segunda-feira, março 28, 2022

Justiça, amor, intenção e obras (57/90)

      “Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá. Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá.” 
Ezequiel 18.21-24

      Não é porque o homem peca que a obra de Deus para de ser feita. Deus usa um servo em pecado? Usa. Até quando? Até que o tempo da misericórdia de Deus para esse servo acabe. Misericórdia tem fim? Amor e justiça não têm, mas misericórdia tem fim, misericórdia é bênção de exceção, amor e justiça são as regras e são mutuamente limitáveis. O amor para de abençoar, não de agir, quando a justiça é desobedecida, mas isso não é feito de imediato, um tempo é dado para que o errado se acerte. Deus continua amando o errado, assim como ao que esse está abençoando como servo. Se o tempo de misericórdia acabar e o errado não se acertar, ele será retirado de seu posto e outro será chamado para seu lugar, isso ocorre espiritualmente. 
      Entretanto, isso não significa que o homem sincronizará seu tempo com o tempo de Deus. Muitos que erraram e foram tirados por Deus de suas posições, significando que não recebem mais provisão espiritual para compartilhar com os outros, ainda assim são mantidos por outros homens, também no erro, em seus postos, deixando que alimento não vindo de Deus chegue a quem precisa. Mas no grande plano de Deus, com exceção das crianças e de outros intelectualmente limitados, ninguém é inocente, os que permitem seguir trabalhando o errado, assim como aqueles que se alimentam do alimento espiritual ruim, também serão confrontados pela justiça, quando o tempo de misericórdia de Deus para cada um chegar ao fim. 
      Justiça não é opositora do amor, mas uma outra face dele, no verdadeiro amor não há convivência eterna com o erro, assim ser disciplinado pela justiça é provar o amor. A disciplina existe para que alguém volte a ser beneficiado pelo sim do amor, e não só tratado pelo não dele, amor pode tanto dizer sim como não, e não só sim o tempo todo, como muitos equivocadamente acham. Pecado, misericórdia, justiça e amor, são conceitos espirituais que se cruzam, mas de todos esses o mais poderoso e duradouro é o amor, que sempre tenta levantar, não derrubar, curar, não matar, dar tempo para o arrependimento, não julgar definitivamente. A maior qualidade do amor é a paciência, que sempre acredita que o errado se acertará. 
      Entendamos bem o que o texto inicial fala, ele não diz que o ímpio que se converter de seus pecados viverá e terá seus erros esquecidos. Além da conversão, que é assunção de pecados e pedido de perdão, o ímpio tem que praticar obras, guardar os estatutos de Deus, proceder com retidão e justiça. Mas desviando-se o justo e cometendo iniquidade não viverá, ainda que tiver crido em Deus antes e praticado boas obras isso será esquecido, se fizer conforme o ímpio faz pecará e no pecado que pecou morrerá. Ezequiel ensina sobre penas e privilégios, salvo e perdido, sobre o tempo de Deus para as coisas, que é relativo, não absoluto, mas ele diz muito sobre o amor de Deus. “Quero mais que o homem se converta e viva”.
      Pergunto: ainda que seja só por uma possibilidade, não parece que o texto de Ezequiel, teologia básica da velha aliança, se opõe à teologia da nova aliança do Cristo? O evangelho diz que basta ao homem crer para ser salvo (Atos 16.31). Não estou dizendo que fé em Jesus não salve, mas talvez precisemos reavaliar o que significa de fato fé e salvação. Fé salva, se nos colocar numa posição espiritual elevada, nas regiões celestes onde Jesus habita espiritualmente hoje. Isso nos transforma aqui no mundo, nos dá novos valores e novos objetivos, assim o velho homem preso aos pecados da carne é retirado das posições inferiores do inferno e é salvo. Contudo, se entendemos fé só como uma convicção racional, não significa muita coisa. 
      Obras salvam? Não se nascerem de intenção errada. Intenção errada é aquela que existe no coração que não tem comunhão com Deus pelo Espírito Santo e não vive os ensinos do Cristo homem. Intenção certa naturalmente gera boas obras, pois começa e acaba em Deus, assim como salva quem a possui. Mas ainda que haja objetivos positivos no coração, que pratique obras úteis para outros homens, pois Deus usa todas as obras, intenção errada não salvará o mal intencionado. É isso que Jesus ensinou no evangelho, a importância da intenção certa nascida da qualidade do homem interior, que pratica no mundo uma vida, não hipócrita ou de aparência, mas de real intimidade com Deus e para a glória do Senhor, não do homem. 

Esta é a 57ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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