segunda-feira, agosto 08, 2022

A voz do Senhor (8/92)

      “Dai ao Senhor, ó filhos dos poderosos, dai ao Senhor glória e força. Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade. 
      A voz do Senhor ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o Senhor está sobre as muitas águas. A voz do Senhor é poderosa; a voz do Senhor é cheia de majestade. 
      A voz do Senhor quebra os cedros; sim, o Senhor quebra os cedros do Líbano. Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. 
      A voz do Senhor separa as labaredas do fogo. A voz do Senhor faz tremer o deserto; o Senhor faz tremer o deserto de Cades. A voz do Senhor faz parir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala da sua glória. 
      O Senhor se assentou sobre o dilúvio; o Senhor se assenta como Rei, perpetuamente. O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.
Salmos 29
 
     Tenho falado bastante aqui sobre ter uma experiência espiritual mais profunda com Deus, mas até que ponto muitos cristãos entendem o que é uma experiência espiritual mais profunda? Se fizermos pesquisa numa versão bíblica em computador ou celular, para identificarmos os termos “voz do Senhor” ou “falou o Senhor”, acharemos dezenas de citações, isso significa que profetas e outros homens e mulheres, que andaram com Deus principalmente nos tempos do antigo testamento, ouviam a voz de Deus. E quanto a nós hoje, ouvimos essa voz? Se personagens bíblicos tinham essa experiência então ela não era efeito de algum transtorno mental de ouvir “vozes”, era um diálogo direto com o Altíssimo, onde se fala e se ouve. 
      Não estou dizendo que não existam doenças psiquiátricas que levam as pessoas a ouvir vozes, que apesar de muitos acharem que são de outros seres (humanos ou espíritos), são só ecos de suas próprias mentes, essa experiência é danosa, maléfica, pode e deve ser tratada com orientação profissional médica e remédios. Contudo, num tempo em que a bênção da ciência beneficia a humanidade com tantos cuidados, muitos cristãos usam referências científicas, apesar de por formas antagônicas, de maneira equivocada. Alguns negam a ciência e impedem que ela seja ferramenta da providência para cura e educação, e outros a usam como desculpa para não provarem experiências profundas com o Santo Espírito.
      A fé não sabe tudo, muito menos a ciência sabe, no equilíbrio os simples acham sabedoria. No início desta reflexão separei o Salmo 29 porque ele cita sete vezes “voz do Senhor”. Esse texto, contudo, reconhece a voz de Deus em eventos materiais e grandiosos, percepção típica do homem que andava com Deus no tempo do antigo testamento, na natureza, nas águas, no fogo, no deserto, nos animais, enfim, nas manifestações de vida e clima do planeta Terra. Mas em outras muitas passagens a voz do Senhor é ouvida orientando as nações, abençoando e disciplinando, concedendo vitória e decretando derrota, novamente a visão beligerante do homem antigo testifica sobre as ações de Deus que são relevantes a suas vivências. 
      Houve mudanças no novo testamento em relação ao antigo, da nova aliança em relação à velha, da Lei para o evangelho, de Moisés para Cristo. Mas entre essas duas visões de relacionamentos com Deus, houve a passagem da bênção coletiva para a pessoal, de uma nação para o indivíduo, indiferente da nação que o indivíduo faça parte. Assim, a voz de Deus também passou a ser mais específica, principalmente porque agora não é mais a tribo física dos levitas a responsável pela religiosidade, mas o Espírito Santo enviado por Jesus habitando nos homens. Não que Deus não falasse a indivíduos sobre assuntos pessoais, mas o foco era vitória de Israel sobre outras nações, e o indivíduo era especial por ser fisicamente circuncidado.
      Sim, Deus sempre olhou a intenção do coração, isso é claro nos textos de Davi e em muitas exortações dos profetas, mas o Altíssimo não podia falar a meninos sobre coisas de adultos, esses não poderiam entender. Contudo, a igreja católica e mesmo muitas evangélicas, seguem querendo repetir um modelo de relacionamento que Deus já deixou para trás, insistem em estabelecer no mundo um cristianismo nos moldes da nação física de Israel dos tempos do antigo testamento. Obviamente que numa visão herege assim, o Espírito Santo deve ser calado, e isso foi a primeira coisa que uma igreja, recém saída da igreja primitiva dos apóstolos originais e dos primeiros discípulos, fez para criar o politeísmo católico dos santos. 
      A reforma protestante não deu voz livre ao Espírito Santo, só simplificou as vozes dos homens, e mesmo o pentecostalismo, de muitas das chamadas igrejas evangélicas atuais, tem no melhor das circunstâncias uma experiência infantil e primária com a voz de Deus pelo Espírito Santo, deseja o êxtase emocional inicial da experiência e não o conhecimento espiritual mais profundo que ela permite. Muitas “manifestações” são só clichês de palavras proféticas veo-testamentárias, eis novamente homens limitando a palavra individual para que seja coletiva e mais facilmente manipulada a favor de seus interesses materialistas de poder no mundo. É preciso coragem para seguir e ouvir a voz de Deus, missão solitária. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

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