19/10/22

Salvação se perde? (80/92)

      “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo. E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento.” “Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.Hebreus 6.4-6a, 7-8

      Meus queridos, é de suma importância que vençamos fraquezas morais neste mundo. Não basta assumirmos erros, pedirmos perdão por eles a Deus em nome de Jesus, e ficarmos em paz, para depois repetirmos e repetirmos o processo ad infinitum. Isso não basta para termos a melhor eternidade com Deus, o céu. Não serei irresponsável com vocês, dizendo que as coisas são assim tão simples e fáceis, porque não são. Temos que lutar e vencer, vence-se mantendo-se numa nova condição de vitória sobre fraquezas morais no tempo. Responda a você mesmo com sinceridade: pode dizer que já deixou de praticar certas condutas, de dizer certas coisas, de pensar tantas coisas, testificando que de fato venceu certas fraquezas? 
      O texto bíblico inicial entrega um ensino bem sério, que deixa claro que uma decisão de fé tornando-se membro de uma igreja e mesmo tendo algum tempo de vida de acordo com a vontade de Deus, não bastam, caso depois se volte à prática de velhos pecados. Veja que na parábola do texto, a mesma água cai sobre sobre terras que dão frutos diferentes, uma dá erva proveitosa e outra dá espinhos e abrolhos, a água é simbologia do Espírito Santo. Se ambas recebem a mesma água, simbolizam seres humanos diferentes recebendo o mesmo Espírito Santo, portanto, sendo ambos “convertidos” ao evangelho, estando em igrejas e tendo vidas religiosas semelhantes, o que dá “espinhos” e “abrolhos” não é um ímpio ou incrédulo.
      O ponto aqui não é se opor ao entendimento que seres humanos não erram depois que conhecem o cristianismo, isso é o óbvio, mas é enfatizar que fé e perdão não bastam. Se não houver trabalho constante, o fim de quem começou certo pode ser até pior que o daqueles que nunca foram certos. “Se depois de terem escapado das corrupções do mundo forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro, melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se” (extraído de II Pedro 2.20-21). De quem mais sabe mais é cobrado, contudo, não sou extremista como parece ser o autor da carta aos Hebreus, acredito que sempre há novas oportunidades.
      Contudo, teimosia no erro aumenta o preço do arrependimento, não porque Deus negue perdão, mas porque podemos chegar num ponto que temos muita dificuldade de nos perdoar, assim, podemos nos afastar muito de Deus. Dificuldade para vencer fraquezas todos temos e sempre, muitas coisas só vencemos no final da vida, simplesmente por enjoarmos de fazer a coisa errada e ela não nos trazer mais prazer. Deus ama quem quer fazer a coisa certa porque é o certo a se fazer e agradável a ele, permitindo assim ao homem aperfeiçoamento moral e crescimento espiritual. Só isso nos faz cidadãos do céu, carimbar o passaporte para a melhor eternidade de Deus é algo feito aqui, com mudança real de vida que permanece. 
      Se você tiver mais fé que eu, pode aceitar o texto bíblico inicial na íntegra e ao pé da letra, mas isso implica em alguns posicionamentos extremados. O texto pode apoiar a crença que salvação se perde, a isso podemos contra-argumentar que só “perde” quem nunca teve, mas veja que ambas as terras receberam a mesma água, assim, tanto salvos como perdidos receberam o Espírito Santo, mas se salvação se perde o selo do Espírito é retirado. Por outro lado se salvação não se perde, muitos salvos que se desviaram podem estar vivendo vidas desalinhadas com o evangelho e ainda assim serem salvos, a isso podemos contra-argumentar que não sabemos o fim desses, quem sabe se não voltarão ao evangelho antes de morrerem? 
      Penso que salvação se perde e pode ser novamente adquirida, mas também creio que quem foi selado de maneira diferenciada com o Santo Espírito, pode até se afastar do convívio de igrejas cristãs, mas nunca perderá uma conexão espiritual especial e verdadeira com Deus. Quem é amigo de Deus sempre será, isso é mais forte que o mundo, que a vida, e a providência divina sempre conduzirá os amigos do Senhor a sua intimidade, a tempo de se prepararem o melhor possível para a eternidade. O problema é que amamos julgar mal as pessoas, condená-las neste mundo, se relativo ao direito que achamos ter de sermos juízes, tivéssemos o dever de sermos amigos, poderíamos ser instrumentos de salvação em muitas vidas. 

18/10/22

A vida é espiritual (79/92)

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.Mateus 13.43-44

      Em 2018, no dia 10 de abril, meu pai faleceu. À noite, quando cheguei de viagem a Ribeirão Preto, fui até o velório, e vi pela primeira vez o corpo no caixão, uma percepção muito interessante me veio. Era noite, o local estava vazio, à meia luz, o enterro seria só na manhã seguinte, mas o responsável abriu o lugar para nós. Não me aproximei do caixão, olhei de longe, então, um sentimento forte me veio sem ao menos eu pensar no assunto, sem nenhuma racionalização, emoção expressa numa frase: “ele não está aí”. 
      Devemos respeito a todos, sempre, a quem perde entes queridos, mais ainda, a maneira como as pessoas expressam sentimentos pode variar, ninguém se ache melhor ou pior por se expressar de um jeito. Contudo, em nenhum momento senti vontade de correr ao caixão e interagir emocionalmente com o que restava de meu pai, confesso, e repetindo, com o maior respeito com todos, naquele momento não entendi quem desesperadamente abraça caixões. Talvez porque minha relação com meu pai não tenha sido tão próxima…
      Por favor, me entendam corretamente, não estou fazendo julgamento de valor, dizendo que isso é errado e aquilo é certo, mas eu senti um discernimento espiritual muito forte e claro, que me dizia que aquilo que eu conhecia como meu pai não estava naquela sala, não estava naquele lugar, não estava mais no mundo material, mas no plano espiritual. O consolo que isso me trouxe foi não mentalizar e registrar como memória um ser em decomposição, com a carne sem cor, os olhos sem brilho, enfim, matéria descartada. 
      A “imagem” que me veio depois, e que permanece em mim até hoje de meu pai, é a de um ser espiritual vivo e eterno. No texto bíblico inicial, de novo com a frase que enuncia mistérios, quem tem ouvidos, ouça, uma revelação, a última imagem que temos de quem parte, não representa o que podemos nos tornar, espíritos que brilharão como o Sol. Muitos, ainda que religiosos, têm visões materialistas da vida, passam anos em templos, mas não creem na eternidade, não a ponto de serem consolados por ela quando precisam. 
      Infelizmente muito do falso cristianismo leva os homens a celebrarem mais a morte que a vida, por isso um ícone tão usado é o de um “Cristo” ainda na cruz. Mesmo a visão de santidade é equivocada, privações e proibições que tentam mortificar o corpo ainda em vida, menosprezando o Espírito Santo. Só se aprende os mistérios da vida eterna dando liberdade ao vivo Espírito Santo, só ele pode dominar a matéria. Só quem tem essa experiência enfrentará a morte de maneira correta, ainda que com dor, mas com paz e certeza.
      A experiência que tive não é mera imaginação ou privilégio de alguns, é o discernimento que o Espírito Santo dá a todos que o buscam. A vida é espiritual, não material, a realidade é espiritual, a matéria que é uma ilusão passageira. Adquire-se esse entendimento e o retém quem pratica vida de íntima comunhão espiritual com Deus por Jesus e no Espírito Santo. Aos que sofrem com a partida de entes queridos, Deus vos ama e pode consolar-vos, se o buscarem com todo o coração. A morte não tem que ser dor sem fim. 

17/10/22

Onde tesouros não são consumidos (78/92)

      “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.Mateus 6.19-21

      Tanto tempo, tanta energia, tanta saúde, tanta preocupação, são gastos tentando ajuntar tesouros neste mundo. Sei que precisamos trabalhar e muito para darmos vidas materiais dignas às nossas famílias neste mundo, mas até que ponto? Acabamos ficando obcecados pelo mundo, não sabemos o momento de parar de nos gastar nele, buscarmos mais a Deus e crermos nele. Assim, muitos veem o que conquistaram por anos perdido por filhos que não souberam administrar o que receberam, e não souberam fazer isso porque lhes faltou a proximidade de pais, que ao invés de estarem obcecados por trabalho, deviam estar confiando em Deus e mais próximos a filhos. Acabamos achando que proteger nossos filhos de sofrerem como nós sofremos, é entregar-lhes bens materiais, esquecemos que o que eles mais precisam é de nós. 
      A visão que passei acima não representa grande parte das famílias atualmente, principalmente as de classes financeiramente mais baixas, talvez represente famílias do meu tempo e da geração seguinte, dos que hoje têm entre quarenta e sessenta anos e de classe média e acima. Hoje, a última geração, com menor poder aquisitivo e que representa a maior parte das pessoas, pelo menos, no Brasil, não consegue acumular algo para os filhos. Mantém famílias com ajuda dos pais também em condições difíceis, torcendo que filhos atinjam a idade mínima para trabalharem e ajudarem a sustentar lares desestruturados. Temos que tomar cuidado quando fazemos análises sociais hoje em dia, como representante da classe média, gente como eu não representa a maioria, minhas referências pouco dizem a uma grande parte de brasileiros. 
      Isso tem que me preocupar, porque a palavra do “Como o ar que respiro” precisa falar a quantos forem possíveis, não só a elites. Deus ama a todos e deseja que uma orientação de esclarecimento espiritual chegue a todos. Mas ainda que os de classes mais baixas não tenham condições de construir patrimônios para seus filhos, também perdem tempo, energia, saúde e preocupação com coisas erradas, e para esses ainda mais difíceis de serem conquistadas. Por isso cresce a marginalidade, instrumentalizada pelo crime e pelo tráfico de drogas, a qual muitos se aliam para obter aquilo que sabem que dificilmente conseguiriam com trabalho duro e honesto. De um jeito ou de outro, o ser humano teima em ajuntar tesouros na terra, onde traça e ferrugem consomem, e onde ladrões minam e roubam
      Como ajuntamos tesouros no céu? Estando próximos às pessoas em amor. O ser humano, de maneira geral, é social, gostamos de nos reunir com amigos, isso sempre é prazeroso. Mas o que compartilhamos nesses encontros, são palavras de graça e vida eterna, ou vãos prazeres, malícia e morte? Por mais gostoso que seja começar um churrasco em família, regado com muita cerveja, o final pode ser patético, o álcool revela prioridades e verdades das pessoas, não raramente reuniões de família acabam em brigas. Para haver graça e vida, deve haver Deus, e pode bastar uma luz para que todo o ambiente se ilumine. Ser luz de Deus não é ser moralista, evangelista inconveniente, religioso chato, falador dono da verdade, não, tem a ver com esperar com sabedoria, mais ouvir que falar, pronto para ser útil no momento adequado. 
      Os tesouros mais preciosos que existem não são ouro, prata e pedras preciosas, ou em valores atuais, um carro caro, roupas luxuosas, um cartão de crédito ilimitado ou o celular topo de linha, isso tudo se consome no tempo. Tesouros são virtudes morais nos espíritos dos seres humanos, generosidade, misericórdia, amor, santidade, paz, praticarmos isso e ajudarmos os outros a praticarem é ajuntar tesouros que não se consomem, porque podem ser levados deste mundo para a eternidade. Onde está nosso coração, nos tesouros do mundo ou nos eternos? Se está nos tesouros eternos, ainda que trabalhemos por vidas dignas no mundo, não damos tanto valor e não perdemos tempo demais com coisas materiais, não sofremos tanto com perder e não nos alegramos demais ao ganhar, sabemos que estamos aqui de passagem. 
      Nos preocupemos em amar e em sermos úteis às pessoas, aguardando sempre oportunidades para podermos ajudar, e como as pessoas precisam de ajuda, principalmente quando veem que os tesouros que ajuntaram neste mundo não resolvem seus problemas mais sérios. Os tesouros deste mundo não trazem de volta entes queridos que partiram, não compram cura para muitas enfermidades, não preenchem a solidão, não anulam culpas por coisas erradas que foram feitas e que não podem ser desfeitas. Mas muitos desistem da vida simplesmente porque perdem os tesouros que ajuntaram neste mundo, e nem é preciso que sejam milionários falidos, basta que sejam pessoas de classe média que se acostumaram a serem valorizadas pelos pares, não por virtudes morais, ainda que não fossem imorais, mas pela estabilidade financeira que tinham.

16/10/22

Resolvamos pendências aqui (77/92)

      “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.Mateus 5.25-26

      A passagem inicial faz parte do que considero o texto mais importante da Bíblia, os capítulos 5 ao 7 do evangelho de Mateus, nele estão registrados os ensinos de Jesus no chamado “Sermão da Montanha”. Os versículos acima falam de resolvermos pendências, de pedirmos perdão e acertarmos assuntos pessoais não resolvidos. Mas será que ele também pode revelar coisas sobre a eternidade, a duração de penas e até mesmo sobre a “inferno”? 
      Ninguém é perfeito e alguns de nós, como eu, são muito imperfeitos, assim pisam muito na bola, principalmente na falta de amor para com as pessoas. “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor” (Romanos 13.8a), quem tem dívida deve procurar pagá-la o quanto antes, o melhor pagamento é fazer certo o que se fez errado, contudo, na impossibilidade disso, um pedido sincero de perdão, que não exige nada em troca, pode ser necessário. 
      Não tenhamos medo ou orgulho de pedirmos perdão, entretanto, alguns perdões de homens podem ser difíceis, assim, oremos antes e peçamos orientação de Deus, se sentirmos paz, peçamos perdão, senão, descansemos no perdão de Deus e oremos por quem pode não querer nos perdoar. Com alguns erros teremos que conviver por toda a vida, não devem impedir-nos de termos paz em Deus, mas devem ser lembrados com humildade.
      As coisas têm consequências nesta vida, às vezes bem duras, mas o sábio não se esquecerá de pendências, orará ao Senhor para que o coração de quem ele machucou seja quebrantado e possa, um dia, perdoá-lo. Mas existem outras pendências na vida, que não um erro que cometemos contra alguém. Percebo isso à medida que envelheço, desejo de reencontrar alguns que conheci em minha trajetória e tentar ser a bênção que não fui no passado. 
      À medida que o tempo passa teremos menos amigos próximos, pelo menos não novos, assim pode ser importante recuperarmos velhas amizades, das quais o mundo e o tempo nos separaram. Eu acredito que toda aproximação que fazemos neste mundo tem um propósito especial, não convivemos com pessoas na família, nas escolas e universidades, nas empresas, mesmo nas vizinhanças de nossas casas, por acaso, Deus tem um bom propósito nisso. 
      Pessoalmente tive a chance de viver em muitas cidades, ser membro de muitas igrejas, mesmo numa cidade morar em muitos bairros, característica herdada de meu pai, tendência à vida cigana, que minha esposa tem compartilhado nos últimos vinte e cinco anos de vida. Isso é bom, não temos medo de encerrar coisas, não nos prendemos a tradições, temos oportunidade de conhecer pessoas, mas isso é ruim, nos sentimos sempre começando algo. 
      Talvez por isso eu tenha facilidade para avaliar as coisas e não me acomodar, mudando da água para o vinho sem perder muito tempo. Mas isso me faz hoje pensar em tantas pessoas que me conheceram numa versão inacabada de mim, me arrependo de não ter amado e ajudado alguns com mais qualidade. Por isso tenho pedido a Deus, que se for possível, me permita rever alguns neste mundo antes de partir, quem sabe ainda possa ser útil a eles. 
      Contudo, é na segunda parte da passagem bíblica inicial que pode estar escondido um mistério. “Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil”, a frase começa com uma declaração usada para enunciar mistérios, em verdade, como aquela que diz quem tem ouvidos, ouça, presente bastante em Apocalipse. O texto ensina sobre pagamento não eterno de dívidas, mas até que seja quitado o último “centavo”.
      Esse ensino não está presente só nessa passagem, mas ele é sempre ofuscado pelo senso comum cristão que diz que pela fé em Cristo todos os pecados são perdoados, sem que haja necessidade de qualquer pagamento feito pelo pecador. Mas a coisa não funciona bem assim, o perdão em Jesus nos deixa em paz com Deus, isso nos fortalece para trabalharmos e pagarmos nossas dívidas, e todas elas terão que ser pagas, de um jeito ou de outro.
      O jeito mais rápido está na humildade que clama a Deus e pede perdão aos homens, mudando depois de atitude para não repetir o erro e servir aos outros em amor. O jeito mais difícil é sofrendo na mão de quem faz conosco o que fizemos com os outros. Seja como for, zeremos nossas pendências o quanto antes. Você já deve ter visto pessoas que passam a vida seguindo em frente e empreendendo, trabalhando bastante e honestamente, sonhando alto.
      Elas podem até parecer, aos nossos olhos, fortes e resistentes, contudo, são insensíveis, passam por cima dos outros e não olham para trás. Essas são as que mais colhem surpresas ruins e constantes, parece que tudo acontece com elas, estão sempre envolvidas em acidentes de carro, sendo assaltadas, com vidas afetivas instáveis, vítimas nos empreendimentos financeiros de crises nacionais e mundiais, ganham bastante, mas também perdem muito.
      Pessoas assim podem possuir pendências não resolvidas, assim, o mundo espiritual das trevas recebe legitimidade para atormentar suas vidas, elas sofrem ações do ladrão, que vem matar, roubar e destruir (João 10.10a). Com dívidas não pagas não podemos só fazer de conta que não existem, devemos buscar forças em Deus e quitá-las, assim teremos direito à segunda parte de João 10.10, “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”. 
      Ser atormentado por espíritos malignos no mundo também é um jeito do universo cobrar dívidas, mas é um jeito ruim de se pagar, pior que isso é só poder pagar no plano espiritual. O que preferimos, o jeito de amor do Senhor, pagar neste mundo ao mal ou ser torturado na eternidade? “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e te encerre na prisão”. 

15/10/22

Será que funciona pra seus filhos? (76/92)

      “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo ao qual escolheu para sua herança. O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens. Do lugar da sua habitação contempla todos os moradores da terra.Salmos 33.12-14

      Muitos cristãos, pais de famílias, amam dizer o texto bíblico inicial, bem-aventurado o povo ao qual o Senhor escolheu para sua herança. Meu caros, eu quero dizer isso sobre minha mulher e minhas filhas, que são felizes porque recebem a herança de Deus. Mas qual é a herança do Senhor, seria dinheiro e bens? Não, isso vem na medida, mas não é o mais importante. A herança é elevação moral e clareza intelectual, de pessoas que fazem diferença no mundo por terem virtudes. Para isso Deus sempre funciona, ainda que as religiões não, busquemos o Senhor sempre, e construiremos famílias virtuosas e duradouras.
      A outra coisa que Salmos 33.12-14 diz é que Deus vê tudo, inclusive o que somos na privacidade de nossos lares. Há coerência entre o que somos lá e o que mostramos na igreja? Não estou dizendo que o que queremos mostrar na igreja seja o melhor, pode ser só um falso moralismo desnecessário. A segunda coisa que Deus mais ama em nós é sermos verdadeiros, mas a primeira coisa é vivermos uma verdade que o agrada. Talvez nossa religião não funcione porque estamos tentando viver uma verdade que não é nossa, e que nem Deus exige de nós, só as nossas culpas mal resolvidas é que exigem. 
      Sei que o que pretendo é difícil, visto que seres humanos só aprendem no tempo, errando e depois acertando, se é assim comigo, por que não seria com os outros? Mas a intenção desta reflexão é poupar tempo. Poupamos tempo quando exercemos a prática de pensar, avaliando se nossas escolhas atuais realmente estão funcionando, em se tratando de religião, se o que estamos ouvindo dentro de igreja reflete, pela menos numa parte considerável, nossa prática de vida e de nossas famílias. Não tenho dúvida que a genuína palavra de Deus sempre nos abençoa, mesmo em igrejas imperfeitas. 
      Se com todos devo ser misericordioso mais ainda com os que estão dentro de igrejas, Deus os ama profundamente e os atrai à sua luz mais alta em Cristo, contudo, pensemos melhor no que estamos fazendo com nossas vidas e de nossas famílias. Você pode ser alguém coerente, que tem alegria de ter filhos, que você criou em igreja, também frequentando cultos e de maneira sadia, mas entenda, isso não acontece com muitos. Muitos teimaram em ficar em igrejas estranhas, achando que cultos criariam seus filhos, não a vida real do dia a dia dentro de seus lares, assim se afastaram e os perderam. 
      Enfrentamos tempos difíceis, o mundo está super populoso, falta emprego e líderes políticos são em grande parte corruptos, além disso a liberdade irresponsável têm multiplicado pseudo-famílias, que pesa sobre alguns o trabalho de sustentar filhos. Faltam pais, faltam mães, falta maturidade, que com a ajuda da mídia que prega ideologias libertárias, produz indivíduos que querem só desfrutar e nunca servir. Muitas crianças e adolescentes são criados só pela avó, incentiva-se tudo para que cada um tenha seu prazer, menos evitar filhos quando ainda não se está preparado para criá-los melhor.
      As igrejas, principalmente as pentecostais, que recebem pessoas de níveis financeiros mais baixos, refletem a maior parte do mundo real. Enquanto católicos e protestantes tradicionais permanecem fechados em seus guetos, fora da realidade, distante de tudo que poderiam fazer como conhecedores do evangelho e com nível financeiro mais alto, lideres oportunistas e mal intencionados se aproveitam da culpa não resolvida para enriquecerem. Que importa a esses que crianças e jovens sejam atendidos de forma adequada, para serem e seguirem sendo bons cristãos no complexo mundo moderno? 
      Não, meus queridos, a religião cristã não funciona para muitos, não como é possível funcionar de acordo com o evangelho original de Jesus. Infelizmente muitos só vão aceitar isso tarde demais, quando verem filhos perdendo tempo em prioridades erradas, sem base moral e cultural para serem luzes no mundo, não só religiosamente, mas intelectualmente. Coerência se obtém com pés na terra e coração no céu, vivendo e andando no Espírito. Equilíbrio se conquista priorizando valores interiores e praticando-os, não sendo sepulcros caiados como os fariseus que queriam só aparentar. 
      Atualmente interação com cultura, arte e tecnologia, é imprescindível para ser cidadão do planeta, criar filhos longe disso é aliena-los, tornando-os despreparados para serem seres humanos produtivos e prósperos. Vejo pais em igrejas ensinando filhos a serem fiéis com agendas religiosas, se orgulham se veem seus filhos em “congressos” de jovens, liderando o louvor, orando em público, mas não se preocupam adequadamente com o bom desempenho escolar dos mesmos. O maior equívoco ocorre com casamento, querem que jovens se casem o quanto antes, com receio deles “pecarem”. 
      Existe um momento, e isso é mesmo antes de filhos terem vidas econômicas independentes e morarem em outras casas, que pai e mãe cristãos devem convidar filho para ir à igreja, não obrigar, respeitando caso a resposta seja, “não quero ir”. Acredite, se você criou seu filho sem hipocrisia, coerente com o que você é, ainda que ele não concorde cem por cento com tudo que é feito na igreja, ele irá à igreja. Nesse caso, como você, ele saberá tomar o que é bom, deixar para lá o que não é, enquanto faz suas escolhas no mundo, nos estudos, na profissão e na área afetiva, temendo a Deus, não à religião. 
      A verdade é que religião institucionalizada só funciona para líderes mal intencionados e como retorno material. A pastores e ovelhas sinceros do bem, que querem realmente a Deus, pode até funcionar no início, mas chegará um momento que Deus pedirá mais e a religião não terá para dar. Tenhamos essa consciência, aconselhemos os que não tem, e a esses sempre com cuidado, só Deus sabe o tempo de cada um, o que cada um está preparado para saber e ser, é preciso ser fiel no pouco antes de almejar mais. Mas tenhamos coragem para admitir quando a coisa não está mais funcionando.
      Sei que é difícil aos pais, para mim é difícil, mas nossos filhos são de fato o que se revelarem na juventude e na maturidade, infância e pré-adolescência são ilusões. Temos oportunidades únicas de ensinar nossos filhos aquilo que achamos importante, e isso ficará dentro deles para sempre. A escolha final, contudo, deve ser deles, não devemos tirar deles esse direito, ainda que os amando, orando por eles e aconselhando-os com respeito. Eu, contudo, creio que uma boa criação transforma alguém, talvez não em curto prazo, mas sempre dará aos filhos portos seguros para onde retornarem. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

14/10/22

Está funcionando pra você? (75/92)

      “Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente.Romanos 14.4-5

      O contexto original do texto bíblico inicial, é o escritor da carta aos romanos, falando sobre aqueles que se convertiam ao cristianismo no primeiro século, e que mantinham costumes da religião anterior. É a isso que ele se refere ao dizer “um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias”. O escritor, possivelmente Paulo, não faz diferença entre o que age assim e o que não age, mas aconselha que não se julgue ninguém, nem para mais, nem para menos. A frase final é a que mais nos ensina, “cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente” com a vida que escolhe ter.
      Quem sabe se um casamento funciona ou não? Não é quem está do lado de fora, mas só quem está dentro. Com religião é semelhante, algumas religiões funcionam para alguns e não para outros, o que não podemos é julgar estando do lado de fora, sem conhecer de fato quem são as pessoas dentro das igrejas. Muitos fazem um esforço tremendo para terem vidas melhores, para acertarem suas trajetórias, e usam o que têm à mão, não necessariamente o que nós achamos ser melhor. A reflexão que segue não é um julgamento, mas uma pergunta, pode não ser o teu caso, mas pensemos no assunto. 
      Faço uma pergunta a muitos evangélicos: sinceramente, religião está funcionando para vocês? Algo que me leva a fazer esse questionamento e ver no que se transformam famílias e filhos de muitos evangélicos com o tempo. Sei que muitos começam a frequentar igrejas com boa sinceridade, querem achar algo, querem respostas, querem Deus e sua atenção. Sentem-se bem cantando músicas evangélicas, orando com pares, ouvindo os pregadores, se emocionando com palavras enfáticas sobre fé e milagres. As pessoas querem espiritualidade mais que achamos, o problema é como e onde.
      O ser humano pode receber dois tipos de formações, a moral e a cultural. Nas igrejas as duas coisas são influenciadas pela religião, assim se aprende que adulterar, roubar e matar é errado, mas também, principalmente nas igrejas evangélicas, que certo estilo de arte, de linguagem, de vestuário é mais adequado a cristãos. Mas os costumes também estão aliados à moralidade já que se acredita que vestir certas roubas, falar certos termos ou ouvir certas músicas ou mesmo ir a cinema e ver TV pode ser pecado. Pelo livre arbítrio, cada um tem direito de falar, ouvir ou vestir o que quiser.
      Contudo, o que aos nossos olhos começa de um jeito, depois pode acabar de um jeito muito diferente. Talvez porque as gerações passadas fossem mais submissas a tradições, mesmo mais temerosas de desobedecerem o que aprendiam de seus pais, cristãos, católicos e protestantes, criados em igrejas, seguiam assim até o fim de suas vidas. Contudo, hoje, vemos tantos que foram crianças e pré-adolescentes em igrejas se transformarem em seres humanos bem diferentes quando entram na juventude. A princípio não há nada de errado nisso, novamente, cada um tem livre arbítrio e deve exercê-lo. 
      A questão são as prioridades, o que de fato queremos que nossos filhos aprendam, costumes ou moral? Muitos querem que aprendam costumes pois acham que esses refletem a moral, assim, a primeira coisa é entendermos que o que aparenta nosso lado físico exterior não necessariamente se refere ao nosso lado moral interior. Muitos não só acham que o lado externo deva refletir o interno, mas que ele tem mais relevância que o interno, afinal, as pessoas veem, pelo menos a princípio, o lado externo, não o interno. Saber desconectar esses lados, eis o primeiro passo para se ter uma religião que funcione. 
      Nesse aspecto precisamos entender que as coisas mudaram muito, principalmente nas últimas décadas no mundo. Desde os anos 1960 temos experimentado uma revolução na maneira como as pessoas se expressam, em muitas áreas, obedecer ao conservadorismo dos antigos cedeu lugar a individualidades que podem fazer o que quererem, onde, quando e do jeito que querem. O lado exterior foi libertado do interior, na verdade não há mais patrões coletivos, o ser humano se tornou mais complexo, e sua trajetória no tempo leva a mudanças vivenciadas entre as tantas opções oferecidas. 
      Se visitássemos lojas de roupas dos anos 1950 veríamos como as opções oferecidas eram bem menores que as de hoje em dia, isso reflete o interior das pessoas. Sim, hoje ainda existem padrões, bolhas, tribos, mas antigamente eram em número bem menor. Isso se adequa à liberdade emocional que as pessoas têm hoje, crianças e adolescentes são expostos a isso o tempo todo, nas escolas, nas ruas, e principalmente, na internet e pelos celulares. Tentar padronizar o ser humano é impossível, a não ser que seja escolha dele ou que ele tenha sérios problemas emocionais que o aprisionem a tradições. 
      Por que crianças criadas em igrejas fogem da igreja assim que podem? Porque não se sentem bem dentro delas, e não se sentem bem porque não conseguem harmonizar o que são com o que as igrejas são. O que jovens que saem de igrejas são? São aquilo que deram e eles, mais aquilo que escolhem ser. O que damos às crianças, leis morais superficiais e fora de contexto? Padrões estéticos exteriores, o que vestir, ouvir e beber? Obrigações para que vivam para receberem aprovação de religião e membros de igrejas? Isso tudo é falso, quando elas crescerem avaliarão isso e entenderão que há hipocrisia.
      Se buscamos na religião e consequentemente ensinamos a crianças e adolescentes as coisas certas, essas coisas terão mais chances de serem retidas pelos espíritos de todos. O que é bom e correto gera boas e permanentes sementes, que um dia darão bons frutos, ninguém duvide disso. Assim, a primeira coisa é os adultos viverem uma relação adequada com Deus, mesmo em religiões imperfeitas, para então viverem e darem exemplo dentro de casa. Se isso não ocorrer a semente gerada será de falsidade e hipocrisia, essa não dará nenhum fruto bom e poderá ter um resultado até pior. 
      Muitos jovens, criados em igrejas, têm mais aversão ao cristianismo que outros, que não foram criados por pais evangélicos ou católicos, contudo, a aversão deles não é a Jesus, ainda que eles não saibam disso a princípio, é só ao falso cristianismo que tentaram lhes impor. Por outro lado há o livre arbítrio, assim, mesmo que os pais tenham vivido um evangelho coerente e tenham conseguido testemunhar isso na prática dentro de seus lares, os jovens podem fazer outras escolhas. Nesse ponto eis a sabedoria de pais que temem a Deus, respeitarem as escolhas de seus filhos e ficarem perto deles.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

13/10/22

Que poder teremos no céu? (74/92)

     “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha. E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações, e com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai. E dar-lhe-ei a estrela da manhã. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse 2.25-29

      Que poder terão os homens na eternidade, como privilégio por terem guardado a vontade do Senhor até o fim? Seria poder como aquele que os israelitas podiam exercer sobre os que venciam em batalhas, aqueles que em relação a eles estavam numa posição inferior, por isso, como superiores, tinham direito de escravizar e tomar despojos? Seria um poder físico, beligerante, opressor? Ou seria a autoridade que Jesus tinha quando encarnado, sobre os seres humanos de maneira geral, inferiores a ele espiritualmente, mas que para os quais o Cristo ensinava com amor, respeitava os limites com misericórdia, mostrava o melhor caminho para Deus com humildade, não era de forma alguma opressor, ainda que com firmeza e luz? 
      O próprio João, quando registrou o livro de Apocalipse, interpretou as revelações que recebia pelo Espírito Santo sob sua inteligência moral e intelectual, conforme um homem do seu tempo, por isso ele usou palavras para ensinar o povo de seu tempo, e as palavras foram duras, “com vara de ferro as regerá, e serão quebradas como vasos de oleiro”. Eis outro texto bíblico que nós, cristãos do século XXI, precisamos entender sob a ótica do Espírito Santo, que sempre revela a vontade de Deus de maneira gradativa, condizente com a inteligência moral e espiritual do momento histórico que o homem vive, contudo, essa interpretação mais espiritual não é nova (e nem minha), é a de Jesus.
      Interessante que mesmo o apóstolo do amor, que tanta intimidade teve com o Cristo encarnado, também estava limitado à visão religiosa da velha aliança judaica, mas e quanto a você, será que pensa que na eternidade a mais alta espiritualidade será demonstrada como diz o texto, se interpretado ao pé da letra? Se crê assim, eu respeito, aliás é uma posição comum na teologia cristã tradicional, eu porém creio diferente. Existirão diferenças no mundo espiritual, e os superiores terão um trabalho a fazer, não o de um duro domínio sobre os inferiores, mas como mestres conduzindo em amor esses ao Deus altíssimo, eu pelo menos aprendo isso com as palavras e as atitudes de Jesus, lendo os evangelhos. 
      Sim, existirá uma regência firme, porque não haverá mais “jeitinhos” de se afastar de Deus, e também os espíritos serão quebrados como vasos do oleiro, mas não para serem destruídos, mas quebrantados, para que através da humildade achem o caminho para Deus. Estou me arriscando a compartilhar crenças pessoais que vão além de muito que ensina o cristianismo tradicional, mas não se escandalize, apenas pense um pouco, ao invés de só ler o texto bíblico e aceitar a interpretação do senso comum cristão. O céu será um lugar só de louvor e comtemplação para os salvos? O texto inicial, mesmo interpretado ao pé da letra, diz que não, administrar poder sobre as nações, seja lá o que isso signifique, é um trabalho.  
      Muitos, apesar de conhecerem a Deus e de buscarem o conhecimento de sua vontade para suas vidas, ainda vivem neste mundo aquém da melhor espiritualidade de Deus para eles, são os teimosos que permitem que o Espírito Santo entre em seus corações, mas só até um ponto. Esses seriam os que não guardam até o fim as obras de Deus? Que por isso terão algo a aprender, mesmo na eternidade? Se for isso, quem os ensinará? Serão os que foram fiéis a Deus até o fim, ninguém se engane com relação a isso, e muitos se espantarão quando verem doutores, mestres e mesmo líderes, que no mundo tinham posições importantes, serem na eternidade alunos dos que no mundo eram seres considerados marginais e inúteis.