quinta-feira, agosto 11, 2022

Limpos de coração (11/92)

      “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a DeusMateus 5.8

      A primeira coisa que nos vem à mente quando lemos o termo limpo de coração é alguém que não está em “pecado”. As primeiras ideias que fazemos de “pecado” é a satisfação de desejos do corpo físico e de forma descontrolada, assim quando pensamos num limpo de coração pensamos em alguém que não adultera, que não fuma, que não ingere bebidas alcoólicas (pelo menos não excessivamente), que come com equilíbrio, enfim, que não tem vícios. A conclusão sobre o versículo inicial, então nos parece fácil: vê a Deus quem não adultera, que não fuma, que não bebe ou come sem limites, enfim, que tem controle sobre coisas materiais que entram em seu corpo físico. 
      Podemos entender “pecado” em duas camadas, e em ambas como ações, pensamentos, sentimentos e palavras que nos separam de Deus de alguma forma. Algo que precisamos dizer antes de tudo, é que o que separa uma pessoa de Deus pode não ser o que separa outra pessoa de Deus, o que alguém considera “pecado” pode não ser considerado “pecado” por outra pessoa, ainda que de maneira geral “pecado” seja “pecado” para todos, existem nuanças. A primeira camada do “pecado”, e que não pode ser relevada, refere-se às “tentações” do dia a dia, ou menos mais pontuais, mas que dizem respeito ao que dissemos acima, satisfação fácil de prazeres do corpo físico. 
      Precisamos ter limpeza não só moral, mas também física no que se refere à primeira camada, contudo, precisamos entender, e é por não entender isso que muitos cometeram e cometem sérios erros sobre o que é “santidade”, que só essa primeira condição não basta. Nos acharmos “santos”, limpos de coração, só porque não nos corrompemos com sexo errado, ou não tentamos nos satisfazer com prazeres do corpo além das necessidades básicas, ou não temos vícios com drogas ou outros elementos que alterem nossa consciência, não basta. Podemos estar limpos assim e não sermos limpos de coração, podemos parecer não pecar e sermos pecadores dentro de nós. 
      Os “pecados” da primeira camada podem ser limpos mais rapidamente e com oração sincera, ainda que libertação plena de vícios exija mais tempo. São os “pecados” da segunda camada que de fato sujam nosso coração e nos impedem de ver Deus. Desses não nos livramos facilmente, podem ser necessários anos para entendermos e sermos limpos desses. Entendamos “coração” como o centro racional e emocional de nossos seres, nossa mente, percepções sensoriais interiores, e mais, nosso espírito. Assim, o “pecado” que nos impede de ver a Deus suja, não nosso corpo ou nossos sentimentos e pensamentos e só por algum tempo, mas nossos espíritos e de forma mais duradoura. 
      No meio pentecostal, onde é mais provável que as pessoas busquem dons espirituais, já ouvi gente dizendo, “faço tudo certo, jejuo, me consagro, não peco, mas não recebo dons espirituais”, esses talvez se limpem na primeira camada, mas não se purificam na segunda, o coração. Não estou dizendo que quem recebe dons espirituais está totalmente limpo de coração, não existem fórmulas para experiência espirituais, só Deus sabe quem merece, está preparado e recebe sua intimidade, não nos cabe julgar. A humanidade ocidental passou séculos, na maior parte, aquela doutrinada pelo catolicismo, sendo ensinada a se limpar só na primeira camada, e assim vendo religião, não Deus. 
      Podemos reinterpretar o versículo inicial dessa maneira: muito felizes os limpos de espírito, porque terão experiências profundas com Deus. Mas o que seriam esses “pecados” da segunda camada? São muitos, mas podem se resumir a um: a vaidade. Parece estranho vaidade estar aliada a busca espiritual? Mas acredite, muitos buscam experiências espirituais por vaidade, justamente porque sabem da relevância de espiritualidade, como superior a bens materiais, posições sociais ou a belezas e prazeres do corpo. Contudo, pensam, “se não posso ser rico e bonito ou se já sou isso e ainda não estou satisfeito, quero ter experiências espirituais, talvez assim serei feliz”.
      “E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas? E dizia: O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.18-23). Não são os males que entram no corpo os piores, mas os que saem do coração.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

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