sexta-feira, outubro 14, 2022

Está funcionando pra você? (75/92)

      “Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente.Romanos 14.4-5

      O contexto original do texto bíblico inicial, é o escritor da carta aos romanos, falando sobre aqueles que se convertiam ao cristianismo no primeiro século, e que mantinham costumes da religião anterior. É a isso que ele se refere ao dizer “um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias”. O escritor, possivelmente Paulo, não faz diferença entre o que age assim e o que não age, mas aconselha que não se julgue ninguém, nem para mais, nem para menos. A frase final é a que mais nos ensina, “cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente” com a vida que escolhe ter.
      Quem sabe se um casamento funciona ou não? Não é quem está do lado de fora, mas só quem está dentro. Com religião é semelhante, algumas religiões funcionam para alguns e não para outros, o que não podemos é julgar estando do lado de fora, sem conhecer de fato quem são as pessoas dentro das igrejas. Muitos fazem um esforço tremendo para terem vidas melhores, para acertarem suas trajetórias, e usam o que têm à mão, não necessariamente o que nós achamos ser melhor. A reflexão que segue não é um julgamento, mas uma pergunta, pode não ser o teu caso, mas pensemos no assunto. 
      Faço uma pergunta a muitos evangélicos: sinceramente, religião está funcionando para vocês? Algo que me leva a fazer esse questionamento e ver no que se transformam famílias e filhos de muitos evangélicos com o tempo. Sei que muitos começam a frequentar igrejas com boa sinceridade, querem achar algo, querem respostas, querem Deus e sua atenção. Sentem-se bem cantando músicas evangélicas, orando com pares, ouvindo os pregadores, se emocionando com palavras enfáticas sobre fé e milagres. As pessoas querem espiritualidade mais que achamos, o problema é como e onde.
      O ser humano pode receber dois tipos de formações, a moral e a cultural. Nas igrejas as duas coisas são influenciadas pela religião, assim se aprende que adulterar, roubar e matar é errado, mas também, principalmente nas igrejas evangélicas, que certo estilo de arte, de linguagem, de vestuário é mais adequado a cristãos. Mas os costumes também estão aliados à moralidade já que se acredita que vestir certas roubas, falar certos termos ou ouvir certas músicas ou mesmo ir a cinema e ver TV pode ser pecado. Pelo livre arbítrio, cada um tem direito de falar, ouvir ou vestir o que quiser.
      Contudo, o que aos nossos olhos começa de um jeito, depois pode acabar de um jeito muito diferente. Talvez porque as gerações passadas fossem mais submissas a tradições, mesmo mais temerosas de desobedecerem o que aprendiam de seus pais, cristãos, católicos e protestantes, criados em igrejas, seguiam assim até o fim de suas vidas. Contudo, hoje, vemos tantos que foram crianças e pré-adolescentes em igrejas se transformarem em seres humanos bem diferentes quando entram na juventude. A princípio não há nada de errado nisso, novamente, cada um tem livre arbítrio e deve exercê-lo. 
      A questão são as prioridades, o que de fato queremos que nossos filhos aprendam, costumes ou moral? Muitos querem que aprendam costumes pois acham que esses refletem a moral, assim, a primeira coisa é entendermos que o que aparenta nosso lado físico exterior não necessariamente se refere ao nosso lado moral interior. Muitos não só acham que o lado externo deva refletir o interno, mas que ele tem mais relevância que o interno, afinal, as pessoas veem, pelo menos a princípio, o lado externo, não o interno. Saber desconectar esses lados, eis o primeiro passo para se ter uma religião que funcione. 
      Nesse aspecto precisamos entender que as coisas mudaram muito, principalmente nas últimas décadas no mundo. Desde os anos 1960 temos experimentado uma revolução na maneira como as pessoas se expressam, em muitas áreas, obedecer ao conservadorismo dos antigos cedeu lugar a individualidades que podem fazer o que quererem, onde, quando e do jeito que querem. O lado exterior foi libertado do interior, na verdade não há mais patrões coletivos, o ser humano se tornou mais complexo, e sua trajetória no tempo leva a mudanças vivenciadas entre as tantas opções oferecidas. 
      Se visitássemos lojas de roupas dos anos 1950 veríamos como as opções oferecidas eram bem menores que as de hoje em dia, isso reflete o interior das pessoas. Sim, hoje ainda existem padrões, bolhas, tribos, mas antigamente eram em número bem menor. Isso se adequa à liberdade emocional que as pessoas têm hoje, crianças e adolescentes são expostos a isso o tempo todo, nas escolas, nas ruas, e principalmente, na internet e pelos celulares. Tentar padronizar o ser humano é impossível, a não ser que seja escolha dele ou que ele tenha sérios problemas emocionais que o aprisionem a tradições. 
      Por que crianças criadas em igrejas fogem da igreja assim que podem? Porque não se sentem bem dentro delas, e não se sentem bem porque não conseguem harmonizar o que são com o que as igrejas são. O que jovens que saem de igrejas são? São aquilo que deram e eles, mais aquilo que escolhem ser. O que damos às crianças, leis morais superficiais e fora de contexto? Padrões estéticos exteriores, o que vestir, ouvir e beber? Obrigações para que vivam para receberem aprovação de religião e membros de igrejas? Isso tudo é falso, quando elas crescerem avaliarão isso e entenderão que há hipocrisia.
      Se buscamos na religião e consequentemente ensinamos a crianças e adolescentes as coisas certas, essas coisas terão mais chances de serem retidas pelos espíritos de todos. O que é bom e correto gera boas e permanentes sementes, que um dia darão bons frutos, ninguém duvide disso. Assim, a primeira coisa é os adultos viverem uma relação adequada com Deus, mesmo em religiões imperfeitas, para então viverem e darem exemplo dentro de casa. Se isso não ocorrer a semente gerada será de falsidade e hipocrisia, essa não dará nenhum fruto bom e poderá ter um resultado até pior. 
      Muitos jovens, criados em igrejas, têm mais aversão ao cristianismo que outros, que não foram criados por pais evangélicos ou católicos, contudo, a aversão deles não é a Jesus, ainda que eles não saibam disso a princípio, é só ao falso cristianismo que tentaram lhes impor. Por outro lado há o livre arbítrio, assim, mesmo que os pais tenham vivido um evangelho coerente e tenham conseguido testemunhar isso na prática dentro de seus lares, os jovens podem fazer outras escolhas. Nesse ponto eis a sabedoria de pais que temem a Deus, respeitarem as escolhas de seus filhos e ficarem perto deles.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

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