sábado, julho 17, 2021

A quem temerei?

      “Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria. Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e inquirir no seu templo. Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; por-me-á sobre uma rocha.Salmos 27.3-5

      É difícil fazer uma seleção de textos bíblicos favoritos que não contenha muitas passagens de Salmos. Davi e os outros salmistas fizeram registros formidáveis nesse livro, quando arte musical e poética se misturam com intimidade espiritual com o Senhor pedras preciosas são criadas, palavras simples e atemporais que falam diretamente aos nossos corações, sem perder tempo em nossos raciocínios. De um salmo que contém textos memoráveis como “o Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?” (v.1a) e “quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá” (v.10), separei os três versículos iniciais para uma reflexão.
      O salmista começa o texto inicial falando sobre a realidade de seu tempo e sobre um perigo de seu tempo, mais difíceis de serem experimentados hoje por pessoas que vivem em países civilizados, ele fala sobre o risco de vida que se tem em meio a uma guerra. “Ainda que um exército me cercasse”, mas mesmo que não provemos isso de maneira física, com certeza provamos na área emocional. Quantas vezes não nos sentimos cercados e sozinhos, ainda que no ambiente profissional, acadêmico ou mesmo numa reunião familiar? Para muitos dos homens do mundo moderno a guerra não é física, mas psicológica, ainda que a nossa percepção seja semelhante. 
      O salmista diz “ainda que a guerra se levantasse contra mim”, podemos não estar numa guerra física, mas nossa alma sente-se assim frequentemente, com inimigos nos atacando por todos os lados. A vitória que o salmista experimentou nós também podemos experimentar, ainda que nosso inimigo não seja exterior, e nossas cabeças podem imaginar, criar, alimentar opositores tão ou até mais fortes que os que existem no mundo exterior. Mas o que importa, se nos sentimos mal, o mal existe e precisa ser vencido. O salmista segue em sua visão, mas se lermos sem nos atermos acharemos que o que ele pede nada tem a ver com exércitos, inimigos e guerra.
      “Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei, que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida”, o que tem a ver a casa do Senhor com guerra? O que exatamente é a casa do Senhor? O refúgio da guerra, a proteção contra os inimigos o salmista diz achar na casa do Senhor, mas será que essa casa era o templo de Jerusalém? Davi podia fugir dos inimigos, esconder-se para sempre no templo e vencer a batalha? Não, a casa do Senhor que o salmista se refere não é o templo, mas a presença íntima e alta de Deus, que se alcança com oração e consagração. O salmista podia até ir ao templo, mas para orar, não para se proteger dentro da construção física desse.
      Se para uma guerra física, com espadas, lanças e flechas materiais, o salmista achava proteção na presença de Deus, quanto mais nós hoje, seres de um tempo onde a vida é muito mais mental que material, psicológica que física. Paulo disse que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6.12). Contra esses inimigos não se luta com metralhadora, mas com vida de oração, por ela entramos na casa do Senhor, “para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu templo”. 
      “No dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão no oculto do seu tabernáculo me esconderá, por-me-á sobre uma rocha”, ah, os mistérios escondidos nessas palavras. O refúgio não está fora de nós, mas dentro, não está nos homens, em políticos que se dizem do lado dos cristãos, em igrejas fortes, em pastores carismáticos, em alianças com religião, o refúgio maior é espiritual, acessamos com vida de oração que alcança as regiões celestiais mais altas em Cristo. Quem se esconde nesse tabernáculo protege-se de todos, sejam inimigos desse mundo, sejam do outro, quem posiciona o espírito no Altíssimo tem os pés numa rocha e não temerá ninguém. 
      Quantas vezes andamos trôpegos, com a cabeça pesada, instalando doenças que depois darão trabalho para curar (quando conseguimos curar), porque não paramos e contemplamos a formosura do Senhor. Quem tem um encontro com Deus sai apaixonado. “Ver” a Deus não só nos limpa moralmente, nos dá uma paz singular, mas nos oferece uma experiência estética prazeirosa. Além de tudo, Deus é lindo, sim, meus queridos, a sabedoria do Senhor, sua emanação de luz, é linda, mais que qualquer coisa ou ser do universo, a beleza de Deus faz todo o resto menor, dores e amores, passado e futuro, ficam menos importantes. Quem se apaixona por Deus nada teme. 

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