21/07/21

Se não der trabalho, não é amor real

      “E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento.Lucas 7.37-38

      Se não der trabalho cavarmos buracos profundos, retirando terra e pedras, a ponto de vermos nossas mãos sangrando, se não exigir busca persistente dentro de nós, de intenção sincera, de benignidade sem falsidade, de generosidade verdadeira, se não levar às lágrimas, não só nossos olhos, mas nossos corações, se não nos compungir e não conduzir nossos espíritos a irradiar a luz mais pura, se isso tudo não acontecer não é amor, contudo, se for amor não será abençoado só quem se ama, mas quem ama, e dessa experiência sairão pessoas melhores. Um coração partido por ter buscado o amor, é melhor que um coração inteiro, mas duro e cheio de dor, que nunca se deu ao trabalho de amar. Deixa o vaso se quebrar, só assim o óleo pode derramar…

20/07/21

Sigamos em frente!

      “O homem de grande indignação deve sofrer o dano; porque se tu o livrares ainda terás de tornar a fazê-lo. Ouve o conselho, e recebe a correção, para que no fim sejas sábio.Provérbios 19.19-20

      Algumas coisas não podem ser mudadas, não mais, assim só nos resta suportar suas consequências, humildes, calados, em paz, porque ainda que certos erros que cometemos não possam mais ser anulados, principalmente na cabeça de algumas pessoas, e legitimamente por irresponsabilidades nossas, ainda assim, se buscarmos a Deus e nele confiarmos ele nos perdoará e nos dará forças para seguirmos em paz, construindo coisas novas e tendo de outras pessoas o respeito e o afeto que precisamos para ser felizes até o final. Na humilhação fui formado, na humildade achei a paz, permaneci quebrantado, guardado e suprido pelo Pai. 

19/07/21

Não desistamos de amar…

       “Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, o meu próprio. E exultarão os meus rins, quando os teus lábios falarem coisas retas.Provérbios 23.15-16

     “Te procurei, aos prantos, para te amar, mas você se escondeu, dentro de você, só mostrou uma máscara dura e irônica, que eu sempre tive certeza que não era você. Aguardo pela eternidade, a iluminada eternidade espiritual, para a qual você será atraída, e então, no amor de Deus, poderei finalmente te ver e te abraçar, você de verdade, tua melhor versão, doce, feminina, delicada, tranquila, em paz, como toda alma livre e curada é, ainda que tenha se escondido por anos dentro da ilusão tóxica da matéria”. O que se entrega por amor achará os braços de Deus abertos para acolhê-lo, ainda que aquele pelo qual se entregou lhe feche o coração, não desistamos de amar. 

18/07/21

Corra até o final

      “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.I Coríntios 9.24-27

      O corredor, que já percorreu uma longa jornada, não para dez metros antes do final para apreciar a paisagem, para namorar, para fazer um lanche, para descansar. Não, ainda que esteja cansado, tirará de dentro de si as últimas forças, o último suspiro, esquecerá das dores nas pernas e pés, mesmo da sede, e terminará a corrida, afinal, falta-lhe tão pouco. Esta palavra é para todos, jovens, maduros, velhos, que estão lutando por algo, que estão se esforçando para alcançar um objetivo, superando limites próprios assim como tantas adversidades dos homens e do mundo. 
      Não desista nunca, se é algo bom, digno, justo, se há paz e a ninguém prejudica, é de Deus, seja um diploma, um emprego, uma promoção, um casamento, e principalmente a libertação de um vício. Mas se os que estão iniciando não devem desistir, mais ainda os mais velhos, principalmente em suas caminhadas espirituais com Deus. Quando a paixão passa, quando o corpo cansa, ainda temos o Espírito Santo, e ele sempre renova nosso espírito, esse não precisa envelhecer, ao contrário, pode tornar-se mais vivo e mais iluminado à medida que conhece e obedece a Deus.
      Aquele que persiste em Deus, quando parece que não tem mais forças, descobrirá não o fim, mas um novo começo, mas repito, experimentará isso se persistir em Deus. O que faz o “milagre” (e veja que coloquei a palavra entre aspas) não é a matéria, a persistência humana, mesmo a boa intenção, mas o Espírito de Deus, é ele que nos leva em direção ao altíssimo, numa jornada espiritual, que independe das forças do corpo físico. O trabalho do homem é descobrir como dar liberdade a esse Espírito, ainda vivendo em sua existência no mundo aprisionado a um corpo.
      O milagre é o homem descobrir isso, não o que ele pode fazer depois que descobre, o milagre é a causa, não o efeito, é a fé, não o mover da montanha, é a fonte, não a água, é a água, não o vaso, é o vaso, não a mão. O milagre desconstrói o óbvio e surpreende, só corre até o final o que aprende a se surpreender, a desacreditar, não para se perder, mas para se achar. Deus se agrada dos que descansando nele se inquietam, não para produzirem ansiedade e consequente fuga em prazeres do corpo, mas para conhecerem mais a ele em espírito e em verdade, eis o final da corrida. 
      Muitos desistem quase no final porque depois de passarem a vida tentando mover montanhas se esgotam, fazem de tudo para achar fé para isso, mas não entendem que quem tem fé não precisa mover montanhas. Para que mover montanhas? Para provar a si mesmo que tem fé, ou pior, para mostrar para os outros que tem? Quem acha a fé maior lhe bastará o mínimo neste mundo para estar em paz, não se preocupará com aparências e conhecerá mais a Deus. Quem assim procede não precisa de milagres, já provou o maior deles, esse terá forças para finalizar a corrida. 

17/07/21

A quem temerei?

      “Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria. Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e inquirir no seu templo. Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; por-me-á sobre uma rocha.Salmos 27.3-5

      É difícil fazer uma seleção de textos bíblicos favoritos que não contenha muitas passagens de Salmos. Davi e os outros salmistas fizeram registros formidáveis nesse livro, quando arte musical e poética se misturam com intimidade espiritual com o Senhor pedras preciosas são criadas, palavras simples e atemporais que falam diretamente aos nossos corações, sem perder tempo em nossos raciocínios. De um salmo que contém textos memoráveis como “o Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?” (v.1a) e “quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá” (v.10), separei os três versículos iniciais para uma reflexão.
      O salmista começa o texto inicial falando sobre a realidade de seu tempo e sobre um perigo de seu tempo, mais difíceis de serem experimentados hoje por pessoas que vivem em países civilizados, ele fala sobre o risco de vida que se tem em meio a uma guerra. “Ainda que um exército me cercasse”, mas mesmo que não provemos isso de maneira física, com certeza provamos na área emocional. Quantas vezes não nos sentimos cercados e sozinhos, ainda que no ambiente profissional, acadêmico ou mesmo numa reunião familiar? Para muitos dos homens do mundo moderno a guerra não é física, mas psicológica, ainda que a nossa percepção seja semelhante. 
      O salmista diz “ainda que a guerra se levantasse contra mim”, podemos não estar numa guerra física, mas nossa alma sente-se assim frequentemente, com inimigos nos atacando por todos os lados. A vitória que o salmista experimentou nós também podemos experimentar, ainda que nosso inimigo não seja exterior, e nossas cabeças podem imaginar, criar, alimentar opositores tão ou até mais fortes que os que existem no mundo exterior. Mas o que importa, se nos sentimos mal, o mal existe e precisa ser vencido. O salmista segue em sua visão, mas se lermos sem nos atermos acharemos que o que ele pede nada tem a ver com exércitos, inimigos e guerra.
      “Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei, que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida”, o que tem a ver a casa do Senhor com guerra? O que exatamente é a casa do Senhor? O refúgio da guerra, a proteção contra os inimigos o salmista diz achar na casa do Senhor, mas será que essa casa era o templo de Jerusalém? Davi podia fugir dos inimigos, esconder-se para sempre no templo e vencer a batalha? Não, a casa do Senhor que o salmista se refere não é o templo, mas a presença íntima e alta de Deus, que se alcança com oração e consagração. O salmista podia até ir ao templo, mas para orar, não para se proteger dentro da construção física desse.
      Se para uma guerra física, com espadas, lanças e flechas materiais, o salmista achava proteção na presença de Deus, quanto mais nós hoje, seres de um tempo onde a vida é muito mais mental que material, psicológica que física. Paulo disse que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6.12). Contra esses inimigos não se luta com metralhadora, mas com vida de oração, por ela entramos na casa do Senhor, “para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu templo”. 
      “No dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão no oculto do seu tabernáculo me esconderá, por-me-á sobre uma rocha”, ah, os mistérios escondidos nessas palavras. O refúgio não está fora de nós, mas dentro, não está nos homens, em políticos que se dizem do lado dos cristãos, em igrejas fortes, em pastores carismáticos, em alianças com religião, o refúgio maior é espiritual, acessamos com vida de oração que alcança as regiões celestiais mais altas em Cristo. Quem se esconde nesse tabernáculo protege-se de todos, sejam inimigos desse mundo, sejam do outro, quem posiciona o espírito no Altíssimo tem os pés numa rocha e não temerá ninguém. 
      Quantas vezes andamos trôpegos, com a cabeça pesada, instalando doenças que depois darão trabalho para curar (quando conseguimos curar), porque não paramos e contemplamos a formosura do Senhor. Quem tem um encontro com Deus sai apaixonado. “Ver” a Deus não só nos limpa moralmente, nos dá uma paz singular, mas nos oferece uma experiência estética prazeirosa. Além de tudo, Deus é lindo, sim, meus queridos, a sabedoria do Senhor, sua emanação de luz, é linda, mais que qualquer coisa ou ser do universo, a beleza de Deus faz todo o resto menor, dores e amores, passado e futuro, ficam menos importantes. Quem se apaixona por Deus nada teme. 

16/07/21

Cuidado ou descuidado?

      “Nos muitos cuidados que dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma.Salmos 94.19

      Se há remorso demais, houve cuidado de menos, a culpa segue a falta de vigilância, quem abre o coração para qualquer um estará sempre só em busca de companhia. Quem anda sem sabedoria, achando que pode tudo e sempre, não perceberá a cilada, não verá a vala, cairá e nem saberá onde. Os fracos devem se fortalecer em Deus e não no espelho, os sensíveis devem ter mais respeito com a sensibilidade alheia, senão não será sensibilidade, mas melindre. Os que se machucam com facilidade devem machucar menos os outros, os que gostam de falar devem estar preparados para ouvir bastante. 
      Como medimos, somos medidos, o que damos, recebemos, o que buscamos, achamos. Quem fala e gosta de qualquer jeito ouvirá o que não quer e se aliará a falsos. No cuidado persistente há paz e graça, mas cuidado não só de si, também dos outros. Proteger as pessoas de nós mesmos é responsabilidade nossa, não dos outros. Se todos pensam nos outros ninguém é esquecido. Quem quer ter razão sempre não vê a razão óbvia do outro. Se duvidamos de tudo que seja também de nossas dúvidas, certo sempre só Deus. Quem descuida de si para cuidar do outro é cuidado pela providência. 

15/07/21

O jovem e o velho

      “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuvaEclesiastes 12.1-2

      O jovem pode mas não sabe, o velho sabe mas não pode, ditado antigo sobre o antagonismo que existe entre a força física e força moral. Quantos de nós, mais velhos, já pensamos, “ah, se eu tivesse a vitalidade da juventude com a cabeça que tenho hoje”, e não é só para desfrutar de prazeres físicos, mas para fazer escolhas melhores em muitas áreas. Nesta curta passagem neste mundo, presos a corpos materiais, força física e força moral parecem ser mutuamente exclusivas, não se consegue ter as duas simultaneamente, mas isso tem um objetivo, nossa vida aqui deve nos preparar para a vida além.
      Morrer neste mundo nos permite nascer para o outro, envelhecer é o fim de um momento e o início de outro, muito mais duradouro. Por isso a providência divina leva-nos a nos libertarmos da matéria e priorizarmos o espírito, diminuindo nossa força física e nos fazendo focar na moral. Queremos forças para sermos livres, mas qual é a liberdade melhor, a do corpo, a da alma ou a do espírito? O certo é que o liberto espiritualmente o é mesmo tendo o corpo aprisionado, envelhecido, limitado, o velho que anda com Deus sabe e pode, porque sabe o melhor da vida, não a vida deste mundo, a eterna.