É vinda a hora do seu juízo

      “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo. Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” Apocalipse 14.6-7

      O que podemos aprender com um texto de Apocalipse, que não seja só a tentativa de fazermos uma interpretação para o fim do mundo e o juízo final? Muitas coisas. Na passagem acima a primeira coisa que nos chama a atenção é a figura do anjo, apesar de vermos Deus usando seres espirituais de luz tantas vezes na Bíblia, cristãos protestantes ainda têm certas reservas com esses servos de Deus. A verdade é que Deus usa anjos o tempo todo, inclusive em nossas vidas, não só para nos proteger, como para nos ensinar. 

      O anjo acima, em especial, tinha o evangelho eterno em mãos para proclamar à toda a humanidade, eu não tenho dúvida que o que João o evangelista denominou assim, sentindo, ouvindo e vendo uma maravilhosa experiência espiritual, é bem mais que o que muitos acham hoje ser o evangelho. O evangelho eterno é mais que palavras, mais que a Bíblia, é o próprio Jesus, tudo que ele permite que o ser humano acesse através da posição espiritual elevadíssima e única em que está hoje, glórias perenais e excelsas. 

      A exortação do anjo é grave: “temei a Deus porque é vinda a hora do seu juízo”, é um grito de alerta. Nós verdadeiramente tememos a Deus? Temer a Deus é ser santo em tudo, é colocar Deus sempre na frente, é não ser malicioso mas paciente e com todos, é crer que todos podem mudar para melhor e serem dignos de novas chances, é não se impor nem se achar dono de qualquer verdade, é saber que Deus tudo vê, é deixar que Deus e só ele faça juízo, vigiando como se esse juízo fosse ocorrer no próximo instante. 

Como posso ser útil hoje?

      “Por isso, estejam também vocês preparados, porque o Filho do Homem virá à hora em que vocês menos esperam. — Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor deixou encarregado dos demais servos, para lhes dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade lhes digo que lhe confiará todos os seus bens.” Mateus 24.44-47 (Nova Almeida Atualizada)

      A Bíblia N.V.I. traduz assim Mateus 24.45, "quem é, pois, o servo fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos de sua casa para lhes dar alimento no tempo devido?”, dessa forma o texto acima não diz respeito só a seres humanos comuns, mas a vasos do Espírito Santo que têm vocação para alimentar os outros. Mas podemos estender isso a praticamente todas as pessoas adultas, que têm outras pessoas que dependam delas, seja material, seja emocional, seja espiritualmente, de certa maneira todos somos pastores com ovelhas. À pergunta que o ser humano lúcido e humilde faz a Deus, “como posso ser útil hoje?”, o Senhor responde, “dando às pessoas seu melhor”. 

      Se você é macieira, não poderá dar laranjas aos outros, se for laranjeira, não poderá dar maçãs, assim macieiras não invejem as laranjeiras, nem laranjeiras queiram ser macieiras. Saber o que se é, eis o primeiro passo para ser útil, assumir com alegria e em Deus isso, eis o segundo passo, o terceiro passo é trabalhar. Trabalho certo nunca é impossível para alguém, nem exigirá menos nem mais energia que a que alguém tem. Mas o problema não está só em pessoas fazerem o que não precisam, mas também nas pessoas julgarem mal o trabalho dos outros. Ninguém é menos ou mais importante, todos somos úteis, e todos merecemos respeito e retorno material digno. 

      Alguns trabalhos darão mais retorno financeiro que outros, mas quem se avalia ou avalia os outros por isso não está servindo a Deus, muito menos aos outros, mas só a si mesmo. De uma coisa tenha certeza, filho que agrada ao pai é cuidado bem, plantou certo, colherá justamente. Procure fazer essa pergunta todos os dias ao Senhor, “como posso ser útil hoje?”, isso também faz parte da vigilância constante que o Senhor pede dos seus. Aos que forem achados vigilantes e úteis no juízo que sempre ocorre quando partimos deste mundo, serão confiados bens. O que exatamente Jesus quis dizer na parábola registrada por Mateus, com todos os seus bens? O que são bens na eternidade? 

      Os “salvos” não receberão metais raros ou pedras preciosas no “céu”, muito menos dinheiro, roupas, carros ou terras, no plano espiritual nada disso existe. Muitos católicos, protestantes e evangélicos creem em certas coisas, mas nem se dão ao trabalho de refletirem mais profundamente a respeito. A melhor eternidade de Deus, o céu, é uma posição espiritual que ruma para a luz mais alta, nela há paz e regozijo. Ela é oposta a pior eternidade, o inferno, que também é de Deus, já que Deus está em todos os lugares, mas é pior porque nessa estão os seres que se afastam do Altíssimo, assim não gozam de paz e regozijo. O céu não é lugar de ociosidade ou só de adoração. 

      Amor é a virtude mais eterna porque no céu ele bastará. Não precisaremos de fé, como espíritos poderemos ver Deus que é espírito, as virtudes serão naturalmente exaltadas quando estamos próximos a Deus, contudo, o amor, o imã espiritual que atrai todos a Deus, arregimentará salvos para servirem. Bens na eternidade são os seres humanos. Quem serve em Deus aos homens neste mundo, servirá aos homens em Deus no outro mundo, só que de maneira mais plena e direta. Aqui temos que servir muitas vezes na clandestinidade e sem reconhecimento, lá quem por nós for ajudado saberá quem somos, ainda que não façamos isso com prepotência ou vaidade, mas com amor. 

Quem somos na maior parte do tempo?

      “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.” Tiago 3.13-14

      Quem somos nós na maior parte do tempo, sozinhos mas também nos relacionando com as outras pessoas? Nos avaliarmos com honestidade e desejarmos melhorar é sintoma de saúde emocional e moral, mas temos que ser de fato honestos, com aquilo que fazemos no mundo real, em nossas ações e palavras, não só nas intenções e em nosso mundo mental. Também não me refiro às nossas atividades profissionais, que podem ser honestas e esforçadas, mas elas são relações muitas vezes impessoais, usando máquinas, computadores ou produzindo trabalho físico ou mental solitário. Para se conhecer não avalie o que você faz, mas como faz, com que atitude trata as pessoas enquanto faz, colegas de trabalho, clientes e outros. 

      Muitos fazem um bom trabalho, desempenham-no com honestidade e com esforço, têm boa formação acadêmica e teórica, mas são estúpidos com outras pessoas enquanto fazem isso. Sermos boas pessoas no trato de outras pessoas não é só questão afetiva e moral, interfere também na área profissional, por melhores profissionais que nos achemos ser. Não tratarmos os outros com respeito e sensibilidade, mostra que não sabemos trabalhar em equipe, assim como somos ineficientes para nos relacionarmos com nosso alvo de lucro numa atividade. Se formos vendedores afastaremos a clientela ao invés de fideliza-la, se formos profissionais da área médica afastaremos pacientes, e mesmo como pastores, afastaremos ovelhas. 

      Se perguntarmos a muitos se são boas pessoas e bons profissionais, dirão que fazem seu trabalho direito e não têm muito tempo para se preocupar com os outros. Mas nessa resposta pode haver um problema sério, acharmos que somos uma coisa quando somos outra, isso pode ser pelo menos um leve problema de dualismo mental, quando habitam em nós a pessoa que age e aquela que achamos que age. Nesse caso na maior parte das vezes não ocorre de nos acharmos maus quando somos bons, mas o contrário, nos acharmos bons quando somos maus. Por isso é importante também ouvirmos a avaliação dos outros sobre nós, de pessoas lúcidas, honestas, que enxergam a realidade e querem ajudar em amor. 

      Como seres humanos que buscam a Deus e querem fazer sua vontade, temos também que nos avaliar internamente, agora não no trato direto com as outras pessoas, nesse provamos que temos comunhão com Deus tratando os outros com paciência e misericórdia. Me refiro às intenções e às disposições mentais e morais. Quem somos dentro de nós na maior parte do tempo? Há coisas que não se exteriorizam, ou se exteriorizam só em nossas vidas privadas, quando estamos sozinhos e ninguém nos vê. É em nosso mundo interior que santidade e verdadeira humildade devem residir, muitas vezes até nos relacionamos com as pessoas corretamente, mas nossas mentes são escravas de orgulhos, sensualismos e mesmo de violências. 

      Serei bem honesto, com mais de sessenta anos passei boa parte de minha vida querendo ser uma coisa e sendo outra, e no meio disso acreditando que era uma coisa que não era. Contudo, pela misericórdia de Deus, não me sentia em paz com a incoerência, isso foi difícil para mim durante muito tempo, causou muita dor, mas o conflito me empurrou para buscar a Deus. À medida que conheci mais a Deus também me conheci e me assumi, não só o que eu escolhia ser, por más decisões somente minhas, não dos outros, mas também o que Deus queria que eu fosse, não os outros. Hoje, consigo fazer escolhas melhores, tanto dentro de mim quanto fora quando interajo com os outros, há virtudes proporcionais, posso ter só uma cara.

      Infelizmente há algumas pessoas bem doentes por aí, aproximando-se de reais transtornos psiquiátricos, quando são na maior parte do tempo uma coisa, mas dizendo a si mesmas e aos outros que são outra. Isso ocorre por causa de cobranças externas antigas, principalmente de pais e da família, não resolvidas, que muitos transferem para religiões moralistas aos quais se agregam para manterem as cobranças. Por incrível que pareça, Deus não é um juiz prepotente e condenador, ainda que seja santo e queira nosso melhor, ele age com muita paciência, conduzindo-nos aos poucos para sua vontade. Se achamos que Deus nos cobra é porque estamos confundindo-o com religião, ou pior, com nossos pais humanos, Deus é sempre amoroso. 

Consciência pura

      “Guardando o mistério da fé numa consciência pura.” I Timóteo 3.9

      O medo pode ser útil, mesmo a insegurança pode ser algo bom, assim, se você se conhece bem e sabe que qualquer coisa pode desestabiliza-lo, antes de fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pergunte a Deus se é para você fazer. Deus sempre responde ao que o busca com fé e boa sinceridade, sua resposta é a primeira voz que nos fala no coração de forma mansa e direta. 

      Ao fraco convém não ser orgulhoso e negar sua fraqueza, mas confiar ainda mais em Deus, fraqueza não é limitação, é oportunidade para nada fazer sem a certeza que o Senhor aprova. Quem vive assim guardará uma consciência pura, essa disposição é arma poderosa contra ataques de espíritos e homens maus, que estão sempre tentando nos acusar e nos desviar da fé.

      Fé é um mistério? Se não fosse não seria fé, quem sabe não precisa crer, ainda que quem creia fica sabendo, mas só para ser incentivado a dar mais um passo de fé. O mistério da fé nos lança para o alto à medida que conhecemos as verdades do Senhor, mas toda a verdade só saberemos na melhor eternidade de Deus, aqui caminhemos com humildade como quem nada sabe. 

Descansa no Senhor

      “Descansa no Senhor, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos. Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados; mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra.” Salmos 37.7-9

      Descansar em Deus é mais que esperar nele ou por ele, é aguardar, ainda que nada podendo fazer para mudar uma situação, achando prazer nisso, sentindo-se totalmente em paz, enquanto se mantém vigilante na santidade, na humildade e no amor. É só descansando em Deus que abrimos mão de toda expectativa, de toda ansiedade, de toda culpa e de todo medo desnecessários, e de todo prazer vão que possa tentar anular a dor que não descansar em Deus causa, para usufruirmos o prazer eterno de confiarmos em Deus, ainda que não sabendo de nada e não tendo ajuda de alguém. Descansar em Deus é mais que relaxar o corpo, ou afrouxar sentimentos e pensamentos, é deitar o espírito no Espírito de Deus e se deixar levar por ele. 

Deus mostra sua palavra a Israel

      “O que envia o seu mandamento à terra; a sua palavra corre velozmente.” “Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem. Louvai ao Senhor.” Salmos 147.15, 19-20

      Deus conhece a todos, nada que os seres humanos façam, seja no lugar que for, pensem, sintam ou falem, lhe é desconhecido, mas ele revela sua verdade ao seu povo, entrega uma palavra de vida àqueles que se deixam ser conduzidos por seu cajado de amor. Nenhuma honra deste mundo, nenhuma glória do homem, nenhuma riqueza material é melhor que ser Israel eterno de Deus. Louvai ao Senhor, a vida é demorada e cansativa para os arrogantes, banquetes e luxos nunca os satisfazem, mas a existência faz sentido para os que se humilham diante do Senhor, ainda que a vigilância seja difícil, não entendida ou valorizada pelos falsos, os simples alcançam as regiões espirituais mais elevadas em Cristo. 

O Senhor eleva os humildes

      “O Senhor eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra.” “Não se deleita na força do cavalo, nem se compraz nas pernas do homem. O Senhor se agrada dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia. Louva, ó Jerusalém, ao Senhor; louva, ó Sião, ao teu Deus. Porque fortaleceu os ferrolhos das tuas portas; abençoa aos teus filhos dentro de ti. Ele é o que põe em paz os teus termos, e da flor da farinha te farta.” Salmos 147.6, 10-14

      O Senhor eleva os humildes, creia nisso, de toda tua alma. Os humildes não são humilhados, os quebrantados não são envergonhados, os retos, que não se colocam acima de ninguém, que mantêm dignidade e firmeza com mansidão e paciência, desses Deus se agrada. Ele não se compraz com os fortes, que batem no peito e dizem que se fizeram sozinhos, e por isso se acham no direito de armazenar rancor e vingança, se tornando insensíveis e incapazes de exercerem misericórdia. Esses constróem castelos na areia, bastará um pequena onda para derruba-los. Quanto aos humildes, Deus os sustenta numa rocha, cuida deles e de seus filhos, sustenta com o melhor e protege seus limites com anjos de luz.