11/08/22

Limpos de coração (11/92)

      “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a DeusMateus 5.8

      A primeira coisa que nos vem à mente quando lemos o termo limpo de coração é alguém que não está em “pecado”. As primeiras ideias que fazemos de “pecado” é a satisfação de desejos do corpo físico e de forma descontrolada, assim quando pensamos num limpo de coração pensamos em alguém que não adultera, que não fuma, que não ingere bebidas alcoólicas (pelo menos não excessivamente), que come com equilíbrio, enfim, que não tem vícios. A conclusão sobre o versículo inicial, então nos parece fácil: vê a Deus quem não adultera, que não fuma, que não bebe ou come sem limites, enfim, que tem controle sobre coisas materiais que entram em seu corpo físico. 
      Podemos entender “pecado” em duas camadas, e em ambas como ações, pensamentos, sentimentos e palavras que nos separam de Deus de alguma forma. Algo que precisamos dizer antes de tudo, é que o que separa uma pessoa de Deus pode não ser o que separa outra pessoa de Deus, o que alguém considera “pecado” pode não ser considerado “pecado” por outra pessoa, ainda que de maneira geral “pecado” seja “pecado” para todos, existem nuanças. A primeira camada do “pecado”, e que não pode ser relevada, refere-se às “tentações” do dia a dia, ou menos mais pontuais, mas que dizem respeito ao que dissemos acima, satisfação fácil de prazeres do corpo físico. 
      Precisamos ter limpeza não só moral, mas também física no que se refere à primeira camada, contudo, precisamos entender, e é por não entender isso que muitos cometeram e cometem sérios erros sobre o que é “santidade”, que só essa primeira condição não basta. Nos acharmos “santos”, limpos de coração, só porque não nos corrompemos com sexo errado, ou não tentamos nos satisfazer com prazeres do corpo além das necessidades básicas, ou não temos vícios com drogas ou outros elementos que alterem nossa consciência, não basta. Podemos estar limpos assim e não sermos limpos de coração, podemos parecer não pecar e sermos pecadores dentro de nós. 
      Os “pecados” da primeira camada podem ser limpos mais rapidamente e com oração sincera, ainda que libertação plena de vícios exija mais tempo. São os “pecados” da segunda camada que de fato sujam nosso coração e nos impedem de ver Deus. Desses não nos livramos facilmente, podem ser necessários anos para entendermos e sermos limpos desses. Entendamos “coração” como o centro racional e emocional de nossos seres, nossa mente, percepções sensoriais interiores, e mais, nosso espírito. Assim, o “pecado” que nos impede de ver a Deus suja, não nosso corpo ou nossos sentimentos e pensamentos e só por algum tempo, mas nossos espíritos e de forma mais duradoura. 
      No meio pentecostal, onde é mais provável que as pessoas busquem dons espirituais, já ouvi gente dizendo, “faço tudo certo, jejuo, me consagro, não peco, mas não recebo dons espirituais”, esses talvez se limpem na primeira camada, mas não se purificam na segunda, o coração. Não estou dizendo que quem recebe dons espirituais está totalmente limpo de coração, não existem fórmulas para experiência espirituais, só Deus sabe quem merece, está preparado e recebe sua intimidade, não nos cabe julgar. A humanidade ocidental passou séculos, na maior parte, aquela doutrinada pelo catolicismo, sendo ensinada a se limpar só na primeira camada, e assim vendo religião, não Deus. 
      Podemos reinterpretar o versículo inicial dessa maneira: muito felizes os limpos de espírito, porque terão experiências profundas com Deus. Mas o que seriam esses “pecados” da segunda camada? São muitos, mas podem se resumir a um: a vaidade. Parece estranho vaidade estar aliada a busca espiritual? Mas acredite, muitos buscam experiências espirituais por vaidade, justamente porque sabem da relevância de espiritualidade, como superior a bens materiais, posições sociais ou a belezas e prazeres do corpo. Contudo, pensam, “se não posso ser rico e bonito ou se já sou isso e ainda não estou satisfeito, quero ter experiências espirituais, talvez assim serei feliz”.
      “E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas? E dizia: O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.18-23). Não são os males que entram no corpo os piores, mas os que saem do coração.

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a 2ª parte desta reflexão

10/08/22

Vemos o que queremos ver (10/92)

     “Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.” “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Lucas 11.10, 13

      As pessoas veem o que querem ver, quem procura significado em algo, acha. Podemos entender várias coisas nessas afirmações, que revelam muito sobre a dupla identidade humana, material e espiritual. Quem procura acha, e se não acha de verdade pode inventar que achou, nenhum de nós, de alguma maneira, escapa disso. O que mais você quer ver? O que mais você procura? O que você tem necessidade mais forte e mais profunda de ver e provar, ainda que não admita a ninguém? 
      Ninguém está isento disso, nenhuma pessoa consegue passar por este mundo sem ter uma dúvida principal, ainda que tente negar a si mesmo, buscando responder tal questão com coisas inadequadas, coisas que talvez agradem aos outros, mas não a ela mesma. Mas mesmo assim, ainda que fuja de si mesmo e consiga fazer isso com muita eficiência, um dia, a verdade virá à tona e aquilo que a pessoa de fato sempre quis ver ela verá, achando nisso o significado maior para sua vida. 
      Já ouvi gente dizer, “vivi uma vida para os outros, passei os anos servindo às necessidades alheias, nunca vivi para mim”. A primeira coisa a dizer dessas pessoas é que se de fato viveram para servir os outros e fizeram isso em amor e de forma espiritual, parabéns a elas, cumpriram o objetivo maior de todo o ser humano neste mundo. Se fizeram isso do jeito certo devem ser felizes, não infelizes, colherão na eternidade os frutos gloriosos de uma existência material mais excelente. 
      Esse tipo de afirmação é mais comum em pessoas de gerações passadas, já que de algumas gerações para cá poucos pagam o preço para servirem os outros, todos querem servir a si mesmos, usufruírem prazer e depressa. Não importa se um filho foi feito, um casal não permanece junto, porque na verdade nunca foi um casal, só dois seres egoístas buscando prazer rápido, assim o pai ou a mãe fica sozinho com o filho, o que na maior parte das vezes significa que avós criarão a criança. 
      Mas para aqueles que dizem que viveram para os outros e não fizeram isso do jeito certo, na verdade eles fizeram exatamente o que queriam, mostrar para os outros que podiam ajudá-los. Esses não acharam outra maneira de sentirem-se úteis, se tivessem tido coragem teriam achado um jeito para se conhecerem e serem de fato felizes. Às vezes é preciso desapontar algumas pessoas para não nos desapontarmos, e isso não significa ser egoísta e irresponsável, só independente e maduro. 
      Muitos pagam o preço e acham aquilo que procuram, de um jeito ou de outro. Mas esses não devem reclamar no final, se aquilo que quiseram ver não lhes for suficiente para lhes trazer felicidade. Os que querem se ver no topo profissional, nos níveis sociais e financeiros mais altos, para serem aclamados como prósperos e vitoriosos, verão esse sonho realizado. Mas que companhia isso lhes dará no final, de gente que lhes ama ou só de pessoas materialistas que só valorizam dinheiro? 
      Se você quer grana, tudo bem, é escolha tua, você terá essa grana, mas lembre-se que grana não compra amor e respeito. Riquezas só recebem honra de quem tem riqueza e valoriza a riqueza dos outros, não é a pessoa e suas virtudes morais que são valorizadas. O ser humano, contudo, é especialista na hipocrisia e em jogar a culpa de seus erros nos outros, passa a vida buscando coisas erradas e no final ainda se faz de vítima, quando na verdade ele só recebeu o que sempre quis ter. 
      Sempre há tempo para mudar, se for teu caso, ache tempo e dê o melhor que precisa receber, construa relações baseadas em respeito desinteressado. Festas de finais de ano são bons critérios para sabermos no que temos investido nossas vidas, e muitos, após um ano fazendo e acontecendo, para terem aparências, passam esses momentos sozinhos. Natal numa família humilde, com comida e bebida simples, mas onde há amizade e alegria sincera, é melhor que festas luxuosas mas frias. 

      Vemos o que queremos ver, isso nos diz muito não só sobre coisas naturais, mas também sobre as espirituais ou sobrenaturais. Quem quer ver um o.v.n.i. um dia verá, quem quer ver fantasmas, um dia verá, quem busca milagre, um dia receberá, quem procura significado em teorias de conspiração um dia achará uma que dará sentido à sua vida. O ser humano tem aptidões que desconhece, como aquilo que elas podem lhe dar, imaginação é aptidão poderosa, principalmente para coisas espirituais.
      As coisas mais malucas podem fazer sentido para quem procura nelas significado, isso não significa que façam sentido para outras pessoas, assim como não significa que por causa disso não sejam legítimas e úteis de alguma forma para uma pessoa. Já foi dito que deveria haver tantas religiões quanto são os habitantes do planeta, uma para cada um, mas na verdade é assim mesmo que funciona, ainda que centenas de pessoas estejam em um templo participando do mesmo culto. 
      Se soubéssemos o que se passa na cabeça de cada pessoa sentada no banco de uma igreja enquanto um culto é realizado, cantos até orações podem ser semelhantes, mas não as intenções. Quantas descrenças e quantas crenças distintas, só Deus para contemplar a todos, amar a todos, respeitar a todos e responder a todos, de acordo com cada idiossincrasia. Ainda que imaginemos coisas diferentes, a verdade espiritual é só uma, adaptando-se humildemente ao entendimento de cada ser. 
      O espírito não pode ser visto pelo homem encarnado, e hoje entendemos que sua aparência mais pura é luz, ou uma energia, mas Deus, em sua misericórdia nos permite ver formas mais humanas. Assim vemos varões de vestidos brancos e asas ou entidades escuras e encolhidas, outros veem seres mais antropomórficos, o que é de fato verdade? A verdade é que Deus revela o mundo espiritual aos que buscam com sinceridade e estão preparados para ele, seja da maneira que for. 
      O que é imaginação e o que é verdade? O que é verdade usa a imaginação, entendamos isso, aquilo que nossa mente vê são ferramentas para que o mundo espiritual se comunique conosco nesse mundo. Quando é imaginação são apenas memórias, mas quando é o espiritual usando nossas mentes outros sentidos são impressionados além da visão e da audição. Sentimos um êxtase sem igual quando permitimos que o Espírito Santo manifeste seus dons através de nós, um prazer inefável.
      Mas não menospreze arrepios e medos, podem não ser frio, reação a filme de terror ou outra coisa, se estamos no Espírito essas percepções podem ser indicadores de proximidade de seres espirituais. Deus é espírito mas se comunica com seres físicos através de sentidos físicos. Experiência espiritual é algo que se aperfeiçoa com o tempo, com o uso dos dons, com intimidade com Deus, com  consagração e oração, ela é real, poderosa e útil, muitos perdem batalhas porque desprezam a arma. 
      Uma boa orientação é saber discernir o conteúdo da forma, a verdade da maneira como a pessoa interpreta a verdade. Deus fala com pessoas diferentes por jeitos diferentes, dependendo de seus preparos e de suas experiências. Assim, sejamos sábios e não liguemos a qualquer imaginação humana, mas não desprezemos o fato que muitas pessoas têm experiências espirituais, Deus as avisa, consola e ensina, ainda que de maneiras diversas, usando as ferramentas mentais de cada pessoa. 
      Vê o mundo espiritual quem olha para ele, quem não olha não o vê, ainda que ele esteja gritando à sua volta. Contudo, não é porque alguém está olhando que vê, imaginação prega peças no incrédulo e no crédulo, e até mais no crédulo, já que esse quer ver. Quem quer ver vê, mas precisa provar se o que está vendo é verdadeiro, experiência espiritual não é uma coisa só, mas conjunto de coisas, e em se tratando de Deus, de bons frutos objetivos que permanecem após a experiência subjetiva. 

09/08/22

Experiência individual (9/92)

      “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante.
Jeremias 7.21-24 

      Ao conhecimento espiritual mais profundo temos acesso sem encantamentos ou êxtases, com muita santidade e serenidade, com tempo e trabalho mental que abre mão de preconceitos e imaginações para ouvir a voz de Deus pela fé e sem apoio de religiões. Sei que tanto as igrejas evangélicas como a católica, mesmo com todos os seus defeitos, têm desempenhado uma missão de auxílio aos homens, viciados em drogas, pobres e tantos carentes de paz e esperança acham nas catedrais e templos conforto e libertação. Creio que a maior parte da humanidade ainda necessita do trabalho dessas igrejas e denominações, e para a grande maioria é suficiente o que essas são, para que o amor de Deus aja a favor dos seres humanos. 
      A intenção deste espaço, entretanto, e ir além, se alguém quer uma palavra em consonância com as doutrinas tradicionais cristãs, aqui não é o lugar, nem perca tempo aqui se for esse seu interesse, não será bênção para você tentar entender muito do que aqui se compartilha. Não tenho interesse de escandalizar ninguém, só de falar a quem quer ouvir. O ir além que me refiro é simples, nele não há mistério ou novidade: ore mais! Fale mais com Deus, mas principalmente peça a Deus que você possa discernir sua voz. Depois você poderá saber de coisas que até agora não soube porque não buscou resposta em quem tem as verdadeiras respostas, o Espírito Santo, e isso não é só ter curiosidade saciada, mas receber vida eterna. 
      Muito significativo o texto bíblico acima, veja que o profeta diz de forma clara que o objetivo inicial de Deus para a nação de Israel não era que ela tivesse uma religião baseada em holocaustos e sacrifícios. Isso pode mudar a opinião que muitos cristãos e leitores habituais da Bíblia têm sobre a velha aliança de Israel, e mesmo sobre o papel da nova aliança de só substituir sacrifícios repetitivos e imperfeitos de animais pelo sacrifico único e perfeito de Jesus. A vontade principal de Deus, que pode “salvar” o homem, é que esse ouça sua voz e obedeça-a. Me atrevo a fazer uma suposição, será que Deus não permitiu o sistema de sacrifícios pelo mesmo motivo que permitiu um rei, porque Israel queria ser como as outras nações?
      Se for isso, é só Deus, mais uma vez agindo como um pai que cede à teimosia de filhos imaturos que invejam povos que não temem o Deus verdadeiro, que desejam ser o que não precisam ser. A palavra profética chega a ser dura, mesmo irônica, “ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios e comei carne”, em outras palavras, “façam um churrasco com vossa religiosidade, isso é mais proveitoso para vocês, para mim nenhuma serventia tem”. Quando vamos entender que muitas coisas são só símbolos? Símbolos são necessários para os que não estão preparadas para a verdade, mas só para interpretações facilitadas dela. O homem tem dificuldade para entender que no mundo o plano espiritual se prova pela fé.
      Ainda assim muitos precisam de esculturas e imagens, assim como de rituais e dos chamados “atos proféticos” (encenações de eventos bíblicos) para crerem, hoje, no século XXI, quase dois mil anos depois que o Espírito Santo foi dado à humanidade. Queridos católicos, Deus aceita vossos símbolos porque ele ama vocês, e evangélicos, não confundam de maneira maldosa os ídolos construídos sobre imaginações de espíritos malignos do antigo testamento com os “santos” católicos, não são a mesma coisa. Contudo, quando todos nós vamos crescer? Deixarmos as interpretações facilitadas, os reforços físicos para fé, que é o que são esculturas e imagens católicas, e termos uma comunhão espiritual direta e pura com Deus? 
      É fácil nos sentarmos em bancos e cadeiras, em catedrais e templos, e “assistirmos” uma missa ou um culto, como quem assiste um filme, mas ainda que haja sinceridade e boa intenção para saber a vontade de Deus, é pouco, comparado com o que Deus tem para nós. Pode-se dizer, “tenho uma vida vitoriosa e em paz sendo religioso”, eu acredito nisso, mas e o resto, o mundo, o Brasil? Se essa religiosidade, que aceita calada o que de fato a Igreja Católica e tantas igrejas evangélicas fazem, ou pior, que não fazem, resolvesse, não estaríamos vivendo o momento que vivemos. Ninguém se iluda, as coisas vão melhorar, são tempos finais de uma era e decisivos para a humanidade, e mudará à medida que ouvirmos a genuína voz de Deus.

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a 1ª parte desta reflexão

08/08/22

A voz do Senhor (8/92)

      “Dai ao Senhor, ó filhos dos poderosos, dai ao Senhor glória e força. Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade. 
      A voz do Senhor ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o Senhor está sobre as muitas águas. A voz do Senhor é poderosa; a voz do Senhor é cheia de majestade. 
      A voz do Senhor quebra os cedros; sim, o Senhor quebra os cedros do Líbano. Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. 
      A voz do Senhor separa as labaredas do fogo. A voz do Senhor faz tremer o deserto; o Senhor faz tremer o deserto de Cades. A voz do Senhor faz parir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala da sua glória. 
      O Senhor se assentou sobre o dilúvio; o Senhor se assenta como Rei, perpetuamente. O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.
Salmos 29
 
     Tenho falado bastante aqui sobre ter uma experiência espiritual mais profunda com Deus, mas até que ponto muitos cristãos entendem o que é uma experiência espiritual mais profunda? Se fizermos pesquisa numa versão bíblica em computador ou celular, para identificarmos os termos “voz do Senhor” ou “falou o Senhor”, acharemos dezenas de citações, isso significa que profetas e outros homens e mulheres, que andaram com Deus principalmente nos tempos do antigo testamento, ouviam a voz de Deus. E quanto a nós hoje, ouvimos essa voz? Se personagens bíblicos tinham essa experiência então ela não era efeito de algum transtorno mental de ouvir “vozes”, era um diálogo direto com o Altíssimo, onde se fala e se ouve. 
      Não estou dizendo que não existam doenças psiquiátricas que levam as pessoas a ouvir vozes, que apesar de muitos acharem que são de outros seres (humanos ou espíritos), são só ecos de suas próprias mentes, essa experiência é danosa, maléfica, pode e deve ser tratada com orientação profissional médica e remédios. Contudo, num tempo em que a bênção da ciência beneficia a humanidade com tantos cuidados, muitos cristãos usam referências científicas, apesar de por formas antagônicas, de maneira equivocada. Alguns negam a ciência e impedem que ela seja ferramenta da providência para cura e educação, e outros a usam como desculpa para não provarem experiências profundas com o Santo Espírito.
      A fé não sabe tudo, muito menos a ciência sabe, no equilíbrio os simples acham sabedoria. No início desta reflexão separei o Salmo 29 porque ele cita sete vezes “voz do Senhor”. Esse texto, contudo, reconhece a voz de Deus em eventos materiais e grandiosos, percepção típica do homem que andava com Deus no tempo do antigo testamento, na natureza, nas águas, no fogo, no deserto, nos animais, enfim, nas manifestações de vida e clima do planeta Terra. Mas em outras muitas passagens a voz do Senhor é ouvida orientando as nações, abençoando e disciplinando, concedendo vitória e decretando derrota, novamente a visão beligerante do homem antigo testifica sobre as ações de Deus que são relevantes a suas vivências. 
      Houve mudanças no novo testamento em relação ao antigo, da nova aliança em relação à velha, da Lei para o evangelho, de Moisés para Cristo. Mas entre essas duas visões de relacionamentos com Deus, houve a passagem da bênção coletiva para a pessoal, de uma nação para o indivíduo, indiferente da nação que o indivíduo faça parte. Assim, a voz de Deus também passou a ser mais específica, principalmente porque agora não é mais a tribo física dos levitas a responsável pela religiosidade, mas o Espírito Santo enviado por Jesus habitando nos homens. Não que Deus não falasse a indivíduos sobre assuntos pessoais, mas o foco era vitória de Israel sobre outras nações, e o indivíduo era especial por ser fisicamente circuncidado.
      Sim, Deus sempre olhou a intenção do coração, isso é claro nos textos de Davi e em muitas exortações dos profetas, mas o Altíssimo não podia falar a meninos sobre coisas de adultos, esses não poderiam entender. Contudo, a igreja católica e mesmo muitas evangélicas, seguem querendo repetir um modelo de relacionamento que Deus já deixou para trás, insistem em estabelecer no mundo um cristianismo nos moldes da nação física de Israel dos tempos do antigo testamento. Obviamente que numa visão herege assim, o Espírito Santo deve ser calado, e isso foi a primeira coisa que uma igreja, recém saída da igreja primitiva dos apóstolos originais e dos primeiros discípulos, fez para criar o politeísmo católico dos santos. 
      A reforma protestante não deu voz livre ao Espírito Santo, só simplificou as vozes dos homens, e mesmo o pentecostalismo, de muitas das chamadas igrejas evangélicas atuais, tem no melhor das circunstâncias uma experiência infantil e primária com a voz de Deus pelo Espírito Santo, deseja o êxtase emocional inicial da experiência e não o conhecimento espiritual mais profundo que ela permite. Muitas “manifestações” são só clichês de palavras proféticas veo-testamentárias, eis novamente homens limitando a palavra individual para que seja coletiva e mais facilmente manipulada a favor de seus interesses materialistas de poder no mundo. É preciso coragem para seguir e ouvir a voz de Deus, missão solitária. 

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a 2ª parte desta reflexão

07/08/22

Pessoal e intransferível (7/92)

     “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.
      “Os homens maus não entendem o juízo, mas os que buscam ao Senhor entendem tudo.
      “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.
      “O homem fiel será coberto de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não ficará impune.
Provérbios 28.1, 5, 13, 20

      Responsabilidade é pensar nas consequências ruins e não fazermos o que possa causá-las, nesse caso responsabilidade está relacionada com amor. Se nos amamos de fato evitaremos o que ainda que traga prazer imediato pode prejudicar nosso corpo, nossa mente e nosso espírito depois. Se amamos os outros poderemos evitar mesmo coisas que parecem não nos prejudicar, mas aos outros, isso é crescer no amor. Mas não fazermos um monte de coisas porque seus efeitos podem prejudicar nossa comunhão com Deus, ou mais, podem dar a outros, seres humanos no mundo ou espirituais, um mal testemunho de alguém que já assumiu ser luzeiro de Deus, isso é espiritualidade mais alta. 
      Toda causa tem efeito e efeitos ruins agridem alguém de alguma maneira, ainda que seja o testemunho que nos comprometemos dar das virtudes de Deus. Responsabilidade é entender que não estamos sozinhos, e que se não é correto desprezarmos alguém, muito menos é agirmos irresponsavelmente com quem nos ama. O caminho reto consiste em escolhas responsáveis, os que andam nele são seres iluminados no mundo, Deus e seus exércitos cuidarão deles e eles serão poderosamente úteis para abençoarem os outros. Responsabilidade é pensar nas consequências, nos outros, mas é mais que fazer escolhas racionais, é achar prazer em fazer o que é certo porque isso agrada a Deus. 
      O que precisamos entender é que responsabilidade pessoal não pode ser transferida, ainda que num comodismo mais intelectual que moral autorizemos religiões e ideologias políticas a pensarem por nós. Deus, que é justo e verdadeiro, avalia essas autorizações como escolhas pessoais. Dessa forma não poderemos usar a desculpa que não tínhamos controle sobre as intenções de instituições e de líderes, utilizando a justificativa tão comum, “no mundo nada é perfeito”. Não é perfeito porque nós somos imperfeitos, mas Deus é perfeito e nos chama a ele, ainda que tenhamos que conviver com padres, pastores e políticos, cabe a nós, individualmente, saber até onde seguir debaixo de homens. 
      Seremos responsabilizados por dar crédito a fake news e teorias de conspiração, e por passar isso à frente como verdades, calúnia é uma espécie de homicídio, é assassinato de reputação. Não poderemos alegar que cremos porque estava na internet ou vindo de fonte de alguém famoso e importante, os tempos mudaram, assim como os crimes e as responsabilidades. Espaços virtuais precisam de melhores legislações, principalmente para que se possa separar liberdade de expressão de veiculação irresponsável de informação, mas “Deus está vendo”. Ainda que não existam leis humanas adequadas, o Espírito Santo sempre orienta os que o buscam e mostra o que é certo e o que não é. 
      Só depende de nós parar de perdermos tempo com a mentira, que não desembaraça, só confunde e amarra, e decidirmos em fé pela verdade. Qual é a verdade? A simples, que leva ao equilíbrio e que não pende para extremos, que traz paz imediata que permanece, que ainda que não responda tudo, porque a verdade mais alta não fecha, abre, deixa-nos livres para seguirmos questionando e conhecendo, em santidade e humildade. Só a responsabilidade pessoal conduz à verdade e com efeito só ela deixa a paz que independe do mundo, de homens, de coisas aparentes, de vaidades, mas se firma totalmente em Deus. Você é responsável por você e por muitos outros, assuma isso e seja bênção! 
      Na responsabilidade há retidão e no caminho reto há a luz de Deus, que nos conduz em segurança e nos faz conhecer os mistérios. “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los, mas os justos são ousados como um leão”, “o que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”, enquanto o ímpio anda confuso em suas próprias mentiras e pecados não perdoados, o justo não foge de perigo real, nem encobre seu pecado. Busca rapidamente o perdão do Senhor, confia prontamente em seu Deus, e por isso é imediatamente perdoado e protegido pelo Altíssimo. Na reta responsabilidade há uso eficiente de tempo e espaço. 
      Na irresponsabilidade de seus caminhos, os ímpios podem até achar que sabem muitas coisas, por isso gostam de falar para tentar convencer a si mesmos enquanto acham que podem convencer os outros. “Os homens maus não entendem o juízo, mas os que buscam ao Senhor entendem tudo”, “o homem fiel será coberto de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não ficará impune”, os justos não andam perdidos e sem conhecimento, mas ainda que discirnam tudo não caem na vaidade de tentar convencer os tolos. Os justos serão supridos porque têm as prioridades certas, não têm pressa de serem ricos e importantes no mundo, mas de exercerem reta responsabilidade diante de Deus. 

06/08/22

Responsabilidade e retidão (6/92)

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Responsabilidade pessoal significa assumir culpas e obrigações como deveres pessoais, não cobrando de outros dívidas que são nossas, nem tornando os outros encarregados por trabalhos que nos cabem. A definição parece simples, mas nós, seres humanos, somos especialistas em agir de maneira irresponsável, deixando de executar tarefas que competem a nós e a mais ninguém. Isso nos traz vários problemas e em várias áreas, mas em se tratando das áreas emocional e moral, nos impede de crescer espiritualmente e de ter uma comunhão plena com Deus. 
      Ainda que sejamos cidadãos civilizados, trabalhadores e honestos, podemos ser irresponsáveis, isso se percebe em existências que evitam o caminho reto. Uma linha reta sai de um ponto e chega a outro ponto usando a menor distância, sem curvas ou zigue-zague, sem ir e retroceder ou pausar, mas sempre indo, à frente, direto ao ponto. No caminho reto sabemos que só temos um opositor, nós mesmos, e que sempre temos um auxílio, de Deus, assim, podemos até ir mais devagar, mas sem confusão ou enrolação, sabemos quem somos, onde queremos chegar e quem está conosco.
      Isso não significa caminharmos sozinhos, aliás, nossas existências têm uma característica inerente, elas nunca estão sós. Sim, fisicamente podemos fazer muitas coisas sozinhos, nos denominarmos socialmente solteiros, mas a solidão talvez seja justamente a dor, não de estarmos sós, mas de nos sentirmos sós. Quem se acha só sofrerá de solidão mesmo casado, mesmo no meio de uma grande família, entre muitos amigos ou cercado por irmãos num templo. O que não nos deixa nunca estar sozinhos, é todo um mundo espiritual invisível ao nosso redor. Acredite, você nunca está sozinho.
      Termos Deus e todo um exército de seres espirituais de luz conosco, é o que nos capacita para sermos responsáveis. Não precisamos culpar os outros ou bajular os outros para dividirmos erros ou obtermos favores, nossas culpas Deus perdoa e nossa força vem de Deus, que move exércitos a nosso favor. Uma característica de Deus, que podemos demorar um tempo para entender, e que muitos nunca entendem, é que Deus não perde tempo com culpas e bajulações. Deus é reto, por isso nos orienta num caminho reto, não existe condenação ou cobrança no melhor de Deus, só existe longe desse melhor.
      Sim, há disciplina em Deus, mas na disciplina se exerce trabalho honesto, para que vençamos certas coisas, aprendamos outras coisas, e sigamos no caminho reto em direção à luz mais alta de Deus. Se gastamos tempo em autocomiseração, em remorsos, em iras e invejas, é porque queremos, não é o Espírito de Deus que nos tortura, somos nós e seres espirituais das trevas que “vibram” numa “frequência” baixa que nós mesmos produzimos. Se dermos ouvidos a Deus seremos levantados pelos anjos de luz, limpos pelo nome de Jesus, e “vibraremos” nas altas “frequências” pelo Santo Espírito. 
      Desculpe-me por usar os termos “vibrar” e “frequências”, você pode tomá-los como metáforas para se colocar pela fé numa posição espiritual, mas penso que eles nos ajudam a entender a oração, em que estabelecemos um contato mental com um Deus espiritual. Conhecer a Deus é aprender a ser responsável, se pecamos, sofremos, mas não precisamos ficar perdendo tempo na culpa, Deus não perde. Pela fé e sempre pela fé podemos nos levantar imediatamente, isso faz com que nos acostumemos com a luz para não sairmos dela tão facilmente, culpa pode fazer mais mal que o erro em si. 
      Neste mundo, quem “gosta” de inferno é quem se posta como demônio, e gosta porque é orgulhoso demais para admitir que sua escolha só o faz perder tempo. Não nos postemos como demônios, mas como anjos, amemos a luz e permaneçamos nela. Deus não tem prazer em nos deixar em infernos, e eis um mistério, no inferno damos trabalho aos anjos, mas no céu ajudamos os anjos em seus trabalhos. Sejamos aqueles que humildemente assumem suas responsabilidades, sozinhos na culpa, mas acompanhados no perdão, e rápidos para nos erguermos no caminho reto para o Altíssimo.

05/08/22

Anjos e demônios (5/92)

      “E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por herança alcanceis a bênção. Porque que  quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.I Pedro 3.8-12

      A humanidade construiu formas físicas para seres espirituais, anjos, arcanjos, demônios, diabos, querubins e outros. Os primeiros homens que tiveram experiências reais com seres espirituais, os interpretaram em suas mentes com determinados formatos, conforme suas culturas e religiões. Podiam ter formas humanas, formas animais, misturas de ambas. Mas será que seres espirituais realmente têm essas formas? Talvez, mas não necessariamente e isso nem é relevante, seres espirituais são espíritos, como Deus. Não precisam de membros para se moverem ou manusearem as coisas, nem de rostos para verem, ouvirem e falarem. Os homens, contudo, no plano físico, fazem ajustes, aproximações, para entenderem e memorizarem as experiências, facilitando interações mentais.  
      Se você, cristão, não aceita isso, se acha, por exemplo, que o diabo é um ser vermelho, com chifres, rabo, cascos, num corpo parte humano, parte animal, aceite, essa imagem é só um estereótipo da civilização europeia, baseada no deus  grego (Fauno para os romanos). O mesmo ser espiritual também é conhecido por japoneses, africanos ou hindus, e para esses o formato físico do ser no papel do diabo é outro, tenhamos cuidado com formatos físicos de seres espirituais. É importante que entendamos também a irrelevância do formato, o que vale é a intenção espiritual dentro dos homens, não importa o que eles imaginem e para onde olham, para reforçar a imaginação, se querem estabelecer contato com o diabo espírito, estabelecerão, acredite, o mesmo vale para outros ídolos, entidades ou espíritos.
      O formato físico que aliamos a seres espirituais da luz pode ser mais adequado com o que eles são. Enquanto aliamos a seres das trevas imagens que criamos em nossas mentes impressionadas pelo medo, por coisas ruins e desconfortos emocionais e morais, por isso “vemos” rostos assustadores, monstruosos, ainda que sejam, para nós no plano físico, só borrões negros disformes, aliamos aos seres da luz asas e vestidos. Não conseguimos olhar direito para a luz forte, vemos reflexos, raios multicoloridos que saem do centro formando estrelas, assim imaginarmos vestidos que se abrem na parte inferior e asas que se expandem na parte superior é explicável. O bem está na concentração de energia perto de Deus, o mal no vazio distante do melhor de Deus, o bem é luz virtuosa e o mal, escuridão moral. 
      O ponto desta reflexão é uma pergunta: o que na prática são anjos e demônios? Eles têm importância pelo que são ou pelo que fazem? Podem estar numa posição em que seus corpos são espirituais, não materiais, assim a substância de seus corpos é diferente da substância de nossos corpos como seres humanos no mundo, mas em relação ao que fazem não são muito diferentes de nós. Gostamos de colocar a culpa nos outros, e se cremos em seres eternamente e absolutamente maus, temos alguém bem adequado para eleger como culpado. Mas será que o diabo e os demônios são mais maus que os homens? Não, nem têm mais influência que eles. Apesar de estarmos presos à matéria nossas intenções e ações podem tanto prejudicar quanto abençoar tanto quando seres espirituais das trevas e da luz. 
      Quando nos colocamos para orar temendo a natureza moral elevada de Deus, humildemente submetendo-nos à capacidade do Espírito Santo, não à nossa, respeitando o livre arbítrio dos seres humanos, pacientemente esperando que todos se aproximem do Altíssimo, quando isso ocorre mais que um diálogo acontece. Orar não é só pedir e agradecer pelo que se recebe, é se permitir ser canal de ligação entre Deus e outros seres, refletindo a luz divina em todos os que estão ao nosso redor, materiais e espirituais, e principalmente aos que citamos nominalmente em oração. Quem realiza essa interação é o Espírito Santo e os seres espirituais de luz, que não fariam esse trabalho se nós não tivéssemos orado a Deus do jeito certo. Deus atua com poder, mas nos concede ser participantes dessa ação. 
      Há seres no plano espiritual em posições morais extremas, mais maus que nós e mais bons que nós, mas no plano físico, ainda que amarrados a corpos materiais, podemos exercer decisões até mais abrangentes. Exércitos celestes são movidos pela nossa intenção, tanto os da luz quanto os das trevas. No plano físico temos livre arbítrio para decidir o que queremos fazer, uma escolha nossa pode ter atuação mais decisiva que a de seres espirituais. Por mais poder que seres da luz tenham, não farão tudo o que podem se nós não autorizarmos. Por outro lado, seres das trevas, ainda que atuem sempre tentando os seres humanos no mundo, têm ação potencializada quando queremos fazer o mal aqui. O diabo e os demônios, por exemplo, não podem matar fisicamente alguém, tragicamente nós podemos.
      Apesar de nossas existências no mundo serem curtas e frágeis, são especiais em relação à eternidade puramente espiritual, ninguém menospreze suas responsabilidades, suas escolhas e seu papel, principalmente quando se coloca em comunhão com Deus para fazer sua vontade. “A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tiago 5.16b), não nos esqueçamos das orações de Elias (I Reis 17.1) e de Daniel (Daniel 10.12-13), esses se colocaram como seres de luz, anjos de Deus, no mundo material. Contudo, quando nos portamos como julgadores do mal, condenando, invejando, maldizendo, odiando, nos fazemos demônios, talvez até piores que os puramente espirituais. Não joguemos a culpa no diabo quando podemos ser até piores, o mundo tem hospedado verdadeiros diabos encarnados.
      Tenhamos cuidado em como vivemos neste mundo, muitos não percebem, mas ainda que dentro de igrejas e sendo cidadãos decentes, desempenham espiritualmente papéis de demônios, e segue um mistério, e poderão continuar assim na eternidade. Demônio não tem direito ao céu, já traz o inferno dentro de si. Outros, contudo, no sofrimento, na falta, não na perfeição, porque ninguém neste mundo o é, mas lutando dia a dia contra seus demônios interiores e prevalecendo, são anjos de luz. Amam sem interesses, buscam a paz com todo o coração, intercedem junto a Deus mesmo pelos que se colocam como seus demônios. A escolha é nossa, a culpa não é do diabo, a responsabilidade é nossa, nós decidimos se queremos ser demônios, Deus atrai todos à sua luz, sejamos anjos, aqui e na eternidade.