corpo e alma. 
     Alimentar conflitos gasta energia, viver em guerra enfraquece ambos os lados, o segredo é deixar que dois lados distintos vivam, mas cada um no seu tempo e no seu lugar, sem que um lado guerreie contra o outro, mesmo porque em se tratando de corpo e espírito um lado só se livrará do outro após a morte. Ser guiado pelo espírito não é matar a carne, mas respeitá-la, e assim usar o corpo como templo do espírito, não como seu caixão mortuário. Um corpo debilitado não será instrumento eficiente para que o espírito brilhe, quanto mais vivo e mais limpo o corpo, mais forte é o fogo do espírito neste mundo. Viemos a este mundo justamente para achar o equilíbrio entre os dois princípios, não para que um anule o outro. 
      Neste mundo, a vitória do espírito não está na morte da carne, assim como a vitória da carne não está na morte do espírito, existem pessoas desenvolvendo espiritualidade, tendo comunhão com o mundo espiritual e ainda assim sendo pessoas carnais, por outro lado tem muitos tentando matar as inclinações da carne e ainda assim não sendo espirituais. Neste mundo, repito, a carne está no desequilíbrio, tanto pendendo para um como para outro extremo, o espírito não anula ninguém, convive com tudo em harmonia pois respeita o momento do homem encarnado. Cuidado com quem vive o tempo todo em igrejas tanto quanto com quem não sai de bares, esses estilos de vida podem ser aparentemente diferentes, mas são ambos prejudiciais. 

Leia na postagem de ontem 
a 1ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

03/07/21

Carne e espírito (1/2)

      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.Gálatas 5.16-18

      O ensino inicial de Paulo é correto, porém, pode ser mal interpretado, muitos entendem por ele que existe uma guerra, de igual por igual, entre os apetites do corpo e as virtudes espirituais, mas não é bem assim, não para quem tem alguma lucidez moral. O que ocorre não é bem uma batalha, mas a tentativa de dois sistemas distintos viverem ao mesmo tempo, o material e o espiritual, e neste mundo ambos possuem direitos de existirem. Deus foi cruel colocando na Terra sistemas antagônicos em um único ser? Não, não fez isso por crueldade, os desígnios divinos são bem mais altos, mas resumindo, esse é o único jeito que o ser humano tem para evoluir, tanto como organismos físicos, como espíritos eternos. 
      Algumas óticas religiosas propõem extremismos, a negação de todo desejo do corpo como único meio de atingir a espiritualidade mais alta, assim há monges e outros religiosos no hinduísmo, no budismo, no catolicismo, e mesmo em seitas evangélicas, onde castidade, regimes alimentares, jejuns constantes, exercícios físicos, abstinência de bens, uso de hábitos comuns ou mesmo de quase nenhuma roupa, enfim, o desligamento completo de vaidades para se ter vidas dedicadas exclusivamente a servir os necessitados, ou mais, viver em constante meditação, em exílio em locais retirados. Isso, contudo, não representa necessariamente a espiritualidade mais alta de Deus, pelo menos não é uma regra geral, para todos. 
      Os materialistas mais extremados, por sua vez, que não são aqueles que muitos cristãos chamam de carnais, já que não são seres humanos perdidos nos prazeres do corpo, ao contrário, podem ter vidas tão disciplinadas como as dos monges, não se ocupam em crer e conhecer aquilo que se refere à espiritualidade. Eles objetivam o mundo físico, a conservação do planeta, a boa qualidade de vida, suas causas estão em moda no mundo atual e constróem muito da agenda da chamada esquerda nova, e são esquerda mais por se oporem aos preconceitos e misticismos da tradição judaica-cristã que por serem marxistas ortodoxos. Eles têm como guia supremo a ciência, e nisso, em si, também nada tem de errado. 
      Se todos os seres humanos vivessem o ideal de espiritualidade que alguns creem ser o mais correto, o mundo não desenvolveria, os espaços não seriam povoados, a ciência, como consequência do crescimento populacional, não evoluiria para controlar o meio ambiente e produzir alimentos e outros recursos com mais eficiência. Isso é importante só para o corpo? Não, a preocupação da ciência em criar e manter um planeta melhor para as gerações futuras, faz com que avós e pais abençoem filhos e netos, já que isso cria condições para uma vida com menos preocupações com sobrevivência do corpo e injustiças sociais, o que permite sobrar tempo para ocupar-se com lazer, com artes e principalmente, com espiritualidade. 
      É importante que entendamos que o termo carne na Bíblia não se refere necessariamente ao corpo físico, apesar da inteligência moral e intelectual dos tempos bíblicos achar que se referia. Carne é tudo aquilo que nos afasta de um Deus Altíssimo que é puramente espiritual, assim os espíritos do mal, apesar de serem espirituais em suas constituições, são carnais em suas índoles. Já o homem neste mundo, ainda que encarnado, como Jesus foi, pode dar prioridade às virtudes morais superiores que o aproximam do Deus espiritual, e assim, ainda que num corpo físico, administrando necessidades físicas, ser espiritual. A carne não está necessariamente no corpo, nem a espiritualidade obrigatoriamente no espírito. 
      “Se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”, a lei é a primeira aliança que Deus fez com o homem através de Moisés, e ela é simples, quem obedece vive e quem não obedece morre, não necessariamente no corpo, mas no espírito, a segunda morte, visto colocar o ser distante de Deus. Mas quem consegue ser espiritual sozinho, sem a ajuda do Espírito Santo? Ninguém, por isso entendemos hoje que a lei evidencia a morte, mas não entrega vida. Temos vida por Jesus que nos dá de seu Espírito, esse nos atrai a Deus, se nos deixarmos ser guiados por ele, guia que se faz por uma voz mansa e clara em nossos corações, que nos conduz em vitória sobre a passageira carne e rumo à vida espiritual eterna. 

Leia na postagem de amanhã 
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

02/07/21

Paranoia, não! Sabedoria, sim

      “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios.Salmos 141.3

      Muitas vezes agimos por conveniência, achamos que algo é melhor só porque apoia nossas atitudes. O tímido, que fala menos, buscará em textos bíblicos, que aprovam falar pouco, aprovação para seu temperamento, já os falantes e que tomam iniciativa, acharão no ensino que incentiva a voluntariedade e a sinceridade aprovação para o seu jeito. Quem está certo? Quem obedece a Deus em cada assunto específico, não usando uma conveniência para se proteger, nem uma lei para agir sempre de um jeito sem se dar ao trabalho de buscar discernimento na razão e na oração
      Meu jeito natural de ser é falar muito e ser impulsivo, muitas vezes sem pensar muito antes, pago um preço caro por isso. O lado bom disso é que como sou rápido para tolices também o sou para obedecer a Deus, enfim, não sou insensível, mas tenho uma sensibilidade que precisa ser bem administrada. Nesse meu modo de ser tenho a tendência de achar que as coisas precisam ser ditas para serem resolvidas, que as bênçãos devem ser compartilhadas para que Deus receba o louvor, que a revelação, mesmo de problemas pessoais, pode ajudar outros com problemas semelhantes.
      Perdoe-me por ser pessoal nesta reflexão, mas se eu não fosse assim esse blog não existiria, e tomara que ele esteja abençoando de alguma forma alguém. Contudo, tenho mudado meu jeito nos últimos tempos, e eis o ponto deste texto, tenho entendido que é melhor falar menos, mesmo quando tenho razão ou que seja sobre uma coisa boa, e isso, não por qualquer tipo de paranoia, mas por sabedoria. O sábio não teme as trevas, por não poder ver onde está, ele está na luz, pode ver tudo com clareza e por isso toma cuidado com o que fala, faz e para onde anda, ele não tem malícia mas sabedoria. 
       Se para coisas ruins, erros, tropeços, é bem recomendado que depois de assumidos e perdoados fiquem só entre nós e Deus, já que as pessoas tendem a ter uma opinião fixa sobre nós, muitas vezes usando o nosso pior como referência, não acreditando que podemos mudar e para melhor, para coisas boas, bênçãos recebidas, vícios vencidos, também pode ser mais guardar segredo. Que os outros saibam quem somos por nossas ações no dia a dia, não por revelações verbais, entretanto, tem um motivo mais sério de porque é sábio mantermos certas coisas só entre nós e Deus. 
      “O cão é sujo”, você já deve ter ouvido essa frase, não gosto muito de usá-la pois não gosto de ficar pondo culpa de tudo no diabo, contudo, muitos seres, humanos e espirituais, podem fazer o papel do “cão”. O “diabo” em nossas vidas são todos os que se colocam como acusadores, julgadores e condenadores, e esses não veem nossa fé em Jesus e nossas boas obras no caminho da redenção, eles apenas querem achar motivos, sejam eles quais forem, para nos caluniar e prejudicar. Cuidado, paranoia não é sabedoria, não confundamos as coisas, mas que esse tipo de “diabo” existe, existe.
      Somos, contudo, vítimas de armadilhas que nós mesmos fazemos, na carência de querermos atenção, de recebermos aprovação das pessoas, de construirmos alianças, para não estarmos sozinhos e sermos parte de algo maior que nos proteja, podemos confiar em pessoas erradas, falar demais e entregarmos nossos tesouros a falsos amigos (veja sobre Ezequias em Isaías 39). Não tenho dúvida que se nossa intenção for pura e em Deus estamos livres e nada precisamos temer, mas estejamos vigilantes, nossa maior alegria é sermos agradáveis a Deus, ainda que ninguém saiba mais nada sobre nós. 

01/07/21

Quem cobra do homem não recebe de Deus

      “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.Mateus 6.1-2

      Não basta fazer o bem, é preciso esperar recompensa por isso só de Deus, não daquele para o qual se fez o bem. Quem faz o bem para alguém, mas depois cobra desse alguém o bem feito, não receberá recompensa de Deus, e pode até receber de homens, mas será um pagamento amargo, fruto do que se fez sem amor. Esse é o ensino contido no texto inicial, tenho certeza que você já sabe dele, mas dentro desse assunto gostaria de chamar a atenção para algo mais fundo, que muitas vezes acontece em nossas vidas e nós não nos damos conta. Ser espiritual é entender a vida no mundo como oportunidades para crescer, para ir além da obrigação, para ir além de nós mesmos, para servirmos o próximo e agradarmos a Deus.
      Isso requer sacrifícios, não com dor, mas com gratidão, numa satisfação madura e de fato espiritual, quem adquire essa alegria, mesmo numa situação de esforço a mais, cresce espiritualmente. Você já teve experiência de ter que fazer algo que sabia que não precisava fazer porque não era obrigação sua,  mas tinha que fazer porque uma terceira pessoa, que tinha obrigação de fazer, não estava fazendo? Em algo assim a gente acaba fazendo, mas se sentindo mal, dizendo que o outro é um folgado, que por não nos ajudar fez nossa cruz ser mais pesada. Quando isso ocorre, fazemos, mas podemos ficar aguardando o momento certo para nos vingarmos, para exigir da terceira pessoa nosso esforço a mais. 
      Que honra há em fazer algo que não nos custe nada? E se fazemos algo contrariados é, para nós, o mesmo que não fazer, ainda que outros sejam beneficiados. Contudo, num sacrifício feito com amor e humildade, encontramos uma honra que Deus quer nos dar, aproveitando uma oportunidade criada pelo Senhor em nossas vidas para crescermos. Se Deus quer nos dar uma honra é porque precisamos dela, isso nada tem a ver com quem desfruta do que fazemos, nem com o que deixou de nos ajudar a fazer, isso tem a ver conosco. Não somos melhores por ajudarmos um necessitado, nem por trabalharmos por um folgado, mas porque obedecemos a Deus, se é que para Deus e em Deus nós de fato vivemos e nos alegramos.