14/08/21

Você sabe que olhos tem?

      “Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja.I Coríntios 14.12

      Vivemos neste mundo avaliando tudo, trabalhando, ganhando, perdendo, amando e desgostando, juntando e separando, tudo sob o ponto de vista desse mundo. Pudera, estamos presos a corpos físicos que nos limitam, mas nossos espíritos eternos estão dentro deles e pelo Espírito Santo de Deus podemos dar a eles alguma liberdade, de forma a podermos ver as coisas sob os olhos mais precisos da eternidade. Você sabe que tem olhos espirituais? Você os usa? O texto inicial, assim como a passagem bíblica da qual ele faz parte, muitos ignoram, promovem o mal uso da exceção e negam o bom uso da regra, mas uma crítica a isso não é o ponto dessa reflexão. O ponto é acordarmos para a realidade dos “olhos espirituais” que todos nós temos.
      Nossos pés morais são nossos olhos e nossos ouvidos físicos, são eles a entrada do mundo para nossas mentes, que depois decidem se vão ativar o resto de nossos corpos para reagir. Nossos olhos e nossos ouvidos espirituais são os dons do Espírito, e eles são mais abrangentes que o que Paulo descreve em sua primeira epístola aos coríntios, não que Paulo não soubesse mais, mas registrou de uma forma didática, para abençoar a todos, não só “especialistas”. Algo que precisamos entender é que encarnados somos limitados para interagir com o mundo espiritual, assim, toda comunicação que experimentamos é uma aproximação, interpretamos com faculdades físicas conhecimentos espirituais, são planos distintos tentando se comunicar. 
      O mundo espiritual não usa palavras, línguas nacionais, dialetos ou qualquer outro tipo de protocolo de comunicação, assim quando sentimos algo de Deus a mesma coisa pode ser sentida por outra pessoa, de outra nacionalidade e mesmo de outra religião. As interpretações são as mesmas? Sim, porque a fonte e a intenção dessa são as mesmas, mas os receptores são diferentes, assim, a maneira como descrevemos essa comunicação pode variar, não só na qualidade intelectual, como também na moral. Se Deus fala a uma criança que ela deve amar o próximo ela interpretará isso de maneira diferente da maneira que um adulto vai interpretar. Diferenças também podem haver entre as interpretações de um adulto sadio e de um sociopata. 
      Todos temos sentidos espirituais para estabelecermos uma comunicação com o mundo espiritual, seja com espíritos malignos, seja com Deus, mas nos comunicarmos com mais facilidade depende de intimidade, do tempo que usamos para aperfeiçoar nossa ligação com o plano espiritual. O amigo entende até o olhar silencioso de um amigo, visto a intimidade que ambos compartilham. Contudo, como tudo na interação com o mundo espiritual, dialogar com o plano espiritual implica em mente e fé. Com o mundo espiritual nos comunicamos através dos pensamentos, indiferente se esses são verbalizados ou não por sons. Por outro lado, dialogar com algo que nossos olhos físicos não veem e nossos ouvidos físicos não ouvem implica em crer.
      Nossa mente é poderosa e por isso deve ser usada com sabedoria, ela pode se comunicar com Deus, também com espíritos malignos, mas também pode simplesmente imaginar, criar entidades mentais que a princípio nem existem, e isso não é dom do espírito, é transtorno mental. Eu disse “a princípio não existem” porque quando não há Deus pode haver espaço para espíritos mistificadores, usando imaginação equivocada humana para “aparecerem”. A magia, o ocultismo e outros esoterismos, permitem ao homem comunicação com espíritos enganadores através de imagens mentais do homem, construídas em séculos de maldade, medo e engano. Assim, precisamos provar e aprovar para saber se nossa comunicação mental é com Deus.
      A prova é simples: paz e bons frutos, uma experiência com o Deus verdadeiro sempre deixa essas duas coisas em nossas vidas. Se não há paz verdadeira e que fica e se nossa vida não melhorou de qualidade moral, podemos estar em comunhão com loucuras ou com demônios, que é a mesma coisa no final das contas. Você sabe que sentidos tem? Tem olhos e ouvidos espirituais, aprimore-os com vida de oração e com experiência com os dons espirituais, que tem como consequência uma vida de humildade, de amor fraterno e de santidade que quer agradar a Deus nos detalhes e numa paz que nos protege do mal. Você tem olhos espirituais, use-os, apesar de viver no mundo sua vida só será completa enxergando o que Deus quer te mostrar. 

13/08/21

Você sabe que vida tem?

      “Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz.Salmos 36.9 

      Algumas pessoas têm vidas abençoadas e não sabem, dessa forma, ainda que possuam tudo o que precisam e até beneficiem muita gente, são infelizes e tornam outras pessoas também infelizes. Elas têm boa saúde, são motivadas, trabalham bem e sempre, são cidadãs produtivas na sociedade, em suas famílias, na igreja, não são escravas de grandes vícios, mas ainda assim estão insatisfeitas, nunca têm e vivem o suficiente, sempre parece que lhes falta algo. Quem foge da luz de Deus nunca verá a si e a tudo o mais com clareza, sempre estará perturbado. 
      Que expectativas temos da vida, o que de fato queremos, o que achamos que se conquistarmos nos fará de fato felizes? Será que precisamos mesmo de certas coisas? E outras coisas, que achamos que nos são necessárias para tirar de nossas costas certos pesos, será que seríamos felizes sem essas obrigações? Será que certas coisas que queremos nos livrar, para poder fazer outras, que achamos mais importantes, mais úteis, não constituem de fato nossa missão principal neste mundo e as outras coisas são só ilusões, vaidades? Complicamos demais a vida. 
      Se as pessoas, muitas delas, soubessem de fato o que vai importar no plano espiritual, um segundo depois que seus corpos físicos pararem de funcionar e seus espíritos estiverem livres de tempo, espaço e matéria na eternidade. Se muitos de nós pudéssemos entender a pequeneza de nossas expectativas, de nossos desejos aqui neste mundo, o quão desnecessárias são tantas coisas. Se por um instante pudéssemos ver a nós mesmos e ao universo com olhos realmente espirituais, e isso é possível, se nos colocarmos em íntima comunhão com o Santo Espírito. 
      Pouco precisamos de fato para sermos felizes, se não nos incomodarmos com o que outras pessoas, principalmente aquelas com referências materiais da existência, pensam de nós. O ponto é esse, vivermos para Deus, não para os homens. Se fizermos isso seremos indigentes sem honra e sem bens, nossas famílias passarão necessidades? Não, ao contrário, poderemos ter até mais, e na verdade sempre têm mais os que se satisfazem com o suficiente, para esses sempre sobra, eles sempre são felizes e fazem os outros felizes. Na luz de Deus vemos as coisas como são. 

12/08/21

Você sabe quem te escolheu?

      “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.João 15.16-18

- três versículos, cinco lições: chamada, frutos, oração respondida, amor e perseguição 

      O evangelho nos ensina coisas importantes sobre nossa relação com Deus e a razão de nossas existências, a primeira delas é que Deus nos escolhe, não nós a ele. Se você é atraído à presença do Altíssimo e isso te enche de desejo de orar, se sente uma satisfação singular estando em comunhão com Deus, saiba que isso não é mérito seu. Nós podemos dizer sim para Deus, mas ele nos chama antes, se não o fizesse nem nossa melhor intenção e nossos esforços mais sinceros nos dariam direito à sua presença. 
      A segunda coisa é que a chamada de Deus tem um objetivo, fazer de nós seres frutíferos do bem, da luz e da paz. Se existe chamada de Deus e obediência de nossa parte, podemos dar frutos, e serão os melhores que podemos dar. Se estamos fazendo algo, por melhor que seja nossa intenção e mais sinceros nossos esforços, e não estamos dando frutos que permanecem, é porque não estamos fazendo o que Deus nos escolheu para fazer, e não nos iludamos com falsos frutos ou com equivocadas intenções. 
      A terceira coisa é que após as duas coisas anteriores serem vivenciadas há uma promessa: tudo que pedimos Deus nos concede. Sim! Tudo! Mas quem é chamado por Deus, quem tem consciência disso e obedece à chamada genuína do Senhor, sabe o que pedir, e nada é negado a quem pede corretamente. Infelizmente muitos, argumentando simplesmente fé, põem a carroça na frente dos cavalos, não obedecem a chamada que Deus lhes escolheu para exercer e pedem aquilo que Deus não pode lhes dar. 
      A quarta coisa é a mais importante, como intenção nossa, como vontade de Deus e como nossos frutos: amar os outros. Tudo começa nisso, processa-se nisso e nisso termina. Deus é amor e conhecê-lo é conhecer o verdadeiro amor para, então, amar. Na eternidade não haverá nenhuma outra obrigação, senão amar, com um amor ativo que ajuda, aconselha, toma a iniciativa, constrói e conduz ao Altíssimo. Ninguém se engane achando que o céu é lugar só de contemplação e descanso, amar é trabalho que não cessa. 
      A quinta e última coisa que o evangelho nos ensina é uma atenção: quem vivenciar às quatro coisas até aqui descritas, chamada, frutos, oração respondida e amor, não será entendido e honrado pelo mundo. O mundo perseguiu e matou a Jesus que viveu tudo de forma correta, por que seria diferente com quem quer seguir em seus passos? Estejamos cientes e preparados, quanto mais nos aproximarmos de Deus e o obedecermos, mais seremos perseguidos, e muitas vezes por próximos a nós, parentes e religiosos.  
      O texto inicial é mais uma das maravilhosas passagens que só a Bíblia tem, em poucas palavras tanta sabedoria, cinco conceitos que todos nós temos e podemos viver, que mostram o melhor caminho a seguir para agradarmos a Deus, amarmos o próximo e termos vidas dignas no mundo. Contudo, não podemos escolher só um deles para viver, ou pegar quatro e deixar um de fora, para sermos aprovados em nossas provações neste mundo todos têm que ser vividos e até o final, quando, então, reinaremos com Cristo. 

11/08/21

Você sabe a paz que tem?

      “Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face e Deus meu.Salmos 43.5

      Quer vencer a ansiedade e ser paciente? Aprenda a vivenciar a paz em todo o tempo, a guardá-la dentro de si como seu bem mais precioso. Impossível ser paciente, ter controle sobre culpas e medos que insistem em retornar às nossas almas, mesmo depois de racionalizações e de perdões serem provados, sem termos paz, a paz que é a virtude efeito de todas as outras virtudes. Vivermos na luz de Deus e sermos atraídos e envolvido pelo amor de Deus, nosso objetivo maior como seres espirituais eternos, para quê? Para estarmos em paz com Deus, experiência que tem como efeito estarmos em paz com nós mesmos, com os outros, assim como conseguirmos praticar a santidade moral que agrada ao Senhor e que nos aproxima dele. 
      Em muitos momentos de nossas vidas a paciência parece não ser relevante, estamos tão excitados com relações e profissões, mesmo servindo à religião (serviço que Deus em sua misericórdia pode até usar), que achamos que não precisamos ser pacientes. Contudo, com o tempo e esse tempo chega para todos, impaciência começa a doer, e pode mesmo instalar doenças físicas e emocionais, mas é só na velhice que a falta de paciência pode nos prejudicar mais. No fim de nossas vidas não fazemos mais tantas coisas, pelos próprios limites físicos que temos, e podemos até estar usufruindo alguma prosperidade, contudo, se não estivermos em paz não teremos paciência e sem ela não seremos felizes nem conseguiremos amar. 
      Só entende a importância da paciência quem desvincula paz de poder, e isso é difícil para cristãos que consideram prosperidade no mundo seu objetivo principal de vida, achando que têm acesso pela fê ao poder de Deus para conseguirem isso. O que rouba a paz são expectativas de poder, quaisquer que sejam elas. Esperança não é ansiedade, quem espera do jeito certo não adianta o tempo em sua alma, não quer poder, e todo poder é vaidade, mesmo o espiritual. A esperança descansa no tempo de Deus, prova o benefício do que espera antes de acontecer no plano fisico. Isso é viver a vida sob o ponto de vista espiritual, não material, de Deus, não do homem, é construir o céu dentro de si hoje para que se manifeste depois.
      Entregamos algo nas mãos de Deus? Cremos que ele pode fazer? Não importa se fará hoje ou amanhã, tenhamos paz. A paz autorizada por Deus se tem direito acertando vida moral, pedindo perdão, perdoando e praticando boas obras, contudo, para que esse direito legal se realize em nossas mentes e em nossos corações pode ser necessário algum trabalho espiritual. Nosso corpo, pensamentos e sentimentos, precisam aprender a reter a paz, o que nos ajuda nisso é vida de oração e adoração a Deus, é prática de dons espirituais. Qualquer espécie de prática emocional de relaxamento só administra efeitos, não anula causas, a causa é moral na essência espiritual do homem, assim a paz começa e termina espiritualmente em Deus. 
      Conseguimos reter a paz quando descansamos em Deus, mas repito, isso não é feito só com força de vontade e boa intenção, é feito sintonizando-se o Espírito Santo e se colocando nele. Já tentei outras vezes descrever esse processo aqui no “Como o ar que respiro”, mas sempre encontro dificuldades para achar as palavras, mistério não se explica, não se cria uma fórmula para experimentá-lo, pode-se até compartilhar o efeito dele, a paz singular que ele deixa, mas achá-lo é busca pessoal. Só posso dizer que paz e entender mistérios espirituais são possíveis, ao que busca do jeito certo, para os fins certos a partir de uma chamada genuína de Deus para isso. Quem quiser e estiver preparado entenderá os mistérios e achará a paz. 
      Tem gente que prova uma certa “paz”, depois que desabafa, depois que diz tudo o que pensa e sente das pessoas e para as pessoas, por incrível que pareça tem gente assim que dorme bem à noite, segura por se achar certa, bem, isso pelo menos é o que certas pessoas demonstram na maior parte do tempo aos outros. Mas será que essa gente tem a paz que resisti à morte e que conduz à melhor eternidade com Deus? Temo que muitas pessoas que se consideram cem por cento corretas e que dormem bem à noite enfrentarão um inferno, que já existe dentro delas, mas que elas escondem bem. Não existe paz sem paciência e paciência só se prova com amor, que não retém o mal nem o lança sobre o outro, mas que o anula na paz de Deus. 

10/08/21

Sem cobranças

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.Mateus 5.6-7

      Algo que tenho procurado levar muito a sério nestes últimos anos de minha vida, é conviver com as pessoas sem cobrá-las. Confesso que durante muito tempo eu cobrei muita gente, principalmente parentes próximos, cobrei atenção, reconhecimento, justiça, afeto. Talvez tenha cobrado tanto do homem porque ainda não estava satisfeito em Deus, o certo é que à medida que minha paz em Deus aumentou, a importância das pessoas diminuiu. Se o que estava errado deixou de ter lugar em minha alma, o que sempre será certo pôde ocupar seu espaço de relevância, minha comunhão com Deus e minha aliança de amor com pessoas que realmente importam para mim e das quais nada preciso cobrar. 
      A cobrança é algo ruim, para quem é cobrado e para quem cobra, cria uma relação baseada em qualquer coisa, mas que nada tem a ver com amor. Amor não cobra, oferece, não exige, dá, não manda ou submete, mas serve e é humilde. Quem cobra o faz com uma desculpa muito forte, se acha no direito de cobrar, cobra porque acha que pode, e pode porque é superior de alguma maneira, ainda que por se achar mais vítima, mais explorado, mais injustiçado. Mas a verdade é que o que cobra se coloca no papel de vítima, de juiz e de polícia, ao mesmo tempo, assim, apesar de dizer que cobra porque foi lesado, porque está no direito de vítima, se coloca como deus, que pode julgar e fazer justiça com as próprias mãos. 
      Alguns acham identidade como vítimas, isso não é bom, é mais passivo mas acaba prejudicando só a própria pessoa, contudo, os que se postam como juízes prejudicam os outros, fazem de vidas alheias verdadeiros infernos. Se eles se acham lesados de alguma forma, acham na cobrança a vingança, para não deixarem que os outros sejam felizes, ainda que os outros nada ou pouco tenham a ver com seus problemas. Vemos “cobradores” desempenhando funções importantes na sociedade, a cobrança que se iniciou sobre pai, mãe, irmãos, cônjuges, se transfere para patrões, pastores e mesmo para líderes políticos. Enfim, a posição equivocada de “cobrador de justiça” cresce enquanto não é bem resolvida.
      Os carentes de justiça serão saciados, não precisam se pôr na posição equivocada de “cobradores”, mas mais que isso, os que confiam na justiça de Deus não são justiceiros, mas misericordiosos, e os que exercem misericórdia, misericórdia acham. Eis a chave da questão, quem é humilde sabe que necessita de misericórdia tanto quanto os outros, sabe o quanto dói ser cobrado, por isso não cobra. Não cobre os outros, nem que eles não te cobrem, esteja em paz com Deus e confie no tempo, toda voz altiva, que se levanta contra pecadores arrependidos que se esconderam atrás da cruz de Cristo, será silenciada. Nesse momento os humildes estarão lá, ainda humildes, e cheios de amor para acolher os “cobradores”.   

09/08/21

Livre para ser escravo?

      “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.João 17.20-23

      Liberdade é algo essencial no ser humano, e nas últimas gerações as pessoas têm conseguido entender isso, assumir isso, lutar por isso, em muitas instâncias. Ter comunhão com Deus, apesar de ser uma necessidade que também faz parte da essência espiritual dos homens, está debaixo do livre arbítrio humano, assim creem, conhecem e obedecem a Deus os que querem. As pessoas não querem a Deus por motivos diferentes, mas o principal motivo que as leva a isso é julgarem algo sem conhecê-lo de fato, e muitas julgam baseadas em mentiras que as próprias religiões, que se dizem embaixadoras de Deus, propagam. Como na maior parte das vezes, as religiões buscam controle pela ignorância e não liberdade pelo conhecimento. O homem, não se dando ao trabalho de buscar Deus com liberdade, simplesmente assumindo que Deus é aquilo que as religiões dizem que é, ou seja, controle humano pela ignorância, não quer esse Deus. Quem quer algo que o escraviza? Só alienados. 
      Sem Deus as pessoas até desejarão ser livres, e até conseguirão libertarem-se com as próprias forças de muitas coisas, mas acabarão no caos e consequentemente escravas dele. Caos é trevas e trevas é inferno, nele há liberdade, mas não há o melhor de Deus, os que querem liberdade sem Deus acabam no vazio sem ordem. Só com Deus e em Deus as pessoas podem realmente ser livres, e serão livres para quê? Para fazerem a melhor das escolhas, aquela para as quais seus seres eternos foram originalmente criados: estarem em comunhão com Deus, o que o cristianismo tradicional chama de “servir” a Deus. Mas isso não é bem verdade, Deus não procura servos, escravos, nem soldados ou empregados, mas amigos, sócios, colaboradores, que ainda que reconheçam e respeitem a grandiosidade dele e queiram obedecê-lo e agradá-lo, serão parte dele, não pedaços menores submetidos. Foi isso que Jesus quis dizer no texto bíblico inicial com como eu e o pai somos um todos devem ser um em mim.  
      No mundo material temos dificuldade para entender essa interação espiritual dos seres com Deus, é mais fácil entendermos os conceitos “patrão e empregados”, “dono e escravos”, “general e soldados”, mesmo o bíblico “pastor e ovelhas” A Bíblia foi registrada sob esses conceitos e Deus usou esses conceitos para revelar ao homem sua vontade, Deus sempre usa o que os homens disponibilizam para ele, ele pinta o quadro com pincéis, tintas e tela que o ser humano fornece. De outra forma seu amor não teria como iluminar seres ainda em trevas espirituais, em ignorância intelectual, com limitações morais. Mas mesmo essas limitações não impediram Deus, o pai, de revelar aos seres humanos a Jesus, o filho, o mais poderoso mistério divino para religar o homem a seu criador. Em comunhão com Deus por Jesus, ainda que a maioria de nós não entenda bem quem é Deus e o que ele quer de nós, podemos ser parte do céu, o melhor do Altíssimo, o objetivo maior que todas as criaturas devem atingir.

08/08/21

Muitas mortes, uma vida (2/2)

      “E Jesus lhes respondeu, dizendo: E chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna.João 12.23-25

      A existência no plano físico tende à morte o tempo todo, morremos e ressuscitamos constantemente, o final será só uma morte sem ressurreição, pelo menos no corpo material. Podemos aprender sobre a vida eterna morrendo e morte nunca é gostosa, sem dor, morte é perda de referências e para se viver novamente outras referências terão que ser estabelecidas. Mas só morre quem conclui que a existência que tinha até então não era a melhor, assim só se renasce com novas e melhores referências quem antes morreu, quem não morre não renasce e não melhora, continua com referências antigas e menores de vida. Que mortes experimentamos numa encarnação no mundo físico, sem que precisemos reencarnar, como creem muitos?
      Primeiro tem que morrer nossa dependência de pais, e entenda bem, não são os pais ou nosso respeito e afeto por eles, mas eles como nossos mantenedores físicos e até certo ponto afetivos. Só se torna homem quem deixa de ser filho, para então poder ser esposo e pai, é a ordem das coisas neste mundo. Essa morte é fácil? Não, difícil e dolorida, mas necessária, como se diz, cortar de vez o cordão umbilical, que muitos, mesmo com quarenta anos de idade, ainda mantêm presos às suas mães. A dependência no tempo errado deixa o ser humano covarde, limitado, assim ele não conseguirá se relacionar do jeito certo com outras pessoas, tentará ver nelas pais e mães, e não professores, chefes, pastores, irmãos ou cônjuges. 
      Mesmo a relação com Deus será limitada para quem ainda não morreu para uma dependência paterna e materna, não se pode servir a dois senhores, e quem insiste em idolatrar pais, não amará e obedecerá a Deus. Vemos isso em pessoas que teimam pertencerem às religiões cristãs de seus pais, ainda que não se sintam felizes nem resolvidas nelas, gente que teme o próprio inferno caso “desobedeça” às tradições religiosas paternas. Entenda o que vou dizer com sabedoria, mas na verdade, em algumas situações, a melhor maneira de honrarmos nossos pais é desobedecermos seus estilos de vida, nesse caso estaremos honrando não quem eles são, mas quem eles podem ser, caso façam melhores escolhas morais e espirituais.
      A morte do orgulho próprio é uma das mais difíceis que temos que enfrentar, orgulho que faz com que só nos sintamos valorizados sendo honrados e aprovados pelos outros, ainda que sejamos infelizes sendo o que os outros querem que sejamos. O segredo é conhecermos o que Deus quer que sejamos, nisso temos forças para encerrarmos, sepultarmos e esquecermos a identidade que os outros querem nos dar. Isso dói e muito, nos isola, pode nos levar a exílios, e no exílio somos forçados a começar tudo de novo, mas se isso for plano de Deus o novo será melhor que o antigo, e o que ganharmos compensará todas as perdas. Nada põe mais à prova nosso amor a Deus que abrirmos mão do falso amor que muitos têm por nós.
      Alguns, entretanto, “morrem” poucas vezes em vida, às vezes nenhuma vez, isso pode acontecer por dois motivos, ou porque não abrem mão de zonas de conforto que eles mesmos construíram e mantiveram, ou porque não estão preparados para “morrerem” muitas vezes. Deus os respeita e os ama, esses devem ter, contudo, humildade, para se conhecerem e se amarem, assim como para respeitarem outros que são diferentes deles, e que precisaram “morrer” muitas vezes para amadurecer. Não julgue ninguém a si mesmo como melhor que os outros por não ter “morrido” tantas vezes, e nem como pior, somos seres únicos, diferentes e todos igualmente especiais, independente de nossas jornadas de crescimento.
      O texto bíblico inicial, sobre a “morte do grão de trigo”, é a metáfora evangélica mais clássica sobre a necessidade de morrer para se reviver melhor, e ela também fala sobre o momento final da jornada do Cristo encarnado. A vida mais importante que este mundo teve alcançou a vitória mais importante da humanidade morrendo, e não vivendo, e uma morte não desejada e nem merecida, que diferença de nós. Nós desejamos a morte muitas vezes, mas só merece morrer o que expirou todas as oportunidades que podia ter para evoluir e conquistar a vida eterna, aproveitando bem essas oportunidades ou não. Sejamos úteis a Deus, usemos bem nosso tempo aqui, para que morramos só uma vez e no corpo, não no espírito. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.