02/04/22

Qualidade da dor (62/90)

      “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.
I Pedro 4.12-16

      O que nos define espiritualmente é a qualidade de nossas dores, se entendêssemos isso entenderíamos o real motivo de vivermos no mundo. Os textos de Moisés deixam isso bem claro nos primeiros capítulos de Gênesis. Ainda que sejam entendidos só como mitos, e como tais podem ter significados ainda mais profundos que se entendidos só ao pé letra, Adão, o Éden, a árvore do conhecimento do bem e do mal, a serpente, o pecado original e as consequências desse pecado, mostram que a vida no planeta Terra pós-queda é de dor. A civilização evoluiu, a ciência permitiu confortos que não se tinha há quinhentos, mil anos atrás, mas a dor segue, só mudaram os motivos para que ela exista, nesse mundo continuará até o juízo. Na verdade as dores aumentaram, mesmo numa humanidade com tantas facilidades tecnológicas, hoje existem sofrimentos que não existiam no passado. 
      O homem não evolui sem sofrer, negar a dor é negar a evolução. Jesus lutou contra uma dor que sentia por ter que salvar a humanidade, não foi pelo remorso de um pecado cometido, pela culpa de um prazer do corpo desfrutado na hora, no lugar ou com a pessoa errada. Paulo sofreu na prisão (II Timóteo 4), abandonado por muitos companheiros, só por ter pregado o evangelho de amor do Cristo aos homens de seu tempo. Muitos cristãos atuais estão sofrendo por não fazerem conchavos sujos com homens, o que poderia lhes render mais prosperidade nos negócios, status e aprovação no mundo. Alguns sofrem por não conseguirem vencer vícios como tabagismo, alcoolismo e de outras drogas, contudo, muitos de nós sofremos só por não termos resistido a um sentimento de vingança, ou talvez só por termos assistido um vídeo impróprio ao invés de amarmos nossos cônjuges. 
      Por um amor fraternal que se sacrifica, ou por culpa por prazeres egoístas, o que nos causa dor? Medo ou culpa? Orgulho ou frustração? Quebra de alianças que fizemos com nós mesmos, com nossos corpos, com nossas saúdes físicas e mentais, ou quebra com aqueles compromissos que fizemos com Deus quando entendemos que viver melhor é ajudarmos os outros e não só satisfazermos a nós mesmos? A qualidade de nossas dores nos define muito mais que a qualidade de nossos prazeres, porque só a dor mais pura e altruísta nos dará direito ao melhor de todos os prazeres, o espiritual que agrada a Deus. Na eternidade seremos só isso, nossa intenção mais interior de agradar a Deus. Se ela existir teremos direito ao melhor céu, caso contrário, ainda que tenhamos sido bons cidadãos e ótimos religiosos no mundo, nossa intenção de só usufruirmos para o próprio deleite já construiu um inferno em nós. 
      Se sobre nós repousa o Espírito Santo do Altíssimo, e se somos verdadeiros e respeitosos com sua voz, sempre sofreremos por Deus. Quem sofre por si não sofre por Deus, se o sofrimento teve como causa sentimento de vitimização ou pecado, não há glória nele, só egoísmo ou efeito de erro. Mas no arrependimento sincero e no desejo de não se errar mais, existe uma dor que agrada a Deus, ainda que seja efeito de pecado nosso, pois nisso o Senhor vê que ainda que pequemos não queremos pecar, porque entendemos que isso desagrada a ele. O ímpio segue errando e errando, não sofre porque erra, joga a culpa de seus erros nos outros, na vida, no destino e até em Deus, não assumirá seus “b.o.s”, como se diz hoje. A dor de qualidade é a que vem não como efeito de pecado, mas como temor de algo que teremos que passar, e não nos negamos a isso por querermos agradar a Deus. 
      Não somos transformados da noite para o dia, não nos libertamos de vícios rapidamente, e com muitos vícios lutaremos por toda a vida. Por isso a dor é constante, mas temos que lutar contra o pecado, até o fim, e lutarmos com a arma certa. A arma certa é acostumarmos todo o nosso ser com o bem, com a paz, com o amor, com a confiança num Deus que nos conhece, cuida de nós e nos conduz em vitória. Damos início a isso com uma vida de oração no Espírito Santo, experiência que impressiona todo nosso ser, razão e emoção, corpo e espírito, só assim mudaremos nosso espírito diante de Deus, não só nosso corpo e nossa vida social, que exteriormente podem até estarem corretos diante dos homens. É a qualidade de nosso espírito que definirá nosso céu e nosso inferno, nosso melhor homem interior que será manifestado no plano espiritual e que seguirá conosco para novos céus e nova Terra. 

Esta é a 62ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

01/04/22

Poder da fraqueza (61/90)

      “E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação. E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão. E, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo de tristeza. E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação.
Lucas 22.40-46

      Quando Jesus orou no Getsêmani até suar sangue, precisando da companhia de seus melhores amigos, que não resistiram ao sono da vigília e o deixaram só, Jesus sentiu toda a dor da fraqueza humana. Racionalmente ele sabia o que poderia passar, o que teria que passar, o que passaria, mas como homem encarnado, e não como Deus, ele fez o que qualquer um de nós, em sã consciência, lúcido e saudável, faria, ele tentou “negociar” com Deus. Procure entender certo o termo, não existe nada de errado nisso e mesmo referindo-se a Jesus. É o mecanismo de sobrevivência do homem tentando manter o corpo físico íntegro, e isso não é necessariamente pecado, covardia ou fuga. Deus espera de nós tal reação, ela é legítima se vivida em Deus, com o temor do Senhor que se coloca humildemente debaixo dele, ainda que procurando um jeito de escapar de sua inevitável vontade.
      Meus queridos, muitas vezes a dor de viver é enorme, insuportável, e todos passamos por ela. É a morte levando um ente querido, às vezes antes daquilo que achamos ser o melhor tempo e a melhor maneira, é a injustiça do poderoso que pode deixar mesmo crianças sem terem o que comerem, é a violência dos egoístas e devassos, que pensando só em seus prazeres e vaidades não se importam em machucar os outros. Contudo, também pode ser algo que pouco representa para os outros, mas que nos fere de maneira avassaladora. A dor pode parecer infinita e com tal potência que achamos que nos levará à morte, sentimos o lado esquerdo do peito comprimido, o coração descompassado, um gosto amargo na boca, achamos que a qualquer momento perderemos as forças e desfaleceremos, vencidos por algo que não temos controle. Jesus sentiu isso e mais, antes de ser preso e crucificado.
      O antigo testamento, a velha aliança, é a vitória do forte sobre o enfraquecido, que está fraco por estar longe de Deus, da força sobre a fraqueza, numa guerra física e externa. O novo testamento, contudo, a nova aliança, é o contrário, é a vitória da fraqueza sobre o forte que se sente enganosamente forte por não se conhecer nem a Deus, do fraco sobre si mesmo numa guerra espiritual e interna. Jesus pregou sobre isso em seu ministério, mas acima de tudo praticou isso, não só para viver como também para morrer. O evangelho ensina que a vitória está, não em reagir, ainda que se tenha razões legítimas para isso, mas em não reagir, não em usufruir, mas em sentir a falta, aceitar isso e ainda estar em paz. Não é só uma questão de ser masoquista, de achar que sofrer a dor nos oferece direito a algum crédito. Isso seria vaidade e pode ser muito mais transtorno psicológico que espiritualidade.
      Não é fácil para ninguém suportar a dor de viver, e viver é administrar uma dor constante. Na verdade, não vamos atrás de prazer, só tentamos fugir da dor, mas crescer espiritualmente é conseguir fazer isso construindo dentro de nós os melhores valores morais, nos libertando dos vícios do corpo, resistindo a toda espécie de vaidade. A luta ocorre todos os dias, e ainda que hoje experimentemos felicidade, amanhã nosso corpo e nossa alma se esquecerão disso e tornarão a sentir dor. “Mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mateus 24.13), eis algo que temos que repetir para nós mesmos o tempo todo, pedindo perdão pelo pecado, não nos acostumando com o pecado ainda que ele teime em nos subjugar, tendo humildade para reconhecer sempre que pecar é uma escolha pessoal que fazemos, não é culpa dos outros, mas é responsabilidade nossa, tanto quanto é pedir perdão por isso. 
      E disse-me: a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza; de boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” (II Coríntios 12.9), Paulo define o conceito “poder da fraqueza” usando experiência própria, e todos que forem amigos genuínos de Deus não só entenderão isso, mas também não terão receio de admiti-lo. Gloriar-se na fraqueza não é alegrar-se pelo prazer que o pecado entrega, não, pecado sempre tem que nos entristecer. Bem-aventurado os que se entristecem profundamente com o pecado, por mais que isso pareça contraditório. Experimentarmos a dor que vem da frustração por não agradarmos a Deus, é estarmos em comunhão com o Espírito Santo, e esse sempre nos diz “mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver“ (I Pedro 1.15).

Esta é a 61ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

31/03/22

Uma chance de restauração (60/90)

      “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” 
Romanos 12.2

      Um novo amigo é mais que uma oportunidade para conhecermos alguém, é chance para nos aceitarmos. Um novo amigo é uma nova oportunidade de perdão, tanto para nós como para o outro, e não por um erro que cometemos com esse amigo ou cometido por esse conosco. Às vezes, não podemos voltar ao passado e resolvermos certas coisas, consertarmos certos erros, mesmo obtermos certos perdões, assim, por mais que saibamos que temos que depender do perdão de Deus e não do homem, sermos aceitos por uma nova pessoa, quem quer que seja ela, nos consola.
      Uma nova amizade nos permite fazer as coisas de um jeito melhor, mostrarmos para alguém que somos bons, ou pelo menos, que nos tornamos bons, isso permite-nos resgatar nossa reputação, ter ao menos de uma pessoa uma boa opinião sobre nós. Respeite as pessoas, principalmente um novo amigo, ele pode estar buscando em você uma nova chance, que talvez não convença outros sobre o que ele é hoje, mas que se convencer você pode bastar para que ele se sinta melhor. Você pode ser a chance, e talvez a derradeira, que alguém está precisando para restaurar a si mesmo. 
      Qual a duração de nossas amizades? É fato que levados principalmente por carreiras profissionais, podemos nos mudar de cidade, de estado, até de país, isso quebra muitos laços afetivos valiosos. Mas mesmo numa só cidade, você tem amizades que já perduram por mais de cinco, dez, vinte anos? Infelizmente também é fato que muitas vezes nos distanciamos de alguém por algum mal entendido, assim podemos deixar para trás pendências, que nem são pecados, mas só coisas não resolvidas, e nem darmos conta que isso nos desconecta de relações preciosas. 
      Vivemos muitas vidas em uma, principalmente se não temos medo de nos desconstruir para novamente nos construirmos, se não tememos mudar de opinião, e isso leva-nos a migrar de certos círculos sociais para outros. Isso não deveria ser exceção, mas regra, nosso tempo encarnado na Terra precisa ser bem aproveitado, aproveitá-lo bem é nos desafiarmos a sermos melhores a cada dia. Quem não quer isso para si, por orgulhosamente achar que já está bom como é e não precisa mudar, também não verá essa necessidade nos outros, julgará mal e se distanciará de muitos. 
      Quem não vê necessidade de se desconstruir e se reconstruir verá no tropeço de alguém algo definitivo, a consideração que tinha pela pessoa até então não terá mais, porque se acha traído por uma leitura que fazia da pessoa que mudou. Não nos decepcionamos com os outros, a verdade é que não queremos admitir que não sabemos tudo, que fomos nós que nos enganamos fechando alguém numa caixa antes do tempo, se é que há tempo para fechar alguém. Mas se vermos a vida, não como uma, mas como várias vidas, com mortes e nascimentos, entenderemos melhor os outros. 
      Sabe aquela pessoa que você conheceu há vinte anos em uma igreja, e que depois, por algum motivo, que você não sabe bem porque nunca foi atrás para saber, se afastou da igreja e do teu convívio? Ela não é mais a mesma pessoa hoje, não ficou condenada ao inferno por um erro que cometeu, não necessariamente. Ela pode ter feito novas e melhores escolhas e mudado, de maneira extrema. Quem está convivendo com ela hoje pode nem ter ideia de quem ela foi e fez. Esse novo amigo da pessoa é uma nova chance que Deus deu a ela para se restaurar, mudar e ser alguém melhor. 
      Faça novos amigos, se puder, mantenha os antigos, mas se restaure, temos o melhor auxiliar para isso, o amigo Espírito Santo de Deus. Viver é se restaurar o tempo todo, quem acha que acertou depressa e que não precisa mais de reformas e por isso é melhor, engana-se, principalmente se se diz cristão. Alguns creem em reencarnação como meio de evolução espiritual, mas é muito mais efetivo vivermos várias vidas em uma, deixarmos morrer velhos egos, velhos vícios, velhos passados, e nascer novos espíritos no mesmo corpo, numa única e maravilhosa existência em Jesus Cristo. 

Esta é a 60ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

30/03/22

A eternidade revelará (59/90)

      “Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.” 
João 12.46-47

      Nem todos adquirem lucidez moral rapidamente, alguns demoram mais, assim a sensibilidade que temos para entendermos o que é errado e o quanto isso machuca-nos e aos outros, é obtida gradativamente. Eu creio num Deus poderoso, vivo, justo e sempre presente em amor nas vidas das pessoas. Ele permite provações para nosso crescimento espiritual, não nos engana impedindo de alguma maneira que os efeitos de causas erradas venham, mas também não cobra mais que cada ser humano pode fazer para não errar. 
      Por isso não devemos julgar ninguém, condenar, tão pouco, mas temer o Deus que tem com cada ser relação única que só ele e a pessoa sabem de fato como é. Devemos orar por todos, sim, ajudar com atenção e palavras, mas sempre com paciência, as pessoas não funcionam como você ou eu funcionamos, os tempos de crescimento e cobrança de cada um são diferentes. Alguém que podemos achar que se perdeu e que não tem mais jeito, pode só estar esperando o tempo de Deus, onde há providências que desconhecemos. 
      O certo é que muitas coisas que vivemos só as entendemos de fato muitos anos depois, e se é assim conosco isso é razão suficiente para exercermos paciência generosa com os outros, afinal, crescemos para isso, para aprendermos a amar mais e melhor os outros. Quanto aos orgulhosos, que usam suas falsas virtudes como referências para tudo, que medem os outros por aquilo que acham que são e têm, seguirão enganados, julgando e condenando, exigindo do fraco algo que ele não está ainda pronto para dar. 
      Vivi por algum tempo equivocado e incentivado a isso pelas igrejas que participava, julgando e me achando no direito disso. Muitos ainda vivem assim e muitos, com as quais eu convivi há mais de trinta anos atrás, ainda estão assim, julgando, inclusive a mim. Esses nunca me conheceram de fato, minha formação familiar, minha infância, as feridas abertas que eu tinha na alma naquele tempo, apenas criam que por eu fazer oficialmente parte de uma igreja, ser batizado e ter cargos, tinha a obrigação de ser perfeito. 
      Na verdade não era a mim e a outros que eles não conheciam, mas a eles mesmos, e parece que isso continua assim para muitos. Eles eram bons cristãos? Eram e continuam sendo, como cidadãos, com boa moral, fazendo bem ao próximo de maneira genérica, mas o problema é o entendimento errado que eles tinham e podem ainda terem do verdadeiro evangelho. Veem a experiência com Cristo como um ato mágico e instantâneo, que se não deixa alguém perfeito deixa-o capacitado para não cometer mais erros graves. 
      A vida não é simples, e se dentro de igrejas podemos ter a falsa impressão que Deus salva alguém e o transforma imediatamente, é porque alguém pode ter vindo já pronto por Deus para essa experiência, não podemos usar isso como regra. Pedro não negou Jesus três vezes, mesmo depois de andar por três anos com o mestre, sendo um de seus amigos mais íntimos, testemunhando milagres e atitudes de amor profundo? Somos semelhantes a Pedro, ninguém se engane sobre isso, nosso caminho só termina quando acaba.
      Só Deus sabe se não nos aguarda, na próxima curva da vida, um tropeção tal que nos fará perder o rumo, mas que será o único jeito de acordarmos de uma posição arrogante e covarde, posição que pode ter julgado por anos muitos fracos que Deus ama e continua cuidando, mesmo depois que os condenamos, paramos de amá-los e sequer tomamos alguma iniciativa para sabermos como eles estão. Essa palavra soa como mágoa? Pois ela é, eu assumo isso, e oro a Deus para que me dê amor pelos que me magoaram. 
      Mas eu tenho certeza em Deus de quem serei na eternidade, sei de todos os meus erros, mas também de meus arrependimentos e de minhas curas, verdadeiras e profundas através do Santo Espírito de Deus pelo nome de Jesus. Sei o que os anos fizeram comigo debaixo da graça e da misericórdia do Altíssimo, assim espero, sinceramente, ver homens e mulheres que ainda amo, que foram importantes para mim e ainda são, ainda que me julguem sem se darem ao trabalho de me conhecerem de fato, a eternidade revelará tudo. 

Esta é a 59ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

29/03/22

Andemos por fé, não por vista (58/90)

       “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. 
      Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor. (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.
II Coríntios 5.1-10

      Quantos mistérios o texto bíblico inicial nos revela. A casa terrestre que Paulo se refere é nosso corpo físico, o edifício nos céus é nosso homem interior aperfeiçoado, nossa melhor forma de consciência e existência na eternidade. Paulo diz que o normal, enquanto estamos encarnados no mundo, é nos sentirmos desconfortáveis, contermos dentro de nós um gemido, baixo e constante, declarando que nosso espírito não está totalmente satisfeito no mundo e que deseja estar no outro mundo. Eis a primeira lição do texto, aceitarmos que nunca seremos plenamente felizes nesta vida, é certo que isso pode ser por muitos motivos, mas ainda que estejamos andando com Deus, como Paulo estava, sempre gemeremos desejando a eternidade, onde nosso espírito será livre. Não se desespere ao verificar uma angústia que nunca passa, ainda que esteja em paz com Deus, todos a sentimos. 
      Mas liberdade do espírito no céu tem um preço, nosso espírito será liberado para o céu só se estiver com roupa. A que roupa espiritual Paulo se refere? Lembra-se de Adão e Eva, logo após terem desobedecido a Deus? Eles tentaram se esconder do Senhor porque o pecado fez com que eles sentissem vergonha, por isso Deus fez para eles roupas (Gênesis 3.9-11, 21). A vergonha espiritual que eles provaram não seria mais sanada, só em Jesus haveria remédio, e ainda assim só para a eternidade, no mundo o homem sempre se sente moralmente nu na presença de Deus. O vestido que Paulo se refere, que será procurado em nosso espírito, é tudo o que Jesus representa, sua salvação, seu exemplo de conduta. Jesus veste o nosso espírito, se crermos que nele há perdão e que a partir disso podemos praticar obras de virtudes espirituais que construam o céu em nossos homens interiores
      O consolo que temos é o penhor do Espírito Santo, ele não deixa que a vergonha pelo pecado nos vença, que a insatisfação por estarmos encarnados no mundo nos derrote. Só uma comunhão íntima com o Espírito de Deus para fazer-nos olharmos para cima, para frente, para o futuro, para a melhor eternidade de Deus. O Espírito Santo nos faz desejar as virtudes espirituais da luz mais alta, e acharmos nisso o prazer maior, aquele que nos satisfaz e não tem fim. Quem é espiritual não se acostuma com o mundo, não se satisfaz com os prazeres da carne, mas deseja a liberdade da existência espiritual em direção a Deus na eternidade. Mas ainda que sabendo que aqui estamos longe da nossa vocação maior, vivemos pela fé, não pelo que vemos e sentimos, e pela fé conhecemos as virtudes espirituais e não nos escandalizamos com elas, pois sabemos que elas são verdades eternas. 
      No mundo nunca beberemos o suficiente, comeremos o suficiente, teremos relações íntimas o suficiente, isso tudo nunca bastará, nunca será plenamente satisfatório, mas deve ser assim porque o ser humano não é vocacionado para ser feliz neste mundo. Se assim fosse viveria eternamente no mundo, não teria seu corpo envelhecido, não morreria, mas estamos aqui de passagem, para sermos provados, aprovados e crescermos. Somos como viajantes a trabalho em terra estranha, que guardam no bolso a foto de sua terra de origem, para que olhando para ela sintam-se confortados. Nossa viva foto espiritual do céu é o penhor do Espírito Santo, sem ela não achamos sentido em trabalhar, dia após dia, nessa terra estranha e estéril. O que não possui essa foto, ou ainda que a tenha não olhe para ela regularmente, só sentirá o enfado da existência de vaidades do plano físico. 
      A roupa é espiritual, mas conquistada no corpo material, o juízo verificará isso, assim sigamos, desejando o que está por vir, não o que temos aqui, ainda que tenhamos muito, o mundo não é lugar para a melhor felicidade. Isso é assim, ainda que Deus nos permita momentos alegres, como o nascimento de um filho, sua formatura, seu casamento, o nosso casamento, a nossa formatura, o sorriso da pessoa amada, o abraço da mãe, a gargalhada gostosa daquele amigo que nos faz bem só por estar perto de nós. Mas não nos iludamos, e nem nos desesperemos, no mundo é só uma viagem, curta, não nos sintamos donos de nada aqui, assim também não nos frustemos se perdermos algo aqui, o que é nosso de verdade está lá no plano espiritual. Andemos por fé, não por vista, em todo o tempo, tiremos nossos olhos deste mundo e abramos nossos olhos espirituais para o outro mundo. 

Esta é a 58ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

28/03/22

Justiça, amor, intenção e obras (57/90)

      “Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá. Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá.” 
Ezequiel 18.21-24

      Não é porque o homem peca que a obra de Deus para de ser feita. Deus usa um servo em pecado? Usa. Até quando? Até que o tempo da misericórdia de Deus para esse servo acabe. Misericórdia tem fim? Amor e justiça não têm, mas misericórdia tem fim, misericórdia é bênção de exceção, amor e justiça são as regras e são mutuamente limitáveis. O amor para de abençoar, não de agir, quando a justiça é desobedecida, mas isso não é feito de imediato, um tempo é dado para que o errado se acerte. Deus continua amando o errado, assim como ao que esse está abençoando como servo. Se o tempo de misericórdia acabar e o errado não se acertar, ele será retirado de seu posto e outro será chamado para seu lugar, isso ocorre espiritualmente. 
      Entretanto, isso não significa que o homem sincronizará seu tempo com o tempo de Deus. Muitos que erraram e foram tirados por Deus de suas posições, significando que não recebem mais provisão espiritual para compartilhar com os outros, ainda assim são mantidos por outros homens, também no erro, em seus postos, deixando que alimento não vindo de Deus chegue a quem precisa. Mas no grande plano de Deus, com exceção das crianças e de outros intelectualmente limitados, ninguém é inocente, os que permitem seguir trabalhando o errado, assim como aqueles que se alimentam do alimento espiritual ruim, também serão confrontados pela justiça, quando o tempo de misericórdia de Deus para cada um chegar ao fim. 
      Justiça não é opositora do amor, mas uma outra face dele, no verdadeiro amor não há convivência eterna com o erro, assim ser disciplinado pela justiça é provar o amor. A disciplina existe para que alguém volte a ser beneficiado pelo sim do amor, e não só tratado pelo não dele, amor pode tanto dizer sim como não, e não só sim o tempo todo, como muitos equivocadamente acham. Pecado, misericórdia, justiça e amor, são conceitos espirituais que se cruzam, mas de todos esses o mais poderoso e duradouro é o amor, que sempre tenta levantar, não derrubar, curar, não matar, dar tempo para o arrependimento, não julgar definitivamente. A maior qualidade do amor é a paciência, que sempre acredita que o errado se acertará. 
      Entendamos bem o que o texto inicial fala, ele não diz que o ímpio que se converter de seus pecados viverá e terá seus erros esquecidos. Além da conversão, que é assunção de pecados e pedido de perdão, o ímpio tem que praticar obras, guardar os estatutos de Deus, proceder com retidão e justiça. Mas desviando-se o justo e cometendo iniquidade não viverá, ainda que tiver crido em Deus antes e praticado boas obras isso será esquecido, se fizer conforme o ímpio faz pecará e no pecado que pecou morrerá. Ezequiel ensina sobre penas e privilégios, salvo e perdido, sobre o tempo de Deus para as coisas, que é relativo, não absoluto, mas ele diz muito sobre o amor de Deus. “Quero mais que o homem se converta e viva”.
      Pergunto: ainda que seja só por uma possibilidade, não parece que o texto de Ezequiel, teologia básica da velha aliança, se opõe à teologia da nova aliança do Cristo? O evangelho diz que basta ao homem crer para ser salvo (Atos 16.31). Não estou dizendo que fé em Jesus não salve, mas talvez precisemos reavaliar o que significa de fato fé e salvação. Fé salva, se nos colocar numa posição espiritual elevada, nas regiões celestes onde Jesus habita espiritualmente hoje. Isso nos transforma aqui no mundo, nos dá novos valores e novos objetivos, assim o velho homem preso aos pecados da carne é retirado das posições inferiores do inferno e é salvo. Contudo, se entendemos fé só como uma convicção racional, não significa muita coisa. 
      Obras salvam? Não se nascerem de intenção errada. Intenção errada é aquela que existe no coração que não tem comunhão com Deus pelo Espírito Santo e não vive os ensinos do Cristo homem. Intenção certa naturalmente gera boas obras, pois começa e acaba em Deus, assim como salva quem a possui. Mas ainda que haja objetivos positivos no coração, que pratique obras úteis para outros homens, pois Deus usa todas as obras, intenção errada não salvará o mal intencionado. É isso que Jesus ensinou no evangelho, a importância da intenção certa nascida da qualidade do homem interior, que pratica no mundo uma vida, não hipócrita ou de aparência, mas de real intimidade com Deus e para a glória do Senhor, não do homem. 

Esta é a 57ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

27/03/22

Para ser íntimo de Deus (56/90)

      “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.
Jeremias 29.13

      A boa refeição é aquela que não precisamos deixar a mesa sem estarmos totalmente satisfeitos, contudo, espiritualmente, muitos saem da presença de Deus insatisfeitos e acham que é assim que as coisas têm que ser. Não, as coisas não precisam ser assim, mas para que não sejam temos que nos libertar de fórmulas. Religiões são essencialmente fábricas de fórmulas, receitas podem ser anotadas, registradas, autenticadas e até comercializadas, fórmulas são coisas físicas, ainda que referindo-se ao plano religioso e espiritual, ainda que pondo o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo no meio. Fórmulas podem até terem tido origens legitimamente espirituais e eficientes, mas se tornaram fórmulas e perderam sua validade espiritual. 
      Qual a chave para acharmos a paz maior que Deus quer nos dar, e não nos acomodarmos às fórmulas, ainda que sejam autorizadas por lideranças religiosas? Trabalho, mas trabalho espiritual. O termo trabalho é adequado aqui para deixar claro que adentrarmos-nos na intimidade de Deus requer esforço, e sempre maior, por isso uma fórmula não serve, ela pode até ter levado alguém até um ponto, mas parou aí, fórmulas nos fazem ociosos espirituais. Ainda que tenhamos tido uma experiência real, profunda, poderosa com Deus ontem, se usarmos hoje a mesma fórmula não conseguiremos ir além. Deus é vivo, sempre nos atrai para mais perto dele, isso exige o trabalho de conhecermos coisas novas que não sabíamos ontem. 
      Na prática isso significa termos um tempo significativo e de qualidade na presença de Deus, não usando mantras emocionais ou mesmo falando as mesmas coisas em línguas espirituais estranhas, mas achando a paz maior no silêncio, descobrindo o segredo que existe em fazer o espírito sorrir para o Altíssimo, isso poderá nos ajudar a abrir nossos olhos e ouvidos espirituais. Nisso tudo nos cinge a fé, nos protege a luz e no atrai o amor, de forma que depois de termos falados tudo o que precisávamos, possamos, e essa é chave de uma oração que acha satisfação na presença de Deus, aprendermos a ouvir, a discernirmos a voz do Espírito Santo. Isso só se experimenta num silêncio espiritual muito especial na presença do Altíssimo. 
      Muitos falam muito com Deus, e Deus os ouve com amor, mas não aprenderam ainda a ouvir Deus falando, pensam que Deus só fala pela Bíblia e pelos pregadores, anulam assim a principal função do Santo Espírito consolador e professor. Me perdoem se eu estiver sendo repetitivo em algumas exortações nos últimos tempos do “Como o ar que respiro”, e em especial no estudo “Quem você será na eternidade?”, mas é que esse assunto é de suma importância. Só o entendimento disso nos libertará de homens, de mentiras, de religiões e de fórmulas que só conduzem à morte e ao inferno. Se queremos o céu, temos que prová-lo ainda aqui no mundo, pelo Espírito Santo, só isso nos fortalecerá contra o pecado e o mal. 
      Entretanto, é preciso que entendamos que diferente das coisas materiais, para as quais podemos usar receitas para acharmos, não funciona assim no mundo espiritual. Creiam, estou tentando de todas as formas usar aqui uma dialética esclarecedora, ainda que experiência espiritual só entende quem a tem. O que posso contar são os efeitos de uma vida com e sem essa intimidade com Deus, se você já a tem experimentado consegue entender o que estou dizendo. Se não teve essa experiência pode entender isso verificando se você não tem os efeitos disso, sabendo assim se tua vida de oração tem sido eficiente e se tuas prioridades espirituais têm sido as mais altas. Se for honesto consigo mesmo entenderá o que estou tentando dizendo. 
      No final o que vale são bons frutos que permanecem: libertação de pecado, que é o fruto da santidade que agrada a Deus, paz diferente que é o fruto que nos harmoniza interiormente e nos dá forças para seguirmos, e vida de amor, o fruto que põe em prática o que cremos com os homens ao nosso redor. Se você ainda segue preso a certos vícios, mesmo que sejam secretos e você diga que não prejudicam a ninguém a não ser a você mesmo, se ora bastante, mas não acha uma paz que excede todo o entendimento, e se depois de tanto esforço devocional você continua sem paciência para amar as pessoas, então, você não experimentou ainda uma oração de qualidade e intimidade com Deus, e pode ainda estar preso a fórmulas. 
      Linhas espiritualistas como ocultismos, cabala, magia e esoterismos, usam fórmulas, protocolos, ritos e sistemas, para terem contato e “controle” sobre potências espirituais. Mas isso é feito em rebeldia à vontade de Deus, propõem conexão com seres das trevas. É exatamente por isso que fórmulas podem até funcionar, seres mistificadores (demônios) gostam de mistificações, de máscaras, de rituais, isso agrada seus egos vaidosos e decaídos. Não funciona assim com Deus, para o Altíssimo basta-nos o nome de Jesus e o caminho de duas vias do Espírito Santo, que tanto permite que Deus nos ouça quanto o ouçamos, e que por isso é caminho reto de vida, não de morte, que nos leva a crescer em virtudes da luz mais alta do Senhor. 
      Não posso deixar de citar aqui aquele povo simples, pobre, às vezes sem formação superior, com um forte doutrinamento católico. Essas pessoas rezam repetindo fórmulas que aprenderam e fazem isso com o coração, colocam Deus em tudo em suas vidas, ainda que sob os filtros do catolicismo, cultuam a Deus ainda que debaixo da fechada liturgia católica. Mas há muitos em igrejas evangélicas assim, pagam dízimos, não faltam a cultos de consagração, mas também estão em cultos da semana que poucos vão, e não fazem isso por vaidade, como fazem muitos músicos que só participam de cultos lotados. Esses, católicos e evangélicos, usam fórmulas tradicionais para buscarem a Deus, isso é o que podem fazer e Deus respeita.
      Deus não ouve as orações desses? Sim, ouve, e com muito carinho cuida deles. Contudo, entendamos uma coisa, Deus tem chamadas diferentes para pessoas diferentes. Quem é chamado para ser ovelha, que seja, uma ovelha humilde, fiel e amorosa, mas quem é chamado para ser mais que isso deve sê-lo com temor a Deus e com muito esforço espiritual. Se Deus quer mais de você, saiba que você não terá paz enquanto não obedecer esse chamado, e se for saber mais que o humilde irmãozinho que só sabe o que lhe é ensinado, você deve buscar isso. Para quê, para ser maior? Não, para obedecer a Deus, e entenda algo, por experiência própria, tua provação pode ser saber e calar, só para que você seja útil orando por muitos. 

Esta é a 56ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021