sábado, abril 02, 2022

Qualidade da dor (62/90)

      “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.
I Pedro 4.12-16

      O que nos define espiritualmente é a qualidade de nossas dores, se entendêssemos isso entenderíamos o real motivo de vivermos no mundo. Os textos de Moisés deixam isso bem claro nos primeiros capítulos de Gênesis. Ainda que sejam entendidos só como mitos, e como tais podem ter significados ainda mais profundos que se entendidos só ao pé letra, Adão, o Éden, a árvore do conhecimento do bem e do mal, a serpente, o pecado original e as consequências desse pecado, mostram que a vida no planeta Terra pós-queda é de dor. A civilização evoluiu, a ciência permitiu confortos que não se tinha há quinhentos, mil anos atrás, mas a dor segue, só mudaram os motivos para que ela exista, nesse mundo continuará até o juízo. Na verdade as dores aumentaram, mesmo numa humanidade com tantas facilidades tecnológicas, hoje existem sofrimentos que não existiam no passado. 
      O homem não evolui sem sofrer, negar a dor é negar a evolução. Jesus lutou contra uma dor que sentia por ter que salvar a humanidade, não foi pelo remorso de um pecado cometido, pela culpa de um prazer do corpo desfrutado na hora, no lugar ou com a pessoa errada. Paulo sofreu na prisão (II Timóteo 4), abandonado por muitos companheiros, só por ter pregado o evangelho de amor do Cristo aos homens de seu tempo. Muitos cristãos atuais estão sofrendo por não fazerem conchavos sujos com homens, o que poderia lhes render mais prosperidade nos negócios, status e aprovação no mundo. Alguns sofrem por não conseguirem vencer vícios como tabagismo, alcoolismo e de outras drogas, contudo, muitos de nós sofremos só por não termos resistido a um sentimento de vingança, ou talvez só por termos assistido um vídeo impróprio ao invés de amarmos nossos cônjuges. 
      Por um amor fraternal que se sacrifica, ou por culpa por prazeres egoístas, o que nos causa dor? Medo ou culpa? Orgulho ou frustração? Quebra de alianças que fizemos com nós mesmos, com nossos corpos, com nossas saúdes físicas e mentais, ou quebra com aqueles compromissos que fizemos com Deus quando entendemos que viver melhor é ajudarmos os outros e não só satisfazermos a nós mesmos? A qualidade de nossas dores nos define muito mais que a qualidade de nossos prazeres, porque só a dor mais pura e altruísta nos dará direito ao melhor de todos os prazeres, o espiritual que agrada a Deus. Na eternidade seremos só isso, nossa intenção mais interior de agradar a Deus. Se ela existir teremos direito ao melhor céu, caso contrário, ainda que tenhamos sido bons cidadãos e ótimos religiosos no mundo, nossa intenção de só usufruirmos para o próprio deleite já construiu um inferno em nós. 
      Se sobre nós repousa o Espírito Santo do Altíssimo, e se somos verdadeiros e respeitosos com sua voz, sempre sofreremos por Deus. Quem sofre por si não sofre por Deus, se o sofrimento teve como causa sentimento de vitimização ou pecado, não há glória nele, só egoísmo ou efeito de erro. Mas no arrependimento sincero e no desejo de não se errar mais, existe uma dor que agrada a Deus, ainda que seja efeito de pecado nosso, pois nisso o Senhor vê que ainda que pequemos não queremos pecar, porque entendemos que isso desagrada a ele. O ímpio segue errando e errando, não sofre porque erra, joga a culpa de seus erros nos outros, na vida, no destino e até em Deus, não assumirá seus “b.o.s”, como se diz hoje. A dor de qualidade é a que vem não como efeito de pecado, mas como temor de algo que teremos que passar, e não nos negamos a isso por querermos agradar a Deus. 
      Não somos transformados da noite para o dia, não nos libertamos de vícios rapidamente, e com muitos vícios lutaremos por toda a vida. Por isso a dor é constante, mas temos que lutar contra o pecado, até o fim, e lutarmos com a arma certa. A arma certa é acostumarmos todo o nosso ser com o bem, com a paz, com o amor, com a confiança num Deus que nos conhece, cuida de nós e nos conduz em vitória. Damos início a isso com uma vida de oração no Espírito Santo, experiência que impressiona todo nosso ser, razão e emoção, corpo e espírito, só assim mudaremos nosso espírito diante de Deus, não só nosso corpo e nossa vida social, que exteriormente podem até estarem corretos diante dos homens. É a qualidade de nosso espírito que definirá nosso céu e nosso inferno, nosso melhor homem interior que será manifestado no plano espiritual e que seguirá conosco para novos céus e nova Terra. 

Esta é a 62ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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